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Maria Vitória de Sousa Santos

S12P1: É AGORA DOUTORA? 3. E s t á g i o d a p l a c e n t a , d e q u i t a ç ã o,


delivramento, decedura ou secundamento;
PARTO
4. Período de Greenberg.
• O trabalho de parto é caracterizado pela
DILATAÇÃO OU APAGAMENTO DO COLO DO
presença de contrações uterinas sequenciais
capazes de gerar mudanças plásticas do colo ÚTERO
uterino e a descida da apresentação fetal • Período de esvaecimento (afinamento) e
FATORES QUE ATUAM NO TRABALHO DE PARTO dilatação do colo uterino e formação do
• Um dos fatores segmento inferior do útero e da “bolsa das
responsáveis por águas”.
estimular as • Nas nulíparas,
contrações geralmente o
uterinas na mãe esvaecimento
é uma cadeia de do colo precede
produção de a dilatação,
hormônios fetais. enquanto nas
• Inicialmente, o multíparas esses
h o r m ô n i o processos são
liberador de concomitantes.
c o r t i c o t r o fi n a • Começa com
( C R H contrações
placentário) é u t e r i n a s
secretado pelo intensas,
hipotálamo do feto. dolorosas e
• Em seguida, esse hormônio ativa a produção regulares que se
de adrenocorticotrofina (ACTH) pela iniciam a cada
hipófise. 30 minutos e vão aumentando de intensidade
• Por sua vez, o ACTH estimula a secreção de e frequência.
cortisol pelo córtex da suprarrenal. • Para um efetivo trabalho de parto, essas
• Finalmente, o cortisol participa na síntese de contrações devem apresentar frequência
estrógenos. Assim, a contração do útero dá-se regular entre duas e três contrações a cada 10
pela atuação de esteroides. minutos, intensidade em média de 40 mmHg
Além disso, a hipófise posterior do feto secreta e duração entre 30 e 90 segundos (média de
ocitocina, que: 60 segundos).
(1) estimula contrações peristálticas na • A sensação dolorosa se deve à hipóxia das
musculatura lisa uterina; fibras musculares do útero durante as
(2) induz a liberação de prostaglandinas pela contrações.
decídua. • Essas contrações, ditas efetivas, provocarão a
• Enfim, as prostaglandinas sensibilizam as dilatação do colo devido à tração que as
células do miométrio – ao provocar-lhes fibras musculares do corpo uterino exercem
contratilidade – à ocitocina. sobre o segmento inferior e pela
• Ainda há a atuação considerável dos apresentação fetal insinuada, que exerce
estrogênios na contratilidade do miométrio e pressão hidrostática sobre a cérvix.
na secreção tanto de ocitocina quanto de • A dilatação do orifício externo do colo tem
prostaglandinas. Portanto, pode-se dizer que por finalidade ampliar o canal e completar a
a atividade da ocitocina é um fator de grande continuidade entre o útero e a vagina, sendo
importância para o trabalho de parto. assim se formará um espaço entre o útero e a
vagina, no qual será coletado o líquido
FASE CLÍNICAS DO PARTO
amniótico (bolsa das águas) que auxiliará as
Clinicamente, divide-se o parto propriamente
contrações uterinas no deslocamento do
dito em quatro fases ou estágios principais:
istmo.
1. Dilatação ou apagamento do colo do útero;
2. Expulsão ou parto do feto;
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• Também é comum separar o padrão de • Essa fase começa a partir do nascimento do
dilatação em fase latente (preparação) e fase RN e é encerrada pela expulsão da placenta
ativa (dilatação) – esta última contém as fases e das membranas fetais.
de aceleração, de dilatação rápida e de • Tais elementos são expelidos, após a expulsão
desaceleração. do feto, graças às contrações uterinas
1. Fase latente: Caracterizada por restauradas e à pressão intra-abdominal
contrações uterinas regulares e aumentada.
