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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

Instituto de Educação a Distância

Licenciatura em ensino de Geografia

Trabalho de Campo da Disciplina de Habilidade De Vida, Saúde Sexual E


Reprodutiva, Género E HIV-SIDA.

Benilda Francisco Vieira

Turma J Codigo-708210256

A Importância do Planeamento Familiar na Saúde Sexual e Reprodutiva

Docente:

Lázaro Luciano Sunde

_____________________

Nampula

Novembro

2022
Benilda Francisco Vieira

Licenciatura Em Ensino De Geografia

Trabalho de Campo da Disciplina de Habilidade De Vida, Saúde Sexual E


Reprodutiva, Género E HIV-SIDA.

Codigo-708210256

Turma: J

A Importância do Planeamento Familiar na Saúde Sexual e Reprodutiva

Trabalho a ser apresentado no curso de


licenciatura de geografia na Universidade
Católica De Moçambique
Tutor: Lázaro Luciano Sunde

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

Instituto de Educação a Distância

Nampula

Novembro

2022

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 Capa 0.5
 Índice 0.5
Aspectos  Introdução 0.5
Estrutura organizacionais  Discussão 0.5
 Conclusão 0.5
 Bibliografia 0.5
 Contextualização
(Indicação clara do 1.0
problema)
Introdução  Descrição dos 1.0
objectivos
 Metodologia
adequada ao objecto 2.0
do trabalho
 Articulação e
Conteúdo domínio do discurso
académico (expressão 2.0
escrita cuidada,
Análise e coerência / coesão
discussão textual)
 Revisão bibliográfica
nacional e
internacionais 2.0
relevantes na área de
estudo
 Exploração dos dados
2.0
Conclusão  Contributos teóricos
práticos 2.0

Aspectos Formatação  Paginação, tipo e


gerais tamanho de letra, 1.0
paragrafo,
espaçamento entre
linhas

Normas APA
Referências 6ª edição em  Rigor e coerência das
Bibliográficas citações e citações/referências 4.0
bibliografia bibliográficas

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Folha para recomendações de melhoria: A ser preenchida pelo tutor

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Índice
Introdução ................................................................................................................................... 5

Objectivos ................................................................................................................................... 5

Geral ........................................................................................................................................ 5

Específicos .............................................................................................................................. 5

Metodologias .............................................................................................................................. 5

1. A Importância do Planeamento Familiar na Saúde Sexual e Reprodutiva ............................. 6

1.1. Planeamento familiar/Contracepção ................................................................................ 6

1.1.1. Fatos principais ............................................................................................................. 6

1.1.2. Benefícios do planeamento familiar/contracepção ....................................................... 7

1.2. Tipos de métodos contraceptivos ................................................................................... 10

1.3. Saúde sexual e reprodutiva ............................................................................................ 10

1.4. Infecções sexualmente transmissíveis ........................................................................... 11

1.4.1. ISTS mais comuns ................................................................................................... 11

1.5. Diferenças entre género e sexo ...................................................................................... 12

1.5.1. Igualdade de género na vida sexual......................................................................... 12

1.5.2. Processo de desenvolvimento de sexualidade (mudanças físicas e psicológicas.) . 13

1.5. Orientações e identidades sexuais.................................................................................. 22

1.6. Reprodução humana ...................................................................................................... 23

1.6.1. Sistemas reprodutores masculinos e femininos ....................................................... 25

1.7. Aborto ............................................................................................................................ 28

1.7.1. Classificação do aborto ........................................................................................... 29

1.7.2. Causas do aborto ..................................................................................................... 30

1.7.3. Factores de risco para o aborto ................................................................................ 31

2. Conclusão ............................................................................................................................. 32

3. Referências bibliográficas .................................................................................................... 33

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Introdução

A saúde sexual e reprodutiva representa uma das principais preocupações da Saúde Pública,
pois afecta a saúde e o bem-estar dos indivíduos e compromete o nível social e económico das
sociedades. Muitos problemas relacionados a este tema são acentuados em grupos
socialmente desfavorecidos, como os imigrantes

No contexto em que vivemos actualmente, em que a globalização possibilita intensa


circulação de pessoas e mercadorias por diferentes países, os movimentos migratórios têm
sido observados com maior atenção por estudiosos de diferentes áreas do conhecimento. Pode
ser dito que a necessidade de compreensão sobre a distribuição e a movimentação de pessoas,
entre diversas fronteiras nacionais, bem como o entendimento acerca da complexidade e dos
impactos que envolvem tal fenómeno, tanto para os migrantes quanto para os países de
acolhimento, transformou o tema em um importante objecto de estudo nas áreas da Saúde
Pública e das Ciências Sociais e Humanas.

Objectivos

Geral

 Falar sobre a importância do planeamento familiar na saúde sexual e reprodutiva

Específicos

 Conceituar o planeamento familiar, citando os métodos anticonceptivos aplicados;


 Falar do aborto e das suas consequências;
 Descrever as fases do desenvolvimento sexual;
 Falar da diferença entre o sexo e o género;
 Falar da reprodução humana.

Metodologias

Para a realização do presente trabalho, baseou-se no método bibliográfico que consistiu


na consulta de diversas obras que versam sobre o tema em análise. De referir que as
mesmas obras constam na bibliografia final do trabalho.

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1. A Importância do Planeamento Familiar na Saúde Sexual e Reprodutiva

1.1. Planeamento familiar/Contracepção

Planeamento Familiar é um conjunto de acções que auxiliam homens e mulheres a planejar a


chegada dos filhos, e também a prevenir gravidez não planejada. Todas as pessoas possuem o
direito de decidir se terão ou não filhos, e o Estado tem o dever de oferecer acesso a recursos
informativos, educacionais, técnicos e científicos que assegurem a prática do planeamento
familiar.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, mais de 120 milhões de mulheres em todo
mundo desejam evitar a gravidez. Por isso, a lei do Planeamento Familiar foi desenvolvida
pelo Governo Brasileiro, com intuito de orientar e conscientizar a respeito da gravidez e da
instituição familiar.

1.1.1. Fatos principais

 Estima-se que 225 milhões de mulheres em países em desenvolvimento gostariam de


retardar ou parar de engravidar, mas não estão usando qualquer método contraceptivo.

 Alguns métodos de planeamento familiar, tais como preservativos, ajudam a prevenir


a transmissão do HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis.

 O planeamento familiar/contracepção reduz a necessidade de aborto, especialmente o


aborto inseguro.

