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DENTOALVEOLAR:
ASPECTOS ATUAIS
INTRODUÇÃO
A cavidade bucal é uma região, pela sua posição, passível de sofrer traumatismos. As injú-
rias na dentição e nos tecidos moles são freqüentes, e seus efeitos na função e na estética
facial merecem atenção do cirurgião-dentista.1
OBJETIVOS
Ao final deste capítulo, o leitor deverá estar apto a:
identificar os diferentes tipos de traumatismo dentoalveolar e suas causas mais co-
muns;
aplicar os procedimentos adequados para cada tipo de traumatismo, bem como os
cuidados necessários ao tratar das lesões;
realizar os exames clínicos e radiográficos necessários para identificar o tipo de
traumatismo;
reconhecer os diferentes métodos de contenção para tratar os traumatismos.
Fraturas radiculares
Lesões com envolvimento de dentes e tecidos periodontais
de suporte
Tratamento dos traumatismos
Concussão
dentoalveolares
Subluxação
Luxação lateral
Luxação extrusiva
Luxação intrusiva
Avulsão
Métodos de contenção Procedimentos de acompanhamento em dentes
permanentes avulsionados
Técnica fechada
Técnica aberta
Fratura coronorradicular
Fratura radicular
Concussão
Subluxação
Traumatismosdentoalveolares Luxaçãolateral
emdentes decíduos
Luxação extrusiva
Luxaçãointrusiva
Avulsão
Fratura doprocessoalveolar
Orientaçõesà família
Caso clínico Acompanhamento
Andreasen6 relatou a tendência, em relação à faixa etária, para uma maior incidência de
traumatismodentoalveolar emcriançasentre 2 a 4 anose 8 a 10 anos. Houve uma prevalência
de 11 a 30% na dentição decídua e de 5 a 20% na dentição permanente ou mista. A
proporção do sexo masculino para o feminino foi de 2:1, respectivamente.
Em relação aos dentes, nos traumas diretos, os incisivos centrais superiores são os mais
acometidos, devido a sua topografia, com mais de 60% dos casos, seguidos pelos incisivos
laterais superiorese os incisivoscentrais inferiores. Os traumas indiretos, em geral, ocorrem
através de impactos na região mentoniana, onde a mandíbula se choca com a maxila resul-
tando, geralmente, em lesões aos dentes posteriores.6
MEDIDAS DE PREVENÇÃO
DOS TRAUMATISMOS DENTÁRIOS
Devido às múltiplas causas dos traumatismos bucais, a prevenção envolve diversas áreas. No
caso de automóveis, por exemplo,a engenharia de controle determina a presença de air bag,
cintos de segurança e painéis de proteção que constituem dispositivos para prevenir ou
minimizar os traumatismos.
EXAME CLÍNICO
Por ser uma urgência traumática e dolorosa, o traumatismo dentoalveolar exigeum diagnós-
tico rápido e correto, para que o tratamento seja estabelecido o maisprecocemente possível.
O cirurgião-dentista pode ser o primeiro profissional da saúde a examinar a pessoa, devendo
realizar uma avaliação das condições gerais do paciente e exame local.
O exame físico começa com o exame geral do paciente, observando as estruturas extra-
orais e os sinais vitais da aparência geral.
Feita a avaliação do tecido mole, procede-sea avaliação dos tecidos duros dentais quanto
à presença de fissuras e/oufraturas. As lacerações serão tratadas limpando-sea área, em-
pregando anti-sépticose realizando-sesutura e/oucurativos. A profilaxia antimicrobiana de-
penderá do caso. A articulação temporomandibular deverá ser examinadapara verificar pos-
síveis alterações.
Figura 1 – A) Traumadentoalveolar (avulsão) de dente decíduo após queda de berço. B) Radiografia de tórax
mostrando (seta) dente decíduo deslocado para cavidade abdominal (estômago).
Fonte: Caso gentilmente cedido pelo Dr. Hécio Henrique Araújo de Morais.
