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Arquivamento em caso de dispensa de pena:

O que este caso nos traz é a aplicação de um dos institutos que representam o afloramento do principio da
oportunidade num OJ como o nosso, que é baseado na legalidade e que é o arquivamento em caso de
dispensa de pena. Os casos que admitem a dispensa de pena são casos de culpa bastante diminuída e que
não se justifica a aplicação de uma sanção criminal, podendo o MP arquivar o processo, desde que estejam
reunidos os devidos pressupostos (Art. 280º cpp + art. 74º cp.) No 280º cpp encontramos requisitos mais
formais de natureza processual, no 74º temos requisitos de natureza mais substantiva/ material.
Olhando para o art. 280ºnº1: “Se o processo for por crime relativamente ao qual se encontre
expressamente prevista na lei penal a possibilidade de dispensa da pena, o Ministério Público, com a
concordância do juiz de instrução, pode decidir-se pelo arquivamento do processo, se se verificarem os
pressupostos daquela dispensa.”
O primeiro requisito para aplicação do arquivamento em caso de dispensa de pena presente no art. 74 CP,
está no seu no seu nº1, que estabelece que o crime em causa tem que ser punível com pena de prisão não
superior a 6 meses, ou só com multa não superior a 120 dias. (#verficar moldura penal do caso concreto).
Mas não basta este requisito, já que o art. 74nº3 CP exige que se verifiquem ainda o requisitos contidos
nas alíneas do nº1. Ou seja: a) A ilicitude do facto e a culpa do agente têm que ser diminutas; b) O dano
tem que ter sido reparado; e c) Não podem haver razões de prevenção que se oponham à dispensa de
pena. (#). Para alem destes requisitos de natureza mais material do art. 74º cp, teremos também de olhar
para o 280º cpp e. logo no nº1 exige a concordância do juiz de instrução criminal. Se o juiz não concordar
com o arquivamento, a consequência é o prosseguimento dos autos, ou seja, o MP deverá proferir
despacho de acusação, mas se o Juiz de instrução criminal manifestar a sua concordância, então a decisão
de arquivamento não é suscetível de impugnação (280nº3 cpp).
Ao contrario daquilo que sucede com a suspensão provisoria do processo, que era uma manifestação do
principio da oportunidade condicionada, na medida em que para ocorrer essa suspensão era necessário
que fossem aplicadas injunções e regras de conduta ao arguido, no arquivamento em caso de dispensa de
pena, temos uma manifestação de oportunidade que é não condicionada, porque não se vai exigir que o
arguido adote certos comportamentos, que cumpra certas injunções para que haja esse arquivamento.(#)
Por fim, é necessário também que esta dispensa de pena vá de encontro com às exigências de prevenção
geral e especial, que não se podem opor à aplicação deste instituto (#). Verificando que estes pressupostos
estão preenchidos, não haverá necessidade de levar o processo ate a fase de julgamento. A vantagem do
MP transportar esta dispensa de pena para um momento anterior, que é o momento do inquérito é a de
que no momento do inquérito, ainda que haja indícios de que houve crime e de que o arguido o praticou,
aquilo que acontece é que ele ainda não é considerado culpado. Há uma presunção de inocência até ao
transito em julgado da decisão condenatória. Portanto ele ainda é inocente durante a fase de inquérito.
Agora quando há a dispensa de pena nos termos do art. 74º CP, já na fase de julgamento, o tribunal
declara o arguido culpado, mas simplesmente não aplica a pena, ele dispensa a pena. Já se afastou a tal
presunção de inocência que existia durante a fase de inquérito.

NOTA: há uma 3ª via de resolução do conflito penal que também constitui um afloramento de
oportunidade que diz respeito à mediação penal que foi introduzida em 2007 no OJ através da lei nº
21/2007 de 12 de junho (pág.387)

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