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Despacho

Imobiliário e
Autoral

Prof. João Paulo Jamnik Anderson

Indaial – 2023
1a Edição
Elaboração:
Prof. João Paulo Jamnik Anderson

Copyright © UNIASSELVI 2023

Revisão, Diagramação e Produção:


Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI.


Núcleo de Educação a Distância. ANDERSON, João Paulo Jamnik.

Despacho Imobiliário Autoral. João Paulo Jamnik Anderson. Indaial - SC:


Arqué, 2023.

220p.

ISBN 978-65-5646-575-3
ISBN Digital 978-65-5646-576-0

“Graduação - EaD”.
1. Despacho 2. Imobiliario 3. Autoral

CDD 333
Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679

Impresso por:
APRESENTAÇÃO
Olá, acadêmico! Bem-vindo ao livro da disciplina Despacho Imobiliário e Autoral.
O objetivo deste livro é auxiliá-lo no desenvolvimento da aprendizagem durante todo
o percurso de conhecimento e de aprendizagem da disciplina. Esperamos que, mais
do que um livro didático, seja um roteiro agradável de viagem. Principalmente, que o
incentive a se aprofundar nos assuntos aqui abordados, sempre buscando sua própria
rota de conhecimento. Nosso desejo é ajudá-lo a caminhar pelos diversos assuntos
que se relacionam com a disciplina, até que você possa, sozinho, encontrar outros
conhecimentos e informações complementares ao que aqui está escrito e discutido.

As certidões, os registros, os atestados, os laudos, enfim, o Direito e o Estado,


tudo isso tem uma razão de existir, e de ter adquirido a forma como conhecemos hoje. Por
isso, no início do primeiro tema de aprendizagem da Unidade 1 – Da Pré-modernidade ao
Estado Brasileiro Moderno – abordamos, de maneira breve, como se deu o nascimento
do Estado Moderno em que estamos inseridos, bem como os princípios deste Estado
Moderno que se encontram dispostos na Constituição Federal de 1988.

Também estudaremos, neste tema de aprendizagem, dois princípios antagônicos


do Estado Moderno, como um todo; e do Estado brasileiro, especificamente: a) por um
lado a necessidade e a quase absoluta transparência; e b) por outro, a privacidade como
sinônimo de sujeitos e indivíduos. Isso pode ser feito a partir da análise da Lei de Acesso
à Informação – também chamada de LAI (Lei n° 12.527/2011) –, da Lei Geral de Proteção
de Dados – também chamada de LGPD (Lei n° 13.709/2018) –, entre outras.

Sim, é verdade que muitas vezes, para falarmos de certidões, documentos e


registros, teremos que nos debruçar sobre o que dizem as leis e sobre a organização
do Estado. Contudo, não se preocupe, pois faremos isso de uma maneira leve. Como já
dissemos, a intenção é que o livro seja seu companheiro de caminhada no conhecimento
sobre documentos e publicidade dos atos imobiliários e autorais.

Já nos outros dois temas de aprendizagem teremos que nos atentar


especificamente ao estudo das certidões. Serão discutidos, também, os conceitos de
pessoa física e pessoa jurídica, buscando quais características que assemelham e que
diferenciam estes dois tipos de pessoas para o Direito Civil. Será preciso compreender
como se constitui (como nasce) uma pessoa jurídica e como é feito o registro de uma
pessoa jurídica.

Terminaremos essa primeira unidade sabendo o que são os registros e as


certidões; porque são necessários; quais são as formas de se registrar uma coisa; e
como fazer para registrar uma pessoa jurídica e uma pessoa física. Se finalizarmos essa
primeira unidade sabendo isso, teremos cumprido o nosso objetivo!
Identificadas as pessoas e as formas de registrá-las – bem como a necessidade
de se fazer isso – na segunda unidade será a hora de abordarmos os direitos dessas
pessoas em suas relações com as coisas. Esses direitos recebem o nome de direitos
reais – de res, do latim, que significa coisa. Isto é, identificaremos e diferenciaremos o
que é posse, propriedade, uso e outros tipos de relações entre as pessoas e as coisas.

Feita essa primeira distinção, será a hora de estudar os tipos de relações que
essas pessoas – jurídicas e físicas – fazem em sociedade, quando trocam direitos.
Melhor dizendo, as pessoas estão sempre trocando coisas (res), transferindo entre si
informações, se comunicando, alienando e trocando direitos.

Com os direitos reais, ou seja, o direito das pessoas sobre as coisas, não
é diferente. Essas formas de transferências na maioria das vezes precisam ser
documentadas, certificadas e registradas para que sejam protegidas, para que tenham
eficácia jurídica. Sem o registro das transferências de direitos, sejam os direitos reais ou
não, não seria possível a existência do Direito como reconhecemos. Daí a importância
do Estado para a proteção dos direitos reais. Assim, o tema da segunda unidade é
justamente essa troca de direitos e, mais especificamente, a troca dos direitos reais.

Outro tema que será estudado na segunda unidade são as garantias que
circundam as transferências de direitos sobre as coisas. Além da alienação fiduciária,
serão abordadas outras formas de garantias e seus registros.

Ao finalizar esta unidade, será possível diferenciar os direitos que as pessoas


podem exercer sobre as coisas – e como eles são registrados – e os tipos de trocas
desses direitos, como eles devem ser registrados e certificados, bem como saber sobre
as formas de garantias dessas trocas. Da mesma maneira, será possível identificar a
usucapião e seus tipos.

Já a terceira unidade de estudo deste livro é dedicada exclusivamente para os


direitos reais sobre coisas imateriais. Isto é, direitos sobre coisas que não são palpáveis,
que não se consegue tocar. Diferente dos diretos sobre coisas materiais – como o
direito sobre uma bicicleta, um terreno ou uma casa –, as coisas imateriais não podem
ser tocadas, embora existam como figuras dentro do direito.

Os direitos imateriais são de dois tipos: a) os diretos de personalidade, por um


lado; e, por outro lado, b) os direitos de autor e de propriedade industrial. É sobre estes
últimos que debateremos mais especificamente na terceira unidade do livro. A ideia
da unidade é saber como funcionam os direitos de autor e de propriedade intelectual,
diferenciá-los e também descobrir como eles são registrados e certificados.

Bons estudos!

Prof. João Paulo Jamnik Anderson


GIO
Olá, eu sou a Gio!

No livro didático, você encontrará blocos com informações


adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento
acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender
melhor o que são essas informações adicionais e por que você
poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações
durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais
e outras fontes de conhecimento que complementam o
assunto estudado em questão.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos


os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina.
A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um
novo visual – com um formato mais prático, que cabe na
bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada
também digital, em que você pode acompanhar os recursos
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deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura
interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no
texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que
também contribui para diminuir a extração de árvores para
produção de folhas de papel, por exemplo.

Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente,


apresentamos também este livro no formato digital. Portanto,
acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com
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Preparamos também um novo layout. Diante disso, você


verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses
ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos
nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos,
para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os
seus estudos com um material atualizado e de qualidade.

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Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma
disciplina e com ela um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conheci-


mento, construímos, além do livro que está em
suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem,
por meio dela você terá contato com o vídeo
da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa-
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auxiliar seu crescimento.

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Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


SUMÁRIO
UNIDADE 1 - ESTADO MODERNO E TRANSPARÊNCIA: PARA QUE SERVEM AS
CERTIDÕES............................................................................................................................. 1

TÓPICO 1 - DA PRÉ-MODERNIDADE AO ESTADO BRASILEIRO MODERNO.........................3


1 INTRODUÇÃO........................................................................................................................3
2 NASCIMENTO DO ESTADO MODERNO................................................................................4
3 PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS NO BRASIL.....................................................................8
4 BUROCRACIA E FORMALIDADE.........................................................................................11
5 TRANSPARÊNCIA E PRIVACIDADE................................................................................... 13
RESUMO DO TÓPICO 1.......................................................................................................... 19
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................. 20

TÓPICO 2 - CERTIDÕES....................................................................................................... 23
1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 23
2 PUBLICIDADE JURÍDICA.................................................................................................. 24
2.1 ELEMENTOS DA PUBLICIDADE JURÍDICA.....................................................................................24
2.1.1 Fato jurídico: o que se quer comunicar..................................................................................24
2.1.2 Emissário e destinatário da publicidade jurídica: Estado e administrados..................25
2.1.3 A mídia na qual ocorre a publicidade jurídica......................................................................26
2.2 COGNOSCIBILIDADE...........................................................................................................................26
2.3 MODALIDADES DE PUBLICIDADE JURÍDICA: NOTIFICAÇÃO, PUBLICAÇÃO E REGISTRO.27
2.4 PRESSUPOSTOS DA PUBLICIDADE JURÍDICA: VERACIDADE E PUBLICIDADE FORMAL.28
2.5 MEIOS DE COMUNICAÇÃO JURÍDICA.............................................................................................29
3 REGISTROS OFICIAIS E CERTIDÕES: CONCEITOS.......................................................... 31
3.1 REGISTROS PÚBLICOS.........................................................................................................................31
3.2 OFICIAL E TABELIÃO...........................................................................................................................32
3.2.1 Competência dos notários ou tabeliães...............................................................................33
3.2.2 Competência dos oficiais de registro....................................................................................33
3.3 CERTIDÃO..............................................................................................................................................34
3.3.1 Formalidade da certidão...........................................................................................................35
3.3.2 Tipos de certidão.......................................................................................................................36
3.3.3 Sistema Eletrônico de Registros Públicos – SERP............................................................ 37
3.3.4 Prazos para a emissão de uma certidão .............................................................................39
RESUMO DO TÓPICO 2.......................................................................................................... 41
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................. 42

