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CURSO DE NUTRIÇÃO

Disciplina: PATOLOGIA DA NUTRIÇÃO

DOENÇAS CARDIOVASCULARES

Anápolis – 2023.2
Associação Educativa Evangélica
CURSO DE NUTRIÇÃO
Disciplina: PATOLOGIA DA NUTRIÇÃO

Patologia da nutrição e dietoterapia nas enfermidades nas


doenças cardiovasculares

OBJETIVOS:
•Insuficiência cardíaca
•HAS
•Aterosclerose
•Dislipidemias
•Síndrome metabólica
Associação Educativa Evangélica
CURSO DE NUTRIÇÃO
Disciplina: PATOLOGIA DA NUTRIÇÃO
Patologia da nutrição e dietoterapia nas enfermidades nas doenças
cardiovasculares
OBJETIVOS:
•Reconhecer a fisiopatologia, o diagnóstico, a classificação e as formas de tratamento da insuficiência
cardíaca e da hipertensão arterial sistêmica
•Identificar a relação entre a insuficiência cardíaca e a depleção nutricional.
•Descrever as intervenções dietéticas utilizadas no tratamento da insuficiência cardíaca e do transplante
cardíaco.
•Descrever as intervenções dietéticas utilizadas no controle da HAS.
Doenças cardiovasculares: insuficiência cardíaca congestiva,
hipertensão arterial
DOENÇAS CARDIOVASCULARES (DCV)
• Risco cumulativo de DCV ao longo da vida:
homens 2 em 3 e mulheres 1 em 2
DCV (Doenças inter-relacionadas)
Doença Doença
Aterosclerose cardíaca vascular IC HA
isquêmica periférica
HIPERTENSÃO ARTERIAL
HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA
• Pressão arterial (PA) persistentemente elevada
• Pressão arterial sistólica (PAS) → coração se contrai e empurra o
sangue para fora das câmaras
• Pressão arterial diastólica (PAD) → mede a força quando o coração
relaxa entre as contrações
• Problema de saúde pública em países desenvolvidos
• HAS não tratada → IC
• Assintomática durante anos e, em seguida, AVE ou ataque cardíacos
fatais
• Doença crônica, sem cura mas fácil diagnóstico e controlável
HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA
• Causas multifatoriais
• Caracterizada por elevação sustentada dos níveis pressóricos, quando os níveis
tensionais sistólicos estão ≥ 140 mmHg e/ou diastólicos ≥ 90 mmHg
• HAS está associada: distúrbios metabólicos, alterações funcionais e/ou
estruturais de órgãos-alvo, sendo agravada pela presença de outros fatores de
risco para DCV, como dislipidemia, obesidade abdominal, intolerância à glicose e
DM
• Sua presença está, independentemente de outros fatores, associada a eventos
como morte súbita, AVE, IAM, IC , doença arterial periférica e doença renal
crônica
• Fatores de risco: idade, afrodescendência, obesidade, ingestão excessiva de sal,
ingestão excessiva de álcool, sedentarismo e história familiar de hipertensão
HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA
• Fatores vasculares
• Oxido nítrico (NO) é um potente vasodilatador estimulado
por fatores como: estiramento pulsátil, estresse de
cisalhamento e alterações da pressão arterial
• Em pacientes hipertensos observa-se uma menor
vasodilatação mediada pelo endotélio (via ação de NO), e
isso faz com que pacientes hipertensos tenham maior
resposta vasoconstritora que os normotensos
• Remodelamento vascular e rigidez arterial → principal
causa de HAS em idosos
HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA
• Fatores hormonais
• Insulina → apesar de ser um vasodilatador, possui papel indireto nos
mecanismos pressóricos, onde se destaca sua contribuição na
retenção hidrossalina nos túbulos renais, por meio do aumento da
produção de aldosterona, pela sensibilização das adrenais á
angiotensina II, via de ativação de ATP e ativação do sistema nervoso
simpático central
• O hiperinsulinismo causa um aumento da reabsorção de sódio, da
contratilidade e hipertrofia do tecido muscular, aumento da atividade
simpática, da resistência vascular periférica através da vasoconstrição e
aumento do volume sanguíneo
PAIVA, 2011
HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA
• 90 a 95% → hipertensão arterial essencial / causa desconhecida /
hipertensão primária
• Causa → estilo de vida, expressão gênica e inflamação vascular