A B
C D
A realização de testes de percussão e vitalidade pulpar (ao frio, ao calor, teste elétrico e de
cavidade) é um ponto de controvérsia na literatura. Alguns autores defendem sua realização
na avaliação inicial e nas visitas subseqüentes; outros, preferem realizar tais testes mais pos-
teriormente, para não provocar mais traumas aos dentes já lesados.
EXAME RADIOGRÁFICO
O exame radiográfico é de fundamental importância como complementar no diagnóstico
de um traumatismo dentoalveolar. Com ele, pode-seobservar:
grau de desenvolvimentoradicular;
lesões aos tecidos duros dentários e, em especial, à raiz;
ligamento periodontale ossoalveolar;
grau de extrusãoou intrusão;
presença de doençaperiapical;
presença de fraturas na maxilae/ouna mandíbula;
fragmentos de dentes ou corpos estranhos alojados nos tecidos moles periorais ou
deslocados para outras regiões, como tórax e abdome.
C) Adultos
3. Liste as informações que o dentista deve tentar obter ao receber um paciente com
traumatismo dentoalveolar.
Extra-oral
Intra-oral
Radiográfico
6. Por que as radiografias devem ter diferentes angulações? E por que elas devem ser pa-
dronizadas no pós-operatório?
Evidências indicam que não existe um sistema adequado para o estabelecimento, no diag-
nóstico em estudos das lesões, que poderia ser aplicado num estudo epidemiológico. Adota-
remos a classificação de Andreasen, por ser a mais utilizada (32%) e de fácil memorização
(Quadro 1).
Lesão Tipo
Fraturas coronárias Fissuras no esmalte, fratura envolvendo esmalte, fratura envolvendo es-
malte e dentina e fratura envolvendoesmalte, dentina e polpa.
Fraturas coronorradiculares Fratura envolvendo esmalte, dentina e raiz. A polpa pode ou não estar
exposta.
Existemsituações dos traumatismos dentoalveolares com as quais o dentista clínico não está
habituado, como nos procedimentos cirúrgicos, principalmente quando há necessidade de
indicação de anestesia geral, não devido ao procedimento, mas geralmente em crianças não-
cooperativas. Nesses casos, um cirurgião bucomaxilofacial deverá ser chamado para aju-
dar no tratamento.
Além do tecido duro, pode haver lesão à polpa dentária. O estado da polpa, após uma
fratura coronária, depende de vários fatores, tais como:
presença (ou não) de traumatismode luxaçãoconcomitante;
estágio de desenvolvimentoradicular;
exposição (ou não) da dentina e, em caso positivo,se ela foi protegida.
Os fatores que determinarão o tratamento clínico das fraturas coronárias podem ser:
extensão do traumatismo;
idade do paciente;
condições emocionaisdo paciente;
exigências estéticasdo paciente;
grau de irrompimentododente;
oclusão e dentesvizinhos;
condições econômicas;
experiência do profissional.
Nas fraturas envolvendo apenas esmalte (Figura 3), ou dentina e esmalte (Figura 4), quando
a polpa não está exposta, o teste de sensibilidade pulpar pode ser negativo inicialmente,
indicando dano pulpar transitório. Então, deve-semonitorar a polpa até que se tenha um
diagnóstico definitivo.
FRATURAS CORONORRADICULARES
As fraturas coronorradiculares são um tipo de traumatismo comum, normalmente associado
a um impacto horizontal. Elas compreendem de 30 a 50% das lesões aos tecidos duros
dentários, sendo que 80% dessas fraturas apresentam envolvimento pulpar.16 A linha de
fratura geralmente é única, podendo ocorrerfraturas múltiplasque seiniciam, freqüentemente,
a partir da fratura primária.
Nos casos de dentes anteriores superiores, a maior parte das fraturas coronorradiculares é
oblíqua, no sentido vestíbulo-lingual, com maior extensão de profundidade no periodonto
pelo lado lingual (palatino). Fraturas em ângulo reto, com o longo eixo radicular no plano
vestíbulo-lingual, são incomuns e aquelas verticais longitudinais, em conseqüência de
traumatismos, são raras.
