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Depressão na Infância e Adolescência
César de Moraes

Há relatos de depressão em crianças e adolescentes desde a época dos


egípcios e sumérios, há 2600 anos antes de Cristo. Em 1861, Burton descreve
pela primeira vez crianças melancólicas e, quase cem anos depois, Spitz
(1953) descreve a ‘Depressão Anaclítica’: quadros depressivos que ocorrem
em crianças quando são afastadas de seus pais por muito tempo. Mas, apenas
em 1970, a possibilidade de ocorrer depressão em crianças foi ratificada no
Quarto Congresso da União dos Psiquiatras Infantis Europeus.
Do ponto de vista epidemiológico, não há diferenças nas taxas de
prevalência de acordo com a raça ou sexo. Após os 10 anos de idade, há um
aumento de prevalência em ambos os sexos, mas é mais acentuada em
meninas. As taxas de prevalência são muito variáveis (0,4% a 2,5%), pois
dependem muito do tipo de estudo, a idade da criança estudada e a população
estudada.
Os sintomas depressivos são fundamentalmente de três ordens:
A. Os sintomas de ordem física: perda ou ganho de peso, insônia e sonolência
excessiva, agitação psicomotora fadiga e perda de energia.
B. Os sintomas de ordem subjetiva: tristeza a irritabilidade sentimentos de
menos valia, entre outros.
C. Os sintomas de ordem cognitiva: Lentificação do pensamento, dificuldade de
concentração, pensamentos recorrentes de morte suicídio.

Quadro 1: Quando suspeitar de depressão infantil:

Sintomas Irritabilidade e tristeza.


Mudanças de apetite e sono.
Perda de energia.
Queixas de tédio.
pensamentos suicidas.
Excessivas queixas somáticas.
Baixa autoestima.
Sintomas comportamentais.

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Consequências da Queda de rendimento escolar.
depressão Dificuldades de relacionamento .
Conflitos familiares.
Abuso de drogas.

Outras circunstâncias História familiar de depressão.


Vítima de “bullying” e abuso.

De acordo com Associação Psiquiátrica Americana, os transtornos


depressivos são classificados de acordo com os seguintes diagnósticos abaixo:
 Transtorno disruptivo da desregulação de humor:
Tem como quadro clínico a presença de irritabilidade, comportamento opositor,
momentos de explosividade e início na infância. Apesar de estar classificado
entre os quadros depressivos tem características mais associadas aos
transtornos do espectro bipolar.
 Transtorno depressivo maior:
São quadros intensos o suficiente para retirar os indivíduos de suas atividades
regulares, tem início marcado e dura em média 5 meses.
 Transtorno depressivo persistente (distimia):
Transtorno depressivo de característica clínicas e de intensidade leve. Em
crianças os sintomas devem ocorrer por mais de um ano sem períodos de
melhora dos sintomas por mais de um mês. O quadro é leve e muitas vezes
confundido com características de personalidade, devido a sua baixa
intensidade e cronicidade.
 Transtorno disfórico pré-menstrual:
Sintomas de labilidade emocional e irritabilidade que antecedem a
menstruação.
 Transtorno depressivo induzido por substância/ medicação:
Sintomas decorrentes de medicamentos, por exemplo, o uso da isotretinoína
utilizado para o tratamento da acne severa.
 Transtorno depressivo devido a outra condição médica:
Muitos transtornos depressivos são decorrentes de condições clínicas
diagnosticáveis e muitas vezes tratáveis: como por exemplo hiper ou
hipotireoidismo, câncer, anemia, entre outros.
 Outro Transtorno depressivo: Transtorno depressivo não especificado.