TÓPICO 3 - PESSOAS E DOCUMENTOS.............................................................................. 45


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 45
2 PESSOAS, SUJEITOS, CIDADÃOS................................................................................... 46
2.1 PESSOA NATURAL................................................................................................................................46
2.2 SUJEITO DE DIREITO..........................................................................................................................46
2.2.1 Capacidade jurídica.................................................................................................................... 47
2.3 CIDADÃO................................................................................................................................................ 47
2.4 PESSOA FÍSICA E PESSOA JURÍDICA............................................................................................ 48
3 REGISTROS DE PESSOAS NATURAIS.............................................................................. 49
3.1 REGISTROS CIVIS DAS PESSOAS NATURAIS E DOS FATOS JURÍDICOS................................49
3.1.1 Formalidade do registro civil de pessoas naturais..............................................................51
3.2 OUTROS DOCUMENTOS E REGISTROS DAS PESSOAS NATURAIS..........................................51
3.2.1 Carteira de Identidade e o Sistema Nacional de Registro de Identificação Civil.......52
3.2.2 Carteira do cadastro nacional de pessoas físicas – CPF................................................53
3.2.3 Carteira de identidade profissional.......................................................................................54
4 “PESSOAS” JURÍDICAS................................................................................................... 54
4.1 O NASCIMENTO DA PESSOA JURÍDICA..........................................................................................56
4.2 TIPOS DE PESSOAS JURÍDICAS...................................................................................................... 57
4.2.1 Pessoas jurídicas de direito público interno.......................................................................58
4.2.2 Pessoas jurídicas de direito público externo.....................................................................59
4.2.3 Pessoas jurídicas de direito privado....................................................................................59
4.2.4 Tipos de sociedades........................................................................................................................60
4.3 REGISTROS E AUTORIZAÇÕES DAS PESSOAS JURÍDICAS......................................................62
4.3.1 Autorização ou aprovação da pessoa jurídica em geral..................................................62
4.3.2 Registro da pessoa jurídica em geral...................................................................................62
4.3.3 Registro das associações.......................................................................................................64
4.3.4 Registro das fundações..........................................................................................................65
4.3.5 Registro dos partidos políticos..............................................................................................65
4.3.6 Registro das organizações religiosas..................................................................................66
4.3.7 Registro das sociedades simples e empresárias..............................................................66
4.3.8 Registro da sociedade anônima...........................................................................................68
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................. 69
RESUMO DO TÓPICO 3..........................................................................................................72
AUTOATIVIDADE...................................................................................................................73

REFERÊNCIAS.......................................................................................................................75

UNIDADE 2 - DIREITO DAS COISAS, DOCUMENTOS E GARANTIAS.................................. 81

TÓPICO 1 — POSSE, PROPRIEDADE, USO E OUTROS DIREITOS REAIS............................ 83


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 83
2 COMEÇANDO A CARACTERIZAR OS DIREITOS REAIS................................................... 84
2.1 SUJEITO PASSIVO UNIVERSAL........................................................................................................ 84
2.2 A PUBLICIDADE DO DIREITO REAL OBRIGA GERAL....................................................................85
3 POSSE E DETENÇÃO......................................................................................................... 86
3.1 ETIMOLOGIA.......................................................................................................................................... 88
3.2 CONCEITO JURÍDICO......................................................................................................................... 88
3.3 DETENÇÃO........................................................................................................................................... 88
3.4 CLASSIFICAÇÕES DA POSSE...........................................................................................................89
3.5 QUANDO NASCE A POSSE................................................................................................................ 91
4 PROPRIEDADE.................................................................................................................. 93
4.1 A PLENITUDE DA PROPRIEDADE.....................................................................................................93
4.1.2 Desapropriação, requisição e expropriação........................................................................ 97
4.1.3 Parcelamento da coisa: lote, desmembramento...............................................................98
4.1.4 Copropriedade: condomínio, condomínio edilício e multipropriedade.......................100
4.2 AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE.......................................................................................................102
4.3 O REGISTRO DA PROPRIEDADE DE COISA IMÓVEL..................................................................103
4.4 PERDA DA PROPRIEDADE...............................................................................................................104
5 DIREITOS REAIS SOBRE A COISA ALHEIA.....................................................................105
5.1 DIREITO DE SUPERFÍCIE...................................................................................................................105
5.2 DIREITO DE USUFRUTO...................................................................................................................105
5.3 DIREITO DE USO E DIREITO DE HABITAÇÃO...............................................................................106
6 SERVIDÃO........................................................................................................................106
7 DIREITO DE PROMITENTE COMPRADOR........................................................................106
8 DIREITO REAL DE LAJE...................................................................................................107
9 CONCESSÕES ADMINISTRATIVAS DE USO DE BEM PÚBLICO.....................................108
9.1 CONCESSÃO DE USO ESPECIAL PARA FINS DE MORADIA......................................................108
9.2 CONCESSÃO DE DIREITO REAL DE USO......................................................................................109
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................ 110
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................111
TÓPICO 2 - TROCANDO E ADQUIRINDO DIREITOS REAIS................................................ 113
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 113
2 NEGÓCIOS JURÍDICOS.................................................................................................... 114
2.1 VALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO.................................................................................................116
2.2 CLASSIFICAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS............................................................................. 117
2.2.1 Quanto ao número de declarantes de vontade................................................................ 117
2.2.2 Negócios jurídicos gratuitos e onerosos............................................................................118
2.3 ELEMENTOS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS....................................................................................118
3 CONTRATOS..................................................................................................................... 119
3.1 CARACTERÍSTICAS DOS CONTRATOS............................................................................................119
3.2 FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO................................................................................................... 122
3.3 FORMAÇÃO DOS CONTRATOS........................................................................................................ 123
4 CONTRATOS QUE ENVOLVEM A PROPRIEDADE............................................................124
4.1 COMPRA E VENDA.............................................................................................................................. 124
4.1.1 Venda da coisa alheia.............................................................................................................. 125
4.1.2 Elementos acidentais em um contrato de compra e venda......................................... 126
4.2 PERMUTA OU TROCA........................................................................................................................128
4.2.1 Quando é um contrato de compra e venda ou uma permuta......................................128
4.3 CONTRATO INOMINADO DE TROCA DE PROPRIEDADE POR SERVIÇOS............................. 129
4.4 CONTRATO ESTIMATÓRIO (CONSIGNAÇÃO)................................................................................ 129
4.5 DOAÇÃO............................................................................................................................................... 129
4.5.1 Doação com ou sem encargo...............................................................................................130
4.5.2 Declaração de vontade de doar e de receber..................................................................130
4.5.3 Formalidade..............................................................................................................................130
5 CONTRATOS QUE ENVOLVEM OUTROS DIREITOS REAIS.............................................130
5.1 CONTRATO DE LOCAÇÃO DE COISAS............................................................................................130
5.2 EMPRÉSTIMO...................................................................................................................................... 132
6 USUCAPIÃO......................................................................................................................132
6.1 USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA DE COISA IMÓVEL.................................................................... 133
6.2 USUCAPIÃO ORDINÁRIA DE COISA IMÓVEL............................................................................... 133
6.3 USUCAPIÃO ESPECIAL.................................................................................................................... 133
6.4 USUCAPIÃO DE COISA MÓVEL....................................................................................................... 135
6.5 PUBLICIDADE DA PROPRIEDADE ADQUIRIDA POR USUCAPIÃO.......................................... 135
6.5.1 Usucapião Judicial ................................................................................................................. 136
6.5.2 Usucapião Extrajudicial ou Administrativa....................................................................... 136
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................ 137
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................138

TÓPICO 3 - GARANTIAS..................................................................................................... 141


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 141
2 GARANTIAS......................................................................................................................142
2.1 GARANTIAS PESSOAIS...................................................................................................................... 142
3 ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA.................................................................................................143
3.1 DIFERENÇAS ENTRE A ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA E A CLÁUSULA DE RESERVA DE
DOMÍNIO............................................................................................................................................... 143
3.2 PUBLICIDADE DA ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA................................................................................144
3.3 FORMALIDADE DO CONTRATO.......................................................................................................144
4 PENHOR, HIPOTECA E ANTICRESE............................................................................... 144
4.1 PENHOR................................................................................................................................................ 145
4.1.1 Publicidade jurídica do penhor.............................................................................................. 145
4.1.2 Penhor legal.............................................................................................................................. 145
4.2 HIPOTECA............................................................................................................................................146
4.2.1 Publicidade jurídica da hipoteca..........................................................................................146
4.2.2 Hipoteca legal..........................................................................................................................146
4.3 ANTICRESE......................................................................................................................................... 147
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................148
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................150
AUTOATIVIDADE................................................................................................................. 151

REFERÊNCIAS.....................................................................................................................153