 O planeamento familiar reforça os direitos das pessoas de determinar o número e


espaçamento de tempo entre seus filhos.

 Ao impedir a gravidez indesejada, o planeamento familiar/contracepção impede


mortes de mães e crianças.

O planeamento familiar permite que as pessoas atinjam o seu número desejado de filhos e
determinem o espaço de tempo entre as gestações. E é alcançado através do uso de métodos
contraceptivos e do tratamento da infertilidade (esta ficha técnica foca na contracepção).

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1.1.2. Benefícios do planeamento familiar/contracepção

A promoção do planeamento familiar - e a garantia do acesso a métodos contraceptivos


preferidos para mulheres e casais - é essencial para garantir o bem-estar e a autonomia das
mulheres, apoiando ao mesmo tempo a saúde e o desenvolvimento das comunidades.

Prevenir riscos de saúde relacionados à gravidez em mulheres

A capacidade da mulher de escolher se e quando engravidar tem um impacto directo sobre a


sua saúde e bem-estar. O planeamento familiar permite o espaçamento de tempo entre as
gravidezes e pode atrasar a gravidez em mulheres jovens com maior risco de problemas de
saúde e morte por gravidez precoce. Ela impede gravidezes não desejadas, incluindo as de
mulheres mais velhas que têm riscos maiores relacionados à gravidez. O planeamento familiar
permite que as mulheres que desejam limitar o tamanho de suas famílias o façam. As
evidências sugerem que as mulheres que têm mais de quatro filhos estão em maior risco de
mortalidade materna.

Ao reduzir as taxas de gravidez indesejada, o planeamento familiar também reduz a


necessidade de aborto inseguro.

Redução da mortalidade infantil

O planeamento familiar pode impedir gravidezes inoportunas e partos com um curto período
de tempo entre eles, que contribuem para algumas das mais altas taxas de mortalidade infantil
do mundo. Filhos de mães que morrem ao dar à luz também têm um maior risco de morte e
problemas de saúde.

Ajudando a prevenir o HIV/AIDS

O planeamento familiar reduz o risco de gravidezes não desejadas entre as mulheres que
vivem com o HIV, resultando em menos bebés infectados e órfãos. Além disso, preservativos
masculinos e femininos fornecem dupla protecção contra a gravidez indesejada e contra as
DSTs, incluindo o HIV.

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Capacitar as pessoas e melhorar a educação

O planeamento familiar permite que as pessoas façam escolhas informadas sobre a sua saúde
sexual e reprodutiva. O planeamento familiar representa uma oportunidade para as mulheres
de prosseguir seus estudos adicionais e participar na vida pública, incluindo trabalho
remunerado em organizações não-familiares. Além disso, ter famílias menores permite que os
pais invistam mais em cada criança. Crianças com menos irmãos tendem a permanecer mais
tempo na escola do que aqueles com muitos irmãos.

Reduzir a gravidez na adolescência

Adolescentes grávidas são mais propensas a ter bebés prematuros ou de baixo peso ao nascer.
Os recém-nascidos de adolescentes têm maiores taxas de mortalidade neonatal. Muitas
meninas que engravidam têm de deixar a escola e isto tem implicações de longo prazo para
elas como indivíduos, para suas famílias e suas comunidades.

Crescimento demográfico lento

O planeamento familiar é a chave para a desaceleração do crescimento insustentável da


população e dos impactos negativos resultantes sobre a economia, o ambiente e os esforços
nacionais e regionais de desenvolvimento.

É importante que o planeamento familiar seja amplamente disponível e facilmente acessível


através de parteiras e outros profissionais de saúde treinados para qualquer um que seja
sexualmente activo, incluindo adolescentes. Parteiras são treinadas para oferecer (quando
autorizadas) métodos contraceptivos culturalmente aceitáveis e disponíveis localmente.
Outros profissionais de saúde treinados, como, por exemplo, os profissionais de saúde da
comunidade, também fornecem alguns métodos de planeamento familiar, como pílulas e
preservativos. Para métodos como a esterilização, as mulheres e os homens precisam ser
encaminhado para um médico.

O uso de anticoncepcionais

O uso de anticoncepcionais aumentou em muitas partes do mundo, especialmente na Ásia e


América Latina, mas continua a ser baixo na África subsaariana. Mundialmente, o uso de
anticoncepcionais modernos aumentou ligeiramente, passando de 54% em 1990 para 57,4%
em 2014. Regionalmente, a proporção de mulheres entre 15 e 49 anos que relataram o uso de
um método contraceptivo moderno aumentou minimamente ou estabilizou entre 2008 e 2014.
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Na África, a taxa passou de 23,6% para 27,6%; na Ásia, aumentou ligeiramente de 60,9%
para 61,6%; na América Latina e no Caribe, houve um aumento de 66,7% para 67,0%.

O uso de contraceptivos pelos homens torna-se um subconjunto relativamente pequeno das


taxas de prevalência acima. Os métodos contraceptivos modernos para homens estão
limitados a preservativos masculinos e esterilização (vasectomia).

Necessidade mundial não atendida de contracepção

Estima-se que 225 milhões de mulheres em países em desenvolvimento gostariam de retardar


ou parar de engravidar, mas não estão usando qualquer método de contracepção. As razões
para isso incluem:

 Escolha limitada de métodos;

 Acesso limitado à contracepção, sobretudo entre os jovens, os segmentos mais pobres


da população ou pessoas solteiras;

 Medo ou experiência de efeitos colaterais;

 Oposição cultural ou religiosa;

 Má qualidade dos serviços disponíveis;

 Erros de princípio dos usuários e provedores;

 As barreiras de género.

A necessidade não atendida de contracepção continua a ser muito elevada. Essa desigualdade
é alimentada tanto por uma população crescente, quanto por uma escassez de serviços de
planeamento familiar. Na África, 23,2% das mulheres em idade reprodutiva têm uma
necessidade não atendida de contracepção moderna. Na Ásia, na América Latina e no Caribe
(regiões com alta prevalência de contraceptivos) os níveis de necessidades não satisfeitas são
de 10,9% e 10,4%, respectivamente (World Contraceptive Reports 2013, Departamento de
Assuntos Económicos e Sociais das Nações Unidas).

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1.2. Tipos de métodos contraceptivos

A contracepção é o principal meio de evitar uma gravidez indesejada, seja em adultos ou


adolescentes. Existem diferentes métodos contraceptivos disponíveis nas redes pública e
privada, porém muitos deles ainda são desconhecidos pela população. A escolha do melhor
método deve ser personalizada e com orientação médica.

