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Material Teórico
Psicologia da Educação e Formação de Professores
Revisão Textual:
Prof. Ms. Natalia Conti
Psicologia da Educação e
Formação de Professores
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Discutir as principais contribuições da Psicologia da Educação para a
formação docente. Abordar a temática da construção da Identidade
pedagógica do professor do ponto de vista individual e coletivo.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.
No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE Psicologia da Educação e Formação de Professores
Contextualização
Nesta unidade nós iremos discutir em maior profundidade as contribuições da
Psicologia da Educação para a formação dos professores. Desse modo, um foco de
especial interesse é a construção da identidade profissional do professor que deve
ser entendida tanto em seus aspectos individuais quanto coletivos.
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primária passou a ser responsabilidade das províncias, e com isso a formação dos
professores que vinha sendo seguida nos países europeus passou a ser realizada no
Brasil com a criação das Escolas Normais.
Esse quadro será revisto a partir de 1945, com o fim do regime político do
Estado Novo, período que foi caracterizado pela centralização do poder, pelo
nacionalismo exacerbado, pelo anticomunismo e pelo autoritarismo. De acordo
com Decreto-Lei 8530, de 02/01/1946, o Ensino Normal tinha por finalidade
duas frentes: à primeira cabia prover a formação do pessoal docente necessário
às escolas primárias; e habilitar administradores escolares destinados às mesmas
escolas; à segunda, desenvolver e propagar os conhecimentos e técnicas relativos
à educação da infância.
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“romantizada”, havia certo status social em ser professor que significaria respeito
e ascensão social. Assim, a classe pobre e feminina brasileira - tornando-se profes-
sora - encontraria na profissionalização uma saída, uma mudança para uma classe
economicamente mais estável. Leia um trecho da música gravada por Nelson Gon-
çalves em 1949 e perceba o universo romântico em que está inserida a Normalista,
ou seja, as professoras.
Figura 1
Fonte: iStock/Getty Images
Normalista
No rostinho encantador
Rapidamente conquista
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Tabela 1 – Analfabetismo na faixa de 15 anos ou mais – Brasil 1900/2000
População de 15 anos ou mais
Ano
Total(1) Analfabeta(1) Taxa de Analfabetismo
1900 9.728 6.348 65,3
1920 17.564 11.409 65,0
1940 23.648 13.269 56,1
1950 30.188 15.272 50,6
1960 40.233 15.964 39,7
1970 53.633 18.100 33,7
1980 74.600 19.356 25,9
1991 94.891 18.682 19,7
2000 119.533 16.295 13,6
Fonte: IBGE, Censo Demográfico
Nota: (1) Em milhares
Figura 2
Fonte: Acervo do Conteudista
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O curso Normal Superior era uma graduação e foi criado no Brasil para
substituir o curso técnico de magistério, desenvolvido no segundo grau e atualmente
nomeado de Normal Médio. Apesar da semelhança à Pedagogia, tal curso não
habilitava para a gestão escolar, orientação educacional ou supervisão escolar, sua
habilitação se referia à licenciatura em Educação Infantil e ao magistério do Ensino
Fundamental I. Com a sua extinção, os professores ficaram sendo obrigados a
cursar Pedagogia para o trabalho com turmas de educação infantil e séries iniciais
do Ensino Fundamental.
O Professor em Construção:
Descobrindo Identidades
Ensinar sempre causou curiosidade entre os educadores/professores. Parecer
haver uma espécie de mistério quanto ao fato de levar/orientar para que alguém
possa apreender conhecimentos e saberes relacionados à sobrevivência tanto física,
quanto mental e social.
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O fantástico parece estar na situação de poder assumir uma postura de poder
sobre o outro, conduzindo-o para o que nos parece correto e lógico. É transformar
e mudar o percurso de vida de sujeitos postos em nossas mãos (pensem em
educadores como um todo, incluindo pais).
Certo de que a educação não nos serve como panaceia, porém é um dos grandes
movimentos da humanidade para formar o ser que seja compatível com o tempo e
espaço vivido e para planejar elementos do futuro.
