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NECA MACIEL
necavirgiliomaciel@gmail.com
CAPÍTULO II
DIREITOS HUMANOS SUBSTANTIVOS
I. Aspectos gerais
Os direitos humanos são, normalmente, encarados do ponto de vista seu “Standard” e do
ponto de vista “supervision”. Fala-se em “human right standard” de um direito humano
quando se analisa o seu conteúdo tal e qual é e foi consagrado nos diversos instrumentos,
quer universais, quer regionais. Na vertente de supervisão, estuda-se a dinâmica de
protecção dos direitos humanos49, matéria que neste manual se encontra reservada para
parte relativa ao direito institucional e processual.
Portanto, o estudo da dimensão substantiva dos direitos humanos, matéria que constitui
este capítulo, é importantíssimo. No entanto, dada a sua multiplicidade e complexidade,
não serão abordados todos os direitos humanos substantivos, mas, sim, os mais
frequentemente invocados, os quais podem ser categorizados em vários grupos.
Cont.
Porém, o direito humano de acesso à justiça não se preenche somente com a criação de
tribunais, sendo, ainda necessário que o Estado garanta que os tribunais actuem de forma
independente e imparcial.
Da igualdade dos cidadãos perante a lei, decorre, segundo K. Hesse, citado por Gomes
Canotilho a exigência de que as leis devam ser aplicadas sem olhar às pessoas, isto é, os
tribunais julgam de acordo com os factos e o sentido objectivo da lei, não devendo
beneficiar ou prejudicar ninguém em razão da sua condição social, política, étnica ou
racial.
Este direito integra, também, o direito ao recurso contra as decisões condenatórias, o que
lhe habilita a que exija que o seu caso seja reezaminado por um outro tribunal de recurso.
O direito de acesso à justiça é garantido pelos artigos 8 e 10 da DUDH e pelo artigo 7 da
CADHP, para além do já citado artigo 14 do PIDCP.
E. O direito ao mecanismo de proteção efectivo e o direito a
reparação em direitos humanos
A noção clássica de responsabilidade, implica a ideia de obrigação de reparação de um
dano. Nesta concepção conservadora, o prejuízo é o centro gravitacional do instituto da
responsabilidade. Não haveria de se falar em responsabilidade quando o facto que violasse
determinada obrigação não resultasse em prejuízo alheio.
O direito a uma protecção efectiva, na eventualidade de ocorrência de violação dos direitos
humanos, esta previsto em quase todas as convenções, tanto específicas, como gerais, por
exemplo, no art.2 n˚. 3 da PIDCP e art.26 da Carta Africana. O direito à reparação, garante
o direito a um procedimento e um direito subjectivo de reclamação.
F. O direito a não retroactividade da lei penal
A previsibilidade da lei penal exige que ninguém seja condenado por um facto que, no
momento em que o praticou, não era qualificado por lei como crime. É o princípio nulla
poena sine lege que foi elevado à dimensão de direito humano a não retroactividade da lei
penal62, por força do qual Ninguém poderá ser condenado por actos ou omissões que não
constituam delito de acordo com o direito nacional ou internacional, no momento em que
foram cometidos. Tão pouco? poder-se-á impor pena mais grave do que a aplicável no
momento da ocorrência do delito. Se, depois de perpetrado o delito, a lei estipular a
imposição de pena mais leve, o delinquente deverá dela beneficiar-se.
No entanto, a retroactividade das leis é admissível quando ela favorece o cidadão, conforme
resulta, por exemplo, do artigo 57 da Constituição da República.
G. O direito à protecção da vida privada
O direito à protecção da vida privada representa a dimensão moral da dignidade humana,
porquanto o conhecimento e/ou a revelação de certos aspectos da vida da pessoa pode pôr em
causa sentimentos profundos do seu ser,
Normalmente, aparecem como integrando o âmbito da intimidade privada aspectos relativos à
saúde da pessoa, à vida familiar e ao próprio domicílio da pessoa, bem como a sua
correspondência, os quais não deverão ser alvo de nenhuma ingerência, a não ser nos casos
previstos na lei. Tal é a realização de buscas no domicílio de um cidadão no âmbito de
investigação criminal que, constituindo uma excepção à protecção contra qualquer ingerência
na vida íntima, só pode ocorrer nos casos previstos na lei processual penal.
Com o advento das tecnologias de informação, a protecção da vida privada inclui o dever de
protecção dos dados pessoais recolhidos por provedores de serviços ou no âmbito de utilização
de documentos electrónicos.