UNIDADE 3 — DIREITOS REAIS IMATERIAIS..................................................................... 157

TÓPICO 1 — DIREITOS REAIS IMATERIAIS.........................................................................159


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................159
2 POR QUE DIREITOS IMATERIAIS?...................................................................................159
3 DIREITOS DE PERSONALIDADE......................................................................................160
3.1 SÃO DIREITOS DE PRIMEIRA GERAÇÃO.........................................................................................161
3.2 INATOS, VITALÍCIOS, INTRANSMISSÍVEIS.....................................................................................161
3.3 DIREITOS DA PERSONALIDADE EM ESPÉCIE............................................................................. 162
3.3.1 Direitos da Integridade Física............................................................................................... 162
3.3.2 Direito ao nome....................................................................................................................... 163
3.3.3 Direito à Honra.........................................................................................................................164
3.4 DIREITOS DA PERSONALIDADE DA PESSOA JURÍDICA..........................................................164
4 DIREITOS DA PROPRIEDADE INTELECTUAL.................................................................164
4.1 CRIAÇÕES DO ESPÍRITO HUMANO.................................................................................................164
5 DIREITOS AUTORAIS.......................................................................................................166
5.1 MEIOS.................................................................................................................................................... 166
5.2 QUEM É O AUTOR?.............................................................................................................................167
5.2.1 Coautoria.....................................................................................................................................167
5.2.2 Obras Coletivas........................................................................................................................168
5.2.3 Textos Publicados em Periódicos....................................................................................... 169
5.3 DIREITOS DO AUTOR......................................................................................................................... 169
5.3.1 Proteção patrimonial............................................................................................................... 169
5.3.2 Caducidade ou Decadência e Prescrição dos Direitos Autorais................................. 170
5.3.3 Proteção Moral......................................................................................................................... 170
5.4 O QUE NÃO É OBRA PROTEGIDA POR DIREITOS AUTORAIS.................................................... 171
6 DIREITOS DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL.....................................................................171
6.1 PATENTES............................................................................................................................................. 171
6.1.1 Modelo de Utilidade.................................................................................................................. 172
6.1.2 O Que Não é Invenção e Nem Modelo de Utilidade......................................................... 172
6.1.3 O Que Não Pode Ser Patenteável........................................................................................ 173
6.1.4 Quem é o Proprietário da Patente....................................................................................... 174
6.1.5 Os Direitos do Titular da Patente......................................................................................... 174
6.1.6 Caducidade da Patente.......................................................................................................... 175
6.2 MARCAS............................................................................................................................................... 175
6.2.1 O Que Não Pode Ser Registrado Como Marca...................................................................176
6.2.2 Quem é o Titular da Marca?...................................................................................................177
6.2.3 Direitos do Titular da Marca.................................................................................................. 178
6.2.4 Caducidade da Titularidade da Marca............................................................................... 178
6.3 DESENHOS INDUSTRIAIS................................................................................................................ 178
6.3.1 Decadência da Propriedade Intelectual............................................................................. 179
6.4 INDICAÇÕES GEOGRÁFICAS........................................................................................................... 179
6.4.1 Como se Reconhece uma Indicação Geográfica?........................................................... 179
7 DIREITOS DA PROPRIEDADE INTELECTUAL SUI GENERIS...........................................180
7.1 PROTEÇÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL DE PROGRAMAS DE COMPUTADORES......181
7.1.1 Peculiaridades da Lei Especial................................................................................................181
7.1.2 Caducidade do Direito.............................................................................................................182
7.2 TOPOGRAFIAS DE CIRCUITOS EM REDE......................................................................................182
7.2.1 Quem é o Titular?......................................................................................................................183
7.2.2 Caducidade...............................................................................................................................183
7.3 CULTIVARES........................................................................................................................................183
7.3.1 Caducidade do Direito.............................................................................................................184
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................185
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................186

TÓPICO 2 - DIREITOS IMATERIAIS E TRANSAÇÕES.........................................................189


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................189
2 TRANSAÇÃO DE DIREITOS DA PERSONALIDADE..........................................................189
2.1 DISPOSIÇÃO DA PRIVACIDADE E DA LIBERDADE......................................................................189
2.2 DISPOSIÇÃO DO PRÓPRIO CORPO................................................................................................190
2.3 DISPOSIÇÃO DO NOME.....................................................................................................................190
3 TRANSAÇÃO DE DIREITOS AUTORAIS...........................................................................190
3.1 O CONTRATO.........................................................................................................................................191
4 TRANSAÇÃO DE DIREITOS INDUSTRIAIS...................................................................... 191
4.1 TRANSFERÊNCIAS DE PATENTE.................................................................................................... 192
4.1.1 Licença Voluntária.................................................................................................................... 192
4.1.2 Licença Compulsória.............................................................................................................. 192
4.2 TRANSFERÊNCIAS DE DIREITOS INTELECTUAIS SOBRE DESENHO INDUSTRIAL............ 193
4.3 TRANSFERÊNCIA DE USO DA MARCA.......................................................................................... 193
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................195
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................196

TÓPICO 3 - PUBLICIDADE JURÍDICA DOS DIREITOS IMATERIAIS..................................199


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................199
2 REGISTRO DOS DIREITOS AUTORAIS............................................................................199
2.1 REGISTRO FACULTATIVO................................................................................................................. 200
2.1.1 Instituições................................................................................................................................ 200
2.2 BIBLIOTECA NACIONAL................................................................................................................... 202
2.2.1 Depósito Legal de Obras na Biblioteca Nacional............................................................ 203
3 REGISTRO DOS DIREITOS DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL......................................... 204
3.1 INPI........................................................................................................................................................ 204
3.2 REGISTRO DE PATENTES................................................................................................................ 205
3.2.1 Processo de Concessão da Patente.................................................................................. 205
3.3 REGISTRO DE DESENHOS INDUSTRIAIS.................................................................................... 206
3.4 REGISTRO DE MARCAS....................................................................................................................207
3.4.1 Processo de Concessão de Registro de Marcas..............................................................207
3.5 REGISTRO DE INDICAÇÕES GEOGRÁFICAS............................................................................... 208
3.6 REGISTRO DE PROGRAMAS DE COMPUTADORES................................................................... 209
3.7 REGISTRO DE TOPOGRAFIAS DE CIRCUITO EM REDE..............................................................210
3.8 REGISTRO DE CULTIVARES.............................................................................................................210
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................212
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................215
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................216

REFERÊNCIAS.....................................................................................................................218
UNIDADE 1

ESTADO MODERNO E
TRANSPARÊNCIA: PARA
QUE SERVEM AS CERTIDÕES
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender a necessidade das certidões e registros, a partir do nascimento do


Estado Moderno, da burocracia e da transparência;

• refletir sobre o binômio transparência e privacidade, dentro do assunto desta


unidade e no atual estágio da Sociedade da Informação;
• dominar os conceitos de registro e certidões, bem como suas formas;

• diferenciar pessoas físicas e pessoas jurídicas, assim como saber como registrar o
nascimento de uma pessoa jurídica e de uma pessoa física.

PLANO DE ESTUDOS
A cada tema de aprendizagem desta unidade, você encontrará autoatividades com o
objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TEMA DE APRENDIZAGEM 1 – DA PRÉ-MODERNIDADE AO ESTADO BRASILEIRO


MODERNO: TRANSPARÊNCIA E SEGREDO

TEMA DE APRENDIZAGEM 2 – CERTIDÕES

TEMA DE APRENDIZAGEM 3 – PESSOAS E DOCUMENTOS

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UNIDADE 1!

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UNIDADE 1 TÓPICO 1 -
DA PRÉ-MODERNIDADE AO ESTADO
BRASILEIRO MODERNO

1 INTRODUÇÃO

Entendemos que estudar sobre registros e certidões passa por entender a sociedade
que estamos inseridos.

Existem diversas formas de classificarmos a organização em sociedade,


atualmente. Alguns autores chamarão, conforme suas áreas de estudo, de Sociedade
Moderna, Antropoceno, Sociedade da Informação, Sociedade 5.0 e Sociedade em Redes,
entre outros exemplos de classificações que podem estar em livros e na internet. São
nomes que pouco são relevantes para o nosso tema atual, e que cada um pode nomear
e classificar de alguma forma, a partir de seus estudos e da maneira de observar os fatos.

Neste primeiro tema de aprendizagem do nosso livro didático da disciplina


Despacho Imobiliário e Autoral, do curso de Tecnologia em Despachante Documentalista,
discutiremos como chegamos até aqui, ou seja, ao Estado de Democrático de Direitos
– como costuma ser nomeada a forma de organização social no Brasil nos dias de hoje,
principalmente a partir da Constituição Federal de 1988, que veio em substituição ao
Regime anterior. Entenderemos o contexto de diferenciação entre o Moderno e o Antigo (o
Pré-moderno) para depois refletir a necessidade de transparência e dos registros públicos.

Para essa caminhada reflexiva de aprendizagem, primeiramente devemos


entender brevemente sobre o nascimento do Estado Moderno. Depois focaremos em
como este modelo de Estado se consolida no Brasil atual, a partir da Constituição
Federal vigente. Além dos princípios explícitos na Carta Magna de 88 – como a
Constituição Federal também é chamada –, nosso caminho também passa pelo estudo
da burocracia e da formalidade como características do Estado Moderno. Por fim,
também estudaremos, a partir de outras legislações vigentes no Brasil, sobre o binômio
transparência e privacidade no Brasil.

Bom começo nesta nova etapa de aprendizagem!