Sendo assim, nada mais justo que pensarmos em um lugar para educar e formar
pessoas coerentes para o ensinar nesse lugar. Esse lugar foi escolhido culturalmente
e é a Escola, sendo que o ensino ficou a cargo dos professores.
“poderoso”, é uma liderança na formação de pessoas para o mundo? Será que reconhecemos
e valorizamos a importância dos professores nas sociedades? Será que os professores são
cientes da importância de suas ações e da necessidade de que estejam cientes de que suas
ações podem tanto formar pessoas que pensem por si mesmas como pessoas alienadas?
Abramovich (1994) no livro “Que raio de professora sou eu?” conta a história
de Laura, uma professora de História de 33 anos que escreve um diário falando
sobre seu trabalho como professora e sua vida pessoal. Dessa forma, ela apresenta
em pequenos relatos o quanto o professor inconsciente do poder de sua ação
pode fazer “coisas” no ato de ensinar que “levem” o aluno a organizar-se como
pessoa (personalidade) para seu aperfeiçoamento ou total destruição. Ela enfatiza
que ensinar parece ser um ato confuso em que não se tem clareza em se “passar”
certezas pessoais ou arriscar para que os alunos encontrem as suas verdades.
Formar cabeças feitas ou abrir cabeças pro que der e vier? Pas-
sar minhas certezas ou arriscar que os alunos escorreguem, caiam
e achem a sua resposta, o seu caminho? Talvez, até oposto ao meu.
[...] Complicado tudo isso. É onde mais me debato. Cada mergulho e
cada volta à tona pra respirar me trazem novas perguntas. Novas dúvidas.
Novas incertezas. (ABRAMOVICH, 1994, p. 84)
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Enfatiza Abramovich:
Chega deste vai levando... Chega de botar a culpa nos outros e lavar as
minhas mãos. Está na hora de crescer. Crescer como professora. Como
pessoa. Como pessoa-professora. Assumir as minhas responsabilidades
nisto tudo que está ai. Parar de me achar uma vítima.
Sou vítima sou carrasco. Sou decapitada e decapito. Sou mandada e man-
do. Ensino e sou ensinada. Aprendo com os meus alunos e desaprendo
com outros professores. Sou cutucada por alguns professores e desani-
mada por um montão de alunos. Tudo acontecendo junto. Ao mesmo
tempo. Tenho que parar de me lamentar. Tomar uma atitude. Depende
de mim. A escolha é minha. Só minha. (ocit. p. 90).
Pelo que foi exposto até o momento, é possível afirmar que o ato educativo
não é tarefa fácil. É, pois, um trabalho árduo que exige do profissional reflexão
constante para tomada de decisões e organização de atos gestores do que se
pretende enquanto ação deliberada sobre outros. Na proposição de Paulo Freire
(1979; 1985; 1998), é decidir “politicamente” entre o libertar (emancipar) ou
escravizar pessoas pelo ato educativo na ação profissional do professor. A escolha
é do próprio sujeito que se colocou à disposição de “ser professor”.
A Psicologia nos mostra que cada pessoa é única – indivisível – porém, convive
em grupo adaptando o que é individual ao que é coletivo (interação constante en-
tre o sujeito e o objeto). Resultado: nós como somos! Nem bom, nem mau! Nem
certo, nem errado! Porém, necessários ao que temos de enfrentar no mundo por
nós mesmos.
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No contexto homem-mundo (sujeito-objeto), conhecer como ambos se relacio-
nam tem como objetivo fazer deles o melhor qualitativamente para mútuo aper-
feiçoamento. Propor evolução, mudanças significativas e pertinentes ao tempo e
espaço em que se encontram o homem e o seu mundo.
Não se trata de terapia, mas de fornecer elementos para que o futuro profissional
encontre a sua identidade profissional e se assuma como corresponsável dos
resultados da ação educativa no mundo. Trata-se de contribuir para construção da
nossa identidade pedagógica.
Trocando ideias...Importante!