• Hipertensão secundária → surge em consequência a outra doença,


quase sempre endócrina – nefropatia, endocrinopatia ou uso de
drogas hipertensoras
• Dependendo da extensão da doença subjacente, é possível curar a
hipertensão secundária

Sociedade Brasileira de Cardiologia/ Sociedade Brasileira de Hipertensão/ Sociedade Brasileira de Nefrologia, 2008
FISIOPATOLOGIA
• PA é uma função do débito cardíaco multiplicado pela resistência periférica → diâmetro do vaso
sanguíneo afeta o fluxo sanguíneo
• Diâmetro diminui (aterosclerose) → resistência e PA aumentam
• Diâmetro aumenta (tto com agentes vasodilatadores) → resistência e PA diminuem

• CONTROLE HOMEOSTÁTICO DA PA:


SNS e rim – controle longo prazo
– Queda da PA → SNS secreta norepinefrina (vasoconstritor sobre pequenas artérias
e arteríolas) → aumenta resistência periférica → eleva PA

Algumas condições resultam em estimulação excessiva do SNS (distúrbios suprarrenais,


apneia do sono)
FISIOPATOLOGIA
• CONTROLE HOMEOSTÁTICO
DA PA:
SNS e rim – controle longo prazo
– Sistema renina-angiotensia (SRA)
– Esse sistema é ativado pelo próprio
organismo quando é identificado
um quadro de hipotensão
– Ao mesmo tempo, esse sistema
estimula a retenção do sódio e
consequentemente, água

https://www.youtube.com/watch?v=LRqmXdQjzZQ
FISIOPATOLOGIA
• CONTROLE HOMEOSTÁTICO DA PA:
SNS e rim – controle longo prazo

– 1ª etapa: Conversão da pró-renina em renina


Quando acontece uma queda da pressão arterial também ocorre uma
redução da perfusão renal → captada pelos receptores que estão presentes
nas arteríolas conectadas aos rins → inicia-se conversão da pró-renina em
renina
É a estimulação dos nervos renais que aumenta a secreção da renina pelas
células.
FISIOPATOLOGIA
2ª etapa: Liberação de angiotensina I
acontece uma segunda reação desencadeada pela renina → quando presente no plasma sanguíneo, ela atua na
conversão de angiotensinogênio em angiotensina I

3ª etapa: Conversão da angiotensina I em angiotensina II


Nesse momento entra em ação uma outra enzima, localizada predominantemente nos rins chamada de
Conversora de Angiotensina (ECA) → ação dessa enzima de conversão acontece nos pulmões e nos rins,
desencadeando uma reação catalisadora que converte a angiotensina I em angiotensina II

4ª etapa: Liberação da Aldosterona


Com a ativação da angiotensina II (hormônio vasoconstritor ativado), ele vai atuar no córtex das glândulas
suprarrenais fazendo com que a aldosterona seja sintetizada e secretada
Esse hormônio atua nas células dos rins incentivando o órgão a aumentar a reabsorção de sódio → há um
aumento da quantidade de líquido dentro dos vasos sanguíneos com objetivo de corrigir os níveis de pressão
arterial.
FISIOPATOLOGIA
• 5ª etapa: Estímulo renal direto
– Voltando à ação da Angiotensina II, ela vai atuar estimulando a troca de sódio e hidrogênio nesse
órgão. Ao mesmo tempo, vai aumentar a retenção renal de sódio e também de bicarbonato.
• 6ª etapa: Aumento da sede e ação antidiurética
– Nessa etapa de ativação do sistema Renina-Angiotensina-Aldosterona, a Angiotensina II vai atuar
mais uma vez. Porém, aqui ela estimulará o hipotálamo a aumentar a sensação de sede, para que a
pessoa seja incentivada a beber água. Ao mesmo tempo, ocorre o estímulo da secreção do Hormônio
Antidiurético (ADH) para que o organismo retenha mais água ingerida ou produzida pelo
metabolismo
• 7ª etapa: Vasoconstrição
– vai provocar uma redução do diâmetro dos vasos sanguíneos pela ação da Angiotensina II. Ela vai
atuar diretamente sobre as pequenas artérias e arteríolas fazendo com que se contraiam
Classificação do comportamento da
pressão arterial
• Hipertensão do avental branco: é definida
por valores de PA anormais no consultório,
porém com valores considerados normais
pela MAPA ou MRPA
• Hipertensão mascarada: é caracterizada por
valores normais de PA no consultório, mas
valores elevados apresentados nas medidas
fora do consultório
• Hipertensão sistólica isolada: é definida por
pressão arterial sistólica (PAS) aumentada, e
pressão arterial diastólica (PAD) normal