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2 NASCIMENTO DO ESTADO MODERNO
Existem diversas teorias sobre a criação do Estado Moderno. Recorrer à história pode ser
uma boa estratégia para definir a partir de que momento passamos a pensar o Estado
Moderno como forma de organização social. Entretanto, a História é uma ciência, ou
seja, ela não possui toda a verdade possível sobre os fatos como ocorreram no passado,
muito menos tem a intenção de balizar o presente a partir de suas descobertas. Além
disso, como qualquer cientista, o historiador também está sujeito a levar os seus vieses,
as suas ideias, para dentro da análise que está realizando, embora deva sempre tomar
cuidado para que isso não aconteça.

Melhor dizendo, trata-se de um anacronismo transpor formas de organização


do passado – como a antiga civilização grega ou a romana – para o presente,
comparando o que ocorria naqueles tempos e locais com o surgimento dos primeiros
Estados Modernos ou com a forma de organização social e política que temos nos
dias de hoje no Brasil e no Mundo.

Assim como qualquer uma das outras ciências, a História (pelo menos aquela
história que se pretende como ciência, e não a história com a clara intenção de mentir)
busca elementos que tragam a noção o mais perto possível da verdade sobre o que
ocorreu no passado. Estes elementos podem ser documentos – como escrituras, leis e
artes – e até mesmo declarações em áudio e vídeo.

Mesmo assim, com toda essa imprecisão sobre toda a verdade do nascimento
do Estado Moderno, repleta de várias histórias paralelas que levaram ao seu surgimento,
junto com a ascensão do capitalismo, cremos que entender o contexto de nascimento
do Estado Moderno é imprescindível para entendermos os registros públicos, os
documentos e a transparência nas transações imobiliárias e autorais.

2.1 DAS TREVAS, ILUMINAÇÃO


Assim, correndo o risco inerente de cometer algum equívoco diante da nossa
necessidade de brevidade sobre o assunto, partiremos da ideia de que o Estado atual
nasce dentro de um contexto de ruptura entre o que se convencionou como Antigo, ou
primitivo; e o que se tem como Moderno. Este processo de transição é bastante longo,
e podemos dizer que começa por volta da metade do milênio passado – século XIV – e
que tem sua completa consolidação no século XIX.

O que queremos argumentar é que, antes do advento do que se chamou de


Modernidade, existia, para a maioria do pensamento eurocêntrico, a Idade Média – na
Europa; e, para os povos não-europeus, o primitivismo. Contudo, devemos estar atentos

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aos movimentos de estudo da história e da sociologia, que buscam outras maneiras de
entender o surgimento da sociedade atual.

Isto é, “há duas teorias sobre a formação e o nascimento da Modernidade: a) uma


aponta que a Modernidade surge como contraponto do misticismo pelas mãos da razão e da
iluminação; b) contrariamente, a ideia de Modernidade como autoritarismo e colonização do
diferente” (ANDERSON, 2021, p. 29). Essas duas teorias, porém, apontam que o ser europeu
entende que deva haver uma transformação da sociedade baseada nos mitos e na religião.
Esta transformação se daria a partir da Modernidade, baseada na razão e na ciência.

DICA
Um livro, que foi adaptado para o cinema, que retrata bem o momento de
discussão entre a verdade da Igreja e a verdade da ciência é O Nome da Rosa,
escrito por Umberto Eco. Ele se passa durante a Idade Média. Dois personagens
são chamados para atuar em um convento a fim de desvendarem misteriosas
mortes que têm ocorrido no local. O filme, de ficção, é uma narrativa de como
a Igreja escondia qualquer espécie de explicação sobre os fatos da natureza
que não fossem àqueles ligados à doutrina religiosa.

Assim, é possível dizer que o conceito de Moderno surge como um passo evolutivo
na racionalidade humana – isso tanto dentro da Europa, onde a ciência deve organizar o
pensamento, afastando-se da mitologia, como a forma de pensar do europeu é usada
como maneira de colonizar o ser não-europeu, chamado de primitivo, de selvagem, de
não civilizado. O Estado Moderno nasce neste contexto de iluminação e racionalização.

A Idade Média recebe muitas vezes a alcunha de Idade das Trevas. Este apelido se
dá, principalmente, a partir da ideia de que se trata de um período em que a Igreja Católica
tinha muito mais poder de decisão sobre a sociedade e sobre o Estado. Assim, a transição
de uma forma de organização social e de economia (feudalismo) para outra forma de
organização (Estado Moderno) e de economia (capitalismo) seria o sinônimo, para essa
interpretação da história, de uma evolução na forma de organização e de racionalização.

Não é à toa que se diz que neste período de transição ocorre um movimento
que foi chamado de Iluminismo, ou seja, o contrário da escuridão. Se este movimento
teve vertentes dentro das artes e da ciência, transbordou também para a forma de
organização dos Estados que surgiriam neste contexto histórico.

Por isso, podemos dizer, com base em Wolkmer (2015), que existem quatro ciclos
do Direito e do Estado Moderno. O primeiro é o da formação. Ela ocorre com a ascensão
do Absolutismo e do monismo jurídico. Isto é, com o surgimento dos primeiros Estados,
mesmo que Absolutistas, governados por nobres, reis e rainhas. Outra característica dessa

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fase é a unificação das diversas leis esparsas – como as leis que regiam as comunidades
menores e os feudos – em Leis de abrangência mais regional. Assim, o Estado Moderno
adquire, nesta fase, a ideia de uma Lei unificada que regeria as relações das diversas
comunidades que estariam sobre o poder de um reinado ou mesmo das primeiras nações.

O segundo ciclo de formação do Direito e do Estado moderno, para Wolkmer


(2015), é o da sistematização. A partir da quebra da aliança entre a burguesia e a nobreza
e o surgimento das primeiras Repúblicas, o Direito Moderno, com características da
ciência moderna, vai se consolidando e se sistematizando.

NOTA
Repúblicas – do latim coisa pública – são o contrário da Monarquia e da
Oligarquia. Nos últimos, o governo é exercido por uma pessoa (Monarquia) ou
por um grupo de pessoas (Oligarquia), teoricamente em interesse próprio, e
não em interesse público. República é uma Forma de Governo. O Brasil, além de
uma República, é uma Federação, que é uma Forma de Estado. Uma federação
conta com Unidades Federadas e, portanto, não é um Estado Unitário. Veja o
Quadro 1, no final desse tema de aprendizagem, para não se confundir!

O apogeu do Estado e do Direito Moderno, para o autor, acontece no início do


século XIX, quando o Direito consolida todos os aspectos de uma ciência pura, com as
mesmas características das demais ciências. Como ciência pura se entende um Direito
que deve ser afastado da moralidade e de aspectos sociais e culturais.

DICA
O livro que melhor caracteriza essa fase de construção do Direito Moderno é Teoria
Pura do Direito, de Hans Kelsen. Trata-se de um dos expoentes da Escola Austríaca
de Direito. A teoria pura visa à purificação do direito, no sentido de afastá-lo de
outras ciências e discussões, como a moral, a honra, a sociologia e a economia.
Isto é, a partir da Teoria Pura do Direito, ele deve ser aplicado e estudado como
uma ciência pura, afastada das demais ciências, disciplinas e práticas.

ESTUDOS FUTUROS
Quando falarmos sobre as pessoas de direito e os indivíduos da sociedade (item
2.4 do segundo tema de aprendizagem), retomaremos o estudo sobre essa
purificação do Direito. Mais do que um afastamento do Direito das demais ciências,
outro desbravamento desta análise – separar a parte do todo complexo, como o
elétron do átomo ou o animal do rebanho – é a construção de um Direito Moderno
individualizado, afastado dos demais seres vivos e mesmo dos demais humanos.

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O último ciclo seria o da crise, que o autor aponta ser o momento atual, quando
o Direito Moderno deixa de atender às necessidades de uma sociedade complexa e
global. Para ele, a crise aparece a partir do momento que as Leis dos Estados Modernos
não mais conseguem dar conta de organizar uma sociedade cada vez mais complexa e
global. As situações as quais as pessoas estão envolvidas demandam uma velocidade
de atuação coletiva que nem mesmo o Estado, com sua estrutura burocrática e grande,
consegue solucionar no tempo necessário.

IMPORTANTE
O perfil do acadêmico em Tecnologia em Despachante Documentalista passa longe de
ser o mero carimbador ou buscador de papéis, documentos e certidões. Deve atender
às demandas inovadoras, com senso de colaboração, pensamento lógico, analítico e
principalmente criativo. Assim, entender que o Direito e o Estado Moderno encontram-se
em crise é estar atento para as oportunidades que esta crise apresenta. Como você,
a partir do conhecimento que adquire no nosso curso e também com o que
adquire com materiais complementares, como livros, filmes, sites da internet
e podcasts, pode criar produtos e serviços que inovem e melhorem a vida das
pessoas? É bastante relevante o Despacho Imobiliário e Autoral refletir sobre
essa crise dentro do contexto que envolve nossa área de estudo, principalmente
dentro do nosso curso, que visa à formação de um profissional dinâmico e
criativo. Não queremos aqui trazer respostas, mas apenas apontar pontos de
reflexão que você, acadêmico, pode se debruçar enquanto aprende outras
questões menos teóricas e mais práticas. Sugerimos que você faça isso com
professores, colegas e outras pessoas que fazem parte de seus ambientes de
trabalho, amizade e acadêmico!

