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FACULDADES INTEGRADAS DE BAURU – FIB

DIREITO DAS RELAÇÕES DE CONSUMO


PROF. MS. TALES MANOEL LIMA VIALÔGO

TURMA DO 3º ANO DO CURSO DE DIREITO – 2021

RESOLUÇÃO DE QUESTÕES:

1 – Conforme teoria majoritária no Brasil, a aquisição de produto para uso profissional,


por si só, descaracteriza o contrato de consumo? Como fica o seguintes casos:
1.1 - aquisição de veículo zero quilômetro para uso profissional como taxista:
Tratando-se de profissional autônomo, que enfrenta o mercado em situação
vulnerável, será relação de consumo.
1.2 - o costureiro que compra a máquina de bordar para exercer sua atividade:
Mesmo critério do item anterior.
1.3 – a agrônoma produtora agrícola quando compra sementes ou defensivos
agrícolas para o implemento de sua atividade produtiva:
Há considerável divergência. Como a lei não esclarece, a jurisprudência constrói
correntes. Há entendimento majoritário de que em se tratando se insumos para a
atividade econômica, a corrente majoritária irá se ater mais ao fato de as
sementes representarem o produto final que será consumido pelo consumidor.
Quem paga o preço unitário final da semente é o consumidor.
Obs.: há respeitável entendimento de que pequenos produtores são vulneráveis.

Compra e venda de insumos agrícolas por produtor rural – inexistência de


relação de consumo – competência do domicílio do réu
“O contrato de compra e venda de insumos agrícolas firmado
por produtor rural não configura relação de consumo, motivo pelo qual a
competência é definida pela regra geral do domicílio do réu, no caso, do
fornecedor.” (Acórdão 873163, Relator Des. FERNANDO HABIBE, 4ª Turma
Cível, data de julgamento: 4/9/2013, publicado no DJe: 16/6/2015)

STJ. Inaplicabilidade do CDC ao produtor rural – descabimento


da inversão do ônus da prova 

"Esta Corte Superior consolidou o entendimento no sentido de que no contrato


de compra e venda de insumos agrícolas, o produtor rural não pode ser
considerado destinatário final, razão pela qual, nesses casos, não incide o
Código de Defesa do Consumidor. Ausente a relação de consumo, torna-se
inaplicável a inversão do ônus da prova prevista no inciso VIII do art. 6º, do
CDC, a qual, mesmo nas relações de consumo, não é automática ou
compulsória, pois depende de criteriosa análise do julgador a fim de preservar
o contraditório e oferecer à parte contrária oportunidade de provar fatos que
afastem o alegado contra si. (...)”. AgInt no REsp 1657303/SP
2 – João comprou um carro particular de Rafael. Por defeitos não informados no
veículo, João ingressou com ação requerendo a devolução do dinheiro ou a resolução
do problema por Rafael, com base no artigo 18 do CDC. Requereu a inversão do ônus
de prova. Pergunta-se: está correta a técnica adotada pelo advogado de João?
Explique:

3 - (Exame Unificado da OAB nº 02/2009) Joana adquiriu um aparelho de


telefone em loja de eletrodomésticos e, juntamente com o manual de
instruções, foi-lhe entregue o termo de garantia do produto, que assegurava ao
consumidor um ano de garantia, a contar da efetiva entrega do produto. Cerca
de um ano e um mês após a data da compra, o aparelho de telefone
apresentou comprovadamente um defeito de fabricação. Em face dessa
situação hipotética, assinale a opção correta acerca dos direitos do
consumidor.
A) A lei garante a Joana a possibilidade de reclamar de eventuais defeitos de
fabricação a qualquer tempo, desde que devidamente comprovados.
B) Após o prazo de um ano de garantia conferida pelo fornecedor, Joana não
poderá alegar a existência de qualquer defeito de fabricação.
C) Joana poderá reclamar eventuais defeitos de fabricação até o prazo de
noventa dias após o final da garantia contratual conferida pelo fornecedor.
D) O prazo para Joana reclamar dos vícios do produto é de apenas noventa
dias, a partir da entrega efetiva do produto, independentemente de prazo de
garantia.

4 – O que deverá fazer o fornecedor se, após colocado no mercado


determinado produto, vir a ser constatado algum defeito ou fator de
periculosidade no produto? Qual a sua responsabilidade perante o
consumidor?

Art. 10. O fornecedor não poderá colocar no mercado de consumo


produto ou serviço que sabe ou deveria saber apresentar alto grau de
nocividade ou periculosidade à saúde ou segurança.

