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Abordagem comportamentalista

2 . 1. Características gerais

Esta abordagem se caracteriza pelo primado do objeto


(empirismo). O conhecimento é uma "descoberta" e é nova
para o indivíduo que a faz. O que foi descoberto, porém,
já se encontrava presente na realidade exterior. Considera­
-se o organismo sujeito às contingências do meio, sendo o
conhecimento uma .cópia de algo que simplesmente é dado
no mundo externo.
Os comportamentalistas ou behavioristas, assim como
os denominados instrumentalistas e os positivistas lógicos,
consideram a experiência ou a experimentação planejada
como a base do conhecimento.· Evidencia-se, pois, sua ori­
gem empirista, ou seja, a consideração de que o conheci­
mento é o resultado direto da experiência.
Para os positivistas lógicos, enquadrados nesse tipo de
abordagem, o conhecimento consiste na forma de se orde­
nar as experiências e os eventos do universo, colocando-os
em códigos simbólicos. Para os comportamentalistas, a ciên­
cia consiste numa tentativa de descobrir a ordem na natu­
reza e nos eventos. Pretendem demonstrar que certos acon­
tecimentos se relacionam sucessivamente uns com os outros.
Tanto a ciência quanto o comportamento são considerados,
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principalmente, como uma forma de conhecer os eventos, o
-fixados. Os objetivos de treinamento são as categorias de
que torna possível a sua utilização e o seu controle. comportamento ou habilidades a serem desenvolvidas. Ha­
Skinner pode ser considerado como um representante bilidades são compreendidas como respostas · emitidas ca-
da "análise funcional" do comportamento, dos mais difun- racterizadas por formas e seqüências especificadas.
- d.idos no Brasil. Segundo ele, cada parte do comportamen­ Finalmente, nesse tipo de abordagem, supõe-se e objeti­
to é uma "função" de alguma condição que é descritível em __
va-se que o professor possa aprender a analisar os · elemen­
termos físicos, da mesma forma que o comportamento. tos específicos de seu comportamento, seus padrões de inte­
As pesquisas predominantemente norte-americanas, re­ ração, para, dessa forma, ganhar controle sobre eles e mo­
lacionadas com o ensino e com a abordagem sistêmica da dificá-los em determinadas direções quando necessário, ou
instrução, sistemas ou modelos de instrução, tais como, por mesmo desenvolver outros padrões.
exemplo, os de Popham, Gerlach, Briggs, Glaser, Papay, den­
tre outros ' têm seus fundamentos no neobehaviorismo skin-
neriano. 2.2. Homem
Os modelos são desenvolvidos a partir da análise dos
processos por meio dos quais o comportamento• humano é O homem é uma conseqüência das influências ou forças
modelado e reforçado. Implicam recompensa e controle, existentes no meio ambiente.
assim como o planejamento cuidadoso das contingências de
A hipótese de que o homem não é livre é absolutamente
· aprendizagem, das seqüências de atividades de aprendiz�­
gem, e a modelagem do comportamento humano, a par�1r necessária para se poder aplicar um método científico n0
da manipulação de reforços, desprezando os elementos nao campo das ciências do comportamento.
observáveis ou subjacentes a este mesmo comportamento. Se vamos usar os métodos da ciência no campo dos assun­
o conteúdo transmitido visa objetivos e habilidades que tos humanos, devemos pressupor que o comportamento é orde­
levem à competência. O aluno é considerado como um re­ nado e .determinado. Devemos esperar descobrir que o que o
cipiente de informações e �flexões. O uso de máquinas homem faz é o resultado de condições que podem ser especi.
(através das quais é possível apresentar contingências de ficadas e que, uma vez . determinadas, poderemos antecipar �
maneira controlada) libera, até certo ponto, o professor de até certo ponto determinar as açõ·es.__ (Skinner,' 1981, p. 20)
uma série de tarefas. A educação, decorrente disso, se preo­ Ao contestar o controle exercido · pelo homem autônomo e
cupa com aspectos mensuráveis e observáveis. demonstrar o ·controle exercido pelo ambiente, a ciência do com­
portamento parece também questionar a dignidade ou o valor.
