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COMUNICAÇÃO

E EXPRESSÃO
Organização das Ideias na Construção
Textual

O Que São os Implícitos em um Texto?


Para que nos comuniquemos de forma eficaz, faz-se necessário que
dominemos o mesmo código linguístico e, mesmo com todo o domínio da
língua, ainda ocorrem mal-entendidos, os quais podem estar ligados a
dificuldade de interpretar o que se lê, o que se ouve ou o que se vê, sendo um
dos motivos a falta de conhecimento da plurissignificação da linguagem. As
palavras podem assumir sentidos diversos, os quais dependem do modo que
são utilizadas e do contexto empregado. Deste modo, podem receber
diferentes sentidos que estão envoltos a valores afetivos ou sociais.

[...] Nenhum texto apresenta um sentido único, instalado,


imutável, depositado em algum lugar. Texto quer dizer “tecido”,
não um produto, mas uma produção. De igual maneira, a leitura
não é um produto, antes, uma produção. A leitura é produzida à
medida que o leitor interage com o texto. (DELL’ISOLA, 2001,
p. 28).

Considerando que o texto é um lugar de interação social, em que o leitor


precisa agir para compreender o que o autor apresenta na mensagem,
interagindo com a linguagem. Essa ideia sugere que os sujeitos (interlocutores)
precisam se fazer presentes, para que o texto tenha seus sentidos construídos.

Você deve estar se perguntando: se os sentidos são construídos, o que seriam


as ideias implícitas? São as informações que se encontram subentendidas ou,
como afirma Barros (2011, p. 99): “[...] ao enunciador é oferecida a
possibilidade linguística de jogar com conteúdos implícitos, para fazer passar
os valores e deles convencer o enunciatário”.

Como podemos perceber, os implícitos são os jogos que o autor do texto quer
fazer com o receptor, para instigá-lo durante a leitura, para forçá-lo a raciocinar
e ativar conhecimentos prévios, que possam atuar junto aos que estão
explícitos no texto. Por isso é importante o entendimento de que ler e escrever
exigem muito mais do que apenas conhecer o léxico de um idioma, é preciso
conhecer todas as “tramas” da linguagem. Para isso, temos que estudar duas
estratégias da linguagem: os pressupostos e os subentendidos.

O que são pressupostos?


Para Houaiss (2004, p. 602), pressuposto é aquilo “[...] que se pressupõe;
presumido; o que se pressupõe antecipadamente”, ou seja, algo que você já
compreende, antes de fazer a leitura. Podemos comparar a um pré-julgamento
sobre algo. Para esclarecer, vejamos o que apresentam Tomasi e Medeiros
(2009, p. 356):
a) Para uns, os pressupostos são vistos como condições de emprego,
lógico ou não. Exemplo: “Mário continua triste.” Mário era triste antes é
condição de verdade (emprego lógico ou condição para que o enunciado
atinja o fim pretendido, para que a afirmação “Mário é triste” se realize e a
informação passe). Para Ducrot, houve dois atos de linguagem: o de
afirmar a tristeza atual de Mário e o de pressupor sua tristeza anterior. O
autor utiliza, para explicar a pressuposição, como um ato de fala equivale
a introduzir o implícito entre o enunciador e o enunciatário;
b) Para outros, os pressupostos são elementos do conteúdo, parte
integrante do sentido (TOMASI; MEDEIROS, 2009, p. 356).

Você conseguiu compreender o que essas duas explicações trazem de


informação? Vejamos: quando um enunciador elabora uma oração, ele pensa
nos sentidos que estão presentes nela, sejam eles os de fácil compreensão ou
aqueles que ele supõe que o seu receptor já deverá saber. É importante
salientar que, por conta dos pressupostos, não há como se interpretar o que
quer de um texto, as informações estão aí, e quem as recebe deverá saber
fazer essa leitura e chegar à interpretação correta. Por exemplo: se eu afirmo
que “Gustavo melhorou! ”, espero que meu leitor subentenda que “Gustavo
estava doente”, ou seja, é um pressuposto. Podemos dizer, então, que é uma
informação prévia à que foi posta na oração.

Nota-se, assim, que os pressupostos são indispensáveis para a construção do


sentido em um texto, pois eles são responsáveis por garantir a unicidade
textual, por meio de uma coerência de sentidos. Essa noção pode ser
comprovada com o que diz Fiorin (2003, p.182): “[...] o uso adequado dos
pressupostos é muito importante, porque esse mecanismo linguístico é um
recurso argumentativo, uma vez que visa a levar o leitor ou o ouvinte a aceitar
certas idéias”.

Dessa forma, não há como negar o que foi dito, mesmo que esteja implícito,
pois o autor deixa marcas, pistas textuais que levam a uma interpretação
coerente a respeito do que está expondo. Assim, para que o receptor consiga
seguir com a interpretação, essas lacunas devem ser preenchidas, caso
contrário, ficará sempre uma ideia de não completude da compreensão.