perceptíveis, mas pouco dolorosas, Nesse período do trabalho de parto, podem
responsáveis pela dilatação de 3 a 5 cm. acontecer dois tipos distintos de dequitação:
Caso essa fase estenda-se por mais de 20 (1) Baudelocque-Schultze ou central,
horas (primíparas) ou 14 horas (multípara), quando a placenta estava inserida
diz-se que houve prolongamento anormal posteriormente ao fundo do útero. Ocorre
das contrações. exteriorização da face placentária fetal,
2. Fase ativa: A partir desse momento, as seguida pela eliminação do coágulo
contrações tornam-se dolorosas, pois a (hematoma retroplacentário);
frequência e intensidade aumentam (2) Baudelocque-Duncan ou periférica,
progressivamente no intuito de promover a quando a placenta estava inserida na
rápida dilatação do colo uterino. Costuma parede lateral do útero. No momento do
durar de 2,4 a 5,2 horas em multíparas e descolamento pela face materna, ocorre
de 4,6 a 11,7 horas em primíparas. primeiro o sangramento e logo em seguida
EXPULSÃO OU PARTO DO FETO a exteriorização da placenta ·

• Esse estágio refere-se à expulsão do bebê, PERÍODO DE GREENBERG/1° HORA PÓS PARTO
processo iniciado a partir da dilatação • Estágio, conhecido pela retração uterina e
completa do colo uterino (cerca de 10cm). pela formação de coágulos fisiológicos.
• Embora as contrações tenham significativa Esses coágulos impedem as grandes
relevância nessa segunda etapa, a principal hemorragias e são dependentes da contração
força vem, na realidade, dos músculos uterina, do:
abdominais e do diafragma, que elevam a 1. M i o t a m p o n a m e n t o ( p rovo c a n d o
pressão intra-abdominal. obliteração dos vasos miometriais pela
• Para as mulheres primíparas, a expulsão dura contração muscular);
cerca de 50 minutos; já para as mulheres 2. Trombotamponamento (provocando
multíparas, cerca de 20 minutos. um tamponamento devido à formação de
A saída do feto evolui com a descida do polo trombos intravasculares que obliteram os
cefálico e esta, por sua vez, é dividida em duas grandes vasos uteroplacentários e de
fases: coágulos que preenchem a cavidade
(1) Pélvica: Apresentação fetal está acima do uterina).
plano +3 de DeLee; • Assim, espera-se que, dentro de 1 hora após
(2) Perineal: Apresentação está abaixo do o parto, o útero adquira maior tônus,
plano +3 de DeLee. entrando na fase de contração uterina fixa
que atua na manutenção da hemostasia
uterina.
TEMPOS DO MECANISMO DE PARTO
As fases são divididas em:
1. Insinuação;
2. Descida;
3. Expulsão (desprendimento).
Entretanto, para tornar-se mais didático, pode-
se dividir o mecanismo de parto em seis
tempos:
1. Insinuação;
2. Descida;
DEQUITAÇÃO/ PLACENTA
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3. Rotação interna da cabeça; • Na tentativa de
4. Desprendimento da cabeça; completar a
5. Rotação externa da cabeça; insinuação, a
6. Desprendimento das espáduas. cabeça migra até
INSINUAÇÃO as proximidades
• Também chamada do assoalho
de encaixamento, é pélvico, mantendo
a passagem da o mesmo sentido e
m a i o r levemente em
circunferência da flexão.
apresentação • Logo que a cabeça em movimento de descida
através do anel do encontra resistência, seja do colo uterino, das
estreito superior. paredes pélvicas ou do assoalho pélvico, ela
Nessas condições, normalmente flexiona. Nesse movimento, o
está o ponto mais queixo é colocado em contato mais direto
baixo da apresentação à altura das espinhas com o tórax fetal, e o diâmetro
ciáticas (plano “0” de DeLee). suboccipitobregmático apreciavelmente mais
• Para que se processe a insinuação é curto substitui o diâmetro occipitofrontal
necessário haver redução dos diâmetros da mais longo.
cabeça, o que será obtido pela orientação de A descida é promovida por uma ou mais das
diâmetros e por flexão. seguintes quatro forças:
• A variedade de posição mais frequente é a (1) pressão do líquido amniótico;
occípito-esquerda-anterior (OEA), seguida (2) pressão direta do fundo sobre a pelve
pela occípito-direita-posterior (ODP) e pela durante as contrações;
occípito-esquerda-posterior (OEP). (3) esforços maternos de empurrar para baixo
A insinuação ocorre por dois processos com os músculos abdominais;
diferentes: (4) extensão e retificação do corpo fetal.