Qualquer estratégia instrucional com base nesta abor­ Uma pessoa é responsável por seu comportamento, não só no
dagem deve considerar a preocupação científica que a carac­ sentido de que merece ser admo�stada ou punida quando pro­
teriza, aplicando-a quer no planejamento, quer na condução, cede mal, mas também no sentido em que merece ser elogiada
implementação e avaliação do processo de aprendizagem. e admirada em suas realizações. (Skinner, 1973, p. 21)
Qualquer estratégia instrucional deve, pois, estar baseada em
princípios da tecnologia educacional. O ideal é transferir-se o controle da situação ambiental
Para que se possa proceder à análise comportamental para o próprio sujeito de forma que a pessoa se torne auto­
do ensino, é necessário se considerar que tanto os elemen­ controlável, auto-suficiente. A recusa em aceitar-se a respon­
tos do ensino como as respostas· do aluno podem ser anali­ sabilidade_ de controle tem como conseqüência deixàr que
sàdos em seus componentes comportamentais. O ensino é, este controle seja exercido por outras pessoas.
pois, composto por padrões de comportamento que podem
O homem autônomo é um dispositivo empregado para ex­
ser mudados através de treinamento, segundo objetivos pré-
plicar o que não . podemos explicar por outro meio qualquer.
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Foi produto de nossa ignorância, e, à medida que . nossa com­ quais ele é uma função, ou seja, alterando-se os elementos
preensão aumenta, a verdadeira essência de que se compõe de­ ambientais. O meio seleciona.
saparece. A ciência não desumaniza o homem, não lhe retira Para que a formulação das relações entre um organis­
a condição de homúnculo, e deve fazê-lo se quiser evitar a abo­ mo e seu m�io ambiente seja adequada, devem-se sempre es­
lição da espécie humana.... Sómente o desapossando (o ho: _ _
pec1f1car tres aspectos: a ocasião na qual a resposta ocor­
mem) poderemos voltar-nos para as causas reais do comporta­
mento humano. Somente então poderemos voltar-nos do in­ reu, a própria resposta e as conseqüências reforçadoras. As
ferido para o observado, do milagroso para o natural, do ina­ r �lações entre esses três elementos constituem as contingên­
cessível para o manipulável.(Skinner, 1973, p. 157) cuzs de reforço.
O comportamento gerado por um conjunto dado de contin­
O homem, dentro desse referencial, é considerado como o gências pode ser considerado cientificamente; sem que se tenha
que apelar para estados ou processos internos hipotéticos. (Skin­
produto de um processo evolutivo no qual essencialmente as ner, 1980, p. 180)
mudanças acidentais no dote genético foram diferencialmente
selecionadas por caracter�sticas acidentais d0 ambiente, mas ele A ênfase no ambiente torna-se clara nas seguintes afir­
agora alcançou o ponto a partir do qual pode examinar o pro­ mações do Autor:
cessó e fazer algo a respeito... . Os arranjos adventícios das
var�áveis tanto genéticas quanto ambientais levaram o homem Na transferência do controle do homem autônomo para o
à sua atual posição, e são responsáveis tanto por seus erros ambiente observável, não deixamos atrás de nós um organismo
quanto por suâs virtudes'. (Skinner, 1980, p. 208) vazio. . Muita coisa ocorre no interior do homem e a fisiologia.
acabará ppr nos dizer mais sobre esse fato. Explicará porquE;
o conhecimento realmente se encontra relacionado com acon­
A relação de dependência do homem é colocada como tecimentos anteriores, dos quais pode ser apresentado como fun­
se segue: ção. (Skinner, 1973, p. 153)
Aqueles que se dedicam ao trabalho produtivo devido ao va­ Uma análise experimental do comportamento humano de­
lor reforçador do que ,produzem estão sob o controle sensível veria, por natureza, retirar as funções anteriormente atribuí­
e poderoso dos produtos. Aqueles que aprendem através do das ao homem autônomo e transferi-las, uma a uma, ao am­
ambiente natural se acham sob uma forma de controle tão po­ biente controlador. (Skinner, 1973, p. 155)
derosa quanto qualquer tipo de controle exercido por um pro­
fessor. Uma pessoa jamais se torna verdadeiramente depen­
dente apenas de si mesma, mesmo se lida efetivamente com obje­ 2 . 4. Sociedade-cultura
tos, depende necessariamente daqueles que. a ensinaram a fa­
zê-lo. Foram eles que selecionaram os objetos de que depende Esta categoria é bastante comentada na obra de Skin­
e determinaram os tipos e os graus dessa dependência (não po­ ner, já que toda a sua proposta visa uma modificação so­
dendo, portanto, negar responsabilidade pelos resultados). (Skin­ cial. Sua proposta só �erá realizada de forma eficiente
ner, 1973, p. 75) quando uma infra-estrutura sócio-cultural, coerente com . os
significados. que ele atribui à sociedade e à cultura, estiver
presente.
