1 – Conforme teoria majoritária no Brasil, a aquisição de produto para uso profissional,
por si só, descaracteriza o contrato de consumo? Como fica o seguintes casos: 1.1 - aquisição de veículo zero quilômetro para uso profissional como taxista: Tratando-se de profissional autônomo, que enfrenta o mercado em situação vulnerável, será relação de consumo. 1.2 - o costureiro que compra a máquina de bordar para exercer sua atividade: Mesmo critério do item anterior. 1.3 – a agrônoma produtora agrícola quando compra sementes ou defensivos agrícolas para o implemento de sua atividade produtiva: Há considerável divergência. Como a lei não esclarece, a jurisprudência constrói correntes. Há entendimento majoritário de que em se tratando se insumos para a atividade econômica, a corrente majoritária irá se ater mais ao fato de as sementes representarem o produto final que será consumido pelo consumidor. Quem paga o preço unitário final da semente é o consumidor. Obs.: há respeitável entendimento de que pequenos produtores são vulneráveis.
Compra e venda de insumos agrícolas por produtor rural – inexistência de
relação de consumo – competência do domicílio do réu “O contrato de compra e venda de insumos agrícolas firmado por produtor rural não configura relação de consumo, motivo pelo qual a competência é definida pela regra geral do domicílio do réu, no caso, do fornecedor.” (Acórdão 873163, Relator Des. FERNANDO HABIBE, 4ª Turma Cível, data de julgamento: 4/9/2013, publicado no DJe: 16/6/2015)
STJ. Inaplicabilidade do CDC ao produtor rural – descabimento
da inversão do ônus da prova
"Esta Corte Superior consolidou o entendimento no sentido de que no contrato
de compra e venda de insumos agrícolas, o produtor rural não pode ser considerado destinatário final, razão pela qual, nesses casos, não incide o Código de Defesa do Consumidor. Ausente a relação de consumo, torna-se inaplicável a inversão do ônus da prova prevista no inciso VIII do art. 6º, do CDC, a qual, mesmo nas relações de consumo, não é automática ou compulsória, pois depende de criteriosa análise do julgador a fim de preservar o contraditório e oferecer à parte contrária oportunidade de provar fatos que afastem o alegado contra si. (...)”. AgInt no REsp 1657303/SP 2 – João comprou um carro particular de Rafael. Por defeitos não informados no veículo, João ingressou com ação requerendo a devolução do dinheiro ou a resolução do problema por Rafael, com base no artigo 18 do CDC. Requereu a inversão do ônus de prova. Pergunta-se: está correta a técnica adotada pelo advogado de João? Explique:
3 - (Exame Unificado da OAB nº 02/2009) Joana adquiriu um aparelho de
telefone em loja de eletrodomésticos e, juntamente com o manual de instruções, foi-lhe entregue o termo de garantia do produto, que assegurava ao consumidor um ano de garantia, a contar da efetiva entrega do produto. Cerca de um ano e um mês após a data da compra, o aparelho de telefone apresentou comprovadamente um defeito de fabricação. Em face dessa situação hipotética, assinale a opção correta acerca dos direitos do consumidor. A) A lei garante a Joana a possibilidade de reclamar de eventuais defeitos de fabricação a qualquer tempo, desde que devidamente comprovados. B) Após o prazo de um ano de garantia conferida pelo fornecedor, Joana não poderá alegar a existência de qualquer defeito de fabricação. C) Joana poderá reclamar eventuais defeitos de fabricação até o prazo de noventa dias após o final da garantia contratual conferida pelo fornecedor. D) O prazo para Joana reclamar dos vícios do produto é de apenas noventa dias, a partir da entrega efetiva do produto, independentemente de prazo de garantia.
4 – O que deverá fazer o fornecedor se, após colocado no mercado
determinado produto, vir a ser constatado algum defeito ou fator de periculosidade no produto? Qual a sua responsabilidade perante o consumidor?
Art. 10. O fornecedor não poderá colocar no mercado de consumo
produto ou serviço que sabe ou deveria saber apresentar alto grau de nocividade ou periculosidade à saúde ou segurança.
§ 1° O fornecedor de produtos e serviços que, posteriormente à sua
introdução no mercado de consumo, tiver conhecimento da periculosidade que apresentem, deverá comunicar o fato imediatamente às autoridades competentes e aos consumidores, mediante anúncios publicitários.
