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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E GESTÃO

Licenciatura em Ciências Jurídicas

Disciplina: Direitos Reais

Tema:

CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS REAIS

Discentes:

Edson Carlos Guimarães do Rosário

Fábio da Silva Nhandamo

Laximim Jorge Mucabel

Lucrecia Tete

Tânia José Macuacua

Docente: Francisco Carneiro

Maputo, Junho de 2023


Índice
1. INTRODUÇÃO........................................................................................................................1

1.1. Objectivo geral......................................................................................................................1

2. NOÇÃO DE DIREITO REAL.................................................................................................2

2.1. O paradigma do pleno domínio............................................................................................2

2.2. Os interesses típicos dos direitos reais..................................................................................5

3. CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS REAIS..........................................................................7

3.1. Direitos reais de gozo, de garantia e de aquisição................................................................7

3.2. Direito real maior e direitos reais menores...........................................................................8

3.3. Direitos reais sobre coisa própria e sobre coisa alheia.........................................................9

3.4. Direitos reais de proteção definitiva e de proteção provisória.............................................9

3.5. Direitos reais simples e complexos.....................................................................................10

3.6. Direitos reais autónomos e subordinados...........................................................................10

3.7. Direitos reais de titularidade imediata e de titularidade mediata........................................10

4. CONCLUSÃO........................................................................................................................11

5. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................................12
1. INTRODUÇÃO
Os Direitos reais consistem num ramo do Direito Civil, sendo que vai buscar os seus quadros
jurídicos ao Direito Romano, tendo assim uma origem histórica. Os direitos reais incidem sobre
coisas, por contraposição aos direitos de crédito que são direitos dirigidos contra pessoas. A
categoria dos Direitos Reais tem como caracterização unitária a denominada eficácia real, que
consiste na eficácia do direito contra qualquer pessoa (oponível erga omnes), o que atribui ao
direito real cariz absoluto por contraposição com o direito de crédito, que possui apenas cariz
relactivo.

No presente trabalho, nos debruçaremos sobre a classificação dos Direitos Reais, onde
pretendemos, apresentar a noção dos direitos reais, sobre o paradigma do pleno domínio, onde a
doutrina moderna procura definir o direito real através de uma síntese entre a teoria clássica e a
teoria personalista.

Falaremos ainda sobre os interesses típicos dos Direitos Reais, e por fim, faremos a classificação
dos Direitos reais, recorrendo ao critério da função que desempenham na ordenação geral do
domínio.

1.1. Objectivo geral


Classificar os Direitos Reais no Ordenamento jurídico moçambicano.

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2. NOÇÃO DE DIREITO REAL.

2.1. O paradigma do pleno domínio


A doutrina moderna procura definir o direito real através de uma síntese entre a teoria clássica e
a teoria personalista, considerando que cada uma delas se limita a pôr em destaque uma das
dimensões essenciais da estrutura ou da anatomia do direito real. Na verdade, a teoria
personalista ou obrigacionista veio realçar que os fenómenos só são relevantes no plano jurídico
na medida em que há protecção ou sanção; só quando a relação de poder ou de domínio de um
sujeito sobre uma coisa é garantida pela ordem jurídica é que surge o direito real.

A relação do titular com a coisa só é directa e imediata, porque a ordem jurídica impõe a todas as
pessoas (excepto ao titular do direito) o dever de abster de interferir nessa relação (obrigação
passiva universal). A teoria personalista sobrevaloriza o aspecto da tutela do direito real, mas
deixa na sombra o seu conteúdo. Com efeito, o poder directo sobre o bem não é uma realidade
originária, mas um efeito da imposição pela ordem jurídica de um dever universal de abstenção
ou de não ingerência nessa relação — a sanção (protectio) é o instrumento jurídico que permite o
domínio do bem.

Os factos só são juridicamente relevantes porque a sanção supõe um determinado conteúdo


(licere); porém, são os interesses (ou melhor, a satisfação de interesses através dos bens) que
constituem a raiz e a causa de toda a intervenção jurídica enquanto técnica operatória. A
premissa de que todo o fenómeno jurídico constitui no plano do dever ser uma relação
intersubjectiva implica que, apenas em sentido figurado, se possa dizer que um dos polos de uma
relação é uma coisa.