A camisinha (masculina e feminina) é um método excelente para evitar a gravidez, além de


ser o único método disponível para evitar o contágio por ISTs.

A pílula anticoncepcional é um método bastante eficaz, baseado na ingestão de harmónios


em forma de comprimidos que impedem a ovulação. Existem outras formas desse método
contraceptivo, como injectáveis, adesivos e implantes transdérmicos.

Com formato de ―T‖, o dispositivo intra-uterino (conhecido como DIU) é um método


contraceptivo indicado e colocado no útero pelo ginecologista, e pode permanecer eficaz por
longo período. Existem dois tipos de DIU: o hormonal e o de cobre. Ambos apresentam
excelente eficiência, sendo considerados umas das melhores formas de prevenção para
gravidez.

Por fim, existem outros dispositivos, como o diafragma vaginal — feito de borracha, que
impede a entrada de espermatozóides no útero — e o anel vaginal — também feito de
borracha, faz a liberação progressiva de harmónios.

1.3. Saúde sexual e reprodutiva

De acordo com a OMS, a saúde sexual é um ―estado de bem-estar físico, emocional, mental e
social em relação à sexualidade‖. Ou seja, estar saudável sexualmente abrange diversos outros
factores que não somente a ausência de uma doença. É um conceito que incorpora aspectos
positivos quanto à aceitação da sexualidade e suas relações. Ter experiências sexuais
prazerosas, seguras e livres de qualquer tipo de violência também é cuidar da saúde sexual.

Portanto, mais do que prevenir-se contra ISTs ou gestação precoce, cuidar da saúde sexual é
importante para a saúde mental, psicológica e emocional.

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1.4. Infecções sexualmente transmissíveis

A saúde sexual abrange, ainda, outro ponto bastante preocupante: as Infecções Sexualmente
Transmissíveis (ISTs).

A relação sexual desprotegida é a causa principal de ISTs, tornando o uso da camisinha


essencial para evitar o contágio. As ISTs possuem um impacto sério na saúde, podendo
evoluir de forma grave e gerar sequelas quando não diagnosticadas e tratadas precocemente.
Uma grande parte dessas doenças não apresenta sintomas facilmente percebidos, o que atrasa
o diagnóstico e o tratamento.

1.4.1. ISTS mais comuns


Segundo a OMS, as ISTs mais comuns são a tricomoníase, clamídia, gonorreia e sífilis. Todas
elas são tratáveis e curáveis, principalmente se o diagnóstico for precoce e o paciente tiver
boa adesão ao tratamento.

Existem também as ISTs virais, como o HIV (vírus causador da Aids), vírus
herpes simples genital (HSV), hepatite viral B, papilomavírus humano (HPV)

O HIV continua sendo a maior ameaça dentro das ISTs, cujo número de casos está voltando a
aumentar nos últimos anos. A infecção pelo HIV não tem cura e o tratamento requer a
utilização de vários medicamentos pelo resto da vida para controle da carga viral. Além
disso, não há vacina contra o HIV.

Por outro lado, existem vacinas contra a hepatite B, uma infecção que pode levar a doenças
como a cirrose e o câncer de fígado. O HPV é outro IST que actualmente possui vacinas com
boa eficácia para sua prevenção.

No entanto, é preciso compreender que a melhor forma de se proteger é por meio do uso de
preservativos. Independente da vacinação e tratamento, o uso da camisinha, além de oferecer
autoprotecção, diminui o risco de disseminação dessas doenças, já que muitas são silenciosas
e não apresentam sintomas aparentes.

1.4.2. Promovendo a saúde sexual e a diversidade

A saúde sexual e reprodutiva deve ser tema de conversas entre pais (ou responsáveis legais)
e seus filhos.

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Jovens e adolescentes são impactados física e psicologicamente, durante a puberdade, e
o apoio familiar e profissional é fundamental para vencer todos os possíveis conflitos
internos. Nessa fase, deve-se estimular o autoconhecimento e a auto-aceitação, bem como
facilitar a construção de um ambiente de respeito e apoio.

O respeito à sexualidade, ao corpo e às escolhas de cada pessoa deve prevalecer em todos os


ambientes da sociedade. Afinal, a promoção da saúde sexual e reprodutiva vai muito além da
prevenção de doenças

1.5. Diferenças entre género e sexo

Conforme Quisumbing (1996), mesmo os estudiosos por vezes se confundem no emprego dos
termos sexo e género.

Enquanto sexo se refere às categorias inatas do ponto de vista biológico, ou seja, algo
relacionado com feminino e masculino; o género diz respeito aos papéis sociais relacionados
com a mulher e o homem (Moser, 1989).

Toda sociedade é marcada por diferenças de género, havendo, ainda, grande variação dos
papéis associados em função da cultura e do tempo em que se vive. Ressalte-se, contudo, que
a determinação social de género pode ser alterada por uma acção consciente tomada –
inclusive por meio de políticas públicas.

Em suma, enquanto sexo é uma categoria biológica, género é uma distinção sociológica.

Sexo é, em regra, fixo; já o papel de género muda no espaço e no tempo (principalmente com
a tomada de consciência de distinções que são construídas socialmente, e que podem e devem
ser em inúmeros casos ‗desconstruídas‘, para que haja igualdade do ponto de vista social).

1.5.1. Igualdade de género na vida sexual


Dentro dos direitos reprodutivos, as directrizes da ONU reconhecem que as pessoas são livres
para decidir se querem ou não ter filhos, quantos filhos desejam ter e em que momento de
suas vidas. Devem possuir acesso amplo a informações, métodos e técnicas para ter ou não
filhos. Além disso, é direito exercer a sexualidade e a reprodução livre de discriminação,
imposição e violência.

Quanto aos direitos sexuais, cada pessoa é livre para escolher seu parceiro sexual e viver e
expressar livremente sua sexualidade, independente da orientação sexual. As pessoas não

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devem sentir medo, vergonha ou culpa, e possuem o direito de escolher ou não se querem ter
uma relação sexual.

É direito universal ter acesso a serviços de saúde que garantam privacidade, sigilo e
atendimento adequado para o cuidado da saúde sexual e prevenção de ISTs.

1.5.2. Processo de desenvolvimento de sexualidade (mudanças físicas e psicológicas.)


Na realidade, a sexualidade ―nasce‖ com o bebé e vai evoluindo na sua forma e expressão ao
longo de toda a vida. Isto é, o desenvolvimento psicossexual é um processo complexo e subtil,
sujeito a diversos acasos à medida que o ser humano passa pela infância, adolescência, idade
adulta e velhice (Félix, 1995).

