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FARREL KAUTELY DE SOUZA SANTOS

RELATÓRIO FINAL DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM LÍNGUA


PORTUGUESA: ENSINO MÉDIO II - REGÊNCIA

Mariana
2022
FARREL KAUTELY DE SOUZA SANTOS

RELATÓRIO FINAL DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM LÍNGUA


PORTUGUESA: ENSINO MÉDIO II - REGÊNCIA

Relatório Final de Estágio, apresentado à


disciplina de Estágio Supervisionado EF II, do
Curso de Licenciatura em Língua Portuguesa,
do Departamento de Letras da Universidade
Federal de Ouro Preto, como requisito parcial
para obtenção do grau de Licenciado em
Letras.

Orientador: Rodrigo Correa Martins Machado

Mariana
2022
FARREL KAUTELY DE SOUZA SANTOS

RELATÓRIO FINAL DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM LÍNGUA


PORTUGUESA: ENSINO MÉDIO II - REGÊNCIA

Relatório Final de Estágio, apresentado à disciplina


de Estágio Supervisionado Ensino Médio II, do
Curso de Licenciatura em Língua Portuguesa, do
Departamento de Letras da Universidade Federal de
Ouro Preto, como requisito parcial para obtenção do
grau de Licenciado em Letras.

Luciana Luiza Lopes da Costa Medeiros


Supervisora de Estágio

Rodrigo Correa Martins Machado


Orientador de Estágio

Mariana
2022
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 5
2 CHICÃO ....................................................................................................................................... 6
3 PREPRARAÇÃO............................................................................................................................ 8
4 OBSERVAÇÃO ............................................................................................................................. 9
5 REGÊNCIA ................................................................................................................................. 12
6 CONCLUSÃO ............................................................................................................................. 14
7 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................ 16
8 ANEXOS .................................................................................................................................... 17
1 INTRODUÇÃO

No dia 18 de maio me apresentei à Escola Estadual Engenheiro Francisco


Bicalho manifestando interesse em estagiar. O interesse partiu do meu conhecimento
que ali, à noite, há turmas tanto de EJA quanto do ensino médio regular. As aulas
ocorrerem à noite seria pertinente, pois é o turno no qual pretendo lecionar. Fui
recebido pelo vice-diretor Marconi Gutemberg Batista, que me foi solicito de
imediato. Consultou a professora Luciana Luiza Lopes da Costa Medeiros, que me
aceitou como estagiário, e a partir de então comecei a preparar minhas aulas. Nada do
que planejei a princípio foi aplicado, devido às necessidades específicas das turmas
para quem viria a lecionar. Porém, as atividades exercidas por mim quando em
regência enriqueceram meu olhar de educador e me deixou melhor preparado para
quando estiver atuando na docência.

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2 CHICÃO

A Escola Estadual Engenheiro Francisco Bicalho localiza-se na Av. Olinto


Meireles 2632, Barreiro, região de Belo Horizonte em que moro. Tenho uma tia que
cursa lá o EJA à noite e uma prima, sua filha, que cursa o ensino médio à tarde. Em
maio eu estava trabalhando na bienal mineira do livro e soube que Francisco Bicalho
fez parte das escolas da cidade que haviam ganhado vales para comprar livros no
evento. O fato chamou minha atenção à escola, pois nesta época eu estava
conjecturando qual instituição de ensino médio da região poderia me render uma boa
experiência.

A princípio pensei em retornar às escolas em que cursei o médio: Cecília


Meireles, onde cursei primeiro e segundo noturno e cheguei a começar o EJA na
tentativa de finalizar o médio; Rodrigues Campos, onde fiz o terceiro ano pela
primeira vez, mas abandonei nos últimos meses de 2012. No final das contas, concluí
que a ideia de estagiar com o professor com quem tive certa divergência era ridícula,
de modo que descartei o Rodrigues, e decidi que não era hora de procurar nostalgia,
deixado Cecília de lado. Conversei com alguns alunos do Francisco Bicalho sobre a
escola e descobri que é comum as pessoas chamarem-na de Chicão, além de tomar
conhecimento sobre quem eram os coordenadores responsáveis pelo noturno.

