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DIREITO

PROFESSOR: RICARDO MACAU


OBJETIVO DA AULA: Preparar o candidato ao CACD para as provas de primeira (prova objetiva) e de
segunda (prova discursiva) fases.
PONTOS DO EDITAL ABORDADOS: 1.

AULA 03 – Normas jurídicas (continuação)

Relembrando...

 Teoria Pura do Direito (Hans Kelsen) – Direito como uma ciência pura, apenas compatível
com a norma superior (LEI Fundamental).

 Teoria do Ordenamento Jurídico (Norberto Bobbio) – Complementa anterior. Traz solução


para as antinomias (conflitos entre normas jurídicas) com base no próprio ordenamento
jurídico. Há três critérios de solução:

1. Hierárquico; Há revogação.
2. Especialidade; OBS: Lei especial não revoga, mas prevalece e coexiste com a lei geral.
3. Cronológico; Há revogação.

Bobbio defende que o ordenamento jurídico tem duas características estruturais as quais lhe
conferem funcionalidade:

1) O ordenamento jurídico é harmônico, o que significa que as antinomias serão solucionadas por
meio de critérios presentes no próprio ordenamento jurídico;

2) O ordenamento jurídico é completo. Logo, situações de ausência de leis (lacunas) são


solucionadas por meio do emprego de instrumentos presentes no próprio ordenamento
jurídico: os chamados meios de integração ou meios de colmatação do ordenamento jurídico.

LACUNAS (Art. 4º LINDB)

As lacunas correspondem a situações em que o aplicador do Direito constata a ausência de normas


jurídicas aplicáveis a um caso concreto.

Em razão da completude do ordenamento jurídico, verifica-se que as lacunas são solucionadas


mediante o emprego de ferramentas previstas no próprio ordenamento jurídico. Trata-se dos meios de
integração e dos meios de colmatação do ordenamento jurídico.

Com efeito, o art4 da Lei de introdução às normas do Direito Brasileiro (LINDB) estabelece três
meios de integração que o juiz do caso concreto poderá empregar para solucionar lacunas.

Art. 4º - Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de


acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de
direito.
 Analogia -> emprego de uma lei que trate de uma situação próxima daquela apreciada pelo juiz e
em relação à qual se verificou a existência de lacuna. Ex.: não há lei no Brasil para regular acidente
de elevador. Quando há um acidente do tipo, o juiz usa a lei de outro meio de transporte (aéreo,
por exemplo).

 Costumes -> o costume é conceituado como sendo práticas reiteradas no tempo e no espaço. Ex:
não havia lei que falasse de cheque pré-datado. O juiz poderia julgar que esperar a data para fazer
a cobrança seria o correto, já que era uma prática reiterada.

 Princípios Gerais do Direito -> entende-se por princípios gerais do direito: valores que permeiam
todo o ordenamento jurídico e que informam a elaboração das leis que integram o ordenamento.
Exemplos:

 Princípio da boa-fé nas relações jurídicas;


 Princípio da proibição de extrair vantagens da própria torpeza;
 Princípio do respeito à pessoa humana;
 Princípio “Pacta Sunt Servanda” (o acordado se torna lei entre as partes);
 Etc.

OBS: a doutrina defende que o juiz do caso concreto deverá solucionar as lacunas do ordenamento jurídico
empregando os meios de colmatação do ordenamento conforme a ordem prevista na redação do artigo 4º
da LINDB: primeiro deve tentar empregar a analogia, depois o costume e, por fim, os princípios gerais do
direito.

 IMPORTANTE: No Direito Interno e no Direito Internacional, o costume tem enquadramentos


distintos.

 No Direito interno, o costume não é fonte do Direito, ou seja, não cria normas jurídicas. O
costume é considerado um meio de colmatação ou de integração do ordenamento, o que
significa que apenas poderá ser empregado no julgamento de casos concretos em que se
verifica a existência de lacunas (art. 4º, LINDB).

 No Direito Internacional, o art. 38 do Estatuto da Corte Internacional de justiça (CIJ) prevê


expressamente que o costume é fonte do DI, isto é, cria normas jurídicas que vinculam os
Estados soberanos e demais sujeitos internacionais no âmbito das relações jurídicas regidas
pelo DIP.

“VACATIO LEGIS” ou VACÂNCIA DA LEI (Art. 1º da LINDB)

Art. 1º - Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em


todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente
publicada.
A “vacatio legis” é definida como sendo o período de vacância da lei, ou seja, o período em que
uma determinada lei já foi publicada (já ingressou no ordenamento jurídico), mas ainda não adquiriu
vigência. A vigência de uma lei é a aptidão para aplicar a lei em casos concretos. O emprego de “vacatio
legis” tem a finalidade de postergar o início da vigência de uma nova lei para que as pessoas e os órgãos
públicos possam se adaptar e possam, consequentemente, cumprir as determinações da nova lei.

O art. 1º da LINDB estabelece a seguinte disciplina jurídica para a “vacatio legis” (situação em que
uma nova lei já foi publicada, mas ainda não adquiriu vigência):

 Regra geral -> a própria lei deverá definir o início de sua vigência. Assim, é possível que
existam leis que não tenham “vacatio legis” na hipótese de existir previsão d vigência
imediata da nova lei.

 Exceção -> se a nova lei for silente quanto ao início de sua vigência, deverá ser aplicado o
período de “vacatio legis” previsto no art. 1º da LINDB: a nova lei irá adquirir vigência
simultânea em todo território nacional após 45 dias da sua publicação.

IMPORTANTE: O art.1º, § 1º da LINDB estabelece que o período de vacatio legis da lei brasileira, quando
aplicada em Estado estrangeiros, é de 3 meses após a publicação:

o
Art. 1º,§ 1 Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei
brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de
oficialmente publicada.

REVOGAÇÃO DE LEIS
A revogação de uma lei ocorre diante da hipótese de existir uma antinomia que será solucionada
mediante o emprego de dois critérios de solução:

1. Critério hierárquico: a lei superior revoga a lei inferior;


2. Critério cronológico: a lei recente revoga a lei anterior.

 PEGADINHA: na hipótese de emprego do critério da especialidade para solucionar antinomia, a lei especial
irá prevalecer, e não revogar a lei geral, conforme determina o art. 2º, § 2º da LINDB:

Art. 2º,§ 2o A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou


especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei
anterior.
A doutrina aponta dois critérios para classificar os tipos de revogação possíveis:

1. Quanto à extensão – com base nesse critério, há dois tipos de revogação:

a) Revogação total ou Ab-rogação: toda a lei é revogada por outra;


b) Revogação parcial ou Derrogação: apenas parte da lei é revogada por outra lei.
Para lembrar: Ab = todo; De = dedução por parte.

2. Quanto à forma – esse critério permite identificar duas formas de revogação:

a) Revogação expressa: a lei revogadora indica expressamente em seu texto qual é a lei que será
revogada, ou seja, que será retirada do ordenamento jurídico.
b) Revogação tácita: ocorre na hipótese em que não existe previsão expressa de revogação entre
leis. Caberá ao juiz, que julga casos concretos, identificar antinomias entre leis que incidem
nesse caso concreto e aplicar os critérios hierárquico ou cronológico de solução de antinomia.

 LEITURAS

Leituras Obrigatórias: Caderno de aula; Código Civil; Edital do CACD; e Questões anteriores sobre o tema da
aula (bancas do CESPE/CEBRASPE e IADES).
Leituras Complementares: Capítulo correspondente do livro: SUNDFELD, Carlos Ari, Fundamentos de Direito
Público, Ed. Malheiros.

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