A relação jurídica constitui sempre uma relação homem-homem, ainda que o sujeito passivo
possa ser desconhecido; aliás, é o facto de os sujeitos passivos do direito real não se encontrarem
individualizados que, por um lado, permite destacar a relação directa do titular com a coisa e, por
outo, esconder de certa forma a dimensão intersubjectiva. Ou seja, para a teoria personalista, a
relação homem/coisa oculta uma relação homem/homens, sendo os segundos aqueles contra
quem a ordem jurídica protege aquela relação através da obrigação passiva universal que lhes
impõe. É por consistir num non facere geral que a obrigação passiva universal faz sobressair o
poder da pessoa sobre uma coisa.

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A situação empírica que resulta do poder do titular sobre a coisa é de tal modo forte que acaba
por encobrir aquele dever; o facto de a obrigação passiva universal ser uma pura e simples
obrigação de não turbação deixa o titular numa situação de poder pleno e imediato sobre o
objecto.

Contudo, aquela obrigação existe e tem um conteúdo preciso: o devedor está adstrito a um dever
de abstenção e este distingue-se da obrigação ligada a um direito de crédito por incidir sobre
todos os cidadãos (erga omnes) e não sobre pessoas determinadas. Nestes termos, o direito de
crédito consiste numa relação homem-homem determinados; o direito das coisas uma relação
homem-feixe de homens, sendo estes todos os virtuais conflituantes com o domínio do titular.
Por seu turno, relativamente ao direito real, a doutrina clássica ou realista destaca a relação de
poder com a coisa, ou seja, o interesse relativo ao domínio exclusivo do titular sobre uma coisa,
mas esquece o aspecto indispensável relacionado com a protecção daquele poder.

Neste sentido, a obrigação passiva universal está ao serviço do poder conferido pelo direito real,
na medida em que é o instrumento que garante o autêntico domínio sobre as coisas. Ora, se a
satisfação do interesse subjacente ao direito real está na fruição imediata da coisa, é tendo em
vista o acesso ao bem (perspectiva dos interesses) que o direito real ganha verdadeiro sentido.
Por isso, o que acaba por ser decisivo para se compreender a estrutura dos direitos reais não é a
protectio, mas o poder que se confere ao titular do direito: a dominação do bem sem a
intervenção de outrem, isto é, o poder directo e imediato do titular sobre o objecto, o domínio
absoluto e independente. Sendo um poder que não necessita do apoio do portador da obrigação
(como sucede nos direitos de crédito), o direito real acaba por surgir como um poder desligado
da sanção ou do instrumento jurídico que lhe garante a tutela que o caracteriza, apresentando-se
antes como um poder puramente fáctico ou empírico.

Foi este aspecto empírico que a teoria personalista desvalorizou. Porém, se todo o direito real ou
de crédito prossegue sempre um poder sobre um determinado bem, há que reconhecer que não é
possível separar a protecção jurídica da fruição empírica que a determina. Ou seja, o poder ou
elemento empírico é tão caracterizador do direito real como é a protecção ou o elemento jurídico.

Contudo, não pode esquecer-se que é o interesse ligado ao poder directo sobre a coisa que
constitui o elemento causante e conformante da protectio; esta é um simples instrumento de
efectivação do acesso do homem ao bem.

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No direito real existe uma primazia funcional do conteúdo sobre a sanção, na medida em que é
para tutelar esse poder directo sobre a coisa que a sanção foi criada e modelada da forma que se
conhece.

A teoria clássica põe em destaque este aspecto causante do poder sobre a coisa (o conteúdo ou
licere do direito real) relativamente à sanção, sustentando por isso que o que caracteriza o direito
real não é a protectio, o tipo de tutela jurídica, mas o licere ou o conteúdo da actuação que ele
permite. Verifica-se assim que tanto a doutrina realista ou clássica como a teoria personalista ou
obrigacionista constituem perspectivas unilaterais, o que significa que uma noção de direito real
deverá englobar a dimensão ligada ao conteúdo (licere ou lado interno) e a dimensão ligada à
protecção (sanção ou lado externo), uma vez que ambas se afiguram indispensáveis para
caracterizar a relação dominial e distingui-la dos direitos de crédito.

No que respeita ao aspecto sancionatório ou lado externo, verifica-se que, no direito de crédito, a
tutela é relativa — dirige-se apenas contra pessoa ou pessoas determinadas (devedores) — e que,
no direito real,essa tutela é absoluta, porque abrange a generalidade das pessoas que podem
interferir com o poder sobre a coisa. Por conseguinte, o direito de crédito possui uma eficácia
relativa e o direito real uma eficácia absoluta ou erga omnes.