No entanto, o que quisemos apontar até aqui é que o Estado Moderno não está
afastado da ideia de racionalidade e da iluminação que está circunscrita na Modernidade
como um todo, isto é, como afastamento dos mitos e da irracionalidade. O Iluminismo
pode ser encarado de maneira mais abrangente, como forma de iluminação das relações
em sociedade, trazendo para o Direito e para o Estado a ideia de transparência.

Assim como a verdade da ciência passa a ser buscada a partir da observação


dos fatos dentro dos laboratórios, para a política o povo passa a ter o poder de decidir
sobre a organização dos Estados. “Todo o poder emana do povo” (BRASIL, 1988). É
por isso que, dentro de um Estado Moderno, que é a forma de Estado hoje vigente na
esmagadora maioria dos países, a transparência e a iluminação são regras aplicadas
para a Administração Pública.

Para Bobbio (1997, p. 96-97), o pensador iluminista “se considera chamado


a derrotar o reino das trevas: onde quer que tenha ampliado o próprio domínio, a
metáfora da luz e do clareamento (daaufklarung ou doenlightment) ajusta-se bem à
representação do contraste entre poder visível e poder invisível”. Isto é, se a razão passa

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a ser buscada para o conhecimento dos fenômenos da natureza, é também a razão que
passa a organizar os Estados. Assim, o Estado Moderno aparece como contraste do
sigilo. Por isso, o segredo passa a ser a exceção.

É dentro desse paradigma que se encontra a Constituição da República


Federativa do Brasil, que rege, entre outras coisas, a Administração Pública brasileira.

NOTA
Paradigma pode ser entendido como uma forma de visão de mundo, uma ideia que
é anterior a todas as demais ideias, disciplinas e ciências. Um paradigma dá base
para as demais ideias. Podemos dizer que vivemos sobre o Paradigma Moderno.

3 PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS NO BRASIL


O estudo da organização de uma sociedade pode ser feito a partir das regras
e normas que lhes regem. Elas podem ser os elementos utilizados para um acadêmico
estudar uma sociedade.

Como regras e normas, no entanto, não estamos nos referindo apenas às


leis escritas e constituídas a partir de um parlamento regional, municipal ou nacional.
Dentro de uma família, de uma empresa, ou de um grupo de amigos, existem normas
de condutas. No primeiro caso, a organização pode se dar mais centralizada nos pais
(verticalidade); no terceiro caso as relações tendem a ser mais horizontais, embora cada
pessoa possa ter o seu papel bem definido, como ocorre em uma família e em uma
empresa, por exemplo.

Nosso objeto de estudo, no entanto, é a Administração Pública e seu


organograma. E para isso, a Constituição Federal de 1988 e outras leis podem nos dar
elementos importantes para entendermos a organização social do Estado brasileiro.

3.1 PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA


Os princípios da administração pública direta e indireta estão expostos na
Constituição Federal do Brasil vigente em seu artigo 37. São eles: a) a Legalidade; b) a
Impessoalidade; c) a Moralidade; d) a Publicidade; e e) a Eficiência. Quando se fala de
Administração Pública, eles sempre são levados em consideração.

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NOTA
Princípios são normas que antecedem as demais normas. Nenhuma regra ou lei que
regem a Administração Pública podem estar em desacordo com esses princípios.

NOTA
Administração Pública direta são a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal.
Os órgãos (Ministérios, Secretarias, por exemplo) desses entes públicos também
fazem parte da Administração Pública direta. Eles não possuem autonomia, são
braços dos entes. Já a Administração Pública indireta é aquela que, mesmo ligada com
a Administração Pública, possui autonomia gerencial. Fazem parte da Administração
Pública Indireta as autarquias, as fundações públicas, as empresas de economia mista
ou empresas públicas e as Agências reguladoras – como Anatel ou Anac.

A Legalidade significa que a Administração Pública não possui liberdade para


atuar. A Legalidade Administrativa se difere da Legalidade civil e criminal, por exemplo.
À Administração Pública não vale a máxima “você não será obrigado a fazer nada
que lei ou decisão judicial não determinar”, mas que ela só pode fazer aquilo que está
determinado pela lei.

A Impessoalidade se dá no sentido de que aquele que administra a coisa


púbica o faz como parte do Estado. Duas consequências práticas deste princípio é
que: a) atos de governo e de decisão não podem ser atribuídos à pessoa que realizou
(prefeito, juiz), mas se dão como ato da coletividade a partir de seus representantes; e
b) a responsabilidade civil objetiva, ou seja, quando um ato da Administração Pública
prejudica alguém, quem deve responder é toda a Administração Pública, e não o
servidor público que cometeu o ato.

Não é à toa que aquele que presta serviço público é conhecido como servidor.
Quando está imbuído de seu trabalho público, é como se ele vestisse um manto de
Administração Pública. Suas ações devem ser entendidas como ações do Estado. As
pessoas que atuam como servidoras públicas são apenas os braços para a ação do Estado.

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Sobre a Moralidade não há muito o que se falar, apenas que o Estado, por seus
servidores, não apenas deve atender à Legalidade, mas deve se eximir de cometer atos
que atentem à moralidade, e principalmente à probidade. Contudo, essa moralidade
não deve ser confundida com a moral religiosa ou pública. Não se espera que o servidor
público seja um bom pai, tenha uma família constituída e vá a Igreja, por exemplo. O
que se espera é que ele, mais do que atender às Leis, tenha uma postura correta no
exercício e suas atribuições.

O princípio mais importante para esta unidade, no entanto, é o princípio da


Publicidade. O Estado é o resultado dos esforços de toda a sociedade. Aquele que
age na Administração do Estado, age como representante de toda essa coletividade –
conforme dita o princípio da Impessoalidade.

É por isso que, em regra, todos os atos praticados pela Administração Pública
devem ser publicizados, ou seja, deve ser atos públicos, de acesso por toda a população.
É a partir do princípio da Publicidade que decorre o princípio da Transparência, que
aparece explícito em outras Leis abaixo da Constituição.

Este princípio, conforme mencionado, está absolutamente ligado com


a iluminação que falamos anteriormente. Com o advento do Estado Moderno, a
transparência passa a ser a regra das relações, tanto privadas como públicas, como
veremos na sequência deste livro.

IMPORTANTE
A distinção parece boba, mas é necessária: não se deve confundir o princípio da publicidade
com a publicidade relacionada com a comunicação de um produto ou serviço para
a marketing. Publicidade, para a Administração Pública, é tornar algo público. A
gestão da coisa pública deve ser comunicada. Não deve haver qualquer segredo
quanto a esta gestão – ela sempre deve ser publicada. Da mesma forma, os
fatos jurídicos – coisas que acontecem e geram alguma consequência jurídica –
também deve ser publicizados. Já a publicidade de um produto ou serviço tem
o intuito de vender aquele produto ou serviço. A Administração Pública pode
e deve realizar publicidade de seus atos, mas nunca com o intuito de gerar
benefícios para o gestor público. Deve ser uma comunicação sobre atos, uma
informação sobre algum serviço. Fazer uma publicidade pública para gerar
benefícios eleitorais para o gestor, por exemplo, é um crime eleitoral e um ato
de Improbidade Administrativa.

O que queremos dizer é que, seguindo o modelo de Estado Moderno, que


explicamos anteriormente, no Brasil também rege a ideia de que nenhum ato público
dos governantes deve ser feito às escuras, escondido. São raras as exceções ao princípio
da Transparência e da Publicidade, tópico que comentaremos mais para frente.

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Faltou ainda falarmos sobre o princípio da Eficiência. Está relacionado com o
melhor uso do erário – o dinheiro público – para o cumprimento das funções públicas.
Sua ideia principal é o enxugamento do Estado, cortando gastos considerados
desnecessários, criando parâmetros de eficiência e qualidade. Sua adesão à Constituição
Federal, por emenda parlamentar, se deu durante o governo de Fernando Henrique
Cardoso, e está relacionada com os programas de Reforma do Aparelho do Estado.

4 BUROCRACIA E FORMALIDADE
Neste momento, esperamos trazê-lo para mais perto da necessidade das
certidões e dos registros, a partir da reflexão sobre o nascimento de uma forma de
organização do poder público iniciada com a formação, sistematização e consolidação
do Estado Moderno.

Queremos deixar claro que este paradigma de Estado, Moderno, surge pela
necessidade de afastar o segredo, de democratizar o acesso ao poder e ao conhecimento
como um todo. Para essa democratização do acesso, retirando o poder e o conhecimento
apenas da nobreza, da Igreja e mesmo da burguesia, outra característica se torna
inerente ao Estado Moderno: o organograma e a burocracia.

O principal autor que fala sobre isso é Max Weber. Em diversas de suas obras,
ele aponta que, junto com o afastamento da Monarquia e da Oligarquia, a construção do
Estado Moderno como uma república deve passar pela organização do aparato estatal
de controle.

Anteriormente, falamos sobre as diversas formas de sociedade para além do


Estado, como as famílias, as empresas e os grupos de amigos. Cada uma possui suas
regras de união e organização para que possam continuar existindo como sociedade –
regras que podem ser escritas e explícitas, mas que na maioria das vezes são implícitas,
conhecidas por todos sem que precisem ser colocadas em contrato ou norma.

