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Processos patológicos gerais (PPG) – prova 1

AULA 1: INTRODUÇÃO A PATOLOGIA GERAL

• Patologia: é a ciência que estuda as causas das doenças (fatores físicos, químicos, biológicos,
genéticos, ambientais), os mecanismos que as produzem, os locais onde ocorrem e as alterações
morfológicas (alterações na forma) e funcionais que apresentam.
Saúde x Doença:

• Saúde: é o estado de perfeita adaptação do organismo ao ambiente físico, psíquico ou social em


que se vive, sentindo-se bem e sem apresentar sinais ou sintomas.
• Doença: estado de falta de adaptação ao ambiente físico, psíquico ou social no qual um
indivíduo se sente mal (sintoma) e/ou apresenta alterações orgânicas evidenciáveis (sinais). Ou
seja, o indivíduo não consegue se adaptar de forma adequada à mudança sofrida. OBS.: sinal é
aquilo que se vê, que se mede (ex: um hematoma, uma ferida), já o sintoma é aquilo que o
paciente relata (ex: febre, dor de cabeça).
Métodos de estudo na patologia

• Exames citológicos: é o estudo/diagnóstico das doenças através da avaliação celular, ou seja,


das células isoladas. Neste exame, não se analisam os aspectos do tecido/órgão como um todo,
nem a organização dele, apenas as células. Menos invasivo, porém mais difícil interpretar o
resultado.
• Exames anatomopatológicos: é o estudo/diagnóstico da doença que é realizado através da
avaliação histológica, ou seja, do tecido como um todo. É um exame mais detalhado que o
citológico, nele é possível observar a relação das células e como elas se organizam no tecido.
✓ Biópsia: é o exame anatomopatológico realizado em fragmentos de tecido, ou até
mesmo mesmo peças cirúrgicas (lesão inteira) retiradas do paciente vivo.
✓ Biópsia incisional: é a remoção parcial da lesão, se remove apenas um fragmento para
o estudo. Pode ser cirúrgica, endoscópica ou por agulha.
✓ Biópsia excisional: é a remoção da lesão completa para o estudo.
✓ Necrópsia: é o exame feito no indivíduo morto para detectar a causa da morte.
Técnicas especiais de estudo/diagnóstico da patologia: histoquímica, imunocitoquímica (imuno-
histoquímica, imunofluorescência direta, imunofluorescência indireta), hibridização in situ, cultura de
células, fracionamento celular, ELISA, PCR.
AULA 2: LESÃO E MORTE CELULAR

Aspectos históricos da lesão celular


• Fase Humoral (Idade Antiga - final da Idade Média)
• Fase Orgânica (séc. XV – XVI)
• Fase Tecidual (séc. XVI – XVIII)
• A Fase Celular (séc. XIX)
• A Fase Ultracelular (séc. XX)
• Atualmente já se diz que a patologia está entrando numa fase atômica (alterações nos átomos
podem ser suficientes pra provocar alterações ultracelulares, celulares, teciduais...).

→ Em cada uma dessas fases, a explicação da origem dos estados das doenças foi diferente.
→ Muitas vezes, observar a macroscopia de uma lesão não é suficiente para se chegar a um diagnóstico
definitivo, por isso, com o tempo, foi sendo necessário uma visualização cada vez mais aprofundada,
com a criação de mecanismos específicos pra detectar as lesões celulares. Ex: exames de biópsia.
→ Ou seja, as lesões podem ser identificadas desde modificações na ultraestrutura da célula, que depois
se manifestam nos tecidos, nos órgãos e é possível observar a macroscopia dessa lesão → é necessário
um tempo para se perceber macroscopicamente modificações morfológicas.
Lesão celular: mecanismos que levam a célula a uma REDUÇÃO da sua função, pois ela não
consegue manter a sua homeostasia.

Morte celular: se a agressão for progressiva, a célula reduz tanto a sua função que chega uma hora
que ela não consegue mais retomá-la → ponto de não retorno → morte celular.

Etiopatogenese geral das lesões (causas das lesões)

• Fatores exógenos (agentes físicos, químicos, biológicos e desvios da nutrição). Ex: traumas
mecânicos, exposição à radiação, medicamentos, falta ou excesso de nutrientes.
✓ Exemplo de desvios da nutrição: o excesso de gordura no organismo pode sobrecarregar
o fígado, causando uma lesão celular ao hepatócito, que não consegue metabolizar e
excretar gordura e começa a acumular no citoplasma (quem é responsável por acumular
gordura é o adipócito e não o hepatócito).
• Endógena (agentes do ambiente psíquico, patrimônio genético, mecanismos de defesa, desvios
do metabolismo…).
✓ Exemplo de patrimônio genético: a anemia falciforme provoca uma alteração na
conformação da hemácia, diminuindo sua capacidade de transporte de oxigênio →
redução da oferta de oxigênio pra célula → lesão celular.
• Social - desnutrição, falta de habitação, problemas sanitários, desemprego… une tanto causas
exógenas quanto endógenas.

→ Doença criptogenética ou idiopática: quando não se conhece a causa.

