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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DA __ VARA DO TRABALHO DA COMARCA DE

PORTO ALEGRE – RS

EMBARGOS DE TERCEIRO

DISTRIBUIÇÃO DO PROCESSO POR DEPENDÊNCIA Nº XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

TERESINHA RODRIGUES, brasileira, divorciada, aposentada, portadora do


RG 7011700734 SSP/RS, inscrita no CPF sob o nº 200.345.800-00, nascida
em 15.03.1958, natural de Rolante/RS, com endereço residencial e
domiciliar na Rua Saudável, 34, apartamento 402, bairro Medianeira, em
Porto Alegre/RS, CEP 90.880-140, com fulcro nos artigos 884, CLT c/c 1.046
do CPC, vem, por seu procurador(a) signatário(a), opor

EMBARGOS DE TERCEIRO
em face de DANIEL RAMOS, brasileiro, solteiro, gerente de produção, CPF
818.203.560-00, RG 5079587183, CTPS 23575 série 00054/RS, PIS
127.25971.69-3, residente e domiciliado na Rua Nossa Senhora da Luz, 42,
bairro Harmonia, Porto Alegre/RS, CEP 92.325-230, pelas razões de fato e
de direito a seguir expostas

PRELIMINARMENTE

1. DA ILEGITIMIDADE PASSIVA

Conforme restará evidente, a embargante não é parte legítima para configurar na


presente ação, eis que o contrato de trabalho entre o exequente/embargado e a parte executada ocorreu
entre 01/02/2013 até 29/05/2018, período em que o referido imóvel já não fazia parte dos bens do sócio
da reclamada.

Assim, nos termos do art. 337 e seguintes do CPC, a embargante requer o acolhimento
da ilegitimidade passiva com a sua exclusão do feito.

2. DA AJG

A parte embargante é aposentada pela Previdência Social, recebendo benefício mensal


no montante de 1 (um) salário-mínimo mensal.

O artigo 790, § 4º, da CLT, assim dispõe:

Art. 790. Nas Varas do Trabalho, nos Juízos de Direito, nos Tribunais e no Tribunal
Superior do Trabalho, a forma de pagamento das custas e emolumentos obedecerá
às instruções que serão expedidas pelo Tribunal Superior do Trabalho.
(...)
§ 4o O benefício da justiça gratuita será concedido à parte que comprovar
insuficiência de recursos para o pagamento das custas do processo.

Portanto, verifica-se que a embargante não possui condições de arcar com as despesas
do processo, uma vez que são insuficientes seus recursos financeiros para pagar todas as despesas
processuais, fazedo jus ao benefício da AJG.
DO MÉRITO

1. DOS FATOS

A parte embargante, por força do mandado de penhora emitido nos autos da


reclamatória trabalhista nº XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX, movida pela parte embargada contra LAMBS
INDUSTRIA E COMÉRCIO DE MÁQUINAS PARA SORVETE LTDA – ME, ELIO RODRIGUES e JAIRO LOPES,
sofreu penhora de seu único imóvel, matriculado no Cartório de Registro de Imóveis sob o nº XXXXXX, o
qual é utilizado como residência permanente da embargante e de suas filhas.

A embargante foi casada com o reclamado ELIO RODRIGUES até o ano de 2009,
momento em que ocorreu o divórcio judicial das partes. Salienta-se que a partir do referido ano o imóvel
ora penhorado foi partilhado para a embargante, com o ex-marido renunciando a meação, procedendo
com a transferência de 50% do imóvel para a embargante, a qual já detinha 50%. Ainda, cumpre dizer que
o contrato de trabalho entre o exequente/embargado e a parte executada ocorreu entre 01/02/2013 até
29/05/2018, período em que o referido imóvel já não fazia parte dos bens do sócio da reclamada.

Ademais, o imóvel penhorado é o único bem da embargante, destinado à sua moradia e


de seu núcleo familiar, recaindo, portanto, a proteção da impenhorabilidade disposta nos arts. 1º e 5º da
Lei nº 8.009/1990.

Por derradeiro, frisa-se o fato de que a embargante jamais foi sócia da empresa
reclamada/executada.

Ante o exposto, manifesta é a impenhorabilidade do bem da embargante, dado à sua


destinação como residência de entidade familiar. Ademais, a embargante jamais figurou como parte da
relação trabalhista envolvendo a empresa do seu ex-marido e o embargado, não podendo, assim, ter seu
bem penhorado.