A maioria dos dentes com fraturas coronorradiculares pode ser salva. A seguir, serão descri-
tos alguns procedimentos terapêuticos com suas indicações e princípios de tratamento.
Após a cicatrização gengival (2-3semanas), realiza-sea restauração da coroa, que pode ser
feita por meio dosseguintes procedimentos: colagem do fragmento dentário (onde a porção
subgengival foi removida), restauração direta com resina composta, ou restauração com co-
roa protética. Esses procedimentos devem-selimitar às fraturas superficiais que não envol-
vem a polpa (Figura 6).
Extrusão ortodôntica
A indicação de extrusãoortodôntica é a mesmapara o reposicionamento cirúrgico, todavia a
extrusãoleva mais tempo. O fragmento coronário é removido; a polpa, extirpada; e o canal,
obturado. Pode-se,também, realizar o tratamento endodôntico antes da remoção do frag-
mento, pois isso, às vezes, facilita o processo.
10. Como e por que devem ser feitos examesradiográficos no caso das fraturas coronárias?
FRATURAS RADICULARES
As fraturas radiculares são ocorrências pouco freqüentes, compreendendo de 0,5 a 7% das
lesõesque afetam os dentes permanentes, geralmente resultando de um impacto horizontal.
Elas atingem mais o grupo etário de 11 a 20 anos, podendo estar associadas à fratura do
processo alveolar. Representam padrões de cicatrização complexadevido ao traumatismo ser
concomitante à polpa, ao ligamento periodontal, à dentina e ao cemento. Afetam mais os
incisivos centrais superiores e pacientes do gênero masculino.17
É recomendado acompanhar o processo de cicatrização por, pelo menos, 1 ano, para deter-
minar a condição pulpar.Caso haja necrose da polpa, o tratamento endodôntico do segmen-
to coronário é indicado, a fim de preservar o dente.
Foi também verificado que os meninos são mais susceptíveis a essaslesões que as meninas, e
que as quedas e os acidentes com bicicleta são as causas mais freqüentes de tais lesões.
Notou-se,ainda, que a subluxaçãofoi a lesão mais freqüente (77%), seguida da extrusão e
da avulsão(15%), da intrusão(5%) e da luxaçãolateral (3%).19
CONCUSSÃO
Apesar de clinicamente não se observar alterações, o paciente com uma concussão relata
grande sensibilidade à percussão ou à mastigação. Como as fibras do ligamento periodontal
estão intactas, o dente está firme em seu alvéolo, não havendo sangramento a partir do
sulco gengival.
Figura 9 – Concussão.
Fonte: Adaptada deAndreasen
e Andreasen (1994).2
O controle pós-operatório da concussão deve ser realizado por dois meses. O prognóstico,
nesses casos, é bom, podendo ocorrer, no entanto, necrose pulpar nos dentes com forame
apical estreito. A reabsorção radicular é bastante rara.
SUBLUXAÇÃO
Nos casos de subluxação, quando o impacto tem uma força maior, as fibras do ligamento
periodontal podem ser rompidas, resultando num aumento de mobilidade do dente
traumatizado e num pequeno sangramento a partir do sulco gengival. O dente não está
deslocado, mas a presença de edema na região apical poderá acusar uma discreta extrusão
dentária.
Figura 10 – Subluxação.
Fonte: Adaptado de Andreasen
e Andreasen (1994).2
No caso de subluxação, uma contenção flexível pode ser indicada por, no máximo,
duassemanaspara oconforto do paciente.14 Outros autores indicam o ajusteoclusal
associado a uma dieta pastosa.
15. Sabemos que, no tratamento das fraturas radiculares oblíquas ou horizontais, deve-se
realizar uma boa redução e uma contenção flexível. Por quanto tempo essa contenção
deve permanecer se a fratura for localizada no terço cervical e no terço médio, respecti-
vamente?
A) 2 semanas e 4 semanas.
B) 2 meses e 2 semanas.
C) 4 meses e 4 semanas.
D) 4 semanas e 2 semanas.
