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Leituras de Eduardo Lourenço
Leituras de Eduardo Lourenço
Âncora Editora
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1350-179 Lisboa
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O Centro de Estudos Ibéricos respeita os originais dos textos, não se responsabilizando pelos conteúdos, forma
e opiniões neles expressas.
A opção ou não pelas regras do novo acordo ortográfico é da responsabilidade de cada autor.
Apoios:
. Nota de Abertura 7
Sérgio Fernando da Silva Costa
. Nota de Apresentação 9
António Pedro Pita
O esplendor do Caos
. O caos, princípio e fim do esplendor. O quiasmo imperfeito 13
Roberto Vecchi
. O esplendor do caos: edição e espólio de Eduardo Lourenço 19
João Dionísio
7 //
O título desta obra, «Leituras de Eduardo Lourenço», concentra com nitidez, na pe-
quena escala de uma expressão, o sentido e a forma do Programa do Centenário que
o Centro de Estudos Ibéricos organizou para celebrar o itinerário e a presença do seu
inesquecível mentor
De facto, tal como o leitor pode ler-se nos livros que lê (foi o caso do grande Ensaísta),
também todas as atividades que compõem o longo e rico Programa do Centenário são, a
seu modo, leituras de Eduardo Lourenço. É que em nenhum momento do itinerário e em
nenhum passo da obra, Lourenço pretendeu ocupar-se de determinados objetos cultu-
rais ou políticos sem que, de qualquer modo, essa abordagem fosse a expressão de uma
determinada experiência. Por isso, nos seus textos sobre o colonialismo, ou sobre Pessoa,
ou sobre a construção do socialismo, ou sobre a importância da Guarda num pensamen-
to ibérico, ou sobre os problemas da construção europeia, ou sobre o acidentado percur-
so da Modernidade e seus (des)afluentes (como “pós-modernidade”) – o que sobreleva,
para além (talvez seja mais rigoroso dizer: para aquém) das considerações sobre o proble-
ma (ou o pretexto) em causa é o modo como esse problema deveio da dimensão de uma
determinada experiência de mundo na forma de um determinado texto.
Parafraseando um célebre, mas vetusto lugar comum, as experiências de Eduardo
Lourenço parecem ocorrer para (ou na medida em que) se tornarem texto, esse lugar
seguro (uma segurança provisória) de uma determinada relação.
Era, pois, inevitável que um momento nesse Programa do Centenário fosse dedicado
a uma leitura não tanto de alguns textos, mas de alguns problemas. E que, em rigor, ne-
nhuma dessas leituras fosse re-leitura. Ler os textos e os problemas de Eduardo Lourenço
jamais é re-ler: porque um elemento de novidade se interpõe sempre, inevitavelmente,
entre o leitor atual e o antigo-novo texto.
Ao Centro de Estudos Ibéricos foi grato poder contar com a participação ativa de gran-
des intérpretes da obra de Eduardo Lourenço: Roberto Vecchi, João Dionísio, João Tiago
Lima, Celeste Natário, Maria Manuela Cruzeiro, Margarida Calafate Ribeiro, Nazir Ahmed
9 //
Roberto Vecchi
Cátedra Eduardo Lourenço
Università di Bologna
13 //
A leitura e o caos
15 //
Caos e inovação
ao que não se procura porque dele se ignora a existência. Ou seja, o novo. E o novo decorre
Bibliografia
João Dionísio2
Centro de Linguística
Universidade de Lisboa
Para quem agora tem a missão de, com a sua ajuda [i.e., com a ajuda de
Eduardo Lourenço], organizar toda esta documentação, e escolher o que edi-
tar ou reeditar, e em que moldes, o problema será mais o de decidir como
formatar este esplendoroso caos sem o trair.