Embora o ser humano seja um ser sexuado, a sexualidade é diferente consoante a idade. As
crianças, os adolescentes, os adultos e as pessoas idosas têm interesses sexuais, manifestando
a sua sexualidade através de determinados comportamentos. Contudo, a sexualidade muda
com a idade, verificando-se características próprias que estão associadas a cada fase da vida.

Também em cada etapa da vida, as pessoas vivem a sua sexualidade de formas diferentes,
estando esta sujeita à influência de diversos factores socioculturais e às particularidades
individuais do desenvolvimento biofisiológico e psicoafectivo de cada pessoa.

Ao longo do ciclo da vida, do ponto de vista biofisiológico existem 3 períodos importantes: o


período pré-natal, a puberdade e o climactério.

Do ponto de vista psicossocial distinguem-se claramente: o período pré-pubertário, a


adolescência, a vida adulta e a velhice.

Neste contexto, é difícil definir a sexualidade de uma forma sintética, pois cada período tem
as suas especificidades. Apesar disso, as maiores diferenças no desenvolvimento verificam-se
entre a fase da pré-puberdade e a fase da pós-puberdade. Nesta seção, pode encontrar
informação sobre as principais características que definem cada período da nossa evolução.

A sexualidade pré-pubertária

Entre os 0 e os 10-12 anos

Na infância, a sexualidade é encarada como uma descoberta, nomeadamente do próprio corpo,


considerando-se como o primeiro ato sexual da criança mamar no peito da mãe. Nesta fase, a

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sexualidade é vivida e desenvolve-se nas relações com as sensações corporais e em interação
com as figuras de apego.

As principais características da sexualidade nas crianças são:

 Os órgãos genitais estão pouco desenvolvidos.

 Os caracteres sexuais apenas iniciam o seu desenvolvimento.

 A quantidade de hormonas sexuais na circulação sanguínea é também muito pequena.

 As sensações de prazer não adquiriram ainda um significado específico, devido a


factores hormonais e sociais.

 Os estímulos tácteis sobre o próprio corpo são os que têm maior poder propiciador de
respostas fisiológicas sexuais.

 A sexualidade está mediatizada pelos afectos.

 Interiorização da moral sexual.

Até aos dois/três anos, as crianças adquirem consciência da sua identidade sexual, ou seja,
reconhecem-se e identificam-se como rapaz ou rapariga. Simultaneamente, iniciam um
processo de aprendizagem e interiorização das funções que a sociedade considera próprias do
rapaz ou da rapariga, e que estão associadas ao papel de género.

Também se verifica o controlo dos esfíncteres e a criança começa a questionar-se sobre a


origem dos bebés. Os modelos de identificação ou imitação também surgem nesta fase, assim
como os problemas relativos ao ciúme (em que a criança não compreende nem aceita uma
possível partilha das figuras de apego – a aparecimento do Complexo de Caim e Complexo de
Édipo).

A sexualidade na adolescência

A puberdade é uma época de transição entre a infância e a idade adulta, um período marcado
por profundas alterações biológicas, fisiológicas e psicológicas, durante o qual o corpo
adquire os caracteres sexuais (masculinos e femininos) associados ao sexo biológico, dando-
se igualmente a maturação do aparelho reprodutor e a aquisição da capacidade reprodutiva.

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A descoberta da sexualidade atinge o seu auge. O desejo sexual torna-se algo mais específico
e vários estímulos adquirem valor sexual. Com uma maior actividade hormonal, os jovens
passam por várias alterações ao nível do corpo, designadamente aumento dos órgãos sexuais,
ejaculação nocturna no caso dos rapazes e a primeira menstruação no caso das raparigas.
Habitualmente é neste período que ocorrem os primeiros contactos sexuais e as primeiras
experiências.

Vejamos de forma breve quais as mudanças que se produzem e que definem a adolescência
(López e Fuertes, 1999):

Mudanças biofisiológicas

Com a chegada da puberdade, produz-se um conjunto de mudanças fisiológicas (ex: estatura,


peso) e também uma sequência de mudanças especificamente sexuais que culminarão na
maturação dos órgãos sexuais, assim como na capacidade de resposta à estimulação sexual.

Mudanças psicológicas

O adolescente adquire uma nova forma de pensamento que lhe permite formular hipóteses,
raciocinar sobre elas e extrair as suas próprias conclusões. Estas novas possibilidades
intelectuais também lhe permitem reflectir sobre os seus próprios pensamentos, bem como
orientar o seu afecto para determinadas ideias e valores.

O processo de formação da identidade pessoal e sexual é a tarefa mais importante do


adolescente no que se refere à sua personalidade.

Mudanças na capacidade de integração social

Nesta fase, os jovens desenvolvem a capacidade de integração com o grupo de iguais e a


capacidade de integração no mundo dos adultos. Surgem também novas necessidades
afectivas e sexuais que podem conduzir à dissolução do grupo, em favor da formação de
casais. Nesta fase, vai também surgir outra alteração importante: a especificação da orientação
sexual.

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Manifestações anatómicas e fisiológicas

Nos rapazes

Fonte: Harris, Robie H. (1997). Vamos falar de Sexo - Crescimento, Corpos em Mudança, Sexo e Saúde Mental.
Terramar, Lisboa.

Nos rapazes, as transformações começam por volta dos 9 aos 14 anos e são muito mais
demoradas do que nas raparigas.

As principais características das mudanças são:

 Surgimento de pêlos nos púbis, nas axilas e no peito;

 Aumento dos testículos e do pénis;

 Crescimento da barba;

 Voz grossa;

 Ombros mais largos;

 Aumento da massa muscular;

 Início da produção de espermatozóides;

 Aumento do peso e da estatura

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Nesta fase os rapazes têm as primeiras ejaculações, que geralmente ocorrem durante o sono
(os chamados ―sonhos molhados‖).

Nas raparigas

Fonte: Harris, Robie H. (1997). Vamos falar de Sexo - Crescimento, Corpos em Mudança, Sexo e Saúde Mental.
Terramar, Lisboa.

Nas raparigas inicia-se, em geral, entre os 8 e os 13 anos, variando este período de pessoa
para pessoa. Em geral, a puberdade tem início com a primeira menstruação (menarca), que
coincide com o surgimento de uma série de transformações do corpo, que já se vinham
manifestando na fase conhecida como pré-puberdade.