2.3. Mundo Para ele, o
ambiente social é o que chamamos de uma cultura. Dá :forma
A realidade, para Skinner, é um fenômeno objetivo; o e preserva o comportamento dos que nela vivem. (Skinner, 1973,
mundo já é construído, e o homem é produto do .meio. P. 115)
O meio pode ser manipulado. O comportamento, por ...uma cultura pode-se desenvolver através de uma seqüên­
sua vez, pode ser mudado modificando-se as condições das cia de fases, à medida que se desenvolvem as contingências, mas

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podemos fori:nular uma ordem diferente de contingências. (Skin­ A noção de mérito pessoal é incompatível com a hipótese
ner, 1973, p. 113) de que o comportamento humano seja totalmente determinado
Uma cultura se desenvolve quando novas práticas surgem pelas forças genéticas e ambientais. (Skinner, 1980, p, 208)
e são submetidas a uma seleção, e não podeµios esperar que
elas surjam por acaso. (Skinner, 1973, p. 130)' Qualquer ambiente, físico ou social, deve ser avaliado
de acordo com seus efeitos sobre a natureza humana. A cultu­
A cultura é entendida como espaço experimental utili­ ra, em tal abordagem, passa a ser representada pelos usos
zado no estudo do comportamento. É um conjunto de con­ e costumes dominantes, pelos comportamentos que se man­
tingências de reforço. Advoga-se o emprego de uma ciência têm através dos tempos porque são reforçados na medida
no planejamento de uma cultura. em que servem ao poder.
A sociedade ideal, para Skinner, é aquela que implica­
ria um planejamento social e cultural. Walden II,, apesar Produzimos "mutações" culturais quando inventamos no­
de datar de 1948, quando os princípios e realizações da En­ vas práticas sociais e modificamos as condições sob as quais
genharia Comportamental e Cultural não estavam tão de­ elas são selecionadas, quando alteramos os ambientes em que os
senvolvidos como atualmente, deixa claro o que ele pretende homens vivem. . . . Recusar-se a fazer qualquer uma dessas ta­
como sociedade. Essa obra retrata uma sociedade ideal, refas equivale a deixar ao acaso as mudanças em nossa cultura e
regida pelas leis da engenharia comportamental. o acaso é o verdadeiro tirano a se temer. (Skinner, 1980, p. 208)
O indivíduo não é a origem ou uma fonte. Ele não inicia
Walden II é uma comunidade caracterizada por ausên­
nada. E nem é ele que sobrevive. O que spbrevive é a espécie
cia de classes sociais e dé-propriedade privada. Nela não se . e a cultura. Elas estão "além do indivíduo" no sentido de se­
encontram privilégios, violência e tampouco autoridade. �s rem responsáveis por ele e de sobreviverem a ele. (Skinner, 1980,
. relações sociais são diversificadas, o trabalho · é agradável e p. 210)
o lazer, além de freqüente, é produtivo. Nessa obra, o Autor
defende a tese de que a vida do homem pode ser boa, e O controle e o diretivismo do comportamento humano
gratificante, na medida em que as tradições da sociedade são considerados como inquestionáveis. O indivíduo tem,
sejam substituídas por um planejamento amplo, que vise contudo, seu papel nesse planejamento sócio-cultural, que
maior bem-estar para o maior número de pessoas, aplican­ é ser passivo e respondente ao que dele é esperado. É ele
do-se, para isso, a teoria do reforço. uma peça numa máquina planejada e controlada, realizando
Uma cultura bem planejada é um conjunto de contingências a função que se espera seja realizada de maneira eficiente.
de reforço, sob o qual os membros se comportam de acordo
com procedimentos que mantêm a cultura, capacitam-na a en­ Uma pessoa não se expõe apenas às contingências que cons­
frentar emergências e modificam-na de modo a realizar essas tituem uma cultura; ajuda a mantê-las e, na proporção em que
mesmas coisas mais eficientemente no futuro. (Skinner, 1980,· p. elas induzem a fazê-lo, a cultura apresenta uma autoperpetuação.
205) (Skinner, 1973, p. 104)
Os que alcançam as contingências terminais serão produti­
vos, criativos e felizes - em uma palavra, eficientes ao máxi­ Skinner é favorável ao "relativismo cultural", afirmando
mo. (Skinner, 1980, p. 204) que cada cultura tem seu próprio conjunto de coisas boas
e o que se considera bom numa cultura pode não o ser em
Numa cultura totalmente gerida outra.· As questões do tipo: a quem cabe decidir o que é
seus cidadãos são automaticamente bons, sábios e produtivos, e bom para o homem; como será utilizada uma tecnologia
não temos razões para admirá-los ou atribuir.;.lhes méritos. (Skin­ mais eficaz; por que e com que finalidade são, para ele,
ner, 1980, p. 207) indagações sobre reforços.