Resposta no final do capítulo
16. Como o profissionalde Odontologia pode diferenciar uma concussãode uma subluxação?
A coroa é, na maioria das vezes, deslocada para lingual e está geralmente associada a uma
fratura da parede vestibular do alvéolo (Figura 11).
Ao ser reposicionado, o dente pode parecer firme em suaposição. Contudo, uma contenção
flexível por quatro semanas não deve ser dispensada. Uma radiografia de controle para
visualizara redução e monitorizar uma eventual perda de ossomarginal no período de acom-
panhamento deve ser realizada.
A B C
D E F
G H I
Figura 12 – A) Paciente vítima de acidente desportivo apresentando luxação lateral dos dentes 11 e 12; B)
Redução e contenção com odontossíntese em escada por não ter material disponível para realização de con-
tenção flexível (ver métodos de contenção); C, D, E e F) Após 1 dia, troca da odontossíntese por fio de aço +
resina; G) Radiografia periapical após contenção; H e I) Após 4 semanas, remoção da contenção.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.
Quadro 2
PROGNÓSTICO DAS LUXAÇÕES LATERAIS
Complicação Ocorrência
LUXAÇÃO EXTRUSIVA
A luxação extrusiva é o deslocamento parcial do dente para fora do seu alvéolo provocado
pela ação deforças oblíquas.Tantoo ligamento periodontal quanto o suprimentoneurovascular
da polpa são rompidos (Figura 13).
Figura 13 – A) Luxação
extrusiva;B) Extrusão do
11 e 21.
Fonte: A) Adaptada de
Andreasen e Andreasen
(1994).2;B) Arquivo de ima-
A B
gens dos autores.
Assim como na luxação lateral, no tratamento tardio da luxação extrusiva, mais que 3 ou 4
dias, o reposicionamento dentário é bastante difícil. Estudos recentes indicam que o
realinhamento dentário deve ser espontâneo ou auxiliado ortodonticamente.21
Figura 14 – Luxaçãointrusiva.
Fonte: Adaptada de Andreasen e
Andreasen (1994).2
O fator etiológico predominante foi a queda, seguido de acidente ciclístico. Os padrões das
lesões foram: intrusão sem associação a outras lesões (33,5%) e intrusão com fraturas
coronárias(60,5%). Na maioria das vezes,apenas um dente foi acometido (46,3%), seguido
de doisdentes (32,4%) e três ou maisdentes (21,3%). Em relação à faixaetária, observou-se
uma maior prevalência entre 6 a 12 anos, sendo que os meninos foram mais acometidos.
Os dentes anteriores superiores são os mais envolvidos na intrusão, sendo mais comum na
dentição decídua. O dano resultante depende da idade do paciente. Quando ocorre na
dentição decídua, devem-sefazer avaliações quanto ao desenvolvimento do dente perma-
nente subjacente. Se a dentição permanente não tiver sido afetada pela lesão, é possível
deixaro dente decíduo reirromper.O diagnóstico da intrusão deve tomar como referência os
dentes vizinhos.
Na dentição mista, deve-seestar atento para não confundir o dente afetado com umdente
em processode erupção. Quando a intrusão é severa, o dente pode ficar totalmente sepulta-
do no osso alveolar, não sendo visível clinicamente.
A necrose pulpar, semdúvida, merece atenção especial. Ela apresenta uma incidência entre
63 a 68%, em dentes com ápices abertos, e 100%, em dentes com ápices fechados.21 Pes-
quisas têm demonstrado uma relação direta entre o diâmetro apical do dente intruído e a
necrose pulpar. Dentes intruídos com diâmetro apical menor ou igual a 0,7mm apresentam
um taxa significativamente maior para necrose da polpa do que dentes intruídos com diâme-
tro maior ou igual a 1,2mm.24
Como a necrose pulpar ocorre em quase 100% dos casos de intrusão, a terapia
endodôntica “profilática” está indicada. A proservação clínica e radiográfica é
importante por um período de 3 a 5 anos.
O reposicionamento cirúrgico tem sofrido fortes oposições por alguns autores, pois au-
menta o risco de reabsorção externa e perda do osso marginal de suporte.21 Achados no
estudo de Kinirons e Sutcliffe32 indicaram que o reposicionamento cirúrgico de dentes seve-
ramente intruídos não foi associado com o aumento de reabsorção radicular e a perda do
osso marginal.
