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DECISÃO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA NO JULGAMENTO DO

MÉRITO DO PROVIMENTO 01/99

Identificação: RESP 277443


Ministro: FRANCISCO FALCÃO
Fonte: DJ DATA: 18/06/2002
Órgão Julgador: T1 - Primeira Turma
Texto do Despacho:
RECURSO ESPECIAL Nº 277.443 - SC (2000/0093204-3)
RELATOR: MINISTRO FRANCISCO FALCÃO
RECORRENTE: CONSELHO REGIONAL DE CORRETORES DE IMÓVEIS DA 11ª
REGIÃO - CRECI/SC
ADVOGADO: ADILSON ALEXANDRE SIMAS E OUTROS
RECORRIDO: INSTITUTO CATARINENSE DE ENGENHARIA DE AVALIAÇÕES E
PERÍCIAS - IBAPE/SC
ADVOGADO: ANDRÉ OPILHAR
RECORRIDO: CONSELHO REGIONAL DE ENGENHARIA ARQUITETURA E
AGRONOMIA DE SANTA CATARINA - CREA/SC
ADVOGADO: JOÃO HENRIQUE BLASI

DECISÃO Vistos, etc.


Cuida-se de recurso especial interposto pelo CONSELHO REGIONAL DE
CORRETORES DE IMÓVEIS DA 11ª REGIÃO – CRECI/SC, com fulcro no artigo 105,
III, alíneas “a” e “c”, do permissivo constitucional, contra acórdão do Tribunal de
Justiça do Estado de Santa Catarina, assim ementado:
“ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL – MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO –
ATO NORMATIVO DE EFEITO CONCRETO – PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE
DO WRIT – PERÍCIAS JUDICIAIS – ATOS PRIVATIVOS DE PROFISSIONAIS DE NÍVEL
UNIVERSITÁRIO – CREA – ASSOCIAÇÃO DE ENGENHEIROS – CRECI – ATO DO
CORREGEDOR GERAL – COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA – ORDEM
CONCEDIDA PARA SUSPENDER PROVIMENTO QUE FACULTA AOS CORRETORES A
REALIZAÇÃO DE PERÍCIAS JUDICIAIS”
Havendo probabilidade de lesão a direito de determinada coletividade, próprio e
adequado o recurso ao mandado de segurança preventivo de natureza coletiva.
Possui efeito concreto, ato normativo que excluindo prerrogativa legal de uma
classe, os engenheiros, faculta a outra, os corretores de imóveis, a realização de
perícias judiciais” (fls. 115).
Sustenta o recorrente violação ao artigo 3º da Lei nº 6.530/78 e à Súmula nº 266
do STF, bem como divergência jurisprudencial, aduzindo que não é exclusividade
dos profissionais inscritos no CREA a realização de arbitramento ou avaliação de
imóvel.
Instado, o douto Ministério Público Federal manifestou-se pelo provimento do
recurso especial (fls. 180/182).
Relatados, decido.
Verifico que a pretensão do recorrente merece guarida.
A avaliação de imóveis não demanda conhecimentos específicos de engenharia,
arquitetura ou agronomia. Para se determinar o valor de um imóvel, é necessário
o conhecimento do mercado imobiliário local e das características do bem,
matéria que não se restringe àquelas áreas de conhecimento, podendo ser
aferida pelos corretores de imóveis ou outros profissionais com conhecimento
sobre o tema. Dessa forma, o Provimento da Corregedoria Geral de Justiça de
Santa Catarina, o qual possibilitou a realização de perícias judiciais por corretores
de imóveis, não feriu direito líquido e certo dos profissionais inscritos no CREA,
pois a avaliação de imóveis não é ato privativo desses profissionais. Sobre o
assunto, destaco os seguintes precedentes jurisprudenciais, verbis:
“PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO. ART. 680, CPC. AVALIAÇÃO DE IMÓVEL.
INEXISTÊNCIA DE AVALIADOR OFICIAL. NOMEAÇÃO DE PERITO ENGENHEIRO,
ARQUITETO OU AGRÔNOMO. LEI Nº 5.194/66. NÃO EXCLUSIVIDADE. DOUTRINA.
JURISPRUDÊNCIA. PRECEDENTES. RECURSO DESACOLHIDO”.
I – Ao nomear o perito, deve o juiz atentar para a natureza dos fatos e agir com
grano salis, aferindo se a perícia reclama conhecimentos específicos de
profissionais qualificados e habilitados em lei, dando à norma interpretação
teleológica e valorativa.
II – A determinação do valor de um imóvel depende principalmente do
conhecimento do mercado imobiliário local e das características do bem, matéria
que não se restringe às áreas de conhecimento de engenheiro, arquiteto ou
agrônomo, podendo ser aferida por outros profissionais.
III – A verificação da qualificação profissional do perito nomeado para avaliar
imóvel em execução e a existência ou não de avaliadores oficiais na comarca (art.
680, CPC) exigem a reapreciação de fatos da causa, vedada à instância especial, a
teor do enunciado nº 7 da súmula/STJ” (REsp nº 130.790/RS, Rel. Min. SÁLVIO DE
FIGUEIREDO TEIXEIRA, DJ de 13.09.1999).
“PROCESSUAL CIVIL. RENOVATÓRIA DE LOCAÇÃO. LAUDO PERICIAL.
INCAPACIDADE PROFISSIONAL DO PERITO. Não é privativa de profissionais
inscritos nos CREAS a elaboração de laudo para a determinação de valor de
aluguel, em ação renovatória, podendo tal atividade ser desempenhada por
profissionais de corretagem e de ciências contábeis, afeitos ao mister” (REsp nº
21.303-8/BA, Rel. Min. DIAS TRINDADE, DJ de 29.06.1992).
Tais as razões expendidas, com esteio no artigo 557, § 1º-A, do Código de
Processo Civil, DOU provimento ao recurso especial.
Publique-se.
Brasília-DF, 11 de junho de 2002.
MINISTRO FRANCISCO FALCÃO
Relator

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