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Fazer um julgamento de valor, qualificando algo de bom As variáveis externas, das quais o comportamento é função,
_
ou mau, é classificá-lo em termos de seus efeitos reforçadores. dao margem ao que pode ser chaµiado de análise causal' ou fun­
(Skinner, 1973, p.86) cional. Tentamos prever e controlar o comportamento de um
Algumas coisas se tornaram boas durante a história da evo­ organis rr_io individual. Esta é a nossa "variável dependente"
lução da espécie e podem ser usadas para induzir as pessoas a - o efeito para o qual procuramos a causa. Nossas "variáveis
proceder para o "bem de outros". (Skinner; 1973, p. 101) independentes" - as causas do comportamento - são as con­
dições externas das quais o comportamento é função. Relações
entre as duas - as "relações de causa e efeito" no comporta­
mento - as leis de uma ciência. Uma síntese destas leis ex­
2. 5. Conhecimento pressa em termos quantitativos desenha um esboço inteligen­
A experiência planejada é considerada a base do conhe­ te do organismo como um sistema que se comporta. (Skinner,
1980, p.45)
cimento. Fica clara a orientação empirista dessa aborda­
gem: o conhecimento é o· resultado direto da experiência. Pa:ra Skinner, o comportamento é um desses objetos
Skinner não se preocupou com processos, constructos de estudo que não pede método hipotético-dedutivo. o co­
intermediários, com o que hipoteticamente poderia ocorrer nhecimento, portanto, é estruturado indutivamente via ex-
na mente do indivíduo durante o processo de aprendizagem. periência.
Preocupou-se com o controle do comportamento observável.
Esses processos, para ele, são neurológicos e obedecem a
certas leis que podem ser identificadas. Os processos inter­ 2. 6. Educação
mediários geram e mantêm relações funcionais entre estí­
mulos e respostas. A educação está intimamente ligada à transmissão cultu­
O que se pode. denominar de ontogênese do comporta­ ral.
mento pode ser atribuído. às contingências de .reforço. Uma É quase impossível aó estudante descobrir por si mesmo
determinada resposta do indivíduo é fornecida, num certo qualquer parte substancial da sabedoria de sua cultura... (Skin­
sentido, por conseqüências que têm a ver com a sobrevivên­ ner, 1968, p. 110)
. eia do indivíduo e da espécie.
. .. todo repertório• de um indivíduo ou espécie precisa existir,
. A
sim
educação, pois, deverá transmitir conhecimentos' as-
como comportamentos éticos, práticas sociais, habilida-
ainda que em forma de unidades mínimas, antes que possa ocor­ des consideradas básicas para a manipulação e controle do
rer a seleção ontogenética ou filogenética. (Skinner, 1980, p. 304) mundo/ambiente (cultural, social etc.).
Dizer que a inteligência é herdada não é dizer que formas Ao_ se tomar çonsciência do poder controlador que a
específicas de comportamentos sejam herdadas. Contingências
filogenéticas concebivelmente responsáveis pela "seleção da in­
educaçao assume, passa-se a se conceber o ensino de ma­
teligência" não especificam respostas. O que foi selecionado pa­ neira diferente, Muitos se negam a admitir tal poder: Um
rece ser uma suscetibilidade de contingências ontogenéticas, le­ problema de natureza epistemológica, no entanto, persiste:
vando particularmente a uma maior rapidez de condicionamen­ o de se saber, exatamente, o que se quer ensinar.
to e da capacidade de manter um repertório mais amplo sem E necessário mencionar que, na fixação de critérios de
confusão. (Skinner, 1980, p. 309) desempenhos,, adequados, são consideradas igualmente: as
exigências da agência educacional; as exigências de outras
A objeção que Skinner faz ao que denomina dJ "esta­ agências a ela ligadas, tais como família, grupos etc., as exi­
dos internos" não é propriamente de que não existam, mas gências
. , . da própria sociedade. Dessa forma' os centros de-
sim ao fato de não serem relevantes para uma análise c1sor1os, em sua maioria, encontram-se fora de cada situação
funcional. particular de ensino-aprendizagem.

