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Semiologia nutricional e

avaliação laboratorial

Profª Ms. Janete Ismael Mabuie


2018

Disciplina: Avaliação Nutricional


Semiologia nutricional
• Semiologia é a parte da medicina relacionada ao estudo dos
sinais e sintomas das doenças humanas e animais

 Diagnóstico Subjetivo
• Sinal: observado pelo profissional (Ex.: pele ressecada,
manchas)
• Sintoma: descrito pelo paciente (Ex.: dores abdominais,
cansaço)
Semiologia nutricional
 Exame físico direcionado

 Emagrecimento

 Alteração do apetite

 Aspectos fisionômicos

 Estado de humor

 Alteração dos sistemas orgânicos e grupos musculares

 Formas do abdômen

 Evidências de perda de gordura


Técnicas de exame físico

Cristina Martins, 2008. Nutroclínica


Avaliação de sistemas corporais e tecidos
o Exame físico da cabeça e pescoço
o Inclui face. Ex: assimetria, edema, cor, pigmentação
o Cavidade e mucosa oral. Ex: cor, pigmentação,
dentes, saliva, umidade, oclusão, cáries,
sangramento, lesões
o Couro cabeludo (escalpo) e cabelos. Ex: sinais de
inflamação ou descamação, brilho dos fios, cor e
pigmentação (sinais de bandeira), distribuição e
quantidade, força
o Olhos, nariz e ouvidos, pescoço (tireóide)
Cristina Martins, 2008. Nutroclínica
Avaliação de sistemas corporais e tecidos
o Exame físico da pele
o Cor. Ex: icterícia (pigmentação), púrpura, petéquias
o Integridade da pele. Ex: descamação, úlcera de
decúbito
o Temperatura.
o Umidade. Ex: xerose
o Turgor. Ex: Aparência de celofane (deficiência
proteica)
o Textura. Ex: hiperceratose folicular (areia grudada)

Cristina Martins, 2008. Nutroclínica


Exames laboratoriais

• Fornecem dados bioquímicos para complementar a avaliação


nutricional e evolução do estado nutricional
• Inciso VIII, do art. 4º, da Lei nº 8.234, de 17 de setembro de
1991
• Resolução CFN N° 306/2003, dispõe sobre a solicitação de
exames pelo nutricionista
o Bioética
o Relação paciente-profissional
o Condições socioeconômicas
o Justificativa de necessidade
Dados Bioquímicos
• Objetivo: determinar o que ocorre no interior do corpo

• Amostras de urina e sangue

• Nenhum exame isolado é capaz de levar a um diagnóstico

• Complementa o exame clínico e antropometria ou comprova


suspeitas de deficiências crônicas na ingestão alimentar
• Variações nos exames
Avaliação das condição hídrica
•- Desidratação
o Diarreia, vomito

o Pele ressecada, sem brilho

o Conjuntivas ressecadas

o Pele sem elasticidade (perda de turgor)

o Gengivas e mucosas ressecadas (xerostomia)


Avaliação da condição hídrica
o Falta de turgor (desidratação)
Avaliação das condição hídrica
• Edema
o Sistêmico (anasarca): insuficiência cardíaca, renal, retenção de água e sal,

hipoalbuminemia (albumina sérica < 2,5 mg/dL)

o Localizado: estase venosa ou linfática e posição corporal prolongada sentado ou em pé

• Ascite: pode ser decorrente de depleção proteica (redução da pressão oncótica

dentro dos vasos sanguíneos)


Avaliação das condição hídrica

Cristina Martins, 2008. Nutroclínica


Parâmetros bioquímicos para eletrólitos
Parâmetro Variação Normal Implicações
Potássio (K) 3,5 a 5,0 mEq/l Reduzido: ingestão dietética, diarreia
grave, administração de glicose,
DIURÉTICOS
Elevado: IRC ou aguda, lesão com
esmagamento de tecidos,
DESIDRATAÇÃO

Sódio (Na) 136 a 145 mEq/l Reduzido: AUMENTO DA ÁGUA


CORPORAL, perdas intestinais
Elevado: queimaduras, diabetes,
Síndrome de Cushing, PERDA
EXCESSIVA DE ÁGUA CORPORAL
Desnutrição proteico-calórica
•- “Fácies” informa sobre a repercussão de uma determinada doença na
expressão facial do paciente

Fácies agudo:

Sintomas: exausto, cansado

Sinais: não consegue manter olhos abertos por muito tempo, pois os
músculos orbiculares palpebrais são os primeiros que se cansam

Cuidado!!!: alteração nível de consciência (coma), doença


neurológica, drogas sedativas ou trauma
Desnutrição proteico-calórica
•- Fácies Crônico