No dia 18 de maio peguei Sabrina, minha bicicleta, e fiz um percurso de 4,5km


até o Francisco. Na ida boa parte é descida, mas isso somente após eu subir uma
escadaria após empurrar a bicicleta por 200 metros num morro íngreme. Perguntei na
portaria do Francisco por Marconi ou Sandra, e o vice-diretor me recebeu. Escutou o
que eu precisava, pediu para se ausentar a fim de consultar professores e aguardei.
Neste meio tempo conheci Flaviane, que procurou por Marconi, me viu sentado ali na
sala dele e puxou conversa. Não estou certo se foi neste momento que descobri que ela
era bibliotecária ou se foi no final da minha primeira visita à escola.

Quando Marconi retornou me orientou a direção da sala onde eu encontraria


Luciana, professora de português de turmas do EJA e primeiro ano regular. A
professora me recebeu durante, ofereceu uma mesa para me sentar entre os alunos do
primeiro ano e continuou a ministrar a aula — que, se não me engano, era sobre
figuras de linguagem. Trocamos informações rapidamente enquanto alunos vinham até

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sua mesa a fim de tomar visto nos cadernos. Somente ao final da aula pudemos
conversar, e acordamos que eu começaria dia 30 de maio e estagiaria até 10 de junho.
Peguei seu número telefônico para podermos nos comunicar via Whatsapp e disse que
iria atualizando-a durante o desenvolvimento da sequência didática que aplicaria nas
turmas. Era hora do recreio, acredito. Perguntei a alguém onde era a biblioteca e fui
até lá antes de partir, e em nova conversa com Flaviane, decidi que doaria alguns
boxes da coleção de ficção científica que tinha lançado dias antes, na bienal.

Fiz o percurso de volta de bicicleta. Embora no retorno sobe-se morros, o


esforço não me pareceu muito maior que o da escadaria. Pensei em fazer esse
exercício durante todo o estágio, meta que não viria a cumprir. No final da primeira
semana de regência, passei a ir e voltar de ônibus.

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3 PREPRARAÇÃO

Todo o curso de Letras tem me preparado para a docência, de modo que não
tive apenas o aporte teórico e prático da LET 588 para este estágio. Ao longo da
disciplina em si tive acesso a material que orientou na produção de uma sequência
didática — que, infelizmente, não viria a aplicar quando em regência —, além de
material teórico sobre a concepção de educação bancária de Paulo Freire ou textos
orientadores da prática docente como a Base Nacional Curricular Comum (BNCC). Já
portava comigo, é claro, os aportes teóricos e experiências pessoais dos estágios e
regências anteriores, além da minha participação no programa Residência Pedagógica
da UFOP, de vigência de 18 meses. Considero que todas essas experiências tiveram
papel importante na minha formação e na preparação da atividade que apliquei quando
em sala de aula neste estágio, minha confiança para exercer a atividade só foi possível
graças a isso.

Escolhi, a princípio, os temas “pessoas no discurso” e “vozes no discurso” para


serem aplicadas em três aulas para cada turma. Comecei a preparar uma sequência
didática para apresentar à Luciana, porém não a finalizei. A mudança de planos se deu
após eu conversar com Luciana e colocar em contraponto a orientação do orientador
de assimilar o que eu tinha a contribuir com o que a professora estivesse ensinando e o
que eu viria a usar como tema na regência. Luciana buscou tornar claro para mim que
as turmas, em defasagem decorrente do retorno aos estudos após dois anos de
isolamento social e suspensão ou dificultamento de aulas presenciais, precisavam
continuar com o conteúdo que vinha aplicando. Além disso, Luciana informou que
precisaria aplicar uma atividade avaliativa nas turmas e me convidou fazê-lo, o que
aceitei com empolgação. Não descartei, no entanto, o material reunido para a
sequência didática, utilizei parte dele para compor uma vídeoaula. Abandonado os
planos para a sequência didática, estudei a classe de palavra que a professora
supervisora aplicaria — advérbios —, o que de certa forma me foi conveniente, pois à
época estudava orações subordinadas adverbiais para a disciplina Sintaxe II, da minha
graduação. Luciana e eu decidimos como seria minha atuação. Ela permaneceria
ensinando advérbios às turmas e eu continuaria de onde ela parasse nas minhas
regências, e ela me apresentaria a atividade avaliativa a ser aplicada com antecedência.
O tema já havia sido escolhido, imposto à professora.