1. Insinuação estática: F lexão por ROTAÇÃO INTERNA
aconchego no segmento inferior e na • A cabeça roda procurando adaptar seu maior
descida, conjuntamente com o útero, por diâmetro ao maior diâmetro da bacia, que,
tração dos ligamentos sustentadores do no estreito inferior, é o anteroposterior.
órgão e pressão das paredes abdominais. • O occipital se move gradativamente de sua
2. Insinuação dinâmica: Flexão por posição oblíqua ou transversa para a sínfise
contato com o estreito superior da bacia e púbica.
descida à custa das contrações expulsivas. DESPRENDIMENTO
DA CABEÇA
• O occipício está
abaixo do pube –
hipomóclio –
ponto de maior
fl e x i b i l i d a d e , q u a n d o s e i n i c i a o
desprendimento.
• O occipício fixa um ponto de alavanca no
subpube e, por movimento de deflexão,
libera a fronte e a face.
• O desprendimento se realiza por deflexão,
chamado movimento de “chifrada”.
DESCIDA • A cabeça avança e recua a cada contração.
• A descida, na realidade, ocorre desde o início • Há oposição da vagina, vulva e períneo.
do trabalho de parto e só termina com a • Este se abaula e o ânus se entreabre.
expulsão total do feto. Aparecem os parietais e a grande fontanela.
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• A base do nariz se encontra em contato com com 3 a 4 cm de dilatação, podem-se definir
o cóccix. como trabalho de parto.
• Sai o resto da cabeça com a face voltada para Observação: Deve-se ter em conta, mesmo
o chão. que não entre no diagnóstico propriamente
ROTAÇÃO EXTERNA dito, que nulíparas costumam ter apagamento
• Estando a cabeça fora da pelve, ela tende a e centralização do colo antes da dilatação e
adotar a mesma posição que possuía antes da multíparas costumam ter o apagamento do
rotação interna, daí o nome de “restituição”. colo e a centralização do colo junto com a
É simultâneo a rotação interna das espáduas. dilatação

ROTAÇÃO INTERNA DAS ESPÁDUAS


• Com a chegada ao assoalho pélvico as
espáduas sofrem movimento de rotação
interna, por motivos iguais aos que causaram
a rotação da cabeça, até que a orientação
biacromial esteja na direção anteroposterior
da saída do canal.
• O ombro anterior coloca-se sobre a arcada
púbica e o posterior, em relação com o
assoalho pélvico.
DESPRENDIMENTO DAS ESPÁDUAS
Ao desprendimento da cabeça se segue o
desprendimento das espáduas. Primeiro o
ombro anterior, por baixo do pube e, depois, o
posterior, que distende o períneo.

ASSISTÊNCIA DO PARTO
Assistência pré parto
• Diversas medidas anteparto podem ser
adotadas para que a gestante possa se
preparar para o parto e aumentar as chances
de que tudo transcorra conforme desejado e
planejado.
• O objetivo é fazer com que a mulher tenha
conhecimento da fisiologia do parto e dos
DIAGNOSTICO DO TRABALHO DE PARTO cuidados que o cercam, para que suas
• Caracteriza-se por presença de contrações escolhas e sua participação no processo sejam
uterinas regulares em tempo (a cada 5 conscientes.
minutos ou menos), em intensidade (útero Intervenções anteparto:
lenhoso durante a contração) e duração (50 a - Exercício do assoalho pélvico;
60 segundos) e ainda colo uterino com - Cardiotocografia;
apagamento superior a 50%, centralizando e - Massagem perianal.