Recall de montadoras de veículos.
5 – Rubens quer comprar um televisor e inicia uma pesquisa online a fim de encontrar preços promocionais. Ao entrar no site do fornecedor “Eletrônicos Ltda.”, deparou com um modelo de TV Smart 52 polegadas, por R$ 1.270,00 (leia-se R$ 1.350,00). Rapidamente, Rubens iniciou o procedimento de cadastro para efetuar a compra. Ao finalizar o cadastro, clicou no produto para comprar, porém, sempre que clicava, abria uma nova janela com preço superior: R$ 6.350,00. Repetitivamente o consumidor realizou tentativas, mas sem êxito, sempre que clicava o valor aumentava. Inconformado, Rubens fez “backup” das imagens e ingressou com ação junto ao Juizado Especial Cível pleiteando pelo princípio da informação e da vinculação, pois estava sendo oferecido o aparelho de TV smat 52 polegadas por R$ 1.350,00, o que representava um desconto de 80% no valor original do produto. Em sua defesa o fornecedor “Eletrônicos Ltda.” alegou que houve um erro, e que o valor de venda do produto era realmente o de R$ 6.350,00. Pergunta: como deve ser julgado o caso? Explique seu posicionamento de forma fundamentada:
Ex: Preço errado confundido com oferta não gera indenização - Migalhas
Carrefour não precisa vender iPhone por preço anunciado errado - Migalhas
6 – Quando retornava da escola, Ana Maria, uma adolescente de 12 anos, foi
atravessar uma rua onde, por coincidência, estava ocorrendo um roubo em uma loja de joias. O segurança particular da loja estava armado e, tentando deter os assaltantes, disparou com sua arma e atingiu Ana Maria, deixando-a tetraplégica. Os pais de Ana Maria procuram um advogado para ingressar com uma ação indenizatória. Pergunta-se: como deve ser fundamentada essa ação? Contra quem Ana Maria deve promover a ação?
Tiroteio na rua
No REsp 1.732.398, de relatoria do ministro Marco Aurélio Bellizze, uma jovem
pediu indenização por danos materiais, morais e estéticos em decorrência de ter sido baleada aos 12 anos de idade, quando retornava da escola e passava por uma rua onde havia começado um tiroteio. A troca de tiros ocorreu porque os seguranças privados contratados pelos donos das lojas instaladas no local reagiram a uma tentativa de roubo, e um dos tiros atingiu a jovem, deixando-a tetraplégica. O tribunal estadual fixou o valor das indenizações por danos morais e estéticos em R$ 450 mil cada. A decisão foi confirmada pela Terceira Turma do STJ em razão da “gravidade das lesões sofridas pela autora, que revelam, por si sós, a existência de ofensa à sua integridade física, psíquica e emocional, não apenas porque dependerá, muito frequentemente, da ajuda de terceiros ou de recursos tecnológicos, não raramente de elevado custo, para realizar os atos mais simples do dia a dia, mas também porque, juntamente com sua saúde, o disparo de arma de fogo afetou grande parte dos seus sonhos, roubou-lhe a juventude e a impediu de desfrutar da própria vida de maneira plena, com reflexos de ordem pessoal, social e afetiva” – conforme apontou Bellizze. Os comerciantes sustentaram que o crime de roubo à mão armada caracterizava fortuito externo e os tiros que atingiram a vítima foram disparados pelos assaltantes. Segundo Bellizze, “ao reagirem de maneira imprudente à tentativa de roubo à joalheria, dando início a um tiroteio, os vigilantes frustraram a expectativa de segurança legitimamente esperada, a qual foi agravada, no caso, uma vez que a autora foi atingida por projétil de arma de fogo, sendo o fato suficiente para torná-la consumidora por equiparação, ante o manifesto defeito na prestação do serviço”. A causa que produziu o dano, de acordo com o ministro, não foi o assalto, “que poderia ter se desenvolvido sem acarretar nenhum dano a terceiros, mas a deflagração do tiroteio em via pública pelos prepostos dos réus, colocando pessoas comuns em situação de grande risco, o que afasta a caracterização de fortuito externo”, além de os vigilantes terem atuado coletivamente “para a produção do resultado lesivo, advindo não dos disparos em si, mas da ação que desencadeou o conflito armado. Daí a responsabilização dos estabelecimentos pelos danos ocorridos”.