ME AME - LIVRO 2 - Carolina Fernandes

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ME AME

LIVRO 2

Carolina Fernandes
Copyright © 2022 Carolina Fernandes

Todos os direitos reservados

Os personagens e eventos retratados neste livro são fictícios. Qualquer semelhança com
pessoas reais, vivas ou mortas, é mera coincidência e não foi pretendida pelo autor.

Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou armazenada em um sistema de


recuperação ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico, mecânico,
fotocópia, gravação ou outro, sem a permissão expressa por escrito do editor.

ISBN-13: 9781234567890
ISBN-10: 1477123456

Desenho da capa por: Becharm


Número de controle da Biblioteca do Congresso: 2018675309
Dedico essa obra a cada um de vocês.

Que o bem combata toda a maldade que habita no mundo...


Contents
Title Page
Copyright
Dedication
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Capítulo 58
Capítulo 59
Capítulo 60
Capítulo 61
Capítulo 62
Capítulo 63
Capítulo 64
Capítulo 65
Capítulo 66
Capítulo 67
Epílogo
AGRADECIMENTOS
Prólogo
Continuação do livro ME DOMINE.

Gabriel cometeu um erro e como consequência, Julia se distanciou


do grande amor de sua vida. Desesperado e arrependido, sua
missão é conquistar a confiança e o perdão da amada, determinado
a não desistir, Gabriel será capaz de tudo para ter Julia novamente.

Magoada, Julia decidiu dar um tempo no relacionamento com


Gabriel após descobrir o erro que ele cometeu, um erro que poderia
custar a vida de uma das pessoas mais importantes para ela.

Mas o amor e atração que ela sente por Gabriel poderá interferir nos
seus planos, Julia terá que suportar a tentação de voltar para os
braços de seu grande amor, e um novo motivo aparecerá para que
ela o perdoe.

Novas intrigas e rivais entrarão em cena para tentarem atrapalhar o


plano de Gabriel, e um novo possível amor tentará conquistar Julia.

Mas os jogos de sedução continuam...


Capítulo 1
JULIA
Nunca senti tanto medo em perder alguma pessoa que amo, uma
pessoa importante para mim, no caminho de volta para a cidade fico
com receio, tenho medo de chegar ao hospital e ser tarde demais.

De não encontrar meu amigo vivo, de não ter a oportunidade de me


despedir, mesmo com medo e ansiosa para chegar ao meu destino
o mais rápido dirijo com o máximo de cuidado, tenho vontade de
chorar mais, mas sei que se isso acontecer posso perder o controle.

Me sinto culpada pelas palavras que falei para Gabriel, sei que
peguei pesado nas palavras, mencionei um assunto sério e delicado
para ele, toquei no assunto que mais o machuca e estou me
odiando agora.

Tenho vontade de dar meia volta e encontrar Gabriel, pedir perdão


por magoá-lo daquela forma, mas minha consciência grita para
continuar dirigindo, meu amigo precisa de mim, ele pode morrer ou
piorar a qualquer momento e eu não estou lá.

Posso conversar com Gabriel em outro momento e pedir


explicações para ele me esconder um assunto tão sério assim, ver
Gabriel daquela forma me machuca tanto, a culpa está pesando em
cima de mim.

Fernando e eu nos conhecemos desde nossa infância, eu o


considerava o irmão que nunca tive, ele sempre estava ali, me
apoiando e tentando me proteger de qualquer coisa que poderia me
machucar, e alguns anos depois, quando crescemos, começamos a
namorar, Fernando era um bom namorado, ele era o namorado
perfeito, mas faltava alguma coisa em nossa relação, sempre achei
que nosso namoro tinha amor envolvido, mas depois que Gabriel
me disse que talvez eu não o amava comecei a pensar a respeito,
talvez ele tenha razão, talvez eu não o amava daquela forma, o
amava apenas como meu melhor amigo.

E em pensamentos peço a Deus para que cure meu amigo, para


que o deixe viver, nunca fui religiosa, mas dizem que em momentos
como esse precisamos ter fé, ter esperança e acreditar que tudo vai
dar certo.

Está quase no fim da tarde, o céu até já escureceu, por um


momento me preocupo com Eve, estou com o carro de Gabriel e
não pensei na possibilidade de ele precisar do carro, me preocupo
em deixar minha pequena sem explicações, mas se algo acontecer
creio que ele possa pedir um Uber caso precise levar Eve para
casa.

No caminho da cidade ligo novamente para minha mãe para saber


sobre o caso de Fernando, ela me disse que ele passou por uma
cirurgia complicada e que ainda está inconsciente pela anestesia e
que só vão saber mais sobre seu estado somente quando ele
acordar.

Suspiro aliviada, mas ainda com receio, mas vou ter esperanças,
vou acreditar que quando eu chegar ao hospital Fernando já estará
acordado e vai me chamar de 'princesa', um apelido ridículo que ele
colocou em mim desde o nosso baile de formatura na escola, eu
estava usando um vestido rosa longo e ele foi meu par na festa.

Sinto uma fina lagrima escapar quando lembro de momentos e


lembranças como essa, lembranças felizes, de quando a vida
parecia mais fácil.

Após duas horas dirigindo sem descanso, finalmente chego no


centro da cidade, sigo rumo ao hospital onde Fernando está
internado segundo as informações passadas por minha mãe.

Quando chego estaciono o carro na primeira vaga e corro para


dentro tentando encontrar a recepção do hospital, quando a
encontro pergunto sobre Fernando, mas me falam que ele ainda não
acordou, e que as visitas ainda não foram liberadas.

— Julia! — ouço a voz de minha mãe e logo me viro encontrando a


mãe de Fernando junto a ela.

— Veio dirigindo filha? Onde está Gabriel? — minha mãe pergunta,


mas lhe dou uma resposta rápida dizendo que ele ficou com Eve.

Não querendo prolongar esse assunto, abraço a mãe de Fernando


que está com os olhos vermelhos devido ao choro constante.

— Eu sinto muito, dona Fatima — ela retribui o abraço e logo a ouço


soluçar antes de me dizer com a voz embargada:

— Obrigada por estar aqui, Fernando ficaria feliz com sua presença
querida.

— Ele vai ficar bem, calma — tento a acalmar, mas nem eu estou
calma.

Nos Sentamos em umas cadeiras disponíveis na ala de internação,


não quero chorar, preciso ser forte e não pensar no pior, mas numa
situação dessas é considerável impossível.

— O que aconteceu? — pergunto para a mãe de Fernando que


respira fundo antes de contar:

— Alguns assaltantes estavam tentando roubar um banco na


cidade, a polícia chegou, mas os bandidos estavam armados e
conseguiram acertar Fernando e outro agente, mas somente o
estado de Fernando é crítico.

— Em qual parte do corpo dele a bala perfurou? — pergunto


novamente.

— Foi perto do tórax, acertaram ele no tórax...— ela volta a chorar e


minha mãe a abraça.
Deus, cuide dele por favor, sei que levar um tiro na região do peito
pode ser perigoso, pois alguns órgãos vitais e importantes estão
presentes ali.

Não sei quanto tempo ficamos esperando sentadas ali, mas já é de


noite, e logo começo a sentir frio, o clima parece ter mudado
completamente, sinto frio e logo percebo que esqueci minha mochila
com meus pertences na chácara, estou somente com meu celular.

Ainda não tive coragem de ligar a tela de meu celular para ver se
tem alguma ligação ou mensagem de Gabriel, e quando finalmente
ligo o aparelho vejo que há nenhuma ligação dele, há somente uma
mensagem curta...

"Me avise se chegou bem".

Pela frase curta que ele me enviou percebo que ou ele pode estar
magoado ou bravo comigo, e logo lhe digito uma resposta, avisando
já cheguei na cidade, espero alguns minutos para ver se ele me
responde, mas não, ele apenas visualiza a mensagem.

Desligo o aparelho começando a sentir o mesmo mal-estar que senti


no dia anterior, franzo o cenho e faço uma careta sentindo o enjoo
ficar mais forte, minha mãe percebendo meu estado pergunta se
estou bem, mas não consigo responder, apenas coloco as mãos na
boca e me levanto correndo para o banheiro mais próximo, quando
término de vomitar tudo o que ingeri durante o dia, lavo a boca e o
rosto e volto.

— Tudo bem-querida?

— É só um mal-estar mãe... — sorrio fraco quando ela retira um


chiclete da bolsa e me entrega, rapidamente o coloco na boca
tentando retirar o gosto horrível de minha boca.

— Comeu alguma coisa?

— Almocei ao meio-dia.
— Precisa se alimentar, vou na lanchonete buscar algo para você
filha — ela se levanta, mas protesto.

— Não precisa, deixe que eu vou.

— Você não está bem, fique, Fernando pode acordar a qualquer


momento — assinto e a vejo se distanciar.

Após alguns minutos um médico aparece e pergunta:

— Familiares de Fernando Souza?


Capítulo 2
GABRIEL
Angustiado e nervoso caminho pela sala repentinamente, me sinto
culpado e um pouco machucado pelas palavras de Julia, ok, talvez
ela só tenha dito aquilo porque estava com raiva de mim e com
medo de perder o amigo.

Mesmo assim, meu coração continua magoado, sei que quando ela
está magoada ela quer magoar do mesmo jeito, a conheço a tempo
suficiente para notar esse detalhe em sua personalidade, mas sei
que não posso colocar toda a culpa em cima dela, eu que errei
primeiro, ela apenas reagiu ao meu erro de uma forma que me
magoou.

Agora aqui, sem ela, tenho consciência da grandeza de meu erro e


enquanto caminho pela sala rezo a Deus para que seu amigo fique
bem, pois sei que se ele morrer e ela não conseguir se despedir a
tempo ela vai me odiar.

Há algumas horas depois que Julia saiu, Eve veio até mim e me
perguntou por que ela foi embora sem se despedir e lhe falei que ela
precisava resolver um assunto importante, triste e sentindo falta de
Julia, minha pequena apenas concordou e foi assistir tv.

Pelo seu semblante sei que minha filha já está com saudades de
Julia, e confesso que também estou sentindo falta de minha garota,
mas fui idiota demais com ela, e tenho esperanças de que tudo
entre nós voltará a ser como antes, antes de lhe esconder o fato de
que seu amigo foi baleado e estava em estado crítico.

Sim, confesso que senti um pouco de ciúmes quando atendi a


ligação da mãe de Julia, pois sabia que ela correria para ele e me
deixaria de lado, eu sei é ridículo, mas estávamos felizes e não
queria que aquilo terminasse tão rápido, mas é uma vida, uma vida
de uma pessoa importante para ela, e se pudesse voltaria no tempo
para consertar tudo.

Quando ela mencionou o nome de Maya e o que aconteceu com ela


me senti mais culpado, pois suas palavras me machucaram de tal
maneira que logo lembrei das cenas horríveis de meu passado, e
que se pudesse apagaria de minha memória permanentemente.

Desde algumas horas eu tenho uma vontade imensa de ligar para


ela, de ouvir sua voz, de saber como ela está e se seu amigo está
bem, mas tenho quase certeza de que sou a última pessoa que ela
quer ouvir, ela tem assuntos mais importantes para se preocupar e
não quero atrapalha-la mais do que já atrapalhei hoje.

Mesmo assim lhe mandei uma curta mensagem perguntando se ela


chegou na cidade bem, estava preocupado em deixá-la dirigir
naquele horário, mas suspirei aliviado quando ela me respondeu,
dizendo que já tinha chegado, foi uma resposta curta e me senti
mais culpado, mas ela me respondeu, ela se lembrou de mim.

Também estava com vontade de ir até lá, de voltar para a cidade,


para lhe dar assistência e lhe consolar caso ela precise de mim,
mas já está tarde e estou com minha filha, e logo lembro que estou
sem carro no meio do mato.

Então resolvi que amanhã pela manhã voltaríamos para a cidade, fui
para o meu quarto e organizei minha mochila e logo perto da cama
vi sua bolsa e seus pertences, ela estava tão angustiada que não
levou nem os documentos, peguei suas coisas e as guardei para
levar comigo amanhã, precisava lhe devolver os documentos, ela
não poderia andar por aí sem a identidade.

Desci para a sala e encontrei Eve dormindo no sofá com a televisão


ligada, minha pequena está tão cansada de brincar que dormiu ali
mesmo, desligo a TV e a pego nos meus braços tomando cuidado
para não a acordar, a levo até o quarto que ela está dormindo desde
quando viemos para cá, a coloco na cama e antes de sair do quarto
minha filha abre os olhos e puxa meu braço.

— Papai, posso dormir com você hoje? — pergunta num tom


sonolento e logo sorrio.

— Claro, meu amor — digo e me deito na cama de casal ao seu


lado e logo seus pequenos braços contornam meu pescoço.

Desde mais nova Eve só me pede para dormir com ela somente
quando acorda depois de um pesadelo ou quando está triste com
algo, e concluo que nesse momento ela está neste estado e logo
penso que pode ser por Julia.

Beijo sua testa e acaricio os fios claros de seus cabelos e cantarolo


uma canção que sempre cantei desde que ela era mais nova, uma
música que sempre a ajudava a dormir rápido e logo constato que
esse método ainda funciona até hoje com ela pois logo ela dorme
abraçada a mim.

Apago a luz do abajur ao lado da cama e me ajeito ao seu lado,


fechando os olhos e tentando dormir, acreditando que tudo logo se
resolverá...

Quando acordo no dia seguinte término de ajeitar tudo para nossa


volta, preparo um café da manhã rápido e logo acordo Eve pois o
caminho até a cidade é longo, pedi um táxi para nos levar de volta,
enquanto Eve termina de se vestir levo nossas mochilas para o
carro que nos espera no portão, e alguns minutos depois estamos
na estrada a caminho do centro da cidade.

Chegamos de volta a cidade após quatro horas de viagem e está


quase no começo da tarde, minha intenção era deixar Eve na casa
de minha mãe e partir para o hospital entregar os documentos de
Julia, mas minha pequena insistiu em vir comigo, passamos no meu
apartamento para comer e pegar um dos meus outros carros e
partimos para o hospital onde a mãe de Julia me avisou que
Fernando estava internado.
Só espero que encontremos Julia lá, e agradeço a Deus quando
entramos no hospital e vemos Julia na lanchonete do hospital com
sua mãe ao lado, eufórica Eve se solta de minha mão e chama Julia
que se vira e nos olha.

Sua expressão está cansada e logo constato que ela passou a noite
aqui, mas seu rosto se enche de alegria quando abraça e beija Eve,
vejo Julia apresentar a pequena para sua mãe antes de levantar os
olhos para me encarar.

Com cautela vou me aproximando atento a cada expressão de seu


rosto, e quando chego até elas logo digo:

— Você esqueceu os seus documentos ontem...— lhe entrego sua


carteira e ela logo diz pegando o objeto de minhas mãos.

— Obrigada por me trazer, não me deixarem entrar para ver


Fernando sem identidade — e quando seus olhos escuros em
encaram fico sem palavras e reação.

— Ele está bem? — pergunto imaginando seu rosto se contorcer de


raiva e me xingar, mas isso não acontece, apenas vejo sua
expressão triste e com os olhos marejados.

— Ele passou por uma cirurgia ontem, a bala atingiu seu tórax e
pode ser que ele piore...

Dane-se! Ela pode me xingar ou até me bater quantas vezes quiser


em outro momento, mas agora ela precisa de alguém ao seu lado,
precisa de mim, ignoro meus pensamentos e a puxo para um abraço
com medo de que ela rejeite meu ato de afeto, mas ela aceita e
contorna os braços ao redor de meu peito e chora em meu ombro.

Continue assim Gabriel, você está no caminho certo...


Capítulo 3
JULIA

Na noite de ontem, quando finalmente Fernando acordou depois


da cirurgia foram liberadas visitas rápidas, sua mãe foi a primeira e
quando chegou a minha vez me xinguei mentalmente várias vezes
por esquecer meus documentos na chácara.

Sem minha identidade nas mãos eu não poderia vê-lo naquele


momento, então pedi para que minha mãe entrasse e me
informasse sobre o estado de Fernando, até aquele momento ele
ainda estava com dor, mas graças a deus estava estável.

Passamos a noite inteira no hospital pois o médico nos avisou


sobre uma possível piora depois do procedimento cirúrgico, mas
essa piora ainda não tinha acontecido e tinha esperanças de que
aquilo não acontecesse.

Depois que minha mãe voltou da lanchonete, ingeri o lanche que


ela me comprou e graças a deus meu mal-estar tinha sumido
novamente, ela até quis que eu me consultasse no hospital, mas
estava bem e não estava com meus documentos naquele momento.

E hoje de manhã deixamos a mãe de Fernando no hospital


enquanto voltamos para casa tomar banho e descansar um pouco,
passamos algumas horas em casa e depois partimos de volta para o
hospital, encontramos a mãe de Fernando na lanchonete do hospital
e nos juntamos a ela para saber sobre Fernando.

E fiquei feliz em saber que ele ainda continua estável e que ficou
feliz em saber em eu estava ali, novamente me xinguei mentalmente
por esquecer documentos tão importantes e não conseguir entrar
para ver meu amigo por causa de minha estupidez.
E para minha total surpresa após alguns minutos ouço a voz de
Eve me chamando, por um momento penso que deve ser paranoia
de minha cabeça, mas quando me viro vejo minha pequena correr
até mim.

Sorrindo contente, contorno meus braços em volta de seu


pequeno corpo e beijo seu rosto, e quando levanto os olhos
encontro Gabriel nos olhando distante. Após uns segundos apenas
nos encarando apresento Eve para minha mãe que sorri e
cumprimenta a garotinha e vendo que Gabriel e eu precisamos
conversar minha mãe leva Eve para comprar sorvete.

E logo vejo Gabriel se aproximar de mim com cautela, pela sua


expressão sei que ele está com medo de minha reação, mas não
esboço nenhuma apenas fico calada até ele chegar a mim.

— Você esqueceu os seus documentos ontem...— e logo vejo


minha carteira em suas mãos e o pego e digo:

— Obrigada por me trazer, não me deixaram entrar para ver


Fernando sem identidade — digo observando sua hesitação antes
de me perguntar:

— Ele está bem? — ele pergunta e logo me imagino brava com


ele, mas não faço isso, estou cansada e arrependida pelo o que fiz
ele passar ontem, pelo que fiz ele se lembrar, tenho certeza de que
isso já o machucou demais.

— Ele passou por uma cirurgia ontem, a bala atingiu seu tórax e
pode ser que ele piore — sinto meus olhos marejarem e logo
pergunto por que estou ficando desse jeito, talvez deva ser porque
existe uma probabilidade de ele piorar.

Suspiro e logo sinto os braços de Gabriel em volta de mim, me


abraçando, me passando conforto, ignorando o que fiz ele passar e
me consolar, retribuo o afeto e escondo meu rosto em seu ombro
sentindo as lagrimas descerem.
— Não está bravo comigo? — pergunto num tom baixo e ele
suspira.

— É você que deveria estar brava comigo Julia, eu só estou um


pouco magoado.

— Eu sinto muito, me desculpe te fazer lembrar daquilo — me


sinto ainda mais culpada em constatar que ele se magoou por
minha causa.

— Tudo bem, você estava magoada comigo, e estava com medo


de perder alguém importante, entendo perfeitamente.

Levanto o rosto de seu ombro e encaro seus olhos azuis, os


mesmos olhos que marejarem após ouvir minhas palavras estupidas
de ontem.

— Eu preciso entrar e vê-lo — digo me referindo a Fernando me


soltando de seus braços reconfortantes.

— Ok... — vou até Eve e beijo seu rosto antes de caminhar até a
recepção com os documentos em mãos, faço uma ficha e logo sou
liberada para entrar, ansiosa caminho pelos corredores procurando
o quarto em que Fernando está internado.

E quando entro vejo meu amigo deitado e como uma faixa ao


redor do peito, me aproximo com cautela vendo que ele está
dormindo, alguns aparelhos estão ligados ao seu corpo, pego sua
mão e acaricio e logo seus olhos escuros se abrem e me encaram.

— Desculpe, não queria te acordar... — digo o vendo abrir um


sorriso e me dizer com humor na voz:

— Tudo bem princesa, é uma alegria ser acordado por você.

— Como está se sentindo?


— Meu corpo dói, mas estou bem, é o que se ganha quando
pessoas como nós tentam ajudar a humanidade contra pessoas do
mal — ele diz e se ajeita na cama com uma expressão de dor ou
desconforto.

— É verdade o que a sua mãe disse? — ele pergunta sorrindo e


franzo o cenho antes de perguntar:

— O que ela disse? — pergunto confusa.

— Que você deixou seu namorado ranzinza plantado em outra


cidade e veio correndo me ver... — Ele arqueia a sobrancelha
sorrindo e bato em seu ombro de leve e rio.

— Seu idiota, pare de rir, a situação é séria, eu fiquei


preocupada com você.

— Ainda se preocupa comigo?

— É claro que sim, você é umas das pessoas mais importantes


para mim, então nunca duvide.

— Você também é uma das pessoas importantes para mim,


obrigado por estar aqui princesa.

— Tenho certeza de que seu namorado ranzinza não gostou de


ser deixado de lado enquanto você corria até mim, é bem provável
que ele queira me bater por roubar sua atenção — ele zomba rindo
e balanço a cabeça.

— Pare de brincar com uma situação séria, você poderia ter


morrido eu não conseguiria me despedir de você... — novamente
sinto meus olhos marejarem, não sei o que está acontecendo
comigo ultimamente.

— Não fique assim princesa, eu estou aqui, estou vivo.

— Eu sei, é que estou muito sensível ultimamente — digo e me


sento ao seu lado enquanto ainda seguro sua mão.
— Não piore, fique vivo, por favor... — com a expressão séria ele
aperta minha mão e diz:

— Vou tentar princesa, juro que vou tentar... — uma fina lagrima
desce por minha bochecha enquanto o abraço tomando cuidado
para não o machucar.

Apenas fique assim, apenas fique vivo Fernando...


Capítulo 4
GABRIEL

Observo a mãe de Julia conversar com Eve e percebo que Julia


está lá dentro há algum tempo, me sento em uma das cadeiras
disponíveis na recepção e no celular faço algumas ligações sobre a
Empresa, e suspiro cansado sabendo que amanhã voltarei a
trabalhar.

Ser CEO e administrar um conglomerado de empresas sempre


foi o sonho de meu pai, mas ele se foi antes de conseguir realizar
seu desejo, e como filho mais velho desde pequeno acabei
adquirindo o mesmo desejo, confesso que é um trabalho cansativo,
mas foi o que eu sempre quis.

Suei e trabalhei bastante para conseguir chegar aonde cheguei


hoje em minha carreira, sacrifiquei momentos felizes e importantes
de minha vida para chegar aqui, e logo volto a me lembrar de Maya,
a deixei pelo desejo cego de poder, e confesso que me arrependo
disso até hoje.

Mas é passado, e não há como mudar o que já se passou,


aprendi com meus erros e pretendo não os cometer nunca mais em
minha vida, caí, e com um enorme esforço consegui levanta-me e
não pretendo cair novamente.

Ouço a voz de Julia e logo levanto a cabeça para olhá-la, ela


conversa sorrindo com a mãe e logo constato que seu amigo deve
estar bem, agradeço mentalmente e a vejo caminhar até mim de
mãos entrelaçadas com Eve, me levanto esperando suas próximas
palavras.
— Ele está bem e espero que continue assim — ela diz e assinto
com a cabeça.

— Sua bolsa está em meu apartamento, posso te entregar


amanhã na Empresa? — pergunto vendo sua expressão neutra.

Sei que ela está como eu, não sabe qual reação esboçar e o que
falar, me sinto do mesmo jeito.

— Sim, obrigada — a vejo se agachar em frente a Eve e se


despedir da pequena.

Minha menina abraça Julia e pergunta quando ela o verá


novamente, confesso que senti vontade de perguntar isso, mas
minha filha já fez o trabalho, Julia respira fundo e diz que logo a
verá, uma alegria e ansiedade enche meu coração em saber disso.

— Nós vemos amanhã? — pergunto e ela assente com a cabeça


e diz:

— Me desculpe mais uma vez — e logo seus braços rodeiam


meu pescoço, surpreso retribuo o afeto e digo com sinceridade:

-— Sou eu que te devo desculpas — desejaria um beijo como


despedida, mas acho que é muito, então me contento com seu
abraço.

E em alguns minutos depois eu e Eve estamos saindo do


hospital, os dois tristes e já sentindo saudades de Julia, ela queria
devolver as chaves do meu carro, mas deixei com ela pois não
queria que elas fossem a pé ou de outro jeito.

Percebendo a tristeza de minha filha propus um passeio pelo


shopping com Eve, tentando anima-la, já que eu deveria trabalhar
apenas amanhã, então restava uma tarde inteira com minha
pequena.
Quando finalmente chegamos ao shopping da cidade,
caminhamos pelos corredores e levei Eve para umas lojas de
brinquedos, e após ver a montanha de brinquedos e bonecas de
vários tipos e formas o humor de minha filha mudou um pouco, mas
a saudade ainda estava lá.

Mesmo em pouco tempo Eve se apegou muito com Julia e fico


feliz que o sentimento seja recíproco, sem dúvidas, Julia é a mãe
que Eve sonhou em ter um dia, antes de conhecer Julia, minha filha
vivia me perguntando quando teria uma mãe, sem jeito e sem
conseguir responder aquilo falei que um dia, um dia uma mãe
perfeita lhe daria todo o amor materno que lhe faltou, e esse dia
chegou, Julia apareceu como um anjo em nossas vidas.

Eve escolhe algumas bonecas e ursos de pelúcias, depois de


comprar os brinquedos escolhidos por ela, continuamos caminhando
pelos corredores repletos de pessoas, e decidimos parar na área de
alimentação para comer algo em um dos restaurantes.

Enquanto nos acomodamos na mesa e Eve escolhe o que pedir,


pego meu celular e verifico se há alguma mensagem ou ligação de
Julia, antes de sair do hospital falei para ela me deixar sempre
informado sobre o estado de seu amigo e se precisasse de alguma
coisa era só me ligar ou deixar uma mensagem para mim que eu a
ajudaria com o que precisar.

Mas não há nenhuma ligação ou mensagem dela, suspiro e


guardo o celular, e decido o que pedir, almoçamos e Eve me conta
sobre os amiguinhos que ela fez na escola, por causa do meu
trabalho que estava ocupando quase todo meu tempo nos últimos
tempos, aproveito para conversar sobre coisas simples com Eve,
uma conversa tradicional entre pai e filha.

Após terminarmos nossa comida, pago a conta e saímos do


restaurante e quando levanto os olhos sinto um arrepio em meu
corpo ao ver uma mulher morena do outro lado do shopping.

Maya?
Assustado pego a mão de Eve e caminho apressadamente até
onde vi a mulher de cabelos negros, com um fisionomia idêntica à
de Maya, sei que isso é impossível e que pode ser minha mente me
pregando uma peça, talvez eu esteja imaginando coisa após passar
a noite de ontem relembrando dela.

— Papai, o que está acontecendo? — Eve me pergunta e


procuro a mulher ao meu redor, mas não há nenhuma mulher
parecida com a que eu vi.

— Nada meu bem, papai pensou que tinha visto uma amiga,
mas não era ela — suspiro controlando minha respiração
descontrolada.

— Vamos voltar, querida — volto a pegar em sua mão e ainda


angustiado caminhamos para a saída do shopping, está no final da
tarde então dirijo até meu apartamento, preciso descansar, amanhã
será um dia cheio e cansativo.

Quando chegamos vou para meu escritório adiantar algumas


coisas para amanhã enquanto Eve brinca com seus novos
brinquedos em seu quarto, ainda em choque com o que imaginei ver
pego a garrafa de bebida que deixo quando estou precisando
relaxar, pego um copo e encho e logo levo o líquido aos lábios,
sentindo o sabor do amargo do álcool por minha garganta.

Deus, devo estar ficando louco ou imaginando coisas que são


impossíveis, ligo meu computador e decido trabalhar, preciso me
distrair ou enlouquecerei...
Capítulo 5
JULIA

Ficamos por mais uma hora no hospital e nos despedimos da


mãe de Fernando que nos prometeu nos informar sempre sobre o
estado de seu filho, eu queria ficar mais tempo ali, mas era melhor
descansar, pois amanhã tenho que voltar a trabalhar na Empresa.

Amanhã, mais uma semana se inicia, quando chegamos em


casa minha mãe vai cuidar dos afazeres da casa, enquanto faço
alguns trabalhos atrasados da Faculdade, o fim de semana naquela
chácara atrasou um pouco de minha vida e agora tenho que dar
conta de realizar tudo.

Quando finalmente consigo terminar tudo, já é tarde, quase no


começo da noite, ajudo minha mãe com o jantar e logo meu pai
chega em casa, como todos os dias, cansado, mas ele insiste em
continuar nesse trabalho, sei que isso está acabando com ele aos
poucos.

No jantar, conversamos sobre tudo, afinal, não era todo dia que
meu pai chegava cedo e tínhamos uma oportunidade de jantar em
família, ele sempre chegava na manhã cedo ou de madrugada,
queria aproveitar a sua companhia ao máximo nessa noite, mas ele
estava cansado, e logo pela manhã voltaria a trabalhar.

Quando término de ajudar minha mãe a lavar as louças, subo


para meu quarto e decido tomar um banho quente antes de dormir,
e quando volto para o quarto pego o celular e verifico minhas
mensagens e ligações, mas não há nenhuma da mãe de Fernando
e nem de Gabriel.
Será que ele mentiu para mim? Talvez ele tenha ficado bravo
comigo pelo que disse a ele, e ele apenas disse que estava
magoado porque eu estava passando por uma situação complicada.

De pijama, me deito em minha cama e procuro seu contato em


minha agenda, quando acho fico em dúvida se deixo uma
mensagem ou se ligo para ele, é de noite, mas não é tão tarde,
ainda não sei como nosso ficará o estado de nosso relacionamento,
um parte de mim sabe que ele só fez aquilo porque não queria
destruir minha felicidade, até certo ponto, eu consigo entende-lo.

Suspiro e ainda indecisa decido ligar para ele, queria ouvir a sua
voz antes de dormir, se passa alguns segundos e ele logo atende
minha ligação.

— Boa noite. — Digo ouvindo sua respiração do outro lado.

— Boa noite, aconteceu algo? — sua voz logo se torna


assustada e tento tranquiliza-lo:

— Não, eu só não estou conseguindo dormir, desculpe te


incomodar num horário como esse.

— Tudo bem, eu também não estou conseguindo dormir, mesmo


sabendo que amanhã será um dia exaustivo para mim.

— Entendo — Digo e percebo que seu tom de voz está


arrastado.

— Onde você está? — pergunto sentindo a curiosa se sobressair


em minha voz.

— No meu escritório, em casa, estava tentando adiantar algo


para amanhã.

— Você estava bebendo? – levo a mão a boca segurando uma


risada.
Nunca vi Gabriel bêbado, ele sempre esteve no controle de tudo,
mas percebendo seu tom de voz sei que ele andou bebendo
demais, e sinto vontade de gargalhar pois seu tom de voz fica muito
humorado.

— Um pouquinho, mas acho que tomei a garrafa toda — uma


risada escapa e logo ele faz o mesmo do outro lado.

Mas paro de rir quando percebo que a situação pode ser séria
demais, ele nunca bebê desse jeito, e logo pergunto:

— Você está bem?

— Eu acho que estou enlouquecendo...

— O que aconteceu? — pergunto sentindo um misto de


preocupação e curiosidade me invadindo.

— Estou começando a ver coisas, pessoas que já se foram.

— Maya? — pergunto ouvindo seu suspiro antes de dizer num


tom baixo:

— Sim...

— Você não está ficando louco, talvez seja sua mente pregando
peças porque você está se lembrando muito dela nos últimos dias.

— Não sei, pode ser, queria que você estivesse aqui...

— Eu também...

Conversamos mais um pouco e ele diz que vai tentar prevenir


uma ressaca amanhã, bebendo bastante café e um banho gelado
antes de tentar dormir, desligo a ligação e me ajeito na cama
tentando achar uma posição confortável para conseguir dormir.

No dia seguinte acordei com olheiras fundas ao redor dos olhos


denunciando minhas poucas horas de sono, foi difícil conseguir
dormir na noite anterior e quando finalmente dormir meu
despertador tocou e me levantei.

Depois de tomar um banho, agora estou aqui, de frente ao


espelho tentando amenizar minhas orelhas com maquiagem, decidi
vestir uma calça preta, camiseta de seda e um blazer social por
cima, na noite anterior Gabriel me avisou que hoje participaria de
uma reunião com investidores do outros países, e que eu o
acompanharia, então decidi ir com roupas mais apresentáveis.

Após terminar de fazer uma maquiagem básica, calço meus


saltos, pego minha bolsa e as chaves do carro de Gabriel,
devolveria seu carro hoje e voltaria para casa de táxi, desço e
encontro minha mãe preparando o café da manhã, sentindo o cheiro
delicioso de waffles sendo preparados, coloco alguns em um prato e
abro a geladeira encontrando a embalagem de Ketchup, abro o
armário e vejo o pote de manteiga de amendoim e logo me lembro
de Gabriel comendo aquela coisa com vontade.

Nunca gostei de comer essa coisa, parece que sou a única que
não como isso, até meus pais compram todas as vezes quando
fazem compras.

Pego o pote amarelo e volto a me sentar na mesa, a última vez


que coloquei manteiga de amendoim na boca foi a alguns anos e
não gostei do sabor, mas olhando para a embalagem ainda sinto
nojo, mas está parecendo tão saboroso, pegou uma colher e
despejo uma quantidade em cima dos waffles e logo também coloco
Ketchup, a aparência do meu café da manhã não é a das melhores,
mas estou ansiosa para provar a mistura.

— Está comendo manteiga de amendoim filha? Você nunca


gostou do sabor — Minha mãe pergunta olhando para minha
mistura que logo levo a boca.

— Tinha esquecido do sabor, mas até que não é ruim como


antes. — Digo e continuo comendo, quando término me despeço de
minha mãe e vou para o trabalho.
Cheguei na Empresa há uma hora e daqui a pouco a reunião
com os investidores começará, me preparo e faltando apenas
alguns minutos caminho até a sala exclusiva para reuniões
encontrando Gabriel sentando-se em uma das pontas da mesa, me
sento do outro lado da mesa vendo alguns homens de terno
entrarem na sala e se juntarem a nós na mesa.

Um investidor está mostrando sua proposta em forma de slide


enquanto todos nós ouvimos incluindo Gabriel, por um instante
começo a me sentir mal, respiro fundo e rezo para que passe,
levanto os olhos e vejo que Gabriel me encara com a testa franzida
e pergunta se estou bem num tom de voz baixo, apenas assinto e
volto a prestar atenção no rapaz que continua sua apresentação.

Sinto o enjoo ficar mais forte a cada minuto que se passa, aflita
me levanto num gesto brutal e digo:

— Desculpem eu...— Coloco as mãos na boca e todos me olham


com a testa franzida.

Ai que vergonha.

Não aguentando mais segurar saio da sala e corro para o


banheiro de minha sala o mais rápido possível, coloco toda a
mistura do meu café da manhã esquisito para fora e logo ouço
passos e mãos segurando meus cabelos.

— Precisa ir ao hospital Julia — Ouço a voz de Gabriel e quando


término levanto a cabeça e digo:

— Eu estou bem, só foi uma reação a manteiga de amendoim


que eu comi no café da manhã. — Digo suspirando lembrando da
mistura nojenta e logo Gabriel rir.

— Por que comeu uma coisa que você odeia?


— Sua culpa, eu vi você comendo aquilo todos os dias e me deu
vontade de experimentar, mas vejo que isso foi uma péssima ideia...
— sorrio ouvindo seu riso enquanto me ajuda a se levantar.
Capítulo 6
GABRIEL

Na noite anterior acabei exagerando no álcool e acabei bebendo


garrafa toda, e como consequência acordei como uma ressaca
desgraçada, sentia minha cabeça doer como nunca, nunca fui de
beber muito, apenas em ocasiões especial

É comum algumas pessoas se embriagarem para tentarem


aliviar alguma dor ou esquecer do que lhes afligem, e esse foi o meu
caso, coloquei Eve para dormir e depois voltei para o escritório onde
tentei esquecer algumas coisas.

Enquanto estava bêbado até que funcionou, não estava


lembrava do que me machucava, mas não posso e nem vou me
embebedar toda vez que lembrar do meu passado infeliz, preciso
enfrentar meus medos e pesadelos.

Mas numa noite infeliz fui recompensado por uma ligação de


Julia, e saber que ela me ligou aqueceu meu coração de um tal
maneira que não sei e nem consigo explicar, só sei que ouvir sua
voz me tranquilizou, ela até me fez rir do meu estado ridículo, ela
tem razão, quando estou bêbado sou ridículo.

Após conversar e ouvir a voz de Julia consegui dormir tranquilo,


mas na manhã seguinte acordei com uma enorme ressaca, meus
esforços para prevenir que isso acontecesse falharam inutilmente.
Mas precisava trabalhar, então tomei um remédio e deixei Eve na
casa de minha mãe antes de partir para o trabalho, uma reunião
importante com novos interessados em investir na Empresa, eu não
poderia faltar num compromisso importante com esse.
A reunião aconteceria em algumas horas, então cheguei mais
cedo que todos para organizar os compromissos do dia, e quando
finalmente aquelas horas se passaram, todos nós incluindo Julia se
juntaram a mim na sala de reuniões,

Enquanto eles apresentavam a proposta, eu fingia que estava


prestando atenção, mas eu só pensava nela, lindamente vestida
com roupas formais sentada há poucos metros de mim, seus olhos
estavam fixados na apresentação e consegui notar todas as
expressões faciais que ela fazia, mas uma me chamou a atenção,
seu rosto estava se contorcendo e respirava fundo, preocupado com
seu bem-estar perguntei num tom baixo se ela estava bem, ela
apenas assentiu.

Mas eu a conhecia bem e sabia que tinha algo de errado ali, e


após sair correndo sala minhas suspeitas foram comprovadas, ela
não estava bem.

— Com licença — peço me levantando enquanto todos me


olham, ignoro os olhares saindo e seguindo Julia, a encontrando
vomitando no banheiro de sua sala, segurei seus cabelos e quando
terminou me disse que tinha comido manteiga de amendoim e que
foi essa a causa de seu mal-estar, rir de sua explicação e a ajudei a
se levantar e recompor.

— Vamos voltar, eu estou bem — ela lava os lábios e tenta


passar por mim, mas seguro seu braço e a faço me encarar.

— Você não precisa voltar, não está se sentindo bem, fique e


descanse, se piorar eu te levo ao hospital, ok? — digo e contrariada
ela acena com a cabeça.

Deixo Julia em sua sala e logo volto para a reunião em que todos
me aguardam.

— Me desculpem interromper, continue por favor — comando


voltando a me sentar em meu lugar na mesa.
A reunião durou uma hora e meia, mas o tempo todo fiquei
pensando em Julia, e quando a reunião finalmente terminou voltei
na sala de Julia e ela me disse que estava bem, pedi que ela
voltasse para casa e tirasse o resto do dia de folga, mas teimosa do
jeito que ela sempre é, negou minha proposta e resolveu ficar para
trabalhar, não queria que ela trabalhasse daquele jeito mas não
insisti, eu poderia dar uma de chefe e ordenar que ela voltasse para
casa, talvez assim ela me obedeceria, mas não fiz isso, preferi não
forçar a barra com ela.

No horário de almoço a convidei para almoçar comigo em nosso


restaurante favorito, ela aceitou, e novamente meu coração se
encheu de alegria, ansioso para passar mais tempo ao seu lado a
levei até o estabelecimento, fiz meu pedido, mas Julia ficou indecisa
com o que pedir para comer, mas após uns minutos ela finalmente
escolhe e faz o pedido.

Conversamos sobre assuntos aleatórios e ela logo perguntou


sobre Eve, e falei que minha pequena estava com saudades, tive
vontade de falar que eu também estava com saudades dela, mas
me contive, antes de volta para a Empresa, passei em uma farmácia
e comprei mais remédios para minha dor de cabeça, aproveitei e
comprei um medicamento contra enjoos para Julia.

Quando voltamos para a Empresa, cada um vai para sua


respectiva sala, e quando entro na minha logo batem na porta.

— Entre! — respondo e logo vejo Beatriz entrar em minha sala.

A mesma recepcionista que Julia tem raiva e ciúmes depois de


Beatriz me contar que viu Julia com Fernando no restaurante há
algum tempo.

— Senhor Simon, uma mulher veio e perguntou sobre o Senhor


quando estava almoçando — levanto os olhos de meu computador e
franzo o cenho a encarando antes de perguntar:

— Quem era ela? Deixou algum recado?


— Não, ela não se identificou, mas quando soube que você não
estava disse que voltaria em outra hora.

— Que estranho, me avise quando ela voltar por favor, Beatriz —


digo e ela assente antes de deixar a sala.

Franzo o cenho confuso em saber que uma mulher procurou por


mim e não deixou a identificação, volto a me concentrar me tento
distrair fazendo o que eu faço de melhor, trabalhando.

Passei o dia todo assinando, revisando contratos, em reuniões


online e presencias que tomaram todo meu tempo, só quero voltar
para meu apartamento e descansar após um dia exaustivo, ouço
uma batida na porta e logo Julia entra em minha sala.

— Você está bem?

— Sim, obrigada, eu vim devolver o seu carro antes de ir — ela


se aproxima de minha mesa e entrega as chaves de meu carro.

— E como você vai embora? — pergunto.

— Eu pego um táxi de volta para casa.

— Não, leve o carro, amanhã eu peço para alguém buscar o


carro em sua casa.

— Ok — ela diz enquanto desligo o computador, pego meu terno


e me levanto caminhando junto a ela até o elevador, novamente
somos os últimos a sair da empresa.

Quando entramos no espaço, aperto o botão do térreo e logo as


grandes portas de metal se fecham, nos deixando sozinhos.

E logo ouvimos um barulho estranho e depois sentimos o


elevador parar de descer, com o impulso da parada Julia se segura
em meu braço e por instinto seguro seu corpo contra o meu
tentando a proteger o impacto.
— Ai, meu deus, o que foi isso? — ela pergunta nervosa.

— Não sei, mas o elevador parou de descer — digo e levanto a


cabeça percebendo que ainda estamos no quinto andar.

Quando volto a encara-la ela tem uma expressão irritada e logo


entendo o que ela quer dizer:

— Não foi eu que fiz isso, eu juro!

— Se foi você que desligou esse maldito elevador eu juro que


acerto um tapa em seu rosto Gabriel — ela ameaça e logo gargalho,
mas paro de rir quando as luzes se apagam deixando somente as
luzes de emergência.

Porra!

Tento abri as portas do elevador, mas eu falho, droga!

— E agora?

— Estamos presos... — respiro fundo tentando manter a calma,


mas Julia ao contrário de mim já entrou em pânico.

Aperto o interfone para conseguir pedir ajuda, mas ninguém


responde do outro lado, aperto o alarme do elevador e pego meu
celular para chamar ajuda...
Capítulo 7
JULIA

Ainda não estou acredito que isso está acontecendo, não


acredito que estamos presos dentro desse elevador, o pior é que
minha mente pervertida relembra de quando Gabriel desligou esse
elevador de propósito e de quando fizemos loucuras insanas aqui
dentro.

Relembro de tudo, até as sensações que senti quando estava


rendida em seus braços, fiquei irritada com ele por fazer aquilo na
minha primeira semana trabalhando aqui, estou nervosa por saber
que agora não foi ele quem desligou o elevador, no começo até
duvidei de suas palavras, mas quando vi as luzes se apagarem e as
de emergência ligarem comprovei que dessa vez não foi ele.

O ambiente está sendo iluminado apenas pelas luzes de


emergência, a alguns minutos Gabriel acionou o alarme, mas até
agora estamos presos aqui, estou irritada e tenho vontade de
colocar a culpa nele, já que a empresa é dele, e ele deve cuidar
para problemas como esse devem ser evitados, mas não faço isso,
apenas me encosto na parede fria e suspiro enquanto Gabriel mexe
em seu celular e faz algumas ligações para pedir ajuda.

Até penso em pegar meu celular, mas não sei por quanto tempo
ficaremos presos aqui e decido poupar a bateria do aparelho para
quando realmente precisar, estou nervosa e ficando com mais calor
a cada minuto, ok, aqui dentro tem ventilação e ar de sobra, mas
deve ser por causa do meu nervosismo.

— Consegui falar com o pessoal da manutenção, eles ainda não


sabem o que aconteceu, mas avisaram que algumas horas o
elevador voltará a funcionar, pedi para virem o mais rápido possível.
— Algumas horas? Não tem nenhum risco desse elevador cair,
né? — pergunto temendo que algo ruim possa acontecer, mas
quando o encaro ele está sorrindo.

— Não, fique tranquila.

— Está tudo bem? — ele pergunta vendo que estou transpirando


e com a respiração fora do normal.

— Sim, só estou com um pouco de medo, e está ficando abafado


aqui dentro — Faço um movimento com as mãos tentando amenizar
o calor.

— Realmente está quente aqui dentro, seria melhor nos


livrarmos de algumas roupas ou ficará pior.

Por instinto faço uma careta com o duplo sentido da frase e o


encaro, mas ele gargalha e logo diz com um toque de humor na voz:

— Eu não estou me referindo a isso...

Assinto concordando com a cabeça e logo retiro meu blazer e


vejo que Gabriel faz ele joga o terno que estava segurando no chão
do elevador e abre os primeiros botões da camisa branca social, ele
levanta a cabeça e percebe que estou olhando para seu corpo com
atenção, viro para o outro lado e sinto meu rosto corar.

Respiro fundo para continuar tentando manter a calma numa


situação como essa, ainda mais com um homem como esse do meu
lado abrindo a camisa social, mantenha a calma Julia, você
consegue resistir.

Talvez isso não seja uma boa ideia, pois a qualquer momento o
elevador voltará a funcionar e estaremos sem algumas roupas
quando isso acontecer, mas está muito abafado.

Mas logo lembro que da primeira vez que estávamos no elevador


eu não conseguir resistir, mas dessa vez tenho que ser forte, é só
não olhar e ficará tudo bem. Continuo repetindo isso internamente
em meus pensamentos, mas ouço o som de uma peça caindo no
chão.

Droga!

Logo penso em retirar algumas peças de roupas também mas


vou aguentar o calor que estou sentindo, não vou retirar a blusa e
ficar seminua na frente de Gabriel, ou corro o risco de correr para os
seus braços e cometer mais uma loucura aqui dentro novamente, a
tentação é grande, mas tenho que continuar firme.

Já vi Gabriel nu várias vezes, mas não sei o que está


acontecendo comigo, porque agora está parecendo a primeira vez
que o vejo dessa forma ou talvez meu corpo esteja se lembrando do
que aconteceu entre nós aqui dentro na primeira semana de quando
comecei a trabalhar nesta Empresa.

— Deveria retirar a blusa Julia, você está suando — Me xingo


mentalmente quando ouço sua voz e viro a cabeça em sua direção.

O elevador está iluminado pela fraca luz de emergência, mesmo


assim consigo ver o contorno de seu corpo perfeitamente, meus
olhos traiçoeiros estão fixados em seu peito desnudo, ele retirou a
camisa social ficando apenas com a calça preta social caindo em
volta de seus quadris.

Droga, droga...

— Não precisa, estou bem assim. — respondo e quebrou a


nossa troca de olhares voltando a virar a cabeça para o outro lado.

Qualquer outra pessoa presa aqui dentro não ficaria no estado


em que me encontro agora, o clima do elevador está normal, mas
estou suando e com muito calor, e logo penso na probabilidade de
ser a tensão sexual presente entre nós o causador do meu
nervosismo.
— Não vou fazer nada que não queira Julia, não sou o mesmo
canalha que antes desligou o elevador só para te provocar, não sou
mais assim. — ele diz e respiro fundo antes de virar meu corpo para
encarar seu rosto antes de dizer:

— O problema não é você, sou eu, não confio em mim mesma


Gabriel, não tenho controle e nem sei resistir aos meus desejos e
sei que você ainda está magoado comigo — esclareço e o vejo se
aproximar de mim lentamente sentindo minha respiração acelerar.

— O que você deseja? — ele pergunta num tom baixo.

Continuo calada apenas encarando seus lindos olhos azuis,


tremo quando suas mãos pousam em cada lado de minha cabeça
me prendendo no lugar.

— Diga que me quer, ou se não me quiser prometo que não volto


a importuna-la mais.

Ai meu deus.

Ele está achando que não o quero? Tenho vontade de gritar


dizendo que o amo e que sempre o quero em minha vida, mas me
contento em dizer:

— Eu quero você, eu sempre vou querer você Gabriel —


Sussurro e vejo sua expressão ficar mais leve e antes de me dizer
com um sorriso nos lábios.

— Eu também te quero, sempre vou te querer Julia, você é a luz


que iluminar meu caminho, você é tudo para mim, eu te amo —Ele
diz e encosta sua testa na minha fechando os olhos.

— Eu te amo! — declaro e encosto meus lábios nos seus, o


beijando pela primeira vez depois de alguns dias distantes um do
outro.
Ele recebe meu beijo de forma urgente, me puxando para
encontro ao seu corpo, contorno seu pescoço com meus braços e
digo:

— Eu quero você, agora! — me afasto para retirar minha blusa e


jogá-la no chão do elevador.

— Tem certeza? — ele pergunta, mas sei que ele também quer
isso, mas está com medo de me pressionar demais.

— Sim. — Após ouvir Gabriel me beija mais uma vez antes de


me levantar do chão.

Esse homem me faz perder o controle toda vez que estamos


juntos, e tenho que admitir que adoro perder o controle em seus
braços, tento me preocupar que o elevador pode voltar a funcionar a
qualquer momento, mas estou tão envolvida que não consigo pensa
nessa possibilidade, apenas quero estar nos braços dele...
Capítulo 8
JULIA

Gabriel e eu continuamos nos beijando, e minha necessidade de


sentir seu corpo colado ao meu se faz cada vez mais presente, é
como se eu precisasse dele, precisasse com urgência de seu toque
em meu corpo.

Foram poucos dias que ficamos separados um do outro, mas


senti muita saudade dele, é como se passasse meses, mas foram
apenas dias, poucos dias sem ele, e já estou desesperada para
voltar para os seus braços.

A alguns segundos me livrei de minha blusa e agora com a


apenas a luz fraca do elevador Gabriel me ajuda a retirar o sutiã de
meu corpo, o vejo jogar a peça no chão junto com suas peças de
roupas que ele retirou a alguns minutos atrás, e logo suas mãos
grandes estão tocando e reivindicando meu corpo.

O perfume suave de sua colônia me traz uma sensação


estranha, como uma doce nostalgia, e logo percebo que ele está
usando o mesmo perfume quando desligou o elevador há algum
tempo.

Seus lábios estão em meu pescoço deixando o rastro de seu


hálito quente em minha pele e logo sussurra num tom rouco e baixo:

— Esse momento me traz boas lembranças, lembranças


deliciosas demais para serem esquecidas...

Toco seus braços com os lábios entreabertos, impaciente, quero


que ele continue e pare de me torturar com essa lentidão, mas sei
que ele gosta de jogar assim, ele quer que eu chegue ao meu limite
de paciência e implore para continuar com seus toques.

— Tudo isso aqui me faz lembrar de quando cometemos aquela


loucura excitante, quando experimentamos algo proibido, mas você
gosta do perigo, não é Julia?

Existe coisa mais excitante do que um homem como Gabriel


sussurrar esses tipos de palavras perto de seu ouvido numa
situação como essa?

— Responda, meu amor...

— Sim. — Digo inebriada pelo momento.

Lentamente, ele retira as mãos de minha cintura e as move para


o meu rosto, tocando minha bochecha com ternura.

Inclino minha cabeça para o lado para aproveitar o momento que


ele nos proporciona dentro desse elevador, fechando os olhos me
concentrando nas sensações e em sua voz:

— Você me encantou desde a primeira vez que te vi naquela


faculdade, sua ousadia me provocou de uma tal forma que não sei
explicar, fiquei tão louco para tê-la para mim, que desliguei esse
elevador e fiz você cometer aquela loucura comigo.

Abro os olhos e vejo seu rosto se aproximando do meu, seus


olhos azuis fixos nos meus, me encarando com intensidade da
mesma forma que o encaro.

— E confesso que não me arrependo do que aconteceu entre


nós nesse elevador naquele dia. — Minha voz falha quando seus
lábios encontram os meus enquanto encosto minha mão em seu
torso descoberto.

— Não se arrepende? Ótimo, porque eu também não me


arrependo de nada do que fizemos, e vou fazer tudo novamente
agora...— Tremo ansiosa e sinto seu sorriso em meus lábios.

— É isso que você quer? Deseja sentir as mesmas emoções que


a fiz sentir na primeira vez?

Fico calada sem conseguir emitir uma só palavra quando sua


boca volta a se posicionar contra meu pescoço, e um arrepio
delicioso percorre minha coluna.

— Me responda, prometo vou te fazer sentir o melhor prazer de


sua vida Julia, me deixe lhe proporcionar momentos indescritíveis
de prazer absoluto.

Eu gemo baixinho quando ele encosta seu corpo contra o meu


com mais força, e uma de suas mãos sobem para segurar a curva
do meu seio descoberto, suspiro de satisfação, ele me beija mais
uma vez sentindo nossas línguas em total sincronia e quando seus
lábios se separam do meus ele volta a exigir que eu responda sua
pergunta.

— Sim, eu quero! — admito e ele sorri antes de abaixar a cabeça


e mover a boca até um de meus seios provocando-o suavemente.

Saboreando minha pele, lentamente e com sua típica


intensidade.

Encosto minha cabeça no metal gelado da parede do elevador e


coloco minha mão na parte de trás do pescoço dele para encorajá-lo
a continuar com suas caricias.

Sua boca continua me provocando sensações intensas e logo


suas mãos grandes enormes se movem para minha bunda e as
desliza até o zíper da calça preta que uso.

Na primeira vez que fizemos isso estava insegura e sentindo um


certo arrependimento por transar com meu chefe no elevador da
empresa na minha primeira semana de estágio, mas depois que
conheci Gabriel melhor repensei que cheguei à conclusão que não
existe arrependimento de minha parte, foi louco o que fizemos aqui
dentro naquele dia, mas tenho que confessar que foi muito bom.

Com maestria suas mãos abrem minha calça e me faz retirar a


peça de meu corpo por completo, observo seus olhos azuis
encararem meu corpo com intensidade e muita atenção.

O vejo se agachar em minha frente e suspiro antes de fechar os


olhos sentindo suas mãos subindo pelas minhas pernas até
chegarem em cada lado de minha calcinha, abro os olhos o vendo
deslizar a fina peça rapidamente até retirá-la.

Não tempo de dizer nada pois logo um gemido de surpresa


escapa de meus lábios quando ele pega minha perna esquerda e a
coloca sobre seu ombro, me deixando totalmente nua e exposta a
seu mercê.

— Estava com saudades disso, foram apenas poucos dias longe


um do outro, mas senti uma enorme falta de você Julia.

Quero dizer o mesmo a ele, que também senti saudades, mas


apenas gemo alto sentindo sua boca entre minhas pernas, me
provocando de tal forma.

Apoio minhas mãos em seus cabelos enquanto ele me segura


para meu corpo não cair, apenas continuo gemendo descontrolada
sentindo o imenso prazer que ele me proporciona neste momento.

Antes de atingir o clímax, Gabriel se levanta e num movimento


rápido ele termina de retirar a calça social e a cueca box, antes de
se aproximar de mim novamente, impaciente puxo seu pescoço e
beijo seus lábios colando nossos corpos nus.

Num movimento habilidoso ele levanta meu corpo e me faz


contornar seu quadril com minhas pernas, obedeço e com os lábios
colados em minha boca Gabriel me penetra profundamente,
fundindo nossos corpos em um só.
Só espero que nada nos interrompa neste momento...
Capítulo 9
GABRIEL

Quando finalmente atingimos o clímax decidimos nos vestir pois


o elevador poderá voltar a funcionar a qualquer momento já que faz
algumas horário que estamos presos dentro desse lugar.

Mesmo com o corpo suado coloco a camisa social e término de


ajeitar os restos de minhas roupas, enquanto Julia faz o mesmo
enquanto tenta controlar a respiração ofegante, e logo ajeita os fios
bagunçados de seus cabelos.

Ficarmos presos dentro desse elevador, nos trouxe lembranças,


boas lembranças, de quando desliguei o elevador de propósito
apenas para conseguir o que queria. Confesso que fui um babaca
por tem feito aquilo antes só para transar com ela aqui dentro, mas
confesso que aquele momento foi maravilhoso...

Pego o meu termo que estava jogado no chão do elevador, e


quando levanto a cabeça encontro Julia com o rosto corado, mesmo
pela pouca luz iluminando o ambiente consigo ver suas bochechas
coradas.

Pego meu celular e verifico o horário e logo percebo que tem


uma mensagem da equipe de manutenção, me informando que já
estão no prédio e que em pouco tempo o elevador voltará a
funcionar. Suspiro aliviado e conto a notícia a Julia, não se fico
irritado por ficar preso horas dentro desse elevador ou se o
agradeço por nos prender aqui dentro e permitir a minha
aproximação com Julia.

Ok, ela ainda não me disse que estou perdoado, mas ela
também não me negou, me deixou se aproximar dela, bom, isso já
um é começo.

— O seu mal-estar passou? — pergunto preocupado e ela


assente com a cabeça antes de me dizer:

— Sim, o remédio fez feito, obrigada.

— Não deveria comer o que não gosta. — Digo e vejo um sorriso


crescer em seus lábios.

— Aprendi a lição, nunca mais faço isso.

Assinto com a cabeça e após alguns minutos as luzes do


elevador voltar ao normal, o painel de botões volta a acender e logo
o elevador começa a descer. Observo Julia suspirar de alívio
enquanto descemos até o térreo da Empresa, segundos depois as
portas de metais se abrem nos revelando o hall.

Julia e eu saímos do elevador e quando caminhamos até a saída


vejo a equipe de manutenção nos esperando do lado de fora. O céu
está escuro e logo percebo que já é muito tarde, quando nos
aproximamos das portas Julia para e se vira para me encarar antes
de me dizer:

— Boa noite, tenho que ir para casa pois amanhã antes de


trabalhar vou visitar Fernando.

Quero convidá-la para meu apartamento e passar o resto da


noite ao seu lado, mas ela tem outras prioridades, ela precisa ver o
amigo no hospital então resolvo não forçar a situação, apenas
concordo e digo:

— Ok, boa noite. — Por instinto me aproximo dela e deposito um


beijo casto em sua testa antes de me afastar

Queria beijar seus lábios com fervor, mas não sei se ela está
arrependida com o que aconteceu entre nós dentro daquele
elevador, mas posso dizer que não me arrependo de nada do que
aconteceu.

Antes de caminhar até a garagem do prédio conversei com o


pessoal da manutenção e exigir saber o que tinha acontecido e eles
me explicaram que foi uma falha no sistema, mas que já corrigiram
tudo.

Enquanto dirijo até meu apartamento recebo uma ligação de um


número desconhecido, franzo o cenho e decido atender a chamada
no viva voz, sei que é perigoso falar ao telefone enquanto dirige,
mas sem pensar aceito a ligação.

— Sim?

— Boa noite, Gabriel. — Ouço uma voz feminina e logo franzo o


cenho confuso.

— Boa noite, em que posso ajudar?

— Eu só queria te avisar que amanhã vou passar na sua


Empresa para conversarmos.

— Qual é o seu nome?

— Acho que pode esperar até amanhã para me conhecer, enfim,


só queria lhe avisar que amanhã comparecerei na Empresa, até
amanhã Gabriel.

— Mas quem...— pergunto, mas percebo que ela desligou a


ligação.

Com os pensamentos desorganizados fico pensando sobre essa


ligação e sobre essa mulher misteriosa, e logo constato que deve
ser a mesma mulher que veio na Empresa quando estava
almoçando com Julia.

Ela que conversar comigo amanhã? Quem será essa mulher?


Alguma investidora querendo uma reunião comigo?
Deixo minhas perguntas sem respostas para lá e tento deixar
minha mente limpa enquanto continuo com o trajeto até em casa.

JULIA

Ainda estou com o carro de Gabriel, quando fui devolver as


chaves ele negou dizendo que eu poderia ficar com o automóvel até
o dia seguinte pois alegou que seria melhor voltar para casa de
carro do que de ónibus sozinha.

E que amanhã pediria para alguém buscar o carro em minha


casa, quis negar, mas não protestei, apenas aceitei. E agora depois
de horas presa e de transar loucamente naquele elevador estou
indo para casa.

Quando finalmente chego em casa encontro minha mãe na sala,


quando estava presa no elevador lhe avisei sobre o ocorrido e que
chegaria em casa tarde.

— Mãe, não precisava me esperar.

— Fiquei preocupada e queria esperar você chegar, e você não


jantou, então guardei comida para você ou poderá passar mal
novamente querida.

Concordo e beijo seu rosto antes de ir para a cozinha ao seu


lado, minutos depois quando estou terminando de comer vejo minha
mãe me encarando.

— O que foi? — pergunto e ela rir antes de dizer:

— Nada, não é nada filha — ela muda de assunto, mas fico


confusa com seu comportamento.

Quando término lavo a louça e subo para meu quarto na


intenção de tomar um banho quente antes de dormir.
No banheiro, retiro as peças de roupas do meu corpo e começo
a me lavar, quando término enrolo uma toalha em volta de meu
corpo e fico de frente para o espelho para ajeitar meus cabelos.

E coloco a mão na boca para não gritar de surpresa quando vejo


o meu reflexo no espelho, meu pescoço está todo marcado, e logo
me lembro da boca de Gabriel chupando essa área e da reação de
minha mãe ao ver o meu estado.

Logo começo a rir pensando que no dia de amanhã vou ter que
passar maquiagem ou usar um lenço para cobrir as marcas do meu
pescoço.

Mesmo assim, não me arrependo de nada do que aconteceu


entre mim e Gabriel naquele elevador. Coloco meu pijama e me
deito na cama, pego meu celular e verifico minhas mensagens e
ligações, mas não há nenhuma da mãe de Fernando, isso é um bom
sinal...
Capítulo 10
JULIA

Acordo sonolenta e logo desligo o alarme de meu celular que


toca incansavelmente anunciando o horário de levantar da cama.

Acordo sonolenta e logo desligo o alarme de meu celular que


toca incansavelmente anunciando o horário de levantar da cama.

Esfrego os olhos e me sento na cama para pegar o celular,


desligo o alarme e suspiro preguiçosamente antes de me levantar
da cama.

O clima em Seattle mudou drasticamente, hoje a manhã está fria, e


isso contribui para a preguiça que estou sentindo neste momento.

Ainda com sono caminho para o banheiro com a intenção de


tomar um banho bem quente para minha indisposição ir embora.

Depois de me lavar, passo maquiagem em meu pescoço


tentando amenizar as marcas em minha pele, escolho o que vestir e
decido colocar uma camisa manga comprida branca e uma blazer
preto por cima, gostei de usar roupas sociais ontem e acho que vou
manter isso.

Ouço o toque de meu celular anunciando uma nova mensagem e


corro para pegar o aparelho com o coração acelerado pensando que
aconteceu algo com Fernando.

Mas suspiro de alívio quando vejo o nome de Gabriel no


identificador, abro a mensagem e vejo que ele está perguntando se
estou em casa pois alguém virá para buscar seu carro.
Respondo que sim e deixo o celular na cama e desço até a sala
encontrando meu pai que está quase saindo para trabalhar, hoje é
um daqueles dias especiais que são muito difícil de acontecer, o dia
em que acordo e encontro meu pai em casa.

— Bom dia, pai! — beijo seu rosto e eles retribui o gesto.

— Bom dia filha, está linda.

— Obrigada. — Agradeço e caminho até a cozinha não


encontrando minha mãe, e quando entro na confeitaria vejo ela
preparando um tipo de massa.

Me aproximo e deposito um beijo em sua bochecha.

— Bom dia, mãe.

— Bom dia querida, já vai para o trabalho? — ela pergunta


observando minha roupa e nego com a cabeça.

— Não, primeiro vou passar no hospital e ver como Fernando


está.

— Eu queria ir com você, mas hoje estou muito ocupada, tenho


muitas encomendas, diga a ele que mandei um abraço.

Assinto com a cabeça e volto para a cozinha para tomar café da


manhã e dessa vez nada de comer manteiga de amendoim junto
com aquela mistura louca que ingeri ontem.

Minha mãe está com muito trabalho hoje e não quero incomoda-
la então eu mesma preparo panquecas, faço um suco de laranja
natural e logo vejo meu pai entrando na cozinha e se sentando na
mesa.

— Huum, o cheiro está ótimo filha, vejo que tem a mesma


habilidade de cozinhar como sua mãe. — Agradeço e término de
fazer o café da manhã.
Me sento na mesa e me sirvo e logo decido conversar com meu
pai, é raro as vezes que ele tem tempo para isso, então decido
aproveitar esse momento.

— Vai chegar tarde novamente?

— Sim, querida, mas amanhã vou estar de folga e podemos


passar esse dia em família, o que acha?

— Acho maravilhoso.

— Ótimo, como está Fernando? Sua mãe me contou o que


aconteceu com ele.

— Na última vez que o visitei ele estava bem, espero que


continue assim. — digo com esperança e meu pai suspira antes de
dizer:

— Sim, Fernando é um bom rapaz.

Ouvimos uma batida na porta, levanto e vou atender e logo vejo


James, o mesmo motorista que nos levou até o aeroporto quando
eu e Gabriel partimos para a Itália.

— Bom dia, Senhorita! — ele balança a cabeça como


cumprimento.

— Bom dia, James — Caminho até a sala e, pego as chaves do


carro de Gabriel e as entrego a ele.

— Obrigada! — agradeço e ele acena com a cabeça antes de


caminhar até o carro de Gabriel onde estacionei ontem à noite.

Subo para meu quarto organizo minha bolsa, pego o celular e as


chaves do meu carro e confirmo se o remédio contra enjoos que
Gabriel comprou ainda está na bolsa.

Desço e me despeço de meus pais antes de dirigir até o hospital


para visitar Fernando, e quando chego caminho até a recepção e
me pedem para esperar vinte minutos pois ainda é cedo e as visitas
ainda não foram liberadas.

Me sento nas cadeiras vazias do hospital e espero os minutos se


passarem, ouço um choro infantil e viro a cabeça vendo que uma
mulher segurando um bebê se senta ao meu lado.

Meus olhos se fixam no lindo menininho em seu colo que não


para de chorar enquanto a mãe faz de tudo para mudar isso.

— Ei lindinho, por que que está chorando? — faço carinho em


seu rosto fofo e logo a criança para de chorar e começa a me
encarar com seus enormes olhos verdes.

— Graças a deus ele parou de chorar, obrigada moça! — a


mulher sorri para mim e balanço a cabeça.

— Disponha, um bebê lindo assim não pode ficar chorando, não


é lindinho? — aperto seu narizinho de leve vendo que ele começa a
gargalhar.

— Tem filhos? — a mulher pergunta me olhando com um sorriso


e logo fico desconcertada.

— Não, eu não tenho. — Respondo envergonhada.

— Me desculpe, é que você leva jeito com bebês.

— Tudo bem.

— Eles são uma gracinha, mas também nos deixam loucas! —


ela rir e sorrio pensando na situação de uma mãe.

— Eu posso imaginar — respondo brincando com o bebê.

— Não estava planejado, mas aconteceu muito rápido, em um


mês eu estava me casando e no outro eu estava vomitando tudo o
que comia e desejando comer coisas entranhas, mas assim que
descobrir que estava grávida passei a ansiar pelo nascimento dele.
Não é meu amor? — ela beija as mãozinhas do filho que continua
rindo.

Mas meus sorriso morre quando percebo o que pode estar


acontecendo comigo, os sintomas dela se parecem com os meus...

Rapidamente pego meu celular e verifico a data do meu último


ciclo menstrual, sempre faço isso para não esquecer, mas vejo que
esqueci completamente dessa vez.

Ai não...

— Está tudo bem, moça? — a mulher pergunta vendo minha


expressão de choque.

— Eu não sei — respondo e me levanto rapidamente


caminhando até a ala de exames do hospital.

— Bom dia, eu preciso fazer um exame de sangue agora.!

Ok, eu poderia sair do hospital e correr até uma farmácia mais


próxima que eu achar, mas dizem que aqueles testes nem sempre
são confiáveis, estou num hospital e seria muito melhor fazer um
exame de sangue para descobrir uma possível gravidez.
Capítulo 11
JULIA

Ainda em choque entro na sala de exame e realizo o


procedimento, a enfermeira me diz que o resultado chegará em
algumas horas, mas tenho que trabalhar, então peço para o hospital
me ligarem quando o resultado chegar e no horário de almoço eu
venho aqui novamente.

Quando volto para a recepção a recepcionista me avisa que as


visitas já estão liberadas, ainda tremendo caminho nervosa até o
quarto de Fernando.

E quando abro a porta vejo meu amigo deitado na cama do


hospital, e assim que seus olhos fixam nos meus ele abre um
sorriso.

Tento deixar meu nervosismo de lado e focar no meu amigo,


abro um pequeno sorriso e me aproximo de sua cama.

— Princesa, que bom que veio! — com cuidado o abraço para


não o machucar e me sento ao seu lado em uma das poltronas do
quarto.

— Está tudo bem? — ele pergunta franzindo o cenho enquanto


me encara atentamente.

— Sim, eu estou bem. — Respondo com os batimentos


cardíacos acelerados.

— O seu namorado te magoou? É isso? Porque se for, eu juro


que quando eu sair desse hospital eu... — sua voz se altera
denunciando sua preocupação em relação a mim, mas pouso minha
mão na sua e tento acalmá-lo:
— Não, não é isso, só estou com dor de cabeça — minto
querendo que ele acredite em minha mentira descarada.

Ele me encara por mais alguns segundos antes de desviar o


olhar e apertar minha mão.

Já falei que Fernando é um dos meus melhores amigos, eu o


trato como o irmão que nunca tive, sempre lhe contei tudo sobre
minha vida, mas não quero falar disso agora, ainda não tenho
certeza se tem um bebê crescendo em meu ventre ou se estou
paranoica.

Enquanto o resultado do exame de sangue não chegar eu tenho


que ficar quieta e guardar segredo de todos, mas confesso que não
sei o que fazer caso o exame der positivo.

Tento focar no agora, e deixar o futuro para mais tarde e logo


pergunto a Fernando:

— E você? Está se sentindo bem?

— Sim, melhor do que antes, o que é isso? — seus olhos se


fixam no meu braço onde a marca da agulha entrou e que agora
está coberto por um tipo de adesivo.

Droga, na hora de colher o sangue retirei o blazer e levantei as


mangas da camisa social que uso e esqueci completamente de
abaixá-las.

— Não é nada, apenas exame de rotina. — Sorrio tentando


amenizar o clima e querendo mudar de assunto.

Fiquei no hospital com Fernando por mais 20 vinte minutos


conversando sobre seu estado, e precisei ir para a Empresa ou
correria o risco de me atrasar.

E quando finalmente chego no hall vejo o horário e percebo que


faltam apenas 10 minutos para constatar meu atraso.
Bufando irritada caminho até o elevador e logo me lembro do
que aconteceu ontem à noite, dou meia volta e caminho até as
escadas de emergência, não quero correr o risco de ficar presa por
horas ali dentro pela terceira vez, ainda mais do jeito em que me
encontro hoje.

Subo os lances de escadas o mais rápido que posso e tudo isso


se resulta num cansaço forte, mas mesmo cansada continuo
subindo.

E quando finalmente chego ao meu andar caminho até minha


sala, mas logo vejo a vaca da Beatriz saindo da sala de Gabriel com
um enorme sorriso nos lábios e que só aumenta quando seus olhos
me alcançam.