Quando as pressões sistólica e diastólica se situam em categorias


diferentes, a maior deve ser utilizada para classificação da pressão arterial.
7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial: Capítulo 2 - Diagnóstico e Classificação
Prevenção primária
• NHANES (2007-2010) : 81,5% dos indivíduos com hipertensão
arterial estão cientes de sua presença em comparação com 72%
(1999 a 2004)
• Eficácia comprovada dos efeitos das mudanças no estilo de vida:
- Redução da ingestão de sódio
- Consumir FVL
- Controle da massa corpórea
- Aumento de atividade física
- Recomendação ‘razoável’ sobre consumo de potássio (Academy of
Nutrition and Diabetes, 2009)
Dietoterapia
• Tratamento nutricional deve ser guiado por dados
obtidos de uma avaliação nutricional detalhada
• História clínica e dietética: história de massa corporal,
atividade física de lazer e avaliação do consumo de Na,
bebidas alcoólicas e outros padrões dietéticos
• Para cada kg de massa corporal perdida espera-se
redução de cerca de 1 mmHg na PAS e PAD
• Perda de peso associada ao tratamento farmacológico
→ pode diminuir a dose ou o número de fármacos
Dietoterapia
• Dieta DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension)
• eficiente para reduzir os níveis pressóricos, e por isso é
bastante utilizada em pacientes hipertensos
• enfatiza o consumo de frutas, hortaliças e laticínios com
baixo teor de gordura, dá preferência para a ingestão de
cereais integrais, frango, peixe e frutas oleaginosas, e
preconiza a redução do consumo de carne vermelha,
doces e bebidas com açúcar
• Rica em nutrientes como potássio, cálcio, magnésio e
fibras, além de conter quantidades reduzidas de
colesterol, gordura total e saturada
Dietoterapia
• Dietas vegetarianas
• Têm sido associadas a valores mais baixos
de PA, possivelmente por dar preferência a
alimentos de origem vegetal, entre os quais
estão as frutas, hortaliças, grãos e
leguminosas, em detrimento da ingestão
de carnes
• Algumas dietas incluem laticínios, ovos e
peixes
INSUFICIÊNCIA
CARDÍACA
Insuficiência Cardíaca (IC)
• Síndrome clínica definida pela disfunção cardíaca causando um
suprimento sanguíneo inadequado para as demandas metabólicas
dos tecidos corporais

Fine, 2020
• Pode ocorrer como consequência de qualquer doença que afete o
coração
• Justamente por ocorrer supressão sanguínea inadequada nos
tecidos, a depleção de nutrientes e o estado de desnutrição
também são características da IC tornando a terapia nutricional
um ponto chave para o tratamento dos pacientes
IC - Epidemiologia
• A síndrome mantém-se como patologia grave, afetando, no mundo,
mais de 23 milhões de pessoas
• Sobrevida após 5 anos de diagnóstico: 35%
• Prevalência: aumenta conforme a faixa etária - ~ 1% em indivíduos
com idade entre 55 e 64 anos, chegando a 17,4% naqueles com
idade maior ou igual a 85 anos
• ~ 50 mil brasileiros morrem anualmente em decorrência de IC
• Entre as doenças cardiovasculares, esta enfermidade é configurada
como a mais importante causa de internações hospitalares
SBC, 2018
Classificação da IC
• A IC pode ser determinada de acordo com a fração de ejeção (preservada,
intermediária e reduzida), a gravidade dos sintomas (classificação funcional da
New York Heart Association − NYHA) e o tempo e progressão da doença
(diferentes estágios)