Quanto ao conteúdo ou lado interno, o direito de crédito tem por objecto um comportamento de
outrem (prestação) e só mediatamente uma coisa (nas obrigações de dare); já no direito real o
poder do titular incide de forma imediata sobre uma coisa. O direito de crédito consiste num
poder de exigir ou de pretender certo comportamento específico do devedor relativo ao um bem
e o direito real num poder directo e imediato de usar, de fruir ou de dispor de uma coisa. Ora, o
recurso a uma noção abstracta de direito real revela-se útil na medida em que permite abranger
os diferentes tipos de direitos reais; porém, essa noção só ganha sentido autêntico se for definida
a partir do direito de propriedade, dado que este direito constitui a chave normativa de todo o
ordenamento que regula o domínio sobre as coisas.

Neste sentido, podemos definir o direito real como i) um poder directo e imediato sobre uma
coisa (lado interno), ii) que se impõe à generalidade dos membros da comunidade jurídica (lado
externo), iii) que constitui uma aproximação, derivação ou expressão do direito de propriedade,
iv) com vista a organizar solidamente as infra-estruturas sócio-económicas.

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Em relação ao que deve entender-se por membros da comunidade jurídica, dir-se-á que não se
trata de toda a humanidade. O dever de cada um respeitar o direito real não significa que todas as
pessoas do mundo estejam abrangidas pela obrigação passiva universal, mas apenas aquelas que
estão em condições de possível turbação, juridicamente relevante, do direito real.

Por isso, apenas são compreendidos naquela obrigação as pessoas que se encontrem numa
situação em que lhes seja possível interferir na zona de domínio garantido pelo direito real e que
são aquelas que estão sujeitas ao ordenamento jurídico que tutela o poder sobre a coisa.

Assim, por exemplo, a obrigação passiva universal referente a um direito de propriedade sobre
uma coisa imóvel situada em Maubisse abrange todos aqueles (nacionais ou não nacionais) que
se encontram, de forma temporária ou não, no território moçambicano, na medida em que são as
únicas pessoas que estão sujeitas à ordem jurídica deste Estado e que se encontram em condições
de poder interferir com esse direito real.

Já quanto aos direitos reais sobre coisas móveis convirá precisar melhor a determinação dos
sujeitos passivos. Se considerarmos um direito de propriedade sobre um livro, por exemplo, que
permanece em Moçambique, a solução é a mesma do caso anterior, ou seja, os sujeitos passivos
são todas as pessoas que se encontrem no território do país. Mas, se esse livro for levado para
Portugal? Então, desde que a ordem jurídica portuguesa reconheça – como é o caso – a ordem
jurídica moçambicana (a ordem que tutela a propriedade sobre o livro), são sujeitos passivos do
direito real sobre o referido livro as pessoas subordinadas à ordem jurídica portuguesa, isto é, as
que se encontram em território português durante o tempo em que o livro permanecer naquele
país. Não é, pois, o entrar numa relação material ou de facto com a coisa que é relevante para
determinar os sujeitos passivos do direito real, mas sim o estar sob a alçada (directa ou indirecta)
da ordem jurídica que tutela o direito sobre o bem.

2.2. Os interesses típicos dos direitos reais


Para melhor compreender o alcance da noção de direito real adoptada importa salientar que os
direitos reais têm como função histórica organizar solidamente a atribuição dos grandes meios de
riqueza, as infra-estruturas económicas da sociedade. Aquele ramo do direito tem por suporte ou
modelo o direito de propriedade, uma vez que constitui o instrumento jurídico com capacidade
para assegurar o pleno domínio das coisas e para extrair todas as potencialidades económicas que

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elas permitem. O direito das coisas inscrito no Código Civil tem como referência lógico-jurídica
a plena in re potestas, pelo que os diversos jura in re aliena que prevê ou têm origem directa no
direito de propriedade (os direitos reias de gozo e os direitos reais de garantia) ou a ele tendem a
reconduzir-se (os direitos reais de aquisição), constituindo por isso derivações ou aproximações
do pleno domínio. Daí que se afigure necessário pôr em destaque os fins ou os interesses que
explicam a existência deste ramo do direito patrimonial e que permitem compreender o seu
significado e as funções que desempenha.