Me seguro para não bater em sua cara e de entrar na sala de


Gabriel para descobrir o que aquela piranha estava fazendo sozinha
com ele dentro daquela sala.

Mas logo volto a lembrar que Gabriel e eu não voltamos


oficialmente, mas ele está perdoado, e logo penso em como minha
situação ficará se essa gravidez realmente existir, penso em como
será a reação de Gabriel ao descobrir que será pai mais uma vez.

Talvez sua reação seja boa, ou talvez, ele rejeite a gravidez por
pensar que estou tentando ocupar o espaço de seu filho falecido
com outro bebê...

Entro na minha sala e tento focar meus pensamentos no


trabalho, mas só consigo pensar em como seria minha vida com um
bebê idêntico a Gabriel para cuidar e amar, confesso que nunca
pensei em filhos, antes de entrar para a faculdade só pensava em
ser mãe depois de começar minha carreira e depois de um
casamento, mas vejo que tudo isso pode mudar daqui a algumas
horas.
Faltando apenas uma hora para o meu horário de almoço vou ao
banheiro de minha sala desejando que Gabriel não me chame para
almoçar com ele, não sei como administrar essa situação.

Enquanto estou no banheiro ouço o som do meu celular tocando


e os batimentos de meu coração voltam a acelerar em pensar que
pode ser o hospital me ligando com os resultados dos exames.

Quando finalmente saio do banheiro arregalo os olhos vendo


Gabriel com o meu celular atendendo a ligação.

Sinto tudo girar ao meu redor enquanto ele atende à ligação


informando que é o meu namorado, sentindo minha presença ele se
vira, ainda com o meus celular grudado na orelha, ele ouve a
ligação em silêncio apenas me encarando com uma expressão
neutra.

Ai meu deus!

— Pode deixar, eu digo a ela, obrigado — ele desliga a chamada


e por um segundo acho que vou passar mal.

— Quem era? — pergunto com a voz fraca.

— Do Hospital, disseram que o resultado do seu exame chegou


e pediram para você comparecer pois eles não anunciam o
resultado por telefone.

Solto um enorme suspiro aliviada e logo vejo que ele se


aproxima de mim e diz:

— Exame? Está tudo bem? — ele pergunta num tom


preocupado e passando o polegar por minha bochecha num gesto
de carinho.

Respiro fundo e digo:

— Sim, é só um exame de rotina.


— Se precisar de mim, me chame ok? Vou estar aqui para o que
precisar. — Aceno com a cabeça e tomada pela emoção puxo seu
pescoço e beijo seus lábios.

Ele retribui o beijo com fervor enquanto puxa meu corpo contra o
meu cada vez mais.

— Eu te amo Julia — ele diz encostando sua testa na minha com


os olhos fechados.

— Eu também te amo...
Capítulo 12
JULIA

Para voltar ao hospital e receber o resultado dos exames esperei


até o meus horário de almoço para sair da empresa.

É claro que Gabriel de ofereceu para me levar, mas falei que não
precisava e que logo estaria de volta. Ele hesitou, mas acabou
concordando comigo, e agora estou dirigindo nervosa até o hospital.

Ainda não sei o que fazer se essa gravidez realmente existir,


mas Gabriel merece saber, ele é o pai, então decido que se eu
estiver grávida eu contarei a notícia a ele no final do expediente.

Poderia organizar e escolher um lugar para contar uma notícia


tão importante como essa, mas não se ele quer outro filho e não sei
qual será sua reação ao saber.

Não consigo guardar segredo por muito tempo, e muito menos


esconder uma notícia como essa de Gabriel, e no caminho fico
pensando e imaginando em como minha vida mudará daqui para a
frente com um bebê.

Os resultados podem dar negativo, mesmo assim me imagino


grávida de uma bebê de Gabriel, um filho para cuidar e amar...

Assim que chego no hospital estaciono o carro na primeira vaga


que encontro e caminho rapidamente até a ala de exames do
hospital.

Tem algumas mulheres na fila de espera sentadas, mas o tempo


parece passar depressa pois logo meu nome é chamado por uma
médica loira.
Me levanto nervosa e entro na sala me sentando em frente a sua
mesa.

— Olá Julia, sou a Doutora Ellen, nervosa? — ela sorri, mas não
retribuo, apenas assinto com cabeça freneticamente.

Respirando fundo, a observo ler alguns papeis em suas mãos


que imagino ser os resultados do exame de sangue que fiz pela
manhã.

— Bom, os resultados dos exames chegaram, parabéns mamãe!


— quase sinto meu coração parar de bater ao ouvir a palavra
"mamãe".

Agora é certeza, estou totalmente em choque e o pior é que a


médica continua me olhando com um enorme sorriso nos lábios me
deixando mais assustada.

Ai meu deus, estou grávida!

Eu estou grávida, eu vou ser mãe...

Repito essas palavras internamente tentando me acostumar com


a ideia de que minha vida mudará a partir de hoje, que minha vida
nunca mais será a mesma pois um bebê está crescendo dentro de
meu ventre, meu filho, meu e de Gabriel.

— Sua gravidez ainda é recente, você está com quase 5


semanas de gestação, mas já consegue ver um pouco do saco
gestacional pelo ultrassom transvaginal, ou pode esperar até a
oitava semana para conseguir ver o bebê.

— O pai ainda não sabe, então acho melhor esperar até a oitava
semana. — Digo querendo que Gabriel esteja aqui quando isso
acontecer.

— Certo, então vamos dar início ao seu pré-natal, e na recepção


você poderá marcar o ultrassom para quando completar a oitava
semana. — Assinto e continuamos com os preparativos para o pré-
natal.

Marcamos minha primeira consulta de pré-natal para a semana


que vem já que é de extrema importância acompanhar o
crescimentos do bebê desde cedo.

Quando saio do consultório médico fecho os olhos e reflito sobre


tudo o que aconteceu hoje, abro os olhos e verifico o horário e vejo
que faltam apenas 20 minutos para o meu horário de almoço
encerrar.

Antes de sair do hospital passo na recepção e marco meu


primeiro ultrassom para algumas semanas depois quando o bebê
completar 8 semanas e espero que Gabriel esteja ao meu lado
quando isso acontecer. E como um lanche rápido antes de voltar.

E no carro voltando para a Empresa fico me xingando


mentalmente por não perceber isso antes, por não perceber minha
própria gravidez, estava preocupada com o estado de Fernando não
dei atenção aos detalhes, os detalhes da gravidez como os enjoos...

Bufo irritada comigo e por instinto toco minha barriga pela


primeira vez desde que descobrir a gravidez, desde que descobrir
que um pequeno ser agora cresce dentro de mim.

Ainda não sei ao certo o que sinto, apenas penso nas mudanças
que minha vida sofrerá daqui para frente e sobre a reação de
Gabriel, ele não acompanhou a gravidez dos filhos e nem as
primeiras fases de crescimento de Eve e de seu irmãozinho.

E logo imagino em como Eve ficará em saber que em alguns


meses um novo membro chegará na família, mas fico hesitante
sobre a garotinha não gostar da ideia e pensar que uma outra
criança tomará seu lugar, mas que dependendo de mim e de Gabriel
isso nunca irá acontecer, ela sempre será nossa menininha com um
lugar especial em nossos corações.
Quando finalmente chego e entro na Empresa suspiro aliviada
em não encontrar Gabriel no caminho até minha sala.

Verifico o celular e vejo que há uma mensagem recente de


Gabriel de alguns minutos atrás me avisando que estará em uma
reunião particular em sua sala.

Me sinto aliviada em saber que enquanto trabalho posso pensar


em como contar a novidade para Gabriel.

Quando meu expediente na Empresa finalmente termina, pego


minha bolsa e saio de minha sala antes de seguir para a de Gabriel,
alguns funcionários estão se organizando para encerrar o dia, mas
vejo que a vaca da recepcionista ainda continua em seu posto de
trabalho.

Ignoro seu sorrisinho idiota e bato na porta de Gabriel que logo


anuncia que posso entrar, ele está se sentando em sua cadeira
lendo algo mas sinto meu coração de encher de amor quando seus
olhos me encaram e seus lábios abrem um enorme sorriso.

— Que bela surpresa! — ele exclama caminho com um sorriso


até sua mesa e me sentando em frente a ele.

— Vai demorar para terminar? — pergunto me referindo a pilha


de papéis em sua mesa, ele suspira cansado e diz:

— Infelizmente sim querida, mas pode falar, você é mais


importante aqui, depois dou um jeito nisso! — ele aponta para a sua
mesa bagunçada.

— Ótimo, quero conversar com você — Digo e pego os papéis


dos exames de dentro da bolsa, mas uma batida na porta nos
interrompe.

Gabriel bufa irritado e pede para entrarem e logo Beatriz entra na


sala e diz para Gabriel:
— Senhor Simon, a mesma Senhorita daquele dia está aqui para
vê-lo!

— Nesse horário? — Gabriel pergunta irritado e pede para


Beatriz deixar a tal mulher entrar.

— Eu posso sair se quiser.

— Não precisa, isso não vai demorar, já está tarde e não quero
prolongar meu tempo aqui.

Assinto com a cabeça e vejo Gabriel beber uma xícara de café


que estava sob sua mesa.

De costas, ouço a posta se abrir e barulhos de saltos de


aproximando de onde estamos, Gabriel levanta os olhos e logo vejo
a xícara cair de sua mão e se quebrar no chão.

Franzo o cenho e vejo a expressão assustada em seu rosto.

— Maya? — ele sussurra com os olhos arregalados e nesse


momento eu que estou ficando assustada.

Hesitante e com medo viro a cabeça e vejo uma mulher de


longos cabelos negros, olhos azuis se vestindo de forma elegante.

— O que? — pergunto assustada vendo que a mulher se


aproxima mais de nós com um sorriso nos lábios.

Meu deus, meu amigo quase morreu, descobri que estou grávida
e agora o antigo amor morto do homem que amo resolve
ressuscitar?

Se essa é a Maya entendo perfeitamente por que Gabriel se


apaixonou por ela, a mulher é simplesmente deslumbrante.

— Gabriel, que bom finalmente te conhecer! — ela diz e oferece


a mão para Gabriel que continua em choque.
— Você é a Maya? — pergunto com os olhos arregalados, mas
ela me encara antes de responder:

— O que? Não, minha irmã infelizmente está morta.

— Irmã? — Gabriel pergunta sem aceitar o comprimento de mão


da mulher.

— Sim, me desculpe não me apresentar antes, sou Stella


Walker, irmã gêmea de Maya.

Ainda sem entender olho para Gabriel que encara Stella com
curiosidade, Maya e Stella são gêmeas, isso quer dizer que elas são
idênticas, ou seja, olhar para Stella é quase a mesma coisa do que
está olhando para Maya.

Ai não...

Vejo Gabriel se levantar e dizer num tom baixo:

— Você é idêntica a ela...

— Puta merda! — percebo que xinguei alto demais e que agora


a tal da Stella me encara fixamente.
Capítulo 13
GABRIEL

Ainda sem saber minhas próximas palavras continuo encarando


a mulher em minha frente idêntica ao meu primeiro amor.

A semelhança entre elas é surreal, confesso que quando a vi


entrando pela aquela porta pensei que era Maya, senti os
batimentos de meu coração se acelerarem, mas parte de meu
subconsciente acreditava que Maya estar viva era impossível.

Eu a vi morrendo lentamente em minha frente, e sabia que Maya


não poderia falsificar sua morte e esconder isso de mim, mas agora
a sua irmã gêmea aparece em minha vida e logo minhas
lembranças dolorosas voltam à tona.

Até poderia acreditar que Stella é Maya, mas sei que isso não é
verdade, lembro muito bem que Maya tinha uma marca de nascença
no braço e quando olho para Stella não encontro a tal marca.

— Maya nunca me disse que tinha uma irmã. — Revelo


encarando seu rosto, mas Stella abaixa os olhos como se lembrasse
de algo.

— Minha irmã era reservada quanto a isso, ela e eu sempre


fomos muito próximas, mas me mudei para França e construí meu
próprio negócio.

Isso até faz um pouco de sentido, depois de me contar sobre a


gravidez Maya partiu para outro país para dar continuidade a
gravidez sozinha, mas agora percebo que ela não estava
completamente sozinha.
— Então, foi para a França que Maya partiu depois de me contar
sobre a gravidez.

— Sim, vejo que está entendendo a história Gabriel. — Ela sorri


e se senta na cadeira disponível ao lado de Julia que ainda não
entende a situação.

— Maya estava desesperada e triste com a separação de vocês,


então ela passou a gravidez e os primeiros anos dos bebês comigo
na França. Ela te amava Gabriel.

Suspiro e fecho os olhos tentando administrar toda a situação


em que me encontro neste momento.

— Por que apareceu somente agora? — pergunto voltando a


abrir os olhos antes e encarar seu rosto com a testa franzida.

— Pela minha sobrinha é claro, acompanhei a gravidez de minha


irmã e o nascimento de minha sobrinha, então tenho o direito de vê-
la novamente depois de anos. Meus pais também perguntam sobre
ela.

— Seus pais me odeiam! — levanto a voz e volto a me acalmar


quando Julia me olha com compreensão.

— Eles nunca te odiaram Gabriel, isso só aconteceu depois do


que você fez com Maya, também somos família da Eve, Gabriel,
eles têm direito de saber sobre a neta.

— Família? Eu criei minha filha sozinho desde a morte de Maya,


e agora depois de anos você aparece e diz que seus pais querem
saber sobre Eve? Os mesmos que me culparam pela morte de sua
irmã? — volto a levantar a voz e respiro fundo tentando manter a
calma.

— Eu sei que isso é difícil de compreender, mas...


— Eu não quero que você e nem seus pais se aproximem de
Eve!

Vejo a irritação tomar seu rosto e com raiva Stella se levanta e


diz num tom irritado:

— Ela é minha sobrinha Gabriel, porque quer impedir minha


aproximação com Eve?

— Porque não confio em você e muito menos em seus pais,


talvez tenham inventado querer se aproximar de mim e de Eve para
uma possível vingança contra mim, já que vocês me culpam pelo o
que aconteceu com Maya!

— Acha que quero vingança? Eu só quero participar da vida de


minha sobrinha, a mesma sobrinha que ajudei minha irmã a cuidar
quando você teve coragem de abandoná-los no mundo, você não
estava lá quando Maya mais precisou de você Gabriel, você não
sabe o que ela passou!

— Sim Gabriel, eu quero te odiar e te culpar pela morte de minha


irmã e do meu sobrinho, mas eu não consigo, porque tenho certeza
de que Maya não desejaria isso.

— Eu errei porra! Eu errei em deixá-la ir, talvez você e seus pais


tenham razão já que tenho uma parcela de culpa na morte deles,
mas onde vocês estavam? Onde vocês estavam quando Maya
morreu? Porque eu errei, mas dediquei os últimos anos a dar todo o
amor que minha filha merece enquanto vocês nunca procuraram
saber de Eve.

— Eu não sou esse monstro que você pensa Gabriel!

— Eu não sei o que você é, e nem suas intenções, mas não


quero que se aproxime de minha família até eu confiar totalmente
em você.
Olhar para Stella é quase a mesma coisa de que estar olhando
para Maya, e isso piora tudo na situação, porque toda vez que
levanto a cabeça lembro do meu falecido e antigo amor e tenho que
repetir várias vezes em minha cabeça que Stella não é a Maya.

— Essa conversa ainda não acabou Gabriel!

— Saia de minha sala, por favor — peço e viro as costas


encarando a cidade através das enormes janelas de vidros.

Ouço ela bufar e logo som de saltos e uma porta se fechando é


ouvida, me viro voltando a me sentar em meu lugar atrás de minha
mesa.

— Sei que acha que peguei pesado com ela, mas não confio
nela e não sei se o que ela disse é verdade. — Digo a Julia.

— Você está certo, não se pode confiar em qualquer pessoa que


aparece do nada.

— Essa mulher me traz uma sensação ruim. — Confesso e vejo


Julia se levantar e vim até mim.

— Você não é o único, também não gostei dela, mas talvez isso
seja porque ela te faz lembrar de Maya.

— Não sei, mas não quero falar disso agora. — Digo e puxo
Julia para se sentar em meu colo e logo acaricio seu rosto.

— Me desculpe te fazer ouvir sobre meu passado infeliz mais


uma vez.

— Está tudo bem — ela se ajeita em meu colo e deita a cabeça


em meu ombro.

Aproveitando esse momento a sós, decido perguntar sobre um


assunto que tenho vontade de perguntar a alguns dias.
— Eu estou perdoado? — pergunto e ela logo levanta a cabeça
para me encarar melhor.

— Sim, você está perdoado Senhor Simon. — Ela rir e sorrio


contente com sua resposta.

Aproximo meus lábios dos seus e a beijo com vontade e fervor,


enquanto seus braços contornam meu pescoço.

— Então, sobre o que queria conversar comigo? — pergunto


depois de separar nossos lábios.

— Sobre um assunto importante, mas não sei qual será sua


reação...— franzo o cenho observando sua expressão nervosa.

— Não sei qual será o assunto, mas você sabe que eu te amo
né? — digo tentando afastar seu nervosismo e logo me pergunto
mentalmente sobre o que ela quer conversar comigo.

— Sim! — ela responde e se levanta do meu colo para pegar sua


bolsa e retirar alguns papéis de dentro antes de voltar a me
encarar...
Capítulo 14
JULIA

Há alguns minutos Gabriel me perguntou sobre qual assunto eu


queria conversar com ele, é claro que o nervosismo me invadiu
novamente e logo fico indecisa sobre como contar isso aqui.

Ainda estou em choque por conhecer a irmã semelhante a Maya,


que apareceu em nossas vidas repentinamente, confesso que
também não confio naquela mulher.

Gabriel tem toda a razão em querer proteger a filha de estranhos


que de dizem querer aproximação depois de anos sem procurar
saber da garotinha, ele apenas está sendo protetor com a filha,
apenas está sendo um bom pai.

Pego os papéis dos exames de dentro de minha bolsa e caminho


até ele que continua sentado me olhando sem entender, apenas
sorrio e me sento em sua mesa de frente para ele.

— Sei que esse não é o melhor momento para conta isso, mas
sei que não vou aguentar esconder isso de você.

— Aconteceu algo? — ele pergunta com a expressão


preocupada e logo assinto com a cabeça concordando.

— Sim, mas tenho medo de que você não goste do que vou te
falar.

— Está me assustando amor, vai dizer que está me deixando?


Porque...— sorrio com sua preocupação e beijo seus lábios o
calando.
— Não, é muito pelo o contrário, depois de descobrir isso minha
vontade de ficar com você cresceu cada vez mais.

Respiro fundo e com o coração acelerado lhe entrego os papéis


com os resultados dos exames.

— O que é isso? — ele pergunta antes de ler.

— Os resultados dos exames que fiz de manhã.

— Você está bem? Amor você me disse que estava bem e...

— Eu estou bem, apenas leia os resultados dos exames Gabriel!


— digo sorrindo e logo seus olhos azuis se abaixam para ler
atentamente os papéis em suas mãos.

Observo ele ler e ficar encarando os papéis, repito mentalmente


para que ele não surte, para que sua reação seja boa.

Ele não levanta os olhos para me olhar, decidida e impaciente


para descobrir sua reação eu digo:

— Parabéns papai! — exclamo abrindo um sorriso quando ele


finalmente me olha.

— Você...você está grávida? — ele gagueja aumentando minha


vontade de rir.

— Sim!

Ele franze o cenho e volta a ler os papéis, e após alguns


segundos ele finalmente me encara e suspiro de alívio quando vejo
um sorriso em seus lábios.

— Sei que estamos juntos a pouco te...— tento dizer, mas sou
surpreendida e calada por um beijo apaixonado.

Sorrio em seus lábios e agradeço a deus por ele não surtar num
momento como esse, retribuo o seu gesto de amor e carinho.
— Você me surpreende cada vez mais, meu amor! - ele exclama
me abraçando e logo pergunto:

— Está feliz? — pergunto e encaro seus olhos azuis.

— É claro que sim, isso é uma notícia maravilhosa amor! — rio e


o vejo se abaixar e pousar sua enorme mão em minha barriga.

— Oi bebê! — gargalho ouvindo seu tom de voz mais fino do que


o normal enquanto continua conversando com minha barriga ainda
sem volume.

— Sei que você ainda é muito pequeno para entender, mas


papai já te ama. — Ele diz e levanta a cabeça para me olhar e diz
num tom carinhoso:

— Entendo que esteja nervosa e insegura sobre o nosso futuro,


mas quero que saiba que estou aqui, e tenho certeza de que você
será uma mãe espetacular para o nosso filho, do mesmo jeito que é
para Eve.

— Como Eve reagirá quando saber que ganhará um irmãozinho?


— pergunto com medo de que a pequena não goste da ideia.

— Eve te ama Julia, tenho certeza de que ela vai amar saber
que ganhará um irmãozinho em breve, não se preocupe com isso.
— Assinto com a cabeça e Gabriel beija minha testa e logo começa
a gargalhar, levanto a cabeça e franzo a testa.

— O que foi?

— Agora sei perfeitamente o motivo para você querer comer


manteiga de amendoim! — ele continua gargalhando e bato em seu
ombro antes de dizer:

— Eu realmente senti vontade de comer aquilo, mas o pior foi


misturar Ketchup com Waffles...
— O que? — sua risada aumenta e o acompanho rindo do meu
desejo maluco.

— Por que não me disse sobre o motivo do exame? — ele


pergunta me analisando atentamente e logo lhe explico o real
motivo:

— Não tinha certeza se estava realmente grávida, e estava com


medo de que você não gostasse da ideia de ser pai mais uma vez
depois de tudo o que aconteceu no seu passado.

— Estava com medo de que eu cometesse o mesmo erro que


cometi quando Maya me contou sobre a gravidez? — ele pergunta e
eu apenas assinto com a cabeça.

— Eu errei no passado Julia, mas é passado, eu era


irresponsável naquela época, mas tudo mudou, e eu quero esse
filho com você.

— Quando será o primeiro ultrassom do bebê? — ele pergunta e


logo percebo o tom ansioso em sua voz:

— Estou com quase 5 semanas, então é melhor esperar


completar 8 para conseguir visualizar o bebê melhor.

— Sei que quer esse filho, e que vai amá-lo com todo o seu
amor, mas me sinto na obrigação de pedir desculpas por ter sido tão
imprudente e descuidado, você é muito jovem Julia, e sei que se
tornar mãe agora não estava em seus planos. Mas prometo te
ajudar no que precisar amor, e tentar ser o melhor pai do mundo...

— Mas você já é, você é um pai perfeito para Eve, e sei que isso
não mudará em relação ao nosso filho. — Sinto meus olhos
marejarem e uma lágrima escorrer por minha bochecha.

— Não chore meu bem. — Ele seca meu rosto com o polegar e
me abraça novamente.
— Estou sensível, é melhor se preparar porque muitos
momentos como esse virá pela frente.

— E eu vou estar ao seu lado em todos. — Seco o rosto e


começo a rir levantando a cabeça de seu ombro.

Após suas palavras volto a me lembrar de quando conheci


Gabriel, da sua arrogância, das vezes que o chamei de babaca
mentalmente.

— Por que está rindo? — Estava me perguntando sobre quando


você deixou de ser um babaca, arrogante, e safado para se tornar
um namorado perfeito e carinhoso!

— Depois de me apaixonar por você me tornei assim, mas não


se preocupe pois ainda sei ser safado com você, e se quiser posso
dar pausa no meu modo carinhoso e acionar o lado pervertido. —
Ele morde minha orelha e rio.

Após contar sobre a gravidez, percebi que Gabriel ficou eufórico


com a notícia e me convidou para dormir com ele em seu
apartamento, radiando felicidade aceitei seu convite, e agora Gabriel
dirige até seu apartamento, ele me pediu para deixar meu carro na
garagem da Empresa pois ele me levaria de volta ao trabalho
amanhã.

No caminho conversamos sobre como dar a notícia da gravidez


a nossas famílias, e Gabriel teve a brilhante ideia de um jantar com
como meus pais e sua família, ainda não decidimos quando vamos
marcar esse jantar, mas ainda não sei qual será a reação de meus
pais, mas espero que seja boa...
Capítulo 15
GABRIEL

Estou feliz, eufórico, sentindo todas as melhores emoções


possíveis que uma pessoa consegue sentir.

Eu vou ser pai novamente!

Depois que recebi a visita desagradável de Stella fiquei


estressado e irritado, mas tudo mudou quando Julia, a mulher que
amo me deu a melhor notícia que um homem poderia receber.

No caminho para o apartamento liguei para minha mãe e


perguntei se Eve estava acordada pois decidimos buscar a pequena
para lhe contar a notícia, ela merece saber que ganhará um
irmãozinho o quantos antes pois ela terá mais tempo para se
acostumar.

— Poderíamos marcar esse jantar para amanhã. — Digo


dirigindo enquanto Julia diz num tom animado:

— Sim, isso seria perfeito, pois amanhã meu pai estará de folga
do trabalho.

— Ótimo, mas onde esse jantar acontecerá?

— Acho que pode ser em seu apartamento se você concordar.


— Ela diz e sorrio antes de colocar uma de minhas mãos na sua.

— Claro que concordo, mas estou preocupado com a reação dos


seus pais. — Digo a verdade pois estou com receio que eles não
gostem, pois, Julia e eu estamos juntos a pouco tempo.
— Minha mãe com certeza vai querer saber por que não
esperamos mais tempo para dar esse grande passo, mas ela ficará
bem e feliz com a notícia, mas não sei qual será a reação do meu
pai. Talvez ele queira te matar, mas ele tem um coração bom e vai
gostar quando te conhecer melhor. — Ela diz com um toque de
humor na voz.

— Mas se essa for a reação dele, eu o entendo perfeitamente,


ele ainda não me conhece direito e quando descobrir que isso
aconteceu ele com certeza vai querer me matar, mas vou tentar
conquistar a confiança do meu sogro.

Após dizer isso, penso em como seria estar no lugar do pai de


Julia e descobrir que a filha está grávida de um homem que ele mal
conhece e confia, sei que eu também reagiria dessa forma se
descobrisse que minha filha está grávida.

Faço uma careta só de pensar em Eve adulta e com um


namorado, balanço a cabeça tentando afastar essa imagem de
minha mente repetindo a mim mesmo que minha filha ainda é uma
criança e que vai continuar assim por um bom tempo.

Ser pai é uma dádiva da vida, te faz amar e querer proteger


aquele pequeno ser que um dia te chamará de papai, mas os filhos
não ficam pequenos para sempre, eles crescem e amadurecem,
criam responsabilidades e querem seguir a própria vida, mas quero
estar ao lado dos meus filhos em todos esses momentos, quero
apoia-los e ajuda-los a seguir certos caminhos que apareceram em
suas vidas.

Quando chegamos na casa de minha mãe ajudo Julia a sair do


carro e seguimos até a entrada de mãos entrelaçadas.

Franzo o cenho quando olho para a garagem ao lado da casa e


não vejo os carros dos meus irmãos, bato na porta e após alguns
segundos minha mãe abre a porta e nos convida a entrar.

— Filho! — ela exclama me puxando para um abraço apertado.


— Julia, que bom te ver novamente querida — Julia sorri e aceita
o abraço de minha mãe com carinho.

— Onde Jacob e Matteo estão? — pergunto confuso em não


encontrar meus irmãos.

— Ah, Jacob saiu a algumas horas para o centro da cidade como


ele faz todos os dias e Matteo viajou com os amigos — assinto
percebendo o motivo da saída de Jacob.

Ele faz isso com frequência, diz que vai sair, mas sei muito bem
para o lugar que ele vai, Jacob frequenta aquele clube de Swing
quase todas as noites e ainda tem a ousadia de me chamar de
pervertido enquanto é ele que pratica aquele tipo de sacanagem.

Há algum tempo Julia me perguntou se já frequentei esse tipo de


clube com Jacob, confesso que fui a muito tempo com ele, mas
depois desse dia nunca mais eu entrei naquele lugar. Jacob se
encaixa perfeitamente, mas eu não.

Troca de casais não faz o meu tipo, gosto de ficar


exclusivamente com apenas uma mulher, mas não posso dizer o
mesmo de Jacob.

Caminhamos até a sala de estar onde encontro minha princesa


assistindo desenho animado sentada no sofá.

— Papai! — ela grita e corre para os meus braços.

— Oi, princesa! — beijo sua bochecha e logo seus olhos azuis


focam em Julia ao meu lado.

Minha garotinha sai de meus braços e corre para os da Julia que


recebe o gesto com um sorriso nos lábios.

Me aproximo de minha mãe vendo que Julia e Eve estão


distraídas conversando animadamente.
— Em outro momento precisamos conversar sobre a família de
Maya. — Revelo num tom baixo temendo que Eve ouça algo.

— O que aquela família maldita quer dessa vez? — minha mãe


sussurra num tom irritado.

Minha mãe sempre gostou de Maya, mas nunca conseguiu sentir


o mesmo pelos pais dela, e depois que seus pais me culparam pela
morte da filha seu ódio pela família Walker aumentou.

— Querem se aproximar de Eve — digo e decido não mencionar


a irmã de Maya pois não quero falar sobre isso hoje, hoje é um dia
feliz e quero que termine assim.

— O que? Aquelas cobras não vão chegar perto de minha neta,


e te aconselho a fazer o mesmo Gabriel, já basta te culparem pelo
que aconteceu, e agora querem se aproximar da neta que eles
nunca se importaram!

— Não se preocupe mãe, isso não vai acontecer, mas não quero
falar sobre esse assunto hoje, aliás, Julia e eu queremos te convidar
para um jantar amanhã à noite em meu apartamento com os pais
dela.

— Isso é ótimo! — ela exclama feliz e assinto com a cabeça


antes de me despedir de minha mãe.

Eve e Julia abraçam minha mãe e logo partirmos a caminho até


o apartamento, não me aguentando mais eu pergunto a Eve:

— Filha, gosta de bebês? — pergunto e pelo canto do olho vejo


Julia ficar receosa, pouso minha mão na sua e a sinto relaxar.

— Vou ganhar uma boneca bebê papai? — ela pergunta num


tom de voz animado e logo eu e Julia sorrimos diante da sua
inocência.
— Não querida, é muito melhor do que isso, mas você gosta de
bebês?

— Claro papai, eles são pequenos e fofos, choram o tempo todo,


mas são muito lindinhos e dar vontade de apertar as bochechinhas
deles — ela diz e rir e quando olho para Julia vejo que ela tem um
enorme sorriso nos lábios enquanto me olha.

— Quando chegarmos em casa conversaremos direito sobre


isso ok? — pergunto e ela concorda ansiosa.

Pronto, já estou preparando minha filha para receber a novidade,


isso já é um passo, mas ainda falta contar para os pais de Julia o
que será uma tarefa mais difícil...
Capítulo 16
JULIA

Estou ansiosa e um pouco receosa em contar sobre a gravidez


para outras pessoas, depois que Gabriel perguntou a Eve sobre
bebês tenho quase certeza de que a garotinha vai adorar a ideia de
ter mais uma criança na família.

Ainda não sei qual será a reação de meu pai quando descobrir,
mas sei que minha mãe vai me apoiar, é isso que ela sempre faz
quando eu mais preciso, ela fica do meu lado e me apoia em
algumas decisões.

Quando finalmente chegamos no apartamento, Gabriel sobe


para o quarto tomar banho enquanto fico com Eve brincando na
sala.

E quando ele termina segue para a cozinha preparar o jantar, é


quando eu o acho ainda mais perfeito do que antes, sem dúvidas,
Gabriel é o homem perfeito.

Enquanto Eve brinca no tapete, pego meu celular e disco o


número de minha mãe que atende à ligação após alguns segundos.

— Querida, aconteceu algo?

— Não, eu só queria avisar que vou dormir no apartamento de


Gabriel hoje.

— Ok filha, tenha uma boa noite.

— Antes de desligar, eu queria te falar que você e o meu pai


estão convidados para um jantar aqui amanhã à noite com a mãe de
Gabriel. — Digo esperando sua resposta.
— Eu adoraria, quando seu pai chegar eu o aviso sobre esse
jantar, mas você sabe como ele é Julia, seu pai fica desconfortável
quando está entre pessoas da classe do Gabriel, mas vou falar com
ele.

Meu pai sempre teve esse desconforto em ficar entre pessoas


ricas, ele se sente fora da sua zona de conforto, pois ele vive
dizendo que pessoas como eles não gostam de se misturar como
pessoas como nós, mas sei que Gabriel e sua mãe não fazem parte
desse tipo de pessoas.

— Mas Gabriel e a mãe dele não são como esses tipos de


pessoas mãe.

— Eu sei querida, é por isso que gosto de Gabriel, mas vou


tentar convencer seu pai a ir.

— Ok, amanhã de manhã eu volto para casa antes do trabalho,


então você me conta a resposta.

Desligo a chamada e guardo o celular na intenção de dedicar


toda a minha atenção a Eve.

Após algum tempo Gabriel nos chama avisando que o jantar está
pronto, jantamos e quando terminamos Eve vai para o quarto e logo
tento ajudar Gabriel a lavar louça, mas ele nega.

— Eu estou grávida Gabriel, isso não me impossibilita de lavar


louça.

— Eu sei amor, mas não quero você fazendo esforços


desnecessários.

— Mas só para você saber, eu ainda vou continuar trabalhando


na Empresa — digo e ele se vira para me encarar.

— Não vai não, você não precisa trabalhar Julia, eu posso


sustentar todos aqui. — Bufo irritada e digo:
— Você não vai me impedir de continuar trabalhando Gabriel!

— Amor, não fique brava comigo, eu só quero cuidar de você. —


Ele diz enquanto se aproxima de mim e contorna seus braços em
volta de meu corpo.

— Eu sei Gabriel, obrigada por querer o meu bem, mas eu quero


continuar trabalhando. — Digo abraçada a ele.

— Está grávida, não precisa continuar trabalhando! — ele insiste


e eu bufo querendo discutir, mas ele logo muda de assunto:

— Vamos contar sobre o bebê para Eve? — ele me convida e


sorrindo entrelaço nossas mãos enquanto seguimos para o quarto
da pequena.

Encontramos a pequena brincando com suas bonecas e que


quando seus olhos nos encontram ela abre um sorriso.

Nos sentamos ao seu lado e logo Gabriel diz atraindo a atenção


de Eve:

— Pequena, que tal terminarmos aquela nossa conversa? — ele


pergunta e ansiosa Eve apenas concorda com a cabeça.

— Gostaria de ter alguém para brincar com você?

— Claro, papai!

— Ótimo porque em alguns meses nossa família ganhará um


novo membro, e você ganhará um irmãozinho ou irmãzinha.

Respiro fundo observando cada expressão da garotinha que


passa a me encarar e logo me pergunta:

— Mamãe, você está grávida? — ela me encara com os olhos


azuis arregalados e respondo:
— Sim querida, em breve você terá um bebê para brincar e vai
nos ajudar a cuidar dele, o que acha? — pergunto sorrindo.

— Vai ser legal, ele está na sua barriga mamãe? — Gabriel solta
risada diante da inocência da filha e logo lhe respondo:

— Sim, ele ainda é muito pequeno, então minha barriga ainda


não cresceu muito, mas ele vai adorar ter uma irmã como você!

Eve franze o cenho, se aproxima de mim e diz:

— Posso tocar sua barriga, mamãe? — sorrio concordando com


a cabeça enquanto levanto minha blusa e coloco sua pequena mão
sobre minha barriga.

— É menina ou menino? — ela pergunta e Gabriel se adianta


respondendo:

— Ele ainda é muito pequeno, então ainda não sabemos, mas o


que você acha que é?

— Acho que pode ser uma menininha, porque ela vai poder
brincar de boneca comigo — ela diz e sorrimos felizes que Eve
reagiu bem a notícia.

Depois de contar sobre a gravidez a Eve, Gabriel e eu


colocamos ela para dormir e logo seguimos para o seu quarto.

Gabriel pegou seu notebook e ficou resolvendo algumas coisas


da Empresa na cama, enquanto eu segui para o banheiro tomar
banho.

Após me lavar saio do banheiro com a toalha em volta do corpo


e sigo de volta para o quarto de Gabriel o encontrando na mesma
posição, só que dessa vez seus olhos estão focados em mim.

— Vem aqui, amor. — Ele pede com um sorriso nos lábios,


obedeço e me aproximo dele que está sentado com o computador
no colo.
O vejo fechar o notebook e o colocar no criado mudo, e logo
suas mãos puxam minha cintura me fazendo sentar em seu colo
somente com a toalha branca cobrindo meu corpo.

Depois que Gabriel tomou banho ele trocou de roupas, e agora


está vestindo uma camisa e calça moletom.

— Você é linda...— ele diz e beija meus lábios enquanto aperta


meu corpo contra o seu.

— Está falando isso porque ainda não engordei e minha barriga


ainda não cresceu. — Brinco e ele responde:

— Você só vai ficar ainda mais linda e perfeita para mim.

— Você está com o modo carinhoso ou pervertido acionado? —


pergunto sorrindo.

— Estava pensando em passar a noite dormindo de conchinha


com você, mas meus planos mudaram quando você apareceu de
toalha na minha frente, então meu lado pervertido está falando mais
alto! — ele diz antes de soltar a toalha do meu corpo.
Capítulo 17
JULIA

Fecho os olhos sentindo os lábios quentes de Gabriel


percorrendo meu pescoço, sentindo todas as sensações que ele é
capaz de me proporcionar.

Abro os olhos e com sua ajuda levanto sua camisa e a retiro de


seu corpo, percorro minhas mãos por todo seu abdômen descoberto
enquanto seus lábios voltam a beijar minha boca com fervor.

Suas mãos ansiosas estão em meu corpo, apertando e me


despertando sensações deliciosas, mas logo sinto o aquele enjoo
voltar.

— Gabriel! — chamo seu nome e não aguentando mais, saio do


seu colo, pego a tolha para cobrir meu corpo e corro para o
banheiro.

Me ajoelho diante do vaso e vomito tudo o que comi durante as


últimas horas, ouço passos e logo sinto a mão de Gabriel em meus
cabelos os amarrando no alto de minha cabeça e depois sinto suas
mãos em minhas costas numa massagem.

Respiro fundo e me levanto com sua ajuda, pego uma escova


reserva que ele deixa em seu banheiro e escovo meus dentes
tentando tirar o gosto horrível de minha boca.

Quando término me viro e o encontro me encarando com


atenção, sei que ele está frustrado, confesso que também estou por
passar mal num momento como esse.

— Não tomou o remédio? — ele pergunta e nego com a cabeça


lembrando que esqueci completamente de tomar o remédio contra
enjoos que ele comprou.

— Não, mas acho que está na minha bolsa. — Digo saindo do


banheiro na intenção de pegar minha bolsa que deixei na sala, mas
ele me impede.

— Deixa que eu pego — ele beija minha testa e sai do quarto,


suspiro e me sento na cama e após alguns minutos Gabriel volta
com o remédio e um copo de água.

— Obrigada. — Lhe agradeço e tomo o remédio bebendo a água


em seguida enquanto ele segue para o seu closet e volta com uma
de suas camisetas.

Ele me ajuda a retirar a tolha de meu corpo e a vestir sua


camisa, agradeço novamente, ele pega minha mão e me conduz até
a cama, ele se deita ao meu lado e me faz deitar a cabeça em seu
peito enquanto sinto seus dedos afagando meus cabelos com
carinho.

— Desculpe estragar o momento. — Digo chateada comigo


mesma.

— Não precisa se desculpar querida, está tudo bem, apenas


descanse — Gabriel beija meu rosto e cobre nossos corpos com o
edredom enquanto abraço seu corpo.

Acordo com a claridade da manhã em meu rosto, esfrego os


olhos e me sento na cama percebendo que acordei primeiro que
Gabriel dessa vez, sorrio vendo-o dormir tranquilamente sem
camisa com a expressão serena.

Pego meu celular no criado mudo e vejo que ainda é muito cedo
e que falta algumas horas para o trabalho, e logo me lembro da
conversa que tive com Gabriel ontem à noite, sobre continuar
trabalhando na Empresa, mas ele não concordou e sei que não vai
concordar.
Conheço Gabriel e sei que ele vai insistir sobre esse assunto,
mas quero continuar com meu estágio na Empresa, mas também
penso em como ficará a minha faculdade, já que vou ter um filho e
isso vai tomar boa parte do meu tempo.

Levanto da cama e penso na noite de ontem, de quando


atrapalhei um bom momento entre nós com meu enjoo, mas estou
bem essa manhã e logo uma ideia me passa pela cabeça.

Sorrindo faço minha higiene matinal e volto para o quarto, com


cuidado para não acordar Gabriel abro uma das gavetas da cômoda
e logo acho o que estava procurando.

Pego a pequena chave dourada e saio do quarto partindo para o


outro corredor onde insiro a chave em uma das portas, faz algum
tempo desde a última vez que vim aqui, mas sei que essa é a porta
correta.

Logo destranco a fechadura e empurro a porta me deparando


com o quarto em tons de roxo, entro e fecho a porta atrás de mim e
começo a explorar o lugar, caminho e abro as gavetas encontrando
vários objetos que nunca vi em minha vida.

Continuo minha exploração abrindo as gavetas vendo vários


tipos dos objetos que quero e decido pegar os mais resistentes,
sorrindo fecho a gaveta, tranco a porta e volto para o quarto de
Gabriel.

Como esperado, ele continua dormindo, sei que ele pode não
gostar do que vou fazer, mas sempre quis experimentar isso.

Com cuidado subo na cama, pego seu braço direito e coloco a


algema em seu pulso e a prendo na cabeceira da cama, peguei dois
pares de algemas, então faço o mesmo com seu pulso esquerdo.

Sorrio travessa observando o que eu fiz, Gabriel continua


dormindo, mas agora está com os pulsos algemados a cabeceira da
cama.
Deito-me ao seu lado e espero ele acordar, e para minha
felicidade isso não demora a acontecer pois logo seus olhos azuis
se abrem.

— Bom dia, flor do dia! — sorrio vendo-o virar a cabeça para me


encarar, mas quando ele tenta puxar os braços seus olhos se fixam
nas algemas.

— Que porra é essa? — pergunta enquanto tenta se soltar.

— Você vai ficar preso aí até retirar a ideia absurda de que não
posso trabalhar na Empresa. — Digo e me sento em seu colo.

— Isso já está decidido, você não vai continuar trabalhando,


agora me solta Julia! — ele me encara, mas nego sorrindo.

— Você não entendeu, né? Eu dito as regras agora, e você vai


ficar aí até mudar de ideia.

Ele rir e nega com a cabeça e diz com um tom debochado:

— Querida, eu não vou ceder a suas chantagens, você não vai


me fazer mudar de ideia me deixando algemado aqui, agora me
solte antes que eu faça isso sozinho, te jogue nessa cama e te foda
até não conseguir andar direito!

— Eu imaginei que você não cederia tão fácil assim — digo


sorrindo começando a abaixar sua calça de moletom.

— O que vai fazer? — ele pergunta observando meus gestos


com atenção.

— Te provocar até você ceder!

— Pode tentar, mas não se decepcione quando não conseguir.


— Ele sorri e bufo irritada antes de terminar de retirar sua calça.
Restando somente sua cueca box me ajeito em seu colo e
começo a sequência de movimentos de vai e vem, como se
estivesse o cavalgando, sei que ele não vai resistir, tudo relacionado
a sexo é seu ponto fraco, e sorrio internamente quando o vejo
respirar fundo e fechar os olhos.

Abaixo a cabeça e beijo seus lábios, ele retribui e tenta se soltar


novamente.

— Diz que mudou de ideia...— sussurro tentando o seduzir.

Ele abre os olhos azuis e me encara, mas para minha


infelicidade ele não cede, apenas começa a gargalhar:

— O que foi? — pergunto com a testa franzida.

— Sinto muito amor, você não está conseguindo me fazer mudar


de ideia, apenas está conseguindo me deixar excitado! — Grunho
irritada e saio de seu colo ouvindo seu riso.

Pego as roupas que estava vestindo ontem e caminho até a


porta.

— Aonde você vai? — ele pergunta parando de rir.

— Levar Eve para a escola!

— E eu? — me viro vendo seus olhos arregalados.

— Você vai ficar preso e pelado até eu voltar! — digo e saio do


quarto ouvindo seus gritos:

— Volta aqui Julia, juro que quando você chegar vai ficar sem se
sentar direito por uma semana inteira!

Saio e agradeço pelo quarto de Eve ser no outro corredor, vou


ao outro banheiro e coloco minhas roupas.
Sigo para o quarto de Eve e vejo que a pequena já está
acordada, a ajudo a se vestir e preparo um café da manhã rápido
para ela.

— Papai não vai me levar hoje?

— Não meu amor, papai ainda está dormindo — minto pegando


as chaves do carro de Gabriel na sala.

Levo a pequena até a escola e volto para o apartamento de


Gabriel, subo para seu quarto com um sorriso nos lábios.

E quando entro meu sorriso desaparece, ele não está na cama,


mas a cabeceira está quebrada.

— Procurando isso, amor? — me viro o vendo encostado na


parede segurando as algemas completamente destruídas.

Por instinto dou alguns passos para trás, mas ele continua se
aproximando de mim com um sorriso safado vingativo no rosto.

Caio deitada na cama e logo seu corpo está sobre o meu.

— Então, você quer brincar? — ele pergunta com uma


sobrancelha loira arqueada e eu apenas engulo em seco...
Capítulo 18
GABRIEL

Me surpreendi quando acordei com as mãos algemadas na


cabeceira da cama, antes de me apaixonar por Julia tinha certeza
de que isso me deixaria irritado, mas agora tudo mudou, eu me
divirto com as tentativas dela de me fazer mudar de ideia sobre
continuar trabalhando na Empresa.

Sei que posso estar exagerando sobre esse assunto, mas não
quero que ela continue fazendo esforços desnecessários, não quero
que nada aconteça com ela e com o bebê por uma coisa que eu
poderia evitar. Mas também não posso forçá-la a parar de fazer
algumas coisa que ela queira, eu passaria dos limites se isso
acontecesse.

Mas quando a vi saindo pela aquela porta e me deixando


somente de cueca preso na cama senti a vontade de lhe dar o troco,
senti vontade de levá-la para o quarto onde eu costumava praticar
BDSM e bater em sua bunda até sua pele adquirir um tom rosado.

Mas ela está grávida e pensar nisso me faz refletir e esquecer


esse tipo de vingança, já se faz muito tempo que ela saiu, e desde
então estou tentando soltar meus pulsos algemados. Mas a cada
puxada que dou, sinto meus pulsos arderem com o atrito, respiro
fundo e puxo os pulsos com força mordendo os lábios para aguentar
a dor que sinto em minha pele.

E depois de muito esforço sinto a algema ceder e um barulho de


algo se quebrando, logo imagino que seja a cabeceira da cama. Me
sento na cama e vejo que meus pulsos estão com hematomas
vermelhos causado pelos pares de algemas que estavam apertando
meus pulsos.
Bufo pensando seriamente em castigar Julia, uns tapas em sua
bunda não vão lhe fazer mal, sorrio ansioso para dar o troco e
marcar a pele clara com umas boas palmadas.

Se passa alguns minutos desde que estou esperando, e logo


ouço passos, me levanto rapidamente pegando os restos das
algemas quebradas e caminhando até a porta.

Quando a porta se abre, e ela entra vejo seus olhos escuros se


fixarem na cabeceira quebrada da cama.

— Procurando isso, amor? — uso meu tom cínico abrindo um


sorriso quando ela me encara com os olhos arregalados.

Começo a me aproximar como um caçador prestes a abater sua


presa, e por instinto ela se afasta, mas rio quando ela cai deitada na
cama.

Com cuidado para não colocar todo meu peso em cima dela, fico
sobre ela e digo:

— Então, você quer brincar? — digo num tom safado levantando


a sobrancelha.

— Como se soltou? — ela pergunta com a voz trêmula e sei que


está excitada com a situação.

— Sua tentativa de me controlar falhou miseravelmente querida.


— Sorrio e aproximo minha boca de sua orelha e sussurro a
sentindo tremer com meu tom:

— Estava com saudades das palmadas, amor? — pergunto


segurando sua cintura e a virando de costas para mim.

— O que está fazendo? — pergunta enquanto desço sua calça


pelas suas pernas.
— Te punindo amor, te mostrando quem tem todo o controle
aqui. — Ela ofega enquanto num gesto hábil desço sua calcinha.

Massageio sua pele clara a preparando para o primeiro tapa,


pela sua expressão e reação sei que ela quer isso o tanto quanto eu
quero.

— Mãos acima da cabeça! — digo num tom de ordem e com um


sorriso ela faz o que peço.

— Vou bater 15 vezes, e quero que você conte, entendeu? — ela


apenas concorda com a cabeça, mas quero que ela responda.

— Responda, amor!

— Sim, eu entendi.

Rio e acerto o primeiro tapa no lado direito de sua bunda, Julia


abafa o grito com o rosto contra a cama.

— Um...

Acaricio o lugar que acertei pela primeira vez e logo minha mão
acerta o outro lado observando sua pele adquirindo o tom rosado.

— Dois! — ela conta com a voz falha sentindo a ardência em sua


pele.

Bato em sua bunda 15 vezes e quando viro seu corpo de frente


para mim, seu rosto está corado, aproximo minha boca da sua e a
beijo languidamente.

Julia geme em minha boca e contorna meu pescoço com os


braços me apertando contra seu corpo. Me afasto e rapidamente
retiro sua blusa e sutiã, abaixo a cabeça começando a sugar cada
um de seus seios, suas mãos puxam meus cabelos enquanto geme.

Levanto a cabeça vendo que seus olhos estão fechados, rindo


eu pergunto:
— Não vai vomitar em mim dessa vez, não é? — brinco
observando seus olhos escuros se abrirem e o som de uma
gargalhada escapa de seus lábios.

— Não — ela responde com humor na voz.

Sorrindo volto a abaixar a cabeça, deixando um rastro de beijos


por todo o seu corpo, paro em sua barriga ainda sem volume e digo:

— Se comporte dessa vez bebê, não faça sua mãe sentir enjoo
num momento desses. — Digo lembrando da frustração da noite
anterior.

Ela rir voltando a lembrar da noite anterior de quando saiu


correndo para vomitar quando estávamos num momento tão íntimo
como aquele. Continuo com minhas caricias descendo cada vez
mais pelo seu corpo, e ao chegar entre suas pernas Julia arfa em
expectativa, mas antes de chegar em sua intimidade volto a me
levantar e ficar sobre seu corpo com cuidado.

Julia franze o cenho frustrada e sorrio aproximando minha boca


de sua orelha, e digo num sussurro:

— Só atingirá o clímax quando eu estiver dentro de você amor,


mais um castigo por ser tão malvada comigo hoje. Gosta de me
provocar, não é?

Com o rosto corado Julia apenas assente, mas quero ouvir sua
voz respondendo minha pergunta:

— Diga, meu amor...

— Sim, eu amo te provocar.

Nossas bocas se encontram num beijo molhado, nossas línguas


em uma dança sincronizada, toco seu rosto deslizando meus dedos
pelas faces coradas sentindo a textura de sua pele macia.
— Eu te quero tanto, Julia! — exclamo com minha testa colada
na dela.

— Também te quero, Gabriel. — diz com a expressão tomada


pelo desejo enquanto seus olhos escuros estão fixados nos meus.

Pego sua nuca trazendo sua boca para a minha, ela geme
quando mordo seu lábio inferior suavemente. Ajeito meu corpo
sobre o seu, e logo levanto sua coxa direita para se encaixar em
meu quadril quando finalmente a penetro devagar.

Julia geme, apoiando as mãos em meus ombros enquanto


continuo com a série de estocadas, ela levanta a outra perna
ficando com as pernas em torno de meu quadril.

Seguro seu rosto e a beijo, nunca pensei que seria possível


sentir desejos tão intensos por uma única pessoa, mas Julia não é
qualquer mulher, ela é a minha garota, a mulher que amo
desesperadamente.

Nossas respirações ofegantes e erráticas se misturam aos


nossos sons de êxtase absoluto indo direto para a boca do outro
enquanto nos beijamos.

Gemo sentindo os espasmos sacudindo meu corpo cada vez


mais perto do clímax, nos beijamos completamente arrebatados, os
gemidos de Julia se tornam cada vez mais audíveis denunciando o
prazer absoluto que está sentindo.

Suas mãos ansiosas e frenéticas se movem para as minhas


costas, arranhando minha pele com suas unhas, está doendo, mas
não ligo, apenas me preocupo em satisfazer os desejos de minha
garota, urro sentindo a dor da ardência em minhas costas se
misturarem com o prazer.

Deito minha cabeça no pescoço de Julia e sugo sua pele,


quando transamos no elevador deixei minhas marcas em seu corpo,
é esquisito, mas ver as marcas que fiz em sua pele clara me
enlouquece de uma tal maneira que não sei explicar.

Após algumas estocadas chegamos ao ápice gemendo contra a


boca um do outro, tentando controlar nossas respirações beijo seu
rosto e a puxo para o meu peito trocando de posição.

Gemo sentindo a forte ardência em minhas costas quando me


deito na cama.

— Me desculpe por isso. — Julia diz se referindo a minha pele


dolorida causada pelo seus arranhões.

— Não precisa se desculpar, também deixei minhas marcas em


sua pele. — Aponto para o seu pescoço marcado.

— Tenho que cobrir essas marcas no jantar de hoje à noite, ou


esse será mais um motivo para meu pai querer te matar. — Ela diz e
gargalho.

— Mas se isso acontecer, seu pai tem um pouco de razão por


querer matar o homem que está convertendo a linda e inocente filha
dele em uma completa ninfomaníaca. — Digo beijando seus lábios.

— Isso é verdade, você é o culpado pelo meu vício em sexo


Gabriel, o pior é que estou gostando de ser convertida.

Essa mulher tem a capacidade de me enlouquecer totalmente


como nunca, mas de uma coisa eu tenho certeza, Julia Vasconcelos
é o meu ponto fraco...
Capítulo 19
JULIA

Depois de receber minha punição, término de me vestir enquanto


Gabriel está tomando banho.

E quando me sento na cama sinto a ardência na minha bunda


causada pelos tapas de Gabriel, confesso que fiquei surpresa ao ver
que ele se soltou da cabeceira.

Conversamos sobre continuar trabalhando na Empresa, não foi


fácil, mas finalmente consegui o convencer de que posso continuar
com meu trabalho.

Combinamos que ele me levaria até em casa para trocar de


roupas e depois me levaria para a Empresa, já que meu carro está
na garagem do prédio.

Gabriel decidiu que hoje nosso expediente será mais curto do


que o normal já que temos que organizar o jantar com nossa família
a noite.

Ainda não sei se minha mãe conseguiu convencer meu pai, mas
tenho quase certeza que ele aceitou, meu pai sabe a importância
disso para mim.

Aguardando Gabriel, pego meu celular e disco o número da mãe


de Fernando, que atende à ligação após alguns segundos.

— Dona Fátima, tudo bem?

— Oh, querida, sim e você?


— Estou bem, como está o estado de Fernando? — pergunto
ansiosa pela sua resposta.

— Ele está bem, estou no hospital com ele agora, gostaria de


falar com ele?

— Claro, obrigada — digo ouvindo a voz de Fernando no fundo


da ligação.

— Princesa, como está?

— Bem, sua mãe me disse que você também está melhorando.

— Sim, estou bem melhor, se tudo continuar assim receberei alta


em poucos dias.

— Isso é ótimo, mas me preocupo em saber que você continuará


com essa profissão perigosa Fernando. — Digo lembrando do medo
que senti de perder meu melhor amigo.

— Foi um descuido meu princesa, sei que é perigoso, mas é o


meu trabalho e gosto do que faço.

— Eu sei, mas tome cuidado por favor, não quero passar por
isso nunca mais.

— Fico feliz que se preocupe comigo, princesa.

— Você é o meu melhor amigo Fernando, é claro que me


preocupo em perder você. — Digo, mas ouço apenas silêncio do
outro lado.

— Fernando, ainda está aí?

— Sim.

Percebo que Gabriel sai do banheiro com uma tolha em volta do


quadril e caminha até o closet.
Conversamos por mais alguns minutos e depois finalizo a
chamada ou vamos nos atrasar mais do que já estamos.

No caminho até minha casa fico pensando em como contarei a


notícia de minha gravidez aos meus amigos, sei que apesar da
loucura de Sam, minha amiga vai me apoiar e ficar feliz quando
descobrir.

Também espero a mesma reação de Fernando, mas sei que meu


amigo não gosta de Gabriel, e sei que Gabriel também senti o
mesmo.

Quando chego em casa convido Gabriel para entrar, ele aceita e


fica conversando com minha mãe e meu pai na sala enquanto corro
para o meu quarto trocar de roupas.

Após terminar de me vestir, passo maquiagem no meu pescoço


tentando amenizar e cobrir as marcas causadas pelos chupões de
Gabriel, desço até a sala vendo que eles ainda estão conversando,
me aproximo e pergunto aos meus pais:

— Vocês vão ao jantar de hoje à noite?

— Estávamos conversando sobre isso neste momento — minha


mãe sorri.

— Sei que é um passo importante no relacionamento de vocês


filha, então nós vamos sim. — Meu pai diz e o abraço.

— Posso pedir para meu motorista levá-los — Gabriel propõe,


mas meu pai nega com a cabeça.

— Não se incomode por nossa causa rapaz.

— Não é incomodo nenhum, senhor.

Meu pai negou novamente, mas Gabriel sempre consegue o que


quer e depois insistir várias vezes meu pai acaba aceitando a
proposta de Gabriel, então James buscará meus pais no começo da
noite.

Minha mãe do jeito que ela é quis que Gabriel ficasse mais
tempo, mas temos trabalho pela frente, então após alguns minutos
estamos a caminho da Empresa.

Hoje o dia será mais curto pois Gabriel tratou de desmarcar suas
reuniões para sair mais cedo da Empresa.

Atendi algumas ligações e marquei alguns compromissos, o dia


passou muito rápido e no final da tarde Gabriel passou em minha
sala para encerrarmos nosso expediente.

Pego minha bolsa e saímos da sala, todos ainda estão


trabalhando e quando Gabriel entrelaça nossas mãos percebo
vários olhares em nossa direção.

Até a vaca da recepcionista está nos olhando com um ar de


inveja, eu odeio essa mulher e sei que esse ódio não tem fim.

— O que foi querida? — Gabriel pergunta percebendo que


encaro fixamente a vaca da Beatriz.

— Eu odeio a vaca da sua recepcionista — conto e logo ouço


sua risada enquanto caminhamos até o elevador.

— Já te disse que não tem motivos para se preocupar amor, eu


te amo, e quero só você. — As portas do elevador se fecham e
Gabriel beija meus lábios com ternura.

— Eu sei, também te amo, mas não gosto daquela mulher, e isso


não vai mudar.

— Isso se chama ciúmes, amor...— ele provoca num tom


humorado e bato em seu ombro.

Ao chegarmos na garagem do prédio, Gabriel me ajuda a entrar


no carro e partimos para o supermercado mais próximo para
comprar os itens do nosso jantar.

Confesso que sou boa na cozinha, e sei que Gabriel também é,


então não vamos ter problemas em relação a isso.

Após comprarmos os ingredientes, partimos rumo ao


apartamento, e quando chegamos ajudo Gabriel a preparar o jantar,
é claro que ele protestou, mas lhe dei um ultimato, que se ele não
parar com essa besteira de que não posso fazer o que gosto por
causa da gravidez ele ficará sem sexo por semanas.

Foi só dizer isso que a conversa se encerrou e ele me deixou


ajudar a preparar tudo, o jantar demorou poucas horas para ficar
pronto e quando terminamos subimos para o seu quarto.

Gabriel já pediu para James buscar meus pais em casa e avisou


que a mãe buscaria Eve e a levaria para cá, quando passei em casa
peguei um vestido que Gabriel me deu junto com outras peças.

O modelo é curto de um tom dourado claro, um decote em


formato de V completa a peça, e quando o coloco no corpo fico feliz
com o resultado, também peguei os saltos da mesma cor para
combinar com o vestido que uso.

A maquiagem que passei antes de trabalhar está intacta, então


apenas retoco o batom e logo decido deixar meus cabelos soltos
naturais.

— Porra! — me viro vendo Gabriel me olhando com atenção.

Ele trocou de roupa e agora está usando uma de suas camisas


sociais branca e uma calça social escura.

Sorrio diante de seu olhar boquiaberto e me aproximo dele.

— Gosta do que vê? — pergunto alisando o tecido do vestido em


meu corpo.
— Estou amando, tenho bom gosto para escolher roupas e esse
modelo ficou espetacular em você amor — suas mãos enlaçam
minha cintura me puxando para perto.

Ele abaixa a cabeça para beijar meu pescoço e fecho os olhos


sentindo os seus lábios quentes em minha pele.

— Gabriel! — exclamo me afastando ao ouvir vozes.

— Eles chegaram...— ele diz e entrelaça nossos dedos


enquanto descemos até a sala de estar.

Vejo que a mãe de Gabriel chegou e junto a ela está Jacob,


confesso que estou surpresa em ver que ele também veio.

Agora só faltam meus pais...


Capítulo 20
JULIA

Encontramos Elisabeth e Jacob na sala e logo Eve também


aparece, enquanto Gabriel acomoda a mãe e o irmão levo Eve para
tomar banho e se vestir.

Quando término de ajudar a pequena a se vestir, Eve me encara


com seus olhos azuis e me pergunta num tom eufórico:

— Mamãe, é agora que você e o pai vão contar sobre o bebê?

— Depois do jantar, meu amor — beijo sua bochecha e ela


assente pegando minha mão enquanto descemos juntas até a sala.

— Porque Matteo não veio? — pergunto sentindo falta da


presença do irmão mais novo.

— Ah, Matteo está viajando com os amigos e com a namorada.


— a mãe de Gabriel me responde e assinto com a cabeça.

— Deveria fazer o mesmo Jacob, ou prefere ficar pra titio? —


Gabriel zomba do irmão que revira os olhos e diz num tom irritado:

— Cuida da sua vida, Gabriel!

E quando os olhos claros de Jacob pousam em mim sinto


minhas bochechas corarem quando me lembro do que Gabriel me
contou sobre o irmão.

Que Jacob pertence ao mundo Swing, pigarreio e fixo meu olhar


em Gabriel tentando disfarçar a vergonha que estou sentindo.
Gabriel recebe uma ligação de James avisando que está
chegando com meus pais, estou nervosa pois em breve vamos
descobrir a reação de meus pais em relação a minha gravidez.

Jacob se senta no sofá com Eve em seu colo enquanto a


pequena conversa animadamente com o tio.

Vejo que após encerrar a chamada com James vejo Gabriel


caminhar em direção a entrada do apartamento.

E logo vozes são ouvidas, anunciando a chegada de meus pais,


me aproximo da porta vendo que minha mãe beija o rosto de Gabriel
e meu pai o cumprimenta com um aperto de mão.

Meus pais estão fantásticos, minha mãe está usando um vestido


preto até os joelhos e seus cabelos estão presos num penteado
bonito, meu pai usa um terno preto e vejo que seus cabelos estão
penteados para trás.

Eles entram no apartamento e caminham até mim, sorrio e os


abraço feliz pela presença deles.

— Está linda, querida! — meu pai me elogia beijando minha


bochecha e o agradeço.

Os acompanham até a sala de estar onde Jacob e Elisabeth se


levantam do sofá para cumprimentar meus pais.

— Mãe esses sãos os pais de Julia, Anna, Marcos, essa é a


minha mãe Elisabeth, meu irmão Jacob e minha filha Eve.

Elisabeth sorri e abraça minha mãe que também retribui o gesto


de carinho, meu pai também cumprimenta Jacob com uma aperto
de mão e um aceno de cabeça.

— Sentem-se por favor, vou organizar a mesa. — Gabriel diz e


me levanto para ajudar antes que ele recuse minha ajuda.

Caminhamos até a cozinha deixando todos conversando na sala.


Pego os pratos e talheres nos armários enquanto Gabriel pega a
comida e a leva até a mesa.

— Está nervosa? — ele pergunta beijando minha testa e


concordo com a cabeça.

— Com medo pois meu pai pode tentar de matar. — Brinco


tentando descontrair o clima.

Terminamos de organizar tudo e Gabriel convida todos a se


sentar na mesa conosco, agradeço quando ele puxa minha cadeira
e me ajuda a sentar.

Nos servimos e conversamos sobre de tudo um pouco, minha


mãe realmente gostou de Elisabeth e vejo que a mãe de Gabriel
também gostou dela.

Jacob se levanta para abrir a garrafa de vinho e servir a taça de


todos.

— Eu não posso, obrigada! — nego e todos me olham franzindo


o cenho.

Por um momento esqueci que eles não sabem de minha


gravidez e que não posso beber álcool, mas suspiro aliviada vendo
que eles voltam a conversar.

Todos terminam de jantar, é nesse momento que Gabriel me olha


e aceno com a cabeça sobre contar a notícia.

Nos levantamos e entrelaçamos nossos dedos, sentindo os


batimentos de meu coração acelerando cada vez mais.

— Esse jantar tem um motivo muito especial e queremos


compartilha-los com vocês.

Os pares de olhos nos encaram fixamente esperando que


Gabriel continue:
— Todos aqui estão cientes do amor que sinto por Julia, e
recentemente descobrimos uma bela surpresa. Em breve chegará
mais um membro em nossa família.

Ouço sons de surpresa, e para completar Gabriel pousa sua mão


em minha barriga.

— Julia está grávida! — ele anuncia feliz e um som de algo se


quebrando é ouvido.

Procuro o som e arregalo os olhos ao ver a mão ensanguentada


de Jacob causada pela taça que segurava.

Ele quebrou a taça com as mãos?

— Me desculpem, eu...— ele sai da mesa e caminha para o


banheiro mais próximo para lavar os ferimentos.

A mãe de Gabriel se levanta sorrindo e vem nos abraçar.

Quando olho para meus pais vejo que meu pai ainda está
tentando assimilar a notícia.

Ele se levanta e quando acho que vai nos parabenizar ele soca o
rosto de Gabriel que cambaleia para trás com o impacto.

Minha mãe corre para tentar afastar meu pai de perto de Gabriel.

—Pai, para, por favor! — grito e logo vejo Jacob correr em nossa
direção.

— Senhor se acalme por...— Jacob segura os braços de meu


pai, mas é o próximo a ser nocauteado.

Meu pai acerta o rosto de Jacob que se junta a Gabriel, sei que
em outra situação eles revidariam, mas não vão por respeitar meu
pai.
— Pai, para! — me coloco em sua frente e seguro seu rosto para
fazê-lo me olhar:

— Para, por favor... — suplico e ele finalmente me encara e


abaixa a cabeça.

— Me desculpe filha, não devia ter vindo, eu estraguei sua noite.


— Ele diz e caminha em direção a porta, mas minha mãe vai até ele
e lhe diz algo.

Enquanto minha mãe conversa com meu pai me aproximo de


Gabriel e Jacob, Elisabeth está verificando os ferimentos deles.

Observo que o soco de meu pai acertou o queixo de Gabriel que


está com um corte na boca, enquanto Jacob tenta parar o
sangramento do nariz.

— Me desculpem por isso. — Peço.

— Não foi sua culpa amor, já esperava que isso acontecesse. —


Gabriel sorri, mas geme com a dor sentida nos lábios.

—Está tudo bem Julia, mas seu pai é bom de briga! — Jacob
sorri.

Mesmo num momento como esse eles conseguem manter o


humor, vejo que minha mãe se aproxima de mim e diz:

— Filha, é melhor eu e seu pai irmos embora.

— Tudo bem. — Digo cabisbaixa.

— Não fique assim filha, estou muito feliz por você, parabéns
querida, você vai ser uma ótima mãe, e sei que seu pai sente o
mesmo, ele só ainda não assimilou que nossa filha cresceu.

— Obrigada. — Digo beijando seu rosto.


Mesmo envergonhado meu pai se desculpa pelo comportamento
e me abraça, se despede de todos e logo vão embora.

Elisabeth e Gabriel decidem colocar Eve para dormir, então


decido ficar e conversar com Jacob.

— Você está bem? — pergunto apontando para sua mão cortada


e para o seu nariz.

— Sim, parabéns pelo bebê, Gabriel está muito feliz.

— Obrigada, mas você não parece bem Jacob.

— Não sei se posso falar sobre isso com você Julia. — Comenta
duvidoso.

— Me conte por favor, vou tentar te ajudar.

Ele suspira e se levanta para observar a paisagem da cidade


através das enormes janelas, franzo o cenho e me levanto do sofá.

— Já sentiu a frustração de gostar de alguém que nunca poderá


ter? — ele pergunta e fico totalmente confusa.

— Como? — ele se vira para me encarar então é nesse


momento que começo a entender.

— Esse alguém sou eu? — pergunto num sussurro.

Ai não...
Capítulo 21
JULIA

— Esse alguém sou eu? — pergunto num tom baixo.

Percebo que Jacob arregala os olhos azuis e começa a


gargalhar, franzo o cenho e decido lhe perguntar:

— O que foi?

— Meu deus Julia, os hormônios da gravidez estão mexendo


com sua cabeça? — ele pergunta rindo.

O que?

Por um momento me permito pensar e pela reação de Jacob


percebo que não é de mim que ele está realmente falando.

— Então não é de mim que você está falando?

— Claro que não, por Deus Julia, você é bonita e eu gosto de


você, mas não é desse jeito.

Ainda com as batidas do meu coração acelerados respiro fundo


sentindo a sensação de alívio me invadir.

— Idiota, você quase me matou de susto! — seguro uma das


almofada do sofá e jogo em seu rosto acertando seu nariz
machucado. Jacob geme de dor, mas volta a rir.

— A culpa não é minha, você que entendeu tudo errado Julia.

— Ok, mas você disse que está gostando de uma pessoa que
nunca será sua e depois me encarou de uma forma estranha, claro
que pensei que estava se referindo a mim.

Ele balança a cabeça sorrindo e volta a se sentar no sofá.

— O que eu te disse é verdade Julia, realmente estou gostando


de uma pessoa que não posso ter.

Suspiro e me sento ao seu lado vendo que o sorriso em seus


lábios sumiu, dando lugar a uma expressão séria.

— Então por que disse que talvez não poderia falar sobre isso
comigo?

— Porque não tenho ninguém Julia, ninguém para contar o que


sinto, minha mãe e meus irmãos já têm os seus próprios problemas
para se preocuparem.

Começo a entender a situação de Jacob, ele se sente solitário e


não tem ninguém para contar sobre seus sentimentos, e não quer
sobrecarregar a família com seus problemas.

— Pode contar para mim, não sei exatamente como ajudar, mas
posso tentar.

— Obrigado Julia, meu irmão tem sorte em ter você. — Ele sorri.

— Ok, então me conte, de quem está gostando? Alguém da casa


de Swing que você frequenta? — pergunto com o cenho franzido,
mas quando levanto a cabeça para encarar Jacob vejo que ele me
olha com uma sobrancelha arqueada.

— Como sabe que frequento casas de Swing?

Sinto meu rosto corar de vergonha que estou sentindo nesse


momento.

— Eu...eu
— Gabriel te contou? — ele pergunta e apenas concordo com a
cabeça.

— Não precisa se sentir envergonhada Julia, meu mundo não é


tão diferente do de Gabriel que tenho certeza de que você já viu ou
participou.

Pigarreio quando ouço ele se referir ao BDSM, ok, não sei muito
sobre esses clubes que Jacob costuma frequentar, mas não sei se o
que ele diz é verdade, que o mundo dele não é tão diferente do de
Gabriel.

— Por que frequenta e exerce esses tipos de coisas? —


pergunto e Jacob suspira.