A observação de Luís Miguel Queirós toca num ponto sensível da relação entre espó-
lio e edição em certos autores, de que é máximo exemplo Fernando Pessoa, um escritor
cuja obra publicada tem a particularidade de ser muito escassa perante a quantidade
impressionante de documentos por ele deixados inéditos em vida. Para autores assim,
o espólio guarda um halo de autenticidade que em parte se perde quando, através da
edição, chega ao público. Dar forma ao que não a tem, formatar o que não dispõe de for-
mato não ocorre nesses casos sem que paire a sombra da traição sobre o procedimento
1 A investigação para este artigo enquadra-se no âmbito do projeto UIDB/00214/2020, FCT – Fundação para a Ciên-
cia e Tecnologia, I.P. Agradeço o convite para participar no congresso Leituras de Eduardo Lourenço, realizado nos
dias 23 e 24 de Maio de 2023, ao Centro de Estudos Ibéricos e aos coordenadores desta iniciativa, nomeadamente
os Professores António Pedro Pita e Rui Jacinto, da Universidade de Coimbra, e Roberto Vecchi e Margarida Cala-
fate Ribeiro, da Cátedra Eduardo Lourenço, estabelecida na Universidade de Bolonha.
19 //
2 joaodionisio@campus.ul.pt
No princípio, quando Deus criou o céu e a terra, 2a terra estava sem forma e
1
sem ordem. Era um mar profundo coberto de escuridão; mas sobre as águas
pairava o Espírito de Deus. 3Então Deus disse: “Que a luz exista!” E a luz come-
çou a existir. 4Deus achou que a luz era uma coisa boa e separou-a da escuridão.
Explicada a forma paradoxal do título, apontado Teixeira de Pascoaes como seu men-
tor eventual, indicado um uso do que lhe está subjacente no comentário sobre António
Sérgio, chegou o momento de observarmos o prefácio do volume assim intitulado. Escrito
em 1997, é dele que retiro o seguinte passo:
a era do caos (...) não faz mais do que reflectir a caoticidade cultural intrínseca
de uma dada cultura. Em particular a dos Estados Unidos, levando a cabo, não
por exigências decorrentes das falhas detectadas em todo o discurso racional
ou com essa pretensão, mas por necessidade, inconsciente para essa cultura,
de se inventar um código sem passado, um “indianismo” do seu imaginário
liberto da utopia europeia da razão. [Lourenço 1999, 7-8]
21 //
3 O “indianismo” da América é quase um topos no modo como intelectuais europeus vêem os Estados Unidos,
mesmo quando resulta de experiência vivida e não de observação remota. Christopher Hitchens, que mais tarde
obteria (com entusiasmo) cidadania americana, expressa assim a sua reacção inicial: “America seemed either too
modern, with no castles or cathedrals and no sense of history, or simply too premodern with too much wilderness
22 //
23 //
Não nos equivoquemos: por muito educada que seja a descrição desta diferença entre
Oliveira Martins e Teófilo Braga, o coração e o cérebro de Lourenço estão com o primei-
ro 4. Na mesma descrição, o próprio pendor cumulativo do paradigma que caracteriza a
perspectiva de Teófilo Braga (o documento, a determinação biográfica, o registo de in-
fluências, o pendor para a leitura orgânica, de reenvio perfeito do caso literário para a
marcha do mundo e vice-versa, e a lista poderia prosseguir) sugere uma prolixidade algo
desorientada.
Outro sinal deste reduzido interesse de Lourenço pela prática filológica fica patente
numa das suas crónicas de 2001 para a revista Sábado, onde escreveu: “é duvidoso que
alguma vez possamos gozar em relação ao poeta da “Ode Marítima” dessa espécie de paz
erudita que se liga à ideia de edição crítica” [Lourenço 2001, 114].
Isto é, enquanto em Portugal vários projectos editoriais concorrentes produziam re-
sultados pouco consensuais e tranquilizadores para os críticos pessoanos, em França a
Pléiade garantia a paz cuja falta era tão intensamente sentida por Lourenço. A paz, deve
dizer-se, resultará menos da leitura crítica que Patrick Quillier, o organizador desta publi-
cação, faz das edições pessoanas de referência [Quillier 2001, XCVII] do que da vocação de
vulgata que a Pléiade manifesta em relação ao mercado livreiro francês. De resto, o título
da crónica de Lourenço, “Pessoa entre os seus”, mostra bem a sensibilidade do autor de
Fernando Pessoa revisitado a esta faceta do cânone literário: uma lista de obras que se
manifestam acima de minudências materiais.