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O sistema educacional tem como finalida de básica pro­ 2. 7. Escola
mover mudanças nos indivíduos, mudanças e ssas dese jáveis
A e scola é considerada e aceita como uma agência edu­
e relativamente permanente s, as quais implicam tanto a a qui­ .
cacional que d everá adotar forma peculiar de controle de
sição de novos comportamentos quanto a modificação dos
acordo com os comportamentos que pretende instal�r e
já existentes.
man �er. _ Cabe a ela, portanto, manter, conservar e em parte
O objetivo último da educação é que os indivíduos se­ modifi?�r ?s p adrões de comportamento aceitos como úteis
jam os próprios dispensadores dos reforços que e licitam
e ?-eseJ a ve1s para uma sociedade, considerando-se um deter­
seus comportamentos. O uso adequado das técnicas de mo­ mi�a�o cont exto cultural. A escola atende portanto aos
dificação de comportamento é aquele em que se passa pro­ ob� et �vos de caráter social, à medida em que atend� aos .
gressivamente o controle da estruturação do esquema de obJ et1vos da�ueles que lhe conferem o poder.
contingências para cada indivíduo. P1:1,ra Skm�er 0980, p. 383-4), a tradição educativa oci­
Madsen (1975, p. 82) afirma ser e sta "a mane ira mais denta � det ern:im a uma educação voltada para O "saber" pa­
eficiente e efetiva de educar p ara a liberdade".
ra o , conhe cimento", termps difíceis de se definir oper�cio­
O indivíduo, dessa forma, será capaz de e struturar as nalme nt e. Estes "constructos" e stão intimamente ligados
contingências de seu próprio ambiente de modo que seu com o comporta�ento verbal, enfatizado nas escolas onde
comportamento leve às conseqüências que dese ja. Quanto se nota preocupaçao com a aquisição do comportame�to em
maior o controle, maior a responsabilida de. lugar da manutenção do mesmo.
O comportamento é moldado a partir da estimulação Skinner critica a escola existente, pelo uso que e sta co­
externa, portanto o indivíduo não participa das decisões mu �e�t � faz do controle aversivo. Este tipo de controle é
curriculares que são tomadas por uni grupo do qual ele não
1:1a1s fac1l de se: obtido, mas não leva à apre ndizagem efe­
faz parte. �1va._ Sua� funçoes e conseqüências são incompatíveis com
Referindo-se aos reforços naturais ou primários, Skin­ ideais habitualmente divulgados: democracia direitos h ._
ner (1973, 1980) argumenta que a idéia do homem natural, nos, etc., além d_?s ideais divulgados por di�ersas relig�&:.
bom, corrompido pela sociedade, não é o suficiente para os .
A escola e sta hgada a outras agências controladoras da
indivíduos se comportarem de certas maneiras desejáveis. .
sociedade, do sis�ema social (governo, política, e conomia
Além disso, muitos re forços naturais, se controladores do et <:.) e d epende igualmente delas para sobreviver. Essas
comportamento do indivíduo, são muito m ais prováveis de a ge1:c!_ as, por sua vez, necessitam da escola, porque é a ins­
levar o indivíduo à preguiça e ao lazer do que a um e stado _ �a o onde as novas gerações são formadas. A escola é
t1tui
de trabalho e produtividade. Muitas vezes esses reforços .
a a gencia que educa formalmente. Não é necessário a e la
levam o indivíduo a demonstrar uma série de comportamen­ o�erecer condições ao sujeito para que e le explore O conhe-
tos triviais, exaustivos e sem uso para si ou para a socie­ 01ment?, explore o ambiente, invente e descubra. Ela pro­
dade. cur� d1rec1_ �nar o comportamento humano às finalidades de
O organismo humano pagaria muito caro, diz o Autor, carate3: s�cial, o que é condição para sua sobrevivência co­
se ele fosse regulado simplesmente por acidentes e contin­ mo age ncia.
gências naturais. É impprtante - e nisso consiste o proces­ A escola, portanto, assumindo-se como agência de controle
so da educação ou treinamento social - aumentar as con­ _
soc1�l, pode ser vista como uma agência de iimitação do desen­
tingências de reforço e sua freqüência, utilizando-se de sis­ volvimento �a individu9,lidade da pessoa, porque atua de modo
temas · organizados, pragmáticos, que lançam mão de re for­ q1:e esta S�Ja mascarada ou preenchida por valores sociais e
ços secundários associados aos naturais, a fim de se obter nao pes�oa1s, �uando oferece ao sujeito as opções permitidas
certos produtos preestabelecidos, com maior ou menor ri­ pelo carater social, como caminhos para que ele desenvolva suas
gor. características. (Costa, p. 113)

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o conteúdo pessoal passa a ser, portanto, o conteúdo so­ jeito iguahnente a múltiplas causações, presentes e passa­
cialmente aceito. das, que podem, como decorrência, mascarar os verdadeiros
fatores que afetam o comportamento num determinado mo­
mento. Isso pode trazer inúmeras e enormes dificuldades
2. 8. Ensino-aprendizagem aos analistas de comportamento no planejamento de contin-
Encontram-se aqui grande parte das considerações, refe­ gências.