— Não tenho exatamente um motivo, mas gosto da sensação


que sinto quando exerço, é quase como uma sensação de
liberdade.

— Ok, me conte sobre a mulher que você está apaixonado.

— Ela também participa e frequenta o clube que costumo ir, ela é


linda e encantadora, aquele tipo de pessoa que faz as batidas do
seu coração acelerar com um simples olhar, entende?

Ao ouvir isso assinto com a cabeça ao lembrar da mesma


sensação que sinto quando estou com Gabriel.

— Sim, eu sei exatamente como é. Mas porque diz que não


pode tê-la?

— Porque ela se tornou proibida para mim, está noiva de outro


homem, Julia. — Ele diz e suspira voltando a abaixar a cabeça.

Logo tento imaginar como deve ser difícil de estar apaixonado


por uma pessoa que não pode ser sua ou que não sente o mesmo
por você.

— Já se relacionaram?
— Sim, nos relacionávamos dentro de um clube antes do
noivado dela.

— Mas pensei que esse tipo de relação não poderia envolver


sentimentos.

— O Swing é diferente do BDSM Julia, no mundo de meu irmão


não envolver sentimentos é uma regra, mas no meu não há regras,
alguns que frequentam são casais a procura de diversão.

— Entendo, ela não sente o mesmo por você?

— No começo até achei que sim, mas ela nunca me contou que
estava namorando, só fiquei sabendo quando ela me contou que
estava noiva.

— Não fique assim Jacob, ela não merece seu amor, ainda vai
aparecer uma mulher que vai te amar muito. — Toco seu ombro lhe
passando conforto.

Ouvimos passos e vozes se aproximando, e num tom baixo


Jacob diz:

— Não conte sobre isso a Gabriel por favor, você sabe como ele
é Julia.

— Pode deixar, eu não vou contar. — Ele sorri agradecido e logo


Gabriel e Elisabeth retornam para a sala.

— Ela dormiu, então é melhor a gente ir filho. — Jacob assente e


se levanta.

Também me levanto sentindo os braços de Gabriel contornando


minha cintura.

— Parabéns pelo bebê Julia, estou muito feliz por vocês! —


sorrio e Elisabeth me abraça.
Jacob beija minha bochecha, se despede de Gabriel e caminha
até a saída com a mãe.

— Querida? — me viro ouvindo ser chamada por Gabriel.

— Sim?

— Se lembra de Anthony e Scarlett? — ele se aproxima e me


abraça.

— Sim, eles eram os anfitriões daquela festa com participantes


de BDSM que você me levou.

Me lembro bem de quando conheci o casal naquela festa, eles


são simpáticos e confesso que gostei de Scarlett.

— Sim, quando estava colocando Eve para dormir recebi uma


ligação de Anthony, ele perguntou por que paramos de frequentar as
festas deles, respondi que decidi manter um pouco de distância
daquele mundo e dedicar meu tempo a você.

— Perguntaram se podem nos visitar no sábado, Scarlett gostou


de você e quer te ver novamente, o que acha?

— Acho ótimo, também gostei dela, eles têm um filho, não é?

Lembro que Gabriel me disse que o casal tem um filho pequeno.

— Sim, ele se chama Tyler, é um garotinho adorável. — diz com


simpatia ao pronunciar o nome da criança.

— Você gosta muito dele, né? — pergunto contornando seu


pescoço com meus braços.

— Sim, mas estou ansioso para ter o meu próprio garotinho. —


Suas mãos pousam em minha barriga.

— Ou pode ser mais uma garotinha — um sorriso se forma em


meus lábios quando encaro seus olhos azuis brilhantes.
— Que deus me ajude então, porque Eve e você já me dão
muito trabalho. — Ele provoca com humor dramático e aproxima
seus lábios dos meus.
Capítulo 22
JULIA

Quando descobrir que não é de mim que Jacob estava se


referindo foi de grande alívio para mim se Jacob estivesse
apaixonado por mim tudo seria diferente e muito complicado, com
certeza Gabriel não reagiria bem e cortaria os laços com o próprio
irmão por minha causa.

Mas graças a Deus isso tudo não passou de um mal-entendido,


é claro que me sinto mal por Jacob, ele é um bom homem e não
merece sofrer de amor não correspondido por aquela mulher.

Ninguém merece sentir isso, amar uma pessoa e saber que ela
não nutre os mesmos sentimentos que os seus é horrível.

Depois que Jacob e Elisabeth foram embora ajudo Gabriel a


organizar a mesa, e sorrio internamente quando ele não protesta em
aceitar minha ajuda.

— Estava pensando em contratar alguém. — Ele anuncia


enquanto leva os pratos para a pia.

— Para a Empresa? — franzo o cenho confusa.

— Não, contratar alguém para organizar o apartamento e ajudar


com o bebê depois que ele nascer.

— Desde que te conheci sempre me perguntei sobre isso,


porque você não tem uma empregada sendo que você passa a
maior parte de seu tempo na Empresa.

Gabriel suspira e se vira para me encarar.


— Gosto de cuidar das minhas próprias coisas, mas vejo que
isso vai ter que mudar daqui em diante, já que em breve vamos ter
mais um filho para cuidar.

Assinto com a cabeça e começamos a organizar as louças nos


armários enquanto Gabriel termina de lavar.

Após organizarmos a cozinha, partimos para o seu quarto trocar


de roupa, combinamos que sábado vamos receber Scarlett e
Anthony aqui, faz muito tempo desde que os vi pela primeira vez
naquela festa que Gabriel me levou.

Troco o vestido por uma blusa de Gabriel e me junto a ele na


cama, deito minha cabeça em seu peito.

E logo reflito sobre tudo o que aconteceu hoje, estou um pouco


mal pela reação do meu pai, mas também o entendo, sei que ele
não queria se comportar daquela maneira com Gabriel, mas tenho
certeza de que tudo vai se resolver.

— No que está pensando? — ouço a voz de Gabriel enquanto


seus dedos afagam meus cabelos.

— Sobre a reação do meu pai. — Revelo cabisbaixa.

— Não fique assim amor, ele te ama, vocês só precisam


conversar. — Levanto a cabeça para olha-lo e digo:

— Eu sei, acho que amanhã antes de ir para a Empresa, vou


passar em casa e conversar com ele.

Meu pai sempre sai muito cedo para trabalhar, mas decido que
amanhã vou para casa conversar com meu pai antes do seu
trabalho.

— Posso ir com você.

— Acho que não é uma boa ideia, ele ainda está se


acostumando com a notícia, acho melhor eu conversar com ele
sozinha primeiro. — Digo e Gabriel concorda com a cabeça.

Depois de conversarmos sobre meu pai, decido perguntar sobre


um assunto que está martelando em minha cabeça desde que
soube da visita de Scarlett e Anthony.

— Gabriel?

— Sim, amor?

— Sente falta da sua vida antes de se apaixonar por mim? —


digo.

— Não, não sinto falta, por que está perguntando isso? — ele
franze o cenho.

— Não sente falta de frequentar aqueles tipos de festas e nem


de praticar BDSM?

— Não amor, amar e ter você já basta para mim.

Por um segundo vejo Gabriel arquear a sobrancelha e perguntar:

— E você? Sente falta do meu lado controlador? — ele provoca.

— Você ainda é controlador Gabriel.

— Ok, mas você gosta de quando estou no controle, não é


Senhorita Vasconcelos? — sorrio lembrando que faz algum tempo
desde que ele me chama assim.

— Posso te pedir uma coisa?

— O que quiser...

— Quero que me leve para a um dos clubes que você


frequentava amanhã à noite — peço num tom baixo observando a
reação de Gabriel ao meu pedido.
Seus olhos azuis brilham por um segundo, mas ainda vejo a
incerteza em seu rosto.

— Tem certeza? Se está fazendo isso por mim, já falei que não
precisa Julia, não precisa fazer isso — ele diz e acaricia meu rosto
com o polegar.

— Eu sei, mas eu quero, quero conhecer o mundo do qual você


pertencia antes de me conhecer.

— Nos clubes acontecem coisas diferentes do que você viu


naquela festa, mesmo sabendo disso, você ainda quer ir? — ele
pergunta e apenas concordo com a cabeça.

Eu quero isso, antes de conhecer Gabriel se alguém me


convidasse para ir em lugares desse tipo com certeza eu negaria
rapidamente, mas estou apaixonado por ele e quero ir, não tenho
mais medo do que me assustava antes.

— Ok, amanhã à noite eu vou te levar, mas você ainda pode


desistir. — Ele diz e nego com a cabeça e aproximo meus lábios dos
seus.

Eu sei que ele também quer isso, mesmo dizendo ao contrário


eu sei que ele também quer, vi o brilho em seus olhos.

Beijo seus lábios com carinho, mas Gabriel geme em minha


boca e aumenta a intensidade do beijo, sei que o excitei com essa
proposta de visitar um clube de BDSM.

Suspiro sentindo uma mordida em meu lábio inferior, suas mãos


parecem ter vida própria pois logo puxam meu corpo para o seu
colo.

— Você me enlouquece...— ele diz abaixando os lábios na


região do meu pescoço.
Ansiosa e com sua ajuda retiro sua camiseta, ele continua com
sua caricia, minhas mãos vão de encontro aos fios de seu cabelos
os puxando, meus olhos logo percebem as marcas de minhas unhas
em suas costas causada pela última vez que transamos.

Sentada em seu colo me apoio em seus ombros para não


machucar suas costas como da última vez que fiz.

Suas mãos sobem devagar por minha coxas e num gesto rápido
ele retira a camiseta que uso, observo seus olhos azuis analisando
todo meu corpo com atenção.

Suspiro sentindo sua boca descendo do meu pescoço até os


meus seios descobertos.

— Minha mulher perfeita! — diz e beija meus lábios pela última


vez antes de começar a sugar minha pele...
Capítulo 23
JULIA

Hoje acordei mais cedo do que acostumo acordar, meu objetivo


é chegar em casa e encontrar meu pai antes do trabalho.

Pego minha bolsa e aguardo Gabriel terminar de se vestir, faz


alguns dias desde a última vez que visitei Fernando no hospital, mas
sei que em breve ele terá alta do hospital e voltará para casa.

Enquanto espero Gabriel, fico pensando em como iniciar a


conversa com meu pai, mas acredito que tudo se resolverá logo.

— Pronta? — vejo Gabriel retornar ao quarto.

— Sim. — Respondo me levantando da cama e o seguindo para


fora do quarto.

Como ainda é cedo, Eve está de aprontando para a escola,


passo no quarto da pequena e entro enquanto Gabriel segue para o
seu escritório para pegar alguns documentos.

A vejo de frente para o espelho escovando seus longos cabelos


dourados, sorrio e me aproximo da garotinha.

— Me deixe te ajudar — ela sorri e me entrega a escova de


cabelo.

Com cuidado passo a escova nos fios sedosos e lisos de seus


cabelos, num tom loiro idêntico ao de Gabriel.

— Pode fazer uma trança, mamãe?


— Claro! — respondo e começo a trançar seus cabelos até o fim,
prendo os fios e coloco algumas presilhas de borboleta.

Após observar seu reflexo no espelho Eve sorri e me abraça.

— Papai nunca conseguiu fazer uma trança nos meus cabelos.


— Ela comenta sorrindo e logo imagino Gabriel tentando trançar os
cabelos da filha com seu jeito atrapalhado.

— Vou ensiná-lo a trançar seus cabelos corretamente. — Digo e


beijo sua testa antes de pegar sua mochila para sairmos do quarto.

Como combinamos de sair mais cedo, Gabriel e eu preparamos


o café da manhã num horário mais cedo do que de o costume,
então já que todos nós estamos alimentados podemos ir.

Decidimos passar em minha casa primeiro já que faltava


algumas horas antes de levar Eve até a escola. No caminho lembro
que tenho que trocar de roupa já que estou usando o mesmo
vestido dourado da noite anterior.

Também lembro que hoje à noite Gabriel me levará em um dos


clubes de BDSM que ele costumava frequentar, procuro algum
requisito de nervosismo ou insegurança dentro de mim, mas dessa
vez não há, apenas a ansiedade permanece.

Hoje é sexta feira, amanhã Scarlett e Anthony nos visitará no


apartamento de Gabriel, então é provável que hoje eu passe outra
noite junto a ele.

Dentro do carro, por instinto pouso minha mão em minha barriga


sobre o tecido do vestido, e um sorriso cresce em meus lábios
quando imagino minha barriga com volume maior, quando sentirei
meu filho chutar pela primeira vez.

O dia em que realizarei o meu primeiro ultrassom está cada vez


mais perto, e a ansiedade aumenta a cada dia que se passa.
Levanto a cabeça e ainda com a mão na barriga vejo Gabriel me
olhando com um sorriso, e logo sua mão também pousa em minha
barriga por um momento.

— Ainda acho que vai ser um menino — ele diz num tom
convencido e balanço a cabeça sorrindo.

— Pode ser menino, ou talvez seja mais uma menina para deixar
os nervos do papai a flor da pele quando crescer. — Provoco e
Gabriel bufa sorrindo.

— Você é tão protetor comigo e com Eve, e logo imagino como


será quando ela crescer e virar uma linda moça ou quando começar
a namorar. — Brinco.

—Vou continuar sendo protetor mesmo quando ela crescer, e só


vai namorar quando completar 30 anos.

— Você me engravidou com 22 anos, isso não é um bom


exemplo Senhor Simon. — Comento rindo.

— Ok, mas você é exceção Senhorita Vasconcelos.

Quando finalmente chegamos em casa, Gabriel ajuda Eve a sair


do carro enquanto bato na porta, após alguns segundos a porta se
abre revelando minha mãe.

— Querida! — ela me abraça antes de fazer o mesmo com


Gabriel e Eve.

Quando entramos encontro meu pai na sala de estar, e logo seu


olhar nos alcança, combinei com Gabriel que seria melhor conversar
com ele sozinha, lembrando do combinado Gabriel leva Eve para
conhecer a confeitaria junto com minha mãe.

Suspiro e me aproximo, pela expressão em seu rosto sei que ele


ainda está envergonhado pelo seu comportamento na noite anterior.
— Como você está, pai? — pergunto me sentando ao seu lado
no sofá.

— Bem, querida, mas quero me desculpar por ontem à noite.

— Está tudo bem, pai.

— Não quero que pense que não estou feliz por você, eu estou,
quero que seja feliz e sei que será uma mãe maravilhosa. — Ele
pega minha mão e entrelaça com a sua.

— Percebo que Gabriel é bom para você e um ótimo pai, mas


preciso te perguntar isso filha, está feliz? É isso que você quer?

— Sim, estou feliz, eu quero isso mais do que tudo pai! — Digo
num tom sincero.

— Que bom filha, você merece toda a felicidade do mundo, sou


seu pai e sempre vou me preocupar com você Julia.

— Obrigada pai, obrigada por sempre estar ao meu lado e ser o


melhor pai que uma pessoa poderia ter, eu te amo. — Sinto uma
fina lagrima escorrer pela minha bochecha e logo braços
contornando meu corpo.

— Também te amo Julia, não chore filha. — Pouso meu rosto em


seu ombro sentindo sua mão em meus cabelos.

E fecho os olhos lembrando das milhares de vezes que ele


esteve ao meu lado, das milhares de vezes que senti seu abraço e
seu carinho em meu cabelos.

Meus pais sempre estiveram ao meu lado, nunca fui religiosa,


mas sempre agradeci a Deus por me dar pais tão amorosos e
perfeitos que uma pessoa poderia ter.

— Nunca me deixe por favor, nunca me deixem. — Sussurro


com os olhos marejados.
— Vejo que a gravidez está te deixando sensível filha. — Sorrio
e seco o rosto levantando a cabeça do seu ombro.

— Já sabem o sexo? — meu pai pergunta olhando para minha


barriga sem volume.

— Não, ainda é muito cedo. — Conto tocando a barriga.

— Espero que seja um garotinho. — Meu pai diz e gargalho.

— Gabriel diz a mesma coisa, por que querem tanto que seja um
menino?

— Porque meninas dão muito trabalho filha, e quando temos


uma filha sempre a protegeremos...

Converso com meu pai por mais algum tempo, e quando


terminamos sigo para a confeitaria enquanto meu pai vai trabalhar.

Quando entro dentro da confeitaria um aroma maravilhoso chega


até minhas narinas, minha mãe está servindo alguns bolinhos a
Gabriel e Eve que estão sentados em uma mesa degustando com
fervor.

— Tudo bem? — Gabriel pergunta quando me aproximo e me


sento ao lado deles.

— Sim! — sorrindo limpo o canto da boca de Gabriel que está


suja de chantily.

Vejo seus olhos escurecerem quando levo o dedo a boca,


sorrindo observo seus olhos azuis me encaram com intensidade.

— Vamos deixar as provocações para hoje à noite amor...— ele


diz num tom baixo piscando o olho.

Rindo pego um dos bolinhos e começo a degustar, e quando


olho para Eve sorrio ao ver a boca da pequena toda suja de
chocolate.
Gabriel sorrir e limpa a filha enquanto continuo comendo, como
todos que provam as doçuras feitas por minha mãe Eve se encantou
com as guloseimas.

Enquanto eles continuam comendo, subo até meu quarto e troco


de roupas, quando desço nos despedimos de minha mãe já que
temos que levar Eve até a escola antes de seguirmos para a
Empresa.
Capítulo 24
GABRIEL

Após a saída da casa de Julia, levamos Eve para a escola e


partimos para a Empresa, Julia ainda não me contou sobre a
conversa com o pai, mas pela sua expressão sei que tudo deve
estar bem.

Para ser sincero não o culpo, ele apenas reagiu mal a notícia,
ele é um bom pai e sempre vai querer o bem para a filha.

Confesso que talvez reagiria da mesma forma se acontecesse


comigo, no caminho até a Empresa vejo que Julia está pensativa.

A observei acariciar a própria barriga várias vezes somente hoje,


ela está feliz e ansiosa e saber disso também me traz uma
sensação boa.

Desde a descoberta da gravidez imaginei nosso filho várias


vezes, em como ele vai ser, se vai ter o tom loiro dos meus cabelos
ou o tom escuros semelhantes aos de Julia.

Brinco com ela dizendo sobre ser um menino, mas digo isso
somente para provocá-la, sendo menino ou menina não faz
diferença para mim, pois será merecedor de todo o meu amor e
carinho.

Não posso negar que a possibilidade de ser um menino me traz


certas lembranças, como a do meu filho falecido que nunca tive o
prazer de conhecer.

Mas todos os dias antes de dormir, prometo a mim mesmo que


tudo será diferente com Julia, não posso e nem vou cometer os
mesmos erros que cometi no passado.
Conhecer Julia foi a coisa maravilhosa que me aconteceu desde
a morte de Maya e de meu filho, estava quebrado por dentro, com o
coração despedaçado, sem esperanças.

Mas me apaixonar por ela foi a luz no fim túnel para mim, ela
veio para iluminar meu caminho, veio trazer toda a esperança que
faltava em mim, ela me trouxe a minha felicidade de volta.

É a minha menina perfeita, é a razão do meu amor e felicidade,


mesmo antes de faze-la assinar aquele contrato sabia que em
algum momento ela me deixaria rendido aos seus pés.

Pelo canto do olho a vejo com a cabeça encostada no vidro da


janela do carro com a mesma expressão pensativa, com a mão
sobre a barriga por cima da blusa social, somente observar essa
imagem aquece meu coração.

Sorrio e volto a me concentrar na estrada a minha frente, quando


chegamos estaciono o carro na garagem da Empresa e juntos
pegamos o elevador até o último andar.

Caminhamos de mãos dadas até o corredor onde fica nossas


salas, e até lá somos alvos de muitos olhares.

No começo Julia ficava insegura, mas vejo que isso mudou, a


beijo e cada uma de nós entramos em nossas salas.

Ao fechar a porta atrás de mim suspiro olhando para a mesa


cheia de papeis em cima da mesa, respiro fundo e começo a
trabalhar.

JULIA

O dia de hoje foi muito cheio já que Gabriel cancelou os


compromissos de ontem por causa do jantar e acabou
sobrecarregando tudo hoje.
Acompanhei Gabriel em algumas reuniões que duraram horas e
almoçamos com alguns investidores, fiquei aliviada ao constatar que
o remédio contra enjoos estava dentro de minha bolsa.

Vejo as horas e suspiro de alívio vendo que faltam apenas


algumas horas para encerrar o nosso expediente, levanto de minha
cadeira e caminho até uma das janelas da minha sala.

O céu já está quase escurecendo, mesmo assim o clima está


bastante estável hoje, decido perguntar a Gabriel se teremos mais
algum compromisso para hoje.

Deixo minha sala e caminho até o final do corredor, empurro a


maçaneta da porta e quando entro vejo Beatriz sentada no outro
lado da mesa se frente para Gabriel.

Não costumo bater na porta quando ele está sozinho, mas vejo
que me enganei dessa vez.

Ela se assusta e se vira para me encarar, mas é nesse momento


que vejo alguns botões abertos em sua blusa, suspiro irritada e me
aproximo da mesa.

Gabriel está com uma expressão neutra no rosto e observa cada


movimento meu, o que me faz achar que ele não olhou ou não
percebeu que a secretária está querendo esfregar o decote aberto
na cara dele.

— Meu amor. — Ele diz sorrindo, mas ignoro e volto meu a


encarar Beatriz.

— Julia, eu não...— ela começa a dizer, mas a interrompo:

— Pra você é Senhorita Vasconcelos! — sibilo num tom firme


que a faz arregalar os olhos e logo ouço a risada abafada de
Gabriel.
— Essa é a minha garota...— ouço seu sussurro num tom baixo,
mas lhe dou um olhar avisando que estou irritada.

Beatriz se levanta sem jeito e começa a fechar alguns botões da


blusa, como se não soubesse que o decote estava aberto.

— Beatriz, nos deixe sozinhos, por favor! — Gabriel pede e ela


logo assente envergonhada.

Quando ela finalmente sai e fecha a porta me aproximo da


cadeira onde Gabriel está sentado.

— Isso no seu rosto é ciúmes, meu amor? — ele pergunta com


uma sobrancelha loira arqueada.

— Vai me dizer que não percebeu que os seios dela estavam


quase se esfregando na sua cara?

— Não, eu não percebi, mas não faz diferença já que só tenho


olhos para você.

Reviro os olhos e bufo irritada, nunca gostei da Beatriz e ao ver


que ela está tentando dar em cima de Gabriel meu ódio por ela só
aumenta.

Meu ódio por aquela mulher é tão profundo que é difícil apontar a
origem.

— Não fique assim querida, vem cá! — ele gira a cadeira e bate
em suas pernas, obedeço a me sentando em suas coxas grossas.

— Ela estava tentando dar em cima de você Gabriel, ainda bem


que entrei ou ela poderia fazer algo pior!

— Não precisa se preocupar amor, quero e desejo apenas você,


sabe disso querida, mas se isso te tranquilizar posso conversar com
ela em outro momento, mas vai ter que se acostumar querida, as
mulheres me amam!
— Agora tenho vontade de te bater com um dos seus chicotes!
—digo, mas ele diz num tom humorado:

— Quer ser a Dominatrix amor? Talvez eu deixe você brincar


comigo hoje à noite. — Ele beija meus lábios e sussurra:— Vamos
querida, tenho que levar minha doce namorada para conhecer mais
um pouco do mundo sombrio do qual já fiz parte!...— me levanto do
seu colo, o vejo ele desligar o notebook e entrelaçar nossas mãos.
Capítulo 25
JULIA

Com nossas mãos entrelaçadas saímos da sala e caminhamos


para a garagem do prédio, ainda falta uma hora para encerrar nosso
expediente, mas Gabriel decidiu que voltaríamos para o seu
apartamento.

Ainda não sei a localização do clube que ele me levará, mas


estou ansiosa para descobrir o que me espera, ansiosa para
descobrir mais sobre o mundo que Gabriel abriu mão para ficar
comigo.

No caminho até o apartamento, Gabriel permanece em total


silêncio aumentando minhas expectativas para hoje à noite, ele
ainda não comentou sobre nenhum detalhe do clube, talvez ele
queira isso, talvez seu plano seja me deixar criar várias expectativas
na cabeça.

Antes de saímos da Empresa ele me avisou que sua mãe


buscou Eve na escola mais cedo e que cuidaria da pequena hoje,
fixo o olhar através do vidro da janela do carro observando a
paisagem da cidade sobre o céu escurecido, o clima está perfeito
hoje, e isso contribui com minha ansiedade e animo.

E só agora lembro que esqueci de pegar algumas peças de


roupas para vestir hoje à noite, droga, me xingo mentalmente por
esquecer um detalhe como esse.

— Qual é a localização do clube? — quebro o silêncio com


minha pergunta.
— Ansiosa? — ele não responde minha pergunta apenas me
olha rapidamente com um sorriso nos lábios.

— Esqueci de trazer roupas para vestir. — Admito meu erro e


bufo irritada comigo mesmo.

— Não se preocupe com isso, resolveremos quando chegar. —


diz e volta a ficar em silêncio novamente.

Tenho vontade de perguntar sobre isso, mas fico quieta já que


ele deixou claro que resolverá meu problema.

Após alguns minutos finalmente chegamos em seu apartamento,


e quando adentramos Gabriel e eu seguimos para o quarto, ainda
sem entender o vejo caminhar até seu closet e voltar segurando um
tecido escuro, duas caixas e um par de saltos de um tom preto.

Franzo o cenho confusa o vendo depositar as caixas em cima da


cama, me aproximo vendo que uma delas se parece com uma
daquelas caixinhas que se guarda joias delicadas.

— O que é isso?

— Tudo em seu tempo amor, agora vista-se! — ele em entrega


uma vestido preto pego a peça o encaro em entender como ele tem
aquilo guardado.

— Comprei a algum tempo quando você assinou o contrato e


estava esperando a hora certa para te ver vestida nele. — Ele sorri.

Com a peça nas mãos sigo para o banheiro de seu quarto para
me trocar, retiro as roupas sociais que uso e observo melhor o
modelo do vestido.

É um vestido de um tom marrom escuro, de alças e um decote


em V que se estende entre os seios, maravilhada com a peça a
coloco no corpo.
Quando observo meu reflexo no espelho sorrio contente com o
resultado, resolvo deixar os cabelos soltos, volto para o quarto e
vejo que Gabriel retirou o terno deixando somente a camisa social
branca combinando com a calça preta.

Quando nota minha presença seus olhos percorrem meu corpo


de cima a baixo, coloco os saltos e me aproximo de Gabriel que
ainda me observa com atenção.

— Hum, até que você tem bom gosto. — Brinco me referindo ao


vestido.

O vejo pegar a caixa menor e se aproximar de mim.

— Vire-se! — pede e logo obedeço a me virando de costas para


ele.

Ouço a caixa se abrindo e logo suas mãos levantando meus


cabelos, suspiro sentindo o contato frio da joia sendo colocada em
meu pescoço.

Ele termina de colocar a peça e deposita um beijo quente no


espaço entre o início do meu pescoço até minha orelha.

— Linda! — elogia e me coloca de frente para o enorme espelho


em seu closet para observa meu reflexo.

Abro a boca para dizer alguma coisa, mas a fecho quando vejo a
peça em meu pescoço, é uma espécie de gargantilha de pedras
brilhantes com um pingente de letra G.

Ao observar a gargantilha com mais atenção logo me lembro de


Scarlett usando uma com pingente de coração, é realmente linda, e
delicada com detalhes sofisticados.

— É muito bonita! — digo encantada tocando a joia em meu


pescoço.
— Alguma outra submissa já a usou? — pergunto desconfortável
em pensar que outras mulheres já usaram aquilo.

— Não, ninguém usou essa, pedi para fazerem depois que você
assinou o contrato e estava em dúvida se aceitaria usar. Essa foi
feita especialmente para você. — diz e contorna minha cintura com
as mãos me puxando de encontro ao seu corpo.

— Minha mulher está perfeita! — elogia beijando meus lábios.

— Obrigada! — agradeço e o vejo se afastar para pegar a outra


caixa em cima da cama.

Ele não abre apenas a pega e se aproxima de mim novamente.

— Vamos? — pergunta e apenas concordo com a cabeça


sentindo os batimentos do meu coração acelerarem.

Enquanto Gabriel dirige até o local, fico observando atenta no


trajeto que fazemos, mas não conheço nenhuma das ruas que
entramos.

Sinto minhas mãos suarem com a ansiedade que estou sentindo,


e Gabriel parece notar pelo canto do olho minha reação.

Suspiro quando Gabriel estaciona o carro numa espécie de


estacionamentos repleto de carros luxuosos e importados.

Antes de saímos do carro Gabriel pega a caixa no banco de trás


e a abre, vejo duas máscaras, ele cuidadosamente pega uma
escura e me entrega, mesmo confusa coloco a máscara no rosto,
Gabriel também coloca uma de tom preto e dourado e morrendo de
curiosidade resolvo perguntar:

— Por que temos que usar máscaras?

— Talvez para manter a identidade em sigilo, nesse clube as


máscaras são obrigatórias. — diz e assinto com a cabeça.
Ele me ajuda a sair do carro e caminhamos juntos até um
conjunto de portas fechadas.

Vejo que dois homens vestidos com roupas sociais pretas e


mascarados estão ao lado das portas abrindo para quem entra,
enquanto nos aproximamos vejo que várias pessoas também
adentram o local.

Gabriel pega um tipo de cartão do bolso da calça e mostra para


uma dos seguranças que logo liberam nossa entrada, assim que
entramos esperava ver várias pessoas praticando obscenidades,
mas apenas vejo vários corredores.

Respiro fundo e continuo a caminhar sendo guiada por Gabriel,


logo começo a ouvir uma batida lenta tocando a alguns metros de
onde estamos.

A música vai ficando cada vez mais alta à medida que seguimos
em frente, encontramos mais um par de portas em nossa frente,
Gabriel me olha como se perguntasse se quero continuar, concordo
com a cabeça o observando abrir os conjuntos de portas.

Com as mãos entrelaçadas caminhamos para dentro, a primeira


coisa que noto são várias pessoas nuas, vestidas como nós e outras
usando uma espécie de couro.

Viro a cabeça vendo que no canto do enorme salão há várias


prateleiras com objetos que já vi naquele quarto no apartamento de
Gabriel.

Mesmo com a música alta somos capazes de ouvir suspiros e


gemidos altos vindo de toda parte do local, enquanto caminhamos
várias pessoas param o que estão fazendo para nós olhar.

Algumas pessoas nos cumprimentam com um breve aceno de


cabeça, e outras apenas sorriem para nós.
Percebo que todo mundo também usa máscaras de diferentes
modelos.
Algumas pessoas vestidas de preto passeiam pelo espaço
segurando bandejas com taças com líquidos que não sei distinguir.

Mais a frete vemos duas mulheres parcialmente nuas se


beijando enquanto um homem apenas observa, do outro lado, uma
mulher loira está sendo açoitada.

Ouvimos gritos e por instinto aperto a mão de Gabriel que me


olha preocupado.

— Quer voltar?

— Não, estou bem. — o tranquilizo não querendo deixar que a


primeira impressão do lugar estrague nossa noite.

Observo que uma mulher vestindo couro está falando algo no


ouvido de um homem que se ajoelha aos seus pés e logo constato
que ela deve ser uma dominatrix.

Mais à frente há várias portas fechadas, Gabriel me guia entre as


pessoas me levando até uma escada, subimos os degraus nos
deparando com outra enorme sala aberta.

Mas essa é mais reservada já que vejo apenas algumas


pessoas, vejo várias camas espalhadas pela sala, mas meus olhos
se fixam em um homem fazendo oral em uma mulher vendada e
amarrada na cabeceira da cama.

Gabriel me puxa até um dos sofás no canto e logo me sento ao


seu lado, sinto seus olhar fixo em mim, mas os meus ainda estão
observando cada canto.

— Meu deus...— sussurro ao ver que está acontecendo um


ménage a três em uma das camas.

Uma mulher morena está deitada na cama sendo penetrada por


um homem enquanto o outro beija e acaricia seu corpo nu.
Tremo quando sinto a mão quente de Gabriel em minha coxa e
sua respiração em minha orelha.

— Observar essas pessoas sentindo prazer te excita? — suspiro


longamente ouvindo sua voz baixa.

É estranho, mas observar essas pessoas desconhecidas se


dando prazer realmente me traz algumas sensações no corpo.

Volto meu olhar as três pessoas vendo que o outro homem


trocou de lugar com o parceiro, enquanto a mulher cavalga o loiro o
moreno apenas observa.

— Responda, amor!

— Sim, isso me excita. — Digo com sinceridade.

— O que acha de fazermos um show para eles observarem? —


pergunta num tom rouco ainda com a mão em minha coxa.

— O que? — pergunto, mas me calo sentindo sua língua em


meu pescoço, fecho os olhos quando sua mão avança até a barra
do meu vestido.

Quando abro os olhos vejo que algumas pessoas estão nos


observando, Gabriel vira meu rosto e ataca meus lábios.

Gemo em sua boca sentindo uma de suas mãos puxando meus


cabelos para trás, saber que existem pessoas nos encarando a
poucos metros de nós deixa tudo mais excitante.

— Me dê permissão para fazer o que quiser com você hoje


amor...— sussurra e volta a me beijar, puxando e mordendo meu
lábio inferior.

—Faça o que quiser comigo — digo inebriada pelo tesão e pelo


momento.
Num gesto rápido, Gabriel separa nossos lábios, se levanta e me
puxa até uma das camas desocupadas.

Me sento o observando pegar um par de algema e um objeto


que nunca vi em cima de um dos balcões repletos de objetos.

— Desejo fazer isso com você desde o dia em que me prendeu


na cama!

Pelo canto do olho vejo que algumas pessoas curiosas se


aproximam para nos observar...
Capítulo 26
JULIA

Droga, hoje cedo estava convicta de que não deixaria o


nervosismo me dominar nesta noite, mas falho miseravelmente
quando sinto minha respiração acelerar e as batidas do coração
aumentar.

Mas isso deve ser normal, já que estou num clube de BDSM
prestes a fazer coisas das quais nunca me esquecerei em toda
minha vida, tentando controlar a respiração observo que várias
pessoas param de fazer o que estão fazendo para manterem a
atenção em nós.

Volto minha atenção a Gabriel que também me olha fixamente.

— Tudo bem? — diz num tom cauteloso antes de trazer o


polegar e acariciar meu rosto.

— Sim, continue, por favor. — Digo sentindo seus lábios em


minha testa, Gabriel logo se afasta e diz:

— Não se preocupe, não vou fazer nada que não queira amor,
mas tem que me pedir para parar quando sentir que estou
ultrapassando os seus limites, ok?

Concordando, apenas balanço a cabeça e fixo meus olhos em


cada um de seus movimentos, Gabriel volta a se aproximar
segurando o par de algemas.

As batidas do coração se aceleram à medida que ele se


aproxima cada vez mais do meu corpo, com cuidado e maestria ele
pega cada um dos meus pulsos e os leva ao material frio das
algemas.
Suspiro quando o objeto se fecha em torno dos meus pulsos,
está apertando, mas não chega a incomodar ou doer, deito meu
corpo sobre a cama enquanto Gabriel se encarrega de prender as
algemas numa espécie de cabeceira.

Ao terminar, Gabriel se posiciona sobre meu corpo depositando


beijos sobre toda a pele exposta do meu pescoço, apenas fecho os
olhos me concentrando nas sensações que seus lábios são capazes
de me proporcionar.

Seus lábios sobem até minha boca, me enlaçando num beijo


enriquecedor, gemo sobre sua boca sentindo seus dentes raspando
e mordendo o lábio inferior.

Por instinto e reflexo puxo meus braços para tentar tocá-lo


quando suas mãos se aventuram até minhas coxas, suspiro
sentindo o material firme das algemas beliscarem minha pele.

— Abra os olhos, amor. — Sussurra no meu ouvido me trazendo


arrepios por todo o corpo.

— Me olhe nos olhos e me veja te proporcionando prazer, todos


ao nosso redor desejam estar nos nossos lugares, desejam ser nós.

Abro os olhos me deparando com o tom azuis de seus olhos


fixados em mim, vejo que muitas pessoas nos observam e tento não
ficar desconfortável com isso.

Saber que aquelas pessoas estão observando tudo o que


estamos fazendo me traz sensações estranhas, sensações que
nunca senti antes, mas não sei distinguir se gosto ou não.

Gabriel me beija pela última vez antes de continuar explorando


meu corpo, sinto uma de suas mãos se infiltrando no tecido do
vestido e subindo até o início das minhas coxas.
Por um momento penso que ele vai subir o meu vestido até a
cintura e me mostrar para todos, mas ele faz o contrário, apenas
levanta minhas pernas me fazendo dobrar os joelhos, nessa posição
ninguém consegue ver minhas partes íntimas o que me traz um
certo alívio.

Gemo quando seus dedos me massageiam por cima do tecido


fino da calcinha que uso, e novamente tento puxar meus braços
numa inútil tentativa de tocá-lo, sem conseguir tocar seu corpo tudo
fica mais difícil.

As algemas beliscam meus pulsos quando tento puxar os


braços, e sei que quando ele me soltar estarei com marcas
vermelhas ao redor do pulsos.

Antes que sua mão se infiltre dentro da calcinha ele retira a mão
e num movimento rápido ele vira meu corpo, as algemas se cruzam
e mordo o lábio para não gritar.

Poderia pedir para ele parar, mas eu aguento, sei que aguento, a
dor não é muito intensa, mas ainda não estou no meu limite.

Com o rosto sobre a cama não consigo observar ao meu redor,


também não sinto a presença de Gabriel e tento não ficar
desconfortável.

— Gabriel? — o chamo e logo ouço sua voz:

— Estou aqui amor, não se preocupe! — suspiro aliviada por


voltar a sentir seu corpo ao meu lado.

— Confia em mim? — pergunta perto da minha orelha.

Não sei o que ele fará em seguida, mas de uma coisa eu tenho
certeza, eu confio nele, e sei que ele nunca passará dos limites que
posso suportar.

— Sim.
— Quero que saiba que hoje não será apenas dor, ainda vou te
recompensar muito amor. Sentirá muito prazer ainda, tudo bem? —
concordo com a cabeça e logo ouço o som de algo.

A respiração volta a se acelerar quando sinto suas mãos subirem


o tecido do vestido até deixar parte de minha bunda exposta.

Ele vai me bater?

Repito essa pergunta mentalmente, mas suas mãos apenas


acariciam minhas nádegas, mas meu alívio dura pouco pois um
material frio e duro é colocado sobre minha pele.

Quando o primeiro golpe acerta minha bunda constato que é


uma espécie de açoite ou chicote.

Gabriel acerta o outro lado, e um longo suspiro deixa meus


lábios, mas o pior é que estou gostando de tudo isso, e saber disso
me assusta.

Fecho os olhos ouvindo sons abafados de gemidos e suspiros


naquela mesma sala, ao chegar a 6 golpes Gabriel para e se
aproxima da minha pele castigada.

Sinto o cheiro de algo doce, mas não sei exatamente o que é,


apenas sinto algo líquido e as mãos de Gabriel espalhando por toda
minha pele, e logo constato que seja uma espécie de óleo de
massagem.

Ouço passos e logo as algemas sendo abertas, gemo dolorida


vendo as marcas ao redor dos meus pulsos, me viro vendo que
ainda algumas pessoas prestam atenção em nós.

Ajeito o vestido e me sento na cama sentindo minha bunda


arder, Gabriel pega meus pulsos e os leva até os lábios depositando
beijos nas marcas.
Pelo canto do olho vejo que uma casal se aproxima de nós e
pergunta:

— Minha esposa e eu podemos participar? — pergunta um


homem moreno que nos olha esperançoso.

— Sinto muito, mas hoje não. — Suspiro de alívio quando ouço


Gabriel negar.

Ele me oferece sua mão e logo entrelaço nossos dedos


enquanto ele me leva para longe daquela sala.

— Para onde estamos indo? — pergunto quando vejo um


enorme escada e várias portas em cada lado.

— Ainda não acabamos, achou que eu deixaria todos verem


minha linda namorada nua? — pergunta com humor na voz
enquanto aperta minha cintura.

Sorrindo sou guiada por ele até uma das portas fechadas, franzo
o cenho quando vejo ele retirar uma pequena chave do bolso.

— Ninguém além de mim usa esse quarto, então não se


preocupe amor. — Quando entramos Gabriel aperta um interruptor
ao lado da porta, e logo todo o quarto é iluminado.

Tenho vontade de perguntar o motivo para ele ter um quarto


exclusivo num clube de BDSM, mas resolvo conter o minha
curiosidade.

— Pronto amor, chegou o momento de te dar muito prazer,


venha aqui...— pede se sentando na cama enquanto retira a
máscara do rosto.
Capítulo 27
JULIA

Observo Gabriel retirar a máscara que usa revelando os lindos


olhos azuis que se fixam em mim a todo momento.

Me aproximo lentamente enquanto ele dá batidinhas nas


próprias pernas me convidando a se sentar em seu colo.

Logo obedeço e me sento sobre suas pernas, suas mãos num


gesto rápido desamarram minha máscara.

— Linda! — elogia acariciando meu rosto com carinho.

Faço o mesmo com o rosto dele, levanto minhas mãos e exploro


cada canto do rosto esculpido, e pelos fios claros dos seus cabelos.

— Fico pensando se nosso filho terá a cor dos seus cabelos


como Eve. — Digo acariciando os fios sedosos.

—Talvez, mas ele também poderá ter a cor dos seus. — diz me
encarando.

— Eu te amo tanto. — Declaro encostando minha testa na dele e


fechando os olhos em seguida.

— Também te amo, e sempre amarei. — Abro os olhos e o beijo,


nossos lábios se encontrando numa doce e lenta tortura.

Contorno o seu pescoço com os meus braços sentindo suas


mãos me apertando mais contra o seu corpo quente.

O beijo aos poucos se intensifica, sinto uma das mãos de Gabriel


em minhas costas procurando o zíper do vestido que uso, e quando
o encontra me retira de seu colo me colocando de pé em sua frente.

Me viro de costas e afasto os meus cabelos para lhe dar total


acesso a abertura do vestido, suas mãos logo obedecem e descem
o zíper lentamente, e quando me livro da peça me viro novamente,
ficando de frente a ele enquanto continua sentado na cama apenas
observando meu corpo.

O tom azul de seus olhos escurece, mas sua expressão muda


quando seus olhos se fixam nas marcas vermelhas nos meus pulsos
causadas pelas algemas.

— Me perdoe por isso. — diz e levanta meus braços e os leva


até os lábios.

— Tudo bem, eu gostei! — admito sentindo meu rosto corar.

Ele sorri, e estica um dos braços para tocar a gargantilha com a


inicial de seu nome em meu pescoço, se levanta e caminha até ficar
atrás de mim.

Tremo sentindo sua respiração quente perto do meu pescoço, e


um longo suspiro deixa meus lábios quando sinto sua boca perto de
minha orelha, num gesto hábil, uma de suas mãos retiram a
gargantilha que uso a colocando numa espécie de mesa ao lado da
cama.

Volta a ficar atrás de mim, uma de suas mãos seguram meu


quadril me mantendo no lugar, e fecho os olhos quando seus lábios
quentes deixam caminhos molhados na pele exposta do meu
pescoço.

Não aguentando esperar, me viro de frente a ele e busco seus


lábios, enlaço seu pescoço com as mãos puxando seu corpo contra
o meu cada vez mais.

— Ansiosa, amor? — pergunta num tom provocador me


arrancando um sorriso dos lábios.
— Sim, se tratando de você claro que é uma tortura esperar. —
Sorrindo levo as mãos até os botões de sua camisa branca abrindo
cada um.

Retiro sua camisa por completo e me delicio com a visão do deu


abdómen escultura, e logo me pergunto mentalmente como é
possível existir uma pessoa tão perfeita como ele.

— Você é perfeito demais. — O elogio passando as mãos em


seu peitoral.

— E todo seu! — completa se aproximando.

Como se estivessem vidas próprias, minhas mãos descem até o


zíper de sua calça social, seus olhos azuis observam cada
movimento meu com atenção.

Abro o botão, e desço o zíper da calça, a peça logo cai em torno


dos seus pés, num movimento rápido ele termina de retirá-la,
Gabriel também se livra da cueca box que usa e diz:

— Deite-se na cama, amor. — Caminho até a cama e me deito


de frente.

Solto um suspiro quando sinto minha bunda arder ao entrar em


contato com a cama, Gabriel percebe meu desconforto e sorri.

— É perfeita, amor. — diz se agachando para pegar cada um


dos meus pés e se livrar dos saltos que uso.

Gemo baixinho quando seus dedos massageiam meus pés com


maestria, as vezes tenho a breve sensação de que tudo isso faz
parte de um sonho, um sonho muito bom.

Mas é real, tudo isso é muito real, e tenho a prova disso em


minha frente, meu namorado perfeito cuidando de mim.
Após a massagem nos meus pés, Gabriel sobe na cama e
sempre mantendo contato visual comigo separa cada uma das
minhas pernas, me mantendo aberta a sua mercê.

Lentamente, o sinto descer o tecido da calcinha por minhas


pernas me deixando completamente nua já que o vestido não
precisava de sutiã.

Por reflexo fechos os olhos quando sinto sua respiração quente


entre minhas pernas, minhas mãos agarram os lenções da cama
firmemente quando sua boca inicia a sequência de prazer absoluto
em meu corpo.

Em momentos como esse, nada mais importa, todos os


pensamentos se vão restando apenas nós dois aqui, presos e
enfeitiçados na nossa bolha de amor.

Cada vez mais perto do ápice, minhas mãos encontram os fios


dourados dos cabelos de Gabriel os puxando, e nesse momento
lembro-me de quando exagerei e machuquei suas costas quando
estávamos transando.

Mas nesse momento eu não ligo, e percebo que Gabriel também


não, pois mesmo que eu estivesse o machucando-o não pararia o
que está fazendo.

— Gabriel...— chamo seu nome anunciando o crescimento do


prazer que estou sentindo quando sua língua continua me
proporcionando prazer imenso.

Enquanto minhas mãos continuam segurando seus cabelos, as


dele sobem até meus seios descobertos, me levando ao limite.

Ao atingir o clímax, deito a cabeça na cama tentando controlar a


respiração ofegante, após alguns segundos esperando minha
recuperação, Gabriel se senta na cama nu e me convida a se sentar
sobre suas pernas.
Sorrindo, me levanto e aproximo nossos corpos, envolvo seu
pescoço com as mãos e puxo sua cabeça para aproximar nossos
lábios, gosto de estar no controle, mas são pouca as vezes que
Gabriel deixa isso acontecer, mas não posso negar que também
amo quando ele tem o controle nas mãos.

— Venha querida, monte o seu querido namorado! — diz com


um sorrido safado nos lábios.

— Deus, é surpreendente a sua maneira de deixar o lado


carinhoso e acionar o lado pervertido. — Brinco balançando a
cabeça enquanto rio.

— É, mas sei que minha bela namorada gosta da mistura de


carinho e safadeza. — Beija minha boca puxando minha cintura
para me sentar em seu colo.

Enquanto nossos lábios estão colados num beijo ardente, me


ajeito em seu colo com sua ajuda, Gabriel segura meus quadril me
guiando nos movimentos, não conseguimos mais ouvir a batida da
música que tocava lá fora, o quarto é preenchido apenas pelos sons
de nossos gemidos e corpos se encontrando.

Depois de uma maratona de sexo quente nos preparamos para


deixar o clube, enquanto Gabriel termina de vestir a camisa, eu
coloco o vestido e os saltos novamente.

Pego minha máscara e a coloco no rosto enquanto Gabriel


também faz o mesmo, ele pega a gargantilha e a prende de volta
em meu pescoço, terminando de se vestir saímos juntos do quarto
encontrando vários outros casais no corredor.

De mãos entrelaçadas descemos os lances de escadas em


direção ao caminho que fizemos antes, o ritmo da outra sala
continua quente com várias pessoas praticando BDSM com outras.

Quando estamos chegando os pares de portas que levam a


saída uma mulher ruiva vem em nossa direção.
— Mestre, que prazer vê-lo novamente! — franzo o cenho
quando ela se curva em frente a Gabriel numa gesto submisso.

Por um segundo penso que ela deve estar confundido ele com
outro homem, mas sei que isso não é verdade pois sinto Gabriel
enrijecer ao meu lado.

— Quem é ela Gabriel? — pergunto o encarando, mas ele não


me olha, apenas diz a mulher:

— Amélia, se levante por favor, e não me chame desse jeito,


deixei de ser o seu mestre a muito tempo!

Ela era a submissa dele?

Ainda confusa observo a aparência da mulher, é jovem, e


mesmo usando uma máscara vermelha consigo ver os seus olhos
claros.

— Eu sei, mas velhos hábitos são difíceis de se mudar. — Ela


sorri.

— É a sua nova Submissa? — ela aponta se referindo a mim e


quando estou quase respondendo Gabriel me interrompe:

— Amor, essa é Amélia minha última submissa, Amélia essa é a


minha...

— Noiva! — digo e pelo canto do olho vejo que Gabriel me


encara.

Sei que posso estar exagerando, mas sei que qualquer uma
seria capaz de fazer a mesma coisa estando no meu lugar...
Capítulo 28
GABRIEL

Confesso que encontrar Amélia hoje neste clube me


surpreendeu, mas parte de mim não estaria tão surpreso já que ela
também é do mesmo mundo do que eu.

Amélia foi minha última submissa antes de conhecer Julia,


ficamos juntos até o prazo do contrato de encerrar e cada um seguiu
sua vida depois disso.

Sempre foi uma boa submissa, até boa demais para mim, mas
ela foi uma das mulheres passageiras que fizeram parte do meu
passado, desde o encerramento do contrato Amélia sempre insistia
em querer mais, não era o mesmo homem que sou hoje naquela
época.

Até pensava que ela tinha adquirido sentimentos por mim, então
fiz o que tinha que fazer e não alimentar falsas esperanças e não a
iludir.

E como uma revira volta do destino, aqui estou eu, apaixonado


por uma garota, coisa que prometi não fazer depois da morte de
Maya.

Não era a minha intenção se apaixonar pela Julia, apenas


aconteceu, meus planos para ela eram outros, e não envolviam
amor e sentimentos um pelo outro.

Antes de se apaixonar por ela queria apenas levá-la para minha


cama e saciar o maldito desejo que ela provocava toda vez que
desafiava, queria apenas dominá-la como nem um outro fio capaz
de fazer.
Mas percebo o soco que a vida me deu, me apaixonei pela
garota, me apaixonei pela pessoa que prometi não amar.

Sabia que Julia ficaria com ciúmes de Amélia, estava certo pois
minha namorada começa a marcar território e não ouso negar que
estou adorando ver isso.

Os ciúmes que ela sentiu foi tão grande que até se apresentou
como minha noiva para Amélia, e ao ouvir isso algo se acendeu em
meu coração.

Parte de mim começa a querer isso, a querer como minha noiva


e futuramente se tornar minha esposa, mas não consigo pensar
nisso sem lembrar da minha relação com Maya.

Prometi deixar o passado no passado e focar no futuro que


tenho pela frente, mas isso se torna quase impossível quando se
tem um passado tão turbulento como o meu.

Deixo os pensamentos de lado e me foco no presente, depois de


ouvir que Julia é minha noiva vejo a expressão de Amélia mudar.

Todas querem isso, querem algo a mais, mas naquela época


isso era uma coisa pela qual não estava pronto.

— Meus parabéns, até breve! — ela diz com um aceno de


cabeça se afasta seguindo para o outro salão.

Suspiro e ainda de mãos entrelaçadas seguimos para a saída do


local.

— Por que não me contou sobre sua última submissa? — ela


pergunta quando passamos pelas portas refazendo o caminho que
fizemos mais cedo.

— Porque é passado amor, achei que não queria ouvir sobre os


meus casos antigos.
— Você está certo, eu não quero ouvir. — Julia maneia a cabeça
fazendo uma careta.

— Mas parece que ela ainda gosta de você! — ela diz quando
passamos pelos seguranças seguindo até o estacionamento do
local.

— Sim, mas isso não importa. — Digo beijando sua testa antes
de abrir a porta do carro e ajudá-la a entrar.

Enquanto dirijo pela cidade, pelo canto do olho vejo Julia


pensativa com a cabeça encostada no vidro da janela do carro.

— Gostou da noite de hoje? — pergunto e viro a cabeça para


observar seu rosto rapidamente.

— Adorei, mas conhecer sua ex submissa não me agradou. —


Sorrio vendo sua careta.

— Que horas Scarlett e Anthony vão nos visitar amanhã?

— Provavelmente antes do almoço — digo lembrando dos meus


velhos amigos.

A história de amor dele e a nossa chega a ser irônico, Anthony


também apresentou o mundo de BDSM a Scarlett que logo aceitou,
prometeram não se envolver emocionalmente, mas se apaixonaram,
como aconteceu com nós.

Se casaram e logo descobriram a gravidez do único filho deles, e


até hoje são felizes na união.

Quando finalmente chegamos ao apartamento seguimos


diretamente para o meu quarto, Julia suspira e se senta na cama
para se livrar dos saltos.

Sorrindo, abro os botões da camisa que uso e me aproximo de


minha namorada, puxo sua cintura a forçando a se levantar.
Beijo sua testa e enlaço sua cintura com as mãos enquanto enfio
o rosto em seu pescoço.

— O que acha de relaxar um pouco? — proponho, mas ela


levanta a cabeça e diz:

— Querido, eu te amo, mas estou exausta, quero apenas dormir


ao seu lado, podemos deixar a maratona de sexo para amanhã. —
diz bocejando, mas começo a gargalhar.

— Quando disse relaxar, não estava me referindo a sexo amor,


acha que penso nisso o tempo todo? Também sei ser carinhoso e
cuidadoso quando quero. — Beijo seus lábios de leve.

Retiro a gargantilha de seu pescoço e a guio até o banheiro, me


livro de todas as roupas, enquanto Julia também se despe, abro a
torneira e deixo a banheira se encher por completo.

Abro um dos armários e pego sais de banho e os coloco na


água, quando me viro vejo Julia completamente nua, fecho a
torneira e a ajudo a entrar na banheira cheia.

Também entro na banheira me ajeitando atrás de seu corpo, com


cuidado a aproximo até sua cabeça se encostar em meu ombro.

Pego os seus pulsos e observo as marcas vermelhas causadas


pelas algemas, massageio sua pele sentindo culpada por machuca-
la, Julia percebe meu olhar fixo em seus braços e diz:

— Estou bem, não precisa sentir culpa Gabriel, eu gostei. —


Admite com as bochechas cotando pela vergonha que está
sentindo.

— Minha namorada perfeita! — beijo seus cabelos amarrados


em uma coque alto que ela fez antes de entrar na banheira.

Julia suspira e fecha os olhos com a cabeça apoiada em mim,


pego o sabonete líquido e uma esponja numa prateleira ao lado e
começo a lavar seu corpo.

Por instinto minhas mãos pousam em sua pequena barriga, e


sinto meu coração se encher de alegria e amor, me fazendo amar
Julia mais do que já amo.

Um homem frio e arrogante se tornou um homem carinhoso e


apaixonado, lembro bem de quando vi Julia pela primeira vez, de
quando a salvei de ser atropelada no seu primeiro dia na
Universidade.

De quando a tratei mal, mas ela revidou, minha menina sempre


foi teimosa e sempre gostou de me provocar e desafiar, poucas
pessoas fazem isso comigo, e isso foi um dos milhões de detalhes
que amo nela.

— Estou ansioso para ver nosso filho no primeiro ultrassom! —


digo acariciando sua barriga.

— Também estou!

— Estou ansioso para descobrir o sexo, presenciar sua barriga


crescer nos próximos meses, segurar sua mão no parto, ver o rosto
do nosso filho, e segurá-lo pela primeira vez.

Julia vira a cabeça para me olhar e logo percebo seus olhos


escuros marejados por lágrimas, acaricio seu rosto com as pontas
dos dedos.

— A vida que tenho hoje não foi planejada, não estava nos meus
planos, mas você é tudo o que eu mais quero agora, quero construir
uma linda família com você, e envelhecer ao seu lado, porque eu te
amo Gabriel, e sempre vou amar.

As únicas vezes que me permito chorar são quando as


lembranças voltam à tona, mas uma fina lágrima cai dos meus
olhos, uma lágrima de felicidade, porque tenho a pessoa que amo, e
dois filhos em minha vida, e finalmente posso dizer que encontrei
minha felicidade perdida a anos, e que hoje sou feliz...

Capítulo 29
JULIA

Abro os olhos tentando me acostumar com a claridade do quarto,


me viro na cama vendo que Gabriel já se levantou, quando me
sento na cama a náusea matinal me ataca.

Cubro a boca com mas mãos e corro até o banheiro encontrando


Gabriel no chuveiro, e assim que me ver de joelhos no vaso vem até
mim com uma toalha em torno da cintura.

Respiro fundo e fecho os olhos tentando expulsar o enjoo do


meu organismo, quando finalmente acabo dou descarga e me
levanto com ajuda de Gabriel.

Enquanto escovo os dentes Gabriel sai do banheiro e volta


depois de alguns minutos trazendo meu remédio e um copo de
água, pego uma pílula e a engulo com a ajuda da água.

— Obrigada.

— Melhor? — ele me abraça e deposita um beijo em minha


testa.

Balanço a cabeça confirmando o vendo terminar seu banho


enquanto continuo com minhas higienes matinais.

Uma hora depois e de banho tomado pego meu celular em cima


da cômoda do quarto e vejo o horário, ainda é cedo mesmo que
tenhamos acordado mais tarde do que o de costume. Fiquei no
quarto terminando de me ajeitar enquanto Gabriel está na cozinha
preparando o café da manhã.

Vejo que há uma ligação não atendida de Sam de ontem à noite,


procuro seu contato e decido ligar para ela.
E minha amiga atende após alguns segundos com sua
costumeira voz alegre:

— Julia, meus deus, você sumiu amiga, está tudo bem?

— Estou bem, o trabalho está tomando muito do meu tempo,


mas e você? Chegou de viagem?

-Sim, chegamos há alguns dias, sinto sua falta Julia.

Sam é minha melhor amiga é nem está sabendo dos últimos


acontecimentos de minha vida, ela sempre foi minha confidente, a
pessoa que sempre contei tudo, mas isso parece ter mudado.

Lembro que estava querendo lhe contar sobre minha gravidez,


mas Sam estava numa viagem com a família, mas essa parece a
oportunidade perfeita para contar.

— Também estou com saudades Sam, podemos nos ver


amanhã, o que acha? — proponho esperando sua resposta.

— Isso é ótimo Ju, pode ser no Palestrini ao meio-dia?

Palestrini sempre foi o nosso restaurante preferido,


costumávamos almoçar lá antes da Universidade, localizado numa
área calma da cidade esse parece ser o lugar perfeito para
conversarmos.

A porta do quarto se abre revelando Gabriel, e ao perceber que


estou em uma ligação faz um gesto e sussurra:

— Minha mãe está aqui e quer vê-la...— aceno com a cabeça e


digo que já estou descendo.

— Perfeito Sam, tenho que desligar, nos vemos amanhã,


beijos...
Encerro a chamada e corro para o banheiro ajeitar minha
aparência, ainda é cedo, mas estou usando um vestido florido que
deixei no apartamento de Gabriel a alguns dias.

O modelo é bonito e confortável, perfeito para o dia caloroso de


hoje, prendo meus cabelos num coque no alto da cabeça e saio do
quarto.

Desço as escadas ouvindo vozes e o som inconfundível das


risadas alegres de Eve, caminho até a sala de estar vendo Gabriel e
sua mãe.

Elisabeth se vira ao notar minha presença e vem até mim com


um enorme sorriso nos lábios.

— Querida, linda como sempre, como está? - beija meu rosto e


me abraça.

— Bem, obrigada. — Agradeço voltando minha atenção a Eve


que corre até mim usando um vestido vermelho.

— Mamãe! — sorrindo me agacho recebendo seu pequeno


corpo em meus braços.

— Estava com saudades, lindinha! — beijo suas bochechas.

Levanto a cabeça percebendo que Gabriel e Elisabeth nos


encaram sorrindo.

— É encantador ver o quanto Eve ama você Julia, estou ansiosa


para ver meu outro netinho junto com a família.

— Estamos todos ansiosos para isso mãe, o primeiro ultrassom


de Julia acontecerá em poucas semanas! — Gabriel diz num tom
eufórico e orgulhoso.

— Isso é maravilhoso filho, queria ficar mais algumas horas com


vocês, mas infelizmente tenho que resolver alguns compromissos
no centro da cidade. — diz abraçando Gabriel que também retribui o
carinho.

— Fique bem, querida! — beija meu rosto novamente antes de


acariciar minha barriga por cima do vestido.

Eve também se despede da avó e logo Elisabeth se vai,


seguimos para a cozinha com Eve e nos juntamos na mesa.

Após o café da manhã passei horas brincando com Eve na sala


enquanto Gabriel resolvia alguns problemas da Empresa que
precisava de sua atenção, mas faltando apenas duas horas para o
horário do almoço me junto a Gabriel para o ajudar a preparar o
almoço.

Depois de meia hora o porteiro do prédio anuncia que um casal


deseja subir, Gabriel libera a subida de Scarlett e Anthony, e juntos
seguimos para a sala enquanto a comida termina de ser assada no
forno.

Gabriel atende o casal na porta e os convida a entrar no


apartamento, Anthony e a esposa cumprimentam Gabriel com um
abraço e aperto de mãos.

Percebo que um lindo garotinho está de mãos dadas com


Scarlett, e logo presumo que ele seja o filho do casal.

Me aproximo e assim que os olhos claros de Scarlett se fixam


em mim seus lábios sem abrem em um enorme sorriso.

— Julia! — exclama e me abraça.

Ela está um pouco diferente desde a última e única vez que a vi


naquela festa, mas continua deslumbrante, os cabelos dourados
estão mais curtos, está usando um vestido preto realçando sua
beleza natural.

— Que bom te ver novamente, como está?


— Estou bem, e você?

— Ótima, já faz alguns meses desde que nos conhecemos,


vocês sumiram! — ela diz intercalando o olhar entre mim e Gabriel.

Enquanto Gabriel conversa algo com Scarlett, Anthony vem até


mim me cumprimentando com um beijo no rosto.

Ele também não é diferente da esposa, os cabelos negros fazem


contrate com a pele morena e os olhos verdes.

— Anthony, como vai? — pergunto sorrindo, mas sinto meu rosto


corar quando as lembranças voltam à tona.

De quando Gabriel e eu frequentamos a mansão do casal, e das


cenas que eles estavam fazendo em público naquela noite.

— Bem, obrigado, esse é nosso único filho, Tyler.

Olho para o lindo menino semelhante ao pai, lembro que Gabriel


disse que ele tinha uma ano e cinco meses, mas hoje já deve ter
completado dois anos.

—Oi, Tyler! — digo beijando a bochecha do garotinho que sorri.

— Oi... — diz sorrindo com as bochechas coradas.

Gabriel também se aproxima e pega o garotinho o levantando


nos braços, a criança gargalha enquanto recebe cócegas.

Percebo a ligação forte que Gabriel tem com o garotinho, a


criança também parece gostar muito do garoto.

—Como vai amiguinho? — abraça Tyler que presumo estar


aprendendo a falar.

— Eve, querida, venha cá! — Gabriel chama a filha que logo se


junta a nós.
— Lembra de nós, lindinha? — Anthony abraça Eve que também
retribui.

— Meu deus, quando te vi pela última vez você ainda estava


aprendendo a falar assim como Tyler! — Scarlett beija Eve.

— Venham, o almoço está quase pronto! — Gabriel convida


todos para a sala de estar.

— Trouxemos vinho, onde posso colocar Gabriel? — Anthony


pergunta mostrando a garrafa e entregando a Gabriel.

Gabriel coloca Tyler no tapete e Eve logo se junta para brincar


com o garotinho, e observar essa cena me faz imaginar o nosso
filho brincando assim com a irmã mais velha.

Sentada no balão perto da cozinha junto a Scarlett observamos


Gabriel e Anthony pegarem taças e o vinho.

— Desculpe, não posso beber álcool — nego quando ele tenta


me servir uma taça com vinho.

— Aí meu deus, está grávida? — me viro para Scarlett que


espera minha reposta com uma expressão ansiosa no rosto.

Olho para Gabriel que concorda com a cabeça sobre dar a


notícia da gravidez.

— Sim, descobri a algumas semanas! — comento sorrindo.

— Parabéns! — Scarlett me abraça mais uma vez e penso que


tenho que me acostumar com seus abraços repentinos.

Anthony também nos parabeniza e abraça Gabriel que também


retribui sorrindo.

— Essa é uma notícia que precisa ser comemorada — Anthony


diz me entregando uma taça com suco.
Todos levantam a taça num brinde, e Anthony diz a Gabriel num
tom de brincadeira:

— Parabéns amigo, que venham muitas noites em claro e muitas


fraldas para trocar! — ele rir dando tapinhas no ombro de Gabriel.

— Sei que você não cuidou de Eve quando ela era recém-
nascida Gabriel, mas Anthony tem razão, se preparem papais! —
ela sorri.

— Ser mãe é uma das melhores sensações do mundo Julia, mas


vai mexer muito com sua cabeça no início, precisará de muita
paciência e dedicação. — Ela diz e aponta para Tyler que brinca
com Eve.

— Quando Tyler nasceu senti que estava enlouquecendo, ele


chorava o tempo todo e quase nunca dormia de noite, simplesmente
trocava o dia pela noite.

Ao ouvir isso, lembro que Gabriel não conseguiu cuidar e


acompanhar o nascimento e crescimento de Eve, ou seja, ele nunca
cuidou de um bebê, já que Eve tinha idade suficiente quando Maya
morreu.

Isso também será um nova experiência para ele, e posso


imaginar como será difícil, também entendo sua ansiedade e
felicidade em relação ao bebê, ele quer ter a chance de fazer algo
que não conseguiu fazer quando Maya estava grávida, ele quer ter
as experiências que não teve quando deixou Maya.

Ele quer ser o pai perfeito, um pai presente na vida dos filhos,
ele quer fazer as escolhas certas desta vez, e quero estar lá para
acompanha-lo nas decisões difíceis...
Capítulo 30
JULIA

Depois do almoço Anthony e eu estamos sentados no balão da


cozinha segurando um copo de whisky, enquanto as mulheres e
crianças permanecem conversando na sala.

Conheço Scarlett e Anthony a alguns anos, os conheci quando


estava entrando no mundo BDSM e depois disso viramos amigos,
até posso dizer que são os meus melhores amigos.

Conheço Scarlett o tempo suficiente para saber que ela


realmente gostou de Julia, e ao ouvir a felicidade da minha
namorada vejo que isso é recíproco.

São meus amigos, mas não sabem de todo meu passado,


sabem apenas o básico que contei sobre minha história, contei que
minha ex-mulher faleceu me deixando uma filha.

As únicas pessoas que sabem de tudo são minha família e Julia,


as únicas pessoas que sabem da minha história trágica.

No almoço a algumas horas antes e depois de saberem sobre a


gravidez de Julia, Scarlett não parou de contar sobre como foi sua
gravidez de Tyler e depois do nascimento do pequeno.

Disse que no início Tyler foi um bebé difícil de se lidar quando


era recém-nascido, o pequeno quase nunca dormia de noite e
chorava bastante quase os levando a loucura.

E ao ouvir os relatos me perguntei se isso acontece com todos


os bebês, se isso acontecerá conosco, infelizmente não tive o
prazer de presenciar o nascimento de Eve.
E isso torna tudo mais difícil, quando Maya morreu minha filha já
tinha idade suficiente para deixar de ser um bebê, me sinto como se
fosse ser pai pela primeira vez, pois não sei o que fazer.

Mas nunca mais cometerei os mesmos erros que cometi no


passado, dedicarei bastante esforço para ser uma bom pai para
nosso filho, uma nova chance apareceu em minha frente, uma
chance de mudar e fazer escolhas certas.

— Você gosta mesmo dela, não é? — Anthony me pergunta e


desvio meus olhos de Julia para encarar meu amigo.

— Eu a amo Thony, amo demais! — digo levando o copo com a


bebida de cor âmbar até os lábios e ingerindo um pequeno gole.

— Sei como é, conheço esse sentimento, também amo minha


esposa, e amo saber que nosso amor construiu uma pequena
família. — diz apontando para a esposa e Tyler.

— É como se ela caísse do céu para consertar minha vida, me


trazer a felicidade novamente, e vou fazer o possível para ser uma
bom pai para nosso filho.

— Você já é um bom pai Gabriel, seu outro filho também saberá


disso.

Vejo o pequeno Tyler se levantar do tapete e caminhar até o pai,


Anthony sorrir e pega o filho nos braços.

E logo me imagino fazendo o mesmo depois de alguns meses,


desde que Tyler nasceu criamos uma ligação forte, amo aquele
baixinho como se fosse parte da família.

— Quem é o garotão do papai, hein? — diz beijando o rosto do


filho que solta risadas fofas.

Mesmo estando feliz, não deixo de lembrar que se estivesse feito


escolhas certas meu filho também estaria aqui comigo, não estaria
morto como sua mãe.

Quando olho para Eve imagino seu irmã com ela, imaginado que
tudo seria diferente se eles estivesse aqui.

Era uma criança, não merecia pagar pelos meus erros, ele era
apenas uma criança inocente a caminho de conhecer o canalha do
próprio pai que o rejeitou.

Balanço a cabeça tentando afastar os pensamentos depressivos


que rondam minha mente.

— Deixou os clubes e festas por causa dela? — pergunta


balançando Tyler sonolento no colo.

— Sim, aquilo já não tinha tanta importância como antes.

Rindo Julia vira a cabeça encontrando meu olhar, meu coração


se aquece quando vejo os olhos escuros brilhantes e as bochechas
coradas, simplesmente perfeita.

Nunca pensei que fosse capaz de sentir isso novamente, amar


outra pessoa depois de Maya, mas ela me mudou, me mudou por
completo.

Minha mulher perfeita...

Scarlett e Anthony permaneceram por mais duas horas em casa


e depois tiveram que ir, Scarlett convidou Julia para fazer compras
para o bebê, já o meu amigo disse que nos entregaria um presente
para o na próxima vez que nos encontrar.

Depois da saída deles Julia e eu percebemos a expressão


desanimada de Eve, percebemos que fosse talvez por causa de
Tyler.

Minha pequena adorou brincar com o garotinho mesmo ele


sendo muito mais novo que ela, e sendo a mãe perfeita que é, Julia
conversou com Eve dizendo que ela só precisaria esperar os meses
se passarem para ter o próprio irmãozinho para brincar.

E como esperado, Eve ficou animada com a possibilidade


dizendo que seria uma boa irmã.

Passamos a tarde toda na companhia de Eve, é claro que tinha


milhares de coisas para fazer relacionado ao trabalho, mas me
permitir deixar o resto do dia dedicado à nossa família.

JULIA

Gabriel foi para o quarto enquanto eu fiquei e coloquei Eve na


cama que dormiu depois de uma longa história sobre princesa que
inventei em minha cabeça.

O dia de hoje foi bastante agradável, tivemos um bom almoço na


companhia de bons amigos e aproveitamos a tarde toda juntos.

Envio uma mensagem para minha mãe avisando que dormirei no


apartamento de Gabriel nesta noite, e que amanhã voltarei para
casa.

Sigo para o quarto de Gabriel o encontrando na cama com o


notebook no colo, me aproximo vendo seus olhos azuis se fixarem
em mim depois de perceber minha presença.

— Tudo bem? — pergunto apontando para o computador que


ele logo desliga e o coloca sobre o criado mudo.

— Sim, são só problemas relacionados a Empresa, mas podem


esperar até segunda. — Puxa minha mão me fazendo sentar ao seu
lado.

— Amanhã vou ao centro da cidade almoçar com uma amiga,


ok?