Subluxação
Luxação lateral
Luxação extrusiva
Luxação intrusiva
19. Quais as complicações que podem surgir durante o processo de cicatrização de uma
luxação lateral? E em uma intrusão?
20. O que aponta o estudo de Andreasen sobre a relação entre a idade do paciente e o
tratamento das intrusões de dentes permanentes?
Processo de cicatrização
Durante a avulsão, há ruptura do epitélio gengival, dano no ligamento periodontal, lesão ao
cemento e ossoalveolar, além dedano à polpa dental. O resultado deum eventual reimplante
dental depende do período e da manipulação extra-alveolar.
Para que ocorra uma adequada cicatrização, é necessário que o dente avulsionado
permaneça o menor tempo possívelfora do alvéolo, que o armazenamento seja em
um meio fisiológico e que a contaminação seja eliminada, reduzida ou controlada
por antimicrobianos. Se tais condições forem satisfeitas, os eventos de cicatrização
podem ser esperados, como a revascularização do ligamento periodontal rompido,
a união das fibras de Sharpey rompidas, a formação de uma nova inserção gengival
e, finalmente, a revascularização e reinervação da polpa.
No caso de um dano mínimo à camada mais interna do ligamento periodontal, o local será
reabsorvido por macrófagos e osteoclastos, resultando na escavação da superfície radicular.
Após algumas semanas, essa cavidade será preenchida por um novo cemento e fibras de
Sharpey. Esse processo é denominado reabsorção superficial.
Quando a reabsorção inicial penetrar o cemento e atingir os túbulos dentinários e, caso haja
uma eventual infecção no canal radicular ou nos túbulos dentinários, as toxinas poderão
chegar a partir dessestúbulos expostos à superfície radicular. Conseqüentemente, o proces-
so osteoclástico continuará e ocorrerá uma progressivareabsorção radicular inflamatória até
a perfuração do canal (reabsorção inflamatória) (Figura 16). No entanto, se a infecção no
canal radicular e nos túbulos dentinários for debelada com a endodontia, a atividade
osteoclástica cessaráe ocorreráa cicatrização com umnovo cemento eligamento periodontal.
Nos danos mais extensos e, portanto, com uma anquilose maior,o estímulo funcional não
será capaz de removê-la(anquilose permanente). Uma reabsorção progressiva e gradual
do dente ocorrerá devido à remodelação óssea. Esse processo é denominado reabsorção
por substituição, pois ocorre a substituição do dente por tecido ósseo (Figura 17).
Em crianças, em que a sobrevida do dente acometido pode limitar-sea poucos anos, esse
processo é bastante ativo. Em adultos, a reabsorção é significativamente mais lenta e a
sobrevida do dente lesado chega a 10 e, em alguns casos, 20 anos.
Meios de armazenamento
Um meio de armazenamento fisiológico é um dos fatores fundamentais para o sucesso do
tratamento dos dentes avulsionados. Um meio ideal deverá ser úmido, conter glicose, íons
Ca e Mg e possuir osmolaridade e pH compatíveis. O meio deverá ser capaz de manter e/ou
fornecer metabólitos para as células do ligamento periodontal.
Dois meios ideais para armazenamento fisiológico são: as soluções salinas balanceadas de
Hank e ViaSpan. Essas soluções são fisiológicas e possuem pH e osmolaridade compatíveis
com células do ligamento.
ViaSpan é a solução de escolha para o transporte de órgãos para transplante. Essa solução
apresenta a capacidade de manter as células viáveispor até 7 dias. Já a solução de Hank tem
a capacidade de preservar e de reconstituir as células do ligamento periodontal por até 24
horas, durante as quais os metabólitos celulares esgotados podem ser renovados.