• Classificação de acordo com a fração de ejeção


- FEVE normal (≥ 50%), denominada IC com fração de ejeção preservada
(ICFEp)
- FEVE reduzida (< 40%), denominados IC com fração de ejeção reduzida (ICFEr)
- pacientes com fração de ejeção entre 40 e 49% sempre foram considerados como
“zona cinzenta da fração de ejeção” e, mais recentemente, passaram a ser
definidos como IC de fração de ejeção intermediária (mid-range ou ICFEi)
Classificação da IC
• Classificação de acordo com a fração de ejeção
- somente pacientes com ICFEr têm demonstrado de fato
redução consistente da morbimortalidade com o
tratamento farmacológico instituído
- Tanto o diagnóstico quanto o tratamento de pacientes com
ICFEp são desafiadores e merecem atenção especial
• Classificação de acordo com a gravidade dos sintomas
Classificação da IC
• Classificação de acordo com a gravidade dos sintomas
• Permite avaliar o paciente clinicamente, auxilia no manejo
terapêutico e tem relação com o prognóstico
• Pacientes em classe funcional da NYHA III a IV apresentam
condições clínicas progressivamente piores, internações
hospitalares mais frequentes e maior risco de mortalidade
• Embora pacientes em NYHA II apresentem sintomas mais
estáveis e internações menos frequentes, o processo da
doença nem sempre é estável, e estes pacientes podem
apresentar morte súbita sem piora dos sintomas
Classificação da IC
• Classificação de acordo com a progressão da
doença
• proposta pela American College of
Cardiology/American Heart Association ACC/AHA
• Inclui desde o paciente com risco de desenvolver
IC, cuja abordagem deve ser feita no sentido de
prevenir seu desenvolvimento , quanto o
paciente em estágio avançado da doença, que
requer terapias específicas, como transplante
cardíaco e/ou dispositivos de assistência
ventricular
Classificação da IC
• Classificação de acordo com a progressão
da doença
Insuficiência cardíaca: o que é, como se
desenvolve e qual o seu tratamento?

• É a via final comum da maioria das doenças que acometem o


coração, sendo um dos mais importantes desafios clínicos
atuais na área da saúde
• Trata-se de um problema epidêmico em progressão, apesar da
evolução tecnológica e do aumento das pesquisas nos últimos
anos
• IC é uma síndrome de características malignas, que apresenta
altas taxas de mortalidade em seus estágios mais avançados
cardiopatia isquêmica crônica associada à hipertensão arterial