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4 OBSERVAÇÃO

Nas segundas e sextas Luciana não leciona à noite, de modo que seriam,
obrigatoriamente, dias de observação. No meu primeiro dia visitei a biblioteca, onde
deixei quatro boxes da minha coleção de ficção futurista/científica, além de outros
exemplares de outras publicações minhas, um banner da coleção e combinei com
Flaviane de participar de um evento literário em julho. No horário do recreio fui
merendar e depois fiquei perambulando pela escola, conhecendo os cantos, os
aposentos, etc. Se não me engano foi nessa noite que conheci Sandra, coordenadora.
Perguntou se eu era novato na escola. Se fosse, certamente levaria um sermão. Me
apresentei como estagiário, disse que estava observando e nos cumprimentamos.
Achei graça na interação, seria tomado por aluno em outras ocasiões. Pouco depois
voltei à biblioteca, queria continuar vendo o acervo, tanto de livros antigos quanto os
que a bibliotecária estava desempacotando da bienal. Reconheci muitos livros que já
li, as bibliotecas de escolas em Belo Horizonte contam com cervos bem parecidos.

Observei mais atentamente as dependências e estruturas do Francisco em


outros dias depois deste primeiro. A escola tem dois blocos de sala de aula, cada bloco
dois andares. Ocorrem ali à noite aulas para o ensino médio regular e o EJA. Em um
dos blocos, porém, só há aulas nos dois primeiros turnos, fica trancado à noite,
impedindo acesso a um pátio com mesas e uma das quadras. As áreas ao ar livre
contam com vegetação e algumas árvores, tudo muito bem cuidado. O estacionamento
é pequeno, há poucas vagas, uma delas reservada à direção, e vi quase todas ocupadas
nos dias em que estagiei.

Meu primeiro dia em sala fui apresentado às turmas ao entrar. Alunos que
estiveram presente quando conversei com Luciana dia 18 me reconheceram. Neste dia
pude observar os contrastes das turmas de EJA e do primeiro ano regular pela primeira
vez. Das quatro turmas, apenas em uma do EJA não há burburinho durante a aula. Esta
é, de fato, a menor. No primeiro dia em que lá estive havia três alunos, nos outros,
cinco, mas Luciana já havia me alertado que esta em particular contém alunos mais
reservados. O burburinho nas demais, no entanto, não inviabilizava as aulas, e a
professora conseguia a atenção dos alunos quando precisava falar. Enquanto copiavam
matéria do quadro conversavam, brincavam entre si, mas no geral não deixavam de
participar das atividades propostas.

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Em algumas aulas de observação passei conteúdo da matéria no quadro, como
na noite em que Luciana se ausentou para passar uma atividade para outra turma cujo
professor faltara, me incumbindo de continuar a aula e tirar as dúvidas dos alunos,
tarefa que aceitei com bastante empolgação. Ao final deste dia encorajei Luciana a me
atribuir mais tarefas assim.

Havia recreios (intervalos entre as aulas para merendar) em que eu ficava nos
pátios e biblioteca e outros na sala dos professores. Observar a interação dos docentes
no horário de recreio foi consideravelmente mais interessante que em outros horários.
Observei, por exemplo, que há mais professoras que professores ali à noite. No dia que
contei, eram 04 homens e 08 mulheres. Alguns me pareceram amigos, mas todos se
tratavam muito bem. Comem da merenda servida aos alunos, porém, uma panela,
pratos e talheres são levados para a sala de professores pouco antes de o sinal para o
recreio tocar, além de uma garrafa de café. A porta da sala costuma ficar aberta
durante as aulas, mas os professores fecham no recreio, e ali é comum haver
aglomerando alunos na esperança de conseguir um pouco de café, que notei ser
liberado mais para o final do recreio, quando os professores já se serviram. Neste
horário os professores atualizam uns aos outros sobre atividades que têm
desempenhado ou devem desempenhar, muitas delas em conjunto, como quem
elaboraria e compartilharia com todos uma tabela sobre frequência de alunos ou quem
iria imprimir as provas a serem aplicadas na semana de avaliação — a que eu viria a
aplicar era uma dessas.