— Posso ir junto se quiser.


— Não precisa, aconteceram muitas coisas em minha vida
atualmente e tenho que conversar com alguém sobre isso, ela é
minha melhor amiga e nem está sabendo da metade. — Digo
suspirando pensando em como conto para Sam sobre a gravidez.

Na última vez que conversamos contei sobre minha relação com


Gabriel e que estávamos envolvidos, ela sabe apenas disso.

— O que foi? — Gabriel pergunta me puxando de encontro ao


seu corpo.

— Sam é minha melhor amiga e nem sabe dos últimos


acontecimentos e que estou grávida, como eu conto isso? —
suspiro deitando minha cabeça no ombro dele.

— Ela talvez fique magoada por você não contar antes, mas
tenho certeza que ela entenderá, é aquela moça que você estava
conversando na Universidade?

Relembro de quando Gabriel e Eve foram me buscar na


Universidade, aquela foi a única vez que Sam viu Gabriel
pessoalmente.

— Sim, ela está louca para te conhecer, até já me perguntou se


você tem algum irmão solteiro! — gargalho lembrando das palavras
de Sam quando ela viu Gabriel.

— Perfeito, ela e Jacob dariam um bom casal, meu irmão precisa


largar aquela vida sem vergonha que ele leva.

Também lembro da conversa que tive com Jacob, ele está


apaixonado por uma mulher proibida e que não o ama, ninguém
merece passar por isso, até que Gabriel tem razão, eles combinam.

— Você reclama do seu irmão, mas você também levava uma


vida sem vergonha, esqueceu que me levou num clube de sexo
ontem? — levanto uma sobrancelha encarando.
— Levei porque minha namorada safada me pediu para levá-la.

Beijo seus lábios sentindo suas mãos subirem até a barra do


vestido que uso, mas afasto nossas bocas e suas mãos do meu
corpo.

Me levanto da cama e deslizo o zíper do vestido que uso, Gabriel


franze a testa, mas sorri quando entende o que estou prestes a
fazer.

Retiro o vestido e as peças íntimas seguindo para o banheiro


sentindo o olhar de Gabriel em mim.

Antes de entrar paro na porta e me viro para lhe dizer:

— Você vem, amor? - o convido para se juntar a mim no banho...


Capítulo 31
JULIA

Acordei mais cedo do que o de costume hoje, e agora perto do


horário de almoço estou terminando de me arrumar para encontrar
Sam no nosso restaurante preferido.

É claro que Gabriel insistiu em me acompanhar, mas neguei


novamente, pois preciso desabafar com alguém sobre minha vida, e
a pessoa perfeita para isso é Sam.

Passei horas pensando em como contar para minha amiga sobre


os últimos acontecimentos de minha vida, e como será sua reação
sobre minha gravidez repentina.

Conheço minha amiga e sei que ela me dará uma bronca,


alegando que eu poderia ter me cuidado melhor e que está muito
cedo para uma filho.

Mas também sei que no final ela ficará feliz por mim, sempre foi
assim desde quando nos conhecemos, ela é amiga protetora e que
adora dar sermões, mas sei que ela me ama e faz isso para tentar
me ajudar.

Mais cedo mandei uma mensagem para Fernando perguntando


se ele estava bem, e minutos depois veio sua resposta, disse que
está bem e terá alta no início da tarde.

Fiquei feliz e muito aliviada pelo meu amigo, desejando não


passar por esse susto nunca mais em minha vida, ele também me
perguntou se poderia me ver, confesso que pensei muito sobre isso
e na reação de Gabriel com seus ciúmes sem sentindo.
Mas ele é meu melhor amigo, e não posso abandonar nossa
longa amizade por causa de Gabriel, e na última vez que encontrei
Fernando ele não gostou muito.

Ainda não sei o que fazer sobre isso, talvez mais tarde eu pense
no que fazer, suspiro e término de me vestir.

Organizou minha bolsa com todos os meus pertences pois


depois do encontro com Sam eu voltaria para casa e talvez passaria
na Universidade para resolver como ficará meus estudos daqui em
diante.

Como estou sem carro hoje, Gabriel insistiu em me levar até o


restaurante e depois levará Eve para passear no parque da cidade,
e que se precisasse ele me levaria para casa.

Pego minha bolsa e saio do quarto seguindo para a sala de estar


encontrando Gabriel e Eve sentados no imenso sofá.

— Pronta? — ele pergunta ao notar minha presença no


ambiente.

— Sim.

— Não vai passar o dia com a gente, mamãe? — Eve diz e se


levanta do sofá seguindo em minha direção.

— Sinto muito pequena, mas tenho que encontrar uma amiga e


depois vou para casa.

O rosto de Eve é tomado por uma expressão desanimada, e logo


fico triste por desaponta-la, em tão pouco tempo criei uma ligação
forte com a garotinha e a amo demais.

— Porque você não pode morar aqui com a gente, mamãe? —


pergunta me olhando fixamente com os lindos olhos azuis e me
deixando totalmente rendida.
Abro a boca para lhe explicar o que também não sei dizer, não
sei como explicar isso a pequena que continua me encarando
esperando minha resposta.

— A mamãe pode morar com a gente né, papai? Assim ela


ficaria sempre bem pertinho de nós! — diz com a voz alegre ao
pensar na possibilidade.

Vejo Gabriel também se levantar do sofá e vim para perto da


filha que ainda continua esperando a resposta.

— Claro que pode, seria muito bom ter a mamãe por perto, não é
meu amor? — abraça a filha e começa a me encarar.

Como explicar isso?

Ele também quer que eu me mude para cá, mas ainda não estou
pronta para dar um passo tão grande como esse, eu os amo, mas
não posso fazer isso ainda.

— Eu... — começo a dizer, mas sou interrompida pela pequena:

— É por que você não é casada com o papai? Papai, por que
você ainda não pediu a mamãe em casamento?

Jesus, como pode uma criança ser tão esperta mesmo sendo tão
nova?

Gabriel arregala os olhos azuis e fica sem reação assim como


eu, pigarreio e logo digo:

— É que moro com meus pais e minha mãe fica sempre sozinha
quando meu pai fica o dia todo trabalhando, então tenho que fazer
companhia para ela, entende? — digo a primeira coisa que vem em
minha mente.

É claro que minha mãe não liga em ficar sozinha em casa, ela
até já se acostumou com isso.
— Sim, mas algum dia você vai se casar com o papai e morar
com a gente, né?

— Sim querida, se ela quiser ela pode morar com a gente, agora
vamos ou a mamãe vai se atrasar para encontrar a amiga. —
Gabriel responde por mim e sorrio aliviada.

No carro, fico o caminho todo pensando nas palavras de Eve, em


como seria minha vida casada com Gabriel e morando em seu
apartamento.

Em breve teremos um filho e talvez seja melhor se mudar para o


apartamento já que ele é o pai do nosso filho, mas ainda é cedo
para isso.

Falo para Gabriel o endereço do restaurante e quando


chegamos ele estaciona o carro.

— Tem certeza de que não quer nossa companhia? — ele


pergunta levantando uma das sobrancelha loira.

— Tenho, tchau! — beijo seus lábios, mas ele interrompe:

— Vou levar Eve ao shopping depois do parque, você poderia ir


com a gente, eu te busco aqui, só basta me ligar.

— Podemos dar uma olhada nas lojas de bebês se quiser e


depois te levo para casa. — diz sabendo que não vou resistir.

Fixo meus olhos em Eve que também me olha esperançosa, os


dois sabem conseguir o que querem.

— Ok, te ligo depois! — beijo sua boca novamente e me


despeço de Eve.

Sigo em direção a entrada do estabelecimento e entro, há várias


pessoas almoçando nas mesas espalhadas pelo restaurante e logo
encontro Sam sentada numa mesa perto da janela, o mesmo lugar
que costumávamos ficar quando vínhamos aqui.
Minha amiga está perfeita como sempre, os longos e ondulados
cabelos loiros estão soltos emoldurando o rosto e olhos claros.

Quando me aproximo vejo seus olhos se fixarem em mim e um


sorrido se abrir em seus lábios.

— Julia! — diz se levantando e vindo até mim me enlaçando


num abraço apertado, retribuo o carinho pensando em como iniciar
essa conversa.

— Está linda como sempre, Sam!

— Obrigada amiga, você também está maravilhosa. — Pega


minha mão me puxando até a mesa.

Um garçom vem para anotar nosso pedido, pedimos dois sucos


de laranja e refeições leves, e quando ele se afasta os olhos claros
de Sam pousam em mim.

— Estava com saudades, mas como está a vida? Ainda está


com o CEO gostosão? — diz com um sorriso maroto nos lábios.

É agora que começo a contar?


Capítulo 32
JULIA

O garçom chega com nossas bebidas e isso me permite pensar


mais alguns segundos antes de responder à pergunta de Sam.

Bebo um longo gole do suco gelado tentando matar minha


ansiedade, ainda não sei se ela ficará magoada comigo sobre isso,
mas preciso seguir em frente.

— Sim, ainda estou com Gabriel, nosso relacionamento está


ficando sério.

— Sério? Fico feliz amiga, mas ainda sendo a submissa dele? —


Sam pergunta levantando uma sobrancelha.

— Não, ele deixou esse mundo por minha causa, estamos


namorando.

— Hum, ele parece ser uma boa pessoa, está morando com ele?

Bebo mais um gole da bebida, a pergunta de Sam me faz


lembrar das palavras de Eve novamente.

— Ainda não, mas talvez em breve isso aconteça, quero te


contar uma coisa, mas tenho medo de que você fique magoada por
não te contar mais cedo, aconteceu tudo muito de repente e não
consegui contar antes.

— Pode me contar agora, sou sua amiga Ju, posso até ficar
magoada, mas eu te amo e será passageiro. — Ela bebe um gole
do suco e respiro fundo antes de contar.
— Estou grávida...— digo vendo que Sam começa a tossir e logo
uma crise de riso começa.

— Grávida? Está brincando, não é? — ela rir, mas nego com a


cabeça o que faz seu sorriso se desfazer.

— Uau, nunca pensei que isso fosse acontecer tão cedo assim.

— Eu sei, também não achei, meus planos eram outros, mas


vejo que isso pode mudar tudo.

— Está grávida e não mora com ele? Ele rejeitou o bebê, é isso?
Porque eu juro que mato ele...

— Não, ele até quer que eu mude para o apartamento dele, mas
não me sinto pronta. — Digo e ela me olha como se achasse que
sou louca.

— Pelo amor de deus Ju, você está grávida e gosta dele, e ainda
não se sente pronta? — pergunta e nego com a cabeça novamente.

— Acho que não estou pronta para dar esse passo.

— Acha? Julia, vocês vão ter um filho, esse é o maior passo,


morar com ele é só consequência do que sentem um pelo outro.

— Seus pais sabem da gravidez?

— Sim, fizemos um jantar e contamos para eles.

— Como reagiram? — pergunta amarrando os cabelos loiros


num rabo de cavalo.

— Bem, você sabe como minha mãe é, ela reagiu bem, meu pai
não, mas depois tudo ficou bem e ele também está feliz.

— Meus deus, eu vou ser tia, já fez o primeiro ultrassom?


— Ainda não, será daqui poucas semanas, a gravidez é muito
recente.

— Como ficará seus estudos, Julia?

— Ainda não sei, talvez eu tranque o curso quando o bebê


nascer ou continuo fazendo a distância.

— Cursar Administração sempre foi seu sonho amiga, você lutou


muito para entrar naquela Universidade, não desista do seu sonho
assim, o pai de seu filho é um CEO muito famoso, ele até pode
ajudar no crescimento de sua carreira.

— Nunca pensei que tudo isso aconteceria na minha vida...

— Entendo, mas nem sempre os planos que fazemos se


realizam, mas está feliz, não é?

— Sim, estou muito feliz Sam, eu o amo demais, também amo a


filha dele.

— E quando eu vou conhecê-lo? Ele tem um irmão? — dou


risada de sua expressão maliciosa.

— Ele vai me buscar daqui a pouco, talvez você o conheça, e


sim, ele tem dois irmãos, o mais novo já tem namorada.

— E o outro?

— Jacob? Ele é uma ótima pessoa, mas não sei se você aprecia
os gostos dele.

— Também prática BDSM? — pergunta franzindo a testa e


gargalho antes de contar:

— Não, ele faz parte do mundo de Swing.

— Sério? E quando vou conhecê-lo?


— Meu deus, você não perde tempo, não é?

— Amiga, você tem um cunhado lindo e solteiro que curte


safadezas e acha que não vou me interessar?

Depois que o nosso almoço chega, Sam e eu conversamos


sobre sua viagem com a família e como anda sua Faculdade.

Também perguntei sobre sua vida amorosa, mas ela alegou que
ainda não conheceu ninguém que vale a pena ficar, Sam sempre foi
o contrário de mim, ela sempre foi a popular, a que todos os garotos
queriam ficar.

Depois de almoçar ligo para Gabriel avisando que já poderia me


buscar, dizendo que chegaria em poucos minutos, Sam e eu
esperamos ele no estacionamento do restaurante.

Após chegar no estacionamento, observamos Gabriel descer do


carro e se aproximar.

— Você deve ser a Samanta, prazer! — Gabriel estende a mão


em cumprimento.

— Prazer, mas se magoar minha amiga eu mato você! — aperta


a mão de Gabriel que rir.

— Pode deixar.

Sam também conhece Eve e antes de entrar no carro ela me


puxa e diz:

— O cara é muito gostoso e você ainda não mora com ele? O


que você tem na cabeça Julia?

Ao chegar no shopping, levamos Eve para lanchar e depois


seguimos para as lojas de roupas infantis.

Enquanto ajudo Eve a escolher peças de roupas novas para seu


guarda-roupas vejo que Gabriel segue para a parte de recém
nascidos.

E volta minutos depois com várias peças nas mãos, sorrindo ele
pega uma body branco e me mostra.

— Adorei esse! — diz mostrando a estampa do body.

"Sou do papai"

— Amor, o bebê ainda nem nasceu — digo rindo com sua


animação.

— Eu sei, mas não posso ir embora sem levar algumas peças.

— Esse é o meu favorito, você vai gostar amor. — diz e me


mostra um body amarelo com a frase:

"Papai deu duro pra me fazer"

— Gabriel, pelo amor de deus! — o repreendo rindo.

NARRADOR DESCONHECIDO

Tão felizes...

Uma família perfeita e feliz, pena que isso não continuará por
muito tempo.

Fixo meus olhos em Gabriel pensando em mil maneiras de fazê-


lo sofrer depois do que fez comigo.

O culpado por me tirar a pessoa que mais amei no mundo,


culpado por roubar minha felicidade, culpado por seguir com a vida
feliz depois do que fez comigo.

Ele retirou de mim uma pessoa importante, não é nada mais


justo do que fazer o mesmo com ele, faze-lo sentir tudo o que eu
sentir.
A meses venho observando sua vida de perto, os lugares que
ele frequenta, o que ele faz, e com quem ele fala.

Tudo às escondidas, temendo que ele descubra minha presença,


mas em breve isso terá que mudar.

Em breve meu plano entrará em ação, e não há nada que ele


possa fazer para me impedir.

Os observo sair da loja infantil segurando algumas sacolas,


sorrindo, parecendo felizes...

Me seguro para não ir até lá e faze-lo pagar pelo que fez comigo
com minhas próprias mãos, mas não posso, ainda não.

Terei quer ser paciente e esperar a hora certa para aparecer, e


para minha felicidade isso não demorará para acontecer.

Você me arruinou Gabriel Simon, está quase na hora de fazer o


mesmo com você.

Recentemente fiquei sabendo que ele tem mais um filho a


caminho, não contava com isso, mas esse detalhe apenas contribui
para minha vingança.

A hora perfeita está chegando, me levanto da mesa do outro


lado e sigo em frente, continuo seguindo meu inimigo bem de
perto....

Dizem que a vingança é doce; à abelha custa-lhe a vida.

Posso até cair, mas te levarei comigo Gabriel Simon...


Capítulo 33
JULIA

Apesar de saber que ainda demorará alguns meses para o bebê


nascer, Gabriel não quis perder tempo e comprou os dois body e
mais alguns acessórios na loja infantil.

Mas também não posso negar que também amei as roupinhas,


após sair da loja entramos em uma de brinquedo para comprar uma
nova boneca que completará a coleção de Eve.

Enquanto Eve procura a boneca que quer nas prateleiras cheias,


Gabriel se aproxima e diz:

— Amor?

— Sim?

— Fiquei pensando sobre uma coisa, e quero saber se há


possibilidade de isso acontecer.

Franzo o cenho e ele logo continua dizendo:

— Se você se mudará para o apartamento para morar conosco.

E novamente penso nas palavras de Sam, eu o amo e estou


esperando um filho dele, esse foi o enorme passo.

— Tem certeza de que não se importa?

— Claro que sim amor, iríamos amar te você sempre por perto,
mas não posso te forçar a nada, entendo se não estiver totalmente
pronta. — diz entrelaçando nossas mãos enquanto caminhamos
pelos corredores cheios de brinquedos.
— Eu aceito, mas tenho que conversa com meus pais antes
Gabriel.

— Ok, se não se sentir confortável em levar tudo para o


apartamento, pode levar apenas o essencial, e se quiser posso
ajudar com isso.

— Obrigada. — Beijo seus lábios em agradecimento.

Ficamos no Shopping por mais um hora e depois Gabriel me


leva para casa, esperaria até de manhã para contar para meus pais
que me mudaria para o apartamento de Gabriel.

Ainda não sei qual será a reação deles, mas tenho um bom
pressentimento quanto a isso.

Antes de chegar em casa minha mãe me mandou uma


mensagem avisando que sairia para comprar ingredientes para uma
grande encomenda que ela aceitou fazer.

E quando finalmente chego em casa, subo diretamente para o


meu quarto, troco de roupas colocando peças confortáveis e pego o
celular de dentro da bolsa.

Procuro o contato de Fernando na agenda e resolvo ligar para


ele.

Sei que Gabriel não gostará nada disso, mas ele é meu amigo e
terá de entender que eu o amo e que não vou deixa-lo.

Por um segundo penso se as paranoias de Gabriel fazem


sentido ou se há alguma possibilidade de Fernando ainda gostar de
mim.

Mas deixo os pensamentos de lado quando ouço sua voz na


ligação:
— Princesa, como está? — atende com sua costumeira voz
contagiante.

— Bem e você?

— Estou bem, o hospital me deu alta a algumas horas,


finalmente estou em casa.

— Fico feliz de saber, mas me preocupo mais sabendo que você


voltará a trabalhar no seu emprego perigoso.

— Ainda falta muitos dias para isso acontecer princesa, estou de


licença, entendo sua preocupação de Julia, mas eu amo o meu
trabalho mesmo correndo grandes riscos.

— Entendo, sua mãe ainda está com você? — pergunto


deixando o celular no viva voz em cima da cômoda enquanto
começo a organizar meu quarto.

— Sim, mas ela irá embora amanhã à tarde, já ficou bastante


tempo comigo e precisa continuar com a vida dela. Quando vou ter
o prazer de receber sua visita? — pergunta e sorrio ouvindo seu tom
de voz humorado.

— Ainda não sei Fernando, o trabalho está tomando bastante do


meu tempo. — Suspiro tentando inventar uma desculpa.

— Entendo princesa, mas o seu namorado é o idiota do seu


chefe, pede para ele te dar uma folga ou terei que resolver isso por
você? — rio de seu tom de voz novamente.

— Não precisa Fernando, isso não tem nada a ver como Gabriel.

— Hum, e como está o relacionamento de vocês? Ele já te


magoou alguma vez?

Sorrio ouvindo seu tom protetor, e ouvir isso me faz lembrar da


Sam ameaçando Gabriel.
— Estamos bem, e não, ele não me magoou Fernando.

— Fico feliz de ouvir isso, está morando com seus pais ou com
ele?

Por que todo mundo me pergunta isso?

— Ainda estou com meus pais, mas em breve vou me mudar


para o apartamento dele.

Dizer isso me faz pensar se conto sobre a gravidez, mas não


acho melhor contar isso por telefone.

Fernando e eu ficamos nos falando por mais alguns minutos,


encerrei a ligação e dediquei o meu tempo de sobra para terminar
de organizar meu quarto e logo me perguntei se já seria uma boa
ideia separar tudo o que levarei comigo para o apartamento.

Enquanto minha mãe não chegava, comecei a separar as peças


de roupas mais importantes que me breve levaria.

Depois que minha mãe chegou, desci e fui ajuda-la com as


encomendas da confeitaria...

Algumas semanas depois

O dia de hoje finalmente chegou, em poucas horas acontecerá


minha primeira ultrassonografia, confesso que estou animada e
ansiosa na mesma medida.

E pela expressão de Gabriel também percebo que ele também


está sentindo o mesmo, se passaram algumas semanas e minha
barriga começou a ganhar volume, não está muito grande
comparada ao tempo da gravidez, mas quem olhar bem perceberá
que estou grávida.

Isso também aumentou a animação de Gabriel, que conversa


com minha barriga todas as noites na esperança de que o bebê
ouça sua voz.
Término de me vestir com roupas leves para facilitar na hora do
ultrassom, pego minha bolsa e encontro Gabriel na sala de estar.

Eve também queria nos acompanhar na consulta, mas Gabriel


prometeu que contaria tudo depois que ela voltasse da escola.
Apesar de insistir a pequena aceitou.

Quando finalmente chegamos na clínica, preenchemos uma


ficha na recepção e aguardamos a médica nos chamar.

Observo que o olhar de Gabriel está vidrado em todos os bebés


presentes na sala, não nego que também fixo meus olhos em cada
um desejando segurar o nosso.

— Julia Vasconcelos! — ouvimos meu nome ser chamado e de


mãos entrelaçadas entramos na sala.

A médica me faz algumas perguntas sobre os sintomas da


gravidez e se estou me sentindo bem, após responder todas me
deito na maca com ajuda de Gabriel e levanto a camiseta que uso.

Sem dizer nenhuma palavra Gabriel permanece ao meu lado


segurando minha mão a todo momento.

— Certo, agora vamos ver como o bebê está. — Ela sorri


passando um gel incolor e gelado na extensão da minha barriga.

Ela nos pede para olhar para uma tela ao lado enquanto começa
o procedimento.

Franzo o cenho tentando entender a imagem borrada que se


forma na tela.

— Aquilo é o nosso bebê? — Gabriel pergunta confuso


apontando para a tela fazendo a médica rir.

— Sim, parece confuso, mas aqui está o bebê de vocês, o


crescimento parece bom comparada ao tempo de gestação, agora
vamos ouvir o coração.

Um barulho estridente e acelerado é ouvido, sorrio maravilhava


observando o bebê na tela, também sinto Gabriel apertar minha
mão e beijar minha testa.

— Doutora, tenho uma dúvida por favor, é um ou dois bebês? —


sorrio diante da pergunta de Gabriel.

— Fiquem tranquilos, aqui há apenas um grande e forte bebê. —


diz me entregando papéis descartáveis para limpar a barriga.

— Sei que ainda é muito cedo, mas já podemos saber sobre


como será o parto? — pergunto ajeitando a camiseta e me
sentando.

— Sim ainda é muito cedo, mas se tudo continuar bem desse


jeito o parto normal é o mais recomendado. — Assinto com a
cabeça, mas sou interrompida por Gabriel:

— Queremos um parto Cesária!

— Queremos coisa nenhuma Gabriel, sou eu que estou


carregando seu filho por longos noves meses! — digo indignada,
mas ele retruca ainda com a ideia absurda na cabeça:

— Amor, não quero que você sofra com o parto normal, e além
do mais, você é muito pequena e apertada aí em baixo! — diz
apontando entre minhas pernas e me seguro ao máximo para não
desferir um tapa em sua cara.

Deus, que vergonha, não acredito que ele disse isso!

— Gabriel, fique quieto por favor. — Digo pausadamente com o


rosto corado.

— Não se preocupe Senhor Simon, sua namorada é


perfeitamente capaz de ter o bebê num parto normal. — A médica
diz sorrindo e percebo que ela também está se segurando para não
rir da situação.

Após o procedimento ela nos informa sobre os próximos passos


da gravidez, e quando será minha próxima ultrassonografia.

Quando saímos da sala continuo me segurando para não bater


em Gabriel.

— Amor, só estava preocupado com você, me desculpe. — diz


tocando minha mão.

— Entendo sua preocupação, mas precisava dizer aquilo? —


pergunto balançando a cabeça enquanto caminho até a recepção.

— Ok, sei que foi desnecessário dizer aquilo na frente da


médica, mas só estava falando a verdade. — Bufo batendo no seu
braço enquanto ele continua rindo...
Capítulo 34
GABRIEL

No caminho para o apartamento Julia ainda está irritada pelo


meu comportamento dentro do consultório médico há poucos
minutos.

Confesso que minhas palavras realmente passaram dos limites,


mas estava apenas preocupado com o bem-estar dela, nunca
presenciei uma mulher em trabalho de parto, mas tenho noção da
dor que elas sentem ao dar à luz.

Tudo isso parece novo para mim, um turbilhão de sentimentos e


emoções me dominaram quando estava dentro daquela sala, ver e
ouvir o som do coraçãozinho do nosso filho me arrebatou de uma tal
maneira que não sei explicar.

Isso aumenta minha vontade de presenciar e acompanhar cada


passo na gravidez de Julia, quero estar lá na hora que ela precisar
de mim.

— Vai ficar irritada comigo o dia todo? — pergunto a observando


pelo canto do olho.

O dia de hoje está sendo tão importante para mim que deixei de
trabalhar para acompanhar Julia na primeira ultrassonografia do
nosso filho.

— Não estou irritada com você Gabriel, mas se você fizer aquilo
novamente, juro que não vou me segurar em desferir um tapa no
seu rosto. — diz com a cabeça encostada no vidro da janela do
carro.
— Ok, vou lembrar da sua ameaça na próxima vez amor, sabe
que sou todo seu, fique à vontade para descarregar sua raiva em
mim a noite. — Pisco um olho arrancando um sorriso dos seus
lábios.

— Fico feliz que nosso bebê está crescendo forte e saudável —


digo levando minha mãe até sua barriga que começou a ganhar
volume recentemente.

— Também, mas estou ansiosa para descobrir o sexo, ou talvez


podemos saber somente quando o bebê nascer, o que acha? —
pergunta pousando sua mão em cima da minha sobre sua barriga.

— Deixar o sexo do bebê em segredo?

Por um segundo penso na possibilidade, mas será que um de


nós consegue esperar até o nascimento do bebê para descobrir o
sexo?

Só de fazer o primeiro ultrassom já nos deixou ansiosos, imagine


como ficaremos sem saber o sexo do nosso primeiro filho juntos.

— Você decide amor, mas acho que minha ansiedade não


aguentaria esperar já que é o nosso primeiro filho juntos.

— Tem razão, acho que também não aguentaria. — diz sorrindo


acariciando a barriga.

— Podemos fazer isso na próxima gravidez. — Provoco


desejando ver sua reação.

— Próxima gravidez? — pergunta com a voz surpresa me


forçando a encarar seu rosto.

— Sim, não quer ter outro filho daqui a alguns anos? — pergunto
curioso.

— Depende, estou no início da primeira gravidez e vou passar


por uma dor imensa no Nascimento Gabriel. Não sei se vou querer
passar por isso novamente.

— Eu sei amor, por isso recomendei o parto cesariana, para que


você não sofresse. — Esclareço rindo recebendo um tapa no braço.

— Gabriel um parto normal tem suas vantagens, pode ser


doloroso, mas a dor é única, uma Cesária complica tudo, e tem que
ter todos os cuidados ou pode trazer complicações.

Nas últimas semanas estive pensando em contratar uma


governanta para cuidar do apartamento e ajudar Julia com a
gravidez enquanto estiver trabalhando.

Mesmo com minha dedicação ao nosso relacionamento, meu


trabalho na Empresa requer bastante do meu tempo e não posso
largar isso, então preciso de alguém que cuide de Julia e Eve na
minha ausência.

— Estava pensando em contratar uma governanta para o


apartamento. — Digo quase chegando em casa.

Depois da minha proposta sobre se mudar para o apartamento,


Julia concordou e se mudou a algumas semanas atrás, confesso
que minha felicidade aumentou pois tenho a certeza de que vou
dormir e acordar ao lado da mulher de minha vida todos os dias.

Também conversamos sobre como ficará o estado de sua


faculdade, e Julia decidiu que manterá o curso a distância, então
cedi o meu escritório particular no apartamento para ela dar
continuidade aos seus estudos.

Julia sabe que sou um CEO com experiência no ramo de


Administração, e que posso ajudar com sua carreira, mas ela
continua negando como todas as vezes.

— Você decide Gabriel, o apartamento é seu, mas posso ajudar


a organizar já que também moro lá.
— O apartamento é nosso amor, e você já tem muitas coisas
para se preocupar, deixe que resolvo isso. — Pego sua mão
levando até meus lábios.

Ao chegar em casa, subimos diretamente para o quarto, mas


paro em frente a última porta do quarto que usava para praticar
BDSM.

Eve já me perguntou sobre o que tem nesse quarto, mas sempre


continuei com a desculpa de que uso essa sala para guardar coisas
velhas sem uso, a pequena sem interesse sempre acreditou.

Mas por precaução nunca deixo a chave dessa porta em lugares


fáceis de se achar, somente eu e Julia sabemos o local que ela fica.

Ao notar que ainda estou parado diante da porta, Julia sai do


nosso quarto e vem até mim confusa.

— O que foi?

— Nada, só estava pensando em desfazer tudo que tem aí


dentro e transformar num quarto para o bebê no futuro.

— Não precisa fazer isso se não quiser, podemos transformar o


quarto de hóspedes quando ele nascer.

— Sim, ou talvez eu possa manter esse quarto para te agradar


em noites especiais. — Sorrio observando seu rosto adquirir o tom
rosado.

Enquanto Julia estava trocando de roupa decidir ligar para uma


agência de empregadas domésticas conhecida, a procura de uma
pessoa que se encaixe nos meus requisitos.

Uma mulher simpática atendeu e me informou que três das


melhores profissionais viriam até mim para uma entrevista particular.

Quero selecionar a melhor na profissão, quero deixar minha casa


e família sobre os cuidados de uma pessoa confiável e responsável.
Agendei as entrevistas para amanhã de manhã e encerrei a
chamada, avisei a Julia e liguei para a Empresa avisando que
estaria ausente para parte da manhã e que só trabalharia depois do
meio-dia.

Combinei o horário com Julia, pois quero ela amanhã comigo


quando as entrevistas começarem, e que depois iriamos para a
Empresa juntos.

Passamos a manhã na companhia um do outro e no fim da tarde


Julia e eu partimos para o centro da cidade buscar Eve na escola.

Julia espera no carro enquanto entro dentro da escola e pego a


pequena que fica toda animada com minha presença.

— Papai! — grita correndo para os meus braços.

— Vamos, docinho — beijo seu rosto a levando até o


estacionamento.

— Mamãe! — grita ao ver Julia dentro do carro.

— Papai, você prometeu me contar sobre a consulta da mamãe!


— diz sentada na cadeirinha enquanto dirijo de volta para casa.

— E eu vou contar meu bem, sobre o que quer saber?

— Vocês conseguiram ver o bebê? Como ele é? — sorrio diante


da sua inocente e logo respondo:

— Não deu para ver muito bem, ele ainda é pequeno e não
conseguimos vê-lo totalmente pelo ultrassom querida.

— Mas seu irmãozinho ou irmãzinha está crescendo forte e


saudável pequena. — Julia diz sorrindo.

— Também queria ter ido...— Eve diz com a voz chorosa.


— Ok, vamos combinar uma coisa, no próximo ultrassom você
pode ir para acompanhar a mamãe, o que acha? — pergunto
observando sua reação pelo retrovisor do carro.

— Iuuupii! — grita animada.

— Querida, é muito bom saber que terá um bebê para brincar,


não é? — pergunto e Eve concorda animada.

— Mas a mamãe não quer mais ter outro bebê depois desse
filha, isso é muito triste né? — provoco Julia que me olha com os
olhos estreitos como se soubesse o que estou prestes a fazer.

— Está falando isso, porque não será você que irá sofrer no
parto Gabriel!

— Papai, por que a mãe vai sofrer quando o bebê for nascer? De
onde eles saem? E como os bebês são feitos?

Droga!
Capítulo 35
GABRIEL

Ok, confesso que exagerei em provocar Julia e agora tenho


perguntas totalmente constrangedoras para responder.

Não sei como iniciar uma conversa como essa com minha
própria filha, e em busca de ajuda dou uma olhada rápida para Julia.

— Se vira! — sussurra sorrindo da minha desgraça e pelo seu


mal humor sei ainda está irritada comigo.

Penso que talvez possa ignorar essa pergunta e mudar de


assunto como uma fuga tentadora dessa situação, mas quando olho
pelo retrovisor vejo os olhos de Eve me encarando, esperando as
respostas que não sei dar.

Todos os pais sabem que uma situação como essa chegará, mas
em não sabia que esse momento chegaria tão rápido para mim.

— Então filha, já ouviu falar das cegonhas? — tento mudar


minha voz para não ficar tão aparente que estou mentindo.

Engulo em seco esperando que ela acredite na mentira que


estou prestes a continuar contando.

— Sim, mas papai não tente me enganar, toda criança deveria


saber que esse papo de cegonha não passa de uma mentira! —
arregalo os olhos e pigarreio.

Pelo canto do olho vejo que Julia se segura para não começar a
gargalhar dentro do carro.

Por que tenho uma filha tão esperta assim?


— Ok.

— Por que não quer me contar papai? É tão horrível assim?

— É não...quer dizer, é sim! — estou ficando nervoso como essa


conversa e percebo que minhas mãos apertam o volante com força.

— Mamãe, você pode me contar? — pergunta para Julia que vira


a cabeça para encarar a pequena.

Graças a deus, ela pode explicar isso melhor do que eu.

— Seu pai explica melhor, e vai contar para você, não é amor?
— diz me olhando com uma expressão cínica.

Merda!

Tenho vontade de colocar Julia sobre meus joelhos e bater em


sua bunda até sua pele adquirir um tom rosado por jogar isso em
cima de mim dessa forma.

Suspiro e penso em outros jeitos de explicar isso que não


envolva as malditas cegonhas.

— Ok, quando duas pessoas se relacionam o homem tem um...


— sou interrompido quando a mão de Julia aperta minha coxa e
nega com a cabeça.

— Ficou maluco? Ela ainda é muito nova, Gabriel — sussurra


me repreendendo.

É aqui que me dou conta de que estava quase contando a


verdade para Eve, a verdade que todos os adultos sabem. A
verdade sobre como os bebês são feitos.

— O que o homem faz, papai? — pergunta ao ouvir minha


explicação.
Senhor...

— Ele coloca uma sementinha na barriga da mulher, que depois


de noves meses vira um lindo bebê. — Sorrio tentando a convencer
e parar com essa conversa.

Mas é de minha filha que estamos falando, a pequena não


desiste fácil.

— Como você colocou a sementinha na barriga da mamãe? —


ao ouvir isso tento ao máximo me concentrar na estrada, mas está
ficando cada vez mais difícil.

— Meu amor, isso não importa agora, mas as mulheres só


podem receber essa sementinha quando estiver bem crescida,
entende?

— Sim, mas por onde os bebês saem?

Meu deus, essa sequência de perguntas não têm fim?

— Ah isso é fácil, eles saem pela vagin...— minha boca é


tampada pelas mãos de Julia.

— Os médicos fazem um corte na barriga, e então retiram o


bebê! — Julia dá a desculpa da cesárea sem mencionar o parto
normal.

Retira as mãos da minha boca e torço para que Eve não


pergunte por que Julia não me deixou continuar, mas graças a deus
a pequena acredita.

— Como foi a escola hoje? — pergunto antes que outra pergunta


constrangedora apareça.

— Foi legal, avisaram que semana que vem acontecerá uma


festa na escola, cada aluno tem que representar um país! — diz
num tom empolgado.
— Que ótimo, e qual país você ficou responsável em
representar? — pergunto interessado.

— Japão, papai, vocês vão na minha festinha?

— Claro que sim, meu amor. — Digo e Julia também concorda.

Eve abre a mochila e entrega uma folha de papel para Julia que
diz ser o que ela terá de fazer na festa da escola.

Saber disso me anima e me deixa orgulhoso na mesma medida,


é a primeira festinha de escola dela, não perderia isso por nada no
mundo.

Após chegar em casa, Julia vai ajudar Eve com o banho


enquanto fiquei na cozinha preparando o jantar.

E depois do jantar, sentamo-nos na sala de estar para decidir e


organizar a representação de Eve.

Todos os alunos terão que ir caracterizados tipicamente a


escolha de cada país, e levar um parto típico, fiz a proposta de
contratar alguém para vestir Eve adequadamente e de encomendar
algumas comidas prontas num restaurante japonês.

Mas Julia negou dizendo que não teria graça, e que nós
poderíamos preparar tudo.

Após ler uma história de dormir para Eve na companhia de Julia,


seguimos para o nosso quarto depois que a pequena dormiu.

Enquanto estava no banho, Julia ficou na cama lendo um livro


sobre gravidez e maternidade, até falei que ela não precisaria de
instruções sobre como ser uma boa mãe pois sei que ela já é uma
ótima mãe para Eve, mas ela alegou dizendo que cuidar de Eve e
de um recém-nascido são coisas diferentes.

Depois de vestir uma camisa e calça moletom, me junto a ela já


cama vendo que ainda está lendo o livro.
— É sério que você ainda quer outro filho depois desse? — diz
com os olhos fixos no livro em suas mãos.

— Com você eu quero tudo amor, mas somente se você quiser.


— Retiro o livro de suas vistas e beijo seus lábios.

— Gabriel, eu estava lendo...— diz com a boca colada na minha.

— Depois você continua, quero você agora amor — digo perto


de sua orelha observando as reações que causo em seu corpo.

— Você é insaciável Gabriel, sabia disso?

— Sim, tenho uma linda namorada que está carregando meu


filho, então tenho muitos motivos para ser insaciável em relação a
você. — Digo descendo uma das alças da camisola que usa.

Beijo toda a extensão de seu pescoço e pele exposta, Julia


apenas fecha os olhos e suspira a cada contato meu em seu corpo.

— Vem amor, me deixe satisfazer os seus desejos mais


profundos...— digo me livrando da camisa.
Capítulo 36
JULIA

Estava lendo um livro que comprei sobre gravidez e


maternidade, queria aprender mais sobre tudo isso, mas deixo
minhas preocupações de lado quando vejo Gabriel retirar a camisa
que usa e se aproximar de mim.

Apesar da nossa diferença de idades, Gabriel fica mais bonito e


másculo a cada dia que se passa, e logo penso em como será daqui
a alguns anos, quando envelhecermos.

Enquanto as mãos de Gabriel descem as alças da camisola


preta que uso uma risada escapa dos meus lábios, o que faz ele
levantar a cabeça e me fitar com um sobrancelha arqueada.

— O que foi?

— Estava pensando em como você será quando estiver mais


velho, creio que continuará lindo. — Admito sorrindo acariciando o
queixo com a barba por fazer.

— Oh sim, serei um velhinho bem ativo na cama querida — rio


de suas palavras e me concentro em seu rosto.

— E muito safado também! — digo.

— Claro. — Concorda continuando com a trilha de beijos por


toda a extensão do meu corpo.

— Minha mulher gosta de quando sou safado, não é? — diz num


tom rouco chupando minha pele.
— Responda, amor — morde o lóbulo da minha orelha com
vontade.

— Sim, eu gosto. — Admito lhe arrancando um sorriso dos


lábios.

Beijo sua boca sentindo sua barba espetar meu rosto, e


confesso que gosto da sensação, minha mãos vão de encontro aos
cabelos de Gabriel, puxando seu corpo cada vez mais de encontro
ao meu.

Nossas línguas dançam em perfeita sincronia, enquanto nos


beijamos suas mãos tratam de retirar minha camisola por completo,
desce os lábios até o vale entre os meus seios e fecho os olhos
sentindo sua boca quente se apossar da minha pele.

Desejando retribuir o prazer que está me proporcionando, num


gesto tímido desço minhas mãos pela sua barriga até chegar no cós
da calça moletom sentindo o tamanho do desejo que sente.

De tantas vezes que transamos nunca criei coragem para fazer


tal coisa, mas quero fazer, também quero lhe dar mais prazer.

Pouso uma de minhas mãos em cima do grande volume que


estica o tecido da calça que usa, a respiração de Gabriel muda,
começando a soltar longos suspiros após saber o que estou prestes
a fazer.

Não posso negar que não sei por onde começar, pois sou
totalmente inexperiente em relação a isso, percebendo minha
hesitação Gabriel levanta a cabeça para olhar em meus olhos.

— Tem certeza de que quer fazer isso, amor? — pergunta e


apenas concordo com a cabeça.

— Também quero te dar prazer, mas não sei como fazer isso. —
Admito fechando os olhos sentindo meu rosto corar de vergonha.
— Abra os olhos amor, não precisa ficar com vergonha, vamos
começar devagar. — Concordo com a cabeça enquanto ele
posiciona sua mão sobre a minha por cima da calça, me ensinando
os movimentos certos.

Volta a me beijar enquanto continuo com os movimentos em seu


membro, suspirando sobre os meus lábios cada vez mais, uma das
suas mãos se juntam aos meus seios, apertando minha pele
enquanto nossas línguas se encontram mais uma vez.

Sentindo a ousadia tomar conta de mim, uso uma das mãos para
abaixar sua calça, Gabriel sorri contra minha boca percebendo
minhas intenções, ainda inexperientes envolvo seu membro com
uma das mãos e refaço os mesmos movimentos.

— Porra! — Gabriel grunhe fechando os olhos enquanto a


respiração muda.

Usando uma das mãos Gabriel termina de retirar a calça


moletom por completo e joga a peça em algum lugar do quarto.

Se levanta e se coloca diante das minhas pernas, agarro os


lençóis da cama quando sinto sua boca me atiçar, num momento
como esse agradeço pelo quarto de Eve ser no outro corredor pois
num momento como esse já não existe controle dentro de mim.

Com as mãos Gabriel levanta minhas pernas as colocando sobre


os seus ombro, me abrindo e deixando mais exposta para o seu
total deleite.

Ainda com os olhos fechados sinto Gabriel manipular meu ponto


G usando os dedos e a própria boca.

Mordo o lábio inferior tentando controlar os gemidos altos que


ousam escapar da minha boca, agarrando os cabelos de Gabriel
chego ao ápice.
— Se com 32 anos já tenho esse pique, me imagine com 60
amor. — Se refere a sua condição sexual me fazendo sorrir.

Sua mão serpenteia por minhas costas até alcançar minha nuca,
e seu olhar se mantém preso ao meu. Gabriel prende os fios do meu
cabelo em seus dedos e se inclina na minha direção, deixando
nossas bocas quase coladas uma na outra.

Posso até sentir o ritmo acelerado e morno de sua respiração,


embriagando-me e envolvendo-me em sua teia sedutora.

— Preciso de você amor, não aguento esperar mais — me beija


por uma última vez e ajeita o corpo com cuidado sobre o meu.

— Sou toda sua! — digo com ousadia.

Gabriel suspira e mordisca o lábio inferior, voltando a me


encarar. Por um momento, me perco naqueles olhos claros lindos
que exalam uma mistura de desejo e ternura cada vez que me olha.

Sem mais demora, ele segura meus tornozelos e os inclina para


cima, deixando-me completamente aberta para o meu deleite.

— Linda! — elogia num tom baixo passando o polegar no meus


lábios me olhando como se contemplasse uma bela obra de arte.

Apoio minhas mãos em seus ombros enquanto ele coloca


minhas pernas em torno de seu quadril, aproxima o rosto do meu e
com um único movimento sou totalmente preenchida.

Gabriel começa a sequência de estocadas com firmeza, girando


o quadril em círculos com o rosto próximo do meu, observando cada
reação que está causando em mim.

Gemo ensandecida tomada pelo imenso prazer, sinto sua


respiração ofegante e morna em meus rosto enquanto continua
entrando em meu corpo.
— Gabriel, por favor...— imploro gemendo para que aumente a
intensidade.

Me seguro em seus ombros enquanto nossos corpos se


balançam e contorcem um contra o outro, os corpos suados se
misturando entre si.

Cada vez mais perto do clímax enfio a cabeça na dobra do


pescoço de Gabriel mordiscando sua pele, ele grunhe apertando
seu corpo contra o meu.

— Vamos, goze comigo amor. — Pede com a respiração falha


gemendo juntos se entregando ao ápice.

Tentando controlar a respiração ofegante, Gabriel muda de


posição permanecendo ao meu lado na cama enquanto me traz
para perto.

Com o corpo suado deito minha cabeça em seu peito suspirando


pesadamente, suas mãos vão de encontro aos meu cabelos,
acariciando os fios enquanto fecho os olhos exausta.

— Espero que tudo continue assim aos 60. — diz ofegante me


fazendo sorrir.

— E eu espero que não precise tomar Viagra para isso


acontecer. — Brinco abrindo os olhos para provoca-lo.

— Está merecendo umas boas palmadas, por ser tão atrevida.


— Grito de susto quando uma de suas mãos acerta um forte tapa na
minhas nádegas.

Sorrio voltando a fechar os olhos me deliciando com as carícias


nos meus cabelos que me deixam cada vez mais sonolenta.

— Eu te amo, se apaixonar por você foi e está sendo uma das


melhores coisas que já me aconteceu... — beija minha testa, mas
estou exausta demais para responder.
Gabriel continua falando mais alguma coisa, mas minha
exaustão atrapalha meu entendimento, só consigo ouvir apenas
uma frase antes de adormecer em seus braços.

— Casa comigo?
Capítulo 37
GABRIEL

Depois do sexo enlouquecedor com Julia, fui tomado pela


emoção e até a pedi em casamento, mas ainda não sei se essa foi
uma atitude certa a se fazer.

É claro que a amo demais, e desejo que seja minha esposa, mas
poderia fazer um pedido como esse numa ocasião especial como
todos fazem.

— Amor? — a chamo.

Espero sua resposta sentindo as batidas do coração acelerarem,


e quando acho que está demorando demais, levanto a cabeça para
encarar seu rosto.

Mas bufo desapontado quando vejo que Julia adormeceu em


meus braços e me pergunto mentalmente se ela conseguiu ouvir ou
estava cansada demais para responder.

Suspiro ajeitando nossos corpos na cama, também penso se ela


lembrará de minhas palavras amanhã.

E sobre qual será a sua resposta, mas se ela não se lembrar


posso pedir novamente em uma ocasião especial e esquecer que
pedir minha namorada em casamento depois de uma longa transa.

Sorrio da situação em que me encontro, pensando em como


mudei nos últimos meses, quem diria que eu Gabriel Simon pediria
uma outra mulher em casamento?

Mas gosto da mudança que minha vida sofreu, Julia me


transformou em uma pessoa melhor do que eu era antes, ela é o
anjo que veio iluminar minha vida com sua luz radiante.

Cubro nossos corpos com o edredom e me aconchego ao lado


dela, contornando seu corpo com meus braços, como se pudesse
protegê-la de tudo e todas as coisas...

No dia seguinte:

Sou o primeiro a acordar, enquanto Julia continua dormindo


serenamente, faço minhas higienes matinais e desço até a cozinha.

Decido já preparar o café da manhã mesmo que Eve e Julia


ainda não tenham acordado, mas tenho pouco tempo até as
candidatas ao cargo de governanta chegaram para as entrevistas.

Após contratar alguém para cuidar do apartamento, sei que vou


ter mais tempo para dedicar a minha família, e isso é uma das
coisas que mais desejo no momento.

Mas a questão sobre o pedido de casamento insiste em me


invadir, me trazendo dúvidas e perguntas sem respostas.

Após preparar o café da manhã, Eve é a segunda a acordar pois


terá aula em poucos tempo, depois de tomar café da manhã na
companhia da pequena, decido leva-la para escola e deixar Julia
dormir em paz.

Escrevo um bilhete dizendo que fui ao centro da cidade para


levar Eve a escola e que voltaria logo, deixo o pedaço de papel
perto da mesa num lugar que sei que ela irá achar quando acordar.

E quando volto para o apartamento faltando poucos minutos


para as candidatas chegarem encontro Julia tomando café na
cozinha.

Respiro fundo e caminho em sua direção desejando que ela se


lembre de tudo o que falei na noite anterior antes de adormecer.

— Bom dia, amor. — Beijo seu lábios.


— Bom dia. — Retribui sorrindo.

— Hum, isso está delicioso. Além de lindo, sabe cozinhar


perfeitamente — diz saboreando o café da manhã que preparei.

— Pois é amor, eu sou o pacote completo!

— Confesso que vou sentir falta disso, quando contratar alguém.


— Aponta para as panquecas no prato.

— Mas posso preparar quando sentir vontade, tudo por você


amor. Se lembra da... — Tento tocar no assunto do pedido, mas sou
interrompido pelo interfone.

Suspiro e sigo para atender, é porteiro avisando que as


candidatas acabaram de chegar, aviso para que as deixem subir e
encerro.

— Chegaram? — Julia pergunta e concordo com a cabeça.

— Sim, vou iniciar as entrevistas daqui a pouco.

— Posso me juntar a você, se quiser. — diz e beijo sua testa em


agradecimento.

— Obrigado amor, mas termine seu café da manhã primeiro. —


Digo antes de caminhar até a porta principal.

Convido as três candidatas a entrarem no apartamento e se


sentarem no sofá, duas são respectivamente jovens, e a outra é
uma senhora de meia idade.

Cada uma delas me entregaram os seus currículos, após


analisar rapidamente cada um vejo que toda tem boas experiências
no requisito.

Chamo a primeira mulher chamada Alicia Parker, a convido até o


meu escritório particular para darmos início a entrevista.
— Sente-se Senhorita Parker. — Digo contornando minha mesa
e me sentando na cadeira diante dela que também logo se acomoda
a minha frente.

Pego seu currículo e analiso com mais atenção.

— Vejo que tem bastante experiência no ramo de cozinheira


Senhorita. — Digo vendo que ela concorda com a cabeça.

— Sim Senhor, a maioria dos meus trabalhos passados


envolviam esse ramo.

— E crianças? Tem experiência com crianças ou bebês? —


pergunto vendo que em seu currículo isso não é mencionado.

— Não, Senhor. — diz com a voz baixa como se soubesse que


não serviria para o cargo.

— Pergunto, pois, desejo contratar alguém como esse tipo de


experiência, tenho uma filha e estamos com mais um a caminho. —
Esclareço.

— Não tenho, mas aprendo rápido Senhor.

Faço mais algumas perguntas essenciais, mas vejo que a


primeira candidata não se encaixa totalmente nos meus requisitos.

— Entrarei em contato se for a escolhida, obrigado!

Chamo a segunda e faço os mesmos passos anteriores, e para


minha total decepção ela está mais interessada em mim do que no
emprego.

E para minha salvação, Julia adentra o escritório se acomodando


ao meu lado, e pela sua expressão no rosto percebo que ela
também não gostou da candidata chamada Emily Wilson.
Convido a última senhora de meia idade e dou início a última
entrevista.

— Senhora Jones, vejo que tem muitas experiências nos


requisitos que mencionamos, isso é muito bom, tenho uma filha e
minha namorada está grávida, quero alguém que cuide do
apartamento e a ajude no que precisar.

— Me chame apenas de Olívia, está de quantos meses querida?


— pergunta sorrindo simpática para Julia que logo responde:

— Ah, estou com quase três meses.

— Lembro de quando estava grávida do meu primeiro filho, o


enjoo aparece sempre de manhã, não é? — Julia sorri surpresa e
percebo a comunicação entre elas.

— Gengibre. É um dos maiores aliados contra o enjoo, coma


pedaços pequenos de biscoito de gengibre ao acordar, tenho
certeza de que melhorará.

— Obrigada, vou experimentar sua recomendação. — Julia


agradece e vejo que ela gostou da senhora.

Pergunto sobre seus últimos empregos mencionados no


currículo, também pergunto sobre suas experiências e acabo
descobrindo que já trabalhou com crianças, e saber disso me faz
ficar totalmente satisfeito com as respostas dadas por ela.

Julia é mãe de primeira viagem e precisa de alguém como


experiências para ajudá-la, e acho que essa seria uma oportunidade
perfeita para contratar Olívia.

— Você parece ser a candidata perfeita para o que precisamos,


já posso dizer que o cargo é seu. — Me levanto para agradecer sua
visita.

— Obrigada, Senhor. — Curva a cabeça e aperta minha mão.


— Ainda vou preparar o seu contrato, mas temos um quarto
disponível se quiser ficar mais perto do trabalho.

— Obrigada, mas não precisa, posso ir e vir todo dia.

— Como achar melhor, pode começar semana que vem?

— Oh, posso começar até amanhã se preferirem. — Ela sorri.

— Será perfeito.

— Obrigada! — Julia se levanta e contorna a mesa para se


despedir da senhora.

— Disponha querida, será uma excelente mãe e fico feliz em


poder ajuda-la numa fase tão importante na vida de uma mulher.

— Não se arrependerá Senhor, sou muito boa na cozinha e


quanto menos esperar logo estarão rendidos pelos pratos que
preparo.

— Acredito que sim. — Agradeço sua visita mais uma vez antes
de ir embora.

Agora posso finalmente conversar com Julia sobre o pedido de


casamento de ontem à noite antes de seguirmos para a Empresa
em poucas horas...
Capítulo 38
JULIA

Após fazer a última entrevista para o cargo de governanta,


Gabriel fecha a porta do escritório antes de se sentar em sua mesa.

— Quero conversar com você amor, sente-se — aponta para a


cadeira a frente de sua mesa.

— Sobre a governanta? — questiono confusa.

— Sobre a noite de ontem, não se lembra? — pergunta


arqueando a sobrancelha com se quisesse insinuar algo.

Imagens da noite de ontem voltam à tona, lembro do sexo


quente e de...

Ai, meu deus!

Também lembro de ouvir uma última frase de Gabriel antes de


adormecer, e por coincidência tive um sonho em seguida, e nesse
sonho estávamos nos casando.

Não comentei nada disso antes pois tinha quase certeza de que
o pedido de casamento fazia parte do sonho, mas agora percebo
que é real, Gabriel me pediu em casamento.

Levanto a cabeça encontrando os olhos azuis de Gabriel


analisando minhas expressões atentamente, arfo ainda
processando tudo o que está acontecendo.

— Pela expressão em seu rosto, vejo que você finalmente se


lembrou amor. — diz num tom de voz aliviado.
— Pensei que o pedido fazia parte do sonho que tive ontem à
noite. Estava falando sério sobre o pedido? — pergunto sentindo o
corpo tremer.

— Claro, amor.

Sem saber qual reação esboçar, apenas começo a rir, como se


não acreditasse que fui pedida em casamento depois de transar e
que acabei dormindo sem lhe dar uma resposta.

— Meu deus Gabriel, quem pede uma mulher nua após transar
em casamento?

— Eu, eu faço isso, sei que não fiz o pedido em uma ocasião ou
local especial, mas posso fazer isso se quiser. — Ainda sem
acreditar me levanto e contorno a mesa para ficar de frente para ele.

Pela expressão em seu rosto sei que está ansioso esperando a


resposta do pedido, estou o torturando com a demora e confesso
que adoro isso.

O observo se levantar, afastar sua cadeira e se ajoelhar diante


de mim:

— Não tenho uma aliança no momento, mas se aceitar se tornar


minha esposa posso resolver isso logo. — diz pegando minha mão
antes de continuar:

— Acho que vou ter que repetir tudo já que quando fiz isso você
não ouviu. — diz com humor me fazendo rir.

— Quando te conheci estava totalmente quebrado por dentro, há


muito tempo a felicidade tinha me deixado, e bastou você aparecer
em minha vida que tudo mudou.

Num flashback todas as memórias ao lado de Gabriel retornam,


me lembrando dos nossos momentos juntos, de quando o conheci
pela primeira vez, era um homem arrogante e odiava aquilo nele,
mas nunca pensei que ela de tornaria essa pessoa que é hoje por
minha causa.

— Você é meu grande amor e estou aqui para dizer que tenho
certeza de que é ao seu lado que quero passar o resto de minha
vida. Você me completa, me dá forças e me faz ser alguém melhor.
— diz segurando minha mão ainda ajoelhado a minha frente.

As únicas vezes que vi Gabriel chorar foi quando suas


lembranças do passado insistiam em assombra-lo, mas agora é
diferente, vejo em seus olhos que a emoção que está sentindo é de
pura felicidade.

— Tenho muita sorte de ter encontrado você e agora que


encontrei, quero viver todos os dias ao seu lado. Você ilumina meus
dias escuros e acalma minhas tempestades. Me faz ser um homem
melhor a cada dia, e posso dizer sem medo que me apaixonar por
você foi e está sendo um das melhores coisas que já me aconteceu
amor.

Suspiro ouvindo cada palavra com atenção, sentindo meu


coração se aquecer com suas declarações, e sentir isso me
emociona demais e como consequência meus olhos marejam.

— Quero construir uma família com você, desejo viver cada dia
de minha vida sabendo que tenho alguém como você ao meu lado,
afastando as tempestades que me assombram.

— E se você permitir, prometo tentar de fazer feliz todos os dias,


prometo estar quando mais precisar de mim, e quando chorar sou
eu que quero te embalar nos meus braços e nunca mais soltar.
Porque eu te amo Julia, e amarei cada dia mais.

Fecho os olhos por um breve segundo sentindo lágrimas finas


descerem pelas minhas bochechas, lágrimas de emoção.

— Você já me faz feliz. — Sussurro.


— Infelizmente não tive o prazer de acompanhar Eve desde o
nascimento, mas prometo que vou fazer o certo por você amor, vou
tentar ser um ótimo pai e marido.

— Só falta uma coisa para que a felicidade que você me trouxe


seja completa. Você quer casar comigo? — pergunta levando minha
mão até seus lábios num beijo casto e carinhoso.

Sorrindo pego suas mãos e o faço se levantar, rodeio seu


pescoço com os braços vendo que seus olhos azuis me fitam
ansiosos.

— Sim, claro que sim. — Digo.

Gabriel sorri com os olhos marejados e aproxima nossos rostos,


fecha os olhos encostando a testa na minha, sentindo sua
respiração também faço a mesma coisa tentando aproveitar o
máximo desse momento.

— Obrigado por me fazer um homem feliz. — diz abrindo os


olhos azuis para me beijar.

Aperto seu corpo contra o meu, recebendo o beijo com fervor, a


felicidade que estou sentindo é tanta que ainda estou tentando
assimilar tudo o que está acontecendo.

Enquanto nossas bocas se unem, suas mãos envolvem minha


cintura possesivamente, sorrio contra seus lábios quando ele traz
nossos corpos para perto da mesa, percebendo suas intenções
coloco a mão em seu peito fazendo o beijo parar.

— Gabriel, se continuar com isso vamos nos atrasar para o


trabalho. — Digo sorrindo observando suas íris adquirirem um tom
mais escuro.

— Foda-se o trabalho, quero aproveitar minha noiva! — brinca


afastando tufo que há em cima da sua mesa.
Num gesto rápido e hábil, sou colocada sentada em cima da
mesa do escritório, arfo com o contato frio contra minha pele
exposta pelo shorts que uso.

— É só uma rapidinha amor, sei que minha menina vai gostar. —


diz se aproximando de mim novamente.

Suas mãos levantam a regata que uso rapidamente deixando


meu corpo seminu, com os olhos vidrados em mim, Gabriel também
retira a camisa que usa e abre a calça que usa.

Os lábios quentes vão de encontro a pele do meu pescoço,


minhas mãos se aventuram em seu abdómen.

— Vire-se, amor — desço e curvo o corpo sobre a mesa.

Com o rosto sobre o material frio da mesa, sinto minha


respiração mudar ao sentir suas elevando meu quadril, o short que
uso é baixado revelando totalmente meu corpo.

Por reflexo agarro a mesa quando ouço o som de farfalhar de


roupas, tremo quando suas mãos pousam em minha bunda, uma
tapa é desferido em cada lado aumentando minha vontade de tê-lo
dentro de mim.

— Linda, é perfeita amor. — Elogia acariciando o local onde deu


os tapas.

— Abra as pernas! — ordena num tom dominante do qual senti


falta de ouvir.

Faço o que pede sem protestar apertando as bordas da mesa


para manter o equilibro, um gemido baixo deixa meus lábios quando
uma de suas mãos se infiltram no interior das minhas coxas
alcançando minha intimidade.

Em seguida, levou o dedo até meu centro e massageou num


movimento em círculos, senti todo o meu corpo estremecer quando
uma dedo penetrou o meu interior.

Não havia como resistir a àquilo, Gabriel tinha o poder de me


fazer perder o controle, e mesmo sendo orgulhosa demais, tenho
que admitir que amo esse detalhe nele...

Depois de um sexo rápido, Gabriel e eu estamos terminando de


se vestir, e como esperado aconteceu, estamos atrasados para o
trabalho.

— Eu falei que nos atrasaríamos Gabriel — digo correndo para o


banheiro para arrumar os cabelos desgrenhados lembrando que
Gabriel recebeu uma ligação da Empresa avisando que estava
atrasando para uma reunião que aconteceria em poucos minutos.

— Relaxe amor, você não protestou quando estava gemendo


sobre a mesa do escritório! — grita do quarto enquanto prendo
meus cabelos num rabo de cavalo.

E depois de meia hora finalmente chegamos na Empresa, assim


que chegamos Gabriel foi direto para a reunião enquanto fiquei em
minha sala já que minha presença não era obrigatória.

Organizo a agenda de compromissos de Gabriel e após sua


reunião acabar, saio de minha sala segurando a agenda seguindo
para a sua sala repassar seus compromissos da tarde.

Mas antes de chegar em sua sala, um detalhe chama a minha


atenção, Beatriz conversa num tom baixo com outra funcionária da
Empresa.

— Percebeu o volume na barriga dela? — pergunta para a outra


mulher que logo responde num tom desconfiado:

— Percebi, mas será que está realmente grávida?

Me encosto numa parede percebendo que sou alvo da fofoca


entre as duas.
— Não sei, mas se estiver, com certeza é pra dar o famoso golpe
do baú no Senhor Simon.

— Mas Beatriz, com um homem daqueles quem também não


faria o mesmo? — diz num tom debochado.

— Pois é, ou ela acha que ele está apaixonado por ela, coitada,
acha mesmo que um homem como o Senhor Simon teria interesse
em uma mulher como ela? — começa a rir e nesse momento saio
de perto da parede e sigo fazendo elas perceberem minha
presença.

Beatriz arregala os olhos enquanto sua amiga pigarreia


abaixando a cabeça constrangida.

— Atrapalho alguma coisa? — pergunto fitando cada uma


delas...
Capítulo 39
JULIA

— Atrapalho alguma coisa? — pergunto fitando Beatriz e a outra


funcionária que continua de cabeça baixa.

— Não, estávamos apenas conversando Senhorita Vasconcelos.


— A mulher responde levantando a cabeça para me encarar.

— E o foco da conversa sou eu, deveriam cuidar da vida de


vocês e deixarem de espalhar mentiras. — Digo num tom firme e
sem esperar resposta continuo meu caminho até a sala de Gabriel.

Confesso que ouvir isso me chateou demais, é isso o que as


pessoas pensam ao ver Gabriel e eu juntos?

Suspiro e bato na porta antes de entrar na sua sala, encontro


Gabriel concentrado em algo no notebook, mas à medida que me
aproximo seus olhos se fixam em mim.

— Tudo bem? — pergunta ao perceber meu semblante distante.

— Sim, apenas ouvir coisas que não desejaria ouvir novamente.


— Suspiro.

— Quer falar sobre isso? — diz fechado o notebook e


concentrando toda sua atenção em mim.

— Quando as pessoas percebem que estamos juntos, a primeira


coisa que elas pensam é que estou interessada apenas no seu
dinheiro. — Digo bufando lembrando da fofoca que corre na
Empresa.
Ouvir apenas as duas falando mal de mim me faz pensar se
outros funcionários da Empresa também pensam e falam a mesma
coisa.

— Mas você e eu sabemos que isso não é verdade, quem


começou tudo isso? — pergunta num tom sério, mas balanço a
cabeça negando falar no assunto.

— Não importa, só quero que saiba que não importa o que dizem
sobre nós, estou apaixonada por você Gabriel, e eu te amo muito.
— Digo com sinceridade desejando esquecer as palavras que me
chatearam.

— Eu sei amor, nunca duvidei disso, também te amo! — diz num


tom carinhoso.

É tão triste saber que ainda existem muitas pessoas no mundo


que acham que pessoas de diferentes características não podem se
relacionar um pelo outro, e quando há relacionamento entre o casal
se convencem que tudo é por interesse.

— Ok, não quero estragar o momento falando disso, vim


repassar seus compromissos. — Digo segurando a agenda nas
mãos.

O nosso expediente na Empresa de hoje se estendeu mais do


que o normal já que chegamos atrasados sendo que Gabriel tentou
aproveitar o resto da tarde ao máximo.

Enquanto espero Gabriel terminar seu trabalho, permaneço


sentada em sua sala para sairmos e ir embora juntos, ouço meu
celular tocar dentro da bolsa, me levanto da cadeira e procuro o
aparelho.

E quando encontro vejo o nome de minha mãe no identificador,


atendo a ligação sem seguida ouvindo sua costumeira voz alegre:

— Como vai, querida?


— Bem, e vocês? — pergunto voltando a me sentar.

— Estamos bem, querida, liguei para perguntar se vai passar o


seu aniversário com a gente como fazemos todos os anos. — diz
me fazendo lembrar que a data do meu aniversário será em dois
dias.

Para aproveitar as habilidades de minha mãe como confeiteira


todos os anos ela toma a liberdade de fazer o meu bolo preferido
para comemorar a data em família.

Desde pequena nunca dei muita importância para a data, mas


meus sempre me incentivaram a fazer uma pequena comemoração
em família todos os anos.

— Sabe que não ligo muito para as comemorações de


aniversários mãe, mas talvez eu possa passar o dia com vocês.

— Oh querida, é o seu aniversário de 23 anos Julia, precisa


comemorar filha, e nesse ano está sendo mais especial para você,
pois terá um filho a caminho. — Diz sabendo que no fim conseguirá
me convencer.

— Meu envelhecimento não precisa ser comemorado mãe. —


Brinco percebendo que Gabriel me observa.

— Deixe disso querida, ainda é muito jovem, será apenas uma


pequena comemoração em família, não esqueça de convidar
Gabriel. Vou fazer o seu bolo de chocolate preferido. — diz me
lembrando do sabor maravilhoso do bolo de chocolate fazendo-me
salivar.

— Ok mãe, conseguiu me convencer, estou ansiosa para provar


o bolo. — Sorrio ouvindo sua risada.

— Podemos deixar para o período da noite, já que você e


Gabriel trabalham, o que acha? — diz esperando ansiosamente
minha resposta.

— Perfeito. — Digo encerrando a ligação e guardando o celular


de volta na bolsa.

Volto a me sentar vendo que os olhos de Gabriel estão fixos em


mim, e pela sua expressão sei que ele vai perguntar o motivo por
não contar sobre o meu aniversário.

— Quando me contaria sobre o seu aniversário? - pergunta


largando a caneta que segurava em cima da mesa.

— Não é uma data que gosto de comemorar, faço isso apenas


pela minha mãe. — Explico balançando os ombros.

— É o seu aniversário Julia, não pretendia me contar? —


pergunta com uma expressão magoada.

— Eu sei, desculpa, tem muitas coisas acontecendo em minha


vida que acabei esquecendo.

— Tudo bem amor, quando será?

— Daqui a dois dias faço 23 anos. — Suspiro.

— Bom, ainda tenho tempo para comprar um presente. — diz,


mas nego com a cabeça.

— Não precisa, Gabriel.

— É o mínimo que posso fazer Julia, é a minha noiva amor. —


diz me lembrando dos acontecimentos de hoje.

— Precisamos contar para nossas famílias sobre o noivado.

— Concordo...

GABRIEL
Saber que o aniversário de Julia acontecerá em dois dias me fez
pensar em querer preparar alguma surpresa.

Ela me disse que não gosta de comemorar a data do próprio


aniversário, mas não posso deixar isso passar em branco sem fazer
absolutamente nada.

Também me contou que sua mãe costuma preparar uma


pequena comemoração todos os anos como daqui a dois dias.

Isso também me faz pensar nas possibilidades de surpresa que


posso fazer, depois de uma hora finalmente consigo terminar o que
tinha pra fazer na Empresa.

Enquanto Julia foi usar no banheiro, organizo a sala e desligo o


notebook, mas o toque do meu celular me interrompe.

— Gabriel Simon, com quem eu falo? — atendo a ligação


desconhecida ouvindo um suspiro desesperado do outro lado.

— Gabriel! — ouço a voz conhecida.

— O que quer, Stella? — pergunto aumentando o tom de voz.

É nesse momento sue Julia também volta a entrar na sala e


franzir o cenho.

— Gabriel, você precisa me ouvir, por favor. — diz com a


respiração acelerada.

— Ouvir o que Stella? Já disse para ficar longe da minha...

— Eu sei que não quer me ouvir, mas por favor Gabriel, é muito
importante!

E quando estou quase desligando a chamada sua voz me deixa


alertado.
— Gabriel, vocês estão correndo um grande perigo... — diz com
o nervosismo na voz.

Me sento novamente de volta em minha cadeira decidindo ouvir


o que ela tem a dizer.

— O que? Me diga, Stella!

— Você e sua família não estão seguros, não poderia estar


falando com você sobre isso, mas tenho que te contar, não quero
que nada de ruim aconteça com pessoas inocentes. — diz ofegante
e num tom baixo.

— Quem? Me diga, quem está por trás disso? Eu preciso saber,


Stella por favor...
Capítulo 40
GABRIEL

Por um momento penso que tudo isso não passa de uma bela
armação dela, mas parte de mim quer acreditar na palavras de
Stella, e o tom desesperado de sua voz na ligação confirma isso.

— Quem? Me diga, quem está por trás disso? Eu preciso saber,


Stella por favor. — Digo confuso.

Preciso saber quem está tramando algo contra mim e minha


família, não posso deixar que machuquem pessoas que amo pelos
meus erros causados no passado.

— Gabriel eu...— começa a dizer, mas sua voz é cortada pela


ligação que se encerra.

Tento várias vezes conseguir contato com ela novamente, mas


falho, bufo preocupado bagunçando os cabelos com as mãos,
parece uma maldição, quando estou no auge da minha felicidade
algo de ruim insiste em aparecer em minha vida.

— O que houve, Gabriel? — Julia se aproxima notando meu


semblante preocupado.

Fico na dúvida se realmente é uma boa ideia contar isso para


Julia, já que não desejo deixa-la alarmada, ficar preocupada e
angustiada numa situação como a dela não é bom.

— Não se preocupe, vou resolver isso amor. — Suspiro tentando


ligar para Stella, mas a chamada insiste em cair na caixa postal.

Tenho vontade de socar a mesa devido ao meu estresse, mas


me controlo tentando não assustar Julia.
— Te conheço bem Gabriel, e sei há algo de errado, me conta!
— diz apontando para o celular nas minhas mãos.

— Não quero te preocupar sem ter certeza do ocorrido Julia.

— Me deixar sem saber de nada não é a solução Gabriel, o que


Stella disse que te deixou tão abalado? — pergunta me fazendo
levantar a cabeça para fitar seus olhos escuros.

Por um momento sinto raiva correndo em minhas veias sabendo


que alguém tentará machucar Julia para chegar até mim, não posso
deixar que isso aconteça, fecho os olhos apertando o celular com
força tentando diminuir a aflição que estou sentindo.

Trinco os dentes com força antes de começar a explicar para


Julia, sei que não devia, mas é seguro se ela souber de tudo o
quanto antes.