Constituintes essenciais da célula

1. Mitocôndria: caso a mitocôndria não consiga produzir ATP suficiente, a célula não consegue realizar
a cadeia transportadora de elétrons e há um comprometimento da respiração/produção de energia da
célula e da membrana plasmática.

2. Membrana plasmática: transporte de substâncias. Se a célula não consegue manter a integridade da


membrana plasmática, ela passa pra fase irreversível da lesão celular.

3. Núcleo: Manutenção da integridade do genoma. É o núcleo que comanda a produção de proteínas e


lipídeos, além de coordenar a respiração celular.

4. Retículo endoplasmático rugoso (com ribossomos): produção proteica para manutenção da


membrana plasmática e do citoesqueleto da célula, além da atividade enzimática da célula.

→ Então quando o agente etiológico interferir nesses 4 componentes, a sobrevivência da célula fica cada
vez mais difícil.

A célula morre quando não consegue mais manter a produção de energia e a integridade da sua
membrana plasmática (são os 2 componentes mais importantes). Alterações em outros
componentes podem ser reestabelecidas se a causa for removida.

Lesão Celular - Fator Etiológico

1. Privação do oxigênio/ATP
2. Agentes físicos
3. Substâncias químicas e drogas: veneno, medicamentos...
4. Agente infecciosos: infecção pelo fungo cândida albicans, por exemplo.
5. Reações imunológicas: doenças autoimunes (mau funcionamento do sistema imunológico, o
antígeno é próprio do nosso corpo).
6. Desarranjos genéticos
7. Desbalanço nutricional
Estímulo x Vias Celulares

Vias celulares que estão associadas diretamente à possibilidade de sobrevivência ou não da célula,
independente de qual seja a natureza do estímulo/causa:

1. Respiração aeróbia, fosforilação oxidativa mitocondrial e produção de ATP:


2. Síntese proteica (reticulo endoplasmático e ribossomos)
3. Manutenção da integridade da membrana celular (sistema de endomembranas de uma forma
geral)
4. Manutenção da integridade do genoma

Privação de oxigênio

• Isquemia: redução da oferta de sangue e, consequentemente, de oxigênio.


• Hipoxia: redução parcial da disponibilidade de oxigênio.
• Anoxia: redução total da disponibilidade de oxigênio.

→ Nem sempre a anoxia é mais grave do que a hipóxia, por exemplo: um quadro de hipoxia por 3
minutos no neurônio é mais grave do que um quadro de anoxia por 10 minutos no musculo.
→ Um infarto é menos grave em uma pessoa mais velha pois ela passa por pequenos eventos de hipóxia ao
longo da vida e isso faz com que a célula se torne resistente a hipoxia. Enquanto numa pessoa jovem, se a
hipoxia for um pouco mais grave, a célula morre.

O estímulo e a resposta ao estímulo dependem da célula que está recebendo, do


momento que a célula vive e do tempo de exposição a determinado fator.

→ Com a isquemia, a mitocôndria reduz a


fosforilação oxidativa e consequentemente reduz
a disponibilidade de oxigênio e ATP pra célula.
Isso impede a atividade das bombas iônicas
(sódio-potássio), o que gera um influxo de cálcio,
sódio e água → célula entumecida (degeneração
hidrópica), perda das cristas mitocondriais,
bolhas.
→ Além disso, se não tem ATP, pra continuar a
produzir energia a célula começa a fazer glicólise
anaeróbica, o que reduz glicogênio, aumenta
ácido lático no citoplasma da célula e reduz o pH
(isso gera diminuição da atividade enzimática),
com isso, há agregação da cromatina a fim poupar
energia.
→ O reticulo endoplasmático também destaca os
ribossomos pra reduzir a síntese de proteína e
diminuir o gasto energético, mas isso pode
favorecer a deposição de lipídios.

Isso é a célula tentando sobreviver ao estímulo – privação de oxigênio. Nesse caso, se o


estímulo for removido, a célula volta ao seu estado normal, ou seja, a degeneração hidrópica e a
deposição de lipídios sãos lesões REVERSÍVEIS.

Papel do cálcio: o cálcio começa a entrar na célula e se acumula no citoplasma, promovendo a ativação
de diversas enzimas que destroem algumas estruturas: fosfolipase (lise de todas as membranas),
proteases (lise das proteínas estruturais e das membranas), endonucleases (fragmentação da cromatina)
e ATPases (reduz ainda mais o ATP) → a célula se destrói por completo.
Radicais reativos de oxigênio (radicais livres) também podem causar
lesão quando há o estresse oxidativo:

→ Apresentam um elétron desemparelhado no orbital externo e podem


reagir com componentes celulares (proteínas, lipídios e ácidos
nucleicos) e causar lesão.

Isso não quer dizer que não podemos ter radicais livres no nosso corpo, nós precisamos deles, por isso
existem sistemas que os neutralizam → os mecanismos antioxidantes. O que não pode existir é o
excesso.