2. DO DIREITO

2.1. DA MEAÇÃO

Da leitura dos documentos acostados, verifica-se que a parte embargante foi casada
com ELIO RODRIGUES, sócio da empresa reclamada LAMBS INDUSTRIA E COMÉRCIO DE MÁQUINAS PARA
SORVETE LTDA, com o divórcio judicial ocorrendo no ano de 2009.

Na constância do casamento, a embargante dispunha desde 2007 da propriedade de


50% do imóvel ora penhorado, com o seu marido possuindo direito ao 50% restante. Na sentença judicial
homologatória de acordo de divórcio consensual ocorrida no ano de 2009, restou firmado o partilhamento
do 50% do bem de propriedade de ELIO RODRIGUES à parte embargante e, a partir deste momento, esta
tornou-se a única proprietária do bem.

O E. TRT da 4ª Região entende que a meação referente ao ex-cônjuge não pode


responder por débitos trabalhistas quando o casamento perdurou em período anterior ou posterior à
celebração do contrato de trabalho entre executado e exequete, conforme se vê:

EMENTA AGRAVO DE PETIÇÃO DO EXEQUENTE. MEAÇÃO. REGIME DE COMUNHÃO


PARCIAL DE BENS. Na constância do casamento, o casal compartilha tanto dos bens
que sobrevierem ao matrimônio, quanto das dívidas contraídas pelos cônjuges, ou
individualmente, a fim de atender às despesas da família (arts. 1.658 e 1.664 do
CC). Caso em que, sendo o contrato de trabalho objeto da reclamatória posterior
à constância do casamento, deve ser reservada a meação do ex-cônjuge. Agravo
de petição do exequente a que se nega provimento. (TRT da 4ª Região, Seção
Especializada em Execução, 0000110-88.2013.5.04.0007 AP, em 23/03/2022,
Desembargador Janney Camargo Bina) (Grifou-se)

AGRAVO DE PETIÇÃO DA EXEQUENTE. PENHORA DE BENS DO COMPANHEIRO DA


EXECUTADA. A meação do companheiro de sócia executada não deve responder
pelos débitos trabalhistas se o contrato de trabalho firmado entre a parte
devedora e o exequente foi realizado antes do início da união estável. Portanto, a
dívida trabalhista não foi contraída em benefício dos cônjuges, não tendo
contribuído para o crescimento do patrimônio do casal. Sentença mantida. (TRT da
4ª Região, Seção Especializada em Execução, 0020812-16.2017.5.04.0104 AP, em
17/11/2021, Desembargador Joao Batista de Matos Danda) (Grifou-se)

Ocorre que, compulsando-se o feito, verifica-se que o exequente/embargado celebrou


contrato de trabalho com a empresa LAMBS INDUSTRIA E COMÉRCIO DE MÁQUINAS PARA SORVETE
LTDA, laborando para a executada entre 01/02/2013 até 29/05/2018, período em que o imóvel objeto de
penhora já não fazia parte dos bens do sócio ELIO RODRIGUES, uma vez que este renunciou à meação do
imóvel no ano de 2009.

Logo, ilegal é a penhora sobre a propriedade da embargante, eis que na vigência do


contrato de trabalho entre o exequente e o executado o referido bem jamais constituiu patrimônio deste.

Outrossim, urge destacar que a parte embargante jamais figurou no quadro societário
da empresa executada, não podendo responder por eventual passivo trabalhista.

Destarte, requer-se o recebimento e acolhimento dos presentes embargos de terceiro,


a fim de declarar a ilegalidade da penhora sobre o bem imóvel da embargante, com consequente
cancelamento desta.

2.2. DA IMPENHORABILIDADE DO BEM DE FAMÍLIA

Da leitura dos arts. 1º e 5º da Lei nº 8.009/1190, verifica-se que é impenhorável o único


imóvel destinado à residência fixa do núcleo familiar, in verbis:

Art. 1º O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é


impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal,
previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou
filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas
nesta lei.

Art. 5º Para os efeitos de impenhorabilidade, de que trata esta lei, considera-se


residência um único imóvel utilizado pelo casal ou pela entidade familiar para
moradia permanente.