Aliás, o próprio Eduardo Lourenço tinha experienciado a ausência de paz em ano do
centenário pessoano, 1988. É nessa data que se publica, com um prefácio seu, a edição
Teresa Sobral Cunha do Fausto. O prefaciador – dizia-se – esperava sofridamente por uma
edição definitiva do texto, ao passo que o estabelecimento era o que Teresa Sobral Cunha
4 Estão com o primeiro, apesar de o epíteto “sociólogo da civilização” remeter para uma disciplina pouco cara a
Lourenço e que pouco o considerou. Tratar-se-á, já aqui, de um uso irónico do termo, conduzido a um sentido
24 //
25 //
5 Além de duas cartas de Snu Abecassis que gostaria de ter abordado na edição de O Labirinto da Saudade [cf.
Dionísio 2023], foi entretanto detectado o paradeiro de um manuscrito de Lourenço a que tive acesso apenas atra-
vés de uma transcrição. Trata-se de uma versão de “Pequena mitologia portuguesa” [cf. Lourenço 2023, 381-384]
localizada na pasta agora numerada 654. A arrumação de todo o espólio em capas numericamente identificadas
que foram colocadas no interior de caixas arquivadoras iniciou-se depois do fim (temporário?) do projecto das
27 //
Obras Completas e, na sua sequência, do expurgo a que os documentos foram sujeitos.
Bibliografia
Se o primeiro volume de Heterodoxia foi recebido não tanto com indiferença, mas so-
bretudo com uma espécie de silêncio que, provavelmente, terá levado Eduardo Lourenço
a adiar por mais de dezassete anos a sua continuação, é forçoso reconhecer que o se-
gundo (e, de certa forma, último) tomo desta série provocou uma considerável repercus-
são entre leitores e amigos do autor. De facto, desde as recensões de Mário Sacramento,
Vergílio Ferreira, João Gaspar Simões, Eduardo Prado Coelho, António Quadros ou Óscar
Lopes, para citar somente os nomes mais famosos, até às cartas (publicadas no n.º 171 da
revista Colóquio-Letras de Maio de 2009) de Joel Serrão, Sílvio Lima, Adolfo Casaes Mon-
teiro ou António Ramos Rosa, não é possível dizer-se que Heterodoxia II tenha passado
propriamente desapercebida. Claro que há bastante heterogeneidade nessas reacções
ao livro de 1967, mas julgo que, mesmo no caso das leituras mais críticas, se encontra la-
tente uma sincera admiração pelo ensaísta heterodoxo. Vejamos o caso de Óscar Lopes,
cujo texto provocou uma quase imediata resposta do próprio Eduardo Lourenço, facto
bastante inabitual e sobre o qual me debrucei no prefácio ao primeiro volume das Obras
Completas. Trata-se de uma recensão crítica muito pormenorizada e bastante bem fun-
damentada, como seria de esperar. E, para além disso, coloca um conjunto de questões
extremamente pertinentes que acabam por ficar ofuscadas com a primeira frase do ar-
tigo em que o crítico fala de «um ensaísta católico da categoria de Eduardo Lourenço».
Ora, o certo é que durante muitos anos Eduardo Lourenço acabou por não elaborar um
terceiro volume de Heterodoxia, apesar de ter esboçado pelo menos uma tentativa, como
é facilmente provado pela existência de um índice manuscrito (cf. Imagem n.º 1), existente
no seu espólio, no qual se projectava uma continuação de Heterodoxia II. Nessa tábua
de matérias – e que poderemos datar, sem grande margem de erro, entre 1967 e o 25 de
Abril de 1974 – encontramos várias coisas interessantes. Assim, após um segundo prólogo
ao espírito da heterodoxia (Será um lapso? Não deveria ser um terceiro prólogo?), depa-
ramos com os seguintes títulos de capítulos: “Situação Espiritual Portuguesa”, “O Mito
da Comunidade Luso-Brasileira”, “Ensaio sobre o Ateísmo”, “O Exército e a Inteligentzia”,
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33 //
Imagem nº 1
35 //
Celeste Natário
Universidade do Porto
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Queiramo-lo ou não, todos nos escrevemos naquilo que, com razão ou sem
ela, os outros recebem como obra nossa. Alguma coisa de mim deve estar
no que, ao longo de meio século, e sempre como por acaso, fui escrevendo
(Eduardo Lourenço, Relâmpago, 2008)
1. Inspirada pelo próprio título deste colóquio, Leituras de EL, começo por uma constata-
ção algo paradoxal, mas que é já quase um lugar comum: não é fácil ler Eduardo Lourenço.