Sintoma: paciente parece deprimido, triste, pouco diálogo,


com estado de humor comprometido

Necessária avaliação psicológica para descartar


depressão
Dados bioquímicos X risco nutricional

Parâmetro Nível de risco associado


Albumina < 3,5 g/dL
Colesterol total < 160 mg/dL
Hemoglobina ou Hematócrito Homem: < 14 g/dL ou 42%
Mulher: < 12 g/dL ou <37%
Pré-albumina < 15 mg/dL
Contagem total de linfócitos < 1500 células/mm3
Transferrina < 150 mg/dL
Avaliação da musculatura
•- Face – sinal de “asa quebrada”:
o Atrofia bitemporal – associada a ausência de mastigação. É comum
em pacientes com disfagia e anorexia ou hiporexia
o Perda da bola gordurosa de Bichat bilateral – associa-se a perda de
reserva energética
Avaliação da musculatura
•- Pescoço, tórax, costas e membros superiores e inferiores
Avaliação da musculatura
•- Pescoço, tórax, costas e membros superiores
Avaliação da musculatura
•- Quadríceps da coxa e joelho – capacidade funcional

• Panturrilha
Avaliação das reservas gordurosas
•- Depleção ao excesso

• Gordura da face: sub-orbital e bochecha


o Olhos encovados ou pele flácida ** cuidar com os idosos (flacidez natural)

• Tríceps e bíceps

• Cintura ou abdômen
Abdome
• Abdome escavado reflete a ausência ou privação de
alimentação há algum tempo. Que está associada a
perda de reserva energética e piora do sistema imune
• Nem todo desnutrido apresenta abdome escavado
o Observar história de intervenção cirúrgica

• Notar a presença de “umbigo em chapéu” – perda de


tônus muscular
• Distendido: sinal de ascite (relação com deficiência
proteica ou insuficiência hepática)
Abdome
Estado proteico – avaliação bioquímica
• Principais proteínas utilizadas pelo nutricionista: ALBUMINA,
PRÉ-ALBUMINA E TRANSFERRINA

• Refletem as resposta fisiológicas a lesões, procedimentos


cirúrgicos, estresse e traumas

• Os níveis dessas proteínas diminuem em resposta à fase


aguda da resposta ao estresse  inflamação
Estado proteico – proteínas viscerais
Proteina Variação Normal Implicações
Albumina 3,5 a 5,0 g/dL Níveis Baixos: doença hepática, sind da
má absorção, nefropatias, ascite,
queimaduras
Elevados: desidratação
Pré-albumina 15,1 a 42 mg/dL Níveis Baixos: queimaduras, doença
hepática, inflamação
Elevados: síndrome nefrítica, DRC,
gravidez e linfoma de Hodgkin
Transferrina 200 a 400 mg/dL Níveis Baixos: infecções crônicas,
neoplasias malignas
Elevados: final da gestação, uso de
anticoncepcionais orais e nas hepatites
virais
Fibronectina 220 a 400 mg/Dl Níveis Baixos: inflamação e lesões
Prot. carreadora 2,6 a 7,6 mg/dL Níveis Baixos: pancreatite crônica, fibrose
de retinol cística, ma absorção intestinal, def. Vit A
Elevado: insuficiência renal
Estado proteico – proteínas viscerais
Proteina Variação Normal Implicações
Albumina 3,5 a 5,0 g/dL Níveis Baixos: doença hepática, sind da
má absorção, nefropatias, ascite,
queimaduras
Elevados: desidratação
Pré-albumina 15,1 a 42 mg/dL Níveis Baixos: queimaduras, doença
hepática, inflamação
Elevados: síndrome nefrítica, DRC,
gravidez e linfoma de Hodgkin
Transferrina 200 a 400 mg/dL Níveis Baixos: infecções crônicas,
neoplasias malignas
Elevados: final da gestação, uso de
anticoncepcionais orais e nas hepatites
virais

Prot. 1,43 a 2,86 µmol/L Níveis Baixos: pancreatite crônica, fibrose


transportadora cística, ma absorção intestinal, def. Vit A
de retinol Elevado: insuficiência renal
Estado proteico – proteínas viscerais
Proteina Variação Normal Implicações
Albumina 3,5 a 5,0 g/dL Níveis Baixos: doença hepática, sind da
Depleção leve: 3 a 3,5 g/dL
má absorção, nefropatias, ascite,
Depleção moderada:
queimaduras 2,4 a 2,9 g/dL
Depleção grave:
Elevados: < 2,4 g/dL
desidratação
Pré-albumina 15,1 a 42 mg/dL Depleção
Níveis leve:
Baixos:10-15 mg/dL
queimaduras, doença
hepática,moderada:
Depleção inflamação 5-9,9 mg/dL
Elevados:
Depleção síndrome
grave: nefrítica, DRC,
< 5 mg/dL
gravidez e linfoma de Hodgkin
Transferrina 200 a 400 mg/dL Depleção
Níveis leve:
Baixos: infecções
150-199 mg/dL crônicas,
neoplasias
Depleção malignas 100-149 mg/dL
moderada:
Elevados:
Depleção final <da
grave: 100gestação,
mg/dL uso de
anticoncepcionais orais e nas hepatites
virais