Caso a solução de Hank não esteja disponível, outros meios podem ser utilizados, em ordem
de preferência: leite, saliva, soro fisiológico e água.34 A água é a última opção, poisé um
meio hipotônico e causará, em pouco tempo, lise das células periodontais, aumentando a
inflamação e, conseqüentemente, a reabsorção radicular. A saliva também deve ser evitada
por conter microrganismos que causarão danos ao ligamento periodontal. Em crianças, a
saliva está contra-indiciadapela possibilidade de deglutição ou aspiração do dente, a não ser
que ela armazene o dente num recipiente contendo sua saliva.
Tabela 1
ASSOCIAÇÃO DASOLUÇÃO VERSUS CARACTERÍSTICAS VERSUS TEMPODE ARMAZENAMENTO
Vale ressaltar que o dente só terá essa capacidade se o período extra-alveolar for
menor do que 20 minutos. Por essarazão, períodos extra-alveolaresmaiores limitam
a efetividade do leite na manutenção de células viáveis do ligamento periodontal.
Outros meios de armazenamento vêm sendo relatados na literatura. Dentre eles, podemos
destacar o própolis, o qual, em um estudo realizado por Martin e Pileggi,36 apresentou
resultados estatisticamente significativos, melhores que a solução de Hank, o leite e o soro
fisiológico (Figura 18).
A B
25. Qual dentre estes é o melhor meio de armazenamento para dentes avulsionados?
A) Saliva.
B) Leite.
C) Soro fisiológico0,9%.
D) Água destilada.
Resposta no final do capítulo
A) Todassão falsas.
B) Todassão verdadeiras.
C) Apenas I é verdadeira.
D) Apenas I e II são verdadeiras.
Resposta no final do capítulo
Apesar da importância das primeiras medidas tomadas após a avulsão, estudos têm mostra-
do que os dentistas clínicos, assim como professores de escolas, pais, treinadores, médicos,
que, em muitas vezes, são as primeiras pessoas a atender pacientes com avulsão dentária,
não possuem um bom conhecimento relacionado ao assunto. Esses estudos concluem que
há necessidade de uma melhor comunicação entre os dentistas e a comunidade, assimcomo
de implantação de campanhas educativas.37-44
Quadro 3
TRATAMENTODE DENTES PERMANENTES AVULSIONADOS COM ÁPICE FECHADO
Tempoextra-alveolar Procedimento
e meio de
armazenamento
A B C
D E F
G H I
J L
Figura 19 – A e B) Paciente vítima de queda de bicicleta apresentando escoriações em face + avulsão dos
dentes 11 e 21; C) Dente armazenadoem sorofisiológico; D) Manipulação do dente pela coroa; E) Reimplante
+ sutura dos ferimentos; F) Odontossíntese em escada por não ter material disponível para realização de
contenção flexível (ver métodos de contenção); G) Radiografia após contenção; H) troca da contenção por
resina após1 dia; I e J) Pós-operatóriode 6 meses;L) Radiografia periapical de controle, 6 meses,para troca de
curativo intracanal.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.
Quadro 4
TRATAMENTODE DENTES PERMANENTES AVULSIONADOS COM ÁPICE ABERTO
Tempoextra-alveolar Procedimento
e meio de
armazenamento
Tanto para dente permanente com ápice aberto quanto para dente permanente com ápice
fechado, casoo dente avulsionadotenha tido contato comsolo, ou sea coberturaantitetânica
for incerta, deve-seencaminharpara omédicopara avaliar anecessidadede vacinaantitetânica.
PROCEDIMENTOS DE ACOMPANHAMENTO
EM DENTES PERMANENTES AVULSIONADOS
Terapia endodôntica -Se o tratamento endodôntico for indicado em dentes com ápices
fechados, o período ideal para o início do tratamento é de 7 a 10 dias após o reimplante.
Hidróxido de cálcio é recomendado como medicação intracanal por um mês seguido da
obturação final. Uma exceção é em relação aos dentes que permaneceram em meio seco
extra-alveolar por mais de 60 minutos antes do reimplante. Nesses casos, o tratamento
endodôntico poderá ser feito antes do reimplante.