Muito conhecido e pouco (ou mal) lido, as homenagens, prémios, doutoramentos, distinções
incontáveis, que teve em vida e que agora se replicarão nesta ano de celebração do seu
Centenário, por mais justas e merecidas que sejam, potenciam o efeito perverso de aumen-
tarem a sua visibilidade, ao mesmo tempo que aumentam também os níveis de desconhe-
cimento em torno da sua extensa e complexa obra. Acresce que, tanto obra como autor, só
passaram a existir para a esmagadora maioria dos seus conterrâneos após o 25 de Abril de
1974. Como constantemente afirmava, recusando vitimizações ou louros que julgava igual-
mente imerecidos, ele não se considerava um exilado, muito menos um refugiado. Nem se-
quer um emigrante, Apenas um “emigrante voluntário”. E seria fácil, porém não totalmente
justo, atribuir apenas à Censura esse longo e doloroso silêncio que as suas palavras tão crua-
mente traduzem: “Lá fora, durante anos e anos, persisti no deserto. Só quando escrevia sobre
41 //
alguém, recebia o eco na forma de uma carta, e depois caía o silêncio” (Lourenço,2008:175).
2. Auto definido como “alguém disponível para pensar tudo o que merece ser pensa-
do, e mesmo o que não merece ser pensado”(Lourenço,2004), nem sempre a indisfarçá-
vel nota de ironia com que EL sinaliza a sua condição de ensaísta é devidamente captada
e a academia, onde a inteligentzia dominante teimava em considerar o ensaio um género
menor (que lhes perdoem os Montaigne, os Rousseau, os Sílvio Lima, os Blanchot...), foi
dos últimos redutos conquistados por aquele que em Portugal eleva o ensaio ao nível
dos seus maiores cultores internacionais. Foi lenta mas segura essa entrada, pela mão de
autores muito diversos mas ligados pela mesma paixão intelectual – José Gil, Fernando
Catroga, Eduardo Prado Coelho, Maria Manuel Baptista, Manuel Maria Carrilho, Pedroso
de Lima, Miguel Real entre outros – entre os quais modestamente me incluo – e hoje a fi-
gura ímpar de EL, nas suas múltiplas facetas, atrai cada vez mais estudiosos, demonstran-
do que a sua obra, sendo uma longa e interminável viagem por temas, lugares, tempos e
criadores (poetas, escritores, pintores, músicos, filósofos) de hoje, de ontem e de sempre,
42 //
3. Por muitos ângulos se tem tentado abordar o ensaísmo deste “simples” amigo de
poetas, como lhe chamou E. Prado Coelho na sua função desestabilizadora do edifício dos
saberes. E, longe de ajudar, ele é o primeiro a agravar essa já difícil tarefa, pela variedade de
fórmulas que ao longo do tempo foi encontrando para descrever o seu ofício: de “Kamikaze”
a “sismógrafo da tempestade alheia”, passando pela natureza particularmente “infeliz” ou
mesmo “irremediavelmente perdida” da sua aventura, EL não poupou nas tintas para assi-
nalar os desafios e riscos que corria, como praticante de um “género literário não identifica-
do”, bem como os limites a que irremediavelmente se condenava. Sabendo à partida que
nenhum intelectual tem o poder de mudar a realidade, mas no máximo mudar o olhar dos
outros e o seu próprio olhar sobre ela, ele sublinha que “um ensaísta luta em duas frentes,
mas a frente mais dura é aquela em que luta contra si mesmo, contra as suas próprias op-
ções, contra as suas mesmas ideias já fossilizadas”(Mesquita,1996:23/24). Na verdade, dessas
duas frentes de combate – contra os dogmatismos alheios e contra os próprios – são estes
os que mais exigem de si, como pensador nunca satisfeito, e muito menos instalado numa
atitude neutra, ou de um certo relativismo gnoseológico ou ético. Se assim fosse, não faria
sentido a procura, sempre falhada mas constante, daquilo que mais se aproxima da verda-
de, recusando quer as mais gritantes, quer as mais insidiosas formas da sua negação, numa
espécie de “exercício do desassossego contínuo”.
