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FACULDADE DE ILHÉUS

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DE ILHÉUS

DANIEL CARVALHO, ESTER CAMPOS, LIVYA PITA, NATÃ BARBOSA

USO DAS HIPOTESES E VARIAVEIS NA FORMULAÇÃO DE


PERGUNTAS

Ilhéus-BA
2022
KOCHE, José Carlos. Problema, hipóteses e variáveis. In: KOCHE, José Carlos.
Fundamentos de metodologia científica: teoria da ciência e iniciação à pesquisa.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2011. p. 105-119.

José Carlos Köche é licenciado em Filosofia pela Universidade de Caxias do


Sul, pós-graduado em Planejamento da Educação pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, especialista em Metodologia da Pesquisa e Estatística, e Doutor em
Filosofia e Letras pela Pontifícia Universidade de Salamanca. Atualmente, além das
atividades de docência e pesquisa, é Pró-Reitor de Planejamento e de
Desenvolvimento Institucional da Universidade de Caxias do Sul.

A ciência é um processo investigativo norteado por fatos, dúvidas e


situações, que geram perguntas e hipóteses. No entanto ela não se reduz à mera
observação, ela traz em si as conjeturas, o conhecimento e as vivencias do
pesquisador, como afirma Cohen, “sem alguma ideia que nos oriente, não podemos
saber que fatos coletar. Sem algo que se pretenda provar, não podemos determinar
o que é relevante e o que não é relevante” (1965, p. 148). De maneira que “É mito a
observação inocente, sem preconceitos”, afirma.
Delimitar um problema é um passo importante na pesquisa, significa fazer as
perguntas certas, para saber o caminho a ser seguido. “Um problema é uma questão
que pergunta como as variáveis estão relacionadas”, afirma Kerlinger (1980, p. 35).
As perguntas norteadoras da pesquisa devem ser “inteligentes”, aquela que traz em
si os possíveis caminhos que devem ser seguidos pelo investigador, substituindo a
incógnita por uma outra variável. O problema é então a relação existente entre, ao
menos, duas variáveis. Ao delimitar o problema o investigador vai relaciona-lo com
os conhecimentos que tem, fazendo conjeturas sobre as possibilidades e soluções.
Ao buscar as relações entre as variáveis determinadas o investigador
construirá suas hipóteses, que representam então a parte essencial da pesquisa, os
verdadeiros `fatores produtivos’, sendo objetivo da pesquisa corroborar ou refutar as
hipóteses levantadas. Tuckman (1972, p. 24) e Kerlinger (1980, p. 38) apontam três
características das hipóteses: ser um enunciado de redação clara em forma de
sentença declarativa, estabelecer relações entre duas ou mais variáveis, e ser
testável. A testabilidade é a única forma de comprovação das hipóteses. Existem
situações que fazem a pesquisa fugir a testabilidade, com não fazer suposições, se
limitar aos fenômenos, e utilizar hipóteses vagas sem que se possa chegar a alguma
conclusão, levantar hipóteses sobre objetos incompreensíveis, bem como utilizar
hipóteses ad hoc, que sendo abstratas necessita ser levada a detalhes para poder
ser testada. Sendo esse um ponto importante da pesquisa, pois um enunciado que
não for testável, não tem valor científico, a não ser para sugerir um problema.
As hipóteses são classificadas por Bunge (1969, p. 283-284), de acordo com
o que as fundamenta, em quatro níveis: ocorrências, empíricas, plausíveis e
convalidadas. As ocorrências são hipóteses primarias sem bases em experiencias
ou evidencias existentes, se trata da experiência em um estágio primitivo, podendo
ser instrumento desencadeador da pesquisa. As hipóteses empíricas partem de
algumas evidências preliminares, porém sem grande consistência lógica. As
hipóteses plausíveis são as que se inter-relacionam com as teorias existentes de
uma forma consistente, coerente, lógica corroborando ou refutando teorias
preexistentes, porém limita-se aos caminhos percorridos sem buscar novos
horizontes. As hipóteses convalidadas são as que promovem os maiores e mais
seguros avanços, pois se baseiam em estudos anteriores e evidências empíricas da