O que Max Weber argumenta é que a construção do aparato estatal moderno


demandou da burocracia para sua continuidade. Isto é, se antes a forma de organização
do Estado era a de dominação tradicional – em relações verticais, sob mandos e
desmandos do rei que dizia, julgava e aplicava as leis – para a construção do Estado
Moderno seriam necessários servidores especializados, ritos e leis pré-definidas, na
grande maioria das vezes leis escritas e explícitas.

A igualdade entre pessoas e o fim do Estado como dominação vira a regra. Por
isso que, como afirmam Abrucio e Loureiro (2018, p. 25), a partir da modernidade “o Estado
adota o modelo burocrático e passa a ser pautado por regras universais e impessoais
previamente estabelecidas, o que gera um modelo que dá suporte à dominação de tipo
racional-legal e ao respectivo monopólio legítimo do uso da força”.

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O termo burocracia, no entanto, passou a ser sinônimo de morosidade nos
tempos atuais. Muitas vezes ela aparece com o oposto da Eficiência – que inclusive é
um dos princípios constitucionais da Administração Pública, conforme já estudamos.
É claro que a burocracia muitas vezes aparece como entrave para que as pessoas
consigam realizar os seus direitos. Às vezes aparece até mesmo como uma maneira de
conseguir alguma vantagem ilícita – quem nunca ouviu que “se cria dificuldades para
se vender facilidades”.

Entretanto, o que queremos demonstrar neste ponto do estudo é que a


burocracia, por outro lado, é uma forma e trazer igualdade dentro de uma democracia.
É a partir de um aparato estatal burocrático – em que as “regras do jogo” são pré-
definidas – que o cidadão pode ter acesso aos seus direitos. Ela surge em oposição
a uma organização estatal em que os direitos são distribuídos sem qualquer critério,
apenas pela origem das pessoas.

Por isso, nosso papel como acadêmicos e profissionais é levar em consideração


a necessidade da burocracia para um acesso igualitário e justo aos direitos; e, por outro
lado, sempre estarmos atentos para diminuí-la quando afasta as pessoas deste acesso.

Outro ponto importante que se deve levar em consideração sobre o Estado


Moderno é a formalidade. Existem duas formas de entender a formalidade: a) a formalidade
tem a ver com a linguagem clara e correta que será utilizada quando se manifesta um
documento; no entanto, devemos estar atentos que b) os Atos Administrativos não
dependem de uma forma específica, a não ser que a lei assim determinar. Vamos refletir
um pouco mais sobre essas duas aplicações da formalidade.

NOTA
Ato Administrativo é a forma como a Administração Pública atua. Cada movimentação
da Administração Pública, a partir de seus servidores, é classificada como um
Ato Administrativo. Assim, existem atos que declaram direitos (uma certidão, por
exemplo), que aplicam sanções (um Auto de Infração) e que regulamentam uma Lei
(Decretos, por exemplo).

Existem diversas maneiras do Estado atuar. A que primeiro vem a nossa cabeça
pode ser a atuação de maneira escrita. Contudo, muitas vezes, um Ato Administrativo
pode ser visual (placas de trânsito, por exemplo) ou mesmo sonoro (um agente de
trânsito controlando o tráfego de veículos).

Assim, quanto ao primeiro conceito de formalidade, embora devamos pensar


na simplificação da linguagem até mesmo para gerar acesso ao Estado e aos direitos ao

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maior número de pessoas, não podemos relevar que o uso da linguagem formal e clara
seja importante dentro Administração Pública.

INTERESSANTE
Existe um movimento chamado de Legal Design, que se importa em melhorar o
acesso das pessoas aos documentos, decisões judiciais e certidões, a partir da
utilização de elementos visuais e do uso de linguagem simples. Vale a pena pesquisar!

Por isso, quando estamos incumbidos de escrever uma certidão, ou mesmo de


pedir alguma coisa junto ao Poder Público e aos cartórios, devemos nos atentar para a
utilização da linguagem formal, nos comunicando de maneira clara e direta, sem o uso
de gírias e palavras impróprias, por exemplo.

Quanto ao segundo significado da formalidade, o Art. 2°, VIII e IX, da Lei nº


9.784/99 – Lei de Processo Administrativo – dispõe que os Atos Administrativos devem
observar as formalidades essenciais para a garantia dos direitos dos administrados (dos
cidadãos, de modo geral), bem como que a forma do ato deve ser simples, com o intuito
de oferecer adequado grau de certeza, segurança e respeito aos direitos (BRASIL, 1999).

A Forma é também um dos elementos dos Atos Administrativos. Além dela,


são elementos: a) a competência – cada entidade da Administração possui, por lei, uma
competência para exercer algum Ato Administrativo, como um registro imobiliário, que
deve ser feito no órgão que tem essa competência; b) a finalidade – que deve sempre ser o
interesse público; c) o objeto – o conteúdo do ato; e d) a motivação – o porquê daquele ato.

Conforme já exposto, exceto quando a lei expressamente determinar, o Ato


Administrativo não segue uma forma específica. Isto significa, geralmente, que ele não pode
ser invalidado apenas por não seguir alguma formalidade não determinada em lei, mesmo
que determinada em outras regras, como uma circular do Registro Público ou um Decreto.

5 TRANSPARÊNCIA E PRIVACIDADE
Byung-Chul Han aponta que vivemos, atualmente, a partir da Sociedade da Informação,
o que ele denomina de Segundo Iluminismo, que culmina na Sociedade da Transparência
(HAN, 2017). Para ele, se no primeiro Iluminismo a ideia era de afastar do “reino das trevas”,
hoje vivemos em uma sociedade em que tudo deve ser visto e que somos estimulados, a todo
tempo, a apresentar até mesmo nossa privacidade e dados pessoais na Internet.

Até aqui argumentamos como a transparência e a publicidade, e também a


burocracia e a formalidade, aparecem como pressupostos dentro da Modernidade do

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Estado Moderno. Trouxemos também elementos legais para demonstrar como tais
características são aceitas pelo Estado e aparecem no Brasil. Agora, chegou a hora de
debatermos sobre o seu contrário, ou seja, sobre a privacidade e o segredo dentro do
Estado Moderno.

Dentro do Estado Brasileiro há alguns elementos jurídicos que autorizam o sigilo


e o segredo. Isto porque, embora o Art. 5º, XXXIII da Constituição Federal afirme que
todos têm direito a receber informações, tanto de interesse público e coletivo como de
interesse individual, e exista uma garantia constitucional para esse acesso, há algumas
situações em que este direito não é assegurado, como no caso de risco à segurança da
sociedade e do Estado. Essas situações serão bem explicadas quando falarmos sobre a
Lei de Acesso à Informação.

Por outro lado, quanto aos particulares – empresas e pessoas –, a questão


da individualidade e da privacidade aparece como prioridade. Se a regra para a
Administração Pública é a transparência e o acesso à informação, quando se fala dos
administrados a lógica se inverte. Se a Constituição Federal brasileira define que ao ente
público é quase que proibido o segredo, em seu Art. 5°, X preconiza que “são invioláveis
a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas” (BRASIL, 1988).

Além disso, o segredo muitas vezes é o coração dos negócios. Muitas empresas,
principalmente as indústrias, investem em busca de novos produtos para conquistar
novos consumidores ou atingir as necessidades da sociedade. Se o segredo industrial
e empresarial não pudesse existir, muitos negócios seriam inviabilizados, e a ciência
evoluiria muito mais devagar – pelo menos é essa a ideia mais levantada quando se
debate a proteção dos direitos intelectuais. Debateremos esse assunto com mais
profundidade na terceira unidade deste livro.

Por enquanto, o que queremos trazer para a sua reflexão, acadêmico, é o


binômio “segredo-transparência” dentro da sua área de estudo. Mais do que um técnico,
fará parte da sua atuação meditar sobre essas duas faces dos registros públicos. Um
livro didático e um curso não são capazes de trazer todas as respostas para as situações
em que você estará envolvido profissionalmente. O que trazemos aqui são conceitos e
elementos para que você possa, dentro de suas convicções e reflexões, encontrar suas
próprias perguntas e soluções.

5.1 LEI DE ACESSO À INFORMAÇÃO E LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS


O binômio “segredo-transparência” não aparece com menor grau de intensidade
que na comparação entre a Lei de Acesso à Informação – LAI (Lei nº 12.527/2011) – e a
Lei Geral de Proteção de Dados – LGPD (Lei nº 13.709/2018).

A primeira visa à regulamentação do Acesso à Informação, preconizado


na Constituição Federal de 1988 e em outras leis esparsas. Aplica-se: a) aos órgãos

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públicos da administração direta ligados aos Poderes Legislativo, Judiciário e Executivo;
b) aos Tribunais de Contas; c) ao Ministério Público; d) às entidades da administração
indireta ligadas à União, Estados, Municípios e Distrito Federal; e e) também às entidades
privadas que receberam algum valor para desempenharem ações de interesse público
– apenas quanto aos valores em que receberam desta forma. Isto é, a Lei de Acesso à
Informação é uma Lei que não se aplica às empresas privadas e às pessoas físicas.

Já tínhamos observado que o acesso às informações é uma regra constitucional


não apenas brasileira, mas uma regra inerente aos Estados Modernos. No entanto,
também já sabemos que essa regra é minimizada quando a informação pode trazer
risco à segurança do Estado e da sociedade. A LIA traz algumas situações em que este
sigilo é permitido. Apresentaremos alguns exemplos destas situações.