rências e aplicações da abordagem skinneriana. O importante, dentro de tal processo, seria que o ensino
promovesse a incorporação, pelo aluno, do controle das con­
Para os behavioristas, a aprendizagem pode ser defini-
tingências de reforço, dando lugar a comportamentos auto- .
da como
gerados.
uma mudança relativamente permanente em uma tendência com­
Segundo essa abordagem, considerando-se a prática edu­
portamental e/ou na vida mental do indivíduo, resultantes de
uma prática reforçada. (Rocha, 1980, p. 28)
cacional, não há modelos ou sistemas ideais de instrução.
A eficiência na elaboração e utilização dos sistemas, mode­
Ensinar consiste, assim, num arranjo e planejamento los de ensino, depende, igualmente, de habilidades do pla­
de contingência de reforço sob as quais os estudantes apren­ nejador e do professor. Os elementos mínimos a serem con­
dem e é de responsabilidade do professor assegurar a aqui­ siderados para a consecução de um sistema instrucional são:
sição do comportamento. Por outro lado, consiste na apli­ o aluno, um objetivo de aprendizagem e um plano para al­
cação do método científico tanto à investigação quanto à cançar o objetivo proposto.
elaboração de técnicas e intervenções, as quais, por sua vez, Para Skinner, de acordo com os princípios da teoria
objetivam mudanças comportamentais úteis e adequadas, de do reforço, é · possível programar o ensino de qualquer dis­
acordo com algum centro decisório. O grande problema da ciplina, tanto quanto o de qualquer comportamento, como
pesquisa aplicada consiste no controle de variáveis do1 am­ o pensamento crítico e criatividade, desde que se possa de­
biente social. finir previamente o repertório final desejado.
Os comportamentos desejados dos alunos serão insta­ A ênfase da proposta de aprendizagem dessa aborda­
lados e mantidos por condicionantes e reforçadores arbitrá­ gem se encontra na organização (estruturação) dos elemen­
rios, tais como: elogios, graus, notas, prêmios, reconheci­ tos para as experiências curriculares. Será essa estrutura- .
mentos do mestre e dos colegas, prestígio etc., os quais, por ção que irá dirigir os alunos pelos caminhos adequados que
sua vez, estão associados com uma outra classe de reforça­ deverão ser percorridos para que eles cheguem ao compor­
dores mais remotos e generalizados, tais como: o diploma, tamento final desejado, ou seja, atinjam o objetivo final.
as vantagens da futura profissão, a aprovação final no curso, A aprendizagem será garantida pela sua programação.
possibilidade de ascensão social, monetária, status, prestí­
gio da profissão etc.
O ensino, para Skinner, corresponde ao arranjo ou à 2.9. Professor-aluno
disposição de contingências para uma aprendizagem eficaz.
Aos educandos caberia o controle do processo de apren­
Esse arranjo, por sua vez, depende de elementos observá­
dizagem, um controle científico da educação.
veis na presença dos quais o comportamento ocorre: um
evento antecedente, uma resposta, um evento conseqüente Segundo tal abordagem, o professor teria a responsabi­
(reforço) e fatores contextuais. lidade de planejar e desenvolver o sistema de ensino-apren­
dizagem, de forma tal que o desempenho do aluno seja ma­
É necessário, no entanto, que se considere que o com­ ximizado, considerando-se igualmente fatores tais como eco­
portamento humano é complexo e fluido, muitas vezes su- nomia de tempo, esforços e custos.