As principais características são:

 Alargamento dos ossos da bacia (ancas);

 Início do ciclo menstrual (menarca);

 Surgimento de pêlos no púbis e nas axilas;

 Depósito de gordura nas nádegas, nos quadris e nas coxas;

 Desenvolvimento das mamas.

Surge a primeira menstruação (menarca), que pode aparecer inesperadamente ou chegar


precedida de vários dias de dores abdominais e de cabeça.

A sexualidade na vida adulta

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Em comparação com a adolescência, na idade adulta a sexualidade é vivida mais
tranquilamente. Porém, a sexualidade continua a ser é muito distinta de pessoa para pessoa,
como consequência do grau de diversidade que implicam as suas formas de vida.

Na idade adulta, a maioria das pessoas encaram a sexualidade com normalidade. Isto advém
de uma maior maturidade resultante de uma vida familiar tendencialmente mais estável ou por
possuírem um/a companheiro/a fixo/a.

Levinson (1977, citado por López e Fuertes, 1999) refere que durante a primeira etapa da vida
adulta dão-se mudanças significativas que correspondem a um período definido:

 Fim do período de crescimento fisiológico, alcançando uma certa estabilidade na


figura corporal.

 Aquisição da maioridade legal.

 Fim do período de escolarização obrigatória.

 Entrada no mercado de trabalho com remuneração.

 Formação de pares sexuais ou acesso ao casamento.

 Nascimento de filhos.

Fonte: López Sánchez, F. e Fuertes, A. (1999). Para compreender a sexualidade. Lisboa. APF

A sexualidade no envelhecimento

Ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, a entrada numa idade adulta mais avançada
não significa colocar a vida sexual de parte.

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O envelhecimento é um processo indutivo de várias mudanças no indivíduo, nomeadamente
ao nível físico, mental e social. Estas mudanças tendem a afectar a expressão da sexualidade,
na medida em que se torna necessário para a pessoa ―idosa‖ redefinir objectivos, isto é,
reconhecer que está numa nova fase do ciclo vital e que, tal como as anteriores, está associada
a determinados ―acontecimentos padrão‖, assim como de crises de desenvolvimento próprias
da fase em questão.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) adoptou o critério do intervalo de idades entre os 60


e os 65 anos para definir as pessoas idosas, o que, na maioria dos países desenvolvidos,
corresponde ao início da idade da reforma, sendo que o factor cronológico assume aqui uma
importância significativa. De facto, a componente biológica é fundamental no processo de
envelhecimento, e tem uma dinâmica própria, sobre a qual o ser humano não tem qualquer
influência ou poder de decisão.

Parece ser consensual e lógico que o sexo e a sexualidade fazem parte da vida da pessoa
idosa, mesmo que haja uma redução da frequência e da intensidade. Se por um lado há
diminuição de energia, força e vitalidade, por outro há tendencialmente um aumento do tempo
disponível e diminuição de preocupações profissionais.

A sexualidade das pessoas idosas continua a ser um tema que dá origem a diversos mitos, que
dominam as crenças da actualidade, pautadas pela ideia de que o homem e a mulher mais
velhos são sexualmente pouco atraentes, e incapazes de se interessarem por sexo (Murphree e
Neighbors, 2009).

Na obra Sexuality, Sexual Health and Ageing, Merryn Gott (2005) faz referência a um mito
designado ―the asexual old age‖, que corresponde a um estereótipo caracterizado por uma
incompatibilidade entre Sexualidade e Envelhecimento, e segundo o qual as pessoas idosas
não praticam sexo.

Além deste, é ainda possível fazer referência a outros mitos (Correia, 2003):

 O coito e a emissão de sémen são debilitantes e provocam o envelhecimento e a morte.

 A vida pode ser prolongada pela abstinência na juventude e pela inactividade mais
tarde.

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 A masturbação é uma actividade infantil que deve ser posta de parte quando se atinge
a idade adulta. Só é praticada por pessoas idosas se estas estiverem seriamente
perturbadas.

 A satisfação na relação sexual diminui consideravelmente depois da menopausa.

 Os homens idosos são particularmente vulneráveis a desvios sexuais, tais como o


exibicionismo e as parafilias.

 As mulheres idosas que continuam a apreciar o sexo foram provavelmente


ninfomaníacas quando jovens.

 A maioria dos homens idosos perde o desejo e a capacidade para ter relações sexuais.

 As pessoas idosas com doenças crónicas ou deficiências físicas devem cessar


completamente a sua actividade sexual.

 A capacidade de execução sexual mantém-se sempre igual ao longo da vida.

 As pessoas idosas que estão vários anos sem ter relações sexuais não mais poderão vir
a tê-las no futuro.

O processo de envelhecimento implica várias alterações ao nível dos determinantes


biológicos, que englobam os factores genéticos, neurológicos, hormonais, anatómicos e
fisiológicos, que poderão exercer alguma influência na vivência do amor e da sexualidade. Tal
não significa que determinam a sua cessação, podendo antes exigir alguma adaptação.

No caso dos homens, os autores (López e Fuertes, (1999), fazem referência às seguintes
alterações biofisiológicas:

 Diminuição da produção de esperma, que se inicia por volta dos 40 anos, mas sem
total desaparecimento;

 A erecção é mais lenta e necessita de uma maior estimulação, sendo também menos
firme;

 Menor quantidade de sémen emitido, havendo uma menor necessidade de ejacular e


sensações orgásticas menos intensas;

 Os testículos elevam-se menos e mais lentamente;

20
 Reduz-se a tensão muscular durante a relação e aparece um outro conjunto de
alterações fisiológicas que acompanham a resposta sexual;

 O período refractário alarga-se, ou seja, o tempo entre uma ejaculação e a seguinte


prolonga-se.

Em suma, verifica-se uma perda nítida de vigor fisiológico nos comportamentos sexuais
coitais.