Parágrafo único. Na hipótese de o casal, ou entidade familiar, ser possuidor de


vários imóveis utilizados como residência, a impenhorabilidade recairá sobre o de
menor valor, salvo se outro tiver sido registrado, para esse fim, no Registro de
Imóveis e na forma do art. 70 do Código Civil.

O Código Civil assim conceitua o bem de família:

Art. 1.712. O bem de família consistirá em prédio residencial urbano ou rural, com
suas pertenças e acessórios, destinando-se em ambos os casos a domicílio familiar,
e poderá abranger valores mobiliários, cuja renda será aplicada na conservação do
imóvel e no sustento da família.

Considera-se, portanto, como imóvel residencial aquele que seja a única propriedade
utilizada pelo casal ou pela entidade familiar para moradia permanente. Referida situação está
configurada nos autos, uma vez que o bem se destina à única moradia da embargante e de suas filhas,
conforme será comprovado pela prova testemunhal requerida pela parte embargante (rol de testemunhas
no final dos presentes embargos), bem como de acordo com os documentos em anexo, os quais atestam a
propriedade do bem.

Portanto, uma vez comprovado que o bem objeto de penhora consiste em imóvel objeto
de moradia de entidade familiar, manifesta é sua impenhorabilidade. Assim entende o E. TRT da 4ª Região:

AGRAVO DE PETIÇÃO DA EMBARGADA. EMBARGOS DE TERCEIRO. PENHORA SOBRE


BEM IMÓVEL. IMPENHORABILIDADE DE BEM DE FAMÍLIA. Caso em que a terceira
embargante demonstrou que o imóvel penhorado serve de sua residência e de
sua família, consistindo, assim, em bem de família, nos exatos termos da Lei nº
8009/90. Não havendo nos autos meios de prova capazes de afastar tal conclusão,
deve ser mantida a sentença que determinou o levantamento da constrição judicial
porque levada a efeito sobre bem impenhorável. Provimento negado ao agravo de
petição da embargada. (TRT da 4ª Região, Seção Especializada em Execução,
0020063-97.2020.5.04.0102 AP, em 31/08/2021, Desembargador Janney Camargo
Bina) (Grifou-se)

EMENTA AGRAVO DE PETIÇÃO. PENHORA. BEM DE FAMÍLIA. Hipótese em que o


conjunto probatório permite concluir pela existência de bem de família,
impenhorável, nos termos da Lei 8.009/1990. (TRT da 4ª Região, Seção
Especializada em Execução, 0020022-72.2021.5.04.0304 AP, em 09/06/2022,
Desembargador Carlos Alberto May) (Grifou-se)

Ante o exposto, requer-se que o MM. Juízo reconheça a impenhorabilidade do imóvel,


quer pela ilegitimidade passiva da embargante em figurar no polo passivo da ação, quer pelo
reconhecimento da existência de bem de família, com o consequente cancelamento da penhora do bem.

3. ROL DE TESTEMUNHAS

De pronto, arrola-se as testemunhas em anexo, requerendo a oitiva destas, eis que


comprovarão que o bem objeto de penhora é o único imóvel da parte embargante, sendo destinado à
moradia dela e de seu núcleo familiar.

Francisco Godinho
RG 5031500000
CPF 606.000.000-00
Rua Saudável, 34/403
Telefone: 51 990000000

Kátia Brito
RG 1011111111
CPF 531.111.111-11
Rua Saudável, 34/202
Telefone : 51 981111111

5. DOS PEDIDOS

I. o recebimento dos presentes embargos de terceiro, com a citação da parte


embargada na figura do seu representante legal;
II. o deferimento do benefício da AJG, em face da evidente situação de
hipossuficiência econômica da embargante;
III. a oitiva da prova testemunhal, bem como demais meios de prova admitidos
pela legislação;
IV. o provimento dos presentes embargos de terceiro, eis que o imóvel objeto
da penhora não fazia parte do patrimônio do sócio da reclamada no
momento da constância do contrato de trabalho entre este e o
exequente/embargado, bem como em face da impenhorabilidade do bem,
uma vez destinado à residência fixa de entidade familiar. Ato contínuo,
requer-se o cancelamento da penhora sobre o imóvel;
V. a condenação da parte embargada ao pagamento de honorários
advocatícios.

Nestes termos, pede deferimento.

Porto Alegre, XX de XXXXX de 201X.

ADVOGADO(A)
OAB/RS XXX.XXX

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