Ora, atendendo à sua dimensão funcional, o direito real procura dar resposta a dois interesses: o
da imediação e o da estabilidade ou segurança. O primeiro consiste no interesse em assegurar
que a satisfação das necessidades que as coisas propiciam se processe sem intervenção ou
mediação de outra pessoa; como vimos, este interesse tem a ver com o conteúdo (licere) dos
direitos reais. Ser titular de um direito real é ter um poder que permite aceder directa e
imediatamente ao bem; trata-se de uma imediação jurídica e não física, porquanto o que releva
não é tanto a aproximação empírica com a coisa — aliás, há direitos de crédito (comodato,
locação, por exemplo) que também propiciam o uso ou gozo de um objecto —, mas antes a
ausência de uma mediação jurídica entre o titular e a coisa.

O outro interesse diz respeito à maior segurança ou estabilidade que o direito real confere em
face dos ataques exteriores, pelo que diz respeito ao lado externo ou à protectio do direito real.
Tem a ver com o interesse de que o direito Obrigação passiva universal, obrigação geral de
respeito e neminem leadere.

Afirma-se, por vezes, que a obrigação passiva universal não goza de autonomia jurídica já que se
identifica com a obrigação geral de respeito ou com o neminem leadere. Porém, parece-nos estar
perante conceitos distintos. A obrigação geral de respeito visa proteger a autonomia jurídica das
pessoas; impõe à generalidade dos membros da comunidade o dever de não impedir que as
pessoas exerçam a sua liberdade jurídica; nesta perspectiva, possui um âmbito subjectivo
idêntico ao da obrigação passiva universal.

Porém, o facto de visar a tutela da personalidade faz com que a obrigação geral de respeito não
tenha apenas um conteúdo negativo (a obrigação de não perturbar a liberdade dos outros), mas
uma dimensão positiva, consubstanciada na obrigação de auxílio. Desta forma, a obrigação geral
de respeito está longe de ser meramente passiva como acontece com a obrigação passiva

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universal, na medida em que engloba o dever de auxílio que é o inverso da passividade. A
obrigação passiva universal é específica do direito das coisas; ela não comporta qualquer aspecto
ou conteúdo positivo de cuidar ou auxiliar, antes o simples dever de não interferir ou perturbar a
esfera de disponibilidade que o direito real confere ao titular; consiste, por isso, na proibição de
alguém perturbar o gozo ou a disponibilidade conferida pelo ordenamento jurídico sobre as
coisas. A obrigação passiva universal não visa proteger de modo directo pessoa do titular do
direito, mas antes a reserva de domínio ou de poder sobre as coisas.

Por fim, o princípio geral do neminem leadere tem por objecto de referência todo o tipo de
interesses da pessoa. Consiste num princípio programático e não num dever jurídico; poderá
funcionar (eventualmente à sombra do abuso do direito) quando não existe violação de um
direito concreto e, portanto, sempre que não há qualquer dever jurídico a ser cumprido. Por isso,
possui uma esfera de acção diferente daquela que está reservada à obrigação geral de respeito e à
obrigação passiva universal.

3. CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS REAIS

3.1. Direitos reais de gozo, de garantia e de aquisição


− Direitos reais de gozo, são aqueles em que são atribuídos ao seu titular as faculdades de uso ou
fruição ou disposição de uma coisa corpórea. Apenas o direito real máximo, que é a propriedade,
compreende todas estas faculdades. Os outros direitos reais menores, como o usufruto, uso e
habitação, enfiteuse (hoje abolida), superfície ou servidão, atribuem ao seu titular apenas
algumas destas faculdades. A propósito dos direitos reais menores, faz-se ainda referência à
posse, em que é controvertida a sua qualificação como direito real: a posse não constitui um
direito real, pelo que deve ser tratada autonomamente, no âmbito da ordenação jurídica
provisória das coisas;

− Direitos reais de garantia, são aqueles em que é conferida a um credor uma preferência no
pagamento pelo valor de certa coisa, podendo assim esse credor ser pago à frente dos outros
credores, evitando os riscos de o património do devedor não chegar para a liquidação de todos os
créditos. Entre esses direitos reais de garantia situam-se a consignação de rendimentos, o penhor,
a hipoteca, o privilégio e o direito de retenção;

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− Direitos reais de aquisição, é conferida ao seu titular a possibilidade de pelo seu exercício vir a
adquirir um direito real sobre determinada coisa. Entre eles encontram-se os direitos do
beneficiário de um contrato promessa com eficácia real ou do beneficiário do pacto de
preferência com eficácia real e ainda o titular de um direito legal de preferência. JOSÉ
TAVARES recusou que as garantias reais pudessem qualificar-se como direitos reais em sentido
próprio, uma vez que constituíram meros acessórios de direito de crédito. E parte da doutrina
recusa a qualificação como direitos reais dos chamamos direitos reais de aquisição, considerando
que se trata antes de direitos de crédito oponíveis a terceiros: são verdadeiros direitos reais pois
partilham da mesma eficácia real que caracteriza os direitos reais de gozo, ainda que sejam
exercidos através de acções distintas.