Relativamente às mulheres, surgem as seguintes alterações biofisiológicas: (López e Fuertes,


1999)

 Diminui o tamanho da vagina, que também se torna mais estreita e perde elasticidade
(estas alterações na vagina podem tornar o coito doloroso se não se aplicam cremes
adequados); porém, a resposta clitoridiana não sofre alterações importantes;

 Os seios diminuem de tamanho e perdem firmeza;

 A lubrificação vaginal diminui em quantidade e é mais lenta;

 A distribuição de gordura deixa de ser ―tipicamente feminina‖ e dão-se alterações


importantes na figura corporal;

 As alterações fisiológicas que acompanham a resposta sexual diminuem


significativamente: os seios quase não aumentam de tamanho; produz-se uma menor
vaso congestão dos órgãos genitais, embora continuem a ser uma zona erógena
privilegiada; diminui a intensidade e a frequência das contracções;

No caso das mulheres, as alterações referidas estão associadas a

É possível ainda referir outros factores psicossociais que condicionam a actividade sexual das
pessoas idosas (Lópes e Fuertes, 1999):

 Normalmente as relações rotineiras, insatisfatórias ou conflituosas diminuem o desejo


sexual, o grau de excitação e, progressivamente, as próprias capacidades sexuais;

 As dificuldades económicas ou sociais levam à diminuição do interesse e das


capacidades sexuais, nomeadamente pela situação de tensão uma diminuição da
produção de estrogénio após a menopausa (Amaro, 2006).e sensação de
marginalização que provocam;
21
 Condições físicas inadequadas, como sejam obesidade, falta de higiene, fadiga física
ou mental, diminuem o desejo, as próprias capacidades e as possibilidades de se
tornarem atractivos para os outros;

 O medo de não ser capaz de ter relações sexuais coitais ou de proporcionar prazer ao
parceiro limita a capacidade sexual, devido à ansiedade e insegurança que provoca;

 A atitude dos filhos e da sociedade em geral, habitualmente muito crítica face à ideia
de que os seus pais possam interessar-se por sexo, leva a que muitas pessoas idosas se
culpabilizem e fiquem assim limitadas na sua atividade sexual.

Não obstante estes factores, López e Fuertes (1999) consideram que existem outros factores
que podem contribuir de forma positiva, permitindo às pessoas mais velhas desfrutar de
experiências gratificantes do ponto de vista das relações sexuais, e também do ponto de vista
dos afectos.

É importante voltar a salientar que estas alterações não ocorrem nem na mesma altura nem da
mesma forma em todas as pessoas. Cada indivíduo tem o seu próprio ritmo e, para alguns,
estas mudanças não chegam a ser muito pronunciadas.

Também o modo como cada pessoa vive estas alterações é diferente. Algumas encaram-nas
como naturais, enquanto outras ficam alarmadas e preocupadas, pensando que vão deixar de
poder ter relações sexuais.

Para melhor lidar com o impacto destas alterações, a pessoa em questão pode falar com um/a
técnico/a de saúde (médico/a de família, por exemplo; ou ginecologista, para as mulheres;
ou urologista, para os homens) ou sexólogo/a, a fim de obter ajuda para ultrapassar eventuais
dificuldades sexuais que possam surgir nesta fase.

1.5. Orientações e identidades sexuais

Sexo biológico – assume-se frequentemente que é o sexo cromossomático ou o sexo genital,


que pressupõe capacidades reprodutivas. Existem vários factores que contribuem para o sexo
biológico: cromossomas (XY, XX, ou outras combinações), genitais (estruturas reprodutivas
externas), gónadas (presença de testículos ou ovários), hormonas (testosterona, estrogénios),
etc. Uma pessoa intersexo tem órgãos genitais/reprodutores (internos e/ou externos)
masculinos e femininos, em simultâneo, ou cromossomas que não são nem XX nem XY.

22
Identidade de género – sentimento de ser do género feminino (mulher) ou do género
masculino (homem) independentemente da anatomia. Uma pessoa transgénero é alguém que
não corresponde às convenções sociais e categorias tradicionais de género associadas ao seu
sexo biológico. Uma pessoa transexual é alguém que sente que a sua identidade de género é
diferente do seu sexo biológico. Algumas pessoas transexuais desejam mudar o seu corpo
através de tratamentos e/ou cirurgias, mas nem todas.

Expressão de género – diz respeito aos comportamentos, forma de vestir, forma de


apresentação, aspeto físico, gostos e atitudes. Uma pessoa andrógina exprime-se de uma
forma ambivalente, ou seja, apresenta uma combinação de traços físicos quer masculinos,
quer femininos ou uma aparência que não permite identificar claramente o seu género.

Orientação sexual – refere-se ao que cada pessoa pensa e sente sobre si própria e sobre a sua
afectividade e sexualidade e por quem se sente atraído afectiva e sexualmente. Uma pessoa é
considerada:

 Heterossexual se se sente sobretudo atraída por pessoas de género diferente

 Homossexual se se sente sobretudo atraída por pessoas do mesmo género

 Bissexual se se sente atraída por pessoas de ambos os géneros.

1.6. Reprodução humana

A reprodução humana é um processo bastante complexa que, para acontecer de maneira


natural, depende de uma série de factores que envolvem tanto o homem quanto a mulher. Para
a maioria dos casais, ela pode ocorrer por meio da relação sexual. Porém, há situações em que
não é possível engravidar por esse meio.

Na reprodução humana, para que haja a gravidez natural, o sistema reprodutor dos dois devem
estar funcionando perfeitamente, o homem deve ejacular na vagina da mulher, permitindo que
os espermatozóides entrem na cavidade uterina através do colo do útero e do canal cervical.
Dentro do útero, os espermatozóides continuam até chegarem às trompas (aleatoriamente eles
se dividem e metade acaba entrando para a trompa direita e a outra metade para a trompa
esquerda).

23
Imagem: Aparelho Reprodutor Feminino

Mas de nada adianta os espermatozóides alcançarem seu destino se durante esse processo o
ovário não funcionar, ―liberando‖ o óvulo. O fenómeno da ovulação ocorre por volta do
décimo quarto dia do ciclo menstrual, em que um dos ovários ―libera‖ um óvulo. Quando isto
ocorre, esse óvulo é captado pela trompa e fertilizado pelo espermatozóide dentro da trompa
que o captou.

Dessa maneira, ―nasce‖ um pré-embrião. Com a ajuda da musculatura das trompas, esse pré-
embrião é conduzido até a cavidade uterina (endométrio) na qual irá se desenvolver até virar
um feto. O processo de fecundação descrito está bem representado na figura abaixo.

Imagem: Fecundação do óvulo e espermatozóide.


24
1.6.1. Sistemas reprodutores masculinos e femininos
"O sistema reprodutor, também chamado de sistema genital, é responsável por proporcionar
as condições adequadas para a nossa reprodução. O sistema reprodutor masculino é
responsável por garantir a produção da gameta masculino (espermatozóide) e depositá-lo no
interior do corpo da mulher. O sistema reprodutor feminino, por sua vez, atua produzindo a
gameta feminino (ovócito secundário) e também servindo de local para a fecundação e
desenvolvimento do bebé."