Tentarei de seguida analisar os traços essenciais desse exercício (outro nome para en-
43 //
saio) detectando ao mesmo tempo a sua presença no ensaísmo lourenceano: A começar,
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5. Foi ainda Lukács quem definiu o ensaio como género intermédio entre a filosofia e
a literatura, palavras que quase parecem escritas a pensar na obra de EL. Não porque ele
habite o indefinido espaço intermédio, mas antes porque habita ambos tão intensamen-
te, que dele podemos dizer que a tão glosada troca da filosofia pela literatura não passa de
um artifício muito útil quer à obsessão classificativa dos críticos, quer à subliminar e irresis-
tível ironia do próprio autor. De outra forma, como ler passagens como “eu perdi a minha
Eurídice, a filosofia” ou “a história da minha decepção em relação à filosofia pode ser des-
crita também como a história da raposa e das uvas verdes”?... Na verdade, esse aparente
desvio, longe de significar um abandono da problemática filosófica da experiência trágica
da existência que atravessa toda a sua reflexão, em nome da literatura, ou mesmo um
relativo aligeiramento da densidade própria do discurso especificamente filosófico, antes
representa um aprofundamento e uma densificação de ambos, com base na convicção
de que são os domínos da criação artística, especialmente (mas não exclusivamente) lite-
rária, os melhores a traduzir o trágico, no que ele encerra de absolutamente individual e
46 //
47 //
Com alguma facilidade, mas também com seguro rigor podemos ler a obra de Eduar-
do Lourenço como uma longa carta a Portugal. É uma escrita e uma interrogação cons-
tantes: Portugal interroga Eduardo Lourenço e Eduardo Lourenço interroga Portugal. E o
ensaísta fá-lo a partir de alguns elementos constantes: a literatura, enquanto representa-
ção dialética da realidade de uma comunidade, e que é para o ensaísta o grande “arquivo
6 Este artigo resulta da investigação realizada no âmbito do projeto de investigação MAPS – Pós-memórias Eu-
ropeias: uma cartografia pós-colonial, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT – PTDC/LL-
T-OUT/7036/2020). O projeto está sediado no Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra e é
coordenado por Margarida Calafate Ribeiro. Uma versão anterior deste artigo foi publicada na revista Seara Nova,
n. 1764, Outono 2023, https://searanova.publ.pt/2023/11/16/eduardo-lourenco-um-dialogo-com-portugal/
Eduardo Lourenço, “Colonialismo e boa consciência – o caso português”, in O Colonialismo como nosso impen-
51 //
sado, Lisboa: Gradiva, 2014 (Organização, prefácio e notas de Margarida Calafate Ribeiro e Roberto Vecchi), p. 347.
através dos seus tempos discutirem e analisaram Portugal nas suas obras.
53 //
2009, pp. 296 e sgs.
8 Agradeço o olhar atento, cooperante e dialogante do organizador inicial de todo este arquivo, João Nuno Alçada
e a cumplicidade de investigação do meu colega Roberto Vecchi.
9 O artigo foi publicado num dossier intitulado “Le Portugal – aspects d’une démocratisation” na revista Esprit, em
janeiro de 1979 onde encontramos dois textos de Eduardo Lourenço: “Le Labyrinthe de la Saudade”, pp. 58 a 61 e
“Révolution avortée ou impossible”, pp. 26 a 32. O texto aqui publicado intitulava-se “Le Labyrinthe de la Saudade”,
mas no manuscrito original pode-se ler por baixo da palavra Saudade a anotação do autor “Colonização”. Seria
portanto de “Le Labyrinthe de la Colonisation”, 1979, mas foi publicado com o título original “Le Labyrinthe de la
Saudade”, como indicação em nota que se tratava de um excerto do texto “Psychanalyse mythique du destin por-
tugais”, de Labirinto da Saudade, Lisboa, Edição Dom Quixote, 1978.
10 Cf. Margarida Calafate Ribeiro, “Dois impensados” e Roberto Vecchi, “Impensado”, in Margarida Calafate Ribeiro e
54 //
Roberto Vecchi, Eduardo Lourenço – uma geopolítica do pensamento, Porto, Afrontamento, 2023, pp 89-122.