Os pressupostos precisam ser verdadeiros ou admitidos como tal, uma vez que
é por meio deles que se constituem as informações explícitas. Então, caso o
pressuposto seja falso, a informação explícita não tem sentido (REBELLO,
2013, p. 468).

Outro ponto importante para explicarmos são os subentendidos. Você sabe o


que é? Abordaremos a partir de agora.

Qual a função dos subentendidos?


Houaiss (2004, p. 701) define subentendido como sendo aquilo que “[...] não
está bem claro, explicado, apenas sugerido”. Ou seja, é uma informação que
precisa ser compreendida pelo leitor, ou ouvinte, pois o autor do texto está
procurando se ausentar de qualquer responsabilidade sobre tal compreensão,
por isso ele apenas sugere a informação.

Quando uma informação não é dita, mas tudo o que é dito nos leva a identificá-
la, estamos diante de algo subentendido ou inferível. Os diversos tipos de
conhecimento de mundo (ou modelos cognitivos, a saber, os frames, os
esquemas, os planos, os scripts) que precisamos partilhar com o produtor do
texto estão implícitos e precisam ser inferidos por nós. Nada é gratuito num
texto, tudo tem sentido, é fruto de uma intenção consciente ou inconsciente.
Assim, para captar os implícitos, o leitor precisa inferir (REBELLO, 2013, p.
469).

Bosco e Tomasi (2009, p. 359) explicam que os subentendidos dizem respeito


a uma “[...] forma implícita de dizer que faz a responsabilidade recair sobre o
enunciatário. O enunciador, pode dizer, em qualquer momento, que não foi ele
quem disse, mas o outro que assim interpretou”.
Em outras palavras, o subentendido é aquilo que depende da compreensão de
quem recebe a informação, é como dizer que eu sou responsável pelo que
digo, mas não posso me culpar pelo que o outro interpreta. Um exemplo é
alguém fazer uma pergunta a outrem e este, por sua vez, não a responder de
forma objetiva, como se estivesse se esquivando da informação. Observe o
diálogo:

- Ana, você gostou do espetáculo de teatro?

- É, as roupas eram belas.

Quando olhamos de forma mais atenta a esse texto, podemos perceber que há
um pressuposto e um subentendido. O primeiro refere-se ao fato de que
alguém foi ao teatro; o segundo, que é o que nos interessa por enquanto, pode
ser interpretado como não ter gostado do teatro, pois subentende-se que, se
Ana tivesse gostado, ela responderia que sim, mas não foi o que ocorreu. Ao
interlocutor, parece que Ana não quis deixar clara a sua opinião depreciativa
sobre a peça teatral. Quando isso ocorre, estamos falando de subentendido.

Pressuposto e subentendido
Nem sempre percebemos que, ao ler, complementamos informações
fornecidas pelo texto com outras informações que inferimos a partir do que foi
dito pelo autor. Isso porque o texto nos transmite, pelo menos, duas
informações: uma que é pressuposta e outra que está subentendida.

Para desvendar os pressupostos e os subentendidos, é preciso ser um leitor


perspicaz, que lê nas entrelinhas para, assim, captar as mensagens implícitas.
Pressupostos, como vimos, são ideias não expressas de maneira explícita,
mas que podem ser percebidas a partir de certas palavras que, por si mesmas,
veiculam significações implícitas. Algumas palavras que levam à interpretação
dos pressupostos são:
A fim de fecharmos este assunto, o pressuposto é um dado posto como
inquestionável e incontestável para o falante. O subentendido, por sua vez, diz
respeito ao ouvinte, uma vez que o falante, ao deixar a informação implícita,
pode esconder-se por trás do sentido literal, dos sentidos diversos das palavras
ou do contexto circunstancial e pode dizer que não estava querendo afirmar o
que o ouvinte compreendeu.

Caro(a) estudante, agora que você sabe diferenciar pressuposto de


subentendido, passaremos para outra parte de nossos estudos: a identidade
do sujeito e as ideologias.
A Ideologia Do Sujeito
Estudante, considerando que a linguagem faz sentido por estar inscrita na história,
e diz respeito à mediação entre o homem e o meio social, sendo um dos aspectos
principais da Análise do Discurso (AD) dar a noção de ideologia a partir da
linguagem, trata-se, então, da “[...] condição para a constituição do sujeito e dos
sentidos” (ORLANDI, 1999, p. 46). Sobre a AD é imprescindível pontuar que:

A língua não é transparente. O fundamental dessa tese é que a AD não aceita que,
dada uma palavra, seu sentido seja “óbvio”, como se estabelecido por convenção ou
como se a palavra pudesse referir-se diretamente à “coisa” (o mesmo vale, mutatis
mutandi para uma sentença). O grande alvo parece ser a gramática de Port-Royal,
seja diretamente, seja como representante de uma tradição que considera que a
relação língua-mundo (forma-conteúdo) é unívoca e clara — ou que pode ser
explicitada por uma teoria semântica “universal”. [...] A AD contesta que o sentido seja
da ordem da língua, que funcione submetido aos “seus” critérios — uma semântica
não é uma fonologia do sentido. O sentido é da ordem das formações discursivas
(FD), que, por sua vez, materializam formações ideológicas, que, por sua vez, são de
ordem da história (POSSENTI, 2004, p. 361).