Função do sistema reprodutor

Os sistemas reprodutores masculinos e femininos atuam juntos para garantir a multiplicação


da nossa espécie. Tanto o sistema genital masculino quanto o feminino é responsável pela
produção das gametas, ou seja, pela produção das células que se unirão na fecundação e darão
origem ao zigoto. Os gametas são produzidos nas chamadas gônadas, sendo os testículos as
gónadas masculinas e os ovários as gónadas femininas. Os testículos produzem os
espermatozóides, enquanto os ovários produzem os ovócitos secundários, chamados
popularmente de óvulos.

Os sistemas reprodutores masculinos e femininos garantem as condições necessárias para que


ocorra a nossa reprodução.

O espermatozóide é depositado dentro do corpo da fêmea no momento da cópula, e a


fecundação ocorre no interior do sistema reprodutor feminino, mais frequentemente na tuba
uterina. Após a fecundação, forma-se o zigoto, o qual inicia uma série de divisões celulares
enquanto é levado em direcção ao útero. O embrião implanta-se no endométrio do útero, e ali
é iniciado o seu desenvolvimento. A gestação humana dura cerca de 40 semanas.

Sistema reprodutor masculino

O sistema reprodutor masculino garante a produção dos espermatozóides e a transferência


desses gametas para o corpo da fêmea. Ele é formado por órgãos externos e internos. O pénis
e o saco escrotal são os chamados órgãos reprodutivos externos do homem, enquanto os
testículos, os epidídimos, os ductos deferentes, os ductos ejaculatórios, a uretra, as vesículas
seminais, a próstata e as glândulas bulbouretrais são órgãos reprodutivos internos.

Testículos: são as gónadas masculinas e estão localizados dentro do saco escrotal, também
conhecido como escroto. Eles são formados por vários tubos enrolados chamados de túbulos
25
seminíferos, nos quais os espermatozóides serão produzidos. Além de produzir as gametas, é
nos testículos que ocorre a produção da testosterona, harmónio relacionado, entre outras
funções, com a diferenciação sexual e a espermatogénese.

Epidídimo: após saírem dos túbulos seminíferos, os espermatozóides seguem para o


epidídimo, formado por tubos espiralados. Nesse local os espermatozóides adquirem
maturidade e tornam-se móveis.

Ducto deferente: no momento da ejaculação, os espermatozóides seguem do epidídimo para o


ducto deferente. Esse ducto encontra o ducto da vesícula seminal e passa a ser chamado de
ducto ejaculatório, o qual se abre na uretra.

Uretra: é o ducto que se abre para o meio externo. Ela percorre todo o pénis e serve de local
de passagem para o sémen e para a urina, sendo, portanto, um canal comum ao sistema
urinário e reprodutor.

Vesículas seminais: no corpo masculino observa-se a presença de duas vesículas seminais, as


quais formam secreções que compõem cerca de 60% do volume do sémen. Essa secreção
apresenta várias substâncias, incluindo frutose, que serve de fonte de energia para o
espermatozóide.

Próstata: secreta um fluido que também compõe o sémen. Essa secreção contém enzimas
anticoaguladoras e nutrientes para o espermatozóide.
26
Glândulas bulbouretrais: no corpo masculino observa-se a presença de duas glândulas
bulbouretrais. Elas são responsáveis por secretar um muco claro que neutraliza a uretra,
retirando resíduos de urina que possam ali estar presentes.

Pénis: é o órgão responsável pela cópula. Ele é formado por tecido eréctil que se enche de
sangue no momento da excitação sexual. Além do tecido eréctil, no pénis é possível observar
a passagem da uretra, pela qual o sémen passará durante a ejaculação.

Se quiser aprofundar mais no tema deste tópico, leia: Sistema reprodutor masculino.

Sistema reprodutor feminino

O sistema reprodutor feminino servirá de local para a fecundação e também para o


desenvolvimento do bebé, além de ser responsável pela produção das gametas femininos e
harmónios. Assim como no masculino, o sistema reprodutor feminino apresenta órgãos
externos e internos. Os órgãos externos recebem a denominação geral de vulva e incluem os
lábios maiores, lábios menores, clítoris e as aberturas da uretra e vagina. Já os órgãos internos
incluem os ovários, as tubas uterinas, o útero e a vagina.

Ovários: no corpo feminino observa-se a presença de dois ovários, os quais são responsáveis
por produzir os gametas femininos. Nesses órgãos são produzidos também os harmónios
estrogénio e progesterona, relacionados com a manutenção do ciclo menstrual, sendo o
estrogénio relacionado também com o desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários.

27
Tubas uterinas: no corpo da mulher, observa-se a presença de duas tubas uterinas, as quais
apresentam uma extremidade que atravessa a parede do útero e outra que se abre próximo do
ovário e tem prolongamentos denominados de fímbrias. A fecundação ocorre, geralmente, na
região das tubas uterinas.

Útero: é um órgão muscular, em forma de pera, no qual se desenvolve o bebé durante a


gravidez. A parede do órgão é espessa e possui três camadas. A camada mais espessa é
chamada de miométrio e é formada por grande quantidade de fibras musculares lisas. A mais
interna, chamada de endométrio, destaca-se por ser perdida durante a menstruação. O colo do
útero, também chamado de cervice, abre-se na vagina.

Vagina: é um canal elástico no qual o pénis é inserido durante a relação sexual e o


espermatozóide é depositado. Esse canal é também por onde o bebé passa durante o parto
normal.

Vulva: é a genitália externa feminina. Fazem parte da vulva os lábios maiores, os lábios
menores, a abertura vaginal, a abertura da uretra e o clítoris. Esse último é formado por um
tecido eréctil e apresenta muitas terminações nervosas, sendo um local de grande
sensibilidade.

1.7. Aborto

O aborto ou, mais correctamente, o abortamento é a interrupção precoce de


uma gestação antes que o feto seja capaz de sobreviver fora do corpo da mãe. O aborto pode
ocorrer de maneira intencional ou de maneira totalmente espontânea, sendo, em ambos os
casos, um processo doloroso para a mulher que vive esse momento.

O aborto é um termo utilizado para designar a interrupção da gravidez antes do período


perinatal, ou seja, quando ainda não há viabilidade do feto. Embora o termo aborto seja
bastante utilizado, o nome adequado a esse processo é abortamento. O período perinatal
corresponde ao período entre a 22ª semana de gestação, quando o feto apresenta a partir de
500 gramas, até a primeira semana de vida do bebé.