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Abaixo, você poderá utilizar um bom algoritmo de avaliação clínica:

Infeliz ou irritada Não


Ou
Perda de interesse e prazer
duas semanas
Sim

Humor triste ou irritado


Perda de interesse em atividade
Mudança de peso ou apetite
Alteração de sono Não
Agitação ou lentificação motora
Fadiga ou perda de energia
Sentimentos de menos valia e culpa
Diminuição da capacidade de pensar ou se
concentrar
Pensamentos recorrentes de morte e suicídio

SIM

Causam impacto negativo Não Considerar outro


Não são gerados por condição médica diagnóstico
ou uso de substâncias

SIM

Há história de mania ou
hipomania

Depressão unipolar Depressão bipolar

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Uma questão importante a considerar é a possibilidade de muitas
crianças com um quadro depressivo pode ao longo do tempo apresentar um
quadro maníaco, posteriormente, e terem seu diagnóstico alterado para
transtorno bipolar. Ao longo de um seguimento de dois anos, quase 35% das
crianças que apresentaram quadros depressivos podem fazer um quadro
maníaco e, ao longo de 7 anos, quase metade dessas crianças irá fazer uma
“virada maníaca”.
Alguns fatores preditores de mudança de um transtorno depressivo para
um transtorno afetivo bipolar são depressões marcadas pelas seguintes
características clínicas:
 Início precoce.
 Prolongados e agressivos episódios de raiva e fúria (“temper tantrums”).
 História familiar de bipolaridade.
 Comportamento desafiador e oposicional.
 Letargia.
 Sono excessivo.
 Ansiedade de separação.
 Ansiedade fóbica.

O risco de suicídio sempre está presente. Por volta de 45% dos


pacientes com depressão bipolar irão realizar uma tentativa de suicídio ao
longo da vida e, quase um quinto dos pacientes com episódio depressivo farão
o mesmo.
Abaixo, se pode observar características clínicas de acordo com o grupo
de diagnóstico:

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Várias questões clínicas devem ser consideradas antes de se iniciar um
tratamento:
 Diagnóstico e caracterização dos padrões de comorbidade.
 Tratamentos prévios.
 Métodos farmacológicos (dose, eficácia, segurança).
 Métodos psicoterápicos (quanto tempo, empatia com terapeuta,
eficácia, entre outros).
 Avaliação de segurança.
 História familiar.
 Ideação suicida.
 Saúde física e transtornos mentais.
 Medidas de evolução.
 Psicoeducação.

Tratamento psicoterápico dos transtornos do humor em crianças e


adolescentes seguem as orientações segundo quadro abaixo:

Duração 3 meses 3-6 meses 6-12 meses

Frequência 4-8x/mês 2-4x/mês 1x/mês


Objetivos Psicoeducação Remissão Prevenir recaídas
Adquirir novas Focar em sintomas Encorajar a
habilidades residuais aderência a
Reduzir sintomas Focar em condições medicação
agudos comórbidas Antecipar
Restaurar o Praticar e adquirir potenciais
funcionamento novas habilidades estressores
Retomar o Praticar
desenvolvimento habilidades e
estratégias de
enfrentamento

Segundo o US Preventive Services Task Force Recommendation


Statement o tratamento farmacológico da depressão infantil deve seguir as
seguintes recomendações:
 Adolescentes (12-18 anos).

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 Uso de ISRS (fluoxetina – aprovado pela FDA - e citalopram) tem se
demonstrado eficaz.
 Devido ao risco de suicídio- seguimento clínico próximo.
 Psicoterapias e tratamentos combinados tem se demostrado eficaz.
 Crianças (7-11 anos).
 Evidências entre risco/benefício é insuficiente para uma recomendação.

Para finalizar veja abaixo sete dicas clínicas que podem nortear seu
tratamento:
 Certifique-se que o diagnóstico está correto.
 Selecione um plano de tratamento baseado em evidências para a população
pediátrica.
 Utilize doses adequadas do medicamento.
 Continue o tratamento por um período adequado.
 Fique atento a qualquer comorbidade.
 Avalie cuidadosamente os efeitos colaterais dos medicamentos.
 Remova agentes que podem estar agravando o quadro clínico.

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