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Os passos de ensino, assim como os objetivos interme­ A instrução individualizada consiste, pois, numa estra­
diários e finais, serão decididos com base em critérios que tégia de ensino, na qual se objetiva a adaptação de procedi­
fixam os comportamentos de entrada e aqueles os quais o mentos insti'ucionais para que os ,mesmos se ajustem às
aluno deverá exibir ao longo do processo de ensino. O pro­ necessidades individuais de cada aluno, maximizando sua
fessor, neste processo, é considerado como um planeja.dor aprendizagem, desempenho, desenvolvimento. Isso pode im­
e um analista de contingências ou mesmo, como se denomi­ plicar tanto instrução· em grupo como: aprendizagem com­
nou mais recentemente, um engenheiro comportamental. pletamente individualizada. Pode permitir variações em rit­
A função básica do professor consistiria em arranjar as mo de aprendizagem, objetivos a serem alcançados , métodos
contingências de reforço de modo a possibilitar ou aumen­ e materiais de estudo, nível exigido de rendimento e desem­
tar a probabilidade de ocorrência de uma resposta a ser penho. Igualmente, pode ser utilizada em todas as matérias,
aprendida. Deverá, portanto, dispor e planejar melhor as em algumas matérias, com todos ou alguns alunos.
contingências desses reforços em relação às respostas de­ Essa abordagem enfatiza o uso de estratégias as quais
sejadas. permitem que um maior número possível de alunos atinja
altos níveis de desempenho.
2 . 10. Metodologia Uma dessas estratégias é o ensino para a competência
que, geralmente, utiliza o módulo instrucional como mate­
É uma categoria bastante ampla nessa abordagem, pois rial de ensino. Houston e Howsam (1972, p . 4-6) colocam
aqui se incluem tanto a aplicação da tecnologia educacional que tal estratégia se fundamenta no fato de que a aprendi­
e estratégias de ensino, quanto formas de reforço no rela­ zagem é um fenômeno individual e é favorecida pelo conhe­
cionamento professor-aluno. Não se pretende exaurir as cimento preciso, por parte do aluno, do que dele se espera,
aplicações, mas apenas situar as principais decorrências de assim como dos resultados por ele atingidos.
tal tipo de abordagem para consideração de situações de O ensino baseado na competência é caracterizado por:
ensino concretas, ou seja, as aulas. especificação dos objetivos em termos comportamentais; es­
Decorrente da proposta skinneriana está a elaboração pecificação dos meios para se determinar se o desempenho
de uma tecnologia de ensino , que pode ser considerada, de está de acordo com os níveis indicados de critérios; forne­
acordo com a C9mission on Instructional Technology (1970) cimento de uma ou mais formas de ensino pertinentes aos
como objetivos; conheciménto público dos objetivos, critérios, for­
uma maneira sistemática de planejar, conduzir e avaliar o pro­ mas de atingi-los e atividades alternativas. A experiência de
cesso total de ensino e aprendizagem, em termos de objetivos aprendizagem, pois, é considerada em termos de competên•
específicos, à base de pesquisas em aprendizagem e comunica­ eia.
ção, empregando uma combinação de meios humanos e não-hu­ O módulo de ensino freqüentemente usado neste tipo
manos, para produzir uma instrução mais eficiente. de ensino pode ser considerado como um conjunto de ati­
A individualização do ensino surge, na abordagem com­ vidades que facilitam a aquisição de um ou vários objetivos
portamentalista, como dE�corrente de uma coerência teórico­ . de ensino.
-metodológica. Tal individualização implica: especificação Skinner não se preocupa em justificar por que o aluno
de objetivos; envolvimento do aluno; controle de contingên­ aprende, mas sim em fornecer uma tecnologia que seja ca­
cias;· feedback constante que forneça elementos que especi­ paz de explicar como fazer o estudante estudar e que seja
(iquem o domínio de uma determinada habilidade; apresen­ eficiente na produção de mudanças comportamentais.
tação do material em pequenos passos e respeito ao ritmo Em termos metodológicos, grande ênfase é dada à pro­
individual de cada aluno. gramação.

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A Instrução Programada, decorrente da proposta skin­ A avaliação é igualmente realizada no decorrer do pro­
neriana, consiste num corpo de conceitos que sintetizam as cesso, já que são definidos objetivos finais (terminais) e
idéias básicas sobre a apresentação de estímulos para a intermediários. Esta avaliação é elemento constituinte da
aprendizagem, condensando o planejamento, implementação própria aprendizagem, uma vez que fornece dados para o
e avaliação do ensino. É arranjo de contingências de reforços para os próximos com­
portamentos a serem modelados. Nesse caso, a avaliação
um esquema para fazer . efetivo uso de reforços, modelagem e surge como parte integrante das próprias condições para a
manutenção de comportamento, de maneira a maximizar os efei­
todos de reforço. (Oliveira, 1973, p. 54)
ocorrência da aprendizagem, pois os comportamentos dos
alunos são modelados à medida em que estes têm conheci­
Como princípio tem-se que a matéria a ser aprendida mento dos resultados de seu comportamento.
seja dividida em pequenos passos a fim de ser possível re­ A avaliação também ocorre no final do processo, com
forçar todas as respostas e todos os comportamentos ope­ a finalidade de se conhecer se os comportamentos finais
rantes emitidos pelo aprendiz. desejados foram adquiridos pelos alunos.