— Stella queria me dar um aviso, disse que não estamos


seguros. — Digo vendo que Julia franze o cenho antes de se sentar.

— Aviso? Então, isso quer dizer que tem alguém tentando te


atingir por trás disso. — Constata.

— Mas isso não vai acontecer, farei o possível para proteger


nossa família, vou descobrir quem está tramando tudo isso.

— Uma vez, me disse que a família da Maya te odeia pelo que


aconteceu com ela, confia na Stella mesmo sem conhecê-la?

— Confesso que não sei amor, também não confio nela, mas
pareceu que ela estava desesperada. Talvez possa ser uma
armadilha, ou talvez isso seja verdade, mesmo sem sabermos
devemos tomar cuidado daqui para frente amor, nunca me perdoaria
se algo acontecesse com vocês por minha causa.

— Talvez possa ser alguém da família da Maya, não podemos


confiar totalmente na Stella. — diz e concordo com a cabeça.
Mesmo sendo da família de Maya, não posso confiar em Stella
sem ao menos conhece-la, talvez ela também queira me atingir pelo
que aconteceu com Maya.

Mesmo sabendo que não tive culpa no acidente de Maya, seus


pais passaram a me odiar, acreditam que se a filha não se
envolvesse comigo ela ainda estaria viva.

— Não está conseguindo falar com ela novamente? — Julia


pergunta e mesmo que sua expressão esteja neutra sei que ela está
preocupada e com medo do que possa acontecer.

Bufo tentando ligar para o número que Stella me ligou, mas falho
como as outras tentativas anteriores.

— Está ficando tarde amor, vamos. — Término de organizar a


mesa e seguimos para o elevador juntos.

Toda essa situação está me deixando mais do que preocupado,


já perdi duas pessoas importantes para mim e isso me levou a
ruína, segundo as palavras de Stella minha família também não está
segura.

Não posso arriscar e deixar que algo de ruim aconteça, não


posso ficar parado sem fazer nada, mas antes de tomar medidas
drásticas preciso saber mais, preciso saber sobre a pessoa que
tentará me atingir.

Enquanto o elevador desce até a garagem do prédio pego o


celular do bolso do terno e dígito uma mensagem para Stella já que
ela não atende a porcaria do celular.

Me ligue com urgência, preciso saber mais sobre o que me


contou, ainda não confio totalmente em você.

Suspiro e guardo o aparelho, me disse que não estamos


seguros, ou seja, ela não me contou o que acontecerá em seguida,
ou quando vão tentar me atingir, precisamos ter cautela com os
nossos próximos passos.

Quando finalmente chegamos na garagem, entrelaço nossas


mãos começando a vasculhar todo o local com os olhos, mas não
há ninguém, apenas há o meu carro e o do segurança que fica para
vigiar a Empresa no período da noite já que somos os últimos a sair.

— Precisamos ter cuidado a partir de agora, até que tudo se


resolva prefiro que fique no apartamento. — Digo dirigindo até o
apartamento.

— Não quero ficar trancada numa gaiola de ouro Gabriel, gosto


do meu trabalho. — diz e bufo com sua teimosia.

— Querida, sei que não quer isso, mas quero te proteger, então
largue de ser teimosa e confie em mim, quero te proteger Julia,
então por favor, faça o que eu digo. — Digo sério, ela tenta
protestar, mas se cala sabendo que estou certo.

Meu celular toca anunciando uma nova mensagem, e com a mão


trémula entrego o aparelho a Julia, estou dirigindo e ler outra
mensagem numa horas dessas me deixaria mais nervoso.

— Leia, por favor.

— É muito arriscado nos falarmos por celular, poderia me


encontrar amanhã? Venha sozinho, prometo que vou tentar te
contar tudo. — Julia termina de ler a mensagem e volta a me
encarar aflita.

— Você não vai se encontrar com essa mulher sozinho Gabriel,


é muito perigoso.

Tenho total noção do perigo que posso correr, mas preciso saber
sobre toda essa história.
— Escreva uma nova mensagem dizendo que terá de ser em um
local público. — Julia não faz o que peço, mas continua me
encarando.

— Gabriel, por favor, não faça isso. — Viro a cabeça vendo que
seus olhos estão marejados, está com medo do que possa
acontecer comigo.

— Vou ficar bem amor, confie em mim. — Retiro uma das mãos
do volante e entrelaço nossos dedos.

— E se acontecer alguma coisa? — diz com a voz embargada.

— Não vai, vou ficar bem, ok? — beijo sua mão vendo que Julia
faz o que pedi.

— Eu vou junto com você então!

— Claro que não Julia, você vai ficar no apartamento que é um


lugar seguro, a nova governanta vai estar lá com você, e se quiser
pode chamar sua mãe ou uma amiga para lhe fazer companhia. —
Mesmo contrariada ela concorda.

Só espero que amanhã aconteça tudo como planejado, posso


até sair machucado dessa situação, mas não permitirei que toquem
em Julia e em minha família...
Capítulo 41
JULIA

Passei a noite toda acordada, aflita sobre o que pode acontecer


daqui para frente, e saber que Gabriel aceitou se encontrar com
aquela mulher piora tudo.

Consegui dormir poucas horas e fui acordada algumas horas


depois por Gabriel avisando que já sairia para encontrar Stella.

Tentei a todo custo convence-lo a ficar no apartamento comigo e


deixar essa ideia idiota de se encontrar com ela, mesmo não
querendo passei a maior parte do tempo pensando em tudo o que
poderia acontecer com Gabriel nesse encontro.

E ao pensar em cada possibilidade meu peito se apertava mais,


antes de sair Gabriel prometeu que voltaria o mais rápido possível
para casa, e quando saiu voltei a me deitar na cama com o celular
agarrado ao peito.

Estava exausta, meu corpo implorava por uma descanso sendo


consequência das poucas horas de sono que tive, mas o cansaço
me venceu e adormeci novamente.

Me sento na cama e ligo a tela do celular procurando alguma


ligação não atendida de Gabriel enquanto dormia, mas não há nada.
Vejo as horas percebendo que dormi por quase uma hora e meia.

Me levanto ainda segurando o aparelho nas mãos aflita, talvez a


conversa tenha demorado mais do que o esperado.

Cansada de esperar, ligo para Gabriel que atende após alguns


segundos.
— Amor? — suspiro aliviada ao ouvir sua voz.

— Está tudo bem? — pergunto preocupada.

— Ainda estou conversando com Stella, daqui a pouco eu chego


aí amor, fique calma, e não saia de casa desacompanhada. —
Concordo mais relaxada e encerro a ligação.

Sigo para o banheiro e retiro o pijama que uso a fim de tomar um


banho quente e rápido, coloco roupas confortáveis, pego o celular e
saio do quarto.

Desço e caminho até a sala de estar, mas sinto meu corpo


tremer quando ouço barulho de algo cair vindo da cozinha, suspiro
tentando me convencer de que não é nada.

Antes de sair Gabriel aproveitou para levar Eve a escola, então


constato que estou sozinha no apartamento.

Devagar, continuo caminhando até a cozinha, mas para o meu


alívio vejo apenas a governanta que também se assusta com minha
presença.

— Senhora Jones, não sabia que já tinha chegado. — Digo


normalizando a respiração.

— Desculpe acordá-la Senhorita, encontrei com o Senhor Simon


quando ele estava saindo e me pediu para entrar. — diz mexendo
algo na panela sobre o fogão.

— Não me acordou, só fiquei surpresa. — Esclareço o motivo


me sentando em uma das cadeiras em frente ao balcão da cozinha.

— Imaginei que logo acordaria, então tomei a liberdade de


preparar o café da manhã. — diz pegando um prato no armário e
me servindo ovos mexidos e torradas.

— Obrigada! — sorrio depositando o celular no balcão para


pegar o prato.
A observo pegar uma tigela pequena com pedacinhos de frutas
variadas e abrir a geladeira par servir um copo generoso de suco de
laranja.

— Está tudo ao seu agrado? Posso preparar outro prato se


preferir. — Propõe, mas nego com a cabeça.

Levo um pouco dos ovos mexidos a boca e fecho os olhos


saboreando o sabor.

— Hum perfeito, Gabriel fez uma boa escolha em te contratar,


mas vou ficar mal-acostumada. — Digo experimentando o resto do
prato.

— Bom, vou deixa-la comer a vontade, organizarei a sala se


precisar de mim. — Assinto concordando.

Enquanto Gabriel não chega, passo no escritório para pegar o


meu notebook e livros da faculdade, os levando até a sala de estar
já que será mais fácil visualizar Gabriel ao chegar.

Resolvo adiantar alguns trabalhos da faculdade para fazer já que


não é seguro ir trabalhar na Empresa, também faço uma vídeo
chamada com Sam e a convido para a comemoração de amanhã.

Deitada no enorme sofá, pouso a mão sobre o pequeno volume


em minha barriga, acariciando e desejando que nenhum mal
aconteça com Gabriel.

— Seu pai e eu estamos loucos para conhecer você bebê,


prometo que tentarei ser uma boa mãe. — Conto.

— O papai é um homem bom, não merece passar por mais


sofrimento, o passado dele é já conturbado demais. — Digo
pensando sobre o aviso de Stella.

— Sou inexperiente nisso, mas vou tentar ser a melhor mãe que
uma pessoa poderia ter, espero que nas próximas ultrassonografias
consiga saber o seu sexo. Estou ansiosa para montar o seu
quartinho, comprar milhares de roupinhas que nós dois sabemos
que você crescerá muito rápido e não terá chances de usar. —
Sorrio com o futuro.

Sou despertada dos meus pensamentos ao ouvir a porta sendo


aberta, me levanto rapidamente vendo que Gabriel caminha
apressadamente até as escadas.

— Gabriel, está tudo bem? — pergunto e ao notar minha


presença ele se vira e nesse momento vejo a expressão abatida no
rosto e os olhos vermelhos.

Como se estivesse chorado por horas...

Arfo angustiada sentindo o peito se apertar, lágrimas roçam de


seus olhos enquanto corre até mim me envolvendo em um abraço.

Franzo o cenho ouvindo o som do seu choro enquanto me aperta


em seus braços, retribuo o carinho o tentando passar conforto.

— O que aconteceu? — pergunto.

— Não foi um...— diz entre soluços não conseguindo formular


uma frase coerente.

Pego sua mão e o levo até o sofá, ele se senta ao meu lado e
ergue a cabeça respirando fundo.

— Não foi um acidente...

— O que?

— Maya. Não foi um acidente, foi tudo premeditado...sabotaram


o carro que ela estava dirigindo.

Arregalo os olhos ao ouvir a frase, meu deus, Gabriel volta a


soluçar contra o meu corpo, o poderoso CEO perdeu a postura
sendo apenas um homem machucado pelo próprio passado
abraçado a mim.

— Eu estou aqui, estou aqui com você. — Repito como se


conseguisse sentir toda a sua dor.

E todos esses anos Gabriel conviveu com uma mentira, é como


se uma chave rodasse em minha cabeça, como se tudo começasse
a fazer sentido.

O ódio que a família de Maya senti por Gabriel faz sentido, eles
acham que ele é o culpado pela morte da filha e do neto.

— Mataram eles Julia, mataram ela e meu filho...


Capítulo 42
GABRIEL

Fui obrigado a deixar Julia aflita no apartamento quando saí para


me encontrar com Stella, ontem à noite ela me enviou uma
mensagem com o local do encontro.

Seria em uma praça no centro da cidade, concordei sabendo que


é um lugar público, pois ainda não confio totalmente nela e nem sei
do que é capaz de fazer.

O caminho todo até o centro da cidade foi feito com pura tensão,
mas me sinto um pouco aliviado em saber que Julia está segura no
apartamento, antes de sair me encontrei com a governanta e pedi
para subir.

Antes da ida de Eve para escola, insistir em não deixar que ela
vá, mas minha pequena estava tão animada para encontrar os
amiguinhos que não resistir e deixei, não me sinto seguro depois do
aviso de Stella, mas parte de mim sabe que Eve está segura na
escola, depois de deixa-la dei instruções para a diretora para que
não liberasse a saída da minha filha com estranhos, que somente
familiares tinham esse poder.

Ao chegar na praça, estaciono o carro e saio a procura de Stella,


muitas pessoas passeiam pelo local aproveitando o dia de sol, vejo
Stella sentada em um dos bancos afastados, suspiro e caminho em
sua direção.

E quando seus olhos azuis me encontram sempre é um choque


para mim, é como se Maya estivesse em minha frente devido à
grande semelhança com a irmã, mas tenho que parar de pensar
nisso, ela não é Maya, meu antigo amor infelizmente está morto.
— Gabriel! — diz quando me sento em um dos bancos
desocupados em sua frente.

— Vamos Stella, conte tudo, não tenho muitos tempo. — Uso


meu tom frio e ela assente com a cabeça.

— Sei que não confia em mim, e você tem razões para isso, mas
só estou tentando ajudar Gabriel. — diz me encarando.

— Por que eu e minha família estamos correndo perigo? —


respondo tentando lhe arrancar explicações o mais rápido possível.

— Meus pais acreditam que você é o culpado pela morte da


Maya e do meu sobrinho. — Arqueio uma sobrancelha e rio com
certa ironia na voz.

— Sei disso há muito tempo Stella, mas todos vocês sabem o


que aconteceu com Maya não foi minha culpa.

— Acredito em você Gabriel, sei que não seria capaz de cometer


tal ato, mas eles não acreditam em você como eu.

— Não podem ficar me culpando pelo que eu não fiz Stella, eu


amei a sua irmã e errei em deixa-la ir, mas não sou o culpado pelo
acidente! Por que insistem em me culpar? — pergunto vendo que
sua expressão facial muda.

— Acreditam que você armou o acidente contra Maya, que um


comparsa fez Maya sofrer o acidente.

— O que? Do que está falando? Todos sabem que foi um


acidente! — pergunto atordoado e tudo se confirma quando Stella
nega com a cabeça.

— Depois da morte de Maya, meu pai pediu para investigar o


acidente e descobriram que o fio do freio do carro que Maya alugou
foi cortado, existiam bastantes câmaras nas ruas e algumas delas
flagraram o exato momento que Maya estava sendo perseguida por
uma carro escuro.

Balanço a cabeça não acreditando nas palavras que saem de


sua boca, não posso acreditar que passei todos esses anos sem
saber da verdade, que alguém provocou o acidente de carro que
Maya estava com nossos filhos, que um maldito sem coração quis
tirar a vida deles.

— Isso não é verdade, não pode ser! — digo exaltado sentido a


agonia crescendo em meu peito.

— Sinto muito Gabriel, também queria que fosse mentira, mas


essa é a verdade. Alguém retirou a vida da minha irmã e do seu
filho. — diz com os olhos azuis marejados.

— Porra, por que diabos não me contaram isso antes? — me


levanto socando a mesa sentindo minha mão doer, mas nada se
compara com a dor da verdade que estou sentindo.

— Desculpe, mas todos esses anos pensávamos que você sabia


de toda a verdade, mas agora vejo que não, esse é o motivo do ódio
que meus pais sentem por você Gabriel.

— Seus próprios pais acham que mandei provocar o acidente?


Que tive a porra da coragem de matar Maya e meu filho? — levanto
a voz, mas sou obrigado a me controlar quando várias pessoas nos
olham.

Respiro fundo sentindo o mix de sensações que estou sentindo,


sinto raiva por me esconderem isso por todos esses anos, sinto
culpa por não proteger Maya, e sinto mágoa por tudo o que
aconteceu.

Tiraram pessoas importantes de mim, tiraram vidas de pessoas


inocentes...
— Quem fez isso? Eu juro que vou encontrar o desgraçado e
faze-lo pagar por tudo o que fez!

— As câmaras flagraram o momento do acidente e de quando o


culpado fugiu, ao provocar o acidente o carro que estava usando
também foi atingido, mas o desgraçado conseguiu fugir, e depois de
tanta procura acharam o carro demolido num ferro velho, sem pistas
de quem fez aquilo. — diz deixando uma fina lágrima escorrer pela
pele clara de seu rosto.

— Por que fizeram isso? Maya não tinha inimigos!

— Exatamente, Maya sempre foi doce demais, gostava de


ajudar, todo mundo gostava dela, e depois de pensar muito talvez
tenha sido alguém que te odeia Gabriel, usaram Maya para te
atingir.

Não tenho inimigos, é certo que algumas pessoas não devem


gostar de mim, mas não conheço ninguém que tenha tamanho ódio
por mim a ponto de atingir pessoas que amo.

Mas não posso ter tanta certeza assim, talvez não me lembre de
quem magoei há alguns anos.

— Eu não sei, não lembro de ninguém...— sussurro sentindo o


aperto no peito de aumentar em pensar na possibilidade de alguém
usar Maya para me atingir.

— Por que me disse que estamos em perigo? Seu pai vai tentar
se vingar de mim, não é?

— Não é só o meu pai Gabriel, ainda não sabemos quem causou


o acidente de Maya, se essa pessoa te odeia tanto assim, vai querer
te atingir novamente, então é melhor tomar cuidado.

— Porque está preocupada comigo Stella? Sei que me odeia


tanto quanto seus pais, então por que está me avisando? —
pergunto estreitando os olhos.
— Vou ser bem sincera com você Gabriel, sim, eu te odeio, te
odeio por deixar minha irmã sozinha e grávida quando ela mais
precisou de você, mas sei que você não é o culpado pelo acidente,
então não quero que pessoas inocentes se machuquem e sei que
minha irmã não gostaria que nada acontecesse com você Gabriel.
— diz pegando a bolsa e retirando um caderno médio de dentro e
me entregando.

— O que é isso? — pergunto pegando o caderno com capa de


couro preta fechada com uma espécie de elástico.

— É o diário da Maya, ela deixou isso quando estava morando


comigo, aí dentro está escrito todas as etapas importantes e
especiais da vida dela, creio que deva ficar com ele.

Retiro o elástico da capa folheando o diário vendo que as


páginas estão marcadas e escritas com a letra de Maya, mesmo
depois de anos ainda consigo reconhecer sua letra.

— Obrigado.

— Ela te amava muito Gabriel, e deixá-la sozinha foi a ruína


dela, faça as escolhas certas dessa vez, sei que está apaixonado
por aquela garota que vi em seus escritório, então não deixe que
tudo aconteça novamente.

— Vou fazer a escolhas certas dessa vez. — Me levanto e digo:

— Até Stella! — agradeço e me despeço caminhando até o carro


estacionado apertando o diário contra os meus dedos.

Dentro do carro pouso a cabeça contra o volante tentando


assimilar tudo, se o que aconteceu com Maya foi por minha causa,
Stella está certa, não estamos totalmente seguros e sem contar que
o maldito do seu pai também tentará algo contra mim.
Pego o diário e abro na primeira página vendo a folha recheada
de letras bem escritas, leio as primeiras páginas vendo que Maya
narra a rotina e a faculdade de administração depois de entrar para
a Empresa, sorrio com lágrimas nos olhos lendo cada detalhe até
que uma data chama a minha atenção...

10 de novembro

Querido Diário...

O dia de hoje foi uma total exaustão para mim, mas para a minha
felicidade ele me olhou novamente, e não foi uma simples olhada
como todas as vezes anteriores.

Senti seus olhos azuis como os oceanos sobre mim foi um mix
de emoções e sentimentos tudo junto, percebi que seus olhares
sobre mim têm se intensificado, as vezes ele me flagra quando
estou o encarando, mas sei que qualquer uma seria capaz de fazer
o mesmo no meu lugar, ele é deslumbrante, sei que o meu principal
foco deveria ser o trabalho, desde pequena sempre sonhei em se
tornar uma CEO de sucesso e estou trabalhando para conseguir
chegar nesse patamar.

Mas é impossível continuar trabalhando sendo que ele está ali,


há poucos metros de mim, e saber disso está me enlouquecendo,
nunca acreditei nessa besteira de amor à primeira vista, mas Gabriel
Simon está mudando isso em mim.

Também não sei se isso está se tornando amor, ou se é apenas


desejo passageiro, nunca conversamos por completo, apenas
acenos de cabeça como cumprimento, mas hoje foi diferente....

Ele veio até mim, veio e falou comigo, me cumprimentou com um


aperto de mãos, eu sei, é muito bobo, mas já é um belo começo.

Não sabia a pouco tempo, mas somos mais parecidos do que


parece, ele é como eu, está iniciando a carreira no ramo da
Administração e espera sucesso no futuro, também tenho essa
ambição.

Ele não é apenas lindo e charmoso, tem algo a mais nele que
aumenta o meu fascínio cada vez mais, talvez seja os seus olhos
azuis, o seu olhar encantador que me alucina, não sei, mas espero
descobrir em breve.

Apenas continue assim Gabriel Simon, continue me notando,


apenas continue se lembrando de mim...

Fecho o diário e o coloco sobre o banco do passageiro sentindo


finas lágrimas transbordarem dos meus olhos sem controle, fecho
os olhos e soco o volante com força.

Ela me amava, escreveu sobre mim no seu diário, e deixei que


sua vida tomasse esse final trágico e triste.

— Me perdoa por favor...— digo entre soluços apertando os


olhos com força.

— Por favor...me perdoe Maya, eu sinto muito que tudo tenha


acabado desse jeito...
Capítulo 43
JULIA

Depois que Gabriel chegou no apartamento daquele jeito


subimos para o quarto e tentei o ajudar ao máximo que pude.

Estava desolado, e mesmo abalado conseguiu me contar sobre


algumas partes da conversa com Stella, saber da verdade está o
destruindo por dentro então resolvi não o pressionar demais pois
sabia que estava sendo muito difícil para ele.

Após passar a noite acordado como eu, depois de chorar e me


contar Gabriel acabou desabando na cama, fiquei ao seu lado na
maioria do tempo, e ao virar a cabeça percebo que uma espécie de
caderno que ele trouxe está em cima do criado mudo ao lado da
cama.

Olho para Gabriel que continua dormindo numa posição


desajeitada e pego o caderno nas mãos.

Franzo o cenho e abro em uma página aleatória onde uma bela


caligrafia está escrita nas páginas brancas.

15 de novembro

Querido diário...

Deus, estou tão feliz, é como se toda a felicidade e alegria que


sinto poderia transbordar de dentro de mim.

Ele me chamou para sair há dois dias, meu desejo se realizou,


ele finalmente conversou comigo e me convidou para sair com ele!
Confesso que fiquei muito nervosa quando ouvi as palavras
saindo de sua boca, senti borboletas no estômago enquanto
aceitava seu convite, até que pela minha expectativa não demorou
muito para chegar até mim, até acreditava que esse dia nunca
aconteceria.

Mas preciso deixar registado a noite de ontem, Gabriel me levou


até uma dos bares que abriu recentemente e bebemos na
companhia um do outro, conversamos sobre a Empresa e nossas
vidas particulares, o conheci um pouco melhor em apenas um noite.

Percebi que meus sentimentos aumentam cada vez mais, além


de bonito e charmoso Gabriel é muito legal e simpático, além de ser
muito educado é claro, bebemos e rimos por horas até que rolou o
nosso primeiro beijo.

Sim, ele me beijou, esse é um dos motivos da minha tremenda


alegria que sinto neste momento, estava nervoso por beija-lo, mas
retribui o gesto.

Até que um simples beijo se tornou algo maior, e passamos a


noite juntos, não sei se isso foi a droga da consequência do álcool,
mas decido retirar esse detalhe de dentro minha cabeça.

Nossa primeira noite juntos, os acontecimentos da noite anterior


insistem em não abandonar minha mente e sorrio boba quando
lembro de cada detalhe da noite que passamos...

Suspiro e fecho o caderno que presumo ser um diário, o diário


da própria Maya, ela narra seus momentos ao lado de Gabriel e sei
que ler isso aumentou as emoções dele.

Observo seu rosto franzido enquanto dorme, o rosto está


vermelho e um pouco inchado ao redor dos olhos sendo
consequência do choro. Com cuidado para não o acordar levo uma
das mãos até os fios claros do cabelos dele acariciando com carinho
e afeto.
— Sinto muito por ter que sofrer tanto, não merece passar por
tudo isso...— sussurro.

Com a curiosidade a mil abro novamente o diário de Maya


desejando descobrir algo que seja importante para resolver o que
aconteceu com ela.

Folheando as páginas leio os próximos acontecimentos, Maya


narra o pedido de namoro feito por Gabriel, alguns momentos que
passaram juntos, o sucesso que Gabriel estava começando a
ganhar entre outros.

Mas uma data chama a minha a atenção, me encosto na


cabeceira da cama e segurando o diário começo a ler
silenciosamente.

04 de fevereiro

Querido diário...

Minhas suspeitas foram confirmadas esta manhã, criei coragem


e mesmo nervosa fiz alguns testes de farmácia e todos confirmaram
minha gravidez, há algumas semanas estava sentindo alguns
sintomas e hoje finamente recebi a notícia.

Ainda sem saber o que fazer fiquei horas trancada no quarto


pensando no que fazer, em como minha vida mudará daqui para
frente, essa gravidez nunca foi planejada e me culpo por não ser
cuidadosa a ponto de evitar uma situação como essa.

Ainda não contei nada para Gabriel e nem sei qual será sua
reação, ninguém além de mim sabe disso, nem meus próprios pais
que tenho certeza de que vão me julgar após saber.

Meu futuro já estava planejado, trabalharia para conquistar meus


objetivos e um dia se tornar uma CEO da minha própria Empresa,
esse sempre foi o meu sonho e dos meus pais também.
Uma gravidez agora atrapalharia tudo, e com certeza levaria
decepção para os meus pais, ainda sou jovem e tenho muito para
viver e nunca planejei se tornar mãe tão rapidamente.

Mas também não posso rejeitar minha gravidez, não posso


rejeitar nosso filho, isso é uma coisa que nunca seria capaz de
cometer na vida, tenho que contar para Gabriel o quanto antes e
rezo para que ele fique feliz em saber que será pai em breve...

05 de fevereiro

Querido diário...

Estou totalmente abalada, me sinto vazia, sem esperanças e


com vontade de desistir de tudo, sinto todas as piores emoções ao
mesmo tempo.

Tomei coragem e contei sobre a gravidez para Gabriel e para a


minha infelicidade ele nos rejeitou...

Sua reação foi a pior que uma pessoa poderia reagir, me sinto
magoada e muito triste por amar um homem que foi capaz de
rejeitar o próprio filho.

Passei horas chorando tentando me manter forte e seguir em


frente, mas não consigo e isso me faz fraca, meu coração está em
pedaços relembrando cada palavra que Gabriel foi capaz de dizer.

O pior foi que ele até propôs um aborto, e ouvir isso me doeu de
uma forma tão profunda, estava crescendo na carreira e não
precisava de mais uma "coisa" para se preocupar, mas ainda o amo
demais e me odeio por isso.

Me odeio por criar expectativas que nunca se realizará, me odeio


por achar que um homem como ele ficaria feliz em formar uma
família ao meu lado, me odeio por ama-lo incondicionalmente.
Meus pais também ficaram sabendo da notícia e a reação deles
foi como esperava, eles também rejeitaram, num momento como
esse só preciso de alguém para me abraçar e dizer que tudo vai
ficar bem, só queria o apoio dos meus pais e até isso eles me
negaram.

Não tenho mais ninguém, estou sozinha e desolada no mundo,


me sinto fraca e abandonada.

Não posso ficar com alguém que proponha tal ato, não posso
renunciar um bebê inocente que não tem culpa de nada, não posso
fazer isso, se continuar com a gravidez significa abrir mão de
Gabriel farei isso.

Mesmo que machuque, mesmo que tenha que criar meu filho
sozinha eu farei isso.

Você me magoou Gabriel, você me machucou como ninguém foi


capaz, e não sei se serei capaz de perdoa-lo algum dia...

Fecho o diário num gesto hábil quando sinto Gabriel se remexer


na cama, o coloco sobre o criado mudo novamente e trato de secar
o rosto, enquanto estava lendo algumas lágrimas caíram como se
fosse capaz de sentir a mesma dor que Maya sentiu.

Me ajeito na cama vendo que Gabriel abre os olhos lentamente


passando a me encarar.

— Como está se sentindo? — pergunto.

— Queria que tudo isso não passasse de uma droga de


pesadelo. — diz se sentando ao meu lado.

— Sinto muito que tenha que passar por isso.

— Talvez eu esteja amaldiçoado por passar por tanta coisa ruim


desse jeito. — diz esfregando as têmporas.
— Não diga isso, estou aqui Gabriel, e vou continuar ao seu lado
te ajudando a suportar. — Puxo sua cabeça para o meu ombro.

Após suspirar ele levanta a cabeça para me olhar nos olhos.

— Obrigado por existir Julia, não saberia o que fazer sem você.
— diz levando o polegar até meu rosto.

— Isso faz parte da vida Gabriel, terá momentos felizes e outros


ruim, mas sempre vou estar aqui.

— Você é tudo para mim Julia, você é minha salvação e te


agradecerei eternamente por me salvar amor.

— Só espero que eu seja suficiente para você. — Digo vendo


que sua testa se franze.

— Não diga isso, você é mais do que suficiente para mim Julia,
não pense que eu te amo menos do que amei Maya. Ela foi o meu
primeiro amor, mas você é o meu amor épico Julia. — diz
acariciando meu rosto.

— Eu te amo mais do que já amei alguém, sei que ao ver o


minhas reações em relação a Maya te faz pensar que ainda amo ela
e que isso faz de você menos importante...— diz me olhando com
ternura.

— Mas está errada amor, fico desse jeito porque poderia impedir
o que aconteceu com eles, que pessoas inocentes morreram por
minha causa, mas eu te amo Julia, nunca duvide do amor que sinto
por você.

— Eu também te amo! — digo o abraçando fortemente.

E nesse momento e pela primeira vez não há desejo ou vontade


carnal, apenas amor e carinho um pelo outro...
Capítulo 44
GABRIEL

Dia seguinte

Passei boa parte da noite e da madrugada acordado, os


acontecimentos do dia anterior ainda estavam me atormentando ao
extremo e como consequência fui o primeiro a levantar da cama.

Me sento na cama e observo o rosto sereno de Julia enquanto


dorme tranquilamente, é uma linda cena de se observar e poderia
ficar o dia todo apenas a admirando se não tivesse outras coisas
para fazer.

Suspiro e logo os meus olhos alcançam o diário de Maya sobre o


criado mudo ao lado da cama, até cogitei a ideia de pega-lo, folhear
algumas páginas e ler sobre alguns acontecimentos, mas não fiz
isso, meu lado racional gritou mais alto, relembrar meu passado
trágico não estava fazendo bem para ninguém aqui, aquilo só
estava me deprimindo cada vez mais e não queria mais sentir isso.

Queria deixar o passado no passado, mas ninguém esquece e


deixa uma coisa dessas de lado e volta a viver tranquilamente,
durante todos esses anos aprendi a conviver com a dor da perda,
mas penso que talvez esteja perdendo boa parte da minha vida
focando apenas nisso.

Preciso aprender a conciliar meu futuro com o passado, já que


existem pessoas importantes para mim e que se importam comigo.

Levanto da cama e caminho até o criado mudo para pegar o


diário e decidido guardo o livro no fundo de uma das gavetas.
Aproveito e faço algumas ligações avisando que vou me ausentar
na Empresa por poucos dias, vejo o horário constatando que ainda
é cedo e que provavelmente minha filha ainda esteja dormindo já
que faltam algumas horas até a escola.

Lembro que me poucos dias acontecerá a festinha de Eve na


escola e que teremos que ajudá-la a se organizar, também lembro
que hoje é o aniversário de 23 anos de Julia.

Com meu estado deplorável na noite anterior ela até propôs


cancelar a comemoração de hoje na casa dos pais, sabendo que eu
não estava em um bom momento, mas neguei, é o aniversário dela
e aquela data mereceria uma boa comemoração.

Mesmo com tantas coisas de ruim acontecendo lembrar disso


faz um sorriso brotar em meus lábios, observo Julia dormindo
usando uma camisola que ressalta suas curvas e a barriga e isso
faz me traz uma ideia na cabeça.

Decidido a colocar minha ideia em prática sigo para o banheiro e


tomo um longo banho quente, e ao observar o reflexo do meu rosto
no espelho me assusto, olheiras escuras rodeiam os meus olhos
azuis que agora têm uma coloração avermelhada causada pelo
choro na noite passada.

Estou péssimo, em outras circunstâncias debocharia do estado


em que me deixei ficar, caminho para o closet e visto roupas casuais
e observo meu reflexo novamente, é estranho me ver vestindo calça
jeans, blusa e jaqueta já que passo a maior parte dos meus dias
vestindo roupas sociais.

Com Julia ainda dormindo, saio do quarto seguindo para a


cozinha onde encontro Olívia preparando o café da manhã.

— Bom dia, Senhor Simon! — exclama com um aceno de


cabeça antes de pegar um prato no armário.

— Bom dia, Olívia, não vou tomar café agora pois estou quase
de saída. — Digo, mas meus olhos se fixam no arranjo de rosas em
cima da mesa.

Me aproximo e pego uma rosa vermelha nas mãos e inspiro o


aroma adocicado da delicada flor.

— Vejo que o Senhor gostou das rosas, na minha casa temos


um jardim cheio delas e trouxe algumas para cá. — diz Olívia.

— São lindas, obrigado Olívia. — Agradeço e volto para o quarto


segurando a rosa.

Entro no meu escritório e me sento na cadeira antes de começar


a escrever um bilhete:

Feliz aniversário meu amor!

Queria estar aí quando acordar e passar horas ao seu lado te


enchendo de amor e carinho, mas infelizmente tive um imprevisto,
queria te acordar com mil beijos, mas não queria interromper seu
sono, mas prometo que volto logo.

Receba essa rosa como símbolo do amor que sinto por você...

Eu te amo!

Saio do escritório e no corredor vejo Eve saindo do seu quarto


com o rostinho sonolento ainda vestindo o pijama.

— Bom dia papai, você está bem? — me agacho em sua altura e


sua mão acaricia meu rosto com uma expressão preocupada ao
notar o estado dos meus olhos.

— Sim amor, o papai apenas não conseguiu dormir direito. —


beijo seu rosto com carinho.

— Você não vai trabalhar hoje? — pergunta notando minhas


roupas casuais.
— Não, mas tenho que resolver algumas coisas no shopping. —
Ao ouvir minha última palavra os seus olhos azuis brilham.

— Posso ir com você, papai? Por favor...— pede e sorrio


concordando e lhe conto todo o meu plano sobre o aniversário de
Julia a tornando minha parceira no que estou prestes a fazer.

Eve correu para o quarto se vestir enquanto volto para o nosso


quarto, deposito o bilhete e a rosa perto do celular de Julia onde
tenho certeza de que ela os achará facilmente.

Com cuidado para não a acordar beijo sua testa com carinho, ela
se remexe, mas não acorda.

— Eu te amo...— sussurro e saio do quarto encontrando Eve


usando um lindo vestido rosa.

Espero Eve tomar seu café da manhã e logo depois seguimos


rumo ao shopping da cidade, contei todo o meu plano para Eve que
concordou em me ajudar alegremente e prometeu não guardar
segredo de Julia.

Após entrarmos em algumas lojas de roupas seguimos até uma


joalheria, quando entramos os olhos de Eve brilharam ao notar as
joias de todo tipo nas prateleiras de vidros.

Uma atendente usando roupas sociais vem até nós e lhe informo
o que estou à procura, e após vários minutos observando cada
modelo finalmente escolho um com a ajuda de Eve.

Informo que também desejo escolher outro tipo de joia, escolho


um modelo feito com ouro branco e aproveitando que Eve não está
prestando atenção em nós eu digo:

— Esse modelo é perfeito, mas será que poderiam colocar um


símbolo de uma algema nesse aqui? — digo vendo o rosto da
mulher corar de vergonha diante da minha escolha.
— Claro...senhor, vou ver como podemos fazer. — diz
gaguejando e se afasta.

Ela deve estar curiosa sobre a minha escolha, qualquer outro


homem pediria algo mais relacionado ao romantismo, mas pedindo
um símbolo de uma algema é o meu jeito de demonstrar amor já
que foi através do BDSM que eu e Julia começamos a tornar nosso
relacionamento sério.

A mulher volta e ainda envergonhada e sem me olhar


diretamente nos olhos ela me mostra a troca feita pelo detalhe que
lhe pedir.

— Obrigado, ficou perfeito, ela vai adorar! — digo

— Claro...claro que sim Senhor.

Antes de sair da joalheria escolho uma pulseira para Eve já que


a pequena não parava de encarar as joias diante dela.

Segurando várias sacolas nas mãos seguimos rumo ao


estacionamento do shopping pensando em como daremos
continuidade ao nosso plano...
Capítulo 45
JULIA

Abro os olhos e a primeira coisa que noto é o outro lado da cama


vazio, me sento e vasculho o quarto com o olhar a procura de algum
sinal de Gabriel.

E ao levantar da cama vejo um bilhete e uma linda rosa no


criado mudo, sorrio e os pego nas mãos, e após ler levo a flor até o
nariz e fecho os olhos inalando o aroma fresco da rosa.

Ele se lembrou do meu aniversário, e saber disso me deixa


surpresa já que ontem foi um dia terrível para Gabriel, e mesmo se
sentindo mal ele lembrou de mim e quis me colocar em primeiro
lugar.

Mas fico confusa sobre o tal "imprevisto" que ela mencionou no


bilhete, pego o celular e vejo que não há nenhuma ligação ou
mensagem dele e isso me deixa mais confusa.

Suspiro e caminho até as enormes janelas de vidro do quarto,


afasto as cortinas e fecho os olhos quando a claridade do dia atinge
meu rosto, me acostumo com a luz e observo a paisagem do dia, e
por instinto minhas mãos pousam sobre minha barriga através do
tecido da camisola que uso.

— Bom dia, bebê. — Digo sorrindo e pensando nos meses que


faltam para finalmente conhecer nosso filho.

Mesmo acordando um pouco mais tarde do que o de costume,


ainda me sinto sonolenta demais e constato que isso faz parte da
gravidez.
Retiro a camisola e caminho para o banheiro, tomo um banho
quente e volto e sigo para o closet com uma toalha envolta do
corpo, o dia lá fora está quente, escolho um vestido com estampa
floral e prendo os cabelos num rabo de cavalo.

E de frente para o enorme espelho no closet, observo meu


reflexo percebendo que a gravidez está mudando meu corpo, não
de um jeito ruim, mas de um jeito que me deixe com orgulho de
estar prestes a se tornar mãe pela primeira vez.

Deixo o quarto e sigo pelo corredor, e em silêncio abro a porta do


quarto de Eve, mas franzo o cenho quando vejo que a pequena
também não está aqui.

Desço até a cozinha encontrando Olívia mexendo algo no fogão


e me aproximo.

— Bom dia, Olívia, Gabriel saiu cedo? E onde está Eve? —


pergunto me sentando em um dos lugares na mesa.

— Bom dia, querida, o Senhor Gabriel saiu há algumas horas e


levou a filha com ele.

Enquanto término meu café da manhã ouvimos a porta principal


sendo aberta, me levanto e rapidamente caminho até as escadas,
mas Gabriel e Eve são mais rápidos e se trancam no escritório
antes que eu possa entrar.

— Gabriel? — o chamo ouvindo sussurros e risadas de Eve.

— Sim, amor? — responde e logo abre a porta do escritório.

— Está tudo bem? — pergunto olhando para Gabriel e Eve que


tem o rosto corado.

— Claro! — diz e pega minha mão me levando até nosso quarto.

— Eve, vá se arrumar querida, faltam pouco tempo para sua


escola. — Gabriel diz e a pequena concorda.
E ao entrarmos no quarto e antes de falar alguma coisa, os
lábios de Gabriel estão colados nos meus num beijo casto e lento.

— Feliz aniversário amor...— encosta a testa na minha.

— Obrigada, mas não precisa me lembrar que estou ficando um


ano mais velha hoje. — Digo e ele sorri.

— Se você está se achando velha, então sou um idoso


comparado a você amor. — Beija meus lábios novamente.

E nesse momento me pergunto mentalmente sobre a mudança


repentina de comportamento dele, se está se sentindo melhor ou se
está fazendo tudo isso apenas para me deixar feliz.

— Você realmente está bem? Não preciso ir para essa


comemoração à noite, posso ficar com você. — Digo contornando
seu pescoço com meus braços.

Seu sorriso desaparece dando lugar a uma expressão séria e


neutra.

— Estou bem, vamos deixar tudo de lado e focar apenas em


você. — diz e aceno com a cabeça tentando não o pressionar
demais.

Meu celular toca anunciando a chegada de novas mensagens,


me afasto e pego o aparelho no criando mudo antes de ligar a tela e
verificar as mensagens.

— Bom dia filha, feliz aniversário, espero que nossa


comemoração à noite ainda esteja de pé, seu pai está aqui e vai
tirar o dia de folga para passar a noite em família, espero vocês a
noite...— sorrio diante do áudio de voz de minha mãe.

Uma nova mensagem de minha mãe chega novamente e


gargalho quando vejo uma foto antiga da minha infância que ela me
mandou, eu tinha apenas 1 ano nessa foto, percebendo minha
reação Gabriel se aproxima e sinto minhas bochechas corarem
quando seus olhos se fixam na foto no celular em minhas mãos.

— Desde pequena você tem uma bela bunda! — brinca


observando minha foto de fralda.

Rio e vejo que também há uma mensagem de Samanta me


parabenizando e outra de um número desconhecido, franzo o cenho
e com Gabriel ao meu lado aperto a mensagem de voz:

— Princesa, sou eu, apenas troquei de contato! Não esqueci que


hoje é o seu dia, e assim que acordei me lembrei da nossa infância
quando comemorávamos seu aniversário e de quando comíamos o
seu bolo escondido da sua mãe e deixávamos a cobertura toda
borrada...— Fernando rir no áudio e Gabriel fica tenso ao meu lado
ouvindo cada palavra.

— Era muito bom naquela época, mas o tempo passou, e hoje


você está completando seus 23 anos, ainda é só o início da sua vida
princesa, e depois de ter experimentado a experiência de quase
morrer posso dizer que a vida é muito curta Julia, viva cada
momento intensamente princesa, feliz aniversário! — Desligo o
celular e me viro para observar o rosto de Gabriel.

— Esse cara ainda te quer! — diz e faço um som de deboche.

— Para com isso, somos apenas amigos.

— Eu sei, mas isso não esconde o fato de que ele ainda está
apaixonado por você Julia...— e antes que eu possa o repreender
Gabriel continua:

— Mas não posso e nem vou te impedir de continuar sendo


amiga dele, eu te amo e confio em você amor e sei que nunca fará
nada para me magoar, então prometo não ter um ataque de ciúmes
cada vez que mencionar o nome dele. — sorrio diante das suas
palavras de confiança.
Gabriel sorri malicioso e aproxima a boca da minha orelha e por
reflexo sinto os pelos dos braços se eriçarem.

— E sei que sou o único a causar esse tipo de reação em você


amor, sou o único que pode te beijar e...

— O único a te levar para a cama e te fazer gritar o meu nome...


— diz a última frase num tom mais baixo.

— Deixa de ser convencido e safado Gabriel! — bato em seu


ombro de brincadeira.

— Eu já disse amor, você gosta quando aciono meu lado


pervertido e carinhoso ao mesmo tempo. — Beija minha testa.
Capítulo 46
JULIA

Passamos o dia e a tarde inteira juntos, e a noite se aproximava


cada vez mais, não sei se acredito em Gabriel quando ele diz que
está bem, mas não decido pressioná-lo demais.

A tarde Gabriel buscou Eve na escola e agora está ajudando a


fazer um penteado nos cabelos da filha, é claro que ele tem extrema
dificuldade em fazer algo como isso, mas venho lhe ensinando e ele
está aprendendo aos poucos.

E de frente para o espelho depois de sair do banho um sorriso


brota em meus lábios quando imagino o que Gabriel deve estar
fazendo com os cabelos da pequena.

Visto um roupão e prendo meus cabelos antes de começar a


maquiagem, faltam apenas duas horas até o jantar e comemoração
do meu aniversário na casa dos meus pais, faço uma maquiagem
básica e decido optar pelo babyliss nos cabelos.

Sorrio com o resultado e saio do banheiro voltando para o


quarto, mas meus olhos se fixam numa enorme caixa em cima da
cama com uma fita amarrada.

Me aproximo da cama e retiro a fita de cetim vermelha


lentamente, e com extrema curiosidade abro a caixa me deparando
com um tecido de cor branca, levanto a peça vislumbrando um lindo
vestido longo.

Ouço a porta do quarto sendo aberta atrás de mim e estremeço


sentindo longos braços contornando meu corpo.
— Gostou? — Gabriel sussurra perto da minha orelha e apoia a
cabeça no meu ombro enquanto observo cada detalhe da peça.

É um modelo longo de alças finas em cada lado do ombro,


branco predomina todo o tecido e uma abertura na perna chama
minha atenção.

— Eu amei, é perfeito. — Viro a cabeça e beijo seu rosto


agradecida.

— Estou louco para te ver vestindo-o, abre a outra caixa amor.


—diz beijando minha testa e apontando para uma outra caixa ao
lado.

Assim que levanto a tampa da caixa menor, meus olhos


encontram um lindo par de saltos brilhantes.

— Fiquei em dúvida se sentirá confortável em usá-los devido a


gravidez. — diz se referindo aos meus pés.

— Não se preocupe, ainda consigo usar, mas nos próximos


meses meus pés começaram a inchar cada vez mais, então ainda
posso aproveitar. — Me viro de frente para observá-lo.

Gabriel está lindo como sempre, usando terno escuro e roupas


sociais dispensando a gravata, observo cada mínimo detalhe do seu
belo rosto, apesar de algumas olheiras ao redor dos olhos azuis ele
continua lindo.

Toco sua barba por fazer, contorno seu pescoço com meus
braços quase ficando na ponta dos pés devido a nossa grande
diferença de altura.

— Está tão elegante, preciso lembrar que é apenas uma


pequena comemoração em família? — brinco me referindo a suas
roupas.
— Sei disso, mas quero estar bonito para comemorar o
aniversário da minha noiva. — diz beijando meus lábios com
carinho.

— Ok, agora preciso terminar de me arrumar Gabriel. — Me


afasto, mas suas mãos encontram o laço do meu roupão.

— Posso te ajudar com isso...— diz enquanto os dedos


ameaçam desfazer o nó.

— Eu até deixaria fazer isso, mas infelizmente temos uma


comemoração para ir. — Me viro fazendo uma expressão de
decepção o que só aumenta seu sorriso.

— Certo, vou deixá-la se vestir, mas quando voltarmos prometo


que a farei minha pela noite toda. — Sussurra antes de se afastar
deixando meu corpo febril.

Após colocar o vestido no corpo, o resultado me enriquece de


pura satisfação, calço os saltos e pego minha bolsinha pequena
antes de deixar o quarto.

Encontro Gabriel e Eve na sala de estar, e ao notarem minha


presença os dois pares de olhos azuis me encaram.

— Está linda, mamãe! — Eve corre até mim me envolvendo com


seus pequenos braços.

— Você também está muito linda, mocinha. — elogio e beijo seu


rosto lhe arrancando um sorriso.

— Vamos? — a pequena assente com a cabeça antes de correr


até a porta principal do apartamento.

Gabriel se aproxima de mim, os olhos percorrem todo o meu


corpo antes de voltar a me encarar nos olhos.

— Está maravilhosa, amor. — Completa envolvendo minha


cintura com as mãos.
— Você tem bom gosto. — Digo balançando a saia do vestido.

Gabriel entrelaça nossas mãos e juntos seguimos até a


garagem, o trajeto durou pouco tempo e logo já estávamos
estacionando em frente à casa dos meus pais.

Por fora, observo a fachada da casa, e a iluminação que


atravessa as janelas, espero que esse ano minha mãe não tenha
exagerado muito.

— Tudo bem? — Gabriel abre a porta do passageiro e me ajuda


a sair do automóvel.

— Sim, apenas desejando que minha mãe não tenha exagerado


nessa "comemoração", não gosto de surpresas.

— Tenho certeza de que vai gostar da surpresa de hoje. — Ele


me beija e antes que eu possa perguntar sobre isso ele nos guia até
a entrada da casa.

E após alguns segundos a porta se abre revelando minha mãe


sorridente, Gabriel é o primeiro a ser puxado para um abraço e
sorrio diante da expressão envergonhado que ele faz enquanto
minha mãe o aperta com carinho. E após fazer o mesmo com Eve
ela vem até mim.

— Filha, a gravidez está te deixando cada vez mais linda! —


beijo seu rosto e retribuo o abraço.

— Mas não vou estar tão bonita assim quando estiver no último
mês de gravidez e pronta para expelir um bebê enorme de dentro de
mim. — Digo com humor.

— Se tornar mãe é uma bênção filha, vai sentir quando o filho de


vocês nascerem. A maternidade pode nos deixar exausta, mas é
muito bom cuidar e dar amor a um filho.
— Digo isso todos os dias para ela, mas a senhora conhece a
filha teimosa que tem. — Gabriel diz e bato em seu ombro de
brincadeira.

— Vamos entrar! — entramos na casa e a primeira coisa que


noto são os olhares direcionados a nós.

A sala de estar está toda enfeitada com balões vermelhos


espalhados pelo cômodo, perto do sofá, uma mesa está posta com
vários tipos de doce e comidas.

— Mãe, eu disse que queria algo íntimo. — Viro a cabeça e digo


num tom baixo.

— Deixa disso Julia, todos aqui te conhecem, olha ali, Fernando


também veio, eu o convidei. — Arregalo os olhos quando vejo meu
amigo no fundo da sala.

— A senhora fez o que? — digo tentando manter o tom baixo.

— Eu o convidei, achei que não tinha problema já que vocês são


amigos desde a infância.

— Eu sei mãe, mas o problema não é comigo, Gabriel e


Fernando não se gostam e ainda nem tive a oportunidade de contar
sobre a gravidez. Mas a senhora não sabia e nem tem culpa disso.

Viro a cabeça para encarar Gabriel que permanece concentrado


a nossa frente, sinto sua mão aumentar o aperto na minha cintura e
é quando volto o olhar para frente.

Fernando se aproxima de nós com um sorriso nos lábios e é


quando seus olhos se fixam em minha barriga.

— Se comporte, ou juro que te deixo sem sexo por duas


semanas Gabriel. — Sussurro como tom de ameaça, mas Gabriel rir
e diz:
— Claro que vou me comportar, mas aquele policialzinho não vai
atrapalhar os meus planos hoje, e querida, você não aguenta nem
dois dias sem mim. — Reviro os olhos aumentando seu sorriso.

— Convencido!

— Sou mesmo, e sei que você gosta amor...


Capítulo 47
JULIA

À medida que Fernando se aproxima de nós, sinto o aperto


possesivo de Gabriel em minha cintura, me puxando de encontro ao
seu corpo cada vez mais.

— Feliz aniversário, princesa! — Fernando diz num tom amigável


enquanto me puxa para um abraço, ouço Gabriel grunhir num tom
quase inaudível ao meu lado.

— Obrigada! — sorrio sem graça voltando a ficar ao lado de


Gabriel.

— Nossa, não sabia que estava grávida. — Ele franze a testa ao


descer os olhos pela minha barriga em evidência no vestido branco.

— Ah, desculpe não contar antes, mas aconteceu de repente e


não tive muito tempo para isso. — Explico.

— Tudo bem, eu entendo. — diz acenando com a cabeça.

— Não vai me cumprimentar? — Gabriel diz abrindo um sorriso


cínico nos lábios, arregalo os olhos e aperto sua mão com força
tentando deixar claro que não tolerarei ataques de ciúmes nesta
noite.

— É Gabriel, não é? — Fernando oferece sua mão em


cumprimento, por um momento até achei que Gabriel não retribuiria,
mas fico surpresa quando o vejo apertar a mão de Fernando.

— Sabe que não precisa sentir ciúmes não é Gabriel, Julia e eu


somos apenas bons amigos. — Fernando diz convicto.
— Claro que sim, Julia me ama e confio plenamente nela, mas
apesar de ouvir suas palavras, ainda não confio em você. — Gabriel
diz e bufo desejando sair daquela situação antes que algo aconteça.

— Gabriel, vamos levar Eve para experimentar os doces que


minha mãe preparou, confesso que também estou louca para
provar. — Forço um sorriso percebendo que Eve nos encara sem
entender, e quase suspiro aliviada quando Gabriel assente com a
cabeça.

— Claro amor, tudo por vocês! — ele me beija com ardor e


desvio o olhar de Fernando que ainda nos olha fixamente.

— Parabéns pelo bebê Julia, será uma ótima mãe. — Aceno


sorrindo enquanto nos afastamos rumo a mesa recheada de
comidas e doces.

— Ela já é uma ótima mãe, idiota...— Gabriel diz revirando os


olhos.

— Se queria provocar e deixar ele desconfortável com aquele


beijo, parabéns, você conseguiu! — murmuro irônica, mas ele
apenas rir antes de dizer:

— Eu sempre consigo o que eu quero, amor...— sussurra em


minha orelha enviando vários arrepios para o meu corpo inteira.

Não posso negar que a gravidez está me deixando sensível e


cada vez com mais desejo de Gabriel, é um fogo que não tem fim, o
desejo desesperadamente e é claro que ele adora me provocar com
sexo, típico do Gabriel Simon.

Enquanto Gabriel ajuda Eve a se servir, cumprimento várias


pessoas incluindo alguns vizinhos que minha mãe insistiu em
convidar, e após alguns minutos vejo meu pai descendo as escadas
e vindo até mim.
— Está muito linda querida, feliz aniversário. — Sou envolvida
pelos seus braços e retribuo o gesto de carinho agradecida.

Fico com a companhia do meu pai por alguns minutos, até minha
mãe o chamar para ajudá-la na cozinha, também ofereci, mas os
dois negaram no mesmo instante.

Não conversei novamente com Fernando durante a festa, apesar


de ser o meu melhor amigo, estava tentando evitar
desentendimentos a todo custo naquele momento feliz, e mesmo
não gostando de comemorar a data do meu aniversário, esse era o
primeiro que estava gostando de verdade, pois estava na
companhia de todas as pessoas que mais amo na vida. Me
empanturrei de vários tipos de doces que minha amada mãe havia
preparado com tanto amor e carinho, não fui a única que exagerou
nas gostosuras, Eve e Gabriel também não resistiram e se
lambuzaram.

Após se sentar numa mesa com Gabriel e Eve, franzo o cenho


quando noto que apagaram as luzes da sala, deixando o cômodo
pouco iluminado apenas pelas luzes que veem da cozinha, mas
sorrio quando vejo as pessoas abrirem caminho para minha mãe
que carrega um bolo nas mãos.

Todos e incluindo Gabriel começam a baterem palmas e a


cantarem juntos, me levanto sorrindo quando minha mãe deposita
meu bolo favorito na mesa e me aproximo enquanto ainda
continuem cantando a música típica de aniversário.

Happy Birthday to Youu!!!

Happy Birthday to Youu!!!

Meus olhos se fixam em todas as pessoas importantes de minha


vida, meus pais e minha nova família que estou construindo ao lado
do homem que amo, pouso o olhar no homem loiro que me encara
fixamente enquanto canta com um longo sorriso no rosto.
Não sei a causa certa, mas me emociono, meus olhos marejam
de pura emoção, pode ser apenas o momento, mas posso culpar a
gravidez por me deixar tão sensível a esse ponto, mas também
quero agradecê-la.

E quando todos terminar de cantar estou em prantos, seco as


lagrimas e tento sorrir quando minha mãe corre para me abraçar.

— Não chore querida. — diz me envolvendo em seus braços


reconfortantes, meu pai também é o próximo a me puxar para um
abraço cheio de carinho.

— Vamos, faça um pedido e assopre as velas filha. — Me


aproximo do bolo e fecho os olhos por um breve segundo.

São tantos desejos que poderia pedir, são muitos que fica até
difícil de se escolher, mas decido ouvir meu coração.

Felicidade e amor, são as únicas coisas que poderia desejar


sentir pelo resto da minha vida, desejo ser feliz, mas se a felicidade
infinita não existir, apenas desejo aproveitar cada momento ao lado
das pessoas que amo...

Abro os olhos e apago as velas com um único assopro, sorrio e


levanto a cabeça me deparando com os olhos azuis de Gabriel me
analisando calmamente.

— O que pediu, amor? — murmura ao meu lado, mas nego


sorrindo.

— É segredo, para que possa se realizar é preciso manter em


segredo. — Sorrio travessa pegando o cortador de bolos que minha
mãe oferece.

O bolo de chocolate com morangos sempre foi o meu preferido,


e atualmente nada mudou, mesmo tendo comido bastante antes,
não deixei de aproveitar o delicioso bolo.
— Chegou a hora dos presentes! — meu pai grita e corre para
pegar um embrulho com um enorme sorriso.

— Abre o nosso filha. — Meu pai diz enquanto abraça minha


mãe.

Curiosa, abro o embrulho com cuidado me deparando com um


ursinho de pelúcia, observo atenta percebendo que se parece muito
com o ursinho que ganhei dos meus pais quando criança.

— Não sabíamos o que comprar, então decidimos dar o nosso


primeiro presente ao nosso netinho ou netinha, você ganhou um
igual quando nasceu, e não desgrudava dele por nada, então
espero que o bebê também goste como você gostou. — Minha mãe
diz com a voz embargada.

— Obrigada, é perfeito, o bebê vai amar, tenho certeza disso.

— Está na hora de entregar o meu presente. — Me viro para


Gabriel que puxa algo do bolso interno do terno social que usa.

Vejo uma caixinha de joias em suas mãos, observo atenta


quando ele abre e revela o objeto brilhante.

— Pedi para ajustarem, espero que goste Julia, o símbolo desse


pingente tem o significado do nosso amor, o amor profundo e puro
que sinto por você Julia, esse pingente de algemas simboliza o
amor, mas intenso que fui capaz de sentir, eu sou seu e, estou preso
a você e confesso que sou muito grato por isso, estou totalmente
rendido aos seus pés, estou algemado a você querida. Você é o
meu tudo amor, você é a minha vida, é o ar que respiro e que
necessito para viver, é o meu mundo em diferentes formas. —Sorrio
diante de suas palavras vendo que todos prestam atenção em
Gabriel.

Segurando o colar brilhante e com um pingente de algemas ele


se aproxima.
— Vire-se, amor. — Obedeço levantando os cabelos para
facilitar.

Estremeço quando o colar frio entra em contato com minha pele,


quase suspiro quando seus lábios deixam um beijo molhado perto
de minha orelha.

Solto os cabelos e me viro, mas ofego quando meus olhos se


fixam em Gabriel ajoelhado a minha frente retirando uma caixinha
pequena do bolso da calça.

— Sei que não fiz esse pedido de um jeito certo, mas pretendo
corrigir isso amor. — Rio lembrando do pedido de casamento feito
após o sexo.

Lágrimas se formam em meus olhos quando vejo uma linda


aliança brilhante dentro da caixinha.

— Meu coração estava quebrado, mas você juntou todos os


pedacinhos e me consertou aos poucos, sua ousadia me encantou,
fiquei fascinado desde o dia que te vi pela primeira vez naquela
Universidade, de quando a salvei em meus braços de ser atingida
por um carro, foi ali, me apaixonei perdidamente por você Julia, sei
que no começo você me odiava, acredite, eu também queria odiar,
seria mais fácil, mas te odiar era impossível... — e pela primeira vez
vejo os olhos de Gabriel marejados de felicidade e emoção ao
contrário das lagrimas de dor e culpa que ele costuma derramar.

Ouço múrmuros e suspiros pela sala, ouço até minha mãe


soluçar, mas meus olhos estão vidrados em Gabriel.

— Você me deixava louco, me provocava, me desafiava, mas só


aumentava o sentimento desconhecido que estava começando a
sentir por você, desejava sentir a maciez dos seus lábios nos meus,
desejava seu corpo próximo ao meu, no começo até pensei que
poderia ser apenas atração, mas não era Julia, você me mudou
amor, me fez um homem melhor e te agradeço eternamente por
isso, eu te amo Julia, te amo loucamente amor, quero te tornar
oficialmente minha. Julia Vasconcelos, casa comigo?

Sinto vontade de gritar, de pular, mas as lagrimas descem sem


controle, seco os olhos e suspiro antes de dizer:

— Sim, mil vezes sim! — grito e o seu sorriso cresce antes de


colocar a bela aliança em meu dedo e depositar um beijo em minha
mão.

Pulo em seus braços o apertando com firmeza, como se ele


fosse minha única salvação no mundo.

— Apenas me ame Julia, apenas continue me amando amor, e


prometo te fazer feliz todos os dias de nossas vidas. — Murmura
derramando uma fina lagrima que trato de secar.

— Eu já te amo e vou amar cada dia mais seu arrogante babaca.


— Brinco lembrando do apelido que o chamava quando nos
conhecemos.

— Prometo fazer o mesmo garota atrevida...— ele sorri antes de


unir nossos lábios num doce e lento beijo.
Capítulo 48
JULIA

Depois do pedido de casamento todos nos parabenizaram com


alegria em seguida, ainda estava eufórica como nunca quando
decidimos ir embora, a noite de comemoração foi boa, a melhor do
que todos após o pedido de casamento de Gabriel em público, todos
os anos.

Nunca gostei de surpresas ou comemorações em exagero, mas


preciso admitir que estou começando a gostar delas, comecei a
gostar quando descobri sobre a gravidez, é claro que no início foi
um tremendo choque para se processar.

— Papai, quando você e a mamãe vão se casar? — saio dos


meus devaneios quando Eve pergunta com a voz sonolenta na
cadeirinha do carro rumo ao apartamento.

— Ainda temos que organizar e marcar uma data querida, mas


se dependesse de mim nos casaríamos na próxima que vem. — diz
com humor enquanto pousa uma das mãos em minha perna.

— Temos tempo. – Digo entrelaçando nossas mãos em minha


coxa.

— Como acha que sua família reagira quando souber que me


pediu em casamento sem a presença deles? — pergunto franzindo
o cenho chateada pela ausência da mãe de Gabriel que tenho
certeza de que amaria estar presente em um momento como esse
na vida do filho.

— Eles vão ficar bem, minha mãe pode até ficar chateada no
início, mas vai ficar feliz por nós. — diz depositando um beijo casto
em minha mão.

— Espero que sim.

— Podemos fazer nossa festa de noivado na casa de minha mãe


se quiser. — Gabriel propõe antes de voltar a prestar atenção na
estrada.

— Eu adoraria. — Digo com sinceridade.

— Falando em festa, Eve está ansiosa para a sua festinha na


semana que vem? — pergunto virando a cabeça percebendo que a
pequena adormeceu na cadeirinha.

Gabriel e eu sorrimos vendo que a Eve não conseguiu esperar


até chegarmos em casa para dormir.

— Obrigada por hoje, suas palavras foram muito bonitas, tornou


minha noite mais especial. — Digo com carinho observando a
aliança em meu dedo com mais atenção antes de virar a cabeça e
encarar seu rosto.

— Você que é muito especial para mim amor.

Após chegarmos na garagem do prédio, Gabriel pega Eve no


colo e caminhamos até o elevador, no apartamento, levamos Eve
até seu quarto antes de darmos boa noite.

Gabriel é o primeiro a sair e quando passo pela porta escuto a


voz sonolenta de Eve me chamando:

— Mamãe? — sorrio e volto a me aproximar da cama.

— Sim?

— Me conta uma história antes de voltar a dormir? — ela pede


manhosa e não resisto ao charme da criança.
— Claro, qual história quer ouvir? Quer que continue com a
história da princesa? — pergunto, mas ela nega com a cabeça.

— Na festa antes do papai te pedir em casamento, ele disse que


você o odiava no início. — Não seguro uma risada e concordo com
a cabeça.

— Seu pai me deixava muito irritada, sim, eu o odiei no começo


quando nos conhecemos, mas passei a gostar dele e me apaixonei.
— Término de dizer sorrindo antes de me sentar na cama perto
dela.

— Eu quero saber como vocês se conheceram, pode me contar


mamãe? — concordo me deitando na cama ao seu lado me
aconchegando junto ao seu corpinho debaixo das cobertas.

— Era o meu primeiro dia na faculdade, estava muito nervosa e


não conhecia ninguém além da minha melhor amiga Sam, era tão
desastrada que quase fui atropelada por um carro. — Digo vendo
que Eve arregala os olhos azuis assustada.

— Mas seu pai me salvou, e foi ali que nos vimos pela primeira
vez, mas ele me tratou com arrogância e tive vontade de bater nele
naquele instante, mas não fiz, e muito irritada entrei na universidade
onde cursaria Administração. E dentro da sala eu o vi novamente,
descobri que ele era o CEO da empresa para onde estávamos
concorrendo para estagiar, sai da sala e ele me seguiu, nos
confrontamos mais uma vez, e a vontade de bater nele só
aumentava, mas também percebi que eu o irritava demais também.

— Fiz a prova e consegui uma das vagas de trabalho, estava


com receio se conseguiria trabalhar ao lado de seu pai tranquila. —
Eve bocejou e passei a acariciar seus fios loiros.

Antes de continuar mordi os lábios tentando evitar contar o


aconteceu comigo e Gabriel no elevador em sua sala.
— Logo no primeiro dia, ele me deixou tão exaltada que fui
capaz de jogar uma xicara de café quente em cima dele. — sorrio
ouvindo a risada de Eve.

— Papai deveria ter ficado uma fera com você.

— Sim, ele ficou muito bravo, mas fiquei surpresa quando não fui
demitida. — Fico emotiva lembrando dos acontecimentos citados.

— Quando vocês se beijaram pela primeira vez? — ela pergunta


e pigarreio antes de omitir a parte do sexo no elevador.

— Foi no elevador da empresa, mas você ainda é muito nova


para saber dos detalhes. — brinquei ouvindo sua risada.

— Não sabia que ele tinha uma filha, até a viagem para Itália que
fizemos juntos, foi ali que descobri sobre sua existência e fiquei
encantando sobre como um homem arrogante e seco como ele
poderia ser tão gentil e carinhoso com alguém.

— Papai sempre foi frio com todo mundo, mas você mudou isso
nele mamãe, as vezes via o papai chorando e nunca descobri o
motivo, mas você curou isso nele. — Fecho os olhos percebendo
que ela está se referindo a mãe e ao irmãozinho mortos sem saber.

— Quando descobriu que estava apaixonada, mamãe?

— Não sei, não sei se descobri ou se o amor sempre esteve ali


escondido, mas acho que estava apaixonada e não sabia como
admitir. Mas ele mexia comigo de uma forma inexplicável, me
provoca, me desafiava e me deixava louca, literalmente.

— Ah, teve uma vez que estava chovendo muito e meu carro
quebrou em uma estrada escura e deserta, fiquei com medo, mas
seu pai apareceu, é claro que neguei, mas ele não aceitava minha
negação, me deixou tão brava que acertei um tapa no rosto dele...
— Bateu no papai? Coitadinho...— Eve não aguenta e começa a
rir.

— E acredite, aquele maldito tapa doeu muito! — ouço a voz de


Gabriel e nós viramos o vendo encostado na parede sorrindo e
ouvindo tudo.

— Doeu nada, se pudesse acertaria com mais força para parar


se ser tão cretino. — Me sento na cama provocando.

— Só estava querendo ajudar, foi você que agiu como uma louca
no meio da chuva e me bateu sem motivos. — Ele rir provavelmente
lembrando do nosso momento.

— Tinha motivos sim, você me enlouquecia! — digo com


convicção.

— Admite, você gostava das minhas provocações. — Sinto


minhas bochechas corarem com seu sorriso encantador.

Gabriel se aproxima da cama e beija o rosto da filha com


carinho.

— Você deveria estar dormindo, mocinha! — Ele repreende com


um sorriso.

— Só queria saber como vocês se conheceram.

— Ah sim, sua mãe era uma garota muito atrevida, ela te contou
que me queimou com café? — Eve concorda sorrindo e Gabriel me
encara com os olhos franzidos, finjo inocência balançando os
ombros.

Eve boceja alto chamando nossa atenção para ela.

— Ok mocinha, agora dorme, podemos contar o resto da história


em outro momento. — Ele diz e a pequena aceita e se ajeita na
cama.
— Boa noite, lindinha. — Beijo sua testa e me levanto da cama.

Gabriel se levanta e faz o mesmo com a filha antes de apagar o


abajur e fechar a porta do quarto.

Partimos para o nosso quarto e ofego quando vejo várias velas


espalhadas pelo quarto, a luz no ambiente está fraca e pétalas de
rosas estão por todo o chão do quarto e na cama.

— Ainda tenho mais um presente para você, amor. — Ele circula


minha cintura antes de beijar meu pescoço com ardor.

— E qual seria esse presente?

— Eu, e uma longa e excitante noite de amor quente...


Capítulo 49
GABRIEL

Ouvir Julia contado o início de nossa história para Eve, me


trouxe boas lembranças, lembrei de quando nos vimos pela primeira
vez naquela Universidade, confesso que sim, a tratei friamente, e
fiquei totalmente surpreso quando ela sempre retribuiria meu
comportamento seco.

A ousadia e atrevimento da garota desconhecida mexia comigo


de uma forma estranhamente boa, me irritava e sabia que gostava
de provocar aquilo em mim, e cada frase ousada que saia de sua
boca tinha vontade de a calar com boas palmadas em sua pele
clara. Me deixava louco a ponto de desejar sua boca na minha num
beijo languido, seu corpo quente se fundindo ao meu o tempo todo.

E com o passar dos anos, o mesmo sentimento ainda cresce


forte dentro de mim, é como se a cada dia que passasse
necessitasse mais dela.

Trato de deixar os milhares de pensamentos que rondam minha


mente quando Julia observa cada canto do quarto decorado com
atenção, comprei velas aromáticas quando fui ao shopping com Eve
naquela manhã e aproveitei para passar numa floricultura para
comprar rosas vermelhas.

Tive pouco tempo para preparar e decorar o ambiente enquanto


Julia estava na companhia de Eve, apesar de já fazer a surpresa
sobre o pedido de casamento na festa, queria terminar a noite e
iniciar o próximo dia de um jeito especial e quente que apenas nós
dois sabemos fazer muito bem.
— Gostou? — pergunto perto de seu ouvido vendo seu corpo
tremer.

— Sim, mas estava me perguntando quando você se tornou tão


romântico a ponto disso. — Ela se vira para mim com um sorriso
lindo nos lábios carnudos.

— Eu já disse amor, com o meu lado romântico e carinhoso há


sempre um pouquinho de perversão. — Murmuro rouco.

— Apenas um pouquinho? — ela debocha.

— Ok, muita perversão então, querida. — Admito lhe roubando


uma risada baixa.

Me afasto apenas alguns passos para pegar a venda de seda


vermelha sobre a cômoda, apesar da pouca iluminação consigo ver
os olhos de Julia encarando o tecido em minhas mãos com
antecipação.

— Vai em amarrar com isso, Senhor? — Ela provoca sorrindo


me chamando com submissão na voz.

— Não, vire-se, amor! — digo com autoridade lembrando de


como nos tratávamos quando éramos apena dominador e submissa.

Deslizo o tecido sedoso e macio pelos seus olhos, a deixando


completamente sem visão, e totalmente à minha mercê, os lábios
entreabertos e o rosto corado pela excitação aumentam minha
libido.

Julia é a própria tentação feita exclusivamente para me


enlouquecer por completo, e como o bom pecador que sou, amo me
esbaldar em seu belo corpo.

— Isso te lembra algo, Julia? — sussurro em sua orelha após


deixar um beijo molhado na pele exposta do pescoço.
— Isso te faz lembrar te todas as vezes que te levei ao céu,
amor? Responda!

— Sim...

— Ótimo, pois prometo te fazer relembrar de cada sensação


amor, de cada momento juntos nesta noite. — Me afasto e estico a
mão apenas para fechar a porta do quarto, o som da chave virando
na fechadura faz Julia se sobressaltar.