formas de IC que variam de acordo com determinadas regiões do país e em áreas de


baixas condições socioeconômicas

doença de Chagas

endomiocardiofibrose

cardiopatia valvular reumática crônica

síndrome clínica complexa, de caráter sistêmico, caracterizada


por disfunção cardíaca
INSUFICIÊNCIA CARDÍACA
• As alterações hemodinâmicas que são encontradas de forma
comum na IC envolvem resposta inadequada do débito cardíaco e
elevação das pressões pulmonar e venosa sistêmica
• Na maioria das formas de IC, a redução do débito cardíaco é
responsável pela inapropriada perfusão tecidual
• Na fase inicial, o comprometimento do débito cardíaco se manifesta
durante o exercício, porém, conforme a doença progride, ele
diminui no esforço até ser observado sua redução também no
repouso
• É uma doença crônica de longo prazo, embora possa, às vezes, se
desenvolver repentinamente
INSUFICIÊNCIA CARDÍACA
• Como a função de bombeamento do coração está comprometida → o
sangue pode retornar a outras áreas do corpo → acumulando-se, por
exemplo, nos pulmões, fígado, trato gastrointestinal, braços e pernas
• Em decorrência disso, a IC também é chamada de insuficiência cardíaca
congestiva
• Manifestações clínicas mais frequentes da IC são: dispneia, edema e fadiga
• Casos mais avançados da doença → baixo débito cardíaco com alterações
na perfusão sanguínea periférica, com consequente sudorese, palidez,
tontura, arritmias/palpitações, síncope e até morte súbita
Biomarcadores
• A dosagem de peptídeos natriuréticos do tipo B (BNP) e a do fragmento N-terminal
do peptídeo natriurético tipo B (NT-proBNP) pode ser útil em casos de dúvidas
diagnósticas em pacientes com queixa de dispneia, podendo servir como
exame de triagem na atenção primária
• Valores de BNP < 35 pg/mL ou NT-proBNP < 125 pg/mL praticamente excluem o
diagnóstico de IC
• Valores acima destes cortes necessitam de avaliação clínica e complementar
com ecocardiografia para confirmar o diagnóstico, caso haja dúvidas pela
avaliação clínica isolada
• A dosagem de marcadores de injúria miocárdica, como troponinas T e I (incluindo
as de alta sensibilidade), e de marcadores de inflamação e fibrose, como
galectina-3 e ST2, pode adicionar informações prognósticas
Diagnóstico da IC
Prevenção da insuficiência cardíaca
• O tabagismo aumenta o risco de IC independentemente da presença de
DAC
• Estudos observacionais têm indicado que a ingesta de álcool em
quantidade leve à moderada poderia estar associada ao menor risco de IC
→ não se deve recomendar ingesta de álcool com esta finalidade,
tendo em vista a falta de ensaios clínicos randomizados atestando
benefício, e também o risco de outras complicações, como
dependência química, pancreatite e cirrose, risco de dano miocárdico
induzido pelo álcool e o desenvolvimento da miocardiopatia alcoólica
• Para indivíduos que fazem ingesta excessiva de álcool, deve-se
recomendar que limitem a menos de 7 doses por semana para homens,
enquanto, em mulheres, estes níveis são menos definidos
Prevenção da insuficiência cardíaca
• O tratamento da hipertensão reduz o risco de
hospitalização por IC ou IC fatal em indivíduos
hipertensos previamente assintomáticos
• Ensaios clínicos randomizados demonstraram que a
introdução de um inibidor da enzima conversora de
angiotensina (IECA) em pacientes assintomáticos com
fração de ejeção reduzida, de etiologia isquêmica ou
não, reduz a chance de progressão para IC sintomática
Tratamento não farmacológico da insuficiência
cardíaca
• A educação dos pacientes e dos cuidadores é considerada um
componente fundamental, com impacto positivo em desfechos clínicos.
• Recentemente, ensaio clínico randomizado reforçou o efeito do
envolvimento dos familiares ou cuidadores no autocuidado de pacientes
com IC e o risco de readmissão hospitalar
• O nível ideal de ingesta de sódio na dieta de pacientes com IC crônica é
ainda assunto controverso
Tratamento não farmacológico da