Já os alunos, no recreio, jogam bola na quadra que fica disponível, merendam,


passeios pelos corredores ou pátio. Ocupam também o estacionamento, onde vão para
fumar, por ser mais afastado do restante dos alunos.

Encontrei com o porteiro no estacionamento certo dia. Ele saiu de seu carro
pouco depois de o sinal ter anunciado o fim do recreio, me assustando no ato, pois
julguei estar sozinho ali, onde há, em uma parede, o grafite de uma pessoa negra com
os dizeres “respeito não tem cor, tem consciência”. Em conversa ele me informou que,
sob orientação do Marconi, se ausenta na hora do recreio, deixando o portão trancado,
a fim de evitar evasão dos alunos.

De fato é comum alunos irem embora depois do recreio, mas não é uma atitude
encorajada pelos professores ou coordenação. No entanto, o único dia em que houve
saída expressiva de alunos após o recreio foi o dia 02 de junho, quando ocorreram

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assassinatos em um bairro próximo, onde muitos alunos moram. Acredito que
nenhuma turma tenha tido a última aula nesse dia. Fui embora pouco antes do horário
em que ela terminaria.

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5 REGÊNCIA

5.1 Matéria

A partir do dia 01 de junho, já familiarizado com as turmas com que iria


trabalhar, passei a reger as aulas, dando continuidade à matéria de Luciana, minha
professora supervisora: advérbios. Escrevi no quadro matérias e exercícios existentes
na Novíssima Gramática da Língua Portuguesa, de Domingos Paschoal Cegalla. Este
exemplar era da professora supervisora, eu portava minha Nova Minigramática da
língua portuguesa, também de Cegalla.

Os alunos de todas as salas foram receptivos. A EJA 32 foi calorosa, muito


interessada em perguntar sobre meu curso enquanto eu passava matéria no quadro. As
turmas do primeiro ano, 107 e 111, conversaram entre si enquanto eu passava matéria.
A turma J13 tinha poucos alunos (3 na primeira aula, 5 nas outras) e comunicou-se
comigo o mínimo possível. Não me recordo de os ver conversar entre si. Luciana
havia me falado das peculiaridades dessa e das demais turmas antes de eu começar.

Todas as turmas, com exceção da J13, fizeram perguntas e deram exemplos


durante a explicação do que são advérbios e como se manifestam na comunicação.
Passados os exercícios, fizeram para receber visto — que poderia ser dado pela
Luciana tanto antes quanto depois da correção —. Tive duas aulas com cada turma
nessa parte da regência. Na primeira aula passava a matéria e explicava, e na segunda
os exercícios, e os corrigia junto aos alunos ao final da aula.

Luciana permitiu que eu me sentasse na cadeira destinada ao professor.


Durante o tempo dado para a execução do exercício os alunos sentiram-se encorajados
a me consultar. Alunos do primeiro ano eram dados a levantar-se e vir até a mesa tirar
dúvidas, enquanto que os do EJA J32 faziam as perguntas de suas mesas, geralmente.
Observei que as dúvidas e dificuldades das turmas de EJA não distinguiam-se em
demasia das dos alunos do primeiro ano regular.

5.2 atividade avaliativa

Ligada ao Projeto de vida, a atividade avaliativa que Luciana deveria aplicar


coincidiu com a segunda semana destinada para minha regência. Tive e oportunidade

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de aplicar a atividade e avaliar os alunos, atribuindo nota. A atividade foi a mesma
para as turmas do EJA e do primeiro ano, mas valia 10 e 5 pontos, respectivamente. A
atividade segue em anexo. Continha o texto Alimentação saudável: como ela impacta
na qualidade de vida. Foi elaborada pela professora Luciana. Fiquei responsável por
preparar uma tabela de Índice de Massa Corporal para impressão e distribuição aos
alunos a fim que calculassem seus índices ao final da atividade. A atividade em si
focava em interpretação de texto e na elaboração de um parágrafo dissertativo.
Orientei aos alunos que buscassem dar respostas completas e bem elaboradas,
convidando-os a complementarem as respostas com seus conhecimentos prévios,
mesmo que pudessem encontrar todas no texto.