1. Local do parto: A ideia é oferecer contínua, encorajamento, elogios), medidas
privacidade, conforto e liberdade para de conforto físico (toque, massagem, banho
deambulação, de modo que possam ser morno), medidas favorecendo a evolução
assumidas as posições consideradas fisiológica do trabalho de parto (livre
confortáveis pela parturiente, além de que deambulação, mudança de posição,
todo o parto, 1° e 2° estágios, e o pós-parto exercícios) e informações sobre o progresso
possam transcorrer no mesmo ambiente, do parto, além de interlocução com a
sem necessidade de transferência. Banheiro equipe obstétrica para facilitar a
privativo é obrigatório. A cama deve comunicação da mulher e ajudá-la a
possibilitar o parto em várias posições, expressar suas preferências e escolhas, até
sendo opcionais banqueta ou cadeira de mesmo em situações em que seja
parto. necessário atendimento de urgência.
2. Profissional que presta assistência 6. Posição e deambulação: A posição
ao parto: A assistência ao parto deve ser supina leva à compressão dos vasos
realizada por profissional qualificado. Sob abdominais, o que compromete a
essa epígrafe incluem-se enfermeiros- circulação uteroplacentária, podendo
obstetras, obstetrizes, médicos de família ocasionar risco ao feto. A conclusão é que
com capacitação em obstetrícia e médicos mulheres devem ser encorajadas a escolher
obstetras. Como o parto é um evento as posições em que se sintam mais
integrativo, com múltiplas dimensões, confortáveis durante o trabalho de parto,
biopsicossociais e espirituais, sua assistência com liberdade de escolha e de
demanda a visão da equipe deambulação.
transdisciplinar, e, em condições ideais, o 7. Toque vaginal: Pode ser uni ou bidigital.
sistema integrado de saúde deve contar Para efetuá-lo é preciso tomar todos os
com médicos, enfermeiras-obstetras e cuidados de antissepsia e estar com as
obstetrizes trabalhando harmoniosamente mãos corretamente enluvadas. De início,
para garantir o completo bem-estar da mãe afastam-se as ninfas e introduzem-se na
e do bebê. vagina os dedos indicador e médio, ou
3. Admissão: Deve-se ter todo o cuidado apenas o primeiro, untados em vaselina
para se diagnosticar corretamente a fase esterilizada ou clorexedina aquosa. O
ativa do trabalho de parto e internar exame procurará explorar sucessivamente:
somente as parturientes nessa fase, para o colo (apagamento, dilatação, orientação e
evitar internações precoces, que costumam consistência), a bolsa-das-águas e a
acarretar intervenções desnecessárias em apresentação (posição,variedade,altura e
série, como excesso de exames de toque, pro porcionalidade à bacia, demais de
uso de ocitocina, maior necessidade de outras minudências como a flexão e o
analgesia e cesariana (cascata de assinclitismo).
intervenções). A verificação dos sinais vitais 8. Ocitocina;
da gestante como pressão arterial, 9. Bolsa de águas;
frequência cardíaca e respiratória, 10. Altura da apresentação;
temperatura e peso será realizada. 11. Bloqueio combinado raquidiano peridural;
4. Alimentação: Em muitas maternidades, 12. Faixas abdominais.
ainda vigora a regra de não se permitir a Assistência pós natal
ingesta oral durante o trabalho de parto. 1. Orientações quanto a higiene, hábitos
Essa prática deriva da observação de que alimentares e deambulação;
havia maior risco de mortalidade materna 2. Cuidado as mamas;
na gestante submetida à cesárea com 3. Observar a micção e se há constipação;
anestesia geral, em decorrência de possível 4. Vida sexual;
broncospiração. 5. Analisar pulso (bradicardia), temperatura
5. Apoio contínuo: O apoio geralmente é (ausência) e pressão
constituído por diversos componentes, que 6. Palpação do útero (consistência firme,
incluem o suporte emocional (presença indolor e móvel) e da bexiga;
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7. Ava l i a ç ã o d e l ó q u i o s ( c o r r i m e n t o • O colo uterino, ao fim da dequitação, se
abundante e sanguíneo); encontra amolecido, com lacerações no
8. Inspeção do períneo (cicatrização); orifício externo, que continua dilatado.
9. E x a m e d e M M I I ( r e c o n h e c e r o • A dilatação do colo regride de forma lenta,
aparecimento precoce das tromboses ficando entre 2-3 cm nos primeiros dias após
venosas). o parto, e menos de 1 cm com uma semana
PUERPÉRIO de puerpério.