§ 1° O fornecedor de produtos e serviços que, posteriormente à sua


introdução no mercado de consumo, tiver conhecimento da
periculosidade que apresentem, deverá comunicar o fato imediatamente
às autoridades competentes e aos consumidores, mediante anúncios
publicitários.

Recall de montadoras de veículos.


5 – Rubens quer comprar um televisor e inicia uma pesquisa online a fim de
encontrar preços promocionais. Ao entrar no site do fornecedor “Eletrônicos
Ltda.”, deparou com um modelo de TV Smart 52 polegadas, por R$ 1.270,00
(leia-se R$ 1.350,00). Rapidamente, Rubens iniciou o procedimento de
cadastro para efetuar a compra. Ao finalizar o cadastro, clicou no produto para
comprar, porém, sempre que clicava, abria uma nova janela com preço
superior: R$ 6.350,00. Repetitivamente o consumidor realizou tentativas, mas
sem êxito, sempre que clicava o valor aumentava. Inconformado, Rubens fez
“backup” das imagens e ingressou com ação junto ao Juizado Especial Cível
pleiteando pelo princípio da informação e da vinculação, pois estava sendo
oferecido o aparelho de TV smat 52 polegadas por R$ 1.350,00, o que
representava um desconto de 80% no valor original do produto.
Em sua defesa o fornecedor “Eletrônicos Ltda.” alegou que houve um erro, e
que o valor de venda do produto era realmente o de R$ 6.350,00.
Pergunta: como deve ser julgado o caso? Explique seu posicionamento de
forma fundamentada:

Ex:
Preço errado confundido com oferta não gera indenização - Migalhas

Carrefour não precisa vender iPhone por preço anunciado errado - Migalhas

6 – Quando retornava da escola, Ana Maria, uma adolescente de 12 anos, foi


atravessar uma rua onde, por coincidência, estava ocorrendo um roubo em
uma loja de joias. O segurança particular da loja estava armado e, tentando
deter os assaltantes, disparou com sua arma e atingiu Ana Maria, deixando-a
tetraplégica.
Os pais de Ana Maria procuram um advogado para ingressar com uma ação
indenizatória. Pergunta-se: como deve ser fundamentada essa ação? Contra
quem Ana Maria deve promover a ação?

Tiroteio na rua

No REsp 1.732.398, de relatoria do ministro Marco Aurélio Bellizze, uma jovem


pediu indenização por danos materiais, morais e estéticos em decorrência de
ter sido baleada aos 12 anos de idade, quando retornava da escola e passava
por uma rua onde havia começado um tiroteio. A troca de tiros ocorreu porque
os seguranças privados contratados pelos donos das lojas instaladas no local
reagiram a uma tentativa de roubo, e um dos tiros atingiu a jovem, deixando-a
tetraplégica.
O tribunal estadual fixou o valor das indenizações por danos morais e estéticos
em R$ 450 mil cada. A decisão foi confirmada pela Terceira Turma do STJ em
razão da “gravidade das lesões sofridas pela autora, que revelam, por si sós, a
existência de ofensa à sua integridade física, psíquica e emocional, não apenas
porque dependerá, muito frequentemente, da ajuda de terceiros ou de recursos
tecnológicos, não raramente de elevado custo, para realizar os atos mais
simples do dia a dia, mas também porque, juntamente com sua saúde, o
disparo de arma de fogo afetou grande parte dos seus sonhos, roubou-lhe a
juventude e a impediu de desfrutar da própria vida de maneira plena, com
reflexos de ordem pessoal, social e afetiva” – conforme apontou Bellizze.
Os comerciantes sustentaram que o crime de roubo à mão armada
caracterizava fortuito externo e os tiros que atingiram a vítima foram disparados
pelos assaltantes.
Segundo Bellizze, “ao reagirem de maneira imprudente à tentativa de roubo à
joalheria, dando início a um tiroteio, os vigilantes frustraram a expectativa de
segurança legitimamente esperada, a qual foi agravada, no caso, uma vez que
a autora foi atingida por projétil de arma de fogo, sendo o fato suficiente para
torná-la consumidora por equiparação, ante o manifesto defeito na prestação
do serviço”.
A causa que produziu o dano, de acordo com o ministro, não foi o assalto, “que
poderia ter se desenvolvido sem acarretar nenhum dano a terceiros, mas a
deflagração do tiroteio em via pública pelos prepostos dos réus, colocando
pessoas comuns em situação de grande risco, o que afasta a caracterização de
fortuito externo”, além de os vigilantes terem atuado coletivamente “para a
produção do resultado lesivo, advindo não dos disparos em si, mas da ação
que desencadeou o conflito armado. Daí a responsabilização dos
estabelecimentos pelos danos ocorridos”.

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