Encorajei todas as turmas a tirarem dúvidas durante a aplicação da atividade.


Entre brincadeiras (entre eles e entre eles e eu) e tentativas fracassadas de extrair de
mim respostas completas, ajudei-os a elaborarem bem suas respostas e apontei para
quem tinha dificuldades em que subtítulo do texto poderiam encontrar respostas para a
pergunta na qual apresentassem dificuldades.

A aplicação da atividade em cada turma exigiu duas aulas. Isso ficou evidente
já na primeira ocasião, em que apenas uma parte da turma terminou. Deste modo, a
segunda semana de regência foi destinada a esta atividade.

As folhas-resposta ficaram comigo, Luciana me incumbiu de levá-las para casa


a fim de corrigir e atribuir notas. Foi uma ótima oportunidade para eu compreender as
dificuldades de cada turma e contrastá-las. Descobri que, embora exista grande
diferença etária entre as turmas do primeiro ano do ensino médio regular e as turmas
do terceiro ano do EJA, não há, ao menos entre elas, discrepâncias significativas na
capacidade de ler, compreender e dissertar sobre um texto. Em todas as salas houve
alunos com bom e mal desempenho. O desempenho geral foi bom por parte de todos
que se empenharam no desenvolvimento das respostas. A média de pontuação foi 4,
sendo as maiores notas os textos com respostas melhor elaboradas com ou sem
informações extras que os alunos pudessem trazer consigo.

Nas aulas após a atividade avaliativa comentamos cada pergunta sobre o texto
e pontuei alguns problemas em comum, no geral ligados ao desenvolvimento das
respostas. Dei algumas sugestões para quando forem escrever, ouvi feedbacks, que
mencionarei na conclusão deste relatório, e falei da vídeoaula que havia preparado
para eles e disponibilizado no Youtube.

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6 CONCLUSÃO

Procurei por uma escola em que houvesse turmas de EJA por ser um tipo que
turma para qual almejo lecionar quando, enfim, professor, tendo, também, a
expectativa de poder experimentar uma turma do ensino médio regular. Fui agraciado
por ambos os desejos, mesmo que não tivesse explicitado isso ao me apresentar à
escola — a prioridade era conseguir estagiar, independente se fosse ou não conseguir
turmas de EJA.

Pude rever de perto a dinâmica da sala de aula no ensino médio noturno em


Belo Horizonte, mas desta vez sob outra perspectiva e não limitado ao ensino remoto,
como nos últimos anos, atuando no projeto de Residência Pedagógica da UFOP. Os
alunos das turmas em que regi estavam em defasagem em conhecimento e habilidades
linguísticas, embora não inaptos. Discuti com minha professora supervisora os
métodos de ensino aplicados durante a pandemia, principalmente o PETI, amplamente
discutido pela comunidade acadêmica em formação em 2020 e 2021.

Acredito que os alunos do primeiro ano de minha regência podem se beneficiar


do tempo que ainda lhes resta de ensino médio, e me parece que os alunos do EJA
estão obtendo o que almejavam ao se matricular. Fui muito bem recebido por todos
eles, me trataram respeitosamente.