3.2. Direito real maior e direitos reais menores


− Direito real maior, atribui ao titular todas as faculdades relativas à coisa;

− Direitos reais menores, que não atribuem todas essas faculdades. O direito real maior é a
propriedade, enquanto todos os outros direitos serão direitos reais menores.

Quanto à relação do direito real maior com os direitos reais menores, têm sido admitidas duas
teorias:

− Teoria do desmembramento: nos direitos reais menores ocorre uma divisão da propriedade em
vários direitos distintos. A constituição dos direitos reais menores implicaria assim sempre uma
fragmentação da propriedade em 2 direitos distintos, sendo uma parte do conteúdo da
propriedade transferida para o direito real menos e ficando esta privada desse mesmo conteúdo.
Esta teoria deve-se a POTHIER. Entre nós, esta posição foi defendida por Pires de Lima e
Antunes Varela;

− Teoria da oneração: na constituição do direito real menor não se verifica qualquer


desmembramento do direito de propriedade em 2 direitos distintos, nem o direito real menor
recebe uma parte dos direitos que a lei atribui ao proprietário. A constituição de um direito real
menor implica antes o surgimento de um direito novo em termos de conteúdo, o qual comprime a
propriedade, levando a que esta temporariamente se reduza, ainda que, por força da sua
elasticidade, possa recuperar o seu conteúdo primitivo com a extinção do direito real menor.
Enquanto vigorar o direito real menor, há, porém, uma sobreposição de direitos sobre a mesma

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coisa, tendo o proprietário de suportar o exercício do direito real menor, mas podendo continuar
a aproveitar da coisa em tudo o que não contenda com esse exercício.

Teoria defendida inicialmente por WINDSCHEID. Entre nós, é a concepção defendida, entre
outros por Dias Marques + OA + MC. Menezes Leitão: defende a teoria da oneração.
Efetivamente, os direitos reais menores não podem ser vistos como simples desmembramentos
da propriedade, até porque possuem aspectos novos do regime, como determinadas obrigações e
causas próprias de extinção, que não existem na propriedade.

Por outro lado, a teoria do desmembramento implicaria que a recuperação da totalidade do


domínio só se pudesse fazer com um acto de retransmissão do direito real menor ao proprietário,
quando essa recuperação se verifica automaticamente sempre que ocorra a extinção do direito
real menor.

3.3. Direitos reais sobre coisa própria e sobre coisa alheia


Uma outra classificação distingue entre direitos reais sobre coisa própria ou sobre coisa alheia,
consoante seja atribuída a propriedade sobre a coisa ao titular ou outro direito real. Efetivamente,
uma vez que qualquer outro direito real teria sempre que coexistir com a propriedade do titular,
aqueles são configurados como direitos reais sobre coisa alheia.

Já a propriedade, incluindo a compropriedade, consiste num direito real sobre coisa própria.
Sendo clássica, esta classificação falha na sua aplicação aos novos direitos reais que têm vindo a
surgir. Efetivamente, quer o usufruto, quer a servidão podem ser qualificados pacificamente
como direitos reais sobre coisa alheia.

O mesmo não sucede, porém, na superfície, em que o implante existente no solo alheio não pode
deixar de ser visto como coisa própria do superficiário. Também na propriedade horizontal o
direito sobre as frações autónomas incide sobre coisa própria.

3.4. Direitos reais de proteção definitiva e de proteção provisória


Deve-se a PAULO CUNHA esta classificação. Para este autor, a posse formal seria um direito
real de proteção provisória, uma vez que apenas seria tutelada até o momento em que o
verdadeiro titular do direito real o fizesse valer ele próprio, pondo termo à proteção conferida ao
possuidor. Esta classificação foi depois seguida por Dias Marques, Mota Pinto e Penha

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Gonçalves. Esta classificação veio a ser criticada por MC. Para este autor, a proteção da posse é
tão definitiva como a de qualquer outro direito real, só cessando essa proteção quando a posse
cessa, o que ocorre no caso de alguém adquirir melhor direito. Mas isso sucederia com qualquer
direito real. Esta crítica foi depois seguida por Rui Pinto.

