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Caso introdutório:
o dilema da Rede Bahia
A Rede Bahia é uma cadeia de lojas de produtos de higiene e beleza. O presidente da companhia,
Carlos Alberto Santos, quer transformar seus executivos em empreendedores capazes de tocar as
doze lojas da rede como se fossem pequenas empresas independentes. Seu negócio está voltado
para o comércio varejista e atacadista, e a empresa sempre enfrentou as grandes lojas de
departamentos e os supermercados. Para ter sucesso nessa disputa, a agilidade e a flexibilidade
tornaram-se a principal receita. Daí Carlos Alberto ter optado por uma gestão descentralizada,
para
que cada uma das doze lojas de varejo tivesse autonomia total. O passo inicial foi definir com
exatidão qual seria a atividade-fim da empresa: ser uma empresa de comércio de produtos de
higiene e beleza para mulheres, homens e crianças, concluiu Carlos Alberto após ter contratado
um instituto de pesquisa que entrevistou clientes, fornecedores e funcionários para definir a
identidade da empresa. Essa definição foi fundamental, pois os gerentes de lojas chegaram a
vender sabão em pó e brinquedos, o que prejudicou a imagem da empresa. O segundo passo foi
estabelecer um credo que contivesse a missão do negócio e que servisse como bússola para os
gerentes. Em seguida, investiu no desenvolvimento dos executivos para dar-lhes uma visão
generalista e a autonomia necessária. O quarto passo a ser dado por Carlos Alberto seria criar um
sistema altamente motivador de remuneração. Como fazê-lo?
Não basta remunerar as pessoas pelo tempo dedicado à organização. Não basta remunerá-las
pelo que passou.
Isso é necessário, mas insuficiente. É preciso olhar para a frente e incentivá-las continuamente a
fazer o melhor possível, a ultrapassar o desempenho atual e a alcançar metas e resultados
desafiantes formulados para o futuro. A remuneração fixa funciona geralmente como fator
higiênico e insatisfaciente, e não consegue motivar as pessoas para a superação de metas e
objetivos ou para a melhora contínua das atividades. Na verdade, a remuneração fixa foi um
produto do início do século XX para compensar o trabalho rotineiro e repetitivo dos funcionários
em uma época de estabilidade e permanência.
Recompensas e punições
As organizações dispõem de sistemas de recompensas (incentivos e alicientes para estimular
comportamentos
desejados pela organização) e punições (castigos e penalidades – reais ou potenciais – para
coibir certos tipos indesejáveis de comportamento) a fim de balizar o comportamento das pessoas
que delas participam. O sistema de recompensas inclui o pacote total de benefícios que a
organização coloca à disposição de seus membros, bem como os mecanismos e procedimentos
pelos quais estes benefícios são distribuídos. Não apenas salários, férias, prêmios, promoções
para posições mais elevadas (com maiores salários e benefícios) são considerados, mas também
outras recompensas menos visíveis como garantia de segurança no emprego, transferências
laterais para posições mais desafiantes ou para posições que levem ao crescimento, ao
desenvolvimento adicional e a várias formas de reconhecimento pelo desempenho excelente. Por
outro lado, o sistema de punições inclui uma
série de medidas disciplinares que visam a orientar o comportamento das pessoas e evitar que se
desvie dos padrões esperados, bem como prevenir a sua repetição (com advertências verbais ou
escritas), ou ainda, em casos extremos, castigar a reincidência (com suspensão do trabalho) ou
ainda afastar o autor do convívio dos demais participantes (com o desligamento da organização).
O sistema de recompensas e punições é o fator que induz as pessoas a trabalhar em benefício da
organização. Este capítulo se refere às opções de remuneração flexível como recompensas
oferecidas pela organização.
Os principais objetivos das recompensas organizacionais são os seguintes:
• Aumentar a consciência e a responsabilidade do indivíduo e da equipe para com a organização,
isto é, incentivar a consciência da missão organizacional e o espírito de visão de futuro na
empresa.
• Ampliar a interdependência do indivíduo para com a equipe e da equipe para com toda a
organização. Em outras palavras, incentivar o espírito de equipe e o trabalho em conjunto.
• Ajudar a enfatizar a constante criação de valor na organização. Em outras palavras, incentivar
ações que agreguem valor à organização, ao cliente e às próprias pessoas. O desempenho
excelente deve ser premiado.
