Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Comunicação e Expressão
Comunicação e Expressão
E EXPRESSÃO
Organização das Ideias na Construção
Textual
Como podemos perceber, os implícitos são os jogos que o autor do texto quer
fazer com o receptor, para instigá-lo durante a leitura, para forçá-lo a raciocinar
e ativar conhecimentos prévios, que possam atuar junto aos que estão
explícitos no texto. Por isso é importante o entendimento de que ler e escrever
exigem muito mais do que apenas conhecer o léxico de um idioma, é preciso
conhecer todas as “tramas” da linguagem. Para isso, temos que estudar duas
estratégias da linguagem: os pressupostos e os subentendidos.
Dessa forma, não há como negar o que foi dito, mesmo que esteja implícito,
pois o autor deixa marcas, pistas textuais que levam a uma interpretação
coerente a respeito do que está expondo. Assim, para que o receptor consiga
seguir com a interpretação, essas lacunas devem ser preenchidas, caso
contrário, ficará sempre uma ideia de não completude da compreensão.
Os pressupostos precisam ser verdadeiros ou admitidos como tal, uma vez que
é por meio deles que se constituem as informações explícitas. Então, caso o
pressuposto seja falso, a informação explícita não tem sentido (REBELLO,
2013, p. 468).
Quando uma informação não é dita, mas tudo o que é dito nos leva a identificá-
la, estamos diante de algo subentendido ou inferível. Os diversos tipos de
conhecimento de mundo (ou modelos cognitivos, a saber, os frames, os
esquemas, os planos, os scripts) que precisamos partilhar com o produtor do
texto estão implícitos e precisam ser inferidos por nós. Nada é gratuito num
texto, tudo tem sentido, é fruto de uma intenção consciente ou inconsciente.
Assim, para captar os implícitos, o leitor precisa inferir (REBELLO, 2013, p.
469).
Quando olhamos de forma mais atenta a esse texto, podemos perceber que há
um pressuposto e um subentendido. O primeiro refere-se ao fato de que
alguém foi ao teatro; o segundo, que é o que nos interessa por enquanto, pode
ser interpretado como não ter gostado do teatro, pois subentende-se que, se
Ana tivesse gostado, ela responderia que sim, mas não foi o que ocorreu. Ao
interlocutor, parece que Ana não quis deixar clara a sua opinião depreciativa
sobre a peça teatral. Quando isso ocorre, estamos falando de subentendido.
Pressuposto e subentendido
Nem sempre percebemos que, ao ler, complementamos informações
fornecidas pelo texto com outras informações que inferimos a partir do que foi
dito pelo autor. Isso porque o texto nos transmite, pelo menos, duas
informações: uma que é pressuposta e outra que está subentendida.
A língua não é transparente. O fundamental dessa tese é que a AD não aceita que,
dada uma palavra, seu sentido seja “óbvio”, como se estabelecido por convenção ou
como se a palavra pudesse referir-se diretamente à “coisa” (o mesmo vale, mutatis
mutandi para uma sentença). O grande alvo parece ser a gramática de Port-Royal,
seja diretamente, seja como representante de uma tradição que considera que a
relação língua-mundo (forma-conteúdo) é unívoca e clara — ou que pode ser
explicitada por uma teoria semântica “universal”. [...] A AD contesta que o sentido seja
da ordem da língua, que funcione submetido aos “seus” critérios — uma semântica
não é uma fonologia do sentido. O sentido é da ordem das formações discursivas
(FD), que, por sua vez, materializam formações ideológicas, que, por sua vez, são de
ordem da história (POSSENTI, 2004, p. 361).
Para a AD, o ato de comunicação é algo que envolve uma ideologia, não é algo
apenas dito, sem sentido, não se trata do sentido único de uma palavra,
dicionarizada, mas está relacionado com os sujeitos sociais que agem sobre o
texto. Esses sujeitos pertencem a grupos, têm formação, conceitos,
comportamentos, ideias, atitudes etc. Tudo isso, para essa linha de pesquisa,
implica na construção textual.
Toda interpretação precisa de uma ideologia que mostra o sentido de forma clara.
Quem determina isso é o sujeito, tanto aquele que elabora a mensagem quanto o
que a recebe. É preciso lembrar de que estamos falando de sujeito que pratica o
ato de comunicação, pois só a partir da enunciação é que são considerados
sujeitos. Por exemplo, a posição social que ocupo é de professora, todo o meu
discurso será pautado nessa prática social que apresentará as ideologias e as
interferência desse meio. Além de professora, quando não estou utilizando um
discurso que esteja pautado nessa ideologia, posso estar utilizando um sentido de
mulher, mãe, amiga etc. Acho que ficou claro que é isso que dá identidade ao
sujeito e ao seu discurso.
Parece que o sujeito é livre para dizer o que quer, porém, se está dotado de
identidade, ele se torna preso a essas ideologias, que fazem parte desse papel
social que ocupa no determinado momento da enunciação do discurso, seja ele
oral ou escrito.