realidade, sem se limitar a constatação dos fatos, ousa novas relações entre os
conhecimentos de forma consistentes, coerentes e passíveis de teste.
Existe uma relação direta entre as hipóteses e variáveis. As variáveis são
características e aspectos individuais que serão atribuídas ao objeto de estudo,
levando em consideração as características que são constantes do objeto. Segundo
Tuckman 1972, p. 36-51) as variáveis podem ser classificadas de acordo com a
relação que expressam, sendo nomeadas como independentes, dependentes,
moderadas, de controle e intervenientes. As variáveis independentes são uma
condição ou causa determinante para que ocorra um determinado resultado. Já as
variáveis determinantes vão ser apresentadas como efeito ou resultado da
manipulação da variável independente. A moderadora, que está situada em um nível
secundário, é considerada um fator que também é uma condição determinante para
que ocorra um determinado efeito. Ela vai modificar a relação entre as variáveis
independente e dependente, diferente da variável de controle que é uma
propriedade com capacidade de afetar a variável dependente, porém, pode ser
anulada ou neutralizada para não causar interferência na relação entre as variáveis
dependente e independente. Ao contrário das demais, é apresentada a variável
interveniente, a qual não pode ser manipulada. Será um fator que teoricamente
afetará o fenômeno observado, geralmente não considerado pelos pesquisadores
por ser hipotético, teórico e não-concreto.
A partir de teorias e experiencias o pesquisador desenvolve hipóteses,
factuais ou não, e constrói conceitos, que expressam a ideia ou fenômeno
observado. Este deve ser constituído de linguagem clara e objetiva, expressando da
forma mais exata possível o que deseja representar. Quando se constrói
intencionalmente significados, aplicáveis de forma específica a elementos reais essa
representação se chama construto e tem o objetivo de evitar ambiguidades na
interpretação dos conceitos, pois que delimita suas significações.
Ao se aplicar os conceitos e construtos às experiencias práticas construímos
definições, a fim de delimitar significados evitando repetir caminhos já percorridos.
Segundo Hempel (1970, p. 110), as definições têm a finalidade de “enunciar ou
descrever o que se aceita como significado (...)”. A definição de um conceito pode
ser nominal ou operacional. A definição nominal, que pode ser descritiva,
constitutiva, estipulativa, real, ou outra, especifica, utilizando um referencial teórico
pertinente, as propriedades e características empíricas que um conceito contém, é a
substituição de um termo que deve ser definido por outros que já possuem um
significado claro. A definição operacional indica a ação ou a operação pela qual o
significado do construto se manifesta. Ela indica a atividade ou o comportamento
que pode ser observado para se constatar a existência do construto Contudo,
existem críticas as definições operacionais Popper (1975, p. 501; 1977, p.105 e 149-
157) o considera desnecessário e propõe o uso dos enunciados básicos. “que
podem atuar como premissa numa falsificação empírica; em suma, o enunciado de
um fato singular”. Com a utilização dos enunciados básicos pode-se testar uma
teoria submetendo-a à prova. Se os falseadores potenciais forem confirmados, a
hipótese será rejeitada. Se os falseadores potenciais forem rejeitados, a hipótese
não será rejeitada. O uso de qualquer uma dessas formas de definição ou o uso de
enunciados básicos é exigência para que se traduza o construto, a variável ou o
enunciado conceitual das teorias ou das hipóteses. Preferentemente, devem ser
utilizadas hipóteses que tenham consistência interna e que encontrem algum marco
teórico onde se apoiar. Elas devem estabelecer com a máxima clareza as possíveis
relações do fenômeno investigado de tal forma que ofereçam condições cruciais de
testabilidade empírica, e análise das hipóteses. Sem hipóteses não há o quê e nem
como pesquisar.

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