A experiência deste estágio me incentivou ainda mais a seguir a carreira de


professor, provocou em mim uma série de reflexões, sobre todo tipo de atividade ou
interação escolar. Uma delas foi passar matéria no quadro para que os alunos
copiassem. Após observar como consultavam o caderno durante a conversa sobre
explicação da matéria ou correção de exercícios, muitas vezes somente após ter
arriscado uma resposta — mesmo quando acertando —, conversar com alguns deles
sobre cópia e rever minha própria trajetória como estudante, concluí que copiar
escritos num quadro em sala de aula no caderno pode, sim, ajudar a memorizar
conteúdo. Mas isso só não basta. No caso das aulas que ministrei, a discussão sobre o
conteúdo passado foi importante quanto, e acredito que foram ambos, cópia (ou
anotação) e discussão que providenciaram a aprendizagem dos alunos. Quando no
fundamental, uma professora minha passou no quadro a música Alecrim dourado para
que copiássemos a fim de cantar no futuro. A parte que copiei lembro claramente. A
última estrofe — ou últimas, se forem quatro — nunca decorei, mesmo tendo ouvido a

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música uma vez ou outra. Tampouco busco completa para ler ou ouvir quando lembro
disso, pois gosto de usar como exemplo. É, no entanto, uma clara evidência anedótica,
contribui pouco ou nada em uma tentativa de explicação científica.

Ao final deste meu último estágio, recebi por parte dos alunos alguns
feedbacks sobre as aulas. Elogiaram minha atenção e interesse em ensinar e disseram
para eu buscar falar mais devagar, o que é uma característica minha. Quando estou
empolgado, falo bastante rapidamente. É algo que pretendo trabalhar para evitar,
aprender a me policiar.

Fui tomado por aluno pelos estudantes do primeiro ano em alguns momentos, o
que não ocorreu nas turmas de EJA. Pude usar boné nas dependências da escola, o que
me fez muito bem. Alunos do noturno usam bonés e podem usar bermuda, mas sei que
ambos não são permitidos nos turnos diurnos. Sei que bonés e acessórios costumam
compor a identidade de uma pessoa, principalmente jovens, e penso que não há
motivos para desencorajar, desde que não fira pudores e que o uniforme esteja sendo
usado — este último principalmente por questões de segurança.

Este estágio é um dos marcos do fim da minha graduação. O feedback positivo


dos alunos me faz pensar que ter escolhido essa profissão anos atrás foi atitude bem
acertada, uma vez que a intenção era me capacitar para ajudar pessoas a
compreenderem melhor a língua/linguagem. É um dos marcos de superação de meus
desafios pessoais, necessário para que eu saiba como ajudar alunos a superá-los
também. Hoje, embora tenha uma carreira como editor de livros, intenciono dar aulas
à noite para o ensino médio, principalmente EJA, oferecendo aos alunos meu interesse
em ensinar, observando suas dificuldades e subjetividades. Não à toa, semelhantes às
minhas quando no ensino médio: trabalho durante o dia, aula à noite, em salas com
uma parcela de alunos com conhecimento e habilidades educacionais com certa
defasagem.

Despeço-me de Chicão ansioso para tomar a tutela de alunos em aulas de


língua portuguesa num futuro próximo.

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7 REFERÊNCIAS

BRASIL. MEC. Orientações Curriculares Nacionais. Brasília: Ministério da


Educação, Secretaria de Educação Básica, vol. 3, 2006. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/book_volume_03_internet.pdf. Acesso em:
16/08/2013.
ANTUNES, Irandé. Aula de português: encontro e interação. São Paulo: Parábola
Editorial, 2003.

LERNER, Délia. Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário. Porto


Alegre: Artmed, 2007.

GLOBO MINNAS. Três homens são assassinados a tiros na Região do Barreiro, em


Belo Horizonte. Disponível em: https://g1.globo.com/mg/minas-
gerais/noticia/2022/06/02/tiroteio-deixa-mortos-e-feridos-na-regiao-do-barreiro-em-
belo-horizonte.ghtml. Acesso em 16.06.2022

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

LERNER, Délia. Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário. Porto


Alegre: Artmed, 2007.

CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa,


Companhia Editora Nacional, 2020.

CEGALLA, Domingos Paschoal. Nova minigramática da língua portuguesa.


Companhia Editora Nacional, 2005.

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8 ANEXOS

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Foto 1 Grafite no estacionamento.
Foto 2 Farrel Kautely passando exercícios.
Foto 3 Farrel Kautely corrigindo exercícios.
VÍDEOAULA AS PESSOAS NO DISCURSO

Disponível no Youtube pelo link:


https://youtu.be/SsUpIsUvKKQ

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