O primeiro caso refere-se às informações sobre pesquisas científicas e


tecnológicas. Neste caso, acreditamos que o sigilo é necessário por dois motivos: a)
a segurança da sociedade e do Estado; e b) também por uma questão econômica.
Se o Estado (através de autarquias, fundações ou órgãos públicos) investe capital na
busca de inovações científicas e tecnológicas, não seria justo que se encontrasse em
desigualdade com as empresas privadas. Se às empresas é garantido sigilo intelectual,
não haveria motivo para esse sigilo ser afastado no caso de investimento Estatal. Tal
característica do sigilo, de proteção econômica, aparece literalmente no Art. 22 da LAI.

Outras situações de sigilo podem ser observadas no Art. 23 da LAI:

Art. 23. São consideradas imprescindíveis à segurança da sociedade


ou do Estado e, portanto, passíveis de classificação as informações
cuja divulgação ou acesso irrestrito possam:
I - pôr em risco a defesa e a soberania nacionais ou a integridade do
território nacional;
II - prejudicar ou pôr em risco a condução de negociações ou as
relações internacionais do País, ou as que tenham sido fornecidas
em caráter sigiloso por outros Estados e organismos internacionais;
III - pôr em risco a vida, a segurança ou a saúde da população;
IV - oferecer elevado risco à estabilidade financeira, econômica ou
monetária do País;
V - prejudicar ou causar risco a planos ou operações estratégicos das
Forças Armadas;
VI - prejudicar ou causar risco a projetos de pesquisa e
desenvolvimento científico ou tecnológico, assim como a sistemas,
bens, instalações ou áreas de interesse estratégico nacional;
VII - pôr em risco a segurança de instituições ou de altas autoridades
nacionais ou estrangeiras e seus familiares; ou
VIII - comprometer atividades de inteligência, bem como de
investigação ou fiscalização em andamento, relacionadas com a
prevenção ou repressão de infrações (BRASIL, 2011).

A Lei de Acesso à Informação também traz situações em que podem ser


decretados sigilos de informações.

15
São quatro os graus de decretação de sigilo: a) sigilo de informações pessoais,
que envolvam a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem – acesso restrito,
independente de classificação de sigilo, por no máximo 100 anos (Art. 31, § 1º, I da
LAI); b) informação ultrassecreta – 25 anos de sigilo; c) secreta – 15 anos de sigilo; e d)
reservada – 5 anos de sigilo (Art. 24, §1º da LAI). A competência para decretar os três
últimos tipos de sigilo está disposta no Art. 27 da LAI.

Embora a Lei de Acesso à Informação também tenha surgido para regulamentar


os casos de sigilo, não se pode negar que ela é um avanço na característica de
transparência e publicidade do Estado Moderno – como contraponto ao sigilo dos
Estados Absolutos, ou mesmo às trevas tão preconizadas no período Medieval, ou do
que se entende como primitivismo dos povos originários não europeus.

Agora, como contraponto, comentaremos brevemente sobre a Lei Geral de


Proteção de Dados – LDPD (Lei nº 13.709/2018), que visa justamente ao sigilo e à
privacidade de dados pessoais.

Não há como negar que a Sociedade da Informação fez surgir com mais força
o debate sobre a proteção dos dados pessoais. Isto porque a topologia das redes, em
acesso aberto para todos que conseguem ter a tecnologia suficiente para adentrar à
internet, facilita a coleta de dados pessoais de uma maneira que outras formas de mídia
de massa não conseguiam realizar.

O rádio, a televisão e o jornal, por exemplo, eram mídias de trânsito único entre
o emissor da mensagem e o destinatário (leitor, ouvinte ou telespectador). A Internet,
principalmente a partir do momento em que atinge o status do que se chamou de web
2.0, dá aos antigos emissores de informações (que podem sem empresas, mídias ou
pessoas) a possibilidade de acesso a dados privados dos destinatários. Diferente da via
de seta única entre emissor de uma mensagem e o receptor, ocorre uma corrente de
emissão de dados e informações das duas partes de uma comunicação.

NOTA
N web 1.0, embora o acesso das pessoas também seja aberto, mais se parece a
transição digital de outras mídias para o computador. Nesta internet aquela que
recebe as mensagens recebe quase que da mesma forma que os antigos leitores
e telespectadores. Não há o caminho de retorno entre o emissor e o destinatário
das mensagens. Já na web 2.0 as figuras emissor e destinatário se confundem. Não
há um caminho em seta, mas em seta dupla. É constante a interação entre pessoas
e não se pode praticamente definir alguém como apenas passivo na comunicação,
recebendo as mensagens. A atividade e a interação são constantes. A web 3.0
vem se consolidando e recebe o nome de Internet das Coisas. Nela, não apenas
pessoas trocam dados e informações, mas também as coisas, como os semáforos,
as geladeiras, os relógios, recebem, transformam e emitem informações.

16
Melhor dizendo, a figura do destinatário e do emissor de uma mensagem não
está mais tão clara diante das redes e da Internet. Hoje, a interatividade é a regra.
Aqueles que emitem dados e informações também recebem informações. As pessoas
não mais apenas absorvem o que grandes veículos de comunicação emitem, mas estão
em constante interatividade, fornecendo e compartilhando tanto opinião como outros
dados pessoais, opiniões, e até mesmo intimidades.

Por isso, é preciso lembrar que a mesma Constituição Moderna brasileira que
afirma que o sigilo é a exceção no caso do Estado, coloca entre os direitos fundamentais
constitucionais o direito à privacidade e à intimidade.

Assim, podemos entender a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) como a principal
norma jurídica que busca regular de que forma as empresas e o Estado – que têm acesso
aos dados pessoais que as pessoas transmitem a partir da internet ou fora dela – podem
tratar esses dados. Esta lei, diferentemente da Lei de Acesso à Informação, se aplica tanto
para o Estado como para pessoas naturais e pessoas jurídicas de direito privado.

Os principais fundamentos da LGPD estão descritos no Art. 2°:

Art. 2º A disciplina da proteção de dados pessoais tem como


fundamentos:
I - o respeito à privacidade;
II - a autodeterminação informativa;
III - a liberdade de expressão, de informação, de comunicação e
de opinião;
IV - a inviolabilidade da intimidade, da honra e da imagem;
V - o desenvolvimento econômico e tecnológico e a inovação;
VI - a livre iniciativa, a livre concorrência e a defesa do consumidor; e
VII - os direitos humanos, o livre desenvolvimento da personalidade,
a dignidade e o exercício da cidadania pelas pessoas naturais
(BRASIL, 2018).

Isto é, o que a LGPD buscou é regulamentar o acesso aos dados pessoais de


empresas e pessoas, a partir do pressuposto de respeito à privacidade e à inviolabilidade
da intimidade, da honra e da imagem das pessoas, bem como se preocupou com o
desenvolvimento econômico e tecnológico.

Trata-se de uma lei muito recente, e suas regulamentações ainda estão


sendo debatidas tanto pela jurisprudência (as decisões judiciais) quanto pela doutrina
jurídica (os autores e cientistas que estudam a melhor aplicação da lei). Para nós, que
estudamos o binômio privacidade-transparência a partir dos registros e certidões, se
torna importante estarmos sempre atentos às decisões e regulamentações da LGPD.
Este é o último convite que fazemos a você neste nosso primeiro tema de aprendizagem.

17
Quadro 1 – Formas de Estado e formas de governo

Formas de Estado Formas de Governo

Estado Unitário – Estado centralizado, com um Monarquia – governo de um, em interes-


único centro de poder. se próprio.

Federação – Estado dividido em centros de po- Oligarquia – governo de um grupo, em


deres, os entes federativos. interesse próprio.

República – governo de todos, em inte-


resse de todos.
Fonte: o autor

18
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:

• Que o Estado Moderno nasce junto com a ideia de transparência, em oposição ao


sigilo e ao segredo.

• Que a Administração Pública brasileira tem como princípios da Legalidade a


Impessoalidade, a Moralidade, a Publicidade e a Eficiência. Também que são os
princípios da Impessoalidade e da Publicidade que mais embasam a ideia de
transparência dentro do Estado brasileiro.

• Que além da transparência, a formalidade e a burocracia também são características


do Estado Moderno brasileiro, embora o princípio da Eficiência também deva ser
observado.

• Que a transparência, que é regra para a Administração Pública, salvo poucas exceções
– quando a informação pode causar insegurança à sociedade e ao Estado –, quando
se trata das pessoas de direito privado (empresas e pessoas físicas), a regra é a
privacidade e a intimidade. A Lei de Acesso à Informação e a Lei Geral de Proteção de
Dados são as normas que mais caracterizam esse binômio entre transparência-sigilo.