— Está linda nesse vestido amor, parecendo um anjo que caiu


do céu exclusivamente para mim, mas agora, prefiro ter o seu corpo
sem nada me atrapalhando. — Ela treme quando estico a mão para
afastar os fios de cabelos em volta da pele de seu pescoço.

Toco seus braços, sua cintura, agarro seus quadris a puxando de


encontro ao meu, ela ofega aumentando a excitação que estou
sentindo, sinto meu membro empurrando contra o tecido da calça
social, implorando para ser liberto, Julia parece perceber meu
estado pois morde os lábios.

Minha boca desce sobre a sua com fome permitindo ser


devorada com fervor, nossas línguas se envolvem, circulam e
chupam enquanto nossos lábios se encaixam com pura perfeição. O
beijo acende todo o meu corpo sentindo o pulsar constante entre
minhas pernas.

— Você me deixa louco, Julia. Completamente louco por você.


— Tentando manter o equilíbrio sem conseguir enxergar, sinto suas
mãos em segurando meus ombros firmemente.

Como se tivessem vida própria, minhas mãos encontram as finas


alças do vestido branco sustentando os seios cheios, abaixo a
cabeça e lambo o vale entre eles sentindo seu corpo arrepiar. Desço
uma das alças revelando um dos seios desnudos, Julia geme
baixinho quando belisco e aperto um seio em minha mão, faço o
mesmo movimento deixando o tecido de vestido cair em torno de
sua cintura.
— Me diga o que você quer amor, quer minhas mãos passeando
pelo seu corpo gostoso ou minha boca te chupando? — pergunto
devasso ouvindo seu gemido em lamento.

— Eu quero tudo, por favor Gabriel...— um sorriso cresce em


meus lábios a ouvindo implorar por mim.

— Estou doido para me enterrar em você até fazê-la gritar que é


somente minha amor...— murmuro rouco.

Sustento seu corpo com uma mão em torno de sua cintura,


enquanto minha língua desce para o seu busto, sinto Julia agarrar
meus cabelos com força quando minha boca encontra os seus
seios.

Gemo sentindo ondas de eletricidade correndo por minhas veias.

— Gabriel...por favor...

Chupo seu seio esquerdo com força, faço o mesmo com o outro
antes de me afastar ouvindo seu protesto.

— Calma amor, sua libertação virá... — aviso abrindo o zíper


traseiro do vestido terminando de arrancar a peça do seu corpo.

Meus olhos descem por todo o corpo seminu de Julia, protegido


por apenas uma calcinha de cor preta, com a gravidez ela reclamou
sobre os quilos a mais que ganhou nos últimos meses, mas ela só
ficou mais perfeita.

— É muito gostosa, e toda minha! — grunhi descendo as mãos


pela barriga protuberante.

Infiltro uma das mãos por dentro do fino elástico da calcinha de


renda sentindo sua umidade contra os meus dedos, seu gemido
aumenta quando afasto seus grandes lábios expondo seu clitóris.

— Por favor...— ela pede choramingando.


— Quer que eu te faça gozar com meus dedos e depois com
minha boca, amor? — pergunto erguendo seu corpo fazendo suas
pernas circularem minha cintura enquanto nossos lábios se
encontram novamente.

Deito seu corpo na cama e me livro da camisa social doido para


sentir nossos corpos nus contra o outro.

— Então amor, qual é a sua resposta?

— Quero sua boca em mim, Gabriel. — pede manhosa.

Pronto para obedecer e satisfazer seu desejo, abro suas pernas


e desço a calcinha a retirando de seu corpo, beijo seu púbis vendo a
agarrar os lençóis da cama com força, sorrindo colo minha boca em
sua intimidade sentindo seu sabor em minha língua, gemo contra
sua pele usando os lábios e língua para a estimular, por reflexo Julia
tenta fechar as pernas, mas sou mais rápido e impeço seu
movimento. Enquanto estímulo seu canal com a língua junto meus
dedos para fazer movimentos no seu clitóris.

Seu corpo se enrijece contra minha boca denunciando cada vez


mais a sua proximidade do ápice.

Com um gemido alto Julia se contorce e volta a relaxar na cama,


nessas horas agradeço pelo quarto de Eve ser no outro corredor
longe do nosso.

Levanto o corpo entre suas pernas e me levanto para arrancar a


calça social e a cueca juntos, sorrio percebendo os olhos atentos de
Julia percorrendo todo meu corpo nu. Arranco a venda de seus
olhos vendo que Julia se aproxima da beirada da cama com um
sorriso travesso nos lábios ao trazer meu corpo próximo ao seu
rosto, observo cada movimento seu com pura atenção, e mordo os
lábios com força para não gemer alto quando sua mão alcança meu
membro ereto.
Percebendo suas intenções passo o polegar pela sua boca antes
de juntar seus cabelos num rabo de cavalo e esperar pelos seus
próximos movimentos. Puxo seus cabelos com força quando sinto o
calor de sua boca me envolvendo por completo, percebendo que
estava com os olhos fechados abro me deparando com uma
imagem insana.

Julia começa os movimentos de sucção lentos aumentado minha


agonia cada vez mais, tento vontade de foder sua boca com força,
mas apenas a deixo guiar.

— Que boca gostosa amor, isso...— gemo sentindo sua língua


passando pela glande antes de voltar a me envolver novamente.

Aperto os lábios um no outro e me afasto antes de gozar em sua


boca, Julia me olha com a testa franzida quando subo na cama e
com um único movimento a puxo para o meu colo. Ataco sua boca
com fome, sentindo nossas línguas em pura sincronia, minhas mãos
apertam seus quadris a ajeitando em meu colo, apoiada em meus
ombros guio meu membro até sua entrada e entro com uma única
estocada.

Julia geme jogando a cabeça para trás em êxtase puro, com as


mãos guio o movimento de seu quadril enquanto a penetro com
força, o quarto é preenchido pelos gemidos e sons que nossos
corpos emitem ao se encontrarem.

— Olha para mim amor, me deixe ver os seus olhos enquanto te


dou prazer. — Ela obedece como uma boa garota passando a me
encarar.

— Isso minha noiva, rebola para mim! — grunhi acertando um


tapa em sua bunda.

Sinto as paredes de sua intimidade me apertar e com um gemido


alto Julia atinge o clímax, aperto seu quadril com força também a
acompanhando.
Respiro fundo durante alguns minutos enquanto Julia deita a
cabeça em meu ombro tentando recuperar o folego. Levanto seu
queixo e encaro seu rosto, beijo seus lábios e pergunto:

— Pronta para o segundo round? — sorrio ouvindo sua risada


preenchendo o quarto.
Capítulo 50
JULIA

Enfim o dia da festinha que acontecerá na escola de Eve


chegou, todos acordamos cedo hoje para conseguir terminar de
preparar e organizar tudo a tempo, fomos ao supermercado no dia
anterior e compramos tudo para preparar alguns pratos típicos do
Japão já que será esse o país que Eve representará.

É claro que ele propôs comprar tudo preparado de um


restaurante japonês da cidade, mas negamos, qual seria a diversão
nisso? Insisti e o convenci a nós mesmos a prepararmos tudo, seria
muito mais divertido enquanto ajudamos Eve.

A festinha será no início da tarde, e ontem ao comprarmos os


ingredientes também aproveitamos para comprar a roupa adequada
e algumas maquiagens para completar o visual japonês de Eve. É
claro que dona Olivia faz falta num momento como esse, mas hoje
infelizmente é a sua folga, deixando-nos totalmente perdidos e sem
saber por onde começar, até pensei em pedir ajuda de minha, mas
sei que ela também está cheia de encomendas na confeitaria.

Sou boa na cozinha, herdei e aprendi isso com minha mãe, mas
nunca preparei comida japonesa, e nunca tive oportunidades de
experimentar.

— Conseguiu achar uma receita fácil? — pergunto para Gabriel


que digita algo no notebook enquanto separo os ingredientes em
cima da pia.

— Achei várias, mas nenhuma se classifica como fácil, amor.


— É só seguirmos cada passo com atenção que tudo vai dar
certo. — Digo esperançosa.

Gabriel coloca o notebook em cima da mesinha dando play num


vídeo de receita de sushi, enquanto ele coloca e termina de amarrar
o próprio avental assisto com atenção cada passo que a cozinheira
japonesa ensina.

— Ok, não parece tão difícil assim, a gente consegue! — digo


com entusiasmo arrancando um sorriso de Eve que observa tudo
sentada em um dos bancos do balcão.

Confiro todos os ingredientes e pego os que faltam de dentro da


geladeira, e quando me viro uma gargalhada escapa dos meus
lábios ao observar Gabriel Simon de avental pronto pra meter a mão
na massa.

— O que foi? — ele pergunta alisando o tecido do avental.

— Quem diria que Gabriel Simon, um homem de negócios usaria


um avental de girassol! — aponto para a flor amarela rindo.

— Não deboche de mim amor, até gostei desse avental, amarelo


combina comigo — diz com charme fazendo Eve sorrir.

— Ok, vamos lá, vou começar a preparar o arroz enquanto você


corta os pepinos e as cenouras em tiras. — Pego uma faca afiada e
lhe ensino o formato a ser cortado.

— Posso ajudar vocês? — Eve pergunta animada.

— Claro amor, mas daqui a pouco ok? É perigoso mexer com


faca e fogo mocinha. — Aviso, mas ela concorda.

Em uma panela menor começo a preparar o molho do sushi e


numa maior faço o arroz temperado seguindo todos os mesmos
passos do vídeo, aos poucos acrescento o molho ao arroz e mexo,
deixo esfriar enquanto vejo se Gabriel terminou de cortar tudo.
— Hum, até que não ficou nada mal. — elogio vendo todos os
pepinos e cenouras cortados do jeito certo.

— Sou um bom aprendiz. — diz piscando um dos olhos azuis.

— Agora, faça a mesma coisa com o salmão.

Seguimos cada passo com cuidado para não errar e estragar


tudo, ainda não sei a quantidade de pais e crianças que essa festa
terá, mas acho que fizemos na quantidade certa.

— Eve, que tal ajudar o papai a enrolar o arroz nas algas? —


pergunto ouvindo sua resposta alegre.

Enquanto Eve e Gabriel terminam os últimos passos, procuro


outra receita de sashimi na internet, assisto outro vídeo diferente
percebendo que talvez esse será o prato mais fácil de preparar.
Abro a geladeira e pego o peixe, limpo antes de retirar qualquer
requisito de espinhos e corto os filés em tira não muito finas.

Cuidadosamente arrumo as fatias em dois pratos grandes,


decoro e adiciono mais alguns ingredientes no salmão.

— Pronto, conseguimos! — grito levantando as mãos satisfeita.

Me aproximo dos dois que também terminam os sushis, Gabriel


oferece um a Eve que logo abocanha e saboreia.

— É tão bom assim? — pergunto sorrindo enquanto ela


concorda mastigando com a boca cheia.

— Prova! — sou pega de surpresa quando ele leva um até meus


lábios me convidando a experimentar.

Mastigo e saboreio o sabor do sushi me surpreendendo com o


gosto, sempre achei que pratos preparados envolvendo peixes crus
não agradaria meu paladar, mas confesso que não é tão ruim como
imaginei.
— Tá, agora provem esse aqui! — aponto para as tiras de
salmão, eles obedecem e levam um até a boca, espero ouvir um
som de satisfação, mas sou surpreendida com a careta que Eve faz.

Franzo o cenho e encaro Gabriel que ainda continua mastigando


com uma expressão concentrada e seria.

— Não gostaram? — pergunto ouvindo a negação da pequena.


Talvez seja a minha culpa, será que coloquei algum ingrediente
errado?

— Não é a sua culpa amor, você fez tudo certo, mas o gosto não
me agradou muito. — diz fazendo uma careta ao lembrar do gosto.

— Nunca comeu sashimi? Pensei que já tivesse experimentado


comida japonesa. — Digo.

— É claro que já experimentei, mas nunca pedi sashimi.

Pego um e antes de colocar na boca, Gabriel me diz como se


estivesse prevendo o que aconteceria se mastigasse um.

— Não faça isso Julia, você vai vomitar.

— Não deve ser tão ruim assim, vocês estão exagerando...—


ignoro seu olhar e mastigo o peixe cru.

Quando sinto o sabor e o salmão cru na minha língua tenho


vontade de cuspir, tento ignorar e continuo mastigando, mas não
suporto, se engolir isso tenho certeza de que me fará vomitar em
outro momento, percebendo a expressão enojada que faço Gabriel
corre e pega a lixeira pequena da cozinha trazendo para perto de
mim, cuspo tudo tentando tirar o gosto horrível da boca.

— Obrigada. — Agradeço quando ele me traz um copo com suco


de laranja, bebo todo o líquido amenizando o gosto que ainda sinto.
— Mulher teimosa, te avisei pra não fazer isso amor. — diz me
entregando lenços de papel.

Depois de escovar os dentes e não sentir aquele gosto mais,


subimos para ajudar Eve a se arrumar para a festa, ajudo a
pequena a vestir o Kimono estampado com flores, amarro a faixa
em torno de sua cintura completando o seu visual.

Prendo seus fios loiros em um coque enquanto Gabriel faz o


mesmo com o outro lado do cabelo dela. Enfio dois Hashi em cada
coque, e logo começo sua maquiagem, passo um pó branco em seu
rosto e delineado em seus olhos claros os deixando puxadinhos nos
cantos, pego um brilho de sabor morango e passo sobre seus lábios
os deixando levemente avermelhados.

— Minha japonesinha está muito bonita, acho que vou ter que
controlar meus ciúmes quando os garotinhos te olharem mocinha.
— Eve rir quando o pai a aperta nos braços.

Meia hora depois, Gabriel estaciona o carro no estacionamento


da escola, desço com sua ajuda e entrelaço minha mão na de Eve
enquanto ele leva as duas caixas com os pratos, quando entramos
observo várias crianças vestidas de acordo com cada país junto aos
seus pais, levamos as comidas até uma mesa e nos sentamos em
seguida.

Algumas menininhas convidaram Eve para brincar enquanto


Gabriel e eu ficamos em uma mesa, ao longe observo uma senhora
se aproximar e nos oferecer um aperto de mão.

— Senhor e Senhora Simon, sou Abigail, professora de Eve. —


Aceito seu cumprimento sorrindo.

— É um prazer conhece-la Senhora Abigail.

— Digo o mesmo, vim elogiar a filha de vocês, Eve é uma


criança esperta e cheia de alegria, desde o início da sua adaptação
escolar tenho percebido sua inteligência, parabéns tenho certeza de
que é um orgulho ser pais de uma criança tão meiga, aproveitem a
festa. — Concordamos a observando se afastar.

No decorrer da festa um homem moreno puxa conversa com


Gabriel lhe contando suas experiências com a paternidade, peço
licença e sigo para o banheiro, enquanto procuro o caminho certo
sou alvo de vários olhares, ignoro e acho o banheiro feminino.

Mas assim que entro em uma das cabines ouço vozes femininas:

— Meu deus, você viu como aquele cara é lindo? — umas delas
diz suspirando.

— Sim, mas ele não é desconhecido, tenho certeza de que já o


vim em algum lugar.... ah lembrei, ele não é aquele empresário
famoso e dono da rede das Empresas Simon?

— Sim! E você o viu acompanhado com aquela garota grávida?


Deus, aquela menina tem muita sorte em enlaçar um cara como
aquele!

— Mas talvez possa ser puro interesse amiga, ele é milionário e


muito bonito, que tipo de mulher não quer engravidar daquele
homem? — pergunta rindo.

— Aposto que deve ser muito bom de cama...— bufo ouvindo


uma risada escandalosa.

Irritada abro a porta e saio ouvindo sons surpresos, lavo as mãos


e pelo espelho as vejo me encarando.

Seco as mãos e antes de sair do banheiro me viro e digo num


tom seco:

— Sim, ele é MUITO bom de cama! — ouço um suspiro perplexo


antes de sair e retornar a mesa.

Mas quando me sento ao lado de Gabriel, vejo uma cena que


quebra meu coração, Eve está num canto chorando enquanto
algumas crianças lhe dizem algo.

Gabriel parece ver o mesmo pois num movimento rápido ele se


levanta e corre até Eve, faço a mesma coisa vendo que a pequena
realmente está chorando. Aos nos ver as três crianças se afastam,
mas apenas foco em Eve.

— O que aconteceu meu amor? — Gabriel pergunta secando o


rosto de Eve.

— As outras crianças...disseram que não tenho uma mamãe de


verdade...contei que Julia virou minha mamãe e que gosto muito
dela, mas eles disseram que não tenho uma mãe de verdade...—
arregalo os olhos enquanto Eve soluça.

— Por que te disseram isso, Eve? — Gabriel exige tentando se


controlar.

— Eles perguntaram onde a mamãe que cuidou de mim desde


bebê estava...eu respondi que não tinha...que foi só você que
cuidou de mim...eles disseram que ou você a deixou ou ela morreu
papai...foi isso que aconteceu, ela morreu papai? — ela pergunta
chorando, mas Gabriel apenas a abraça com força.

— Eles disseram que Julia é apenas minha madrasta...disseram


que as madrasta são malvadas e que quando o bebê nascer ela não
vai mais gostar de mim e vai me deixar papai.

Me ajoelho e puxo seu corpinho para os meus braços, ela chora


no meu ombro e fecho os olhos acariciando seus cabelos.

— Isso é verdade? Você vai me deixar algum dia? — ela


pergunta chorosa, mas nego.

— Não é verdade meu amor, eu nunca vou te deixar, eu


prometo! — beijo sua testa.
— Nunca vou te deixar Eve, porque eu te amo e mães nunca
deveriam deixar os filhos.

Levanto a cabeça vendo que Gabriel está com uma expressão


seria no rosto, como se estivesse pronto para tirar satisfação com
quem machucou a filha.

— Vou conversar com os pais dessas crianças, ninguém vai te


chorar mais Eve. — Ele diz e se afasta.

— Nunca vou parar te amar Eve, meu amor por você cresce a
cada dia, nunca serei malvada com você pequena, vou amar e
proteger para sempre, porque é isso que as mães fazem, elas
amam e protegem os filhos...

— Eu te amo mamãe...
Capítulo 51
JULIA

Alguns meses depois

Os meses passaram rapidamente, o momento que


conheceríamos nosso bebê estava muito próximo, quando realizei o
ultrassom para descobrir o sexo do nosso filho, Gabriel e eu
concordamos em deixar isso em mistério.

Claro que não foi fácil aguentar e esperar até os 9 meses


chegarem para finalmente descobrirmos o sexo, mesmo assim
aceitamos, com o passar dos meses fomos organizando tudo para a
chegada do bebê, transformamos o quarto de hospedes no
apartamento em um quartinho aconchegante com cores neutras, as
paredes pintadas com cores claras e neutras com desenhos infantis,
os moveis brancos esperando o momento da chegada do bebê.

Passamos os meses anteriores em pura agonia e curiosidade, a


ansiedade também estava presente, mas o medo começava a
chegar, Gabriel vivia me dizendo que eu seria uma boa mãe como
sou com Eve, mas ainda tenho receio sobre o assunto.

Também não conseguimos decidir os nomes no caso do bebê


ser menina ou menino, até a chegada dos 9 meses tive que
controlar e repreender Gabriel que até chegou a subornar minha
Médica para saber o sexo do bebê antes do parto, mas é claro que
cheguei a tempo de impedir um desastre desse.

Mas acima de tudo estou feliz, me sinto grata pela vida que
estou levando ao lado de Gabriel, o passado quase não volta para
assombra-lo com frequência o que me deixa bastante aliviada,
mesmo não tendo mais contato com Stella isso deixou Gabriel em
alerta, já que ele alegou que tinha algo de estranho nisso, e para
manter a paz e proteção Gabriel contratou seu motorista como
nosso segurança particular já que ele também era profissional na
área e uma pessoa de confiança.

Suspiro quando o carro estaciona perto da Empresa, acordei


cedo e com a barriga imensa não tinha o que fazer naquele
apartamento sozinha já que Eve foi para escola, mas é claro que
Gabriel não sabe da minha visitinha já que sua preocupação em
acontecer algo a mim e ao bebê havia aumentado bastante, acredito
que toda mulher gravida sonha em ser tratada com cuidado pelo
marido, mas aquilo já estava ficando chato pois Gabriel se
encarregava de fazer tudo por mim.

Queria fazer uma surpresa, mas sabia que ele surtaria quando
me visse ali, mas não ligava, também sabia que Gabriel ficaria em
sua sala a maior parte do expediente já que tinha poucas reuniões
ou compromissos para o dia. Com o meu afastamento do cargo de
Assistente Pessoal concordei com Gabriel que precisaria contratar
uma pessoa no meu lugar na minha ausência, mesmo tendo o bebê
não trabalharia nos primeiros meses pois prometi dedicar meu
tempo apenas para nosso filho enquanto seu nascimento ainda
estivesse recente.

Ele contratou um rapaz em formação no curso de Administração,


Ryan é o seu nome, o alívio foi grande ao saber disso que a ideia de
outra mulher convivendo diariamente com Gabriel não me agradava.
Mesmo sem sair muito do apartamento cheguei a conhecer Ryan e
confesso que amei o rapaz, sendo muito amigável e divertido
também me confessou sua sexualidade, e prometeu não dar em
cima de Gabriel, o que me divertiu bastante.

— Obrigada, James! — agradeço segurando sua mão ao sair do


carro.

— Posso acompanhar a Senhorita?


— Não, não precisa, estou grávida de 9 meses, mas ainda
consigo andar James. — Digo e ele concorda com um sorriso.

— O Senhor Simon me demitiria e depois me mataria se algo


acontecesse com você Senhorita.

— Sei disso, mas não precisa se preocupar James, vou apenas


subir e dá um oi para ele. — Asseguro que vou estar bem e ele
finalmente concorda.

Seguro minha bolsa e ajeito o vestido antes de caminhar até o


hall da Empresa, aceno para os funcionários que logo retribuem
com sorrisos, sigo para o elevador e aperto o botão da cobertura.

Quando as portas de metais se abrem, os olhos de Beatriz me


seguem e um sorriso falso se estica em sua boca com um batom
vermelho exagerado, retribuo o sorriso amarelo e caminho pelo
corredor, ouço vozes e logo a porta de Gabriel se abre revelando
Ryan bufando.

— Tudo bem? — pergunto e seus olhos verdes fixam em mim


antes de me abraçar.

— Sim, só o mal humor dele que está péssimo, amiga como


consegue aguentar aquele homem? Eu não teria paciência não, no
primeiro momento que ele me irritasse a gente sairia nos tapas! —
gargalho de sua declaração.

— Acredite, também tenho essa vontade.

— O que ele tem de beleza tem o dobro de arrogância. — Me


afasto do abraço e seus olhos me analisam.

— Apesar da gravidez, você também continua linda, amiga, falta


muito para o bebê nascer?

— Não, já completei os 9 meses e pode nascer a qualquer


momento.
— Que bom, mas espero que não tenha o mal humor do pai!

— Também espero. — Digo sorrindo e pousando a mão na


barriga.

— Veio o ver? — pergunta e concordo com a cabeça.

— Ok, então entre lá por favor, tenho certeza de que o humor


dele vai melhorar. — Ele se despede com um beijo no rosto
enquanto bato na porta de Gabriel.

Após ouvir sua voz pedindo para entrar, obedeço e vejo que ele
está prestes a pronunciar algo mas fica em silêncio quando seus
olhos azuis pousam em mim.

— Estou atrapalhando? Posso esperar e voltar depois...

— Não, só estou surpreso por vê-la aqui amor. — Ele se levanta


e se aproxima antes de me beijar.

— Mas avisei que não precisava fazer esforços amor, está de 9


meses e... — Antes que ele continue o interrompo:

— Estava ficando tedioso ficar naquele apartamento sozinha,


então vim te ver.

— Ok, tenho apenas algumas coisas para fazer, depois cancelo


o resto do dia e voltamos para casa. — Ele diz me puxando até uma
cadeira de frente a sua mesa.

— Não precisa cancelar nada Gabriel, não vim atrapalhar, posso


te esperar quietinha aqui... — me sento, mas faço uma careta
quando uma dor forte me atinge.

— Tudo bem? — ele se ajoelha com uma expressão


preocupada.
Toco minha barriga e fecho os olhos suspirando e esperando a
dor passar, e como esperado, ela se vai.

— Sim, foi só uma contração, mas já passou, estou de 9 meses


é normal isso acontecer.

— Está de 9 meses e o bebê pode nascer a qualquer momento


Julia, vamos para casa! — bufo quando pego sua mão e me levanto
da cadeira.

Gabriel contorna a mesa, desliga o computador e pega o terno


que estava dobrado no apoio da mesa, um gemido doloroso escapa
da minha boca e me curvo quando a dor volta mais forte.

Aperto os lábios e respiro fundo, percebendo minha dor Gabriel


me segura e nos retira da sala o mais rápido até o elevador.

— Cancele o resto do meu dia Ryan, meu filho vai nascer! — ele
diz e Ryan acena.

Quando as portas do elevador se fecham, me apoio na parede


fria e digo:

— Não precisa exagerar, são apenas contrações Gabriel, o bebê


não vai nascer agora!

— Está com dor Julia, e as contrações estão vindo mais rápidas,


é melhor prevenirmos e ir para o hospital.

Bufo resolvendo ficar em silêncio, levanto a cabeça e olho para o


painel percebendo que ainda não chegamos ao térreo.

— Não acha que está demorando demais? — pergunto


percebendo que o elevador não está se movimentando e que ainda
estamos a alguns andares do térreo.

— Droga, isso não pode estar acontecendo novamente...—


Gabriel diz num tom baixo e irritado antes de bater nas portas do
elevador.
Tento não surtar quando reúno as peças em minha mente, aquilo
não pode estar acontecendo outra vez num momento como esse.

— Estamos presos?

— Infelizmente sim.

Mordo os lábios quando sinto algo molhar minhas pernas, com


medo do que possa acontecer aqui olho para baixo encontrando
uma poça no chão.

— Ai meu deus!

— O que foi? Está sentindo outra contração? — ele pergunta se


aproximando, mas nego com a cabeça.

— Minha bolsa estourou, mas pelo menos não estou com dor...
— grito quando uma onda intensa de dor mais forte que as
contrações anteriores me atinge.

Seguro a mão de Gabriel e aperto com força, ele suspira e


quando o encaro percebo que ele também está prestes a surtar.

— Acho que o bebê vai nascer...


Capítulo 52
GABRIEL

Estou entrando em pânico, não quero, mesmo assim o pânico


me invade a cada gemido ou grito de dor que Julia emite, jogo o
terno no chão no elevador e a ajudo a se sentar em cima do tecido.

Com a cabeça encostada da parede fria do metal, Julia fecha os


olhos e inicia uma sequência de inspiração e expiração, ela está
tentando ser forte, mas sei que a dor é imensa, dói vê-la sofrer e se
pudesse transferiria toda sua dor para mim.

— Tenta ficar calma amor, já liguei para o pessoal da


manutenção e eles estão chegando...— anúncio pousando minha
mão sobre a sua e quando uma nova contração vem ela me aperta
com força mordendo os lábios numa tentativa falha de abafar o grito.

— Estou com medo, e se o elevador não voltar a funcionar a


tempo? — Pergunta com o rosto suado pelo esforço, coloco a mão
no bolso do terno e puxo um lenço antes de secar seu rosto.

— Vai funcionar amor, nosso bebê e você vão ficar bem. —


Declaro beijando sua testa.

Retiro o celular do bolso e ligo para James que deve estar do


lado de fora da empresa a espera de Julia.

— James, deixe o carro ligado, estamos presos no elevador e


Julia está entrando em trabalho de parto, podemos sair daqui a
qualquer momento!

— Entendido Senhor, posso imaginar o quanto a Senhorita deve


estar sofrendo...
Desligo a chamada voltando minha atenção para Julia que sofre
a cada minuto que passa.

— Odeio te ver sofrendo amor, tem algo que eu possa fazer? —


me sento ao seu lado aflito.

— Apenas fique do meu lado e tente me distrair da dor...— pede


num tom baixo puxando sua cabeça para o meu ombro.

— Ainda não decidimos o nome do bebê. — Digo tentando


mudar seu foco.

— Me diga os nomes que você mais gosta, talvez podemos


entrar em acordo agora.

— Ok, se for menina, gosto dos nomes Chloe e Maggie, mas se


for menino, escolheria Levi ou Benjamin.

— Gostei dos nomes Chloe e Benjamin. — Admite com um


sorriso fraco nos lábios.

— Estou falando apenas os nomes que gosto amor, não precisa


necessariamente ser esses.

— Mas eu gostei, e parece justo você decidir já que não teve a


oportunidade de ajudar a escolher os nomes dos gêmeos.

O simples fato dela lembrar de detalhes como esse enche meu


coração com puro afeto e amor, saber que ela se importa com o
meu passado é uma dadiva preciosa.

— Obrigado por ser tão boa para mim. — Agradeço beijando o


torço de sua mão, mas ela volta a gritar alto.

— A dor está aumentando Gabriel...chega a ser insuportável, se


não sairmos daqui a tempo vai ser você que fará o parto! — engulo
em seco ao pensar nessa possibilidade.
Se não tivesse outra opção faria sem pensar, mas tenho medo
de fazer algo errado e machucá-los.

— Não sei como as mulheres aguentam o parto natural, meu


deus, estou louca por uma anestesia agora!

— Se esse elevador falasse tudo o que presenciou aqui dentro...

— Ele presenciou nossa primeira vez, parte da nossa


reconciliação e agora isso!

— Só faltou você me pedir em casamento aqui dentro. — Mesmo


abalado pelo momento uma risada escapa.

Tenho vontade de socar as portas do maldito elevador e abri-lo


na força, mas sei que seria totalmente inútil já que estamos a alguns
andares do térreo e seria muito perigoso abrir as portas numa
situação dessa.

De repente as luzes se apagam por um breve segundo, mas logo


voltam a se acender, Julia treme, mas suspira quando o painel volta
a funcionar e o elevador começar a descer.

— Graças a deus, vem amor... — a ajudo a se levantar e conto


os segundos até quando as portas finalmente se abrem, pego Julia
no colo e corro para fora.

Muitas pessoas estão passando pelo hall e para conseguir


atravessar tenho que gritar para liberarem o caminho, somos alvos
de olhares curiosos, mas não ligo, quando saímos James abre a
porta do carro e corre para me ajudar a colocar Julia dentro do
carro.

James dirige a toda velocidade enquanto acompanho Julia no


banco traseiro do carro, ela grita de dor pronunciando coisas
desconexas e em poucos minutos estamos entrando no hospital da
cidade.
Alguns enfermeiros colocam Julia deitada numa cama enquanto
cuido dos nossos documentos na recepção, e quando finalmente
término entro numa sala que Julia foi colocada, agradeço aliviado
quando sua médica entra e se aproxima de Julia enquanto levanta
seu vestido e a examina.

— Eu quero anestesia, por favor, me droguem com qualquer


coisa! — ela grita sentada enquanto aperta os apoios da cama com
força.

— Seu bebê está quase nascendo Julia, vamos administrar


alguns medicamentos e a anestesia epidural, os enfermeiros vão te
preparar, nos vemos na sala de parto, vai ficar tudo bem papai! —
ela passa por mim batendo de leve no meu ombro percebendo meu
pânico.

Me aproximo e pego sua mão, ela ainda reclama de dor quando


duas enfermeiras administram e a preparam para o próximo passo,
enquanto sussurro palavras de conforto vejo uma das enfermeiras
baixinha se aproximar:

— Moça, se puder gritar um pouco mais baixo eu agradeço, tem


outras mulheres gravidas ao lado e pode assustá-las... — ela
cometeu um péssimo erro quando Julia levanta a cabeça e lhe lança
um olhar mortal antes de sibilar irritada:

— Foda-se! Meu corpo está tentando expulsar um ser humano,


elas precisam saber que isso dói demais! — a mulher baixinha
arregala os olhos e se afasta.

Depois de alguns minutos entro na sala de parto depois de


também ser preparado, me aproximo do corpo de Julia na maca no
centro da sala, com as pernas dobradas separadamente ela usa
uma touca na cabeça e vejo alívio quando seus olhos me
encontram.

— Ainda está doendo?


— Sim, a anestesia e os medicamentos diminuíram um pouco,
mas ainda dói, não quero mais passar por isso novamente Gabriel...
— nega com uma careta enquanto algumas lagrimas rolam pelas
suas bochechas.

— Sério? Que pena, estava pensando em fazermos mais dois...


— brinco tentando descontrair, mas ela me olha irritada:

— Mais dois é o caralho! Não é você que está prestes a ser


rasgada ao meio quando dar à luz a um bebê! — ouço uma risada
da médica que observa a cena.

— Vamos lá Julia, quando a próxima contração vir quero que


você empurre com força, ok? — ela assente e vejo a médica se
acomodar no meio das pernas de Julia.

Julia aperta minha mão com força enquanto um grito alto deixa
sua boca, ela ofega e respira fundo antes de voltar a empurrar
novamente aos comandos da médica que segue a auxiliando.

— A cabeça está saindo, empurre mais uma vez mamãe!

— Vamos amor, empurre só mais uma vez e logo conheceremos


nosso pequeno ou pequena, você é minha garota forte e vai
conseguir. — Incentivo.

Ela me olha com devoção nos olhos marejados antes de


empurrar mais uma vez, e ao seu lado observo com atenção a cada
pequeno detalhe do momento importante de nossas vidas, sinto
orgulho da minha garota por ser tão forte, e ao ouvir um choro
estridente que soou por toda sala lagrimas transbordam pelos meus
olhos e um sorriso se forma.

— Obrigado por aparecer e me devolver a alegria e colorir minha


vida cinza, eu te amo!

— Eu também te amo...— diz exausta antes de levantar a


cabeça para ver o bebê enrolado numa mata hospitalar.
— É um menino! — ela diz emocionada e me olha encara.

— Minha esperança foi devolvida a mim...— murmuro quando


observo Julia segurar o pequeno nos braços.

Sorrindo acaricio o pequeno e delicado rosto do nosso filho, os


olhinhos claros se abrem e nos observam antes de começar a
chorar.
— Ei, calma meu amor, a mamãe está aqui...— diz beijando a testa
do pequeno.

— Bem-vindo ao mundo filho! — murmuro.

— Bem-vindo ao mundo Benjamin Miller Vasconcelos Simon... —


ela sussurra a junção dos meus sobrenomes com o dela.

Após todo procedimento pós-parto terminar, Julia e Ben são


levados para o quarto hospitalar.

Julia passou a maior parte cuidando da primeira amamentação e


como um pai babão que sou, permaneci ao seu lado.

— Meu deus, Benjamin é guloso como você Gabriel! — ela


resmunga fazendo uma careta de desconforto e dor quando Ben
suga um de seus seios com avidez.

— Qualquer um é tarado por esses peitos! — digo lhe


arrancando uma risada leve.

— Tudo aconteceu tão depressa que nem ligamos para todo


mundo, tenho certeza de que Eve está louca para conhecer o
irmãozinho, avisa meus pais também por favor! — assinto pegando
o celular e saindo do quarto para não acordar Ben que acabou
adormecendo no colo da mãe.

Antes de ligar a tela do celular vejo uma das últimas pessoas


que desejaria ver num momento tão feliz como esse.
Fernando...

Ele corre para dentro do hospital e vem até mim com uma
expressão abatida no rosto.

— Por que não atendem o celular?

— Julia entrou em trabalho de parto, mas o bebê já nasceu. —


Resmungo.

Ele tenta passar por mim, mas puxo seu braço o forçando a me
encarar:

— Onde está Julia? Eu preciso falar com ela, é urgente!

— Ela está descansando, não a perturbe, o que aconteceu? —


pergunto alarmado percebendo manchas vermelhas em suas
roupas e mãos.

— Isso é sangue? — pergunto com a testa franzida, ele assente


nervoso.

— Fala porra! O que aconteceu? — exijo me aproximando cada


vez mais.

— O pai dela...
Capítulo 53
GABRIEL

Quando finalmente Fernando termina de contar o que aconteceu


com o pai de Julia, o aguardo do lado de fora do banheiro enquanto
ele tenta se livrar do sangue e parte do uniforme policial manchado,
seguimos com pesar pelo corredor onde se localiza o quarto do
hospital, estou em choque e não sabemos como dar uma notícia
como essa sendo que ela ainda está tão fragilizada.

Em minha memória todas as cenas do passado repassam em


minha mente, do dia que Fernando quase morreu e escondi esse
fato importante dela, confesso que errei muito e as consequências
resultaram em nossa separação, a magoei naquele momento e não
poderia fazer isso novamente com ela, mas ela precisa saber
mesmo que isso a machuque demais.

Quando chegamos na porta do quarto, observamos a linda cena


em silêncio, Julia ainda não nos viu, mas continua balançando o
nosso filho em seu colo enquanto sussurra alguma coisa e sorri,
encaro Fernando que também sente o mesmo, ela está feliz e
estamos prestes a contar algo que destruirá toda sua alegria em
poucos segundos.

Ele acena com a cabeça como se avisasse que chegou a hora


de contar, suspiro criando coragem e entro no quarto com Fernando
me aproximando da cama onde ela está sentada, seus olhos
brilhantes pousam em mim e em Fernando antes de perguntar:

— Fernando, não sabia que também viria, vem, conheça o


Benjamin! — ainda hesitante ele se aproxima e toca o rosto do
bebê.
Ele sorri fraco quando nosso filho agarra seu dedo, ele levanta a
cabeça e me encara, sabendo que ele está me mandando começar
a contar os fatos, mas ainda não me sinto pronto.

— Conseguiu falar com nossas famílias? Meus pais também


estão vindo? — ela me pergunta e sinto vontade de abraçá-la, mas
me contenho.

— Conta para ela, ou eu conto... — Fernando diz me encarando


firmemente.

— Contar o que? — ela pergunta confusa trocando o olhar entre


mim e Fernando.

— Ela está muito frágil, Fernando, não acho um bom momento


para...

— Ela precisa saber Gabriel, conta para ela!

— Do que estão falando? Me contar o que? — seus olhos caem


sobre mim me exigindo respostas e no mesmo momento Ben
começa a chorar em seu colo.

— Vem aqui, pequeno! — entendendo que preciso contar a Julia,


Fernando pega o bebê dos braços dela e se afasta para balançá-lo
no colo.

— Estão escondendo algo de mim, não é?

— Julia...

— Não tente me enrolar Gabriel, eu te conheço e sei que está


hesitante em me contar algo, e pela expressão de vocês sei que não
é bom!

— Sua mãe está ocupada cuidando de um assunto importante e


virá mais tarde, mas seu pai não virá amor...
A parte que sua mãe está ocupada é verdade, pelo que
Fernando me contou Dona Ana está devastada pelo que aconteceu
com o marido.

— O que quer dizer com "ele não virá"? Ele ainda está
trabalhando, é isso? — pergunta, mas nego com a cabeça e seguro
sua mão, pelos seus olhos sei que ela que o que vou contar não é
nada bom.

— Ele não virá porque está...no hospital e sua mãe está com
ele...— digo com a voz embargada e seus olhos marejam.

— Como assim está no hospital? O que aconteceu, Gabriel? —


uma lagrima escorre pelo seu rosto enquanto começa a tremer.

— Amor, você precisa se acalmar...

— Me acalmar? Você acabou de me dizer que meu pai está no


hospital, não me peça para ter calma, me conta o que aconteceu!

— Ele foi baleado e agredido enquanto trabalhava...— conto e


Julia balança a cabeça negando enquanto o rosto é banhado por
lagrimas.

— Um grupo de bandidos armados invadiram o local em que seu


pai e outro segurança estavam trabalhando nesta manhã, minha
equipe foi chamada e conseguimos prender os culpados...—
Fernando começa a narrar os fatos enquanto coloca Benjamin de
volta no leito feito para bebês antes de ficar do lado de Julia.

— Ele reagiu e tentou impedir o roubo, mas foi agredido e


baleado com um tiro que atingiu parte do pulmão e o perfurou, ele
segue em coma pela agressão consequência de um dano cerebral,
quando saí do hospital ele estava sendo levado para a cirurgia... o
outro segurança também foi baleado mas passa bem, eu sinto muito
princesa...— Julia soluça alto enquanto chora, abraço seu corpo a
sentindo chorar em meu ombro.
— Ele não pode morrer...

— Ele não vai amor, ele vai ficar bem, vou conversar com o outro
hospital e pedir para transferi-lo para cá, assim você fica perto dele
enquanto não tenha alta. — Beijo sua testa e a deixo chorar
agarrada a mim.

Passei por momentos horríveis, e entendo Julia perfeitamente, o


estado de Marcos é crítico e ela sente medo de perde-lo, mas peço
e rezo para que isso não venha a acontecer, conheço a dor de
perder pessoas e não quero que sinta a mesma sensação que senti,
é minha vez de ajuda-la e a amparar, quando estava desmoronando
ela estava ali para mim, agora é minha vez de cuida-la.

— Ele vai ficar bem princesa...— Fernando diz num tom baixo
enquanto observa Julia chorando em meus braços.

— Ele é um homem bom...não podem tirar a vida de uma boa


pessoa, não podem...— sussurra me apertando mais forte.

— Minha mãe também deve estar sofrendo...

— Eu sei, vou pedir a transferência dele para cá — aviso.

— Posso cuidar disso, fique com ela, ela precisa de você, vou
voltar para o outro hospital e aviso a cada nova notícia! — Fernando
diz e assinto com a cabeça.

— Tudo vai ficar bem, princesa...— se aproxima para depositar


um beijo nos cabelos de Julia.

Em outras circunstâncias aquilo mexeria comigo, mas ele se


importa com ela, e assim como eu, ele também quer o bem dela.

— Obrigado por se importar com ela! — agradeço em voz alta o


fazendo me encarar e acenar com a cabeça.

— Ela é uma pessoa maravilhosa, uma das mais importantes


para mim, então sim, eu me importo com ela, sei que não gosta de
mim, mas ela te ama muito Gabriel, e para o seu próprio bem peço
para que nunca a machuque! — diz ameaçador, mas não me
intimido.

— Nunca a machucaria! — ela acena mais uma vez antes de


deixar o quarto.

Julia ainda fica devastada por algum tempo, chorando em


silêncio e a todo momento permaneço ao seu lado, liguei para
minha mãe e irmãos que logo vieram e ficaram para nos ajudar com
o Benjamin enquanto Julia fica indisposta.

E algumas horas depois, ela criou coragem e ligou para a mãe, e


cortou meu coração ao vê-la chorar agarrada ao telefone enquanto
a mãe lhe passava o estado do pai, Dona Ana também não está
nada bem, Fernando insistiu para ficar com Marcos enquanto ela se
alimentava ou descansava, mas ela negou todas as vezes e
permaneceu ao lado do marido.

Consegui o contato do diretor do outro hospital e cuidei da


transferência do pai de Julia para esse, assim ela ficaria mais perto
e poderia visitar o pai sem sair do hospital, mas avisaram que só
conseguiriam transferi-lo no dia seguinte na parte da tarde, já que
ele saiu de uma cirurgia importante e precisaria de repouso.

Estava tão preocupado com Julia quando ela negou se alimentar


e quando seu emocional piorava cada vez mais, que até lhe
perguntei se queria um tranquilizante, mas ela também negou, mas
de noite o sono e o cansaço lhe venceram e dormiu.

Numa poltrona desconfortável fiquei vigiando seu sono enquanto


descansava, fitei seu rosto percebendo que dormiu chorando, nunca
fui religioso, mas pedi para Deus que a livrasse da dor de perder o
pai, ninguém merecia perder o próprio pai, e mesmo ainda pequeno
lembro de quando eu e meus irmãos perdemos o nosso quando
criança, minha mãe entrou em depressão e eu como filho mais
velho tinha o dever de cuidar dos meus irmãos e de minha própria
mãe.
— Sei que está preocupado com ela filho, mas você também
precisa descansar, vá dormir ou comer alguma coisa. — Levanto a
cabeça vendo minha mãe com Benjamin no colo enquanto Eve
brinca com o irmãozinho.

— Se quer ajudá-la irmão, precisa estar forte e bem, descanse


um pouco, vamos estar aqui cuidando da sua garota e desse
garotão bonito aqui! — Jacob diz levantando Ben nos braços e
fazendo gracinhas que sei que meu filho ainda não é capaz de
entender.

— Não vou sair daqui!

— Homem teimoso, deixa que eu vou buscar algo para você


comer antes que morra de fome nessa poltrona! — Matteo
resmunga e sai do quarto.

— Sabe, segurando esse pequeno ser, dá até vontade de ter


filho..., mas já passou! — ele resmunga quando Benjamin começa a
chorar em seu colo.

— Se quer ter filho, a primeira coisa é ter uma mulher, coisa que
você também não tem! — digo lhe arrancando uma risada.

— Mas posso ter uma, é só questão de tempo para um linda


mulher se apaixonar pelo bonitão aqui! — diz se gabando.

— Papai, posso segurar o Ben? — Eve vem até mim e a coloco


sentada ao meu lado enquanto Jacob traz o pequeno bebê até nós.

— Claro, papai te ensina como segurar ele, ok? — ela concorda


e a ajudo a segurar o pequeno, seu olhar cai sobre Julia adormecida
e me pergunta:

— Papai, a mamãe vai ficar bem?

— Sim, ela vai ficar, só está preocupada com o pai dela amor.
— Ela está com medo de perder o papai dela? — pergunta e
concordo com a cabeça.

— Deve ser ruim o que ela está passando, mas a mamãe é forte
e pode contar com a gente, não é?

— Sim, querida. — Beijo sua testa com carinho.

Quando pego Benjamin do colo de Eve, me levanto da poltrona e


o acomodo em meus braços, beijo sua cabecinha loira e sussurro:

— Sei que queria estar com a mamãe agora, mas tudo vai ficar
bem filho, logo ela ficará o tempo todo com a gente, a mamãe é
forte e não merece passar por isso, então vamos ficar quietinho aqui
com o papai enquanto ela descansa, ok? — o bebê se remexe no
meu colo e emite sons me arrancando um pequeno sorriso.

— Isso mesmo garotão, vamos ser os homens da casa e cuidar


da mamãe e da irmãzinha para sempre, ok? Vamos sempre as
proteger, somos os Simon's e ninguém machuca nossa família...
Capítulo 54
JULIA

O dia estava lindo, perfeito, as arvores balançavam no ritmo do


vento que assoprava e espalhava folhas pela grama do parque, com
um sorriso no rosto eu corria pelo longo campo de flores coloridas
perto do canteiro.

Levantei a cabeça e vi meus pais sentados no chão sobre o


lençol xadrez usado em piqueniques, corri até eles e me sentei ao
lado pegando um dos bolinhos feitos pela minha mãe, fechei os
olhos saboreando o gosto do chocolate misturado ao baunilha da
massa, abri os olhos e notei que meu pai me encarava sorrindo.

— O que acha de tentar dar uma voltinha, agora? — ele limpou o


canto da minha boca com um guardanapo e apontou para a nova
bicicleta que ganhei de presente no aniversário de 9 anos encostada
numa arvore.

— Não, eu tenho medo de cair, pai! — resmunguei negando com


a cabeça, mas seu sorriso apenas aumentou quando se levantou e
me ofereceu a mão.

— Eu sei pequena, mas estou aqui para te ensinar e não vou


deixá-la cair, ok? — peguei sua mão e me levantei do chão ainda o
encarando.

Ainda hesitante pousei o olhar em minha mãe que nos


observava com um sorriso no rosto tentando me passar confiança
em perder completamente o medo.

— Vamos apenas tentar, se não conseguir pedalar sozinha, nos


paramos, certo? — concordei com a cabeça e me deixei ser levada
por ele até a enorme bicicleta que tinha o dobro do meu tamanho.

Estava com medo, mas sempre quis aprender a andar de


bicicleta sem as rodinhas para ostentar meu amadurecimento e
aprendizado, odiava observar os filhos do vizinho pedalando pelas
ruas com os amigos, também queria fazer parte do tal grupinho
então insisti para que meus pais comprassem uma bicicleta para
mim.

Mas não sabia que o medo poderia ser tão grande a ponto de
encarar a bicicleta por alguns minutos, como se implorasse para que
não me deixasse cair.

— Vamos lá filha, não tenha medo! — disse aproximando a


bicicleta para perto de mim.

— Ela é muito grande, pai! — reclamei, mas meu pai apenas riu
do meu desespero.

— Isso é impressão sua, meu bem, ela é do tamanho certo, isso


é apenas o medo falando mais alto aí dentro — ela apontou para o
meu coração.

— Promete que não vai me deixar cair? — pergunto antes de


enfrentar o medo e me sentar sobre a bicicleta e apoiar meus pés
nos pedalo.

— Eu prometo, filha, nunca vou te deixar cair! — beija minha


testa antes de se posicionar atrás de mim.

— Pronta? — pergunta e concordo com a cabeça suspirando.

Meus pés começaram a sequência de pedaladas pela grama


fazendo a bicicleta se mover os poucos, me sentia segura sabendo
que meu pai estava me segurando e me empurrando de leve, seu
toque me passava conforto, não esperei muito e aumentei a
velocidade que os meus pés se movimentavam.
— Isso Julia! Continue assim, filha! — ele gritou e um sorriso se
formou em meus lábios.

Aos poucos sentia o medo abandonando meu corpo e tentei ficar


calma quando meu pai se afastava de mim me deixando controlar a
bicicleta aos poucos, o coração bateu mais forte no peito quando o
vento assoprava mais forte, fiquei insegura quando estava quase
perdendo o equilíbrio em cima da bicicleta, então gritei alto pedindo
para papai me segurar antes que eu caísse sobre alguns arbustos
que se aproximava cada vez mais.

Fechei os olhos e gritei esperando o impacto da queda, mas logo


braços segurava e me tirava de cima da bicicleta antes de ela
batesse e caísse dentro da mata, abri os olhos e encarei os olhos
escuros de papai que me analisava atentamente.

— Tudo bem? — concordo com a cabeça sentindo lagrimas se


formarem nos cantos do olhos.

— Não chore Julia.

— Eu não consegui! — abraço seu corpo deixando uma fina


lagrima rolar pelo meu rosto.

— É claro que conseguiu, você foi bem filha, e mesmo com


medo você tentou, o importante é tentar Julia, na vida podemos nem
sempre conseguirmos o que queremos, mas temos que insistir no
que queremos meu bem...

— Eu te amo, pai! Por favor, nunca me deixe! — o abracei mais


forte soluçando e sentindo suas caricias em meus cabelos.

Abri os olhos e as imagens anteriores não estavam mais ali,


simplesmente desapareceram, pisquei várias vezes, mas estava
escuro, sentindo o coração bater mais rápido virei a cabeça
encontrando meu pai ao longe.
— Pai! — gritei alto, mas ele não respondeu, apenas virou e
olhou através de mim, como se eu não estivesse ali com ele.

— Pai, sou eu!

Comecei a me aproximar, mas som de tiros me assustaram,


congelei no lugar e vi o momento em que homens de pretos com o
rosto coberto começaram a espancar meu pai que caiu no chão.

— Parem, por favor, parem! — gritei tentando correr na direção,


mas meus pés não se moviam.

Senti meu rosto molhado pelas lagrimas apenas observando a


cena sem poder fazer nada para impedir, levei as mãos a boca
quando um dos homens apontou uma arma na direção do corpo
caído do meu pai, fechei os olhos ouvindo o som do disparo, senti
meu corpo inteiro tremer, sufoquei um grito de dor enquanto
soluçava.

— Pai! — solucei vendo os homens desaparecerem rapidamente


deixando o corpo imóvel e ensanguentado do meu pai no chão.

Corri em sua direção e me joguei de joelhos perto do seu corpo,


levei as mãos até o lugar onde a bala perfurou e fiz pressão.

— Pai, acorda! Sou eu, fica acordado! — balancei seu corpo


sentindo o medo e a dor me atravessar quando ele não respondia.

Gritei mais alto que conseguia quando notei que o corpo imóvel
não havia sinais vitais presentes, fechei os olhos e me deitei sobre
seu peito.

— Acorda, não me deixe, por favor! — peço chorando e


entrelaçando nossas mãos.

— Você prometeu nunca me abandonar...

Abro os olhos, grito assustada e me sento notando que tudo não


passou de um sonho e pesadelo, ofego alto sentindo o rosto
molhado pelas novas lagrimas que rolam sem controle nenhum.

— Ei, você estava gritando enquanto dormia, tudo bem? — sinto


uma mão tocar a minha e logo encontro Gabriel sentado numa
poltrona ao lado da minha cama me fitando com preocupação.

— Foi um pesadelo muito ruim...— esclareço sentindo seus


braços me contornarem.

Levanto a cabeça olhando para a janela e vendo que já


amanheceu, franzo o cenho e me afasto.

— Que horas são?

— Quase meio-dia, você estava dormindo desde ontem, fiquei


preocupado, mas não quis te acordar, você precisava descansar. —
diz acariciando meu rosto, mas meus olhos vasculham todo o quarto
a procura de Ben.

— Onde está Benjamin?

— Ele não parava de chorar, então sua mãe o levou no corredor


para o acalmar, seu pai já foi transferido para cá, em algumas horas
você poderá visitá-lo amor. — Assinto com a cabeça ainda com as
imagens do horrível pesadelo assombrando minha mente.

— Pode trazer o Ben para mim? Ele deve estar com fome...—
suspiro lembrando do meu descuido em deixar meu próprio filho
com fome.

Gabriel assente com a cabeça antes de deixar o quarto, ajeito o


corpo gemendo quanto sinto a maior parte totalmente dolorido.

Relembro os acontecimentos do dia anterior e suspiro com


vontade de chorar mais, deveria ser um dos dias mais felizes de
toda minha vida por causa do nascimento de Benjamim, mas por
outro lado vejo como a notícia horrível do que aconteceu com meu
pai estranhou minha felicidade.
É claro que estou feliz pelo nascimento do nosso filho, mas
desejava que tudo ficasse bem e que uma tragedia dessa não
atingisse meu pai em especial.

Ouço o choro de Benjamin e quando levanto a cabeça vejo


Gabriel segurando nosso filho e minha mãe logo atrás, uma
expressão abatida predomina todo o rosto, os olhos vermelhos
denunciam falta de descanso ou choro em excesso.

Pego o pequeno com cuidado e o ajeito em meu colo para


amamenta-lo, minha mãe se aproxima da cama e sorri fraco me
observando enquanto aliso os poucos fios loiros da cabecinha do
bebê.

— Sempre soube que você seria uma boa mãe, filha...

— Como você está, descansou um pouco? — pergunto com


preocupação.

— Não, mas estou bem, fiquei o tempo todo ao lado do seu pai.

— Mas precisa descansar um pouco mãe, ele vai ficar bem,


daqui a pouco posso ir vê-lo enquanto você sai para descansar um
pouco.

— Você também precisa descasar Julia, acabou de passar pelo


parto e o bebê requer sua atenção e tempo.

— Posso me disponibilizar para fazer companhia a ele enquanto


vocês descasam e se recompõe.

— Obrigada! — agradecemos juntas a Gabriel que permanece


ao meu lado.

Tudo vai ficar bem, só precisamos acreditar que tudo é possível.


Capítulo 55
JULIA

Suspiro longamente antes de entrar no quarto na UTI do hospital


onde meu pai está internado, com passos curtos me aproximo da
cama aos poucos até chegar totalmente ao seu lado.

A emoção e tristeza é tanto que não aguento segurar mais,


desabo chorando em silêncio quando levanto a cabeça para olhar o
estado do meu pai.

Meu pai está ali, sedado, imóvel, e cheio de tubos, observo seu
peito subir e descer acompanhado de curativos e fios, toco sua mão
vendo os vários hematomas no rosto claro.

— Quanto tempo ele ficará nesse estado? — pergunto ao


Médico que também me acompanha na visita.

— Ele está sedado, o outro hospital conseguiu finalizar o


procedimento cirúrgico, retiraram o projétil e esperamos que não
tenhamos nenhuma outra sequela causada pelo ferimento, ele está
em coma induzido, optamos por mantê-lo assim pelos próximos
momentos para que se recupere dos traumas causados na cabeça,
e depois vamos acompanhando a evolução do quadro. — Explica e
concordo com a cabeça.

— Mas ele vai acordar, certo? — pergunto com vacilo na voz


temendo ouvir uma negação.

— As próximas quarenta e oito horas serão as mais críticas, mas


estaremos preparados para o que for, mas faremos o possível para
que nada disso aconteça. — Ele promete, mas não respondo,
apenas puxo a poltrona para perto da cama tornando possível tocá-
lo.

— Vou deixa-la a vontade, qualquer dúvida me procure, por


favor!

— Obrigada...— agradeço num sussurro e ele apenas acena


com a cabeça com um sorriso de conforto.

— Você precisa acordar logo, precisa voltar para a gente, não sei
se consegue me ouvir e sei que pode estar sofrendo, mas você
precisa acordar pai...— comento com a voz embargada.

— Nós precisamos de você, não pode nos deixar, por favor,


acorde e volte pra gente. — Soluço secando o rosto com a costas
da mão.

— Eu te amo tanto pai, você agora é vovô, Benjamin é o nome


dele, você precisa conhecê-lo, não quero que meu filho não
conheça a pessoa maravilhosa que você é, me tornei mãe e sei que
dói deixar os filhos, então não me deixe conhecer essa dor...

— Ele é perfeito, e quero que cresça sobre a influência de um


homem bom como você, quero que ensine tudo o me ensinou,
obrigada por me criar cercada de amor e carinho, você é o melhor
pai que um filho desejaria ter.

Deito a cabeça sobre a cama perto da sua mão e fecho os olhos


implorando para que nada de ruim o aconteça nas próximas
quarenta e oito horas e nos dias que ele permanecer neste hospital,
peço para que não nos tire uma pessoa tão boa no mundo.

E isso me faz questionar por que pessoas boas, gentil e que


nunca contribuíram com o mal na humanidade sofrem e acabam
deixando pessoas importantes, por que pessoa que nunca
praticaram a maldade sofrem mais do que deveria? Não sei a
resposta correta, mas daria tudo para saber tal motivo.
Fiquei um bom tempo dentro daquele quarto fazendo companhia
ao meu pai, mas precisei voltar para o meu já que Benjamin
requeria minha atenção, e quase no inicio da noite, Gabriel e eu
começamos a organizar as minhas coisas e de Bem, já que no dia
seguinte teríamos alta do hospital, tentei ficar animada ao máximo
em finalmente sair daquele hospital e levando nosso filho para casa,
mas senti apenas uma parcela dessa animação já que meu pai
ainda continuará internado e em coma até apresentar alguma
melhora em seu quadro clinico.

Naquela noite não consegui dormir muito já que Benjamin insistiu


em ficar chorando por horas e acordar várias vezes no meio da
madrugada, achava que o pequeno seria um bebê totalmente
tranquilo, mas depois de horas acordada e o balançando no colo
cansada e sonolenta comprovei que estava errada.

Estava visível que Gabriel também estava exausto já que passou


a maior parte dos dias cuidando de Benjamin enquanto eu sofria no
meu casulo, ele precisava de um descanso, mas negou e me ajudou
a acalmar o pequeno que só voltou a dormir no início da manhã
seguinte.

— Meu deus, agora entendo quando as pessoas nos avisaram


que ficaríamos horas acordados...— bocejo saindo do banheiro do
quarto de hospital onde troquei a camisola horrenda por um vestido
soltinho.

— Acredito que hoje aconteça o mesmo, mas talvez seja apenas


uma fase que logo passará. — Gabriel esfrega os olhos colocando
Benjamin adormecido com cuidado no bebê conforto.

— Sim, ou talvez ele tenha puxado seu temperamento! —


comento ouvindo sua risada.

— Vamos para casa? — pergunta segurando a cadeirinha e a


bolsa de Benjamin antes de beijar minha testa.
— Sim, mas vou me despedir do meu pai antes de ir. — Aviso
saindo do quarto e caminhando para a ala da UTI.

— Tem certeza de que ficará bem sozinha, mãe? — pergunto


observando sua mão entrelaçada com a do meu pai.

— Sim filha, vou ficar bem, vão para casa e descansem, aviso
quando tiver novas notícias sobre o estado dele.

— Ok, mas acho que será impossível descansar quando um


recém-nascido fica acordado a madrugada toda e troca o dia pela
noite. — Sorrio cansada beijando sua bochecha.

— É assim mesmo, eles costumam fazer isso nos primeiros


meses, mas é só uma fase e vai passar, lembro bem que você
também era assim e deixava seu pai com o braço dormente de tanto
niná-la na tentativa de fazê-la dormir... — ela funga ao se referir ao
meu pai e logo a abraço.

— Ele vai ficar bem, mãe! Qualquer coisa me ligue que eu volto
pra cá rapidinho, ok? — pergunto beijando seu rosto antes de deixar
o quarto.

Respiro fundo quando finalmente chegamos de volta ao


apartamento, saio do carro pegando a manta e a bolsa enquanto
Gabriel carrega Benjamin ainda dormindo até a cobertura.

— Espero que ele continue assim para podermos dormir mais


um pouco...— comento alisando o rostinho de Benjamin enquanto o
elevador nos leva até o último andar.

Quando as portas de matais se abrem encontramos Olívia nos


esperando com um largo sorriso.

— Sejam bem-vindos de volta! Me deixem conhecer o pequeno...


— ela pede e Gabriel coloca o bebê conforto em cima do sofá para
Olivia conseguir o visualizar com mais clareza.
— Mais que menino mais lindinho, é a cara do Senhor Simon! —
ela comenta me arrancando uma risada.

— Pois é, parece que fui apenas a incubadora dele por longo


noves meses! — reclamo com humor.

— Ah querida, mas o próximo pode se parecer com você! — diz


e Gabriel rir.

— Próximo? Deus me livre! Não passo por aquilo nunca mais!

— Ocorreu tudo bem quando ficamos fora, Olivia? — Gabriel


pergunta e ela assente com a cabeça.

— Sim, apenas chegaram algumas correspondências e essa


caixa para o Senhor! — ela avisa e caminha até o canto trazendo
alguns papéis nas mãos e uma grande caixa de aparência pesada.

Confuso vejo Gabriel pegar a caixa e a colocar sobre o sofá a


encarando confuso, me aproximo dele e pergunto curiosa:

— Quem enviou isso? — Gabriel fixa os olhos numa etiqueta


escrito algo que não consigo visualizar, após ler silêncio, ele suspira
fechado os olhos antes de me encarar e abrir a caixa.

— Stella! — exclama grunhindo.

Franzo o cenho ao ouvir o nome da irmã gêmea de Maya, os


dedos de Gabriel puxam uma capa dura, como se fosse um livro de
aparência semelhante ao caderno que Stella o entregou naquele
encontro no parque, mas percebo que dentro da caixa existem
vários cadernos iguais etiquetados com datas de alguns anos.

Ele alisa a capa de um e levanta a cabeça antes de dizer com a


voz baixa:

— São os outros diários de Maya... — arregalo os olhos


percebendo uma espécie de bilhete dentro da caixa, Gabriel
também percebe a folha de papel e a segura antes de ler...
Capítulo 56
GABRIEL

Foi um grande choque receber aquela caixa contendo vários


outros diários de Maya, achava que aquilo fosse uma espécie de
pegadinha sem graça para mim, ainda sem acreditar pego um dos
diários e o abro vendo que a caligrafia realmente pertencia a Maya.

Julia pigarreia ao meu lado quando ouvimos o início de choro de


Benjamin na cadeirinha.

— Vou colocá-lo no berço! — ela avisa e o leva para o quarto.

Não sou idiota, percebi o quanto Julia ficou estranha quando abri
a porra da caixa e mostrei os diários de Maya, percebo que meu
passado também não está fazendo bem para Julia.

Não tive tempo de perguntar se ela estava bem pois saiu


rapidamente da sala, suspiro levantando-me do sofá pronto para
levar a caixa para o meu escritório e ler o bilhete escrito por Stella
quando a voz de Olivia me desperta dos meus pensamentos.

— Senhor, devo preparar algo em especial para o almoço?

— Faça algo leve e saudável Olivia, a escolha do prato fica a sua


escolha. — Digo a vendo acenar e se distanciar.

Levo a caixa para o meu escritório, pego a folha de papel com a


caligrafia de Stella e leio:

Sei que ainda está duvidoso em confiar em mim, mas talvez isso
deva pertencer a você, sei que machuca relembrar do passado, mas
não quero jogar tudo isso fora, isso deve ficar com você, ela gostaria
que ficasse, não quero lhe fazer mal algum Gabriel, apenas desejo
que minha irmã não fique esquecida, ela merece isso. Ela foi uma
pessoa importante para você Gabriel, não esqueça disso, não
esqueça dela. Não consegui ler nenhum deles, essa história não
pertence a mim, pertence a você e ela.

E talvez em algum lugar do seu coração, você ainda a ame...

Sem conseguir ler o restante da carta, a deixo sobre a mesa e


escolho um dos diários do ano mais recente, folheio as páginas
cobertas pela bela caligrafia vendo que uma foto escapa e cai no
chão.

Me agacho e a pego nas mãos vendo que se trata de uma foto


de Maya sorrindo segurando dois bebês que presumo ser os
gêmeos, pisco observando cada detalhe da imagem em minha
mãos.

— Posso entrar? — ouço uma batida na porta seguida pela voz


de Julia.

— Claro, amor...— levanto a cabeça vendo a se aproximar de


deixar a babá eletrônica em cima da mesa.

— Ela era tão bonita! — viro a cabeça encontrando Julia


observando a foto.

— Você é mais!

Me sento na cadeira guardando a foto de volta dentro de um dos


diários, Julia vê a carta e a lê em silêncio antes de me perguntar:

— Realmente existe possibilidade de você ainda a amar? —


pergunta com a voz baixa.

— Sei que deve estar chateada porque meu passado sempre


reaparece de algum jeito, mas não quero que tenha dúvidas sobre
meus sentimentos por você Julia, eu te amo! — toco sua cintura a
puxando para o meu colo.
— Como pode ter tanta certeza? Ela foi uma pessoa importante
Gabriel, mãe dos seus filhos, é impossível que você não tenha
sentido nada por ela todo esse tempo. — diz tocando meu rosto.

— Você está certa, eu senti algo, mas não sei se foi realmente
amor, Julia, mas o que sinto por você é mais forte, mais forte de
tudo que já senti nesse mundo.

— Mas se ela estivesse viva, você não me conheceria Gabriel e


com certeza ainda estaria com ela...— sussurra com a voz
embargada.

— Eu sei, mas não podemos afirmar que eu estaria com ela,


mas de algum jeito eu acabaria te conhecendo amor.

— Você sente falta dela?

Antes de responder sua pergunta por reflexo, penso na resposta,


sinceramente eu não sei o que sentia por Maya, ela foi uma figura
importante para mim, me deu duas pessoas maravilhosas na qual fiz
questão de destruir por um erro que nomeio ser meu.

— Eu não sei, mas me sinto culpado pelo que aconteceu,


mesmo não sendo eu o causador do acidente, me sinto culpado de
alguma forma já que eu poderia ter impedido.

— Você não é o culpado Gabriel, não se sinta assim...

— Mas os mataram para me atingir Julia, então sim, eu tenho


uma parcela de culpa na situação, e não suportaria de algo de ruim
acontecesse com vocês por minha causa...— digo beijando seu
rosto com carinho.

— Não vai acontecer nada conosco, mas não consegue pensar


em ninguém que deseja vingança e fez aquilo para atingir você?

— Não, nunca me envolvi em coisas erradas, nunca fiz mal a


alguém para exigirem vingança, amor.
— Entendo. — diz com a cabeça encostada no meu ombro.

— Ok, vamos parar de falar sobre o passado! O que acha de um


banho de banheira antes do nosso pequeno resolver acordar e
antes que meus irmãos tragam Eve para casa? — pergunto
beijando sua boca.

— Você sabe perfeitamente que não podemos transar até o


período necessário terminar, certo? — Pergunta com os olhos
estreitos fixados em mim me arrancando uma risada.

— Sei disso, garota safada! Vamos apenas tomar um banho


relaxante, prometo manter minhas mãos longe de você! — desfiro
um tapa em sua bunda quando ela se levanta do meu colo.

JULIA

Em minha cabeça fico remoendo as palavras ditas por Gabriel


mais cedo, desde quando fiquei sabendo sobre o passado dele,
nunca passou pela minha cabeça que talvez ele ainda a ame.

Pode ser loucura da minha cabeça, mas depois de ler aquele


bilhete reuni todas as peças em minha mente, talvez não seja
apenas culpa que Gabriel sente em relação a Maya, o jeito que ele
menciona ela me faz questionar se sou suficiente pra ele.

Sento-me na cama com cuidado temendo em acordar Gabriel


que dorme ao lado, levanto, visto meu hobby, pego a babá
eletrônica e saio do quarto sem fazer barulho, passo pelo quarto de
Eve que também dorme desde que chegou da casa da avó.

Sigo para o quarto de Benjamin e entro em completo silêncio, me


aproximo do berço onde o pequeno dorme tranquilamente, curvo-me
e beijo sua cabecinha pequena antes de sair do quarto.

A curiosidade grita mais alto quando passo em frente a porta do


escritório de Gabriel, com o corredor em silêncio, toco a maçaneta e
entro tomando cuidado em fazer o mínimo de barulho.

Mesmo na penumbra acho o abajur perto da mesa e acendo a


luz, me agacho na altura da caixa ao chão e começo a vasculhar,
todos os diários são iguais por fora, mas sei que dentro guardam
verdadeiras palavras, são diferenciando por uma fina etiqueta
branca na capa revelando a data do ano em que foi escrito.

Ao fundo vejo uma pequena caixinha preta, estico a mão e por


pouco meu cotovelo não bate num jarro e o joga não, suspiro
aliviada quando finalmente pego a caixinha misteriosa nas mãos e
abro encontrando um pen-drive.

Invadida pela confusão e curiosidade, me sento na cadeira e


abro o notebook de Gabriel, coloco a senha e plugo o pen drive na
entrada do computador, logo se revela várias pastas, clico nos
arquivos com nome fotos, a tela do computador é invadida por uma
foto de Maya numa espécie de praia, passo para a próxima vendo
uma vendo Stella abraçando Maya que exibe uma enorme barriga
de grávida, em ambas as fotos estão sorrindo para a câmera.

Na próxima as duas irmãs gêmeas estão abraçadas com um


casal de meia idade, dou zoom na tela percebendo as semelhanças
entre os quatro, o que me leva a presumir que são os pais das
gêmeas, os mesmos que odeiam Gabriel e o culpam pela morte da
filha.

Arfo surpresa com a foto seguinte, três homens de terno estão


ao lado de Gabriel que aparenta ser anos mais jovem beijando de
olhos fechados o rosto de Maya que também sorri para a câmera
usando um longo vestido vermelho.

Deslizo o dedo para a próxima foto que provavelmente foi tirada


sem o casal ver, Gabriel está de frente para ela, seus braços estão
em torno da fina cintura dela, enquanto trocam olhares fixamente.

Foco no rosto de Gabriel e nas expressões que ele transmite


através das imagens, ele estava feliz e parecia sentir algo por ela,
sinto meus olhos marejados e fecho a pasta.

Clico na próxima com o nome pedacinhos de mim, me


surpreendo ao ver uma foto de Eve e outro bebê idêntico a ele
deitados em uma cama exibindo sorrisos banguelas, na outra
imagem Stella segura Eve no colo enquanto a irmã tem o outro bebê
loiro nos braços. São várias fotos e todas focam nos gêmeos.

Bruce Willians é o nome da última pasta de fotos, contém


apenas uma imagem de Maya ao lado de um homem ruivo de olhos
azuis, franzo o cenho olhando atentamente o rosto dele, não há
nenhuma semelhança entre eles, talvez não sejam familiares.