Prot. 1,43 a 2,86 µmol/L Níveis Baixos: pancreatite crônica, fibrose


transportadora cística, ma absorção intestinal, def. Vit A
de retinol
Depleção proteica: < 1,43 µmol/L
Elevado: insuficiência renal
Estado proteico – avaliação bioquímica
• Maior precisão: balanço nitrogenado
• Monitorar a ingestão de proteína por 24h
• Converter a Proteína em Nitrogênio 
N = Ingestão Proteína/ 6,25 g de N
• Determinar a Uréia Urinária (UU)
• Balanço Nitrogenado 

BN = (Ptn ofertada de 24h/6,25) – (Ureia urinária de 24h/2,14) + 4 + outras perdas**

Resultados: normal = 0; crianças e gestante = positivo; risco nutricional = negativo (catabolismo


muscular)

***outras perdas (se houver): diarreia-2,5g; fístula-1 g; queimadura-0,02g/kg até 0,12g/kg (se >30%
da área corporal queimada)
Relacionado ao sistema imunológico e subnutrição

proteica
• Contagem total de linfócitos (CTL): relação com a
subnutrição – não é confiável na avaliação do estado
nutricional do paciente idoso
Interpretação Valores (células/mm³)
Normal 1500 a 5000
Depleção leve 1200 a 1500
Depleção moderada 800 a 1200
Depleção grave <800
Afetado por: lesões, infecções virais, procedimentos cirúrgicos, quimioterapia,
imunossupressores. Descartadas as situações que interferem na redução da
CTL, o paciente pode estar em depleção relacionada a desnutrição.
Alterações físicas relacionadas aos nutrientes
Sinais Relação com alteração nutricional
Cabelos e unhas
Cabelo facilmente arrancável, fino, Deficiência de proteína na maioria das
despigmentado, seco com perda de vezes
brilho
Cabelo escasso Deficiência de proteína, biotina e/ou
zinco; excesso de vit A
Unha coiloníquia/forma de colher Deficiência de ferro (com ou sem
Quebradiças e rugosas anemia)
Pele
Descamante Deficiência de vit A, zinco e/ou ácidos
graxos essenciais
Petéquias e púrpura (hematomas e Deficiência de vit C e/ou K
sangramentos)
Pigmentação amarelada Excesso de caroteno
Hiperceratose folicular (pele em papel de Deficiência de vitamina A e/ou C
areia)
Xantomas (depósitos de gordura) Hiperlipidemia
Cristina Martins, 2008. Nutroclínica
Alterações físicas relacionadas aos nutrientes
Sinais Relação com alteração nutricional
Olhos
Cegueira noturna e xeroftalmia Deficiência de vitamina A
Conjuntiva pálida Anemia por ferro
Face
Em forma de lua cheia (edemaciada) Desnutrição proteica (Kwashiorkor)
Lábios
Estomatite e queilose angular Deficiência de riboflavina (B2)
Boca
Papila lingual atrófica (lisa), edemaciada Deficiência de vitaminas do complexo B
e inflamada
Gengivas sangrantes e esponjosas Deficiência de vitamina C
Ossos
Pernas arqueadas e rosário raquítico Deficiência de vitamina D (rara)

Cristina Martins, 2008. Nutroclínica


Alterações físicas relacionadas aos nutrientes
Deficiência de vitamina A
- Sinais: xeroftalmia, cegueira noturna, fotofobia, ceratomalácia e manchas de
Bitot
-Xeroftalmia: ausência de secreção que lubrifica a córnea, seca, edemaciada e
inflamada
-Ceratomalácia: piora da xeroftalmia, córnea ulcerada, amolecida e infectada
Deficiência de vitamina A
- Bioquímico:

Proteína ligadora de retinol (RBP), transporta a vitamina A (retinol) pelo sangue. Pode estar
reduzida na deficiência de vitamina A:

referência normal no soro: 30 a 60 mg/L ou de 1,43 a 2,86 µmol/L

Retinol sérico:

referência normal no soro: 0,30 a 0,70 mg/L


Pelagra
- Doença dos três “Ds” – Deficiência de vitamina B3 (niacina)