Com compreender esta situação? Como chegamos aqui ? Quais são as imagens que
esta realidade esconde ou oculta, treslê ou relê?
Camões é um a caso sério para Eduardo Lourenço, primeiro pela sua genialidade, depois
pela narrativa que cria no género literário mais nobre, uma epopeia, na verdade a primeira
epopeia moderna europeia, construída a partir de um povo que desterritoraliza o centro
da epopeia do país natal, colocando-o no mar e fixando-o para sempre num vago Oriente,
que tudo ou nada contém. Mas Camões introduz nesta celebração a dúvida renascentista
em todo o seu poema12. No final de cada canto semeia a dúvida sobre o valor do que ele
próprio narra, faz um balanço, sobre o que se perde e o que se ganha: ama o conhecimento
humano adquirido no cruzamento dos mares, mas entristece com a violência e desumani-
zação que a aportagem nas novas terras traz aos navegantes; celebra as armas e as letras,
mas aponta a corrupção; espanta-se com o Outro com quem não comunica, mas é dele
que recebe as perguntas essenciais à sua própria identidade como fica patente na conversa
com o Rei de Melinde, nas costas africanas de Moçambique, que sagra um diálogo entre o
Ocidente e o Oriente e no qual Portugal (e a Europa que ali representava) se define:
11 Eduardo Lourenço, “Situação africana e consciência nacional”, in O Colonialismo como nosso impensado, Lisboa:
Gradiva, 2014 (Organização, prefácio e notas de Margarida Calafate Ribeiro e Roberto Vecchi), pp. 136-137.
12 Cf. Helder Macedo, Camões e a viagem iniciática, Lisboa: Abysmo, 2013; Fernando Gil, Helder Macedo, As Viagens
do Olhar – retrospeção, visão e profecia no Renascimento Português, Lisboa: Campo das Letras, 1998.
13 Luís de Camões, Canto I, 50, in Os Lusíadas, Lisboa: Instituto Camões, 1992. (Leitura, prefácio e notas de Álvaro Júlio
55 //
da Costa Pimpão; apresentação de Aníbal Pinto de Castro), p. 13, (1.a edição, 1572).
14 A expressão é recorrente na obra de Eduardo Lourenço. Cf. o desenvolvimento da ideia em “Situação Africana e
Consciência Nacional”, em Eduardo Lourenço, O Colonialismo como nosso impensado, Lisboa: Gradiva, 2014 (Or-
ganização, prefácio e notas de Margarida Calafate Ribeiro e Roberto Vecchi), p. 134.
15 Eduardo Lourenço, O Colonialismo como nosso impensado, Lisboa: Gradiva, 2014 (Organização, prefácio e notas
56 //
16 Michael Taussig, Defacement: Public Secrecy and the Labor of the Negative, Stanford: Stanford University Press, 1999.
17 Eduardo Lourenço, O Colonialismo como nosso impensado, Lisboa: Gradiva, 2014 (Organização, prefácio e no-
tas de Margarida Calafate Ribeiro e Roberto Vecchi), p. 164. Publicado em O Fascismo Nunca Existiu, Lisboa:
Publicações Dom Quixote, 1976, pp. 77-89 e anteriormente em Diário de Notícias, 23 de Julho de 1974.
18 Cf. Maria Paula Meneses e Bruno Sena Martins, As Guerras de Libertação e os Sonhos Coloniais: alianças secretas,
mapas imaginados, Coimbra: Almedina, 2013.
19 Publicado inicialmente em Prelo, 1, outubro/ dezembro de 1983, pp. 15-22. Hoje disponível em Eduardo Lourenço,
O Colonialismo como nosso impensado, Lisboa: Gradiva, 2014 (Organização, prefácio e notas de Margarida Calafa-
te Ribeiro e Roberto Vecchi), pp. 273-284.
20 Publicado em Finisterra. Revista de Reflexão e Crítica, 35, setembro de 2000, pp. 7-16. Hoje disponível em Eduardo
Lourenço, O Colonialismo como nosso impensado, Lisboa: Gradiva, 2014 (Organização, prefácio e notas de Marga-
57 //
rida Calafate Ribeiro e Roberto Vecchi), pp. 285-297.