Os tipos de recompensas financeiras adotados são
os seguintes:4
• Recompensas relacionadas com alcance de objetivos organizacionais: como o lucro ou o
prejuízo. A participação nos resultados anuais ou semestrais é um exemplo deste critério. Embora
ainda limitadas a certos níveis, como diretores e gerentes, este critério encerra potencialmente um
forte impacto motivacional.
• Recompensas vinculadas ao tempo de serviço do funcionário: e que são concedidas
automaticamente em certos intervalos como 5 ou 10 anos, desde que o funcionário não tenha tido
um desempenho insatisfatório. Os quinquênios ou decênios são exemplos deste critério. Tais
incentivos buscam proporcionar incentivo salarial.
• Recompensas relacionadas com desempenho excepcional: exigem apenas diferenciação no
desempenho e melhorias salariais com valor motivacional. É o aumento por mérito.
• Recompensas relacionadas com resultados departamentais, divisionais ou mesmo
globais:
objetivamente quantificáveis. Podem ser compartilhadas pela equipe, em termos de igual
porcentagem com relação à base salarial de cada pessoa.
• Recompensas relacionadas com aumento de competências no sentido de incrementar o
aprendizado e a construção de novas competências.
Avaliação crítica: o que vale é somente o dinheiro?
O dinheiro é um fator que pode motivar as pessoas desde que utilizado de maneira apropriada. A
recompensa financeira deve ser oportuna, no tempo certo e na medida certa. Contudo, as
recompensas não financeiras representam enorme oportunidade para as organizações motivarem
os colaboradores. Reconhecimento, aprovação social, atendimento às expectativas, clima
organizacional no ponto certo, tapinhas nas costas e camaradagem são altamente motivadores.
O sistema de recompensas e punições deve se basear
nos seguintes aspectos:
1. Realimentação (retroação): deve contribuir como reforço positivo do comportamento
desejado. A
realimentação deve reforçar, fortalecer e incrementar o desempenho excelente.
2. Relacionar as recompensas oferecidas com os resultados alcançados.
O sistema de recompensas deve levar em conta o conceito de reforço positivo de Skinner: todo
comportamento
é determinado pelas suas consequências. O reforço positivo se fundamenta em dois princípios
básicos:
1. As pessoas procuram desempenhar as atividades pelas quais obterão maiores recompensas ou
benefícios.
2. As recompensas obtidas atuam no sentido de reforçar cada vez mais a melhora do
desempenho.
O reforço positivo é orientado para os resultados desejados. A teoria do reforço positivo considera
que as pessoas se comportam por uma das duas razões:
1. Porque um tipo ou nível de desempenho é consistentemente recompensado.
2. Porque um padrão de desempenho específico já foi recompensado, de maneira que será
repetido na expectativa de que a recompensa se repita.
Relações de intercâmbio
A recompensa ou o incentivo é uma gratificação tangível ou intangível, em troca da qual as
pessoas se tornam membros da organização (decisão de participar) e, uma vez na organização,
contribuem com tempo, esforço ou outros recursos pessoais (decisão de desempenhar). A
organização precisa cuidar da balança dos incentivos-contribuições.5 E o que significa essa
balança? Que as pessoas e as organizações estão engajadas em um sistema de relações de
intercâmbio: as pessoas fazem contribuições à organização e dela recebem incentivos ou
induzimentos. Assim:
• Para as pessoas, as contribuições que elas fazem à organização representam investimentos
pessoais que devem proporcionar certos retornos na forma de incentivos ou recompensas.
• Para a organização, os incentivos representam investimentos que também devem proporcionar
retornos na forma de contribuições das pessoas.
Avaliação crítica: remuneração fixa é
motivadora?
Em uma era de competitividade, a remuneração fixa tornou-se insuficiente para motivar e
incentivar as pessoas, obter um comportamento proativo, empreendedor e eficaz na busca de
metas e resultados excelentes. Daí, a adoção de novos modelos de remuneração, como a
remuneração variável e por competência.
Prós e contras: remuneração fixa
Prós
• Facilita o equilíbrio interno (consistência dos salários na organização) e o equilíbrio externo
(consistência dos salários da organização com os do mercado).
• Homogeneíza e padroniza os salários na organização.
• Facilita a administração dos salários e o seu controle centralizado.
• Permite uma base lógica e racional para a distribuição dos salários.
• Focaliza a execução rotineira das tarefas e a busca da eficiência.
• Afeta diretamente os custos fixos da organização. Contras
• Não apresenta motivação intrínseca: funciona apenas como fator higiênico.