insuficiência cardíaca
Evidências → consumo excessivo de sódio e o de fluidos associa-se ao agravamento da
hipervolemia, constituindo fator de descompensação e risco de hospitalização em pacientes
com IC crônica sintomática
• Estudos clínicos de pequeno porte também sugerem que a restrição excessiva de sódio
(< 5 g de sal por dia), em comparação com dieta com teor normal de sódio (~ 7 g de sal por
dia), pode associar-se a efeitos deletérios nos pacientes com IC crônica, incluindo
exacerbação da ativação neuro-hormonal, maior número de hospitalização e maior
mortalidade
• Por outro lado, em pacientes com IC gravemente sintomática ou avançada (estágio D), há
relatos sugerindo que a restrição mais intensa de ingesta de sódio possa ter benefícios em
reduzir sintomas congestivos e reinternações
• Considerando os achados expostos, parece prudente recomendar que se evite ingesta
excessiva de sódio (em níveis > 7 g de sal cloreto de sódio por dia) para todos pacientes com
IC crônica
Tratamento não farmacológico da
insuficiência cardíaca
• RESTRIÇÃO HÍDRICA
• Carência de estudos avaliando o efeito da restrição de ingesta de fluidos
em pacientes com IC
• O assunto foi recentemente abordado em revisão sistemática de seis
estudos, concluindo-se que a ingesta liberal de fluidos não exerceu efeito
desfavorável sobre hospitalizações ou mortalidade nos pacientes com IC
• Estudo de porte moderado demonstrou redução de hospilizações em
pacientes randomizados para restrição hídrica de 1.000 mL por dia
quando comparado à ingesta de 2.000 mL por dia
• Com base nas evidências disponíveis, não é possível estabelecermos
recomendações específicas e detalhadas sobre o emprego de restrição
hídrica em pacientes com IC crônica.
Tratamento não farmacológico da
insuficiência cardíaca
• Pelo fato de os tecidos corporais não receberem um suprimento
sanguíneo adequado, os nutrientes também não seriam disponibilizados
de maneira adequada, fazendo com as necessidades nutricionais não
sejam alcançadas
• + própria injúria da doença ( IC é considerada uma enfermidade
hipercatabólica) + uso de diversos medicamentos, que interferem na
biodisponibilidade de nutrientes, assim como na ingestão de alimentos
• Caquexia cardíaca → pode ser definida quando há uma perda maior que
6% do peso corporal habitual, não intencional e não edematosa, na
ausência de sinais de outras doenças que possam causar desnutrição,
como, por exemplo, neoplasias, infecção ou hipertireoidismo.
Tratamento não farmacológico da
insuficiência cardíaca
• Destaca-se que esta definição de caquexia não é universalmente
utilizada
• A caquexia também pode ser definida como a presença de doença crônica
e perda de peso superior a 5% e em um período menor que 12 meses ou
IMC < 20 kg/m2 , associadas a pelo menos três dos seguintes critérios:
• 1. Diminuição da força muscular
• 2. Fadiga
• 3. Anorexia
• 4. Redução do índice de massa livre de gordura
• 5. Anormalidades bioquímicas como inflamação, anemia ou redução da
concentração sérica de albumina.
Tratamento não farmacológico da
insuficiência cardíaca
• Dieta e perda de peso na insuficiência cardíaca
• “paradoxo da obesidade” → IMC entre 30 e 35 kg/m2 associa-se
paradoxalmente com menor mortalidade e taxas de hospitalização
quando comparado a IMC considerados normais (entre 20 e 25 kg/m2)
• Outros estudos sugerem distribuição em forma de “U” para a correlação
entre mortalidade e IMC nos pacientes com IC, em que a máxima
mortalidade ocorre em pacientes com caquexia (IMC < 20 kg/m2) e
aumento da mortalidade quando o IMC ultrapassa 35 kg/m2
• Considerando as limitações metodológicas destes estudos, os integrantes
da diretriz optaram por não recomendar orientações formais de dieta
para pacientes com sobrepeso e obesidade leve
Tratamento não farmacológico da
insuficiência cardíaca
• Terapia nutricional na insuficiência cardíaca
• Nível terciário de atenção
• visita admissional em 24 horas
• visita diária
• avaliação do estado nutricional e diagnóstico de nutrição a
cada sete dia
• planejamento dietético após análise da prescrição médica
• orientação nutricional durante a internação
• orientação nutricional na alta hospitalar
Tratamento não farmacológico da
insuficiência cardíaca
• Terapia nutricional na insuficiência cardíaca
• Objetivos:
• preservar a composição corporal e/ou limitar os efeitos do catabolismo
• contemplar as necessidades nutricionais
• evitar a sobrecarga de fluídos e controlar o edema
• identificar o quadro de caquexia cardíaca e adequar a terapia nutricional
• contribuir na manutenção do estado funcional
• auxiliar na diminuição do uso de fármacos
• colaborar na redução das descompensações e das internações
• ajudar para a melhora da qualidade de vida
Tratamento não farmacológico da
insuficiência cardíaca
• Ácidos graxos poli-insaturados w-3
• O estudo multicêntrico randomizado e controlado
GISSI-HF mostrou pequeno benefício do emprego de
ácidos graxos poli-insaturados n-3 (1 g ao dia) em
pacientes com ICFEr ou ECFEp
• Os resultados mostraram discreta, porém significante,
redução na mortalidade por qualquer causa e no
desfecho combinado de morte ou hospitalização por
causa cardiovascular
Tratamento não farmacológico da
insuficiência cardíaca
• Coenzima Q10
• Suplemento alimentar com efeitos potenciais benéficos no sistema
cardiovascular
• Uma metanálise (914 pacientes) → ausência de efeitos benéficos
da CoQ10 em pacientes com IC
• Estudo recente de pequeno a moderado porte sugere efeitos
benéficos da CoQ10 sobre desfechos cardiovasculares maiores
• Os integrantes da diretriz brasileira consideram que novos estudos
são necessários para confirmar estes resultados, antes que se
possa fazer recomendação do uso de CoQ10 na IC.