• O puerpério, também denominado pós- • É comum haver cólicas abdominais nos
parto, é o período que sucede o parto e, sob primeiros 3 dias, e estas são mais fortes em
o ponto de vista fisiológico, compreende os multíparas e em lactantes, pois a estimulação
processos involutivos e de recuperação do do mamilo estimula a liberação de ocitocina
organismo materno após a gestação. pelo eixo neuro-hipofisário.
• Por via de regra, completa-se a involução • Em relação as tubas uterinas, seu epitélio
puerperal no prazo de 6 semanas. durante a gestação é predominantemente
Embora o caráter gradual e progressivo composto de células não ciliadas, em
assumido por essas manifestações torne o decorrência do desequilíbrio entre os níveis
puerpério um período de demarcação temporal de progesterona e estrogênio.
imprecisa, é aceitável dividi-lo em: • Com a diminuição destes hormônios após o
1. Pós-parto imediato, do 1° ao 10° dia; parto, há extrusão nuclear das células não
2. Pós- parto tardio, do 10° ao 45° dia; ciliadas e diminuição do tamanho das células
3. Pós-parto remoto, além do 45° dia. ciliadas e não-ciliadas.
• Além da relevância desses mecanismos • Além disso, após a dequitação, persiste a
fisiológicos para o restabelecimento do estado porção basal da decídua. Esta se divide em
pré-gravídico da mulher, o puerpério é duas novas camadas: a superficial, que sofre
também caracterizado por marcantes descamação; e a profunda, que regenera o
mudanças em diversos outros aspectos da novo endométrio a partir das glândulas e do
vida feminina, sejam eles conjugais, estroma da decídua basal, recobrindo a
familiares, sociais ou profissionais. cavidade endometrial dentro de 16 dias após
INVOLUÇÃO E RECUPERAÇÃO DA GENITÁLIA o parto.
• Logo após o parto, o útero se encontra um VAGINA E VULVA
pouco acima da cicatriz umbilical, a partir do • A vagina está alargada e lisa logo após o
qual inicia um processo de involução. parto.
• O útero se contrai, comprimindo os vasos • Gradualmente, suas dimensões se reduzem,
sanguíneos e causando uma aparência mas não voltam ao estado pré-gravídico.
isquêmica. • A rugosidade vaginal reaparece na terceira
• A contração também contrai os vasos semana, por redução do edema e da
intramiometriais, reduzindo o fluxo vascularização.
sanguíneo e prevenindo a hemorragia pós- • Nódulos de mucosa fibrosados formam as
parto. carúnculas himenais devido ao rompimento
• Além disso, os vasos calibrosos são do hímen no momento do parto.
obliterados (trombose), constituindo outro • Por fim, a distensão fascial e possíveis
mecanismo hemostático para prevenir perda lacerações causam afrouxamento da
sanguínea. musculatura pélvica, que pode não regredir
• Após 24h, o fundo uterino atinge a cicatriz ao estado original.
umbilical. • Em decorrência disso, o parto predispõe a
• Após uma semana, atinge a região entre a ocorrência de incontinência urinária e fecal.
cicatriz umbilical e a sínfise púbica. • Histologicamente, há progressiva atrofia do
• Na segunda semana, deixa de ser palpável no epitélio escamoso vaginal nos primeiros dez
abdome e, por fim, atinge as dimensões pré- dias.
gravídicas dentro de 6-8 semanas após o • No 15º dia, a descamação alcança seu pico e
parto. a regeneração se inicia.
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PAREDE ABDOMINAL • Habitualmente há perda acentuada nos
• No puerpério, a musculatura da parede primeiros 10 dias, atribuída à maior diurese,
abdominal está afrouxada. à secreção láctea e à eliminação loquial.