Menezes Leitão: A crítica não procede. É manifesto que a tutela da posse formal se reveste de
provisoriedade, tendo o possuidor que abdicar da coisa se vier a ser convencido da questão da
titularidade do direito real. A classificação faria assim todo o sentido se a posse pudesse ser
qualificada como direito real. A razão para a rejeitarmos reside apenas no facto de contestarmos
que a posse tenha essa natureza.

3.5. Direitos reais simples e complexos


− Direito real simples, se a afetação da coisa é realizada por uma forma determinada;

− Direito real complexo, há uma conjugação de formas de afetação da coisa. → Direitos reais
coletivos: aqueles conjuntos de direitos reais, que não perdem autonomia entre si, como
sucederia com certas → Direitos reais compostos: aqueles em que se verifica essa perda de
autonomia. P.e., superfície. Esta classificação veio a ter a adesão de Menezes Leitão, ainda que
este autor conteste a subdivisão entre direitos reais coletivos e compostos, por contestar que as
universalidades de direito possam ser objeto de direitos reais.

3.6. Direitos reais autónomos e subordinados


− Direitos reais autónomos: direitos reais cuja existência não depende de nenhum outro direito.
EX. propriedade e o usufruto;

− Direitos reais subordinados: direitos reais de garantia, que estão dependentes da existência do
direito de crédito que garantem, assim como os direitos legais de preferência, que são atribuídos
aos titulares de certos direitos reais ou de crédito, cessando com a sua extinção.

3.7. Direitos reais de titularidade imediata e de titularidade mediata


− Direitos reais de titularidade imediata, o mais frequente; são atribuídos diretamente a sujeitos
determinados, que se tornam assim seus titulares;

− Direitos reais de titularidade mediata, a sua atribuição depende da atribuição de outro direito
real. P.e., servidões prediais, que são atribuídas a quem for titular do prédio dominante.

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4. CONCLUSÃO
No presente trabalho, concluímos que a doutrina moderna procura definir o direito real através
de uma síntese entre a teoria clássica e a teoria personalista, considerando que cada uma delas se
limita a pôr em destaque uma das dimensões essenciais da estrutura ou da anatomia do direito
real, a relação do titular com a coisa só é directa e imediata, porque a ordem jurídica impõe a
todas as pessoas (excepto ao titular do direito) o dever de abster de interferir nessa relação
(obrigação passiva universal). Concluímos também que a relação jurídica constitui sempre uma
relação homem-homem, ainda que o sujeito passivo possa ser desconhecido

Neste sentido, pudemos definir o direito real como um poder directo e imediato sobre uma coisa
(lado interno), que se impõe à generalidade dos membros da comunidade jurídica, que constitui
uma aproximação, derivação ou expressão do direito de propriedade, com vista a organizar
solidamente as infra-estruturas sócio-económicas.

No que tange a classificação dos direitos reais, concluímos que, temos como classificação mais
importante dos direitos reais, os direitos de gozo, de garantia e de aquisição.

Direitos reais de gozo, são aqueles em que são atribuídos ao seu titular as faculdades de uso ou
fruição ou disposição de uma coisa corpórea, Direitos reais de garantia, são aqueles em que é
conferida a um credor uma preferência no pagamento pelo valor de certa coisa, podendo assim
esse credor ser pago à frente dos outros credores, evitando os riscos de o património do devedor
não chegar para a liquidação de todos os créditos. Direitos reais de aquisição, é conferida ao seu
titular a possibilidade de pelo seu exercício vir a adquirir um direito real sobre determinada
coisa.

Por fim, concluímos que os direitos reais também são classificados em Direito real maior, que
atribui ao titular todas as faculdades relativas à coisa, e Direitos reais menores, que não atribuem
todas essas faculdades.

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5. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
 CARVALHO, Orlando de, Direito das Coisas, coordenação de Francisco Liberal
Fernandes/Maria Raquel Guimarães/Maria Regina Redinha, 2ª edição, Coimbra,
Gestlegal, 2021;
 JUSTO, A. Santos, Direitos Reais, Coimbra Editora, Coimbra, 2012;
 LIMA, Pires de/Antunes VARELA, com colaboração de Henrique MESQUITA, Código
Civil Anotado, vol. I, II e III, Coimbra Editora, 1987;
 MARQUES, José Gonçalves, Direito Reais, Macau, 2010;
 PENHA, Rui, Guia de Direitos Reais em Timor-Leste, Tribunal de Recurso, 2012;

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