Tendo como base o clássico livro de Glória Pimentel (1996), cujo título é “O professor
em construção”, vamos refletindo; pensando em como nos tornamos professores. Mais
especificamente, o que é ser professor. Ser não é o mesmo que estar... Óbvio? Não
tanto como pensamos. Ser é assumir posições e atitudes que nos identificam perante o
mundo e, mais especialmente, a nós mesmos. É possuir um referencial que nos permita
a consciência do real em tudo que nos cerca e nos dá a condição de saber do nosso existir.
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Identidade Docente: Alguns
Elementos Construtivos
Diversas pesquisas buscam compreender como a identidade se organiza e,
principalmente, nos tempos atuais, compreender a construção da identidade
profissional. Em nosso caso estamos tratando mais especificamente da construção
da identidade docente, ou seja, como as pessoas se tornam professores? O que é
ser um professor?
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também do contexto em que estamos inseridos. Assim, cabe dizer também que
nos últimos anos tanto a profissão de professor quanto a escola têm passado por
questionamentos e modificações que implicam em mudanças no que é ser docente.
A dificuldade que a escola enfrenta na resposta às mudanças sociais que se
registram tem conduzido ao que alguns autores designam por “crise da escola”,
inserida naturalmente numa crise mais global que atinge outras estruturas com res-
ponsabilidades educativas. As profundas alterações na sociedade atual têm provo-
cado efeitos profundos nas políticas de educação e a criar para o trabalho docente
contextos novos de grande complexidade, com implicação na (des)motivação dos
professores, nomeadamente, no que diz respeito ao seu desempenho profissional.
O ensino é agora a chave para novas formas de aprendizagem, para o incremento
de indicadores e níveis de sucesso educativo, para o aumento da receptividade por
parte dos alunos, para os novos e flexíveis procedimentos de trabalho, para outra
atenção aos problemas de formação e do desenvolvimento profissionais. Com
esta mudança do sentido da educação escolar, estão necessariamente a emergir
novas identidades do professor, relacionadas com seus papéis e a identificação do
trabalho na escola. (ADÃO; MARTINS, 2004, p. 9-10).
Percebemos que, além da grande dificuldade de se construir uma identidade
própria, a identidade enquanto profissional – e da educação – o ser professor tem
uma ligação estreita com a consciência do mundo e suas transformações, que
exigem tomadas de decisões e ações rápidas, seguras, lógicas e que promovam o
bem-estar próprio e dos outros.
Georges Gudsdorf, em seu clássico livro de 1987, “Professores para quê?”
questiona qual o real papel de um professor na relação com seus alunos e com a
sociedade; e o quê fazer para superar ser um mero repetidor ou um “ignorantista”?
O que fazer para que o professor não seja substituído por um livro, pelo rádio ou
pela TV e outros meios de comunicação – hoje: a internet?”
O que afinal é SER professor? Quando? Como? Para quê?
Paulo Freire (1979; 1985; 1998), em diversos momentos estabelece que, ser
professor tem a ver com o compromisso que se assume em contribuir amoro-
samente para conscientizar pessoas e fazê-las emancipadas, no sentido lato da
democracia. Ser educador-professor é libertar pessoas pela via da proposição de
conteúdos reais e diálogos animadores para o debate sobre a vida e como torná-la
significativa e qualitativa. Propondo a superação de pensamentos fantasiosos e as
falsas crenças que limitam e alimentam ideologias da escravidão.
Paixão Netto (2001) lembra-nos que professor é uma palavra que vem do latim
e significa aquele que fala (fateor) aberta e francamente diante de um público (pro)
aquilo que pensa, acredita e defende como a própria condição de ser. Defende ele:
Um professor é sobretudo um indivíduo íntegro, autêntico, confiável. Um
ponto de referência para seus discípulos. É o que fala com convicção, sem
rodeios. Professor não é ventríloquo nem porta-voz ou porta-mentira.
Não é aquele que “dá a matéria”. É aquele que incentiva a pensar. (p.19)
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Ser professor, então, exige esforços ligados ao propósito de mostrar-se, colocar-
se, de assumir posições perante si e ao mundo. Obriga a “agir na urgência e
decidir na incerteza” (PERRENOUD, 2001). Portanto, a consciência se faz como
condição ideária em uma performance de consciência absoluta do ser – identidade;
em contrário não há afirmação de posições e tampouco convicções do pensar e do
fazer – morre-se como pessoa e como profissional.