Quando eu e o Roberto Vecchi construímos com o Professor o que veio a ser o livro Do
Colonialismo como nosso Impensado, republicado recentemente numa edição revista e
aumentada, três imagens se colocaram diante de nós, imagens que de certa forma rea-
firmam tudo aquilo que vem sendo brevemente desenvolvido neste artigo: em primeiro,
o impacto da estadia no Brasil, a vivência num país sob a herança colonial portuguesa, os
contatos aí havidos, as publicações em Portugal Democrático e Portugal Livre e a escrita
do texto “O Brasil Caução do Colonialismo Português”. O império surgia assim como evi-
dência concreta no espaço do país Brasil, como herança e como ativo político, que aliás
Eduardo Lourenço reanalisa e de certa forma confirma, cinquenta anos depois, pela altura
das comemorações dos 500 anos do Brasil, em que a ausência nos textos comemorativos
da palavra “Descoberta”, centro da mitologia portuguesa, lhe mostra que o ponteiro da
História não bate na mesma hora para “descobridores” e “descobertos” e em que o Brasil
assume os 500 anos como seus, assumindo portanto como seu o tempo colonial, mas
rasurando contudo a sua inscrição índia anterior aos ditos 500 anos22;
mas ainda, e sempre em 1958, a segunda imagem é a da Europa, via França onde
um outro colonialismo, o de um país luz na democracia europeia se explodia na Guerra
da Argélia (1954-1962) e que o faz antever Angola, a “segunda Argélia”, nas palavras de
Franz Fanon, como surge em textos escritos na altura, mas só publicados depois de 25 de
Abril de 1974, em que se destaca “Situação Africana e Consciência Nacional”23; e refiro aqui
Frantz Fanon não apenas como citação, nem como teórico próximo de Eduardo Louren-
ço, mas para assinalar que a linguagem que Eduardo Lourenço utiliza nestes textos para
descrever o colonialismo, a sua violência pública e íntima e os seus efeitos prolongados
revelam uma proximidade de expressão com o psiquiatra e teórico da Martinica e depois
22 Cf. Eduardo Lourenço, “Quinhentos anos”, in O Colonialismo como nosso impensado, Lisboa: Gradiva, 2014 (Orga-
nização, prefácio e notas de Margarida Calafate Ribeiro e Roberto Vecchi), pp. 339-342.
23 Eduardo Lourenço, “Situação Africana e Consciência Nacional”, texto publicado em Cadernos Critério, 2, Venda
Nova/ Amadora, 1976. Em nota nesta publicação, o autor regista: «Estas reflexões fazem parte de um ensaio escrito
entre 1961 e 1963, e conservado inédito por motivos óbvios, dedicado ao problema do colonialismo português.».
Hoje disponível em Eduardo Lourenço, O Colonialismo como nosso impensado, Lisboa: Gradiva, 2014 (Organiza-
ção, prefácio e notas de Margarida Calafate Ribeiro e Roberto Vecchi), pp. 109-155. A opção dos organizadores foi
publicar neste capítulo os textos «Retrato (póstumo) do nosso colonialismo inocente I», anteriormente publicado
em Critério. Revista Mensal de Cultura, 2, dezembro de 1975, pp.8-11. «Retrato (póstumo) do nosso colonialismo
59 //
inocente II» foi publicado em Critério. Revista Mensal de Cultura, 3, janeiro de 1975, pp. 5-10.
Shakespeare, mais uma vez a grande literatura, fará Eduardo Lourenço produzir o pa-
rágrafo síntese sobre o momento longo do que foi o colonialismo moderno europeu na
história da humanidade, o seu final e dos seus prolongamentos e impactos hoje num
tempo que designamos, e bem, de pós-colonial, porque já não é o mesmo, na ordem
geopolítica do mundo, mas que reverbera ainda os seus efeitos sobre o nosso tempo po-
lítico e sobre nós, como sujeitos biográficos e culturais desse tempo, que é já um tempo
de heranças, e portanto de luto, como é o tempo de todos os herdeiros, de acordo com
Derrida 26. Referindo-se a nós portugueses de hoje, explica:
“…será longo o caminho a percorrer para que um dia existamos uns para os
outros fora do envenenado círculo de um mútuo e oposto ressentimento: o
das novas nações de terem sido colonizadas e o de Portugal de as “ter perdido”
como imaginário (e real) prolongamento seu.”