Quadro 5
AVALIAÇÕES FEITAS NOPRIMEIRO ANO DOS DENTES IMPLANTADOS
28. Faça um esquema para o procedimento a ser tomado em caso de dente permanente
(com ápice aberto ou fechado) reimplantado no local do acidente ou antes do paciente
chegar ao dentista.
TÉCNICA FECHADA
Na maioria das vezes,uma barra de Erich é adequada para promover uma contenção estável.
Entretanto, numa fratura com pequeno deslocamento e em que seobteve uma boa redução,
contenções com fio de aço mais resina ou botões ortodônticos mais fio de aço podem ser
utilizadas, pois isso promoverá menores danos ao periodonto e facilitará a higienização. No
entanto, caso a situação não permita o uso dessascontenções flexíveis, como em emergên-
cias hospitalares, e caso seja necessário, fixações rígidas (barra de Erich ou odontossínteses)
podem ser trocadas, tardiamente, por uma mais adequada (Figura 21).
A B
Figura 21 – A) Paciente vítima de
queda daprópriaaltura apresentan-
do fratura do processo alveolar dos
dentes 32,31 e 41 +subluxação dos
dentes 11 e 21; B) Redução + con-
tenção (odontossíntese emescada);
C) Radiografia periapical após con-
tenção; D) Trocada contenção após
C D
5 dias.
Fonte: Arquivo de imagens dosautores.
Quando as fraturas alveolares estão associadas com fraturas da maxila ou mandíbula associ-
ada a fraturas alveolares, o tratamento deve ser realizado concomitantemente e o mais rápi-
do possível, para melhorar o prognóstico dos dentes e dos componentes alveolares.
O prognóstico para os casos de fratura do processo alveolar está associado com a cicatriza-
ção pulpar. Quando a linha de fratura é acima do ápice radicular, o suprimento vascular da
polpa apresenta pouco risco. Todavia, se a fratura for ao nível do ápice, a probabilidade de
necrose pulpar é grande e poderá ocorrer reabsorção externa ou interna (Tabela 2).
Fonte: Floresecolaboradores(2007).14
MÉTODOS DE CONTENÇÃO
O tipo de contenção é um importante fator no tratamento dostraumatismosdentoalveolares.
Dados clínicos têm revelado que dentes traumatizados necessitam submeter-sea movimen-
tos fisiológicos, sem cargas oclusais excessivas,para que ocorra uma ótima cicatrização.
A B C
D E
Figura 22 – Métodos de contenção. A) Fio de aço + resina; B) Resina composta; C) TTS (Titanium Trauma
Splint); D) Botões ortodônticos + fio de aço; E) odontossíntese em escada.
Fonte: A), B), D), E) – Arquivo de imagens dos autores; C -von Arx e colaboradores (2001).50
As contenções flexíveis mais utilizadas são: fio de aço mais resina, botões ortodônticos
mais fio de aço, fibra de vidro,51 resina composta e Titanium TraumaSplint (TTS).50
Von Arx e colaboradores50 realizaram um estudo comparativo entre quatro sistemas flexí-
veis para a contenção: fio de aço mais resina, resina composta, botões ortodônticos mais fio
de aço e TTS. Eles concluíram que todos os sistemasmantiveram o movimento fisiológico do
dente. TTS e fio de aço mais resina permitiram uma mobilidade mais fisiológica, e a resina
composta reduziu drasticamente esse movimento.
31. Indique verdadeiro (V) ou falso (F) a respeito das afirmações sobre fraturas do processo
alveolar.
( ) Nessasfraturas, a alteração oclusal devido ao desalinhamento do segmento é um
achado pouco freqüente.
( ) Se houver necessidade de fazer uma extração de dente, ela deve ser feita após a
cicatrização óssea.
( ) Se a fratura for acima do ápice radicular, a probabilidade de necrose pulpar é
grande.
( ) A impossibilidadede reduzir a fratura pelo método fechado geralmente acontece
pelo travamento apical ou por interferências ósseas.
Resposta no final do capítulo
32. Por que a odontossíntese e a barra de Erich são formas de contenção que devem ser
evitadas?