• Não incentiva o espírito empreendedor, nem a aceitação de riscos e maiores responsabilidades.
• Funciona como elemento de conservação da rotina e do status quo.
• Remunera as pessoas em função do tempo disponibilizado no horário de trabalho, e não pelo
desempenho ou pelo alcance de metas ou resultados.
RH de hoje: migração para a remuneração flexível
Algumas empresas têm feito essa migração de forma acelerada, como Rhodia, Mangels,
Monsanto e Iochpe- -Maxion, que aderiram ao novo figurino. Os nomes mudam conforme a
empresa: pay for performance, remuneração variável ou flexível, participação nos resultados, gain
sharing, salário flexível. O desenho do programa varia, mas o objetivo é o mesmo: fazer do
executivo ou do funcionário um aliado e parceiro no negócio. Esse modelo de remuneração coloca
por terra os mitos sagrados que sempre comandaram a administração salarial, como tempo de
casa, lealdade ou formação escolar. Com a remuneração variável, passam a dominar outros
critérios como resultados, competências, criatividade, inovação, espírito empreendedor e valor
agregado pelas pessoas.
Prós e co ntras: remuneração flexível
Prós
• Ajusta a remuneração às diferenças individuais das pessoas, ao seu desempenho e ao alcance
de metas e resultados.
• Funciona como motivação intrínseca, ou seja, como fator motivacional, dando ênfase à
autorrealização pessoal.
• Premia o bom desempenho e incentiva o desempenho excepcional.
• Focaliza os resultados e o alcance de objetivos.
• Permite a autoavaliação de cada pessoa, pois funciona como retroação.
• Estabelece uma remuneração adicional e contingencial.
• Não produz impacto sobre os custos fixos da organização.
Contras
• Requer certa “des-administração” salarial.
• Altera as estruturas salariais lógica e rigidamente estabelecidas, instalando a contingência em
função do desempenho.
• Quebra a isonomia dos ganhos na organização.
• Reduz o controle centralizado dos salários.
• Pode provocar queixas de pessoas não beneficiadas e pressões sindicais.
A Promon Tecnologia é uma empresa à parte. Não vende produtos acabados, mas, sim,
inteligência: integração de sistemas, principalmente no campo das telecomunicações, é o que ela
coloca no mercado. A empresa não tem chão de fábrica. Quase 70% dos colaboradores dispõem
de formação universitária. Todos eles podem ser sócios da empresa e a maioria já é. O salário
médio, ao redor de R$ 5.000, é um dos seus pontos mais altos. Na verdade, a Promon é uma
comunidade de profissionais que são sócios da empresa. Só os colaboradores é que podem ser
acionistas, e só pode ter ações da empresa o colaborador que forindicado pelos chefes à direção
geral. Quando um colaborador falece, se aposenta ou sai, as suas ações são compradas pela
empresa e redistribuídas entre os que ficam. Elas não podem ser vendidas fora da companhia,
não se transferem por herança e nem podem ser doadas. Individualmente, ninguém pode ter mais
do que 5% do capital da empresa, o que é uma forma de garantir equilíbrio de poder entre os
colaboradores acionistas. Caso o colaborador não tenha dinheiro suficiente para comprar os
papéis, a conta é dividida em 36 prestações; 85% das pessoas têm ações da companhia e 93%
delas creem que este seja um de seus
fatores de sucesso. A empresa teve um lucro líquido de US$ 86 milhões; US$ 40 milhões foram
reinvestidos entre participação nos lucros e nos dividendos acionários naquilo que a empresa
considera fundamental para o seu sucesso: seus 1.500 colaboradores. Em média, cada um deles
levou para casa três salários a mais a título de participação nos lucros. Os que trabalharam bem
em equipe e ofereceram soluções inovadoras embolsaram até seis salários extras. O grupo
definiu seus valores e objetivos há décadas. Ética, algo indispensável numa empresa na qual
quase todo mundo é sócio, é um desses valores. Ali tudo é transparente. A responsabilidade pela
gestão está em mudança constante: os diretores são eleitos a cada três anos. Níveis
hierárquicos? Só existem dois, entre os diretores e os office-boys. O ambiente é de desafio
intelectual, consequência natural da qualificação dos colaboradores e do tipo de atividade da
empresa. O nível de exigência é estimulante e faz o clima. Em um ambiente assim, há liberdade
para propor e fazer. A Promon é uma companhia que gosta de inovar. E é uma das melhores
empresas para se trabalhar.