Basicamente, o instrutor dispõe de três formas para
arranjar ou combinar reforços e contingências: encadeamen- . 2 . 12 . Considerações finais
to, modelagem, fading ou enfraquedmento do estímulo ou
ainda mudança graduada do estímulo. Dessa forma será As categorias apresentadas colocam em evidência a con­
possível gerar um alto nível de aprendizagem por parte do sideração do homem como produto do meio e reativo a ele.
aluno sem se recorrer a contingências aversivas no processo O meio pode ser controlado e manipulado e, conseqüente­
de instrução. mente, também o homem pode ser controlado e manipula­
Os objetivos de ensino têm importante papel em todo do. Somente dessa forma, compreendendo cada vez mais
planejamento do processo instrucional. Mager ( 1971 ) pro­ e de forma sistemática esse controle e essa manipulação,
põe sejam considerados três elementos quando do estabele­ Skinner pensa que o homem será livre. Subjacente a isso
cimento de objetivos: o que se quer ensinar, em que nível está todo um planejamento sócio-cultural para o qual se de­
se quer que o aluno aprenda, e quais as condições (mate­ senvolve uma engenharia comportamental e social sofistica­
riais , procedimentos e estímulos) às quais o aluno deve res­ da, já que atualmente dispõe-se de técnicas refinadas de con­
ponder. trole, assim como de instrumental que possibilita tal desen­
volvimento.
2 . 11 . Avaliação
Educação , ensino-aprendizagem, instrução, passam, por­
tanto, a significar arranjo de contingências para que a trans­
Decorrente do pressuposto de que o aluno progride em missão cultural seja possível; assim como as modificações
seu ritmo próprio, em pequenos passos, sem cometer erros, que forem julgadas necessárias pela cúpula decisória.
a avaliação consiste, nesta abordagem, em se constatar se O ensino é tratado em função de uma tecnologia que,
o aluno aprendeu e atingiu os objetivos propostos quando além da aplicação de conhecimentos científicos à prática pe­
o programa foi conduzido até o final de forma adequada. dagógica, envolve um conjunto de técnicas diretamente apli-
A avaliação está diretamente ligada aos objetivos esta­ cáveis em situações concretas de sala de aula.
belecidos. Na maioria das vezes, inicia o próprio processo Na concepção skinneriana, pedagogia, educação e ensi­
de aprendizagem, uma vez que se procura, através de uma no são identificados com métodos e tecnologia.
pré-testagem, conhecer os comportamentos prévios, a partir A metodologia e os princípios utilizados nessa aborda­
dos quais serão planejadas e executadas as etapas seguintes gem derivam da análise experimental do comportamento.
do processo de ensino-aprendizagem. A aplicação deste tipo de análise ao ensino produziu, até
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o momento, grande quantidade de pesquisa básica e aplica­
da, o que, a partir dos anos cinqüenta aproximadamente,
permitiu a elaboração de uma tecnologia de ensino, que, por
sua vez, tem fornecido dados para a própria análise com­
portamental.
! Como conseqüência dessa abordagem, fica claro que o
que não é programado não é desejável:
Tal como na abordagem tradicional, encontra-se aqui
ênfase no produto obtido, na transmissão cultural, na in­
fluência do meio, no diretivismo, por parte do centro deci­
sório, sobre o que será aprendido e o que deverá ser trans­
mitido às novas gerações. Esta abordagem se baseia, no
entanto, não em uma prática cristalizada através dos tem­
pos, mas em resultados experimentais do planejamento de
contingências de reforço.
A ênfase dada à transmissão de informações, à apresen­
tação de demonstrações do professor ao ver e escutar do
aluno na abordagem tradicional, é substituída pela direção
mais eficiente do ensino fornecida pela programação. Em
ambas as formas, no entanto, nota-se diretivismo e decisões
tomadas para o aluno.
As relações duais. simultâneas temporalmente e justa­
postas espacialmente da abordagem tradicional continuam
nesta abordagem duais, onde a cooperação entre os alunos
não é enfatizada. Essas relações duais são mediadas pela
programação do ensino, e esta mediação permite, porém, a
consideração de cada aluno em particular, da individualiza­
ção do ensino, o que não era possível na abordagem ante­
rior.

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