- dematite eritematosa, diarreia e demência


-As lesões na pele tornam-se ásperas e rugosas, podendo até evoluir
para ulceração e infecção
Escorbuto – a peste dos mares
- Deficiência de vitamina C (ácido ascórbico)
-Sinais: alterações patológicas nos dentes e nas gengivas, tendência à
hemorragia resultante de vasos sanguíneos enfraquecidos (petéquias e
equimose), cicatrização deficiente de feridas, ulcerações e artropatia
-Pode ocorrer: hiperceratose folicular e faqueza muscular intensa
Beribéri
- Deficiência de vitamina B1 (tiamina)
-Sintomas principais: rigidez e cãimbras musculares, edema de face e
extremidades, confusão mental, oftalmoplegia (paralisia do nervo motor ocular)
e ataxia (não coordenação dos músculos voluntários)
-Encefalopatia de Wernickie (associada ao alcoolismo): confusão mental, ataxia
e oftalmoplegia
Anemia
- Sinais: palidez cutânea nas regiões palmoplantares, mucosas labial e
conjuntival
-Causas diversas: doenças hematológicas, deficiências de ferro, vit B12 ou ácido
fólico, doenças hepáticas, renais e hipotireoidismo, desnutrição
-Sintoma: cansaço, letargia, apatia, fadiga
Anemia

• Ferropriva  Ferro

• Megalobástica  Folato e Vit. B12

• Perniciosa  B12

• Falciforme

• Hemolítica

• Talassemia
Anemia
Hemograma – Serie Vermelha

Homens: 4,4 a 5,8


Mulheres: 3,9 a 5,2 Homens: 13,8 a 17,2
Mulheres: 12,0 a 15,6 Homens: 41 a 50
Mulheres: 35 a 46
Hemograma – Série Vermelha

Ou VCM: Tamanho das hemácias

Normais: 84 a 92 fentalitros

< 84: microcítica  Deficiência de Ferro

> 92: macrocítica  Deficiência de B12 ou Folato

Normocitica  ambas as deficiências ou doenças ou


infecções crônicas
Hemograma – Série Vermelha

Ou HCM: quantidade média de hemácias ou


eritrócitos

Normais: 28 a 32%
< 28: em valores normais de ferro
> 32: hemolítica ou carencial de ferro
Hemograma – Série Vermelha

Ou CHCM: concentração de hemoglobina corpuscular


média

Normais: 32 a 36 g/dL
< 32: anemia hipocrômica
Normal: B12 e/ou folato
Ampla distribuição de células vermelhas no sangue
Normais: 11 a 14%
>14%: deficiência B12 e/ou folato
Hemograma – Serie Branca
Valores normais: 3.600 a 11.000 leuc/mm3

Redução: leucopenia  uso de anti-inflamatórios,


quimioterápicos; dengue
Elevação: leucocitose  estresse orgânico (cortisol),
pós operatório, inflamação
Hemograma – Serie Branca

Originados através dos neutrófilos;


Se a % de Bastões for 10% superior aos
Segmentados  Infecção
Valores normais: 15 a 45%
Elevados: em crianças; infecção viral e leucemias
Hemograma – Série Branca

Valores normais: 1 a 5%
Elevados: parasitoses, processos alérgicos

Valores normais: 3 a 10%


Elevados: infecção bacteriana ou viral
Hemograma – Série Branca

Processo de coagulação sanguínea  reparação de


tecidos

Valores normais: 150.000 a 450.000


< 10.000 plaq/uL  risco de morte por sangramentos
Hemograma completo

Pancitopenia
Icterícia
Impregnação de pigmentos biliares na pele e nas mucosas
(principalmente esclerótica e sublingual)

** Não tem relação com a coloração amarela/laranjada de


pessoas que consomem bastante carotenoides e drogas,
pois nestes casos a esclerótica é normal
Icterícia
• Função hepática alterada
• Obstrução do fluxo biliar
• Colestase intra-hepática
• Hepatite
• Cirrose

Parâmetro Variação Normal

Bilirrubina Total 0,20 a 1,0 mg/dL


> 2,5 mg/dL
Bilirrubina Direta 0,00 a 0,20 mg/dL

Bilirrubina Indireta 0,20 a 0,80 mg/dL


Como é o formato da guia particular de solicitação?

Logo da clínica ou do profissional

Sr (a):
Solicito os seguintes exames laboratoriais para acompanhamento nutricional
-Hemograma completo
-Proteína total e frações (albumina e globulina)
-Transferrina
- Colesterol total e frações (HDL, LDL e VLDL)
- Glicemia
- Creatinina sérica
- Ureia sérica
- Ácido úrico sérico

Ana Cláudia Thomaz


Nutricionista CRN 0000/PR
Ou guias próprias dos planos de saúde. Ex:

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