Opção de compra de ações da companhia
Muitas empresas estão proporcionando uma forma diferente de remuneração variável pela oferta
de ações que são vendidas (por preço subsidiado) ou transferidas aos seus colaboradores de
acordo com determinadas regras. O objetivo é fazer com que o colaborador – parceiro principal –
se torne acionista da organização por sua própria conta, mas com a ajuda da organização. Trata-
se de um modelo comum nos EUA (stock options), e dá ao colaborador o direito de comprar um
lote de ações da empresa por determinado preço. O direito de compra deve ser exercido dentro
de um prazo previamente determinado.
Avaliação crítica: a reciprocidade nos ganhos
Bancos como o Icatu, Pactual e Garantia foram os primeiros a oferecer a oportunidade de
participação acionária a seus colaboradores. Um dos objetivos do sistema era atrair profissionais
com talento em um mercado competitivo. Os colaboradores do Banco Pactual que se tornaram
acionistas têm bons motivos para estar satisfeitos. O patrimônio líquido do banco pulou de R$ 2
milhões para R$ 150 milhões em apenas oito anos. Vinte executivos do banco detêm 37% do
capital
acionário, e o presidente, o maior acionista, não tem dúvidas de que o principal estímulo ao forte
crescimento patrimonial seja justamente a participação acionária. O bolo cresce com a adesão e
envolvimento dos colaboradores.
A participação acionária de colaboradores é um poderoso instrumento para as empresas que
pretendem sobreviver em um mundo cada vez mais competitivo. A concessão ou a venda de
ações a colaboradores é geralmente feita por programas de longo prazo e serve não apenas para
motivar o colaborador, mas para dar a ele uma segurança maior no futuro. É o caso do Bradesco,
que dá aos seus principais executivos vários lotes de ações ao longo dos anos. Essas ações só
podem ser vendidas quando o executivo se aposenta, o que lhe garante um invejável adicional
financeiro. Contudo, a extensão do benefício a todos os níveis da empresa é um ponto polêmico.
Para muitos especialistas, a concessão da participação acionária é inócua para os níveis
operacionais.
Nesses níveis, talvez seja melhor associar ganhos de produtividade ou qualidade à concessão de
prêmios efetivamente em dinheiro.
Participação nos resultados alcançados
É outro modelo de remuneração flexível relacionado com o desempenho do colaborador no
alcance de metas e resultados estabelecidos para um certo período. A participação nos resultados
significa uma porcentagem ou fatia de valor que cada pessoa participa dos resultados da empresa
ou da unidade que ajudou a atingir pelo trabalho pessoal ou em equipe.
Contudo, para funcionar, os programas de recompensas e incentivos precisam do
comprometimento das pessoas. Quase sempre as empresas esbarram em alguns erros: pôr em
prática esses programas sem uma prévia campanha de divulgação, participação e compromisso.
Em outras palavras, sem haver permitido aos participantes do programa o acesso às cifras
financeiras e à necessária qualificação profissional, nem haver proporcionado as condições de
exercer sua influência particular sobre o novo sistema. A participação e a oportunidade de
desempenhar um papel influente são os aspectos mais importantes. Também são importantes o
autocontrole da avaliação e a redução da burocracia e da supervisão direta. Pelo pagamento de
incentivos se avalia se a pessoa fez uso correto das ferramentas e da liberdade que lhe foi
confiada. O dinheiro é um excelente modo de expressar o reconhecimento pela ajuda prestada.
Funciona como uma verdadeira fonte de realimentação.
Remuneração por competência
A remuneração por competência recebe vários nomes: remuneração por habilidade ou por
qualificação profissional. É uma forma de remuneração relacionada com o grau de informação e o
nível de capacitação de cada pessoa. O sistema premia certas habilidades técnicas ou
comportamentais do funcionário. O foco principal passa a ser a pessoa, e não mais o cargo. Isso
significa que a remuneração não está relacionada com as exigências do cargo, mas com as
qualificações de quem desempenha as tarefas. O colaborador polivalente leva a melhor. Por
competência, as empresas entendem vários atributos, como capacidade técnica, personalidade,
criatividade, inovação e conhecimento. Na remuneração por competência, os funcionários que
ocupam o mesmo cargo podem receber salários diferentes conforme a competência de cada um.
O objetivo é remunerar de maneira personalizada cada funcionário, de acordo com a sua
competência pessoal.