33. Em que caso a contenção com fio de aço +resina ou botões ortodônticos maisfio de aço
pode ser utilizada? Qual a vantagem desse tipo de contenção?
FRATURA CORONORRADICULAR
A fratura coronorradicular corresponde a uma fratura múltipla da coroa, e a polpa pode ou
não estar envolvida. O fragmento coronal encontra-seaderido à gengiva e com mobilidade,
podendo haver umpequeno oumoderadodeslocamentodo dente.57 Uma radiografia periapical
deve ser realizada, na qual se observa uma linha radiolúcida oblíqua que compromete a coroa
e a raiz em direção vertical.
FRATURA RADICULAR
Na fratura radicular, o dente encontra-semóvel, podendo o fragmento coronal apresentar-se
deslocado. Uma radiografia periapical deve ser realizada.
CONCUSSÃO
Na concussão, o dente apresenta sensibilidade ao toque. Entretanto, não existe mobilidade
nem sangramentono sulco gengival, e a radiografia não revela nenhuma alteração. O trata-
mento consiste em manter o dente em observação. Geralmente, os pais não se lembram
do trauma e, posteriormente, são chamados à atenção pela descoloração do dente.
SUBLUXAÇÃO
Na subluxação,o dente apresenta mobilidade sem deslocamento, e o sulco gengival pode ou
não apresentar sangramento. O tratamento consisteem observação. Se existirboa higiene
bucal, o dente em geral retorna à normalidade em duas semanas. Por outro lado, o dente
pode aumentar a mobilidade, e pode surgir edema gengival devido à infecção.
LUXAÇÃO LATERAL
Na luxação lateral, o dente é deslocado lateralmente, em geral em direção palatina. Duas
radiografias devem ser realizadas, uma oclusal e uma lateral. Se não existir interferência
oclusal, o dente retornará a sua posição espontaneamente.
Em um estudo prospectivo de 104 luxações laterais, 99% dos casos realinharam dentro de
um ano.60 Se existirinterferência oclusal, deve-serealizar reposicionamento e contenção nos
dentes adjacentes por duas a três semanas. O reposicionamento cirúrgico está associado ao
aumento do risco de necrose pulpar.
LUXAÇÃO EXTRUSIVA
Na luxação lateral extrusiva, o dente apresenta mobilidade e deslocamento para fora do alvé-
olo. Uma radiografia periapical deve ser realizada, e o tratamento pode ser a extração ou o
reposicionamento e a contenção. Não existemestudos clínicos mostrando tratamento conser-
vador nas extrusões.
AVULSÃO
O dente avulsionadoé deslocadototalmente para fora do alvéolo. Uma radiografia periapical
deve ser realizada com o objetivo de assegurar que o dente perdido não está intruído.
Dentes decíduos que sofreram avulsão não devem ser reimplantados devido ao
potencial de danos que podem causar ao germe do dente permanente (Figura 23).
A B C
ORIENTAÇÕES À FAMÍLIA
Ainda como parte do tratamento, a família do paciente de um traumatismo dentoalveolar
em dente decíduo deve ser orientada em relação aos cuidados a serem tomados com a
criança, após o tratamento inicial do traumatismo dental, principalmente em relação à higie-
ne bucal, com o objetivo de promover uma boa cicatrização.
ACOMPANHAMENTO
O acompanhamento pós-traumatismo deverá ser realizado por meio de exames clínicos e
radiográficos, de acordo com cada caso. É essencial que o primeiro controle seja realizado na
primeira semana, com a finalidade de se avaliar cicatrização, higiene bucal e infecção. A
freqüência das reavaliações vai depender do tipo da lesão da idade da criança.
100%
90%
Dentes permanentes
80%
70%
60%
50%
40% Dentes malformados
30%
Dentes normais
20%
10%
0%
ão sã
o
sã
o ão
xaç tru tru vuls
blu Ex In A
Su
Tipode injúria
Fratura coronorradicular
A) V – V – V – F– V
B) F–F–V– V–F
C) V–F–F–V–V
D) F–V–F–V–F
Resposta no final do capítulo
A B
Acompanhamento pós-operatório
C D