Fecho a pasta e clico na outra chamada vídeos, abaixo o volume


do áudio e assisto o primeiro:

— Tem certeza de que está filmando, Stella? — Maya aparece


na imagem agachada enquanto segura Eve em pé.

— Claro! Eu não perderia esse momento por nada! — a irmã


retruca focando a câmera em Maya que instrui a filha a dar alguns
passos sozinha.

— Isso! Isso, filha! Vem até a mamãe, vem! — ela se afasta


caminhando para trás de braços abertos quando a pequena rir e
começa a dar os primeiros passinhos.

— Meus deus! Ela está andando, Maya! — Stella grita animada.

— Te peguei! — Maya grita levantando Eve que gargalha


enquanto a mãe finge morder sua barriga.

— Ok, chegou sua vez, pequeno! — ela coloca Eve sobre uma
tapete que logo começa a brincar com alguns brinquedos.

Ela faz a mesma coisa com o filho que também começa a


caminhar meio tropego até os braços da mãe.
— Isso! Você conseguiu, Enzo! — diz animada beijando a
bochecha volumosa do menininho loiro.

Quando o vídeo termina, estou com o rosto molhado de


lagrimas.

Enzo...

O irmãozinho de Eve se chamava Enzo, fungo e clico no próximo


vídeo, se passa dentro do carro enquanto Maya termina de ajeitar
as cadeirinhas das crianças.

— Vamos gente, chegou a hora de voltar para casa, estão


ansiosos para conhecer o papai? — pergunta fazendo cócegas em
ambos.

— Papa! — Enzo grita alto sorrindo.

— Isso mesmo, o papai está nos esperando, vamos lá? —


pergunta colocando uma chupeta na boca de Eve.

— O papai magoou muito a mamãe, mas é impossível conseguir


guardar rancor dele, agora nossa família vai ficar unida...

Seco o rosto e retiro o pen-drive antes de guardá-lo no mesmo


lugar dentro da caixa, desligo o computador, pego a babá eletrônica
e saio voltando para o quarto.

Encontro Gabriel dormindo de lado quando entro no quarto, retiro


o hobby e me junto a ele na cama, com os olhos marejados deito a
cabeça em seu ombro e o abraço com força.

Ele se remexe e abre os olhos azuis me encarando sonolento.

— Desculpe, não queria te acordar! — digo deixando uma


lagrima rolar.

— Tudo bem? — pergunta secando meu rosto, mas não


respondo, apenas o abraço com mais força e escondo meu rosto na
curva de seu pescoço.

— Te amo! — digo.

— Eu também te amo, mais do que posso imaginar...— diz me


apertando em seus braços.
Capítulo 57
JULIA

Quatro meses depois

Quatro meses se passaram desde o nascimento de Benjamin,


nosso pequeno cresce cercado de carinho e amor, quatro meses
também se passaram desde o que aconteceu com meu pai.

Sem melhoras, os Médicos optaram por deixá-lo em coma


induzido por cerca de um três meses e meio, e hoje graças a deus,
meu pai está se recuperando em casa.

Nunca senti tanto alívio em toda minha vida, lembro bem de


sentir todo o peso sair de dentro do meu peito quando recebi a
ligação de minha mãe avisando que os Médicos tentariam retirá-lo
do coma e quando ele conseguiu acordar eu estava lá, ao seu lado.

Com a experiência que comecei a ganhar com o andamento da


faculdade de Administração, Gabriel me ofereceu um novo cargo
dentro da Empresa, e com nosso casamento marcado para
acontecer daqui poucos meses, eu aceitei sua proposta, deixei de
ser Assistente Pessoal para me tornar uma CFO – Chief Financial
Officer (Diretora Financeira do Ofício) responsável pelas finanças da
Empresa, além de dirigir investimentos.

É um cargo de alto patamar em comparação a minha pouca


experiência, mas Gabriel me passou total confiança prometendo me
auxiliar como professor na área administrativa.

Sou retirada dos meus devaneios ao ouvir Gabriel praguejar alto


no volante enquanto dirige de volta para casa depois de um longo
dia na Empresa.
Levanto a cabeça da janela quando vejo que ele aumenta a
velocidade do carro, encaro seu rosto que mantém uma expressão
dura.

— O que está acontecendo? — ele me olha rapidamente antes


de bufar e dizer:

— Estamos sendo seguidos! — arregalo os olhos virando a


cabeça para trás encontrando um carro escuro que também
aumenta a velocidade de acordo com Gabriel.

— Pelo carro preto? — ele concorda com a cabeça, mas o som


de seu celular tocando me impede de perguntar mais alguma coisa.

— É o James, atende, por favor...— retiro o celular do seu bolso


e atendo a ligação do nosso segurança colocando no alto-falante.

— Senhor Simon, vocês estão sendo seguidos, localizei o alvo e


estou atrás dele, ainda não sei quem está dirigindo, mas recomendo
aumentar a velocidade e trocar de percurso, não é seguro deixá-lo
segui-los até o apartamento!

— Certo, fique atrás dele, James!

— Se segure, amor! — pede e logo obedeço firmando meu corpo


no banco do passageiro quando ele acelera o carro.

Engulo em seco temendo que algo consiga nos atingir, estou


com medo e mesmo sendo impenetrável vejo que Gabriel também
está sentindo o terror, respiro fundo alguma vezes tentando
normalizar a minha respiração e me acalmar.

Gabriel faz o recomendado, ele troca o percurso do apartamento,


voltando para o centro da cidade passando pela ponte, a todo
momento olho para trás percebendo que o carro que nos seguia
desapareceu, suspiro me encostando no banco do carro.
— O carro sumiu, James deve estar seguindo-o. — aviso para
Gabriel que levanta a cabeça para olhar pelo retrovisor.

— Sim, mas ainda temos que ficar em alerta! — ele olha para
trás, mas o som de buzinas chama a minha atenção.

— Gabriel, cuidado! — grito quando um carro descontrolado vem


em nossa direção, mas não dá tempo, antes que Gabriel desvie do
outro automóvel, nosso carro é atingido pela frente.

Grito quando somos atingidos, e mesmo pela rapidez consigo


ver o carro virar e capotar, grunho de dor sentindo algumas partes
do meu corpo doerem, bato a cabeça em algum lugar e logo a
inconsciência me domina por completo.

Quando abro os olhos recobrando a consciência e entro em


pânico ao ver que o carro está sendo afundado pela água, ainda
sem entender levanto a cabeça com a visão turva vendo que caímos
da ponte.

Toco minha testa que lateja vendo sangue em meus dedos,


tremendo viro a cabeça encontrando Gabriel imóvel curvado sobre o
volante, toco seu rosto o chamando antes que a água nos engula
por completo, mas não obtenho resposta.

— Gabriel, acorda! — grito de pavor começando a sentir a água


gelada entrar e nos atingir, tento abrir a porta do meu lado, mas o
cinto de segurança me impede de sair, tento soltá-lo, mas também
falho quando a água começa a chegar nas minhas pernas.

Respiro fundo pegando a maior quantidade de folego possível


quando o carro é afundado por completo, retiro o cinto e tento abrir
a porta do passageiro, mas está completamente amassada.

Sentindo a falta de ar em meus pulmões, destravo o cinto de


Gabriel e tento o puxar para cima, o corpo dolorido que sentia a
poucos segundos se torna totalmente dormente causado pela
temperatura baixa da água.
Nunca consegui entender o motivo de muitos morreram quando
o Titanic foi afundado, mas agora entendo perfeitamente, desejando
não morrer afogada ou pela hipotermia, começo a chutar e bater nos
vidros da janela e para-brisa com força e por puro azar eles não se
quebram.

Ofego tentando buscar ar, mas falho apenas engolindo água


cada vez mais, meu corpo treme sobre imersão, tento respirar, mas
apenas início o processo de afogamento, sentindo a agonia como se
estivesse várias facas entrando em meu corpo aos poucos vou
perdendo a consciência.

Viro a cabeça e entrelaço minha mão na de Gabriel imóvel,


desisto de lutar recebendo flash de vários momentos de minha vida,
penso nos nosso filhos, mas não há nada que posso fazer, na
escuridão enquanto o carro afunda cada vez mais, aperto a mão do
homem que amo e sinto meu corpo estremecer, enquanto tusso
tentando expelir a quantidade absurda de água que entra pelo nariz
e boca, minha visão turva, fecho os olhos lembrando rapidamente
dos momentos marcantes antes de minha trágica morte...

— Me ame Julia... — ele sussurra e digo:

— Está me pedindo para se apaixonar por você?

— Só estou pedindo para tentar...

— Você está apaixonado por mim? — pergunto surpresa por isso


está acontecendo.

— Sim, confesso que estou me apaixonando por uma garota


totalmente desobediente e que tem o poder de me irritar como
ninguém nunca irritou.

— Não preciso que tente me conquistar... — me viro para


encarar seu rosto.
— Por quê? — ele pergunta e me aproximo dele e o empurro,
ele cede e se encosta na parede, aproximo nossos rostos e
sussurro:

— Porque também confesso que estou me apaixonando por um


CEO arrogante...

— Tudo, você e Eve são tudo para mim. — Ele se abaixa e


aproxima seus lábios dos meus antes de me beijar.

— Promete não me abandonar? — ele pergunta com uma


expressão dolorosa e logo me lembro de quando a mãe dele falou
sobre sofrer por perder Maya.

— Eu prometo, não vou te abandonar!

— Parabéns papai! — exclamo abrindo um sorriso quando ele


finalmente me olha.

— Você...você está grávida? — ele gagueja aumentando minha


vontade de rir.

— Sim!

— Entendo que esteja nervosa e insegura sobre o nosso futuro,


mas quero que saiba que estou aqui, e tenho certeza de que você
será uma mãe espetacular para o nosso filho, do mesmo jeito que é
para Eve.

— Quero construir uma família com você, desejo viver cada dia
de minha vida sabendo que tenho alguém como você ao meu lado,
afastando as tempestades que me assombram.

— E se você permitir, prometo tentar de fazer feliz todos os dias,


prometo estar quando mais precisar de mim, e quando chorar sou
eu que quero te embalar nos meus braços e nunca mais soltar.
Porque eu te amo Julia, e amarei cada dia mais.
— Só falta uma coisa para que a felicidade que você me trouxe
seja completa. Você quer casar comigo? — pergunta levando minha
mão até seus lábios num beijo casto e carinhoso.

— Sim, claro que sim. — Digo.

— As outras crianças...disseram que não tenho uma mamãe de


verdade...contei que Julia virou minha mamãe e que gosto muito
dela, mas eles disseram que não tenho uma mãe de verdade...—
arregalo os olhos enquanto Eve soluça.

— Eles disseram que Julia é apenas minha madrasta...disseram


que as madrasta são malvadas e que quando o bebê nascer ela não
vai mais gostar de mim e vai me deixar papai.

— Isso é verdade? Você vai me deixar algum dia? — ela


pergunta chorosa, mas nego.

— Não é verdade meu amor, eu nunca vou te deixar, eu


prometo! — beijo sua testa.

— Nunca vou te deixar Eve, porque eu te amo e mães nunca


deveriam deixar os filhos.

— Nunca vou parar te amar Eve, meu amor por você cresce a
cada dia, nunca serei malvada com você pequena, vou amar e
proteger para sempre, porque é isso que as mães fazem, elas
amam e protegem os filhos...

— Eu te amo mamãe...

— É um menino! — a médica diz emocionada e me olha encara.

— Bem-vindo ao mundo filho! — murmuro...


Capítulo 58
GABRIEL

Meus olhos se enchem de lagrimas implorando para serem


derramadas, ouço tumultos e corro na direção onde vários
bombeiros e socorristas se reúnem ao redor de uma ambulância.

Sinto meu corpo gelar e estremecer quando vejo o corpo imóvel


e molhado de Julia sendo retirado da água e sendo colocado numa
maca.

Grito e corro mais rápido, mas braços fortes me seguram,


empurro todos e me esforço para aproximar, o corpo pálido e gélido
me causa terror, toco sua mão percebendo seu corpo sem nenhuma
reação.

— Sinto muito, Senhor, ela se foi... — um grito horripilante sai da


minha garganta enquanto choro.

— Volta para mim. Não me deixe...— puxo-a contra meu peito,


ela não se mexe, não respira, seus olhos permanecem fechados.

— Não! Volte para mim! Vamos, meu amor, volte para mim! —
peço deixando as lagrimas rolarem soltas.

— Acorde, Julia! Acorde, amor! — começo a combinação de


respiração boca a boca e massagem tentando desesperadamente
enviar oxigênio para seus pulmões.

— A retiramos da água tarde demais, sinto muito! — sinto um


toque em meu ombro, mas nego com a cabeça desesperado.

— Ahhhhhhhhhh! — grito com toda força de meus pulmões


caindo de joelhos sobre o asfalto da estrada.
Olho para o céu, e completamente fora de mim, eu grito com
Deus:

— Não se atreva a levá-la de mim, agora! Não vou deixar isso


acontecer, porra! Não a tire de mim! — berro encarando o corpo de
Julia sem reação ou movimento nenhum.

— Eu te imploro, eu a amo mais do que tudo na vida, não faz


isso comigo!

Me coloco de joelhos sobre asfalto e abaixo a cabeça em


submissão.

— Me leve! Minha vida pela dela, por favor! — cubro o rosto


abafando gritos de dor e derrota.

— Por que leva as pessoas boas de mim? Por que me faz sofrer
tanto a esse ponto? Me diz! — sussurro soluçando abraçando meu
próprio corpo sentindo meu coração despedaçado.

Levanto a cabeça vendo que a imagem sumiu ao meu redor, ao


longe dois caixões estão abertos, ainda com o choro engasgado na
garganta me forço a me aproximar.

Quando meus olhos pousam nos dois rostos familiares sinto o


equilíbrio se esvair do meu corpo, caio de joelhos novamente.

— Me perdoe, meu amor. — Beijo a testa de Julia que descansa


imóvel dentro do caixão.

— Me perdoe por fazer isso com vocês...— choro observando


Maya deitada no outro caixão.

Repito a declaração e pedidos de perdão mil vezes, nada mais


me importa, eu as perdi, tudo foi minha culpa...

— Vocês se foram por me amar, parece que tenho uma maldita


maldição, viver com a culpa pelo resto de minha vida será o meu
maior castigo...

Com a dor imensa da perda dentro do peito, soco o chão sobre


mim com força, a dor em meus punhos não são nada comparadas a
dor que sinto na alma.

— Meu coração estava quebrado, mas você juntou todos os


pedacinhos e me consertou aos poucos, sua ousadia me encantou,
fiquei fascinado desde o dia que te vi pela primeira vez naquela
Universidade, de quando a salvei em meus braços de ser atingida
por um carro, foi ali, me apaixonei perdidamente por você Julia, sei
que no começo você me odiava, acredite, eu também queria odiar,
seria mais fácil, mas te odiar era impossível...

— Você me deixava louco, me provocava, me desafiava, mas só


aumentava o sentimento desconhecido que estava começando a
sentir por você, desejava sentir a maciez dos seus lábios nos meus,
desejava seu corpo próximo ao meu, no começo até pensei que
poderia ser apenas atração, mas não era Julia, você me mudou
amor, me fez um homem melhor e te agradeço eternamente por
isso, eu te amo Julia, te amo loucamente amor, quero te tornar
oficialmente minha. Julia Vasconcelos, casa comigo?

— Apenas me ame Julia, apenas continue me amando amor, e


prometo te fazer feliz todos os dias de nossas vidas.

— Mas os mataram para me atingir Julia, então sim, eu tenho


uma parcela de culpa na situação, e não suportaria que algo de ruim
acontecesse com vocês por minha causa...— digo beijando seu
rosto com carinho.

— Não vai acontecer nada conosco...

— Você é um enigma para mim, não entendo como uma garota


como você pode mexer tanto comigo, você tem a capacidade de me
irritar tanto, mas não sabe a satisfação que sinto quando estou com
você.
Abro os olhos e a primeira coisa que vejo é o teto branco de
algum cômodo desconhecido, a segunda coisa que percebo é o som
irritante de uma máquina ligada a mim ao meu lado.

Gemo ao tentar me sentar numa espécie de cama, mas a dor


latejante em minha cabeça e corpo me impedem de fazer outro
qualquer movimento brusco.

— Graças a deus, fique calmo e tente não se mexer, filho! — viro


a cabeça encontrando minha mãe com um olhar preocupado vindo
até mim.

— Onde eu estou? — pergunto com a garganta seca e logo um


copo com canudo entra no meu campo de visão.

— Não se lembra de nada? — pergunta e nego com a cabeça.

— Estavam voltando da Empresa quando um carro


desgovernado atingiu vocês fazendo seu carro sair da estrada e cair
na ponte... — fecho os olhos lembrando de alguns momentos vagos.

— Onde está Julia? Ela está bem? — pergunto lembrando do


pesadelo horrível de tive.

— O que aconteceu com ela, mãe? — aumento meu tom de voz


tentando me levantar, mas falho miseravelmente novamente.

— Fique calmo, Gabriel, você ficou inconsciente no acidente


todo e fraturou uma das costelas com o impacto...

— Ao serem atingidos, o carro caiu na ponte e afundou aos


poucos, vocês ficaram presos por bastante tempo na água, você
desmaiou com o impacto na cabeça, mas Julia lutou e tentou retirar
vocês dois, mas não conseguiu, quando finalmente vocês foram
retirados Julia se afogou e entrou em estado hipotérmico, mas
conseguiram ressuscitá-la, ela está bem filho... — deito a cabeça no
travesseiro com os olhos fechados sentindo a respiração voltar ao
normal aos poucos.
— Eu preciso vê-la, mãe! — abro os olhos voltando a me sentar,
mordo os lábios tentando conter um gemido de dor quando tento me
levantar.

— Ela está bem, Gabriel, mas você precisa se recuperar...— ela


tenta me segurar, mas falha devido a nossa diferença de altura,
desconecto uma espécie de aparelho de mim e caminho curvado
até a porta percebendo que visto nada além de uma camisola
branca terrível.

— Em qual quarto ela está internada? — pergunto ouvindo


minha mãe bufar desistindo de me conter.

— Quarto 10, ALA B. Mas não se esforce demais!

Saio do quarto vendo que vários enfermeiros me encaram, mas


desistam de perguntar qualquer coisa quando devolvo olhares
ameaçadores.

Quando finalmente encontro a porta correta, respiro fundo


sentindo uma forte tontura embaraçar minha visão, me encosto na
parede e suspiro esperando o sintoma passar, abro os olhos e entro
no quarto vendo os pais de Julia sentados.

— Gabriel, o que está fazendo aqui? Deveria estar se


recuperando, me avisaram que sofreu uma forte impacto na
cabeça...— Dona Ana corre na minha direção percebendo que estou
prestes a cair.

Gemo de dor fechando as mãos em punho quando Marcos


também vem ao meu socorro e me ajuda a se aproximar da poltrona
ao lado de Julia adormecida.

— Eu precisava vê-la...— digo baixo acariciando o rosto de Julia


com os olhos marejados.
— Ela estava consciente há algumas horas e não parava de
perguntar sobre você, mas logo adormeceu novamente. — Ana
avisa apertando meu ombro em consolo.

— Admiro o amor que sente pela nossa filha rapaz, vamos te


deixar a vontade com ela, vamos estar aqui fora, se precisar é só
chamar. — Aceno incapaz de tirar os olhos de Julia.

Encaro o rosto pálido e sem cor de Julia sentindo meus


músculos relaxarem ao saber que ela está bem, passo os olhos por
todo seu corpo vendo algumas partes do rosto e corpos feridos e
arranhados aumentando minha culpa.

— Me perdoe por isso, senti muito medo de te perder amor...—


toco sua bochecha a vendo se remexer e abrir os olhos.

Ela se agita na cama ao me notar, mas levanto e a mantenho no


lugar temendo que ela se machuque mais.

— Você está vivo...— diz baixo esticando o braço para me tocar.

— Você também está amor, quando acordei senti medo que algo
pior tivesse acontecido com você. — Seco uma lagrima de sua
bochecha e me abaixo para beijar sua testa, mas o movimento me
faz gemer de dor alertando Julia que arregala os olhos.

— O que aconteceu com você? Meus pais apenas me contaram


que você poderia acordar a qualquer momento...

— Estou bem, foram apenas uma batida na cabeça e uma


costela quebrada! — sorrio fraco recebendo um tapa no braço.

— Quem estava perseguindo a gente, Gabriel? — pergunta


trazendo as cenas na noite anterior na mente.

— Ainda não sei amor, não tive tempo de conversar com James,
mas prometo que vou descobrir e fazê-lo pagar!
Passando algum tempo no quarto de Julia, pedi para os pais de
Julia ligarem para minha mãe e trazer nossos filhos, também avisei
que precisava conversar com James o quanto antes e depois de
algumas horas ele finalmente chega ao hospital.

— Senhor Simon, Senhorita, fico feliz em saber que estão bem!


— diz entrando no quarto e se aproximando de mim.

— Conseguiu pegar a pessoa que estava nos perseguindo


ontem? — pergunto, mas ele nega.

— Infelizmente isso não foi possível Senhor, pela noite o rosto do


suspeito não foi reconhecido, mas já pedi as imagens de algumas
câmeras de trânsito de onde ele percorreu, as imagens e gravações
devem chegar ainda hoje.

— Acha que está relacionado ao acidente de Maya e o aviso que


Stella nos deu? — levanto a cabeça e encaro Julia.

— Não sabemos, mas até que não saibam quem fez isso,
estamos todos desprotegidos...
Capítulo 59
JULIA

Nunca tive tanto medo de morrer em minha vida, para mim não
restava dúvidas que aquela seria minha morte, meu último de vida,
o dia que deixarei minha família e todos que amo.

Foi desesperador e traumatizador tudo o que passamos na noite


anterior do acidente, as cenas e tudo o que senti naquele momento
ainda estão bem recentes e vividas em minha mente.

Mas o que superou o medo de morrer foi acordar no hospital e


esperar receber a notícia que a uma das pessoas que mais amo na
vida morreu naquele acidente, mas não aconteceu, ele estava se
recuperando de alguns traumas, mas estava bem e vivo.

E lembrar que alguém estava nos perseguindo aumentava meu


terror, isso só confirmava que o aviso da ameaça que Stella nos deu
estava cada vez mais próximo, se aquilo se tratava de alguma
vingança desconhecida o próximo passo poderia acontecer a
qualquer momento, estávamos correndo grave risco novamente.

— Estou com medo de que algo possa nos atingir novamente ou


machucar nossos filhos. — Digo acariciando o rosto de Benjamin
que dorme em meu colo depois da avó o trazer junto com Eve ao
hospital.

— Não sabemos quem estamos prestes a enfrentar, mas não


posso deixar que machuquem minha família, podem me machucar,
mas não vão tocar em você e em nossos filhos. — Promete beijando
meus lábios.
— Mas não quero que toquem e tentam machucar você também,
não posso te perder Gabriel, senti esse medo uma vez e não quero
voltá-lo a sentir novamente...— digo lembrando de Gabriel
desacordado no acidente.

Passamos a maior parte do dia na companhia do outro, mesmo


exigindo cuidados e medicamentos especiais para o estado de
Gabriel, ele recusou a voltar para o próprio quarto aumentando a
irritação dos enfermeiros do hospital, mas desistiram e realocaram
Gabriel para o leito ao lado do meu.

No início da noite somos interrompidos ao ouvir uma batida na


porta do quarto, e logo James entra segurando uma pasta beje nas
mãos.

— Estou com as imagens das câmeras do dia anterior Senhor


Simon, identificaram o suspeito...— ele entrega a pasta para Gabriel
que franze a testa quando a abre a analisa várias folhas.

— Não conheço esse homem! — ele diz segurando uma foto.

— Me deixe ver! — peço pegando a foto de suas mãos


passando a encarar o suspeito.

Arregalo os olhos ao notar o mesmo homem da foto do arquivo


de Maya com alguns anos mais velho, mas os cabelos ruivos e
olhos azuis são inconfundíveis e difíceis de se esquecer tão
facilmente.

— O nome do suspeito é Bruce Willians, já avisei a polícia e


estão à procura dele nesse momento. — Ouço James avisar, mas
não desvio os olhos da foto, pego a outra vendo o mesmo homem
de capuz e óculos escuros entrando no mesmo carro que nos
perseguiu.

— Ok, mas ainda não reconheço esse homem e nem sei o


motivo para quererem me atingir dessa maneira. — Gabriel insiste
negando.
— Não consegue reconhecer o sobrenome Willians? Invadiram a
casa do indivíduo e encontraram essa foto, teve algum envolvimento
com essa jovem? — James entrega outra imagem para Gabriel que
arregala os olhos.
— O que tem na foto? — pergunto e logo Gabriel me entrega
uma foto dele caminhando ao lado de uma garota ruiva.

— Quem é a garota nessa imagem? — pergunto encarando


Gabriel que parece duvidoso em comentar, mas suspira antes de
dizer num tom baixo:

— Minha primeira submissa... — revela me deixando mais


confusa do que antes.

— Ok, mas o que isso te a ver com esse tal de Bruce Willians?
— pergunto ainda em dúvida sobre comentar sobre o pen-drive
junto aos diários.

— O nome da jovem era Jenner Willians irmã mais nova do


suspeito pela qual o Senhor Carter teve envolvimento, tomei a
liberdade de contratar um detetive particular enquanto o Senhor
estava indisposto e conseguiram isso. — James mostra uma pasta
mais fina do que a outra e a entrega para Gabriel.

— Então os irmãos Willians estão tramando tudo isso contra


mim? — Gabriel pergunta, mas James nega.

— Temos a informação que apenas Bruce está à procura de


vingança, o detetive descobriu que Jenner Willians se suicidou
pouco tempo depois do término do envolvimento de vocês Senhor.

— Ela se matou? — a pergunta escapa de minha boca


acompanhada de um suspiro de horror.

Mesmo com dor Gabriel se levanta de sua cama com dificuldade


e suspira alto balançando a cabeça em negação.
— Infelizmente sim, Jenner foi encontrada sem vida com os
pulsos cortados dois meses depois, a morte do irmã devastou
completamente Bruce, e talvez ele o culpe por ser o motivo da morte
da irmã Senhor...

— Perfeito, agora mais um familiar maluco me culpando pela


morte de alguém! — diz com a voz transbordada de sarcasmo e
percebo que está se controlando ao máximo para não perder o
controle dentro do hospital.

Como se conseguisse finalmente se lembrar de algo, Gabriel


levanta a cabeça e arregala os olhos em choque antes de
resmungar num tom baixo:

— Foi pouco tempo depois de conhecer Maya...

— O que?

— Tive um curto envolvimento com Jenner e depois de pouco


tempo conheci Maya, esse filho da puta provocou aquele acidente
também?

— Ainda não sabemos Senhor, mas com as evidencias que


temos pode-se dizer que sim.

— Pensei que sua relação com Maya fosse seu primeiro


envolvimento com alguém. — Esclareço minha dúvida.

— Ela foi, foi meu primeiro relacionamento sério, tinha acabado


de entrar no mundo de BDSM quando a conheci, depois de sua fuga
para França demorei bastante tempo para voltar a me relacionar
daquela maneira.

Penso novamente e decido contar que há alguns meses remexi


na caixa que Stella lhe entregou com os diários de Maya. Depois de
perceber que mexer no passado não estava nos fazendo bem,
Gabriel decidiu deixar a caixa guardada em algum lugar, o que leva
a crer que ele não voltou a mexer ali dentro.

— Eu vi esse homem ao lado de Maya numa foto... — Levanto a


cabeça vendo que Gabriel me encara com o cenho franzido.

— O que disse?

— Havia um pen-drive naquela caixa que Stella deixou no


apartamento, e nele tinha várias fotos ao longo da vida de Maya e
tinha uma pasta com o nome Bruce Willians, nela havia apenas uma
foto dele.

— Maya conhecia Bruce? Como?

— Os diários narram os acontecimentos mais importantes da


vida dela, talvez tenha algo escrito sobre isso. — Proponho e logo
James puxa o celular do bolso e nos mostra algo.

— Essa moça por acaso seria Maya Walker? — franzo a testa


vendo uma foto tirada de um parede com vários fotos de Maya e
Gabriel tiradas há muitos anos.

— Onde achou isso? — Gabriel pergunta segurando o celular e


dando zoom na imagem.

— Essa e outras imagens foram enviadas por um dos policiais


que invadiram a casa onde Bruce morou por anos, no quarto várias
fotos como esta estavam espalhadas na parede...

— Não temos certeza, mas parece um quadro de possíveis


alvos...— estremeço vendo uma foto de Maya com os gêmeos
marcada com um X vermelho, como se fossem eliminados.

— Nessa parede também havia isso...— James gesticula para


que Gabriel passe para a próxima foto.

— Que porra é essa? — Gabriel grunhe e arregalo os olhos em


choque ao ver várias fotos minhas espalhadas na mesma parede.
Sinto meu corpo tremer e os olhos marejarem ao analisar as
fotos com mais atenção, são imagens minha ao lado de Gabriel,
sozinha entrando na faculdade, algumas antes e depois da gravidez.

— Parece que o suspeito estava de olho em vocês há muito


tempo.

— James, não sei quando vamos ter alta daqui, mas preciso que
volte ao apartamento e me traga todos os diários de Maya que estão
numa caixa dentro do meu closet, Olivia te ajudará a encontrar, me
traga o mais rápido possível, James! — antes que o segurança saia
do quarto, levanto a cabeça e o encaro, ele devolve o olhar com
pesar, confirmando minha dúvida.

— Eu sou o próximo alvo?

— Esperamos que não, Senhorita, mas aconteça o que


acontecer, estarei aqui prontamente para protegê-los!

— Obrigada, James...— agradeço cabisbaixa o vendo sair do


quarto rapidamente, ainda com a cabeça abaixada sinto os dedos
de Gabriel envolverem os meus, entrelaçando nossas mãos e a
levando até os lábios.

— Não fique assim, não vou deixar nada acontecer com você,
amor...
Capítulo 60
GABRIEL

Meia hora depois estamos cercados com vários diários ao nosso


redor, sem saber exatamente o que estamos à procura, folheamos
cada caderno a procura de alguma informação ou data que explique
o que acabamos de descobrir.

Julia ainda está em choque depois de ver várias imagens com


seu rosto, mas insistiu em me ajudar a procurar novas informações
dentro de milhares de folhas carregadas pela caligrafia de Maya.

— Desse jeito não vamos chegar a lugar nenhum, talvez


deveríamos começar pela data mais próxima, quando vocês
começaram a se relacionar? — levanto a cabeça encontrando Julia
frustrada.

— Não tem nada de importante nos primeiros diários, já li e não


encontrei nada! — bufo irritado fechando o quarto diário.

— Isso é estranho...

— O que é estranho, amor?

— Aqui estão todos os diários que ela escreveu ao longo da


vida, mas parece que ela só começou a escrever depois de te
conhecer. — Penso a mesma coisa quando organizo os diários em
cima da cama na ordem certa.

— Me lembro bem que Maya era muito reservada, não tinha


muitos amigos para qual pudesse desabafar, talvez ela tenha
encontrado refúgio narrando sua vida em folhas de papeis.
Desvio meu foco dos cadernos na cama e me viro vendo Julia
lendo um diário, percebo que talvez ela esteja precisando descansar
depois de tudo que passou recentemente, e para piorar está lendo
vários relatos apaixonados que minha falecida ex deixou escrito.

— Não precisa continuar fazendo isso, Julia. Sei que não está
nada fácil ficar lendo isso. — Ela levanta a cabeça e nega com a
cabeça.

— Tem razão, não é fácil, mas estou bem e quero continuar


ajudando, tem muita coisa aqui sobre você, Maya deveria estar
realmente muito apaixonada...— ela sorri fraco balançando o diários
que lê nas mãos.

Pego um caderno aleatório de um ano depois da fuga de Maya e


me encosto no travesseiro antes de iniciar mais uma nova leitura em
busca de informações que nos ajude a entender melhor tudo isso.

06 de junho

Querido querido...

Quase um ano desde que deixei Seattle está se completando,


mas as memorias ainda estão bem vivas em minha mente, dói, mas
tento seguir em frente a cada dia que se passa.

Não é fácil, sei muito bem que nada vai ser fácil daqui para
frente, mas precisava sair daquele lugar, não estava me fazendo
bem e depois de ser magoada a única opção seria esquecer e
seguir com minha nova vida.

Um vida de mãe solteira, com o passar de quase um ano, a


chegada dos meus filhos se aproximava mais, e a cada nova
lembrança que criava, as memorias passadas sempre achavam um
jeito de continuar me assombrando.

Mas era hora de deixar o passado no lugar dele, e focar no


futuro próximo que me esperava daqui pouco tempo, os primeiro
dias e meses foram os mais difíceis, mesmo repetindo a mim
mesma que não adiantava nada ficar sofrendo por algo que nunca
terei, passava horas chorando no silêncio da noite.

Tentava me arrepender da decisão que tinha tomado, mas não


havia um pingo de arrependimento ali, precisava criar meus filhos
num lugar estável e seguro e aos poucos estava conseguindo isso.

O dia de hoje foi recheado de memórias que levei para toda


minha vida, fiz minha última ultrassonografia e saber que meus
bebês estavam crescendo bem e saudáveis aumentou minha alegria
e emoção, quando recebi a notícia que o parto poderia acontecer
daqui a pouco tempo desejei que minha fosse segurada, não uma
mão qualquer, eu queria a mão dele e que comemorasse a notícia
comigo.

Mas estou feliz pelo que tenho hoje, e quando lagrimas


transbordaram dos meus olhos em controle nenhum, Stella estava lá
para mim, segurando minha mãe e me dizendo que iriamos criar os
bebês com muito amor e cercado de carinho, ela foi o meu conforto
num momento tão importante e especial como aquele...

— Gabriel? Gabriel? — balanço a cabeça tentando diluir o que


acabei lendo, levanto a cabeça encontrando os olhos de Julia me
encarando arregalados.

— O que foi?

— Acho que encontrei algo, leia a partir daqui! — estico o braço


pegando o diário de suas mãos percebendo que se tratava do
começo do nossa relação.

1 de fevereiro:

Querido diário...

Pode ser coisa da minha cabeça, minha mente fértil pregando


peça sem graça alguma em minha mente, mas tenho quase certeza
de que é muito real.

Esse é o problema eu não tenho certeza se estou certa, poderia


contar sobre isso para alguém ou até contatar a policial do algo
assim, mas o problema da incerteza atrapalha tudo isso.

Desde o beijo e minha primeira noite com Gabriel, venho


notando que estou sendo seguida, no começo até achei que não
passava de uma sensação boba e sem motivo, mas tenho quase
certeza de que muito real agora.

Até cogitei ser a ideia de algum paparazzi em busca de fotos


com a intenção de divulgar para a mídia meu relacionamento com
Gabriel, mas não é.

Desde quando notei a primeira perseguição venho sempre indo


para lugares públicos, não sei do que se trata, mas passei a evitar
ficar sozinha em algum lugar, tenho medo de que algo possa
acontecer, mas rezo para que seja apenas uma brincadeira de mal
gosto...

— Ela narra que está sendo seguida por alguém, talvez possa
ser o tal Bruce, continue lendo, essa pode ser uma prova que ele
realmente é o culpado do acidente de carro de Maya. — Julia diz,
mas fecho o diário suspirando.

— Não sei se quero ou consigo ler os relatos de um maníaco


que provavelmente tirou a vida do meu filho... — encaro o vazio e
logo ouço Julia se levantar de sua cama e se sentar ao meu lado.

— Desculpe te pedir para ler, é difícil e doloroso, mas posso


fazer isso por você. — Ela propõe apoiando a cabeça no meu ombro
com cuidado para evitar me provocar mais dor.

— Obrigado! — viro o rosto beijando sua boca e entregando o


diário para que ela continue lendo.
— Posso ler em silêncio para depois contar as partes mais
importantes se não aguentar ouvir em voz alta. — Pergunta, mas
nego com a cabeça de olhos fechados.

— Pode ler em voz alta, eu aguento!

— 2 de fevereiro: Querido diário... Minha confirmação estava


certa, enquanto continuava com minha rotina percebi que estava
sendo seguida novamente, preocupada com aquilo que poderia
acontecer comigo, consegui capturar uma foto do meu perseguidor,
era um homem, uma pessoa totalmente desconhecida para mim,
não sabia suas verdadeiras intenções, mas precisava dar uma basta
naquela perseguição que aos poucos estava se tornando pura
obsessão. Após tirar uma foto do indivíduo com a intenção de ir até
uma delegacia e mostrar tal imagem ou contar a Gabriel sobre o que
está acontecendo percebi que o homem misterioso parou de me
seguir. Não tinha palavras para expressar o tamanho do alívio,
talvez não passasse de uma brincadeira de mal gosto.

— 3 de fevereiro: Querido diário... Sim, eu estava certa, a


perseguição parou de acontecer, pude voltar a sair livremente
sozinha sem que ninguém voltasse a me seguir escondido, o tal
ruivo misterioso e desconhecido havia sumido de minhas vistas e
tudo voltou ao normal, bom, quase tudo. Minha relação com Gabriel
estava ótima, mas um pequeno probleminha poderia arruinar e
mudar nossos planos. Ainda não tinha certeza, mas os sintomas
poderiam indicar o início de uma gravidez, estou apavorada e ainda
nem tive coragem de fazer um teste ou contar sobre minhas
suspeitas para Gabriel, uma gravidez num momento como esse
mudaria nossas vidas de um jeito não esperado, Gabriel estava
iniciando sua carreira com louvor e eu ainda estava no inicio da
minha, e enquanto vomitava tudo o que tinha ingerido nesta manhã
me amaldiçoei por ter sido tão imprudente pela falta de prevenção
quando tivemos nossa primeira noite juntos.

Talvez o álcool que ingerimos além da conta falou mais alto na


noite, mas as consequências estavam pesando agora, sempre fui
cautelosa e até prudente demais, mas nunca imaginei que isso
poderia acontecer logo comigo.

— Quer que eu continue? — desvio as velhas lembranças e


aceno com a cabeça para Julia que logo volta a ler.

— 4 de fevereiro: Querido diário...Minhas suspeitas foram


confirmadas esta manhã, criei coragem e mesmo nervosa fiz alguns
testes de farmácia e todos confirmaram minha gravidez, há algumas
semanas estava sentindo alguns sintomas e hoje finamente recebi a
notícia.

Ainda sem saber o que fazer fiquei horas trancada no quarto


pensando no que fazer, em como minha vida mudará daqui para
frente, essa gravidez nunca foi planejada e me culpo por não ser
cuidadosa a ponto de evitar uma situação como essa.

Ainda não contei nada para Gabriel e nem sei qual será sua
reação, ninguém além de mim sabe disso, nem meus próprios pais
que tenho certeza de que vão me julgar após saber.

Meu futuro já estava planejado, trabalharia para conquistar meus


objetivos e um dia se tornar uma CEO da minha própria Empresa,
esse sempre foi o meu sonho e dos meus pais também.

Uma gravidez agora atrapalharia tudo, e com certeza levaria


decepção para os meus pais, ainda sou jovem e tenho muito para
viver e nunca planejei se tornar mãe tão rapidamente.

Mas também não posso rejeitar minha gravidez, não posso


rejeitar nosso filho, isso é uma coisa que nunca seria capaz de
cometer na vida, tenho que contar para Gabriel o quanto antes e
rezo para que ele fique feliz em saber que será pai em breve...

Enquanto Julia termina de ler essa parte, reúno e tento organizar


minhas memórias dentro de minha mente, percebendo que já ouvi
ou li essas palavras em algum momento passado.
— Eu li essa parte quando Stella me entregou o diário quando a
encontrei naquela praça. Apenas li essa e a seguinte, e me
arrependo de não ter começado pelo início onde encontramos
algumas informações importantes para a investigação. — Relembro
coberto de arrependimento.

— Não tinha como você saber, posso pular a data de 5 de


fevereiro, então? — aceno com a cabeça pronto para ouvir a
continuação do diário.

Lembro bem da data do dia 5 de fevereiro, foi quando Maya me


contou sobre a gravidez, o dia em que despedacei seu coração em
pedaços com apenas poucas palavras.

— 6 de fevereiro: Querido diário... Nunca chorei tanto em toda


minha vida, o dia anterior foi o pior vivido por mim, e o dia seguinte
de hoje também é um dos piores. Não consegui dormir nem um
pouco na outra noite, meu corpo está cansado, pedindo por um
repouso, mas minha mente não consegue, não consigo tirar todas
aquelas palavras de pura rejeição das pessoas que mais amo na
vida. Eles me rejeitaram, como se não fosse nada, pessoas pelas
quais declarei e dediquei todo meu amor e carinho foram capazes
de fazer tamanha maldade comigo.

Me sinto fraca e sem forças para nada, me sinto vazia, como se


dentro de mim habitasse apenas tristeza e decepção pura, foram
horas chorando agarrada ao travesseiro e soluçando enquanto
deixava lagrimas de dor lavarem meu rosto. Mas apesar de querer
sofrer sozinha alguém dentro de mim precisava de mim, um
pequeno ser estava crescendo dentro de mim, sem ninguém e
rejeitada até pelos meus próprios pais, precisava me agarrar a
alguém, precisava lutar por alguém, ele fazia parte de mim agora e
daria tudo para protegê-lo da maldade que havia nesse mundo.

Era mãe agora, e nunca na vida teria coragem e sangue frio para
rejeitar meu filho quando ele mais precisasse de amor e carinho,
passei a manhã toda em sofrimento profundo, o que mais desejo no
momento é ir para longe e tentar viver sem dor nenhuma.
A tarde me reergui e sai a procura de ajuda Médica para iniciar o
meu pré-natal e procurar saber sobre tudo que mudaria dali para
frente, mas voltando para casa numa chuva escassa fui pega
totalmente de surpresa, minha vida já estava ruim o suficiente, mas
ele apareceu novamente e me empurrou para dentro de um carro
escuro...
Capítulo 61
JULIA

— O medo e o pavor falaram mais alto quando alguém tampou


minha boca e me empurrou para dentro de um carro desconhecido,
e ao perceber o homem com o rosto coberto por um capuz escuro
relacionei que aquilo estava ligado a perseguição que acreditava ter
sido interrompida por mim.

Congelei ao ouvir suas palavras, ele estava me ameaçando,


dizendo que estava observando cada passo meu para conseguir a
maior quantia de informações impossíveis antes de me apagar, era
isso, ele pretendia me fazer mal bem longe dali. Horrorizada implorei
para que não desse continuidade a aquele plano, e quando
perguntei sobre o real motivo daquilo ele me revelou brevemente
algo sobre Gabriel, e ao ouvir o nome da pessoal causadora do meu
atual sofrimento neguei dizendo que não tinha mais contato com
Gabriel Simon. Mas uma risada maligna soou pelo carro me
assustando mais, disse que mesmo com o término de nossa
relação, eu sou o ponto fraco para atingir Gabriel diretamente já que
ele ainda se importava comigo. Antes que ele chegasse a fazer
algum mal a mim, pensei no meu bebê, na gravidez que daria
continuidade sozinha daqui para frente e prometi a mim mesma que
nenhum mal chegaria ao meu filho. — Paro a leitura apenas para
observar Gabriel de olhos fechados com a cabeça encostada no
travesseiro absorvendo cada palavra escrita por Maya.

São relatos fortes e cheios de pura emoção, não está fácil ler
cada paragrafo preenchido pela caligrafia de Maya, ler tudo o que
aquela mulher passou no passado me faz sentir tudo com mais
intensidade, é como se eu pudesse sentir tudo o que ela sentiu
nesses momentos, como se eu estivesse presenciado tudo ao lado
dela.
Suspiro antes de abaixar a cabeça e me concentrar nos
parágrafos que ainda completam a mesma data do diário:

— De algum jeito reuni forças e coragem de onde não tinha e


consegui escapar daquele tormento antes que algo pior
acontecesse comigo e com meu filho, e aqui estou eu, tomando uma
decisão que mudará minha vida a partir de amanhã, com aquele
homem ainda solto por aí não posso mais continuar escondida ou
de tentar encontrar alguém para nos proteger, e além do mais, seria
muito bom ficar longe de tudo isso e das pessoas que me
machucaram profundamente, será bom para nosso filho, e será bom
para mim o criar longe de tudo isso.

Então aqui está minha decisão: Vou para França, as pressas


consegui arrumar uma mala com algumas roupas e pertences para
ir ao aeroporto amanhã e sair de Seattle. Vou viver e reconstruir
minha vida na França ao lado de Stella, minha irmã e única pessoa
que ficou ao meu lado depois de uma ligação desesperada
contando algumas partes importantes e real motivo de minha
mudança.

Não contarei a ninguém sobre minha mudança repentina, será


mais fácil partir assim, tentei achar alguma incerteza, mas não há,
essa é minha decisão, não estou a salva permanecendo aqui.

Não é segredo que vou sentir falta de Gabriel e de tudo o que


passamos juntos, mas isso é preciso, eu ainda o amo, amo com
todo meu coração, mas estou em perigo e pretendo proteger nosso
filho custe o que custar... — fecho o diário e seco os olhos
marejados antes de arriscar olhar para Gabriel que mantem os olhos
abertos encarando o vazio.

— Então, ela não foi embora apenas por minha causa...— ele diz
num tom baixo ainda sem virar a cabeça.

— Não, eu sinto muito! — digo com pesar vendo que ele se


senta na cama e se vira para mim.
— Vamos encontrar esse desgraçado que machucaram vocês,
vou encontrá-lo e fazê-lo se arrepender amargamente por tocar e
ferir pessoas inocentes! — ele diz se sentindo culpado, mas nego
esticando a mão para tocar seu rosto enquanto continua:

— Jenner tirou a própria vida porque se apaixonou por mim e o


sentimento não foi correspondido, o pior é que eu nem sabia de sua
morte esse tempo todo. — Comenta cabisbaixo.

— Mesmo com o passar dos anos, você ainda se lembra dela?

— Foi há muitos anos, mas sim, ainda me lembro bem dela, foi
minha primeira submissa desde quando entrei no mundo de BDSM,
estava começando e não sabia muito bem como me relacionar com
as escolhidas para aquilo, mas coloquei a ideia na cabeça que
precisava manter meus sentimentos intactos ou atrapalharia tudo.
Quando o período do contrato se encerrou cada um foi para o seu
lado viver a vida como se aquilo nunca estivesse acontecido, nunca
me relacionei com a mesma submissa além de uma única vez, e
não foi diferente com Jenner.

— Como se conheceram? — pergunto cheia de curiosidade.

— Quando tomei a decisão de me tornar dominador fui a uma


desses clubes feitos para essa afinidade, estava à procura de uma
submissa e aquele lugar parecia ser o ideal para meu propósito, um
outro dominador mais velho que conheci me apresentou a Jenner
que também estava à procura de um dominador. Foi falta de
consideração minha não procurar saber mais sobre as pessoas que
passaram pela minha vida.

— Maya sabia desse seu lado? Ela também praticou isso com
você? — questiono, mas Gabriel nega.

— Conheci Maya depois que o contrato com Jenner tinha


encerrado, ela trabalhava e convivia diariamente comigo, quando
nos relacionamos pela primeira vez até passou a ideia de oferecer
um contrato a ela pela minha cabeça, mas Maya era diferente, então
não, ela não sabia desse lado meu. — diz com a cabeça abaixada.

— Não é a sua culpa, Gabriel, existe muita maldade nesse


mundo e coisas que acontecem com pessoas que ainda não temos
a explicação certa, mas Maya e Enzo foram para um lugar melhor
do que esse mundo violento, sem maldade e dor, apenas paz.

— Enzo? — questiona com curiosidade no olhar e lembro-me de


que Gabriel não sabia o nome do filho que nunca teve a chance de
conhecer.

— Esse era o nome do seu filho, ele se chamava Enzo, descobri


quando um vídeo de Maya e os gêmeos nesse pen-drive. — Conto
esticando o braço para pegar a pequena caixinha preta e erguendo
diante de seus olhos.

— Me desculpe se invadir seu espaço quando estava vendo


isso. — Aponto entregando o objeto nas mãos dele.

— Tudo bem, amor, você é minha vida, você faz parte dela! —
diz secando uma lagrima que desce por minha bochecha antes de
me beijar com vontade.

No final da tarde recebemos a visita do Médico que nos


examinou e informou que eu poderia deixar o hospital no dia
seguinte se meu estado continuasse estável, Gabriel demoraria
mais alguns dias para ter alta já que seu estado foi, mas crítico que
o meu.

Nossa família nos visitou e deixou Eve e Benjamin conosco,


mesmo sem sair do quarto hospital passamos horas brincando e na
companhia um do outro, aproveitando momentos tranquilos e felizes
com nossa família sem lembrar da dor e desespero que nos cercava
e da longa e difícil trajetória que nos esperava.

— Mamãe, vai demorar muito para o Ben crescer? — Eve


pergunta sentada na cama de Gabriel ao lado dele enquanto
amamento nosso pequeno.

— Ele cresce rápido querida, logo ele aprende a andar e você


poderá brincar direito com ele.

— Nunca pensei que ter um irmãozinho seria tão legal assim,


mas ele chora muito e não deixa vocês dormirem, não é?

— Sim, mas é porque ele ainda é um bebezinho amor, é só uma


fase. — Gabriel esclarece beijando a testa da filha que assente com
a cabeça.

— Quando Benjamin crescer, vou ter outro irmãozinho? — ela


me encara com os olhos azuis brilhando esperançosos, mas
balanço a cabeça.

— Por deus, não quero passar por aquilo novamente, vocês dois
já bastam para mim. — Informo ouvindo a risada de Gabriel.

— Sua mãe fala isso agora quando as lembranças do parto


ainda estão vividas na mente dela, mas depois de alguns anos ela
mudará de ideia, querida! — o encaro revirando os olhos fazendo
Eve sorrir.

Somos interrompidos por uma batida na porta, após o pedido de


entrar de Gabriel observamos Elisabeth entrar no quarto e logo atrás
um casal de senhores também a acompanha, observo os rostos
lembrando de vê-los em algum lugar, e ao meu lado vejo Gabriel
ficar tenso.

— O que eles estão fazendo aqui? — Gabriel grunhe encarando


o casal que devolve o olhar envergonhado e sem jeito.

— Desculpe filho, tentei impedir, mas insistiram em entrar aqui


depois de saberem do acidente. — Elisabeth se desculpa saindo do
quarto deixando o casal a nossa frente.
Observo com atenção o homem e a mulher que parecem admirar
Eve que encara o pai confusa, vasculho minha mente em busca dos
rostos conhecidos, eu me lembro deles, me lembro de ver esses
rostos nas fotos do pen-drive de Maya, eles estão mais velhos, mas
consigo perceber as semelhanças.

São os pais de Maya...


Capítulo 62
GABRIEL

Observo os pais de Maya se acomodarem nas duas poltronas


disponíveis no nosso quarto hospitalar, os mesmos que me culpam
pela morte da filha, não sei o que sinto, talvez fúria seja adequado
quando percebo os olhares fixos em Eve.

— Vou repetir mais uma vez, o que estão fazendo aqui? —


Grunho irritado puxando Eve para o meu lado.

— Ficamos sabendo do ocorrido e quem o provocou o acidente...


— Albert diz me obrigando a encará-lo e notar as mudanças em seu
rosto desde a última vez que nos vimos há anos.

— Como ficaram sabendo disso? Desculpem, mas não vou


discutir sobre esse assunto na presença de minha filha! — digo e
Petra apenas concorda com a cabeça antes de me responder:

— O assunto do acidente foi divulgado e espalhado em sites e


reportagens de notícias, parece que já descobriram o culpado, mas
você está certo, não é apropriado tocar no assunto na presença de
nossa neta. — Uma risada me escapa e encaro os olhos azuis de
Petra com ironia.

— Neta? Depois de tudo que eu e sua filha passamos e do que


fizeram conosco, ainda tem a audácia de se declarar avó da minha
filha? — os olhos curiosos de Eve me encaram confusos e logo
percebo que minha filha não sabe do que estamos falando e não
seria bom revelar tudo num momento como esse.

— Ok, podemos conversar sobre isso depois, agora podemos


apenas conhecer sua filha? Sei que temos nossas desavenças e
que cultiva um ódio enorme por nós, mas podemos deixar isso de
lado por alguns minutos e focar em Eve? — Albert pede e querendo
adiar uma briga dentro do hospital concordo com a cabeça
permitindo que eles se aproximem dela.

— Não confio em nenhum de vocês, se tentarem machucá-la eu


vou... — minha ameaça é interrompida quando Albert se pronuncia:

— Não vamos fazer mal algum a ela, mesmo que não goste
ainda somos avós dela e temos esse direito Gabriel, não somos
essa imagem de pessoas tão deploráveis que sua mente criou.

Viro a cabeça encontrando o olhar de Julia e com um aceno


deixo que eles se aproximem e se agachem diante da pequena que
os olha intrigada.

— Oi Eve, tudo bem? — Petra pergunta segurando a mão de


Eve e minha filha reage como toda vez que conhece pessoas
desconhecidas, ela apenas acena timidamente com a cabeça.

— Esperamos todo esses anos para te conhecer, querida, sei


que está confusa, nos entendemos perfeitamente, não queremos
que se precipite, mesmo que não nos conheça somos parte de sua
família também, mas vamos com calma, ok? — Eve ainda com o
semblante curioso e confuso assente antes de perguntar aos dois.

— Vocês são meus avós?

— Sim, é visível que você herdou a beleza dos seus pais, seus
olhos azuis são uma incrível combinação com os de Gabriel, olhar
para você me faz lembrar de sua mãe...— Petra diz sentimental
tocando o rosto da minha filha que levanta a cabeça para Julia.

— Minha mãe não tem olhos azuis, eu já tenho avós, e por que
apareceram somente agora? — Eve aponta Julia com o dedo como
se acreditasse que estão falando dela e volta a encarar a dupla.
— Querida, estou falando de Maya, essa moça não é sua
verdade...— meus olhos queimam sobre Petra como um aviso
silencioso para não que não conte a Eve sobre mãe verdadeira,
Maya deixou minha filha cedo demais e desde que conheci Julia ela
tem sido uma mãe perfeita, e não quero que tirem isso dela.

Percebendo meus olhar gélido, Petra se cala enquanto observa


o marido se levantar e focar em Julia sentada na cama ao lado
enquanto nina Benjamin sonolento nos braços.

— Desculpe se pareci mal-educado por não a cumprimentar,


estava tão ansioso para conhecer Eve que até esqueci meus
modos, sou Albert Walker e essa é minha esposa Petra. — Ele
oferece a mão em comprimento, com o rosto sério ela aceita
apertando a mão estendida.

— Sou Julia, me desculpem por estar muito calada, é que ainda


estou tentando assimilar tudo isso, vocês são avós de Eve e
permaneceram distantes esse tempo todo... — ela comenta com o
cenho franzido e sei que também está muito desconfiada da visita
indesejada de Albert e Petra.

Petra se junta ao lado do marido passando a encarar Julia e


nosso filho adormecido, e contragosto ela também oferece a mão
que Julia demora para aceitar o cumprimento como se já
conhecesse o tipo de pessoa que minha ex-sogra é.

— Você deve ser a namorada de Gabriel, vimos na notícia que


também estava envolvida no acidente...

— Noiva! Ela é minha noiva, e esse é nosso filho Benjamin! —


anuncio a interrompendo vendo que seus olhos se arregalam.

— É visível que seguiu em frente, nunca pensei que isso poderia


acontecer depois da história de vocês e depois de se sentir culpado
pela morte da nossa filha...
— Chega, Petra! Viemos pela nossa neta, consegue deixar o
passado no lugar dele por pelo menos alguns minutos? Temos
tempo para discutir sobre isso! — Albert repreende a esposa
voltando sua atenção para Julia.

— Perdoe a intromissão da minha mulher, sim, nos passamos


todos esses anos afastados porque acreditávamos em uma mentira,
mas a verdade apareceu agora e pedimos tempo para nos
redimirmos.

— Quando vimos a notícia anunciando seu nome, percebemos a


gravidade do acidente, mas felizmente vocês não se machucaram
ou tiveram ferimentos muito graves que resultariam em más
consequências.

— Nada além de alguns arranhões e uma costela fraturada!

— No caminho para cá estamos pensando em levar Eve para


passar um tempo com a gente e tentar recompensar todo o tempo
perdido com ela, Stella também gostaria disso e ficaria feliz em se
aproximar da sobrinha que ajudou a cuidar depois do nascimento.
— Petra pergunta, mas nego com a cabeça.

— Talvez algum dia. Ainda não confio totalmente em vocês e


com o perigo que estamos enfrentando é melhor irmos com calma,
se Stella deseja se aproximar de Eve, por que ela não veio com
vocês? — Questiono me ajeitando na cama.

— Está certo, pensamos que nossa visita sem aviso prévio já


seria muita coisa para assimilar, então Stella preferiu não nos
acompanhar até aqui.

— Podemos passar um tempo com ela aqui dentro?


Prometemos que será por poucos minutos, apenas para a conhecer
melhor. — Albert pergunta esperando minha aprovação e com um
suspiro concordo.
Petra e Albert ficaram conversando e tentando se familiarizar
com Eve pelos próximos trinta minutos dentro do quarto,
observamos a pequena aos poucos começar a se enturmar e perder
a timidez, chegando perto do horário de encerramentos das visitas
aos pacientes minha mãe levou Eve para comprar algo enquanto o
resto a dupla ficou para conversar sem a presença de Eve já que
tudo deixaria nossa filha ainda mais confusa.

— Ok, agora podem revelar o real motivo da visita de vocês? —


pergunto me encostando no travesseiro enquanto Julia fica de pé
balançando e tentando distrair Benjamin que chora sem descanso.

— No noticiário que assistimos dizia que já identificaram o


culpado por provocar o acidente que ainda continua foragido, se
esse homem estava tentando causar algum mal a você é porque
existe algum motivo nessa história. O acidente também nos trouxe
lembranças do que aconteceu com Maya, Stella deve ter lhe dito
que o acidente foi causado por alguém, achamos muita coincidência
que o mesmo tenha acontecido justo com você. — Albert explica
sentado na poltrona ao lado da cama com a cabeça erguida.

— Se estão querendo saber se os dois acidentes têm conexão a


resposta é sim, bom, ainda estamos investigando, mas as provas
levam a crer que o tal Bruce também provocou o acidente de Maya.

— Provas? Existem provas? — Petra pergunta com a expressão


preocupada enquanto se coloca ao lado do marido.

— Sim, não é mistério ou segredo que ele nos perseguiu e


provocou nosso acidente, mas aqui temos os diários da filha de
vocês, aqui existem vários relatos que ela escreveu sobre a própria
vida, foi Stella que entregou na minha casa, estou surpreso que
vocês não ficaram sabendo da existência desses diários. — Aponto
para a caixa no chão.

— Na verdade, nós sabíamos sim, Stella quando partiu da


França e veio para cá mencionou alguns diários que trouxera, mas
nunca pensei que provas e informações sobre a morte dela estavam
nessas folhas o tempo todo. — Petra comenta.

— Se algum de vocês descem o trabalho de ler descobririam


isso há muito tempo e saberiam que não tenho culpa ou
envolvimento na morte da filha de vocês! — Grunho irritado.

— Nós sabemos, acreditávamos que você tinha algum


envolvimento depois da recusa da gravidez de Maya, mas
estávamos errados, você é totalmente inocente, nos perdoe por o
culpar tanto por algo tão absurdo, por culpa-lo de ter um parcela de
culpa na morte da mulher que você um dia amou. — Albert diz com
a expressão arrependida e sincera.

— Esse é o ponto, Maya não foi embora para França apenas por
minha causa, ela foi porque Bruce também estava a perseguindo e
quase conseguiu fazer mal a ela antes que partisse, está tudo nesse
diário se não acreditam em mim. — Estico o braço gemendo de dor
quando consigo pegar o diário correto, abro nas páginas que lemos
e entrego nas mãos de Albert que lê em silencio.

— Meu deus, não imaginávamos que a situação é tão séria


assim, vamos fazer o possível para ajudar a encontrar esse
desgraçado! — Albert solta o diário com ira nos olhos.

— Acredite, se eu tiver a sorte de colocar minhas mãos nesse


filho da puta, vou fazê-lo pagar por ferir pessoas inocentes, quero
que apodreça na cadeia pelo resto da vida miserável dele. —
ameaço.

— Se depender de mim, ele nem chegaria a ir para a cadeia,


esse merda tirou a vida da nossa filha, tirou a vida de uma criança
inocente e por pouco não fez o mesmo com Eve, um homem como
ele não merece viver!

Depois que Petra e Albert foram embora prometendo ajudar com


informações na investigação dos acidentes, passamos o resto da
tarde e noite atentos a qualquer nova notícia ou informação sobre o
paradeiro do desgraçado de Bruce, mas infelizmente o canalha
ainda não foi encontrado.

Mas vamos encontrar esse desgraçado e fazê-lo pagar por tudo


que fez de ruim na vida miserável dele...
Capítulo 63
JULIA

Tive alta do hospital há dois dias, mas Gabriel ficou mais alguns
dias para se recuperar da costela fraturada no acidente e pela
bancada na cabeça, com o perigo a solta podendo atacar a qualquer
momento sou guiada e perseguida por James em todo canto que
vou.

Não posso protestar ou reclamar já que precisamos de toda


proteção possível até encontrarem Bruce ainda desaparecido, mas
rezo para que sua prisão seja o mais breve possível já que vários
policiais e detetives estão a sua procura.

Enquanto Gabriel ainda se recupera no hospital fiquei


responsável por cuidar da Empresa em sua ausência, claro que
minha alta do hospital exigiu repouso, mas não me limito muito, são
Empresas e filiais espalhadas pela cidade e estado e não poderia
deixar em sem ninguém para administra-las do jeito certo.

E para o meu total alívio recebi uma ligação do hospital avisando


que Gabriel teria alta em poucas horas, com saudades de ter o meu
noivo de volta fui às pressas para o hospital o buscar e leva-lo até o
apartamento.

— Sabe que eu consigo caminhar sozinho, não é? — ele


debocha quando o ajudo a se locomover com a ajuda de James até
o carro.

— Sim, mas você ainda está machucado, então fique quietinho e


me obedeça Senhor Simon!
— Hum, me dando ordens? Gostei, eu deveria me machucar
mais vezes...Ai! — belisco seu braço ouvindo sua risada quando
conseguimos entrar no carro.

Parando de fazer piadinhas Gabriel foca sua atenção em


Benjamin deitado na cadeirinha do bebê conforto, vejo o sorriso
genuíno brotar em seus lábios quando se ajeita e toca o rostinho do
nosso filho que encara o pai sorrindo com os olhos azuis
arregalados.

— Papai está voltando para casa, sentiu saudades filho? —


pergunta e Ben apenas gargalha fazendo bolhas com saliva.

— Onde está Eve? — ele pergunta vasculhando o carro com o


olhar enquanto James dá partida.

— No apartamento fazendo lição de casa, sua mãe e irmãos


também estão lá.

— Certo, não aguentava ficar mais naquele quarto de hospital —


diz suspirando ao deitar a cabeça no encosto do banco traseiro.

— Petra e Albert ligaram ontem, queriam ver Eve, eles insistiram


tanto que não consegui negar e deixei que se encontrarem, juro que
fiquei por perto, espero que não se importe. — Conto esperando
uma resposta ou reação irritada, mas ele apenas levanta a cabeça e
sorri para mim me causando total surpresa.

— Tudo bem, só peço que tome cuidado e fique sempre por


perto.

— Não está chateado ou irritado comigo por tomar uma decisão


como essa sem consultar você?

— Claro que não, amor, você é a mãe dela e pode tomar


algumas decisões, nesses dias que fiquei sozinho no hospital sem
você para me fazer companhia na cama ao lado, pensei muito sobre
isso, talvez Petra e Albert apenas estão à procura de redenção, ou
posso estar errado, mas eles também são a família de Eve e nossa
filha merece ter a oportunidade de conhecê-los se quiser.

— Quando eles a visitaram notei que ela ficou mais confusa do


que antes, mas tomamos muito cuidado em não mencionar Maya ou
sobre o passado. Sabe se vai contar tudo para ela algum dia?

— Não sei, talvez seja cedo para ela conseguir processar tudo
isso, mas se ela perguntar ou quiser saber não vou esconder a
verdade da nossa filha.

— Espero que consigam encontrar e prender Bruce, quero que


tudo volte ao normal, que nossas vidas voltem ao normal. — Suspiro
entregando um dos brinquedos a Benjamin que esperneia na
cadeirinha.

— Tudo vai ficar bem, logo poderemos viver com tranquilidade


novamente, amor. — Assinto com a cabeça quando ele entrelaça
nossas mãos sobre meu colo e beija meus lábios.

Ao chegarmos na garagem do prédio peço que James ajude


Gabriel enquanto pego Benjamin, mas como o teimoso que ele é,
negou qualquer ajuda e caminhou em passos curtos até o elevador
rumo a cobertura.

Quando as portas de metais se abrem, a sala de estar se revela


e vários pares de olhos nos encaram, antes que Gabriel possa dar
qualquer passo, Eve corre até o pai e agarra suas pernas numa
tentativa de abraçar o pai arrancando um gemido e careta de dor de
Gabriel que mesmo dolorido não recusa a demonstração de carinho
da filha.

GABRIEL

— Cuidado pequena, seu pai é velho e está machucado, pode


acabar causando mais danos com apenas um simples movimento
brusco. — Reviro os olhos encontrando Jacob devolvendo o olhar
debochado.
— Também senti saudades, irmão! — ironizo recebendo um
tapinha no ombro por Jacob.

— Desculpa, pai! — Eve me encara com a expressão culpada,


mas enfrento a dor e me agacho em sua altura.

— Não fique assim filha, não me machucou, não liga para o seu
tio chato, papai sentiu saudades Eve. — Aperto seu corpinho em
volta do meu com carinho.

— Querido, fico aliviada que tenha deixado aquele hospital,


agora venha, sente-se aqui, não fique fazendo muitos esforços
Gabriel. — Sorrio diante de sua repreensão e me aproximo do sofá
enquanto ela ajeita as almofadas em minhas costas com um
excesso de exagero.

— Estou bem, mãe!

— Claro que está bem, ele é duro na queda mãe, fico feliz que
esteja melhor. — Troco um toque com Matteo antes de voltar minha
atenção a Benjamin que começa a chorar enquanto Julia o retira do
bebê conforto.

— Vem aqui, pequeno, papai está com saudades de te pegar no


colo! — estico os braços, mas Julia hesita antes de perguntar:

— Tem certeza? Não quero que fique fazendo esforços


desnecessários, Gabriel.

— Só quero pegar meu filho no colo, amor, depois prometo que


serei todo todo seu pelo resto do dia ou semana...— brinco
recebendo um tapa de Julia enquanto todos sorriem.

— Estava sentindo falta desse seu bom humor. — ela comenta


me entregando Benjamin no colo.

— Também estava...— revelo num tom baixo acariciando os fios


loiros volumosos da cabecinha de Ben.
Depois que minha família se despediu me limitei a sair do quarto
já que ainda sentia algumas dores desconfortáveis, apenas com o
notebook e o celular já consegui adiantar e resolver algumas
pendências da Empresa administrada por Julia na minha ausência.

— Tudo bem? — pergunto a Julia que entra no quarto com uma


expressão cansada no rosto.

— Sim, apenas Benjamin que está dando muito trabalho, mas


felizmente consegui fazê-lo dormir. — diz se despindo das roupas
que usa.

— Poderia te ajudar se tivesse me chamado, amor, não tem que


lidar com a pressão e o cansaço da maternidade sozinha. — Digo
desligando e fechando a tela do notebook.

— Não queria te incomodar e você não pode ficar...

— Por favor, não diga que preciso de repouso e evitar esforço


físico, estou cansado de ouvir isso hoje, olhe, estou inteiro e bem! —
levanto os braços, mas gemo com uma fisgada de dor arrancando
uma risada baixinha de Julia.

— Viu? Descanse e se recupere, Senhor Simon!

— Fique sabendo que é uma tortura ouvir você me chamar


dessa maneira e não poder te tocar e fazer tudo que desejo fazer
com esse corpinho...— digo passando os olhos por todo corpo nu de
minha bela noiva.

— Apague esse fogo ou use a mão para se aliviar, safado! — ela


resmunga entrando no banheiro e logo o som do chuveiro ligado é
ouvido.

— Poderia ser a sua mão, meu bem! — grito ouvindo sua risada
de dentro do banheiro.
Pego um livro na mesinha perto da cabeceira tentando focar toda
minha concentração e retirar as imagens de Julia nua de minha
mente, mas falho quando minutos depois ela sai do banheiro com
apenas uma toalha branca em volta do corpo, meus olhos se fixam
nas curvas inchadas dos seios causados pelo nó apertado da
maldita toalha.

— Se controle, com esse olhar parece que vai pular em cima de


mim a qualquer momento! — diz caminhando até o closet e vestindo
uma das camisolas pretas torturantes para mim.

— Eu juro que estou tentando, mas você não está facilitando,


Senhorita Vasconcelos! — vejo um leve sorriso brotar em seus
lábios quando ela se junta a mim na cama.

— Não estou fazendo nada, é você que está com a expressão


tarada no rosto! — resmunga virando-se de bruços me dando a
privilegiada imagem de sua bunda arrebitada descoberta pela falta
de pano na maldita camisola de renda.

Deixo o livro de volta na mesinha e me aproximo do pequeno


corpo por trás, começando com beijos pela toda extensão do
pescoço exposto arrepiando sua pele quente.

Uma das minhas mãos encontram sua cintura fina, aperto a


carne trazendo seu quadril de encontro ao meu, Julia estremece
com o contato de nosso corpos colados, minha língua encontra seu
lábio inferior quando vira o rosto para me olhar e antes que possa
ter a chance de dizer qualquer coisa início um beijo com fervor.

Ela geme em minha boca passando os braços envolta do meu


pescoço fazendo meu corpo levar mais pressão ao seu, nossas
línguas se encontram e dançam lentamente, provando o sabor do
desejo entre nós.

Sem me conter levo uma mão até suas coxas descoberta,


erguendo o resto do tecido curto até a cintura, afasto minha boca da
dela apenas para lamber seu colo e o vale entre os seios cheios e
pesados contra a fina renda preta, puxo as finas alças que logo
revelam os peitos que tanto amo.

Esfrego o polegar nos mamilos duros e abocanho um deles


enquanto minha mão trata de apertar o outro, uso a mão para alisar
seu corpo até alcançar o meio de suas coxas.

JULIA

Sabia muito bem que Gabriel não poderia fazer todo esse
esforço físico, minha mente pede para ser racional, mas meu corpo
traidor implora por mais de seus toques sobre mim, não resisto,
nunca consegui resistir na verdade.

Um suspiro longo escapa me escapa ao vê-lo descer o rosto e


lamber cada seio de cada vez, é intenso e enlouquecedor o poder
que esse homem tem sobre mim, é como se meu corpo implorasse
por ele, literalmente.

Minhas mãos vão de encontro aos fios crescidos de seus


cabelos, puxando à medida que intensifica as chupadas e lambidas
nos mamilos sensíveis.

— Eu amo seus peitos, amor, amo cada pedacinho desse corpo


gostoso! — não consigo responder porque logo sua língua volta a
ocupar minha boca, meu corpo inteiro estremece ao sentir sua mão
se mover pela minha barriga até chegarem minha calcinha
totalmente ensopada.

O homem faminto e enlouquecido de desejo que habita em


Gabriel geme em meus lábios ao me tocar por cima do fino tecido
de renda.

Arqueio o corpo quando os dedos experientes roçaram e


lentamente, começaram a puxar a calcinha para o lado, um gemido
alto ecoa de mim ao sentir os seus dedos se infiltrarem dentro do
tecido e me tocar no lugar certo.
— Quer que eu pare? — pergunta com um sorriso canalha nos
lábios.