• Em consequência da ruptura das fibras SISTEMA CARDIOVASCULAR
elásticas da pele e da distensão prolongada • O débito cardíaco está aumentado na
causada pelo útero gravídico, a parede primeira hora do pós-parto (10%), assim
abdominal continua mole e flácida. permanecendo durante 1 semana.
• Várias semanas depois, seu tônus normal é • A pressão venosa dos membros inferiores,
readquirido na maioria dos casos. Em elevada durante a gravidez, normaliza-se
algumas mulheres, no entanto, persiste a imediatamente.
diástese do musculo reto abdominal. • As varizes, acaso presentes, emurchecem, e os
• A pele pode ainda continuar frouxa, se edemas desaparecem.
houver ruptura extensa de fibras elásticas. SISTEMA SANGUÍNEO
SISTEMA ENDÓCRINO • Não há mudanças da série vermelha próprias
• Ao fim da gravidez os níveis de estrogênio e do puerpério.
progesterona estão muito elevados, assim • Nota-se, na série branca, imediatamente após
como os de prolactina (PRL). o parto, leucocitose de até 30 mil glóbulos, à
• Com a saída da placenta, ocorre queda custa principalmente dos granulócitos
imediata dos esteroides placentários a níveis neutrófilos.
muito baixos e leve diminuição dos valores • Em condições normais, a hiperleucocitose
dos valores de PRL, que ainda permanecem fica reduzida à metade nas primeiras 48
elevados. horas, e ao cabo do 5.° ou 6.° dia o quadro
• Na ausência da lactação, nas primeiras retorna às taxas habituais.
semanas pós-parto, tanto a LH como o FSH • A velocidade de eritrossedimentação,
mantêm-se com valores muito baixos, para acelerada na gravidez, sofre novo incremento
logo começarem a se elevar lentamente. no puerpério, regularizando-se somente entre
• No puerpério inicial os níveis de estrogênio a 5° e a 7° semana.
mantêm-se baixos e a progesterona não é • A concentração de hemoglobina volta a
detectável. níveis não gravídicos em 6 semanas do parto.
• A recuperação das gonadotrofinas até os • Está aumentada a tendência à coagulação no
níveis prévios à gravidez depende da puerpério.
presença ou não da amamentação. • Após a dequitação, há geralmente queda das
• A amamentação pode impedir a fertilidade plaquetas, com elevação secundária nos
pela ação direta do estímulo do mamilo sobre primeiros dias do pós-parto juntamente com
o hipotálamo por via neuroendócrina, a adesividade plaquetária.
inibindo o fator inibidor da prolactina (PIF) e • O fibrinogênio plasmático diminui em
o hormônio liberador da gonadotrofina concentração no momento do parto,
(GnRH), acarretando, respectivamente, atingindo o seu menor nível no primeiro dia
elevação da prolactina e inibição do FSH e do puerpério e voltando a se elevar em
do LH hipofisários. seguida, igualando-se aos níveis pré-
PERDA PONDERAL gravídicos entre o 3º e o 5º dia.
• Após a gravidez, a mulher perde quase a ALTERAÇÕES ÓSSEAS
totalidade do peso adquirido durante a • Há diminuição generalizada da densidade
gestação. óssea em gestantes, voltando ao estado pré-
• Cerca de metade do peso ponderal adquirido gravidez dentro de 12 a 18 meses após o
é perdido durante as primeiras 6 semanas parto.
após o parto. • Não é recomendada qualquer intervenção,
• O restante ocorre entre as 6 semanas e os 6 sendo essas alterações auto-limitadas e
meses depois, sendo maior nos 3 primeiros reversíveis.
meses. SISTEMA URINÁRIO
Maria Vitória de Sousa Santos
• No puerpério imediato, a mucosa vesical está • O funcionamento fisiológico dos intestinos é
edemaciada, devido ao parto e ao trabalho habitualmente restaurado no 3° ou 4° dia.
de parto. ALEITAMENTO MATERNO
• Há também uma distensão vesical, o que Entre os benéficos estão:
predispõe a retenção urinária e esvaziamento 1. Evita mortes infantis: A proteção do leite
incompleto ao urinar, causando urina materno contra mortes infantis é maior
residual. quanto menor é a criança.