28
O aborto espontâneo, isto é, quando a perda do feto não é consequência de alguma acção
voluntária, é uma intercorrência obstétrica bastante comum e tem motivos diversos, embora,
na maioria das vezes, a sua causa seja indeterminada.

Cerca de 20% das gestações terminam em um aborto, e umas das principais causas, quando
determinada, são anomalias cromossômicas. Quando o aborto ocorre até a 12ª semana de
gestação, ele é denominado de aborto precoce, a partir da 12ª semana de gestação, é
denominado de aborto tardio. Cerca de 80% dos abortos são precoces.

1.7.1. Classificação do aborto


O aborto pode apresentar diferentes formas clínicas e, assim, pode ser classificado de
diferentes maneiras. A sua classificação é feita de acordo com os sinais e sintomas
apresentados e complementados com a realização de exames, como veremos a seguir:

1. Ameaça de aborto: sangramento discreto com ausência de dor ou dor discreta,


apresenta colo do útero fechado e não apresenta alteração no exame de ultra-
sonografia. É recomendado o repouso, abstinência sexual, realização de ultra-
sonografias regulares para acompanhar a evolução da gestação e, se necessário, uso de
medicação indicada pelo médico.

2. Aborto inevitável: o aborto é considerado como inevitável quando o produto da


concepção perde a vitalidade, o que pode ser evidenciado em exames de ultra-
sonografia. Nesse caso, diferentemente da ameaça de abortamento, há um
sangramento e dor mais intensos, e o orifício do colo uterino encontra-se entreaberto.
O médico determinará a conduta a ser tomada.

3. Aborto completo: nesse caso, ocorre a eliminação total do produto da concepção.


Apresenta sangramento discreto ou ausente, ausência de dor, colo do útero fechado e o
exame de ultra-sonografia revela o útero vazio, podendo ser visualizado apenas alguns
coágulos. O médico determinará a conduta a ser tomada.

4. Aborto incompleto: nesse caso, ocorre a eliminação parcial do produto da concepção.


Apresenta como sinais dores e sangramentos mais intensos, o colo do útero encontra-
se entreaberto e o exame de ultra-sonografia mostra restos ovulares. O médico
determinará a conduta a ser tomada.

29
5. Aborto infectado: o aborto infectado é caracterizado pela presença de restos do
produto da concepção no útero e a ocorrência de infecção. É observado, nesses casos,
um sangramento irregular, dor, febre, a presença de secreção purulenta, útero
amolecido. Se não tratada de forma rápida, a infecção pode se espalhar e evoluir para
septicemia. Esse tipo de aborto é comum em quem faz aborto de forma ilegal, devido,
principalmente, às condições adversas das clínicas clandestinas. Esse tipo de aborto
apresenta uma alta taxa de mortalidade materna.

6. Aborto retido: nesse caso, há a morte do produto da concepção, entretanto, o material


fica retido por mais de trinta dias no organismo da mãe. Não apresenta sangramento
ou dor, mas os sintomas da gravidez diminuem e a ultra-sonografia revela ausência de
batimento cardíaco fetal (BCF) ou ausência do embrião no saco gestacional, que
estando íntegro (ovo anembrionado ou ovo cego), em dois exames intercalados num
intervalo de 15 dias. O médico determinará a conduta a ser tomada.

7. Aborto habitual: é considerado como abortamento habitual, os casos em que a


mulher apresenta três abortos espontâneos consecutivos. Nesses casos, é necessário
que o casal busque acompanhamento médico para determinar as causas desses abortos.

1.7.2. Causas do aborto


Existem diversos factores responsáveis por causarem aborto, entretanto, na maioria das vezes,
a causa de um aborto é indeterminada. Para se tentar descobrir a causa de um aborto, é
necessário exame laboratorial com o material do aborto.

Entre os factores que causam aborto, têm-se principalmente as anomalias cromossômicas


decorrentes de problemas nos gametas, na fertilização ou no processo de divisão celular
embrionária. Esses problemas podem estar relacionados a factores hereditários, mas na
maioria dos casos, ocorre ao acaso.

Outros factores importantes também causadores de aborto são infecções, como toxoplasmose
e sífilis; alterações uterinas, como o útero septado (malformação onde ocorre a presença de
um septo que pode dividir toda a cavidade uterina e até mesmo o canal cervical); factores
imunológicos, como a síndrome do anticorpo antifosfolipídico (caracterizada por trombose
arterial e venosa, além de complicações e morte fetal); e endócrinos, como alterações na
produção de harmónios da tireóide.

30
1.7.3. Factores de risco para o aborto
Alguns factores são considerados como factores de risco para o aborto. A seguir, listamos
alguns deles:

 Idade avançada da mãe – Com o avanço da idade materna, aumentam-se também as


chances de aborto. Aos 45 anos, por exemplo, as chances de a mulher ter um aborto
pode chegar a 80%;

 Consumo de drogas lícitas (álcool e tabaco) e ilícitas;

 Antecedentes de abortos espontâneos – o risco de um novo aborto aumentam após a


ocorrência de dois abortos espontâneos;

 Excesso ou baixo peso;

 Uso de determinados medicamentos - é importante informar ao médico quais são os


medicamentos utilizados antes mesmo de engravidar.

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2. Conclusão

Com a realização do presente trabalho, percebeu-se que -com os Objectivos de


Desenvolvimento do Milénio (ODM) a acabar a sua vigência, é crucial reconhecer o papel
central do planeamento familiar, ligado a questões de desigualdade de género e direitos
e saúde sexual e reprodutiva. Para agências como o Fundo das Nações Unidas para a
População (UNFPA), a Organização Mundial de Saúde (OMS) ou a Federação Internacional
de Planeamento Familiar (IPPF), o planeamento familiar voluntário é fundamental para a
realização de qualquer projecto de desenvolvimento e para a realização dos direitos
humanos de qualquer pessoa.

O facto é que o acesso ao planeamento familiar reduz não só gravidezes não desejadas como
também a mortalidade materna e infantil, tendo um impacto claramente positivo nas
oportunidades educacionais e económicas das mulheres e das jovens. Surge de questões como
estas a centralidade do planeamento familiar voluntário para a actual e futura agenda de
desenvolvimento e direitos humanos: sem acesso a educação, serviços de saúde e
contraceptivos, dificilmente será conseguida a erradicação da pobreza, a igualdade de género,
o acesso das raparigas e mulheres ao sistema de ensino formal ou a redução da mortalidade
materna e infantil, uma das questões mais preocupantes na actual agenda.

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3. Referências bibliográficas

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