Assim priorizamos:
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Temos ao longo de nossa vida uma gama enorme de experiências com supostos
professores (mãe, tia, irmão, vizinhos) e com os efetivamente ditos ao longo de
nossa escolarização. Todos com algum tipo de exemplo que influencia a maneira
de significa o que seja educar e ensinar.
Nóvoa, Hubermam e Tardif são teóricos que defendem e acreditam que discutir a
identidade profissional dos professores e suas identidades pedagógicas representam
um grande avanço no sentido de superar escolas e professores ativistas que fingem
que possuem ações efetivas, no entanto não assumem qualquer posição no cenário
educativo, deixando que tudo aconteça como obra do acaso.
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Explor
Imaginem um profissional sem identidade. O médico que não sabe o que é, um engenheiro
nas mesmas condições, dentistas, controladores de máquinas etc. Iríamos nos sentir seguros
nas “mãos” desses sujeitos?
E quanto ao professor? Teríamos sentimentos de amparo diante de alguém que não sabe o
que é? O que será que ocorreria em sala de aula e nas escolas?
Achou pesado? Temeroso? Pois é o quê temos ultimamente nos domínios da educação e em
todos os níveis. Precisamos então refletir sobre o que é ser professor desde a formação de
professores e mesmo depois.
Hoje, temos de ser modestos e pensar que nem as esperanças devem ser
supervalorizadas nem o fracasso ou crise generalizados. Onde está o ponto até
onde pode chegar a imaginação de esperanças e a partir do qual as aspirações
levam à frustração? Nunca sabemos com certeza. Portanto, é preciso se arriscar
a incrementar o nível de aspirações para aproveitar as possibilidades que possam
aparecer. Se a política é a arte do possível, a educação e as suas reformas também
o são (SACRISTÁN, 2007. p. 156).
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Somos e nos reconhecem como tal pela maneira de nos apresentarmos frente
ao mundo e aos outros, autêntica, convicta e integramente.
Para ser respeitado, é preciso se fazer respeitar; para enfrentar situações novas
é preciso primeiro conhecê-las; para atrair cultura é preciso ser atraente comuni-
cando-a; para ser apreciado como alguém valioso deve-se mostrar a utilidade do
serviço que presta. Tudo isso exige professores motivados por seu ofício, bom co-
nhecedor do mundo em que vivemos, dos jovens, seguros de si mesmo, que saibam
converter em cultura viva os conteúdos e em procedimentos racionais os métodos
de ensino e as exigências dos estudantes. Ou seja, são necessários professores
cultos, bem formados, com vocação e equilibrados. (SACRISTÁN, 2007. p. 171).
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O Compromisso Social Consigo
e com Outros Agentes
A escola e os professores não estão isolados no processo de educar; outros
agentes são necessários para que o trabalho, de formação dos sujeitos seja levado
a efeito.
Escola, família e comunidade, nas ações do professor como função própria e so-
lidária para compor o compromisso de fazer para mais e qualitativamente; respon-
sabilidade assumida como condição pessoal e de firmação de posição de identidade.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Que Raio de Professora Sou Eu?
ABRAMOVICH, F. Que raio de professora sou eu? São Paulo: Scipione, 1994.
A Alegria de Ensinar
ALVES, R. A alegria de ensinar. São Paulo: Editora Papirus, 2003.
A Estória do Severino e a História da Severina
CIAMPA, A. C. A estória do Severino e a história da Severina. São Paulo: Brasi-
liense, 1987.
Filmes
Ao Mestre com Carinho
(To Sir with Love). Direção: James Clavell, 1967.
Sociedade dos Poetas Mortos
(Dead Poets Society). Direção: Peter Weir, 1989.
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Referências
ABREU, C. B. M.; LANDINI, S. R. Proletarização e profissionalização: ques-
tões sobre a identidade docente. In: ADÃO, A. e MARTINS E. (org.) Os professo-
res: identidades (re)construídas. Portugal, Lisboa: Universitárias Lusófonas, 2004,
p. 345-353.
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