• É a diurese inicialmente escassa, em razão da 2. Evita diarreia;
desidratação no trabalho de parto. Do 2.° ao 3. Evitam infecções respiratórias;
6.° dia estabelece-se abundante excreção 4. Diminui o risco de desenvolver alergias;
urinária, que elimina a água acumulada 5. Diminui o risco de hipertensão, colesterol
durante a gestação. alto e diabetes;
• Até a sexta semana, na maioria das 6. Reduz a chance de obesidade;
puérperas, o exame ultrassonográfico 7. Melhor desenvolvimento da cavidade
evidencia dilatação do sistema pielocalicial. bucal;
• Todos esses fatores citados são fator de risco 8. Efeito positivo na inteligência;
para infecção do trato urinário. 9. Promoção do vínculo afetivo entre mãe e
• A retenção urinária pode ser definida como filho;
ausência de micção por 6h após o parto ou 10. Melhor nutrição;
após a retirada da sonda vesical após 11. Menores custos financeiros;
cesariana. 12. Melhor qualidade de vida.
PELE
• As estriações do abdome e das mamas,
quando presentes, perdem a cor vermelho-
arroxeada e ficam pálidas, transformando-se,
em algumas semanas, nas estrias branco-
nacaradas.
• Regridem as modificações do tipo de
implantação dos pelos pubianos, as
hiperpigmentações da pele do rosto, do
abdome e das mamas.
• Algumas ficam indeléveis.
• Há também uma queda de cabelo comum
entre 1 e 5 meses após o parto, o que leva a
crença equivocada de que amamentar causa
queda de cabelo, por coincidir com o
momento da amamentação, porém essa
queda de cabelo é autolimitada e o cabelo
retorna aos padrões normais de crescimento
de 6 a 15 meses após o parto.
SISTEMA DIGESTIVO
• Com o esvaziamento uterino retornam as vís-
ceras abdominais, vagarosamente, às
disposições anatômicas.
• Há redução da motilidade intestinal. CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO
• A constipação da puérpera, indefectível nas • A criança apresenta-se em constante
pacientes que se mantinham no leito de uma crescimento e desenvolvimento. Diante disso,
a duas semanas, é hoje menos frequente com avaliar a evolução (física e mental) em toda
o levantar precoce, e observada unicamente consulta é parte obrigatória da semiologia
nas que têm obstipação crônica. infantil.
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• O crescimento é definido pelo aumento 1. Pré-concepcionais ou genéticos: fisiológicos
linear contínuo, mas não constante, das ou patológicos, com ou sem alteração
estruturas que o compõem e é resultante da cromossômica;
interação de fatores intrínsecos ou orgânicos 2. Pós-concepcionais (hormônios).
(genéticos, neuroendócrinos) e extrínsecos ou Alguns hormônios devem ser lembrados como
ambientais (nutricionais, condições geofísicas, influentes nas 4 fases do crescimento:
atividades físicas, vínculo mãe-filho). 1. Crescimento intrauterino: insulina,
• Embora a informação genética defina as lactogênio placentário (ação semelhante à
características físicas de cada indivíduo, do hormônio de crescimento hipofisário
incluindo altura, peso e outras características [ G H ] ) , s o m at o t ro fi n a c o r i ô n i c a e
fenotípicas, os fatores extrínsecos e somatomedinas).
intrínsecos já citados interferem na tradução 2. Fase de lactente: os hor mônios
da mensagem genética, podendo tireoidianos são os mais importantes,
comprometer sua expressão (potencial de associados à insulina e ao GH.
crescimento). 3. Fase pré-puberal: a ação fisiológica mais
• Essa interferência é maior ou menor importante é a do GH.
conforme o tempo e a intensidade do agravo 4. Fase puberal: dependente do aumento
e da fase de desenvolvimento do indivíduo. dos esteroides sexuais, GH e
Observação: Evidências científicas mostram somatomedinas.
que até 20% dos genes são influenciados pela Observação: Os agravos decorrentes das
herança genética; os outros 80% são alterações nutricionais (desnutrição e
i n fl u e n c i a d o s p e l o e s t i l o d e v i d a , obesidade) justificam a avaliação da condição
principalmente a nutrição. nutricional em crianças e adolescentes em toda
FATORES EXTRÍNSECOS consulta médica.