Tratamento não farmacológico da
insuficiência cardíaca
• Vitamina D
• Estudos observacionais têm mostrado que a deficiência
de vitamina D tem alta prevalência em pacientes com
IC, e que ela está associada a pior prognóstico
• Alguns estudos clínicos testaram a reposição de vitamina D
em pacientes com IC produzindo resultados contraditórios
• Recente metanálise mostrou efeito neutro da
suplementação de vitamina D em pacientes com IC, não
demonstrando melhora da função ventricular esquerda ou
da tolerância ao exercício.
Tratamento não farmacológico da
insuficiência cardíaca
• Energia
• O excesso de substratos energéticos obtido através de
dietas hipercalóricas ou nutricionalmente desequilibradas
pode contribuir para o desenvolvimento e progressão da IC,
através de mecanismos relacionados à glicotoxicidade e
lipotoxicidade
• De forma geral, é recomendada a oferta de 28 kcal/kg de
peso para pacientes eutróficos e 32 kcal/kg de peso para
pacientes em estado de depleção nutricional, sempre
considerando o peso seco do paciente (sem edema)
Tratamento não farmacológico da
insuficiência cardíaca
• Carboidratos: devem ser oferecidos de 50 a 55% (ou até 60%) da ingestão
energética, priorizando os carboidratos integrais com baixa carga
glicêmica, evitando os refinados (açúcar), por agravar a resistência à
insulina.
• Lipídeos: devem fazer parte de 30 a 35% do valor energético total (VET),
com destaque para as gorduras mono e poli-insaturadas, em especial aos
ácidos graxos da série ômega-3, e níveis reduzidos de gorduras saturadas e
trans.
• Proteínas: o aporte proteico precisa contemplar de 15 a 20% do VET,
priorizando as proteínas de alto valor biológico (60 a 70% das proteínas
totais da dieta). Nas fases iniciais da IC são recomendadas em torno de 1 g
de proteína/kg de peso por dia e nas fases mais avançadas 2 g de
proteína/kg de peso por dia
Estudo de caso
• Antônio tem 68 anos, é militar aposentado, portador de cardiopatia
isquêmica e hipertensão arterial, foi internado por quadro
de descompensação da IC. Apresentando:
- Cansaço
- Edema de MMII
- Dispneia aos pequenos esforços
• Durante a anamnese nutricional, o paciente relata:
- Perda de peso de 8 kg nos últimos 12 meses
- Inapetência
- Muita dificuldade em aceitar as preparações com restrição de sal
(atualmente está utilizando dieta hipossódica, sem sal adicional)
- Dispneia (fica cansado quando precisa mastigar muito)
Estudo de caso
• Atualmente, o paciente está com 67 kg e 1,73 m e informa que
o seu peso seco (sem edema) é de 64 kg e o peso antes da IC
era, em média, 80 kg. Antônio comenta que teve indicação de
utilizar suplemento nutricional industrializado (líquido, pronto
para uso), mas já “enjoou” do sabor e deixou de consumir tal
produto.
• Você é nutricionista e está diante deste caso. Responda:
A) A partir dos dados fornecidos, qual o diagnóstico nutricional e
os objetivos do tratamento dietoterápico?
B) Qual sua conduta quanto à prescrição da dieta?
Estudo de caso - respostas
A) Antônio apresenta IMC de 21,38 kg/m2, que indica baixo peso (conforme classificação do
IMC para idosos) (deve ser utilizado o peso seco para o cálculo). Além disso, a perda ponderal
apresentada caracteriza o quadro de caquexia cardíaca.
A terapia nutricional constitui um dos pilares para a prevenção e tratamento da caquexia
cardíaca, que objetiva manter, sem edema, o peso corporal dentro da faixa de peso ideal ou, de
acordo com alguns autores, pouco abaixo do peso ideal.
Nesse objetivo, estão incluídas a recuperação das reservas de energia, como o tecido gorduroso
e, o que é mais difícil de ser obtido, a recuperação da massa magra e da massa óssea.
Os objetivos no tratamento da IC seriam:
• Preservar a composição corporal e/ou limitar os efeitos do catabolismo. • Contemplar as
necessidades nutricionais. • Evitar a sobrecarga de fluídos e controlar o edema. • Identificar o
quadro de caquexia cardíaca e adequar a terapia nutricional. • Contribuir na manutenção do
estado funcional. • Auxiliar na diminuição do uso de fármacos. • Colaborar na redução das
descompensações e das internações. • Ajudar para a melhora da qualidade de vida.
Estudo de caso - respostas
• B) A restrição de sal é a base para a terapia nutricional na IC. O paciente está com dificuldade de
aceitar a restrição severa atual (sem sal adicional) e isso está piorando a anorexia. Como regra,
utiliza-se de 2 a 3 g de sódio ao dia, principalmente nos estágios mais avançados da doença e na
ausência de hiponatremia ou na dificuldade para alimentação com baixo teor de sódio. Este valor
poderia ser utilizado, então, já favorecendo a aceitação alimentar.
• Os líquidos também devem ser controlados, pois o paciente está sintomático (1.000 a 1.500
ml/dia). A consistência também deve ser alterada para branda ou pastosa, pois o paciente está
dispneico e se cansando muito para mastigar. Oferecer refeições menos volumosas e mais
frequentes também facilita a aceitação.
• Quanto ao VET, oferecer 32 kcal/kg peso (pac está com depleção nutricional = 2.048 kcal), com 15 a
20% do total de proteínas, 50 a 55% de carboidratos e 30 a 35% de lipídios. O paciente relata que
não está mais aceitando suplementos industrializados. Neste caso, seria oportuno utilizar o próprio
alimento como suplemento (combinar com o paciente os horários nos quais as preparações
suplementadas serão oferecidas).
Estudos de caso
Vamos pensar... (HAS)
• Felipe tem 51 anos, é administrador de empresas e procurou atendimento nutricional por
indicação de seu cardiologista, pois tem diagnóstico de HAS (há 2 meses).
• Você, nutricionista, recebeu Felipe em seu consultório e lê atentamente seu histórico e
observa as informações preciosas que contém nele