Para a AD, o ato de comunicação é algo que envolve uma ideologia, não é algo
apenas dito, sem sentido, não se trata do sentido único de uma palavra,
dicionarizada, mas está relacionado com os sujeitos sociais que agem sobre o
texto. Esses sujeitos pertencem a grupos, têm formação, conceitos,
comportamentos, ideias, atitudes etc. Tudo isso, para essa linha de pesquisa,
implica na construção textual.

Toda interpretação precisa de uma ideologia que mostra o sentido de forma clara.
Quem determina isso é o sujeito, tanto aquele que elabora a mensagem quanto o
que a recebe. É preciso lembrar de que estamos falando de sujeito que pratica o
ato de comunicação, pois só a partir da enunciação é que são considerados
sujeitos. Por exemplo, a posição social que ocupo é de professora, todo o meu
discurso será pautado nessa prática social que apresentará as ideologias e as
interferência desse meio. Além de professora, quando não estou utilizando um
discurso que esteja pautado nessa ideologia, posso estar utilizando um sentido de
mulher, mãe, amiga etc. Acho que ficou claro que é isso que dá identidade ao
sujeito e ao seu discurso.

Parece que o sujeito é livre para dizer o que quer, porém, se está dotado de
identidade, ele se torna preso a essas ideologias, que fazem parte desse papel
social que ocupa no determinado momento da enunciação do discurso, seja ele
oral ou escrito.

Ao entendermos o sujeito como (re)construtor de um discurso que não é só seu,


assim a AD

[...] procura ressituá-lo entre um paradigma da objetividade, que o


ignorava, e um outro subjetivista que, ao superestimar sua dimensão
criadora, esquece e faz esquecer sua dimensão mediadora entre uma
polifonia que precede a ele e a uma manifestação discursiva dela
decorrente. (BARROS; MARTINO, 2003, p. 48-49).

Até aqui, estudante, comentamos sobre sujeitos, sentidos e ideologia. Agora, é


bastante pertinente discorrer um pouco sobre tipos de discurso. Há três tipos:
lúdico, polêmico e autoritário. Essa distinção está bem explicada por Tomasi e
Medeiros (2009, p .390) quando afirmam que “o lúdico é aquele em que seu objeto
se mantém presente enquanto tal e os interlocutores se expõem a essa presença,
resultando disso o que chamaríamos de polissemia aberta (o exagero é nonsense)”.
O discurso polêmico, por sua vez, é definido por Tomasi e Medeiros (2009, p.390)
como sendo o que:

[...] mantém a presença do seu objeto, sendo que os participantes não


se expõem, mas ao contrário procuram dominar o seu referente,
dando-lhe uma direção, indicando perspectivas particulares pelas
quais se olha e se diz, o que resulta na polissemia controlada (o
exagero é a injúria).

Por fim, os autores explicam que o discurso autoritário ocorre quando:

o referente está ausente, oculto pelo dizer; não há realmente


interlocutores, mas um agente exclusivo, o que resulta na polissemia
contida (o exagero é a ordem no sentido em que se diz “isso é uma
ordem”, em que o sujeito passa a instrumento de comando). (TOMASI;
MEDEIROS, 2009, p. 392-393).

Em síntese, o discurso tem suas funções dentro da sociedade, dependendo de


onde está inserido e a qual objeto se refere. Entendemos que, quando os autores
falam em discurso lúdico, há uma falsa ideia de interação entre os sujeitos, como
se fosse permitido que todos os interlocutores pudessem apresentar suas
ideologias.

Já quando eles explicam o discurso polêmico, é possível entender que há uma


abertura à mudança de posicionamento, mas que isso não ocorre de qualquer
forma, tem sempre algo que irá delimitá-la. Por fim, o autoritário, como o próprio
nome sugere, acontece quando não há a aceitação e a abertura para as
concepções ideológicas de outros sujeitos discursivos, é tido, então, como
“verdade absoluta”.

Após estudar tantos conceitos, à luz da Linguística textual e da Análise do


Discurso, você está apto a compreender de forma bastante clara todos os textos
que rodeiam a sua vida, tanto os que você produz quanto os que você recebe.

Entenda, no entanto, que a complexidade de um texto e suas linguagens servem


para torná-lo cada vez mais compreensível e melhor estruturado. Em uma
empresa, por exemplo, uma das maiores dificuldades para se ter sucesso é a falta
de uma comunicação eficaz, que, com certeza, se dá por não se conhecer e
dominar conceitos importantes, como os discutidos até aqui.
Para aprimorar ainda mais o seu conhecimento acerca da língua portuguesa e de
suas particularidades, passaremos à descrição e à explicação de algumas regras
gramaticais que contribuirão para uma produção de texto cada vez mais eficaz.

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