• A alimentação é, sem dúvida, o fator que está AVALIAÇÃO DO CRESCIMENTO
mais diretamente relacionado com o processo Para a avaliação do crescimento físico, utiliza-
de crescimento. se a antropometria com as seguintes medidas:
• A privação ou o excesso de alimentos pode 1. Fundamentais: Peso e estatura/altura;
levar a dezenas de distúrbios, de maior ou 2. Acessórias:
menor gravidade, devendo haver um - Circunferências (braço, perna, cintura,
equilíbrio entre demanda e ingestão para a abdominal);
nutrição adequada (eutrofia). - Comprimento superior do braço (CSB),
• Quando ocorre predomínio de um dos da tíbia (CT) e do membro inferior a
fatores, aparece a subnutrição (proteico- partir do joelho (CJ);
calórica, anemias ferropriva e - Diâmetros (bicrista, biacrômio);
megaloblástica, deficiência de vitamina A, - Envergadura;
raquitismo, entre outras) ou a hipernutrição - Fontanelas;
(obesidade, diabetes, hipervitaminoses). - Perímetros cefálico (PC), torácico (PT) e
abdominal (PA);
- Pregas cutâneas (tricipital, subescapular,
suprailíaca, abdominal);
- Segmento superior (SS) e inferior (SI).
• O crescimento infantil é um processo
dinâmico ao longo do tempo que deve ser
observado e quantificado mediante múltiplas
medidas, em várias ocasiões, conforme a
idade, o sexo e a fase do crescimento.
• Na avaliação dinâmica do crescimento, são
FATORES INTRÍNSECOS comparados os dados extraídos em
Podem ser: determinado momento (avaliação transversal)
com os das curvas de crescimento já
Maria Vitória de Sousa Santos
padronizadas, analisando o canal ou a zona
de crescimento e a velocidade de crescimento
na avaliação baseada em dados obtidos em
vários momentos (avaliação longitudinal).
• O desenvolvimento somático é avaliado por
meio da dentição, da idade óssea e do
desenvolvimento sexual.
• As medidas de peso, comprimento e
perímetros cefálico, torácico e abdominal
devem ser realizadas mensalmente até os 2
anos de idade.
- Peso- É uma medida de relevância em
pediatria em razão da fácil obtenção e da
alta sensibilidade durante os agravos
nutricionais agudos e crônicos. Uma
observação isolada tem valor relativo, por
isso deve-se valorizar a curva ponderal.
- Estatura- Essa medida reflete o estado
nutricional atual e pregresso e sofre
alteração e recuperação mais lentas. O
comprimento ao nascimento é, em média,
de 50 cm (de 49 a 55 cm). O termo estatura
compreende o comprimento (medido com o
indivíduo deitado) e a altura (medida com o
indivíduo em pé).
Referências:
DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR 1. CUNNINGHAM, F. G. Obstetrícia de
Williams. 25. ed. Porto Alegre: AMGH,
2021.
2. DECHERNEY, A. H. et al. CURRENT
ginecologia e obstetrícia: diagnóstico e
tratamento. 11. ed. Porto Alegre: Artmed,
2014.
3. ZUGAIB, M.; FRANCISCO, R. P. V.
Zugaib obstetrícia 4. ed. São Paulo:
Manole, 2020.
4. FERNANDES, C. E. Febrasgo - Tratado
de Obstetrícia. 1. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2018.
5. WEFFORT, V. R. S.; LAMOUNIER, J. A.
Nutrição em pediatria: da neonatologia à
adolescência. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora
Manole, 2017.

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