A lesão pode ser REVERSÍVEL ou IRREVERSÍVEL e há dois mecanismos de morte celular


(NECROSE e APOPTOSE):

Apoptose:
• Membrana plasmática íntegra, não ocorre digestão enzimática e não ocorre reação do
hospedeiro.
• A célula “percebe” que vai morrer e envolve os componentes citoplasmáticos com uma
membrana. Quando ela rompe, os fragmentos estão revestidos por membrana, então ela não
desperta a reação imunológica.
• É uma morte celular “programada” que pode ocorrer em eventos fisiológicos ou patológicos.

Necrose
• Do grego nekros, corpo morto. É a morte celular patológica ocorrida no organismo vivo,
seguida de autólise (própria destruição) e heterólise (células de defesa recrutadas pela resposta
inflamatória que vão destruir aas células).
• Há perda da integridade da membrana plasmática, digestão enzimática e reação do
hospedeiro.
• Com o rompimento da membrana, são liberadas proteínas do dano tecidual e isso promove o
recrutamento dos neutrófilos na fase inicial da imunidade inata.

LESÃO CELULAR REVERSÍVEL

• Degeneração hidrópica: acúmulo de água e eletrólitos.


• Acúmulo de proteínas: pode acontecer por transporte intracelular e secreção defeituosas de
proteínas, acúmulo de proteínas do citoesqueleto e agregação de proteínas anormais.
✓ Degeneração hialina: acúmulo proteínas hialinas. Ex: proteínas de citoesqueleto,
principalmente os filamentos intermediários.
✓ Degeneração mucóide: acúmulo de proteínas mucoides por hiperprodução de muco por
células mucíparas dos tratos digestivo e respiratório e síntese exagerada de mucina em
adenomas e adenocarcinomas. Essas proteínas possuem densidade diferente, então o
núcleo acaba ficando achatado na periferia (anel de sinete).
• Acúmulo de lipídios: forma gotículas/vacúolos pois a gordura não se mistura com os
componentes citoplasmáticos.
✓ Esteatose: acúmulo de triglicerídeos. Ex: esteatose hepática, por conta do intenso
metabolismo lipídico no fígado (no caso, os hepatócitos não conseguem metabolizar),
as principais causas são: álcool, toxinas, desnutrição proteica, diabetes melito,
obesidade e anóxia. Se não for controlado, pode evoluir para uma cirrose alcoólica
(morte dos hepatócitos).
✓ Lipidoses: acúmulo intracelular de colesterol e ésteres de colesterol. Ex: aterosclerose.
O depósito de colesterol em vasos de pequeno calibre pode levar a um quadro de
hipóxia, por isso, a aterosclerose nos vasos do SNC leva ao AVC isquêmico.
• Acúmulo de carboidratos: a maioria dos acúmulos de carboidratos acontecem devido a
modificações genéticas. Várias células comprometidas, é muito raro. Ex: glicogenoses e
mucopolissacaridoses.

MORTE CELULAR
Alterações morfológicas

Necrose
• Como o pH da célula está alterado → eosinofilia aumentada;
• Aparência homogênea vítrea;
• Citoplasma vacuolado
• Figuras de mielina

Alterações nucleares: ocorrem pela ativação das endonucleases.

• Cariólise – Perda de DNA


• Picnose – Retração nuclear
• Cariorrexe – Fragmentação nuclear

Necrose de Coagulação

• Possíveis causas: isquemia, queimaduras e exposição a Rim


substâncias químicas precipitantes.
• Microscopicamente: preservação do contorno celular por
conta de proteínas coaguladas no citoplasma sem
rompimento da membrana plasmática.
• Macroscopicamente: alteração na cor do tecido, mas
manutenção da textura/forma.

Necrose de Liquefação

• O tecido não preserva sua forma.


• Predomínio da digestão enzimática, transforma-se numa
massa viscosa líquida (ex: pus).
• Especialmente observada no SNC, relacionada a
fenômenos isquêmicos. O SNC é o ÚNICO onde os
fenômenos isquêmicos levam a necrose de liquefação.
• Autólise e heterólise
• Comumente observada em infecções bacterianas. Ex:
meningite bacteriana.
• O AVC isquêmico pode levar a danos irreversíveis (em
relação a capacidade cognitiva, motora...) por conta da área liquefeita (que fica amolecida e,
posteriormente, deixa um buraco/espaço). Em outros tecidos aconteceria regeneração ou
cicatrização, que nesse caso não acontece.
Necrose Caseosa

• Área necrosada assume aspecto macroscópico friável esbranquiçado,


semelhante à massa de queijo.
• É característica da tuberculose → destruição do tecido pulmonar,
material liquefeito pode estar associado com sangue, por isso que quando
o paciente com tuberculose começa a tossir, ele pode colocar esse
material pra fora, toda a área fica necrosada. A tuberculose pode ficar
localizada no pulmão ou disseminada.

Necrose Gordurosa

• Áreas focais de destruição gordurosa, tipicamente resultante da


liberação de lipases pancreáticas.
• Acontece nos quadros de pancreatite (a pessoa libera lipases
pancreáticas, que destroem os adipócitos que estão ao redor do pâncreas,
a gordura saponifica e se deposita nas superfícies, parecendo “pingos de
vela”).

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