A protecção da privacidade encontra-se, expressamente, referida no artigo 17 do PIDCP.
H. Liberdade de expressão e acesso à informação
A dignidade da pessoa humana inclui uma dimensão moral, a qual respeita ao atendimento de
que a pessoa é um ser que pensa e sente, ou seja, a pessoa humana é dotada de razão e
consciência66. Uma das formas de manifestação da consciência e da razão pessoal é a
emissão de opiniões que expressam o próprio pensamento, baseado em informações que a
sua vida cultural quotidiana lhe propicia. Por isso, de acordo com o artigo 19 do PIDCP,
Toda pessoa terá o direito à liberdade de expressão; esses direito incluirá a liberdade de
procurar, receber e difundir informações e idéias de qualquer natureza, independentemente de
considerações de fronteiras, verbalmente ou por escrito, de forma impressa ou artística, ou
por qualquer meio de sua escolha.
É obrigação do Estado garantir que as pessoas exprimam livremente as suas opiniões e que
lhes é garantido o acesso à informação útil para o exercício da sua cidadania, excepto se a
limitação decorrer da necessidade de defesa de outros direitos ou valores fundamentais.
III. Outros direitos civis e políticos
A enumeração que consta do presente Manual não esgota o leque dos direitos civis e
políticos, pois o simples exame dos instrumentos cuja referência consta do texto revela a
existência de outros direitos civis e políticos. Não foram desenvolvidos direitos como a
protecção contra a tortura e outros tratamentos cruéis, degradantes e desumanos, a protecção
do direito ao reconhecimento da personalidade jurídica individual, a liberdade de circulação
e de residência, a liberdade de pensamento, consciência e religião, a proibição da
propaganda a favor da guerra.
Igualmente, não constam direitos civis e políticos ou proibições pertinentes aos direitos
humanos constantes de outros instrumentos de direitos humanos, aplicáveis a grupos
específicos de indivíduos, como já acontece com a punição contra genocídio, os crimes de
guerra, etc.
IV. Direitos Económicos, Sociais e Culturais
A. Direito de propriedade
Embora não haja consenso na doutrina sobre se o direito de propriedade é um verdadeiro direito humano
ou se o direito de propriedade faz parte de direitos económicos, sociais e culturais69, a doutrina
dominante defende que este é um verdadeiro direito humano inserido nos direitos económicos, sociais e
culturais.
Estado de Direito Social, o direito de propriedade é o direito pleno e exclusivo de usar, fruir e dispor das
coisas próprias, dentro dos limites e restrições estabelecidas na lei.
Os dois pactos internacionais sobre direitos humanos são omissos em relação ao direito de propriedade.
A consagração expressa do direito de propriedade podese encontrar no artigo 17 da Declaração
Universal, segundo a qual todo o indivíduo tem o direito à propriedade, só ou em sociedade com outros,
não podendo dela ser arbitrariamente privado. Este direito foi, igualmente, acolhido nos instrumentos
regionais de protecção dos direitos humanos tais como a Convenção Americana sobre os Direitos
Humanos de 1969 e a Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos de 1981. Porém, tanto a
Convenção Americana sobre os direitos humanos artigo 21 nº 1 como a Carta Africana dos Direitos do
Homem e dos Povos, no seu artigo 14, condicionam o exercício deste direito ao interesse público
nacional e as leis nacionais em geral.
B. Direito ao trabalho e os direitos dos trabalhadores
O direito ao trabalho compreende o direito que todas as pessoas têm de ganhar a vida por
meio de um trabalho livremente aceite 73e escolhido.
Vários instrumentos internacionais de protecção de direitos humanos consagram o direito
ao trabalho, sendo a destacar o artigo 23 nº 1 da Declaração Universal dos Direitos do
Homem, o artigo 6, nº 1, do Pacto Internacional dos Direitos Económicos, Sociais e
Culturais, artigo 26 da Convenção Americana e artigo 15 da Carta Africana dos Direitos
do Homem e dos povos.
C. Direito à segurança social e aos
direitos da família
O PIDESC, no seu artigo 9, reconhece o direito à segurança social incluindo os
seguros sociais. Segundo o Comité dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais,
das Nações Unidas, o direito à segurança social é uma garantia fundamental à
dignidade da pessoa humana quando enfrenta situações da vida, os riscos sociais,
que o privam da sua capacidade de exercício dos demais direitos económicos e
sociais.
D. Direito a um nível de vida suficiente e á saúde
física e mental