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1 RELATO DAS LEITURAS OBRIGATÓRIAS

O desenvolvimento infantil constitui uma unidade dialética entre as duas


linhas genéticas do desenvolvimento biológico e cultural, sendo que o fator
decisivo no comportamento e desenvolvimento humano é a sociedade. Isto
ocorre porque o desenvolvimento cultural funde, transforma e transcende as
dimensões naturais do desenvolvimento infantil. Ao estudar o desenvolvimento
infantil é necessário considerar a ligação entre as crianças e a sociedade, ou a
posição que as crianças ocupam no sistema de relações sociais num
determinado momento histórico.
Segundo Vygotsky, a situação social de desenvolvimento, ou seja, a
relação estabelecida entre a criança e o meio que a rodeia, é o ponto de
partida para todas as mudanças dinâmicas que se processarão no
desenvolvimento durante uma determinada idade ou período, determinando
plenamente e por inteiro as formas e a trajetória que permitem à criança
adquirir novas propriedades da personalidade. Vygotsky, Leontiev e Erkonin
observaram a estreita relação entre o desenvolvimento das crianças e a
sociedade em que vivem, e consideraram as condições objetivas existentes
nas crianças como o fator determinante no seu desenvolvimento.
Processos psicológicos de nível superior, como atenção voluntária,
memória ativa, pensamento abstrato, planejamento, etc., nascem no processo
de desenvolvimento cultural e representam uma forma de comportamento
geneticamente mais complexa e superior. Uma vez que se conclui que as
funções mentais superiores têm uma origem fundamentalmente cultural e não
biológica, fica claro que o ensino não deve basear-se em expectativas de
maturação espontânea dessas funções, mas, pelo contrário, deve ser
responsável por promover o seu desenvolvimento. Torna-se evidente também
que o desenvolvimento dessas funções não está garantido pelo aparato
biológico e pode não acontecer em plenitude se não forem proporcionadas as
condições educativas adequadas para esse desenvolvimento. Se não forem
garantidos processos educativos que tenham por finalidade promover a
apropriação de formas superiores de conduta, a criança não incorporará tais
funções em seu psiquismo.
Para Vigotski, o desenvolvimento decorrente da “colaboração via imitação”
é a fonte do surgimento de todas as propriedades especificamente humanas da
consciência. Isso ocorre porque a imitação não é uma simples transferência
mecânica do comportamento de uma pessoa para outra, mas significa ter uma
certa compreensão do significado do comportamento da outra pessoa. Quando
se trata de ensino escolar, os pesquisadores apontam que a aprendizagem nas
escolas é em grande parte organizada com base na imitação. Porque na escola
a criança aprende não o que sabe fazer, mas o que não sabe, e pode aprender
com a cooperação e orientação do professor.
Segundo Leontiev, podemos considerar o desenvolvimento das funções
psicológicas como dependente dos processos específicos envolvidos, ou seja,
o desenvolvimento das funções psicológicas é processado nas e através das
atividades das crianças. Fica evidente que as funções psicológicas devem ser
“cultivadas” na criança pelo educador e que isso não significa submeter a
criança a um treinamento mecânico. É preciso que tais funções integrem
processos dirigidos por um alvo, ou seja, é preciso que seu desenvolvimento se
coloque como condição para a realização da atividade pela criança. Na
perspectiva da psicologia histórica e cultural, o professor é entendido como a
pessoa que transmite às crianças os resultados do desenvolvimento histórico,
explicita os traços da atividade humana cristalizada nos objetos da cultura,
mediando sua apropriação, e organiza a atividade da criança, promovendo
assim seu desenvolvimento psíquico.
Desse modo, Vygotsky, Leontiev e Erkonin defendem o ensino junto à
criança de 0 a 6 anos, considerando o comportamento docente como a
intervenção intencional e consciente dos educadores visando garantir a
utilização do patrimônio genético humano pelas crianças e promover e orientar
o seu desenvolvimento, estimulando a convivência, a criatividade e a
autonomia.

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