Para depois se abrir à Europa e à sua relação de poder com o mundo e, com a litera-
tura, concluir:
24 Eduardo Lourenço, O Colonialismo como nosso impensado, Lisboa: Gradiva, 2014 (Organização, prefácio e notas
de Margarida Calafate Ribeiro e Roberto Vecchi), p.123.
25 Referência a Paul Gilroy, Postcolonial Melancholia, Columbia University Press, 2006.
26 Jacques Derrida, Espectros de Marx. O estado da dívida, o trabalho de luto e a nova Internacional, Rio de Janeiro:
60 //
Bibliografia
Lourenço, Eduardo (1958), «A França em questão ou o fim da liberdade como boa consciência»,
Jornal da Bahia, 28 e 30 de Outubro, Caderno 1, pp. 1-2. Acervo de Eduardo Lourenço, Dos-
sier França (AEL-DF), Biblioteca Nacional de Portugal, sob a direção de João Nuno Alçada.
Lourenço, Eduardo (1982), O Labirinto da Saudade, Lisboa: Dom Quixote (1.a edição, 1978).
Lourenço, Eduardo (1988), “Do Salazarismo como nosso impensado. Divagação anacrónica ou
ainda não”, in Semanário, 22 de Janeiro, pp. 54-56.
Lourenço, Eduardo (1990), Nós e a Europa ou as duas razões, 3.ª edição. Lisboa: Imprensa
Nacional Casa da Moeda.
Lourenço Eduardo (1999), Portugal como destino seguido de Mitologia da saudade, Lisboa:
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No ensaio “As ideias fora do lugar”, publicado em 1973, Roberto Schwarz examina um
singular descompasso vivido na sociedade brasileira do século XIX: as ideias liberais –
como a liberdade do trabalho, a igualdade perante a lei e o universalismo – se dissemina-
vam com velocidade na Europa e desembarcavam com semelhante vigor no Brasil. Em
sua análise sobre este texto central para entendermos o Brasil da época de Machado de
Assis (e não só), Bernardo Ricupero mostra-nos que, embora incompreendida ainda hoje
por parte da intelectualidade do país, a análise de Roberto Schwarz é decisiva para com-
preendermos o embate desse conjunto ideológico com a escravidão, os seus defensores
e o seu sistema de impropriedades (Ricupero, 2008, p. 62). Nesse quadro, precisamente,
as pessoas que não eram escravas se relacionariam em todos os âmbitos (do comércio à
medicina) não apenas por via da força, mas também por meio do “favor”, categoria que
determinava a sua condição de homens livres (Ricupero, 2008, p. 60). Na síntese Roberto
Schwarz, recordemos, o “escravismo desmente as ideias liberais; mais insidiosamente o
favor, tão incompatível com elas quanto o primeiro, as absorve e desloca, originando um
padrão, particular” (Schwarz, 2007, p. 17). Assim, a professada universalidade dos princípios,
seguindo Schwarz e alguns analistas do seu ensaio, cai por terra com a prática do favor,
visto que, com ele, os interesses privados ganham centralidade. Abre-se o caminho, desse
modo, para uma autêntica “comédia ideológica” (Schwarz, 2007, p. 12; Ricupero, 2008, p.
60). No âmago da questão, como sempre, o desacordo entre a representação e o contexto
real, fenômeno muito comum em todas as nações, mas fundacional e particularmente
estruturante no caso brasileiro: “com método, atribui-se independência à dependência,
utilidade ao capricho, universalidade às exceções, mérito ao parentesco, igualdade ao pri-
vilégio, etc.” (Schwarz, 2007, p. 19; Ricupero, 2008, p. 60). As críticas que este texto recebeu,
discutidas de maneira rigorosa no texto de Bernardo Ricupero, não costumam tocar em
um ponto “externo”. Para Schwarz, importa lembrar, enquanto na Europa os ideais liberais
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“correspondiam às aparências” (Schwarz, 2007, p. 12), encobrindo o essencial da exploração
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