• Considere o caso de Felipe:


A) A partir dos dados fornecidos, feche o diagnóstico nutricional e os objetivos do cuidado
nutricional
B) Todas as medidas antropométricas necessárias para o acompanhamento deste paciente foram
realizadas? Justifique
C) Qual sua avaliação quanto ao padrão alimentar de Felipe? Que orientações você daria a ele?
Estudo de caso – HAS respostas
• A) Felipe apresenta IMC de 27,11 kg/m2, que indica sobrepeso. A redução ponderal é
indicada, pois mesmo que seja em valores reduzidos, auxilia consideravelmente no controle
dos níveis pressóricos (redução) e na redução do risco cardiovascular.
• B) Não. A circunferência abdominal deveria ser aferida. Trata-se de uma medida simples,
mas que possui grande representatividade, uma vez que pode indicar a presença de
Síndrome Metabólica e maior risco cardiovascular. A HAS, por si só, já é um fator de risco
para o surgimento de doenças e eventos cardiovasculares.
• Além disso, Felipe está com sobrepeso, é hipertenso e apresenta HDL-colesterol baixo. A
circunferência abdominal acima dos valores preconizados, juntamente com os demais
critérios apresentados, fecharia de diagnóstico de SM.
Estudo de caso – HAS respostas
• C) O padrão alimentar de Felipe apresenta consumo elevado de sódio (embutidos, produtos processados, refeições
fora de casa, refrigerante diet) e de gordura, com baixo consumo de verduras, legumes, frutas e água, além de
excesso de café preto. Tal comportamento apresenta sim risco para o paciente, que já tem diagnóstico de HAS.
• Além disso, ele tem sobrepeso e HDL-colesterol baixo e, nestes casos, o excesso de gordura também deve ser
combatido. Além disso, Felipe realiza apenas três refeições ao dia propiciando o excesso alimentar nas refeições
(por ficar períodos longos sem se alimentar).
• As orientações seriam compostas por: reduzir o consumo de sal de todas as formas possíveis (produtos embutidos
e alimentos processados; procurar realizar pela menos 1 refeição em casa; não adicionar sal às preparações
prontas; utilizar ervas aromáticas e especiarias). Incluir de 3 a 5 porções ao dia de legumes e verduras e de 2 a 4
porções de frutas. A oferta de fibras, desta forma, seria aumentada e contribuiria, também, para aumentar a
saciedade e controle do peso corporal. Reduzir o consumo de café preto a, no máximo, duas xícaras/dia.
• Utilizar leite semidesnatado ou desnatado (2x/dia). Também seria adequado realizar de 4 a 6 refeições ao dia,
procurando manter horários regulares e reduzir consideravelmente o consumo de bebidas alcoólicas. Finalmente,
mesmo não sendo uma recomendação nutricional, Felipe deve ser estimulado a praticar atividade física
regularmente (com a orientação de um profissional capacitado para tal), bem como a utilizar os medicamentos
conforme prescrição médica (diariamente).

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