— Não ouse, começou, então agora termina! — me assusto com


minha voz desesperada arrancando uma risada do safado.

— Seu desejo é uma ordem, amor...— Com o tesão nas alturas,


me sinto completamente derretida em suas mãos, me perco nas
sensações causadas pela boca e dedos desse homem.

Me desfaço sobre a cama mordendo os lábios para evitar que


um grito escape quando atinjo o orgasmo, forte e intenso, com um
sorriso no rosto Gabriel puxa os dedos de dentro da minha calcinha
e os leva até a boca, provando meu gosto.

— Huum, que gostoso, amor, venha! Me monta! — perdida com


tanto tesão e desejo me afasto apenas para arrancar a camisola
enquanto ele faz o mesmo com a calça e cueca, com cuidado me
sento sobre suas coxas e o encaro.

— Se acordar muito dolorido amanhã, a culpa é toda sua! —


resmungo me esfregando sobre seu membro ereto.

— Ok, mas vai valer a pena, eu juro! — me assusto com o som


de algo se rasgando, olho para baixo vendo minha calcinha
destruída em suas mãos.

— Deus...você me enlouquece...— gemo guiando seu membro


duro para dentro de mim, descendo lentamente, sentindo cada
centímetro sendo preenchido.

Espalmo as mãos na cabeceira da cama enquanto subo e desço


sentindo suas mãos apertarem minha cintura a cada vez que rebolo
sobre ele, fecho os olhos jogando a cabeça para trás me rendendo
ao prazer absoluto que me prende e faz de mim sua refém.

Aumento a velocidade das descidas sendo guiada pelas mãos


em volta do meu quadril, nossos gemidos se misturam com o som
de nossos se chocando, mordo o lábio quando Gabriel levanta a
cabeça para conseguir abocanhar meus seios com a boca enquanto
cavalgo.

— É gostoso? Responda, amor! — pede estalando um tapa forte


em minha bunda.

— Sim...é muito gostoso...vou descer direto pro inferno desse


jeito! — resmungo fazendo Gabriel soltar meus seios para conseguir
gargalhar alto.

— Então somos dois...


Capítulo 64
GABRIEL

Um mês depois

Bufo discretamente pela terceira vez em minha contagem


enquanto participo da reunião com alguns investidores na Empresa,
me esforço para focar minha atenção no meu trabalho, mas falho
quando meus pensamentos focam em minha família, desejando que
minha noiva estivesse participando do grupo.

Mas entendo perfeitamente a ausência de Julia no trabalho


nessa semana, Benjamin contraiu uma gripe e estava com febre
consideravelmente alta na noite anterior, além de manhoso e
choroso nosso pequeno requeria todo cuidado e carinho possível,
justo por esse motivo que decidimos que seria melhor se um de nós
estivesse o monitorando o tempo todo.

Também desejaria estar com meu pequeno agora e lhe dando


todo carinho e atenção, mas o trabalho precisava da minha
participação já que essa reunião se qualifica como importante já que
decide o rumo da Empresa e alguns novos contratos.

— Senhor Simon? — ouço meu nome sendo chamado e levanto


a cabeça encontrando um dos nossos maiores investidores me
encarando com uma sobrancelha arqueada.

— Sim? Desculpem, meu filho está doente então estou


preocupado e um pouco aéreo, mas continue, por favor! — peço
seguido de um aceno de cabeça enquanto ele recomeça sua
apresentação a todos presentes na sala de reunião.
Quando repito mentalmente pela décima vez que é apenas uma
gripe que logo passará e que Benjamin está sob os melhores
cuidados da mãe, finalmente consigo focar minha atenção na
reunião e até opinando em algumas questões.

Nesses minutos que a discussão da reunião se estende percebi


meu celular vibrar algumas vezes em cima da mesa, mas ignorei
todas as ligações ao se tratar de números desconhecidos, porque
sabia que se fosse algo urgente Julia ligaria do próprio número ou
até pediria para James me avisar.

Estranhando as várias ligações não atendidas, discretamente


envio uma mensagem para Julia perguntando se está tudo bem, a
resposta chegou em poucos minutos alegando que aos poucos
Benjamin estava melhorando e negou quando perguntei se era ela
quem estava me ligando com tanta insistência.

Intrigado, pouco tempo se passa até que meu celular volta a


vibrar na mesa, suspiro levantando-me ao pegar o aparelho e me
dirigir ao pessoal que me encaram confusos.

— Perdão, mas é urgente! — me desculpo saindo da sala de


reuniões e entrando na minha própria antes de atender a chamada:

— Alô? — atendo ouvindo vozes no fundo.

— Senhor Simon, sou sua vizinha do andar de baixo, talvez não


me conheça, sou Edith! — franzo o cenho sentando-me na minha
cadeira ainda com o celular na orelha.

— Está tudo bem, Edith?

— Acho que não, estava na cidade e quando cheguei no nosso


prédio encontrei o porteiro desmaiado no chão, parece que o
coitado levou uma pancada forte na cabeça, o socorri e pedi para
contar o que aconteceu...— a voz da mulher é interrompida por uma
voz masculina que logo reconheço ser do porteiro do prédio Ralph.
— Edith?

— Ele me contou que alguém chegou na portaria exigindo subir


no andar da cobertura, mas quando Ralph pediu a identidade essa
pessoa negou a se identificar e queria subir sem autorização
procurando pelo Senhor...

— E como era essa pessoa, Edith? — pergunto sentindo as


batidas do meu coração se acelerarem.

— Espere, vou passar o celular para o Ralph!

— Senhor Simon? — ouço a voz do porteiro embargada.

— Ralph, quem tentou subir na cobertura?

— Era um homem, tentei barrar sua entrada até o elevador, mas


fui golpeado, eu sinto muito, mas ele conseguiu subir...

— Me diga as características físicas desse homem, Ralph! —


peço aflito procurando as chaves do carro nas gavetas da mesa.

— Ele estava usando roupas pretas, mas os cabelos ruivos eram


fáceis de se identificar.

Um palavrão ecoa de minha boca quando soco a mesa de vidro,


fecho os olhos sentindo a ira e o medo tomando conta de mim.

— Ligou para minha noiva?

— Sim, tentei várias vezes, mas não obtive resposta, ela não
atende Senhor...

Estejam bem, por favor!

— Chame a polícia, ele é um assassino perigoso, Ralph, estou a


caminho! — desligo a chamada correndo para a saída encontrando
James que entra em alerta ao notar meu desespero.
— Ele está no apartamento, vamos! — corremos juntos com toda
velocidade até a garagem, deixo James dirigir ou sofreríamos um
grave acidente se dirigisse no estado em que me encontro.

Disco o contato de Julia rezando para que minha noiva a salva


com nossos filhos e quase choro quando ouço sua voz tranquila:

— Gabriel?

— Escute bem, onde vocês estão, amor?

— Estamos no apartamento, no quarto para ser exata, Ben


começou a ficar manhoso e estou tentando o acalmar, por quê?

— Estão sozinhos?

— Sim, mas Olivia chegou há alguns minutos e deve estar na


cozinha...— Grunho pedindo para James acelerar, mas uma droga
de trânsito atrapalha nosso plano.

— Meus deus, não é a Olivia, pega as crianças e tenta sair do


apartamento com cuidado, Julia!

— O que? Não estou conseguindo te entender, Gabriel!

— Estamos presos no trânsito, mas a polícia deve chegar a


qualquer momento, pegue as crianças e tente sair do apartamento
sem ser vista...

— Polícia? O que está acontecendo?

— Ele está no apartamento, ele conseguiu subir e está aí dentro,


Bruce está aí! — ouço um soluço de Julia na ligação e odeio por não
estar lá para protegê-los.

— Estou com medo, onde você está? — pergunta com a voz


embargada.
— Estou a caminho, mas posso demorar um pouco, então pegue
as crianças e saia sem que ele consiga ver vocês!

— Vamos tentar...— pela ligação ouço Julia dizer algo para as


crianças num tom baixo.

— Ok, estamos saindo do quarto, por favor, fique na ligação!

— Não vou sair daqui, sei que está com medo, mas precisa ser
forte e enfrentar, vocês vão conseguir...

Fico atento a qualquer som brusco, mas apenas ouço a


respiração descontrolada de Julia pelo celular.

— Meus deus...Gabriel! — ouço seu sussurro aflito me deixando


em alerta.

— O que foi, amor?

— A porta...está trancada, não vamos conseguir sair!

— Escute, respire fundo e volte para o quarto devagar, tranque a


porta e permaneça lá!

— Conseguiu?

— Sim, entramos e consegui trancar a porta...

— Muito bem, tente esconder as crianças no closet e permaneça


lá dentro com eles, o que quer que aconteça não abra essa porta
para ninguém, Julia!

— Ele não vai demorar muito para perceber que estamos aqui
dentro, e se ele tentar entrar? Gabriel, eu estou com medo, medo
que ele consiga entrar e machucar nossos filhos. — Sussurra
tentando manter o controle.

— Não vou permitir que esse desgraçado toque em vocês, mas


até a minha chegada ou a da polícia você precisa se proteger, abra
a última gaveta do closet e procure por uma caixa preta... —
enquanto Julia deve estar fazendo o que pedi encaro James que
também está apreensivo e ordeno:

— Procure outra saída James, qualquer uma! — ele acena


começando a mexer no GPS rapidamente e dando ré no carro,
outros veículos buzinam, mas ele não liga até se meter entre os
outros e conseguir sair do trânsito.

— Tem outro trajeto pela zona rural, vou acelerar o máximo que
puder, mas pode demorar alguns minutos, menos tempo do que se
continuarmos naquele trânsito.

— Gabriel? Consegui encontrar a caixa, mas precisa de uma


senha para ser aberta... — informo a senha numérica odiando que
ela tenha que recorrer a esse tipo de proteção, mas ela precisa ser
forte e continuar.

— Meu deus, é uma arma, tem uma arma aqui!

— Eu sei que é assustador, mas a adquiri depois das


informações e provas que encontramos, não quero e espero que
não tenha que usá-la, mas tem que estar preparada, precisam se
proteger!

— Eu sei, mas não sei usar uma arma e nem atirar! — com a
chamada no viva-voz logo as instruções de James são passadas
para Julia.

— Senhorita, sei que deve estar muito assustada, mas preciso


que tente se acalmar e me escutar, ok?

— Esteja preparada para tudo o que acontecer a seguir, pegue a


pistola nas mãos e a segure com o cano para baixo, não tenha
medo, ela está sem munição, encontre cartuchos dentro da caixa,
encontrou? — James instrui já que a uma das armas é dele e me
emprestou, mas nunca ousei tocar ou precisar usar.
— Ok, pressione um botão ao lado da coronha para retirar o
carregador, insira cada bala de uma vez com o lado arredondado
para a frente até que o carregador fique cheio. Recoloque o
carregador de volta o empurrando para cima.

— Pronto, empurrei e fez um estalo.

— Ótimo, apenas destrave a trava de segurança e puxe o


ferrolho sobre o cano somente se precisar atirar, assim evitamos
futuros acidentes.

— E seu eu precisar atirar? — suspiro diante da sua voz tremula.

— Se isso acontecer quero que fique numa distância segura,


destrave e puxe o ferrolho, mantenha os pés firmes no chão vai
precisar quando sentir o impacto do tiro, aponte para uma parte do
corpo que o desestabilize se tentar chegar perto, atire em uma das
pernas, se ele estiver armado quero que aja antes que ele saque a
própria arma. Mesmo armada, nunca dê as costas para seu inimigo,
ele pode tentar avançar e tentar ter o controle da arma.

— Entendi!

— Eu te amo, não vou deixar que lhe façam mal, estou


chegando, só abra a porta quando eu pedir ou a polícia chegar, ok?
Capítulo 65
JULIA

— Apesar do que ouvir, preciso que fique quietinha aqui com


Benjamin, ok? — toco a bochecha do rosto de Eve que me encara
assustada.

— Estou com muito medo, mamãe! — seus braços contornam


meu pescoço com força e me seguro para não desabar também,
mas preciso ser forte por todos nós agora.

— Eu sei, também estou com medo, mas o papai está


chegando...— sussurro.

— Julia? Ainda está aí? — pego o celular e desativo o viva-voz


rapidamente temendo fazer barulho e som que podem ser ouvidos.

— Estou aqui, não vou desligar...

— Papai, estou com medo, chega logo, por favor! — Eve diz
chorosa.

— Papai está quase chegando amor, quero que obedeça a


mamãe até minha chegada, ok?

— Julia, não desligue esse telefone, pelo amor de Deus...

— Entendido. — Confirmo num tom baixo verificando se


Benjamin ainda está dormindo na cadeirinha dentro do closet ao
lado da irmã. Me levanto do chão e ajeito as roupas para que
bloqueiam a visão das crianças.

— Fique aqui! — digo e Eve assente abraçando Benjamin


adormecido.
— Mamãe, o homem mal quer nos machucar?

— Não vou deixar nada chegar perto de vocês, não vou permitir
que ele te machuque novamente...— digo a última palavra a mim
mesma referindo-me ao acidente que Eve sobreviveu.

Pego o celular e a arma do chão e me aproximo do quarto, as


luzes estão apagadas e a porta trancada, controlo minha respiração
que se tornava ofegante sem perceber e me concentro em escutar
qualquer barulho do lado de fora do quarto.

Não sei quanto tempo se passou desde o aviso de Gabriel nos


avisando que Bruce conseguiu subir na Cobertura, mas sei que já é
tempo suficiente para que ele perceba que estamos escondidos em
algum lugar, no apartamento existem vários cômodos e quartos,
mas sei que logo ele encontrará esse.

— Está chegando? — sussurro com o celular grudado na orelha


esperando a voz de Gabriel.

— Quase, amor, pegamos outra estrada desconhecida para


contornar o trânsito, mas estamos perto.

Meu corpo congela de pânico ao escutar passos pesados se


aproximando cada vez mais do corredor, aperto a arma em minha
mão rezando mentalmente para que Gabriel ou a polícia cheguem
logo para que não precise usar a arma, mas se for preciso vou usar,
se for para proteger nossos filhos vai ser preciso usar.

Me encosto na parede entre o limite do quarto e o início do


closet, empunhando a arma com uma mão e ainda segurando o
celular contra a orelha com a outra.

— Gabriel...— os passos aumentam e fecho os olhos quando


tentam abrir a porta do quarto, a forçando quando percebe que está
trancada.
— Ele encontrou o quarto... e está tentando entrar...— minha voz
vacila perdendo totalmente o resto do controle que ainda restava
dentro de mim.

— Tenta ficar calma, a porta é pesada demais para que ele tente
abrir com facilidade, mas preciso que esteja pronta, quando
perceber que ele está conseguindo entrar, quero que pegue a arma,
destrave e mire em uma das pernas...

A maçaneta é parada de ser forçada, mas os impactos contra a


porta começam, tremo a cada batida ou chute que ele impõe sobre
a porta que nos separa.

— Abre a porta, não vou te machucar! — escuto o grito rouco do


lado de fora, mas não respondo.

— Quero apenas conversar, vamos lá! Abra a porta, juro que


estou desarmado! — ele grita novamente e continuo em silêncio
deixando as lagrimas de medo descerem pelo rosto.

— Estou ouvindo a voz dele, ele está mentindo, vai tentar te


iludir para que consiga entrar, não abra essa porta, Julia! — sem
poder responder muito alto, apenas resmungo em confirmação.

— Sei que está aí dentro, abra a porta para que possamos


conversar, prometo que os acidentes e as mortes vão parar se você
me deixar entrar! — diz, mas ao ouvir apenas o silêncio como
resposta ele força a maçaneta novamente.

— Estou perdendo a paciência, abra essa droga ou vou abrir eu


mesmo! — viro a cabeça para o dentro do closet onde as crianças
permanecem escondidas e quietas.

— Gabriel, ele vai tentar entrar a força! — digo desesperada na


ligação ouvindo o suspiro de Gabriel do outro lado da chamada.

— Fique atenta, empunhe a pistola, destrave a trava de


segurança e se precisar atirar puxe o ferrolho da arma e mire! Se
ele estiver armado ou dar indícios que vai tentar de atacar, preciso
que crie coragem e atire. Não vai ser fácil, mas tem que ser forte,
amor.

Espero, e logo as pancadas raivosas recomeçam contra a porta,


a madeira resiste, mas as batidas fortes vão a destruir em questão
de tempo, corro de volta para o cômodo do closet e me agacho na
altura de Eve que continua escondida ao lado do irmão.

— Ele vai tentar entrar, vou proteger vocês, mas quando eu gritar
para que corra, você aparece com Benjamin e corre para fora
quando eu mandar, ok? — toco seu rosto molhado de lagrimas
vendo-a assentir com a cabeça.

— Vai ficar tudo bem, todos nós vamos ficar bem! — beijo sua
testa e faço o mesmo com Benjamin ainda adormecido.

Ouço os chutes ficarem mais altos e volto a me encostar na


parede do quarto perto do closet, estremeço quando um buraco é
formado na porta causado por uma faca nas mãos dele, seu braço
consegue entrar pelo espaço até alcançar a maçaneta onde gira a
chave e destranca a porta.

Recuo alguns passos quando ele chuta a porta e entra


totalmente no quarto segurando uma de nossas facas, respiro fundo
me concentrando no rosto maléfico me olhando com interesse, noto
os cabelos ruivos e a barba crescidos e descuidados percebendo
que talvez ele tenha os usados como disfarce nesse tempo todo
foragido.

— Ele conseguiu entrar! — empunho a arma miro em sua


direção recebendo um sorriso surpresa em troca.

— Fique o mais longe possível desse desgraçado, não permita


que ele toque em você ou nas crianças, consegui falar com a polícia
e já estão subindo no prédio, só peço que aguente mais um pouco,
amor, tudo vai ficar bem! — mesmo sem ser vista por Gabriel aceno
com a cabeça sem desviar os olhos de Bruce que continua parado
me encarando.

— Com quem está falando? — ele pergunta dando um passo,


mas não perco tempo, coloco o celular em cima da mesinha e
destravo a pistola o fazendo parar de prosseguir em frente.

— Desliga! — ele ordena, mas nego com a cabeça.

— Não desliga, me coloca no viva-voz, Julia! — faço o que


Gabriel pede e logo a voz do meu noivo carregada de ira do meu
noivo é ouvida no quarto.

— Bruce, sei por que está fazendo tudo isso, seu problema é
comigo, então a deixe fora disso, vamos resolver entre você e eu.

— Sinto muito, mas não posso aceitar sua oferta, você tirou a
vida da pessoa que amei, tirou a vida da minha irmã, minha única
família, acho justo fazer o mesmo com você, tirando a vida de
alguém que você mais ama... — ele responde com os olhos fixos
em mim.

— Ele não matou a sua irmã, ela retirou a própria vida! — digo
alto bastante para que até Gabriel possa ouvir.

— Vejo que está bem-informada, sim, Jenner retirou a própria


vida, mas foi por causa do poderoso Gabriel Simon, ele é o motivo
da morte dela! — ele diz com os olhos grudados no celular em cima
da mesinha ao lado da cama.

— Ok, você já provou isso, já fez o que acha justo com Maya,
então pare com esse jogo doentio! — arrisco.

— Maya...ela era uma boa garota, muito bonita, assim como


você Julia, mas esse é o preço por se apaixonar e amar Gabriel
Simon, todas morrem!
— Seu desgraçado, estou chegando e quando eu colocar
minhas mãos em você, vai desejar apodrecer na cadeia ao invés de
sofrer as consequências de machucar minha família! — Gabriel
grunhe, mas Bruce apenas rir.

— Desliga o celular!

— Não faça isso, não desligue esse celular, Julia! — ainda sem
saber o que fazer vejo Bruce levar uma das mãos até o bolso da
calça, me preparo para atirar, mas recuo quando o vejo segurar uma
espécie de botão.

— Ela vai ser obrigada a desligar ou essa cobertura explodirá em


exatos 15 minutos, o tempo está acabando Julia, tic tac! — arregalo
os olhos quando vejo um cronometro ligado ao botão que ele ainda
segura.

— Você deve estar se perguntando “o que é isso”, vou te dizer


do que se trata: uma bomba. Enquanto você brincava de se
esconder aqui, implantei uma bomba na porta principal da cobertura,
vai fazer tudo o que vou pedir, ou serei obrigado a apertar esse
pequeno botão.

— Gabriel! — grito apavorada.

— A polícia está chegando, seu filho da puta! — Gabriel grita.

Respiro fundo tentando controlar as lagrimas e pensar em uma


solução para esse desastre, mas afasto os pensamentos quando
Bruce caminha em passos rápidos até mim.

— Gabriel, fique sabendo que a bomba explodirá se tentarem


abrir aquela porta! Como se sente em saber que não está aqui para
salvar sua amada como aconteceu com Maya?

— Não se aproxime! — grito movendo o dedo para o gatilho da


arma e mirando nele.
— Desligue o celular, agora! — ele ordena encostando o dedo no
botão.

Meus olhos focam no pequeno controle da bomba em sua mão,


penso no que aconteceria se aquela bomba disparasse,
provavelmente todo o apartamento explodiria e todos nós
morreríamos, incluído nossos filhos.

— É a sua última chance, desliga a porra do celular! — por um


breve segundo olho paras as janelas e vejo as viaturas e som dos
carros de polícia por perto.

— Gabriel, vou desligar! — anuncio sentindo as batidas do


coração se acelerarem.

— Não faça isso, fique comigo, meu bem, estou chegando no


prédio! Não desliga...— antes que ele possa continuar desligo a
chamada e seguro a arma com mais força ainda apontada para ele.

— Ótimo, agora abaixe a arma e a jogue para longe! — aceno


passando a impressão de obediência, mas antes que ele ouse
apertar o botão da bomba miro e atiro. — Bruce grita caindo no
chão, mas corro até o closet procurando por Eve e Ben.

— Corre! — grito para Eve que segura Benjamin sem jeito, mas
corre para fora do quarto.
Capítulo 66
JULIA

Antes que eu consiga acompanhar Eve para fora do quarto, sinto


minha perna ser puxada com força, tento manter o equilíbrio, mas
caio batendo a cabeça com força no chão, meio zonza tento me
levantar, mas sou impedida novamente.

Me viro vendo que Bruce se rasteja até onde cair, tonta, tateio o
chão em busca da arma que caiu das minhas mãos, mas antes que
eu consiga a pegar ele me puxa e prende minhas mãos acima da
minha cabeça enquanto retira uma espécie de pano branco do outro
bolso.

Percebendo sua intenção tento me levantar, mas falho, me


debato, mas sua força vence comparada a minha, quando aproxima
o tal pano do meu rosto tento me soltar, tento chutá-lo, mas ele se
desvia dos golpes.

— Não! — grito quando o pano pressiona meu nariz e boca,


dificultando minha respiração com um cheiro forte vindo do tecido.

— Tudo isso poderia ser evitado se você colaborasse! — ele


grita colocando mais pressão no pano.

Minha visão falha, minha cabeça dói, tento resistir continuando


me debatendo, mas a falta de ar me alcança, meu corpo inteiro
enfraquece, juntando forças de onde não sabia que tinha, viro o
corpo e acerto uma joelhada entre suas pernas, ele me solta e num
gesto rápido estico as mãos para conseguir alcançar a pistola no
chão a poucos metros de mim.
Meus olhos encontram os de Eve perto da porta, seus olhos
arregalados estão fixos nos meus, pego a pistola e me levanto
sentindo algo escorrer sobre minha testa, toco minha cabeça
notando sangue sujando minhas mãos.

— Mamãe, cuidado! — me viro encontrando Bruce em pé,


aponto a arma em sua direção, mas ele é mais rápido, a arma de
minha mão é jogada do outro lado e antes que eu tenha tempo de
reagir, meu corpo é empurrado com força contra a parede atrás de
mim.

Suas mãos agarram meu pescoço, me erguendo no ar, seguro


seus pulsos tentando me soltar enquanto seu aperto me priva do ar.

— Está me dando muito trabalho, garota! Mas vai valer a pena


quando seu noivinho a encontrar sem vida. — Abro a boca várias
vezes, mas suas mãos apertando meu pescoço me impedem de
falar.

— Não adianta lutar, ele não está aqui Julia, Gabriel não está
aqui para te salvar...— seu polegar desliza pelo meu rosto e Grunho
virando a cabeça tentando me afastar dos seu toques.

— Não machuca minha mamãe! — Eve grita abraçando


Benjamin com força e os olhos azuis de Bruce se focam nela.

— Você devia estar morta garotinha, assim como seu irmãozinho


e sua querida mãe! Mas não importa, isso acaba hoje! — levanto
uma das mãos tentando acertar seu rosto, mas ele pega meu pulso
e o torce, um grito rouco me escapa enquanto ele continua
apertando minha garganta.

— Se tentar fazer qualquer outra coisa eu aperto esse botão,


então seja boazinha...— aceno sem conseguir responder, Bruce me
solta e caio sentada no chão, envolvo meu pescoço com a mão
respirando fundo sentindo minha pele e garganta arderem.
— Vem aqui, garotinha! Prometo que não vou machucar você ou
o bebê que está segurando! — ainda no chão gesticulo com a
cabeça para que Eve não obedeça, mas ele pega a arma do chão e
se aproxima dela.

— Não! — grito me levantando para segurar seu braço e impedir


que ele chegue perto das crianças e as machuque.

— Eve, corre e se tranque em algum lu...— antes que eu tenha a


chance de terminar uma pancada é desferida em minha cabeça,
caio no chão, minha visão turva e desmaio...

Não sei quanto tempo se passa, mas antes de abrir os olhos o


cheiro inconfundível de fumaça alcança minhas narinas, gemo
sentindo todo meu corpo e cabeça doloridos.

— Mamãe, acorda! — ouço o grito de Eve e o choro de


Benjamin, me esforço para abrir os olhos e quando o faço vejo o
quarto cheio de fumaça e chamas de fogo ultrapassando a porta.

Me debato, mas sinto meus pulsos presos por algo, levanto a


cabeça dolorida vendo que meus braços estão algemados em uma
das grades de segurança da janela, puxo os braços, mas tudo o que
provoca é ferimento nos meus pulsos causado pelo atrito apertado
das algemas.

Ouço Eve tossindo e Benjamin ainda chorando, viro a cabeça


encontrando minha pequena amarrada na mesma posição que eu
cercada por cordas.

— Ei, você está bem? Ele te machucou? — pergunto, mas ela


nega com o rosto molhado pelas lagrimas.

— O que aconteceu enquanto desmaiei? — questiono vendo


Benjamin chorando deitado na cama.

— Ele nos amarrou e apertou aquele botão, e a bomba explodiu!


— Está ferida?

— Não, mas o fogo está aumentando, mamãe! — ela exclama


tossindo pela fumaça densa.

— Droga! — grito forçando as algemas, mas elas não se mexem.

— Quanto tempo fiquei desmaiada? Ele ainda está aqui?

— Não, depois de nos prender e acionar a bomba, ele fugiu!

O cheiro de fumaça aumenta, meus olhos ardem e minha


garganta irrita pela falta de ar fresco, sequência de tosses iniciam
contaminando nossos pulmões pela fumaça poluída e intensa.

O choro do meu filho também aumenta, sei que o pequeno está


sofrendo e se não o tirar daqui de dentro ele ou Eve não vão
conseguir aguentar.

Com os pés tento pegar uma toalha de cima da mesinha ao


nosso lado, a arrasto com os dedos dos pés e passo para Eve.

— Cubra o rosto com isso, tente não respirar tanta fumaça, ok?
— ela concorda com a cabeça e logo procuro outro jeito de nos tirar
daqui.

— Ele te amarrou com cordas, talvez você consiga se soltar! — a


pequena tenta soltar as mãos, mas chora quando não consegue.

— Eu não consigo, estão muito apertadas, mamãe!

— Ok, não chore querida, não é a sua culpa! — mordendo os


lábios com força tento puxar meus pulsos, grito de dor, mas não
consigo continuar.

As tosses de Eve continuam, mas noto que o choro de Benjamin


está diminuindo, como se ele não estivesse aguentando.
— Não! GABRIEL!!! GABRIEL, POR FAVOR! — grito sentindo
meus pulmões implorarem por ar.

Noto o fogo se espalhando pelo quarto e chegando perto da


cama e de onde estamos amarradas, fecho os olhos sentindo as
lagrimas implorarem para serem libertas.

— Mamãe...— vejo Eve suspirar e fechar os olhos devagar.

— Não! Não dorme, fica acordada, Eve! — me debato vendo a


pequena respirar com dificuldade.

— SOCORRO!!! GABRIEL!!! — grito sentindo o ar se esvair dos


meus pulmões.

GABRIEL

Dentro do carro vejo várias viaturas policiais paradas em frente


ao nosso prédio, o medo de que algo tenha acontecido a eles me
atinge com força.

— Para o carro, James! — meu segurança obedece ao


estacionar o carro e corro para fora.

— Onde eles estão? — grito com o policial que parece ordenar a


operação.

— Ainda estão lá em cima, mas vamos fazer o possível para


resgatá-los! — fora de mim avanço contra o policial o empurrando
contra o carro e Grunho:

— Eles estão presos com um assassino e uma bomba que pode


explodir a qualquer momento, porra!

— Se acalme Senhor, nós sabemos disso, mas não podemos


entrar sem desarmar tal dispositivo ou corremos o risco de todo
andar explodir, o esquadrão de bombas já está chegando! — solto
seu colarinho e corro na direção da entrada no prédio.
— Onde o Senhor está indo? — viro a cabeça para olha-lo e digo
entre os dentes:

— Salvar minha família, e se for preciso, matar um assassino!

— James, venha comigo! — grito para o segurança que acena e


corre na minha direção.

Com a arma em empunhada sigo James para dentro do prédio


até os elevadores, mas xingo alto os perceber que o desgraçado
arranjou um jeito de os fazer parar de funcionar.

— Vamos pelas escadas de emergência, Senhor! — aceno e


corremos para a saída de emergência subindo vários e vários
lances de escadas até finalmente conseguir chegar no penúltimo
andar.

Ao ouvirmos passos apressados, paramos e nos encostamos


numa parede permanecendo atentos, mas quando meus olhos
encontram uma cabeleira ruiva perco o controle e avanço sobre
Bruce.

— Filho da puta! — ouço a voz de James, mas o ignoro quando


meu punho acerta o rosto de Bruce com força o derrubando no
chão.

Monto sobre o desgraçado e acerto seu rosto novamente, mas


ele apenas ri cuspindo sangue pela boca.

— Sinto muito, mas chegou tarde, amigo! — ele zomba, mas


apenas vejo vermelho na minha frente, apenas sinto a ira pura
irradiando por minhas veias.

Pego sua cabeça e a choco com força no chão da escada, ele


tenta me acertar, mas sou mais rápido do que o desgraçado e
desvio dos seus golpes.
Me levanto e trago seu corpo junto e o empurro contra a parede
circulando sua garganta com minhas mão num aperto forte.

— Eu deveria te matar com minhas próprias mãos, mas minha


família é mais importante que um desgraçado como você!

— Quer salvar Julia e as crianças? Que pena que não conseguiu


fazer o mesmo com sua outra mulher, Maya...— antes que ele
termine soco seu nariz com força percebendo que talvez o tenha
quebrado pelo grito de dor que Bruce solta.

— James, leve-o até a polícia e certifique que ele não escape! —


solto seu corpo que cai no chão, antes que eu continue o trajeto até
o outro andar, sua voz nojenta me faz parar:

— Eu avisei, chegou tarde demais, você apenas vai encontrar


cinzas lá! — viro o corpo vendo uma espécie de botão nas mãos
dele e um cronometro ligado.

— O tempo acabou...— meu corpo gela quando a contagem do


cronometro chega a zero e um estrondo é ouvido no andar seguinte
da cobertura.

— Desgraçado! — James grita socando Bruce sem descanso


enquanto fico sem reação pelo barulho causado da bomba
explodindo.

— Tira ele daqui antes que eu pegue essa arma e acerte um tiro
na cabeça dele!

— Se algum deles morrerem, você também é um homem morto!


— grito com os olhos marejados voltando a correr pelas escadas.

O vapor quente e fumaças densas cobrem todo o andar da


cobertura, com passos rápidos passo pela porta principal destruída
vendo que chamas fortes estão por toda parte do apartamento
destruído.
— JULIA!!! — grito enlouquecido sacudindo a cabeça para todos
os lados sem nenhum sinal deles.

Corro pela cozinha, mas não os encontro, estanco no lugar


ouvindo tosses ao longe, estreito os olhos pela fumaça e sigo pelo
corredor dos quartos, abro o de Eve, mas não os vejo, uma
esperança se acende dentro de mim quando ouço gritos de socorro,
encontro a porta do nosso quarto, mas está impossível de se entrar
devido ao fogo que domina a entrada.

— SOCORRO!! — levanto a cabeça ouvindo a voz de Julia


embargada.

— JULIA?

— AQUI DENTRO, ESTAMOS DENTRO DO QUARTO!

— ESTOU INDO, AMOR! — vasculho o chão em busca de


alguma coisa para usar como travessia pelo fogo intenso, mas não
encontro.

Volto para o quarto de Eve e pego um lençol de cama grande,


corro para a cozinha e enfio o cobertor dentro da pia o molhando ao
máximo que consigo, corro novamente pelo corredor e cubro minha
cabeça e corpo com o tecido encharcado, respiro fundo e pego
impulso para atravessar o fogo.

Meu peito se enche de alegria e desespero quando vejo Julia e


Eve no chão, mas fúria me domina quando vejo que as duas
permanecem fortemente amarradas com cordas e algemas, olho
para a cama vendo que nosso pequeno Benjamin esperneia
deitado.

— Tirem eles daqui! Eve está ficando inconsciente, tirem eles


daqui, agora Gabriel! — ela grita e me aproximo da cama pegando
Benjamin no colo e o envolvendo no cobertor molhado.
Me agacho em frente a minha filha e desato as amarras o mais
rápido que consigo, toco seu rosto notando que está quase
desmaiando por completo, ajeito o corpo de Benjamin no colo e
coloco o de Eve sobre meu ombro.

— Merda! — grito quando vejo que as algemas de Julia estão


presas na grade de ferro, as tornando difíceis de se retirar sem a
droga da chave.

— Me deixa e levem eles, salvem eles primeiro, Gabriel! — ela


grita tossindo com os olhos marejados.

— Não vou te deixar! — nego.

— Eles são crianças, não vão aguentar por muito tempo se


continuarem aqui dentro! — estremeço quando o fogo aumenta e
um novo estrondo é ouvido, o apartamento está destruído e parte do
teto está desabando.

— O fogo está aumentando, você precisa ir antes que ele tome a


entrada e não consiga sair, por favor! — ela implora chorando, beijo
seus lábios e encosto minha testa na sua:

— Eu vou voltar, vou te tirar daqui, mas preciso que fique


acordada, fica acordada, amor! — beijo sua testa e me afasto
correndo para fora do quarto.

Desvio dos fogos e estreito os olhos para conseguir enxergar a


porta principal pela qual entrei, ajeito meus filhos com o cobertor e
corro mais rápido, atravesso o fogo, mas grito quando sinto parte do
meu braço queimar, grunho, mas continuo correndo até finalmente
chegar nas escadas de emergência, no final encontro James que
corre na minha direção e pega Eve no colo para conseguirmos sair
mais rápido.

— Cuidem deles, preciso voltar para pegar Julia! — digo a


James que me ajuda a colocar as crianças em duas macas de
ambulância, socorristas correm até nós e colocam máscaras de
oxigênio nos rostos deles.

— Senhor, vai precisar quando chegar até ela! — uma das


socorristas me entregam duas máscaras e aceno com a cabeça
como agradecimento.

Descarto o cobertor destruído pelo fogo e troco pela manta que


um dos bombeiros me entregam, corro na direção do carro de
polícia onde Bruce algemado é colocado para dentro da viaduto.

— Eu preciso das chaves das algemas, agora! — lutando contra


a vontade de socar mais o seu rosto ensanguentado procuro pela
chave em seus bolsos, mas não encontro.

— Não tem chave nenhuma... — ele murmura e outro policial me


segura antes que eu avance no desgraçado.

— MALDITO!

— Tome Senhor, essa é uma chave universal, se não conseguir


abrir terá que arrebentar as correntes de algum modo...— não
espero ele terminar, apenas pego as chaves e corro de volta para
dentro do apartamento.

Nas escadas no caminho para cobertura encontro um machado


de emergência dentro de uma caixa feita de vidro, uso o cotovelo
para quebrar e logo pego o machado correndo novamente pelos
vários lances de escadas pela frente.

Faço o mesmo percurso notando que o fogo já tomou a maior


parte dos cômodos atingidos pela explosão, tomando cuidado para
não me queimar novamente.

Ultrapasso a entrada do quarto notando que o forro e o teto


estão desabando rapidamente, preciso ser rápido ou nós dois
corremos o grande risco de ficarmos presos aqui dentro.

Avisto Julia com a cabeça apoiada no braço preso quase


inconsciente, corro em sua direção e toco seu rosto a fazendo abrir
os olhos aos poucos.

— Ei! Fica acordada, estou aqui! — digo colocando uma das


máscaras em seu rosto antes de pegar as chaves universal das
algemas e analisar a situação das correntes.

— Droga! — grito quando tento abrir as algemas vendo que não


está funcionando.

— Ok amor, preciso que deixe os pulsos esticados, assim! — ela


se esforça para se manter consciente e me obedece afastando os
braços para deixar as correntes esticadas.

— Confia em mim? — pergunto levantando o machado e ela


apenas assente tossindo.

Respiro fundo e foco em mirar o machado no meio das correntes


ou corro o grande perigo de acabar machucando seus braços de
uma vez, ouvindo o som do teto desabando percebendo que não
temos muito tempo levanto o machado com as duas mãos e acerto,
suspiro aliviado ao ouvir o barulho das correntes quebrando e
caindo aos seus pés.

Jogo o machado no chão e rapidamente pego seu corpo em


meus braços, nos protejo com a manta e corro para fora do quarto,
o fogo aumento enquanto estava dentro fazendo a fumaça escura e
toxica se espalhar pelo resto destruído do apartamento.

Uma sequência de tosse me invade enquanto desvio das partes


queimadas e das chamas, ao finalmente alcançar a saída corro
pelas escadas de emergência com passos calculados na tentativa
de evitar uma queda pelos longos degraus.
Ao sairmos do prédio com Julia nos braços vejo uma multidão de
pessoas encarando a cobertura em chamas, provavelmente os
moradores dos outros andares com medo de que o fogo também
atinja suas casas, os olhos curiosos e arregalados se voltam para
mim que logo coloco Julia inconsciente numa maca de uma
ambulância.

— Onde estão meus filhos? — pergunto para a mesma


socorrista que me entregou as máscaras.

— Foram levados para o hospital, o segurança os acompanhou.


— diz mencionando James enquanto ela e seu colega colocam a
maca de Julia rapidamente para dentro da ambulância, com um pulo
também entro e ocupo um assento ao lado de Julia.

Antes que as duas portas do automóvel se fechem, meus olhos


são atraídos para a cobertura em chamas, nossa casa, totalmente
destruída, o lar em que nossos filhos cresceram.

Mas não ligo para o bem material quando se trata da saúde e do


bem-estar da minha família, podemos construir tudo o que foi
perdido novamente ao saírem do hospital.

Logo penso no pior que poderia ter acontecido se aquela bomba


os atingisse ou se não tivesse chegado a tempo de entrar e salvá-
los, não suportaria mais perdas na minha vida.

— Senhor, coloque isso, ficou muito exposto a muita fumaça lá


dentro! — sou retirado dos meus pensamentos quando o socorrista
me entrega uma máscara de oxigênio ao perceber a minha crise de
tosse.

— Ela vai ficar bem?

— Acreditamos que sim, mas ao chegar no hospital será preciso


avaliar a situação dela, se sofreu algum tipo de dano além do
incêndio! — ela diz colocando uma máscara em Julia, olho com
atenção o rosto da minha noiva notando alguns arranhões no rosto,
e sangue sujando a testa e cabeça.

— Também precisará cuidar disso aí! — ela aponta para a


queimadura feia em meu braço.

— Eles são mais importantes agora. — Digo no automático ainda


encarando Julia que se mexe aos poucos.
Capítulo 67
JULIA

Antes de abrir os olhos pela primeira vez depois de algum tempo


desacordada, me pego desejando que toda essa tragédia se
tratasse de um pesadelo horrível, mas o som movimentado e
máquinas ligadas ao meu corpo denunciam a pura realidade.

— Ela está acordando, querido! — ainda meio zonza escuto a


inconfundível voz de minha mãe e logo seu rosto entra em meu
campo de visão.

Aos poucos forço minha mente a se lembrar dos últimos


acontecimentos, sou bombardeada com as lembranças horríveis
antes de ficar inconsciente.

— Que bom que acordou, filha! — viro a cabeça encontrando


meu pai vindo até mim, fecho os olhos quando um beijo é
depositado em minha testa, quando abro os olhos me esforço para
não chorar, mas falho.

— Ei, está tudo bem! — eles acariciam meu rosto me levando de


volta a minhas lembranças infantis, mas não ligo, preciso de apoio e
carinho, as emoções e o medo que senti ainda estão em dentro de
mim.

— Onde estão as crianças? — pergunto lembrando que Gabriel


conseguiu as retirar de dentro do apartamento em chamas.

— Elas estão bem, receberam oxigênio e estão em observação,


Gabriel está com elas. — Aceno fungando aliviada por meus filhos
estarem bem e terem saído de dentro daquela tragédia bem.
Mas sei que as lembranças daquele terror vão ser difíceis de se
apagar, principalmente para Eve que presenciou tudo de perto, a
pequena ficará com alguns traumas depois do que passou, mas
precisamos fazer de tudo para apoiá-la.

— Isso, respire fundo, acabou filha, vocês estão bem! —


obedeço soluçando e fechando os olhos novamente.

— E eu estou aqui! — abro os olhos fixando o olhar em Gabriel


parado na porta do quarto segurando um buque de rosas
vermelhas.

Percebendo meu estado, ele corre e me abraça com força,


suspiro o apertando em meus braços, suas mãos passeiam por
meus ombros e acariciam minhas costas antes de afastar a cabeça
para me encarar.

— Eve e Ben estão bem, estão acordados, deixei eles com


minha mãe e vim te ver. — ele me entrega o buque e levo as rosas
até o nariz, inspirando o perfume natural e doce das flores.

— Graças a você que os retirou antes que algo pior pudesse ter
acontecido. — Murmuro lembrando o desespero de estar presa e
chegar perto o bastante da morte.

— Não, tudo isso é graças a você amor, você foi corajosa e os


protegeu da maneira que conseguiu, eles estão a salvos por sua
causa, foi você! — diz beijando minha testa com carinho.

— Vamos deixar vocês a sós, vamos visitar nossos netinhos. —


Minha mãe enlaça o seu braço no do meu pai e o puxa para fora do
quarto.

— O que aconteceu com você? — pergunto notando seus


punhos vermelhos e inchados, e um curativo de tamanho
considerável em um de seus braços.
— Não se preocupe, é apenas uma queimadura, faria e passaria
por tudo aquilo novamente apenas para entrar no meio daquele fogo
e retirar vocês.

— Amo você! — digo emocionada antes de o abraçar mais uma


vez.

— Também amo você, mais do que possa imaginar... — diz


acariciando meu rosto com o polegar antes de encontrar minha boca
com a sua.

Aprofundo o beijo com ardor, não apenas com desejo, mas com
carinho, amor e todo tipo de sentimentos bom, o beijo sentindo
necessidade de seu calor e companhia perto da minha, nosso beijo
sai carregado de alívio, alívio por estarmos um com o outro.

— Conseguiram prender ele? — pergunto com o corpo


tensionado.

— Sim, não se preocupe, tudo acabou, aquele desgraçado


nunca chegará perto de nossa família novamente, com a
investigação da morte de Maya e Enzo e depois do aconteceu no
apartamento é muito provável que ele pegue a sentença máxima e
apodreça na cadeia.

— Gabriel, e o apartamento? — pergunto com as lembranças da


cobertura totalmente destruídas.

— Depois que os retirei de dentro, os bombeiros conseguiram


conter e apagar todo o incêndio antes que se espalhassem para os
outros andares, mas todo o apartamento e nossos pertences foram
perda total...

— Eu sinto muito, sei o quanto gostava de morar naquela


cobertura.

— Tudo naquele apartamento é substituível, mas vocês sãos


únicos e tudo o que mais importa para mim. Podemos construir e
restaurar tudo, juntos!

— Enquanto estava descansando, saí e comprei roupas para


todos nós já que as nossas foram destruídas, também fiz reservas
num hotel no centro da cidade até encontrarmos outro lugar ideal
para nós. Mas tudo acabou, amor. Podemos viver com tranquilidade
novamente...

TRÊS MESES DEPOIS

Tudo voltou ao normal em nossas vidas nesses últimos meses,


ou quase tudo, já que Eve ficou com traumas depois do acidente no
apartamento, tendo pesadelos e acordando chorando ou até
gritando em quase todas as noites.

Estamos fazendo o possível para melhorar a situação com nossa


filha, nas noites turbulentas para ela, a convidamos a dormir
conosco e por surpreendente que seja ela consegue voltar a dormir
sem pesadelos ou sonhos.

Após termos alta do hospital ficamos hospedados por uma


semana em um hotel até que Gabriel decidiu comprar uma casa
numa área residencial, sim, ele comprou uma enorme casa
alegando que as crianças precisariam de mais espaço para
brincarem e crescerem.

Após a mudança de casa, com minha ajuda Gabriel passou a


focar mais na Empresa que estava mal administrada enquanto
estávamos fora cuidando de tudo, e para nossa felicidade, a
sentença de prisão de Bruce foi divulgada num tribunal há um mês,
culpado pela morte de Maya e Enzo e por tudo que fez ou tentou
fazer com nossa família o infeliz pegou prisão perpétua.

Sem riscos ou ameaças nos colocando em perigo adiantamos


nosso casamento que aconteceria somente daqui um ano, foi
rápido, mas deu tudo certo com a organização e...
— Tenta ficar quieta, ou sua maquiagem sairá toda borrada e se
casará com o rosto parecido com o de um palhaço! — reviro os
olhos com o protesto dramático de Sam voltando a me aquietar
enquanto ela trata de finalizar minha maquiagem.

Eu disse que o casamento foi adiantado, mas me deixe ser mais


exata, nosso casamento que só aconteceria no período de um ano
foi adiantado para hoje.

Hoje!

Depois de nos mudarmos para a casa nova, após um mês


Gabriel e eu tivemos essa conversa, sobre adiantar nosso
casamento já que não tinha motivos para esperar tanto tempo para
oficializar nossa união, aceitei é claro, e todos os dias ficava
pensando no dia do nosso casamento, no dia de hoje, mas não
sabia e nem pensava que ficaria tão nervosa desse jeito.

— Para de se mexer tanto, ou serei obrigada a te dá uns tapas,


Julia! — sorrio diante da cara de minha amiga que se esforça para
terminar a maquiagem mais “perfeita” que ela já fez na vida.

— Desculpa, mas estou nervosa, é o meu casamento Samanta,


tenho certeza de que você também ficaria assim se casasse hoje! —
rebato tentando me manter parada.

— Eu sei, desculpa amiga, eu ficaria doidinha se estivesse


preste a me casar com um homem como Gabriel Simon, acredite,
eu ainda vou pegar aquele o outro irmão dele! — uma risada me
escapa espantando uma fração da ansiedade que sinto.

— Sinto muito, mas segundo Gabriel, Jacob já conheceu uma


pessoa. — Conto para minha amiga que coloca uma expressão
dramática no rosto.

Poderia ter contratado uma equipe especializada para cuidarem


da minha maquiagem no dia do meu casamento, mas minha amiga
insistiu ao dizer que esse seria o meu presente de casamento.
— Pena que o Benjamin é muito novo para mim, poderia esperar
até ele completar 18, mas eu me tornaria uma papa anjo!

— Deixe meu bebê fora dos seus casos amorosos.

— Seu filho vai se tornar um Gabriel Simon mini, mas fique


tranquila, até ele chegar na maioridade não vou ser uma velha
atraente.

— Mamãe! — viro a cabeça vendo Eve vestida de daminha de


honra segurando a mãozinha do Ben que dá os primeiros
passinhos.

— Mama! — ele grita sorrindo com seu primeiro dentinho a


mostra vestindo um terninho.

— Venham aqui! — chamo os dois que logo chegam até mim.

— O papai já está esperando, ele tá todo estranho, ele fica se


remexendo e suando! — gargalho diante das descrições que Eve
menciona.

— Ele está com medo de que sua mãe desista do casamento ou


fuja dirigindo um carro roubado. — Faço uma careta para Sam que
balança os ombros.

— Ok, agora a mamãe tem que ir antes que o papai tenha um


infarto no altar. — Comento arrancando uma risada de Eve.

Me levanto da cadeira diante da penteadeira e me agacho para


beijar os rostos dos meus filhos antes de Sam ajeitar meu véu.

— Pronta? — meu pai aparece vestindo um terno escuro me


oferendo seu braço.

— Prontíssima! — sorrio enlaçando meu braço no seu.


— Está linda, Gabriel tem muita sorte de ter você, filha! — diz
depositando um beijo em minha testa.

Escutando a melodia das entradas dos padrinhos e madrinhas,


os irmãos de Gabriel entram seguido por Sam, espero nossa vez de
caminhar pelo longo caminho de flores espalhadas pela chácara, a
mesma chácara que vistamos quando tivemos aquela briga terrível
quando soube que Fernando estava hospitalizado.

Em seguida Elisabeth e minha mãe entram e se acomodam em


seus lugares, quando a minha hora chega respiro fundo apertando o
braço do meu pai.

Logo atrás, Eve entra segurando a mão de Benjamin que joga


mais pétalas de flores ao passar, olho maravilhada para os
pequenos, para as pequenas razões de minha vida.

Com passos lentos começamos a caminhar pelo longo tapete


florido, sinto cada par de olhos em nós quando entramos, aperto o
buque e suspiro nervosa antes de continuar, sinto o longo véu
branco se arrastar pelas flores no chão à medida que caminho.

Para um casamento que aconteceria numa chácara escolhi um


modelo de vestido elegante e confortável, de mangas cumpridas
rendadas e com as costas nuas, o modelo branco se estende pelo
chão num estilo cauda de sereia.

Levanto a cabeça encontrando o par de olhos azuis fixos em


mim, vejo seu olhar percorrer meu corpo com um sorriso orgulhoso
nos lábios, lindo e perfeito como sempre, sorrio seguindo ouvindo
cada letra da canção se encaixar na nossa história.

Você é a luz, você é a noite


Você é a cor do meu sangue
Você é a cura, você é a dor
Você é a única coisa que quero tocar
Não sabia que podia ser tão importante
Então me ame como só você faz, me ame como você faz
Me ame como só você faz, me ame como você faz
Me toque como você faz, como só você faz
Pelo que está esperando?

Suspiro com as batidas do coração se acelerarem à medida que o


altar se aproxima, meus olhos vagueiam pela chácara toda
decorada para o casamento, vários convidados estão nos olhando
sorrindo em seus respectivos lugares.

Você aparece e some


No precipício do paraíso
Cada pedacinho de sua pele é um Santo Graal que procuro
Só você faz meu coração pegar fogo, pegar fogo
É, vou te deixar guiar o caminho
Pois eu não estou pensando direito
Minha cabeça está girando, não consigo enxergar direito
Pelo que está esperando?

Me ame como só você faz, me ame como você faz


Me ame como só você faz, me ame como você faz
Me toque como você faz, como só você faz...

— Cuide da minha garota, Gabriel! — meu pai diz antes de beijar


minha testa e entregar minha mão para Gabriel que a pega e leva
para o seu lado.

— É o que pretendo fazer por toda minha vida! — ele responde


beijando minha mão com carinho.

Iniciamos a cerimonia a seguir ouvindo atentamente cada


palavra dita pelo juiz de paz diante de nós. Encaro Gabriel e digo os
votos tentando não chorar.

— Eu, Julia Mary Vasconcelos, aceito você, Gabriel Miller Simon,


como meu legítimo esposo e prometendo amar-te e respeitar-te na
alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na
pobreza, por todos os dias da minha vida, até que a morte nos
separe. — Completo sorrindo.
— Eu, Gabriel Miller Simon, aceito você, Julia Mary Vasconcelos,
como minha legítima esposa prometendo amar-te e respeitar-te na
alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na
pobreza, por todos os dias da minha vida, até que a morte nos
separe.
— Podem trocar as alianças... — ele instrui e logo pego a aliança
e deslizo pelo dedo de Gabriel que beija a minha mão depois de
fazer o mesmo comigo.

— Pelos poderes a mim concedidos, eu vos declaro marido e


mulher! O noivo já pode beijar a noiva! — antes que ele possa
terminar a boca de Gabriel já está na minha arrancando risadas dos
convidados quando ele puxa minha cintura de encontro ao seu
corpo na intenção de aprofundar do beijo.

— Minha Senhora Simon... — diz beijando minha testa por fim.

— Sua, toda sua...


Epílogo
GABRIEL

SEIS ANOS DEPOIS

Exaustivo, é a palavra perfeita para descrever o dia de hoje,


suspiro aliviado quando vejo as horas no celular e logo desligo o
notebook, ajeitando tudo para o fim do expediente.

Era surpreendente a mudança que todos esses anos fez em


mim, mudei de um homem que adorava o que fazia e que passava a
maior parte do tempo trabalhando para um homem que anseia pela
pelo fim do dia e encontrar minha família no conforto da nossa casa.

Mas não posso reclamar muito já que Julia se formou na


faculdade com louvor e passou a ser meu braço direito na Empresa,
me auxiliando a administrar toda a parte administrativa.

Ainda me lembro bem da expressão orgulhosa e feliz da minha


mulher ao subir naquele palco quando seu nome foi anunciado e
segurar aquele diploma tão sonhado, estávamos lá, aplaudindo e
gritando quando a mulher que amo e mãe dos meus filhos realiza
um dos seus maiores sonhos.

Ouço o toque do meu celular e assim que o pego vejo o nome de


Eve na tela do aparelho, deslizo a mensagem passando a ler seu
recado:

EVE: Pai, vocês vão demorar muito? Benjamin está me


perguntando a cada cinco minutos se vocês vão demorar para
chegar, ele está te esperando para levá-lo na casa do David.

Suspiro lembrando que Benjamin mencionou que seu amiguinho


o convidou a dormir na casa dele, esqueci completamente que seria
eu a levá-lo na casa do amigo.

GABRIEL: Estou saindo da Empresa, peça para ele se aprontar,


querida.

Envio a mensagem colocando o celular no bolso da calça


enquanto me levanto e saio da minha sala. Assim que termino de
fechar a porta, vejo Julia fazendo o mesmo com a sua sala há
poucos metros da minha.

— Já podemos ir? Recebi uma mensagem de Eve avisando que


Ben dormirá fora hoje, mas esqueci completamente disso. — Conto
me aproximando.

— Também recebi uma mensagem dela há alguns minutos, é a


primeira vez dele em dormir fora de casa por isso tanta ansiedade.
— diz beijando meu rosto enquanto caminhamos pelo corredor vazio
e pouco iluminado já que a equipe e os outros funcionários
costumam ir embora algumas horas antes.

— Gostei da saia! — comento quando Julia se vira de costas


para apertar o botão do elevador que logo se abre.

No espaço reduzido dentro do elevador não deixo de vasculhar o


corpo da minha mulher coberto por uma camisa branca e saia lápis
além dos incríveis pares de saltos altos extremamente sexy.

— Para de ficar olhando para minha bunda, percebo que quando


mais velho você vai ficando, mais safado você fica. — diz sorrindo
com os lábios pintados de um batom vermelho.

— Está me chamando de velho? — me aproximo tentando me


manter sério, mas perco a compostura perto dela.

Ela abre a boca para revidar, mas a fecha quando meu corpo
prende o seu contra a parede de metal fria do elevador nas suas
costas. Pelos anos que se passaram percebi que uma das minhas
maiores diversões é provocar Julia e observar atentamente cada
reação que causo nela, mesmo com o tempo passando isso não
muda, ela reage da mesma forma, ansiando e desejando mais.

Vendo que sua respiração se descontrola aos poucos, sorrio


aproximando minha boca da pele exposta do seu pescoço, beijo a
extensão e mordo devagar ouvindo os suspiros de Julia.

— Gabriel, você sabe que está atrasado para levar nosso filho
até a casa do amigo, então para de provocar! — ela repreende, mas
a sinto estremecer quando minha língua alcança sua orelha.

— Só estou apreciando minha mulher...— sussurro rouco.

— Gabriel? — ela me chama, mas ignoro, focando apenas em


morder o lóbulo de sua orelha e esfregar meu corpo no seu.

Como estivessem vida própria, uma de minhas mãos apertam


sua cintura, mantendo seu corpo perto do meu enquanto a outra se
aventura descendo para suas pernas.

— Gabriel, acho...— a interrompo colando nossos lábios, ela


tanta resistir, mas acaba cedendo e retribuindo o beijo de volta.

Me perco no tempo e nas sensações quando meus dedos tocam


o tecido da cinta-liga que Julia usa por debaixo da saia preta, suas
mãos apertam meus ombros com força quando puxo o tecido
rendado.

— Gabriel? — ela separa nossos lábios e me chama mais alto.

Confuso, levanto a cabeça para encarar seus olhos que


vasculham tudo a nossa volta com os olhos arregalados.

— O que houve, amor? — pergunto levantando seu queixo a


fazendo me encarar.

— Acho que...o elevador parou de funcionar...— desvio o olhar


para o painel que ainda marca o décimo andar.
— Só pode estar de sacanagem! — exclamo quando as luzes se
apagam de repente.

— Meus deus, essa coisa é amaldiçoada ou temos muito azar!


— ela retruca, mas uma gargalhada me escapa.

Seus olhos me encaram irritada, mas não consigo parar de rir,


respiro fundo voltando a sorrir diante da situação.

— Do que está rindo?

— É que faz muito tempo que isso não acontece conosco,


muitas coisas importantes aconteceram dentro desse elevador todas
as vezes que ficamos presos aqui dentro. — Consigo contar a
enxergando apenas pela luz de emergência que logo se acende.

— Verdade, nossa primeira vez aconteceu aqui, nossa


reconciliação, e Benjamin quase nasceu dentro desse elevador. —
Ela relembra com um sorriso no rosto.

— Esse elevador carrega boas lembranças... — digo lembrando


de todas as vezes que ficamos presos.

— Já que estamos presos aqui dentro, acho que é uma boa


oportunidade de tornar mais uma lembrança inesquecível dentro
desse elevador. — Ela comenta sorrindo misteriosa.

— Está me deixando curioso e assustado, amor. — Conto


tocando seu rosto.

Ainda com os olhos fixos em mim, Julia segura minha mão e a


coloca sobre a própria barriga lisa coberta pelo tecido branco da
camisa social, franzo o cenho, mas logo encaixo as peças do
quebra cabeça em minha mente.

— Está grávida? — pergunto e ela assente com a cabeça


arrancando um sorriso do meu rosto.
— Parabéns, papai! — ela comemora, mas não perco tempo,
seguro sua cintura a levanto do chão.

— Obrigado...obrigado, por me fazer o homem mais feliz do


mundo. — Digo beijando sua boca.

— Ok, agora que já contei a boa notícia, o que vamos fazer


enquanto estivermos presos aqui dentro?

— Ah, amor, já tenho até uma ideia do que podemos fazer nesse
tempo livre, minha ideia inclui, nós dois nus, corpos suados e
gemidos abafados... — brinco recebendo um tapa no ombro quando
minhas mãos começam a desabotoar os botões da camisa branca
que logo revela o sutiã da mesma cor.

— Eu até concordo com essa sua ideia, mas precisamos avisar a


Eve que vamos nos atrasar por causa do elevador parado. — Aceno
concordando e retirando o celular do bolso da calça social e
discando o contato de nossa filha que logo atende:

— Pai, vocês disseram que já estavam vindo, mas até agora


ainda não chegaram, Benjamin está me deixando louca! — ela
comenta e ouço a voz do mais novo no fundo da ligação.

— Eu sei, mas vamos atrasar mais um pouco, não sabemos


exatamente quanto tempo, porque estamos presos no elevador, mas
diga a seu irmão que ainda vou levá-lo.

— Sério? No mesmo elevador que vocês contaram aquelas


histórias?

— Sim, querida, até o elevador funcionar novamente ou a


assistência consertar, pode demorar um pouquinho.

— Ok, vou tentar acalmar a ansiedade do Ben. Qualquer coisa,


não hesite em ligar, pai. Amo vocês!
— Também te amamos, filha! — desligo a chamada com um
sorriso no rosto percebendo o quanto Eve cresceu e amadureceu
todos esses anos que se passaram, aos doze anos, nossa menina
se tornou uma mocinha mais linda do que já era.

— Pronto, nossos filhos já estão sabendo do nosso atraso,


podemos terminar o que estávamos fazendo...— comento com uma
expressão safada fazendo Julia revirar os olhos.

Antes que minha boca ou mãos se aproximassem de Julia


novamente, ouvimos um som e logo as luzes do elevador voltam a
se acender novamente, estreito os olhos acostumando-se com a
claridade abrupta, olho para o painel percebendo que a caixa de
metal voltou a funcionar.

— Ok, podemos terminar isso em casa. — Respiro fundo


ouvindo o som da risada contagiante de Julia.

Quase vinte minutos depois, estaciono na garagem da casa e


adentramos a porta principal encontrando um Benjamin arrumado e
batucando os pés no chão num tique ansioso.

— Pensei que iam demorar mais...— ele diz se levantando do


sofá e vindo ao nosso encontro.

Após beijar o rosto de Julia, abraço Benjamin com saudades do


pequeno que já não está mais tão pequeno assim, com quase sete
anos, Ben herdou minhas características ao ter os cabelos loiros e
os olhos azuis, uma mini cópia minha, segundo Julia.

Apenas a aparência ele herdou de mim, pois a personalidade


inconfundível é totalmente semelhante à da mãe, o mesmo
acontece com Eve, apesar de saber que a fase da adolescência não
é nada fácil, temos que lidar com a teimosia da garota que aciona
essa personalidade sempre quando quer.

— Nós também, mas o elevador logo voltou a funcionar. — Julia


diz deixando a bolsa sobre o sofá.
— Só vou tomar um banho rápido e trocar de roupa, e depois
podemos ir, ok? — pergunto vendo Benjamin acenar ajeitando a
mochila.

Seguido por Julia até as escadas que levam ao quarto, estaco


nos últimos degraus ao ver Eve saindo do quarto usando um vestido
preto e curto, com meu lado protetor sendo alertado, respiro fundo a
vendo se aproximar com um sorriso no rosto.

— Onde pensa que vai com essa roupa, mocinha? — pergunto


notando seu rosto maquiado e os cabelos loiros produzidos.

— É a festa de aniversário da Emma, ela me convidou, perguntei


para a mamãe se poderia ir e ela deixou! — nossa filha rebate
desmanchando o sorriso do rosto.

— Ah, eu esqueci completamente disso, mas sim, eu deixei, é


apenas uma festa de aniversário, Gabriel. — Julia conta notando
que a encaro percebendo a semelhança de personalidade entre as
duas.

— Perguntou para sua mãe, mas não perguntou para mim?


Esqueceu que sou seu pai, Eve? — indago a ouvindo bufar e revirar
os olhos, do mesmo jeitinho de Julia quando está prestes a se irritar
comigo.

— Todos da escola vão estar lá, é o aniversario da minha amiga,


pai! — retruca me encarando com os enormes olhos azuis.

— Aquele molequezinho que fica sempre no seu pé vai estar lá?


Qual é o nome dele mesmo? Bryan, não é? — Pergunto pelo garoto
popular da escola que Eve sempre fica mencionando.

— Noah! O nome dele é Noah, pai! Eu não sei, talvez ele esteja
já que é muito conhecido pela escola toda, ou talvez não. Mas não
estou indo por causa dele, estou indo porque é o aniversário da
minha melhor amiga.
— Então vai trocar de roupa, você só tem 12 anos, e eu mesmo
vou levá-la nessa festa. — anúncio e ela bufa novamente antes de
me rebater:

— Não posso nem dormir fora? Porque Benjamin pode, e eu


não?

— Porque ele tem apenas 6 anos e não tem um grupinho de


meninos com segunda intenções atrás dele, estou fazendo isso para
o seu bem filha, meu instinto paterno é te proteger...— digo a última
parte com suavidade.

— Mas não estou correndo perigo, eles são meus amigos,


entendo que queira me proteger, mas não sei o motivo disso tudo!

— Porque o mundo é cruel, conheci esse lado de um jeito


horrível, sei que está crescendo e junto com o amadurecimento
experimentará novas experiências, não quero te privar de conhecer
todas elas, apenas desejo que vá com calma, aproveite a idade que
tem antes de se precipitar.

— Já tive a sua idade, e sei muito bem que a maioria dos


garotos dessa faixa etária de idade não pensam em apenas dar
beijos, você é jovem e está virando uma linda moça, mas aos meus
olhos, sempre será minha garotinha. — Aperto sua bochecha vendo
a careta que seu rosto faz.

— Mas isso não explica o motivo de não me deixarem dormir


fora de casa.

— Já deixamos você dormir na casa da sua amiga uma vez. —


Comento.

— Sim, mas chegou no meio da madrugada na casa dela e me


trouxe embora alegando que estava preocupado e não conseguia
dormir sabendo que eu estava fora. — Ela relembra e pigarreio
lembrando da situação constrangedora de ir ao meio da madrugada
na casa da amiga de Eve e acordar os pais dela dizendo que não
conseguia dormir sem minha filha em casa.

— Gabriel...— Julia pousa a mão no meu ombro me encarando


silenciosamente, mesmo sem dizer uma palavra, sei que ela está
me repreendendo.

— Ok, você pode ir à festa e vamos ligar para os pais da Emma


para perguntar se pode dormir por lá hoje, mas quero que tenha
juízo, ok? — com um sorriso ela corre até mim e me prende em um
abraço forte.

— Eu te amo filha. Quase te perdi duas vezes e isso me


machucou tanto, desculpe se as vezes sou muito rigoroso com
você, mas estou apenas tentando te proteger. — Digo abraçando
seu corpo e fechando os olhos.

Depois do acidente da bomba que fez o apartamento ser


destruído há quase seis anos atras, não demoramos para contar a
Eve sobre Maya e Enzo. E para nossa total surpresa, ela reagiu
bem em saber mais sobre a mãe biológica, mas sempre tratou Julia
como sua verdadeira mãe.

— Pai, não importa quantos anos eu tenha, porque sempre serei


sua garotinha...

— Que bom, mas agora vá trocar de roupa, vai poder usar


qualquer tipo de roupas quando for mais velha, mas ainda é muito
nova, então obedeça a seu velho pai! — faço cocegas em sua
barriga a fazendo rir e se afastar para longe.

— Pai, não precisa ficar preocupado e invadir a casa dos outros


para me buscar, vou ficar bem. — diz e aceno com a cabeça.

Observo Eve se afastar saltitando com os longos cabelos


dourados balançando no ar, quando para diante da porta ela me
encara e diz antes de fechar a porta:
— Fiquem tranquilos, ainda nem beijei na boca! — arregalo os
olhos e antes que eu possa dizer algo ela fecha a porta.

— Ótimo, e espero que continue assim por vários anos! — grito


ouvindo sua gargalhada de dentro do quarto.

Após tomar banho e vestir roupas mais confortáveis, nos três


estamos dentro do carro rumo as duas respectivas casas que meus
filhos vão dormir, meu coração está apertado, mas afasto tal
sensação e digo a mim mesmo que as crianças estão crescendo e
precisam ter o próprio espaço, mas estão crescendo rápido demais
para o meu total desespero.

E logo teremos mais um membro na família Simon, mais um


bebê em nossas vidas, mais um filho para amar e proteger, mais
uma vida para amar.

Lembro-me perfeitamente do momento em que vi os meus filhos


pela primeira vez, lembro de cada sensação que senti quando olhei
para eles.

Lembro-me do sentimento desconhecido quando vi o rostinho e


corpinho de Eve machucado naquele acidente, de me sentir
impotente e odiado por abandonar duas vidas que necessitavam de
mim sem ao menos saber, que sua vida dependeria de mim porque
a pessoa que a criou e amou se foi e a deixou aos meus cuidados.

Para um homem que só se importava com o sucesso que estava


adquirindo, me vi mudar no momento que aqueles olhos azuis tão
semelhantes aos meus me encararam.

Com Benjamin não foi diferente, o amei desde a notícia da


gravidez, o amei ao escutar o barulhinho do seu coração no
ultrassom e encarar aquela manchinha no ultrassom ansiando para
senti-lo nos braços. Um fruto do amor por minha mulher, fruto do
amor que se iniciou de um jeito fora do comum.
O destino é surpreendente, me apaixonei pela mesma mulher
que prometi não amar, me apaixonei pela mulher que me tirava do
sério, me apaixonei pela garota insolente que me intrigava com sua
teimosia, me apaixonei pela mulher mais incrível que já conheci.

Deixo Benjamin na casa do amigo e seguimos até o local da


festa de aniversario da melhor amiga de Eve, quando estaciono o
carro em perto da casa, vejo várias pessoas e adolescentes da faixa
etária de Eve entrando na casa.

— Juízo, venho buscá-la amanhã a tarde, ok? — ela acena


abrindo a porta do carro, mas a impeço:

— Cadê meu beijo de despedida? — ela sorri e se aproxima


para depositar um beijo no meu rosto antes de sair do carro.

— E não se esqueça: Não faça nada que eu não faria! — grito a


ouvindo resmungar e caminhar até onde a amiga a chama.

Após esperar Eve entrar na casa, sigo rumo de volta para casa,
desejando descansar e retirar toda a tensão do meu corpo dirijo o
mais rápido que consigo.

Estaciono o carro na garagem e saio entrando na casa silenciosa


notando que Olivia já deve ter ido embora pelo horário tardio. Subo
as escadas seguindo direto para o quarto, mas franzo o cenho
quando não encontro Julia, verifico o banheiro, mas não a encontro,
ficando preocupado vasculho todos os cômodos, mas também não a
encontro, prestes a pegar o celular e ligar para o seu aparelho noto
a porta do quarto do “prazer” entreaberta, um nome fora do comum
escolhido por Julia quando decidimos recriar outro na casa quando
a compramos.

Me aproximo e entro notando apenas algumas luzes acesas,


estanco no lugar quando vejo Julia de joelhos sobre as coxas e com
as palmas das mãos viradas para cima com a cabeça abaixada.
Ainda sem reação pela surpresa inesperada, caminho até
conseguir visualizar seu corpo melhor, estando apenas com uma
lingerie de renda preta noto sua posição de submissão.

— Estava a sua espera, meu senhor... — diz num tom baixo


antes de levantar a cabeça devagar e esperar novos comandos...
AGRADECIMENTOS

Mais uma obra finalizada com sucesso, o que não seria possível
sem o apoio de cada um de vocês.

Obrigada por me apoiarem e me tratarem com tanto carinho,


obrigada por me incentivarem a continuar escrevendo a história de
Julia e Gabriel, demorou, mas finalmente conseguimos finalizar mais
uma etapa até aqui.

Amo cada um de vocês, mesmo que eu não conheça ou nunca


tenha visto vocês pessoalmente, fiquem sabendo que cada um tem
um lugarzinho no meu coração. Também agradeço aos meus
leitores fanáticos do Wattpad, dedico essa obra a todos vocês.

Foi difícil lutar contra os bloqueios de criatividade? Sim. Foi difícil,


mas cada voto e comentário nos capítulos foi de grande ajuda para
mim, foi uma solução e um grande incentivo. Obrigada por estarem
comigo.

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