19
AUTOATIVIDADE
1 “O ano de 1492, segundo nossa tese central, é a data do ‘nascimento’ da
Modernidade; embora sua gestação – como o feto – leve um tempo de crescimento
intrauterino. A modernidade originou-se nas cidades europeias medievais, livres,
centros de enorme criatividade. Mas ‘nasceu’ quando a Europa pôde se confrontar
com o seu ‘Outro’ e controlá-lo, vencê-lo, violentá-lo; quando pôde se definir como
um ‘ego’ descobridor, conquistador, colonizador da Alteridade constitutiva da
própria Modernidade”. Sobre o nascimento do Estado Moderno e seus principais
pressupostos, assinale a alternativa CORRETA:

Fonte: https://mel.unir.br/uploads/56565656/
arquivos/1492_O_ENCOBRIMENTO_DO_
OUTRO___1993_2008370791.pdf. Acesso em: 4 abr. 2023.

a) ( ) A única tese correta sobre o nascimento do Estado Moderno é aquela que afirma
que a tecnologia e a ciência nascidas na Europa foram o motor que possibilitou que
todos os povos, não apenas os europeus, saíssem das trevas da Idade Média e do
primitivismo e entrassem na Era do Estado Moderno.
b) ( ) Existem duas teses sobre o nascimento do Estado Moderno. São teses
exclusivamente políticas e econômicas, e não levam em consideração mudanças de
paradigmas tecnológicos ou científicos.
c) ( ) O Estado Moderno surge a partir da ideia de transparência. Em conjunto com uma
mudança de paradigma que afasta a obscuridade e o acesso restrito ao conhecimento
e ao poder, junto com a Modernidade científica, surge o Estado Moderno.
d) ( ) O sigilo é a regra tanto para as pessoas de direito privado (empresas e pessoas
físicas) como quando se refere ao Estado. Isto porque o direito à privacidade e à
intimidade é irrestrito e aspecto fundamental do Estado Moderno.

2 A transparência é a regra dos Estados Modernos e, por isso, não é diferente dentro
do Estado brasileiro. Sobre a transparência e o sigilo, classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:

( ) Na Lei Geral de Proteção de dados são classificadas algumas situações em que


o sigilo pode ser decretado, quando refere-se à segurança da coletividade e do
Estado. As informações podem ser classificadas entre reservada – podendo ser
decretado cinco anos de sigilo; secreta – podendo ser decretado 15 anos de sigilo; e
ultrassecreta, podendo ser decretado 25 anos de sigilo.

( ) A Lei de Acesso à Informação regulamenta os casos em que pode ser decretado


sigilo de informações, autorizando haver sigilo de dados pessoais de até 100 anos.

20
( ) A Lei de Acesso à informação se aplica apenas às entidades públicas e àquelas
entidades sem fins lucrativos que recebem recursos públicos; enquanto a Lei de
Geral de Proteção de Dados regulamenta o tratamento de dados tanto de entidades
públicas como de entidades privadas.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V - F - F.
b) ( ) V - F - V.
c) ( ) F - V - F.
d) ( ) F - V - V.

3 Diversos autores correlacionam o surgimento do Estado Moderno com uma mudança


de paradigma que começa com o surgimento da ciência moderna. Nesta perspectiva,
discorra sobre a ideia de poder visível e poder invisível de Norberto Bobbio, e a
necessidade da transparência dentro da administração pública.

4 O Art. 90 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) dispõe que “não serão aplicadas
as sanções previstas neste Código por inobservância à sinalização quando esta for
insuficiente ou incorreta”. Diante disso, comente a seguinte frase: “toda certidão
pública deve seguir uma forma específica, que pode ser determinada pelo cartório de
registro ou pelo órgão público competente, ainda que não determinada por lei, sob
pena de ser invalidada”. Ela está correta?

Fonte:https://www.ctbdigital.com.br/artigo/
art90#:~:text=N%C3%A3o%20ser%C3%A3o%20
aplicadas%20as%20san%C3%A7%C3%B5es,falta%2C%20
insufici%C3%AAncia%20ou%20incorreta%20
coloca%C3%A7%C3%A3o. Acesso em: 4 abr. 2023.

21
22
UNIDADE 1 TÓPICO 2 -
CERTIDÕES

1 INTRODUÇÃO
Seja novamente bem-vindo! Em nosso primeiro tema de aprendizagem tivemos
a intenção de transmitir a necessidade da transparência e da publicidade a partir da ideia
de que, no Estado Moderno, a transparência é a regra. Com o advento da Modernidade,
o sigilo passa a ser a exceção. Não deve mais haver obscuridades, e a ciência funciona
como motor da iluminação. Também notamos que esta transparência se relativiza, e que
a privacidade e a intimidade são a regra quando as pessoas físicas e as empresas vêm
antes da transparência.

Neste segundo tema de aprendizagem nosso foco passa a ser principalmente


a publicidade e o registro das pessoas e das relações privadas. Passamos agora a focar
na necessidade da publicidade quanto às relações privadas, quando essa não atinge a
intimidade, a honra, o segredo comercial e a privacidade das pessoas.

No primeiro momento nos debruçaremos sobre os elementos da publicidade


jurídica. Já a segunda parte tem por objetivo refletir sobre o conceito de certidão, e
seu papel dentro da ideia de publicidade e de transparência. Depois, estudaremos as
características das certidões – formalidade, prazo e tipos de certidões. Terminamos o
tema de aprendizagem estudando sobre a digitalização dos registros e das certidões.

Novamente, esperamos que nosso livro didático seja apenas um primeiro passo
para o seu conhecimento. Mais do que trazer conceitos sobre certidões e publicidade
jurídica, esperamos que você possa, a partir no nosso material, se aprofundar cada vez
mais nos assuntos que abordamos. Queremos que, ao final da leitura deste tema de
aprendizagem, você esteja apto a reconhecer o que é uma certidão, quem pode emitir,
sua necessidade e seus tipos.

Boa leitura!

23
2 PUBLICIDADE JURÍDICA
Até este momento do nosso livro didático tratamos de oferecer para você
alguns conceitos básicos sobre a necessidade da transparência dentro do Estado
Moderno, que é o tipo de Estado em que estamos inseridos. Contudo, além de
comentarmos sobre a transparência, devemos agora nos atentar ao estudo de como
essa transparência ocorre no mundo do Direito e do Estado. Mais do que toda a teoria
inicial em que alertamos sobre a importância da publicidade como sinônimo de uma
nova fase de acesso ao conhecimento e às informações, partimos agora para o estudo
concreto da transparência, tanto do Estado como das relações entre pessoas privadas.

Isto porque já afirmamos, no primeiro tema de aprendizagem, que a


publicidade é um dos princípios básicos da Administração Pública brasileira – além
da legalidade, da impessoalidade, da moralidade e da eficiência. Também dissemos
que a transparência, que aparece como princípio em outras leis infraconstitucionais, é
uma consequência tanto do princípio da publicidade como da ideia de iluminação e de
acesso ao conhecimento, que advém da Modernidade.

A partir de agora, no entanto, temos que esmiuçar melhor o que é a publicidade


que estamos estudando, e como ela é necessária tanto quando se refere ao Estado
brasileiro – nas relações entre o Estado e seus cidadãos ou administrados – como
quando estamos falando dos registros e certidões referentes às relações privadas.

2.1 ELEMENTOS DA PUBLICIDADE JURÍDICA


Qualquer forma de comunicação, mesmo as mais primitivas, de maneira geral,
contam com três elementos: a) o que se quer comunicar – o fato ou o objeto; b) quem
comunica e com quem se quer comunicar – ou seja, uma comunicação conta com
um emitente e um destinatário daquele dado ou informação que se quer comunicar;
e c) o meio em que aquela informação será prestada – a mídia, como a televisão, a
mensagem de celular e as cartas.

O estudo de tais elementos da comunicação é importante tanto para as Teorias


da Comunicação como para nós, que estamos estudando as certidões e os registros
imobiliários e autorais. Deste modo, para darmos prosseguimento ao nosso estudo,
devemos traduzir tais elementos da comunicação em geral para a publicidade jurídica.

2.1.1 Fato jurídico: o que se quer comunicar


Para Loureiro (2014), o que se quer comunicar com a publicidade jurídica é
algum fato jurídico. Se o fato que se comunica não gera qualquer efeito jurídico, não
existe uma publicidade jurídica, mas apenas uma comunicação comum, não jurídica.

24
Para prosseguirmos em nosso estudo devemos, então, entender o conceito
de fato jurídico. Conforme argumentam Stolze e Pamplona Filho (2020, p. 225),
“todo acontecimento, natural ou humano, que determine a ocorrência de efeitos
constitutivos, modificativos ou extintivos de direitos e obrigações, na órbita do direito,
denomina-se fato jurídico”. Isto é, um fato jurídico pode ser: a) algo que acontece sem
a participação humana – que recebe o nome de fato jurídico em sentido estrito; b) uma
ação humana, lícita ou ilícita – quando recebe o nome de ato jurídico; como também
quando há uma ação humana, porém sem manifestação de vontade – recebe, neste
caso, o nome de ato-fato jurídico.

Resumindo, um fato jurídico é um gênero, que contém três espécies distintas:


a) o fato jurídico em sentido estrito – sem a participação humana; b) um ato jurídico
– quando o fato jurídico conta com uma ação humana; e c) um ato-fato jurídico – em
que, mesmo que ocorra a ação humana, não há a manifestação da vontade de realizar
aquele ato jurídico. Assim, toda vez que nós falarmos sobre fato jurídico, a partir de
agora, estamos nos referindo ao gênero, e não às espécies.

2.1.2 Emissário e destinatário da publicidade jurídica: Estado


e administrados
Já o emissário de uma comunicação jurídica é aquele que deve dar publicidade
para o acontecimento de um fato jurídico.

Atualmente é o Estado, com sua burocracia, quem possui a competência para


registrar e dar publicidade para os fatos jurídicos. Isto porque quando nasce o Estado
Moderno, nasce também o monopólio do Estado quanto à jurisdição. É o Estado quem
registra, julga e dá publicidade para os fatos jurídicos. Isso não significa que o registro
e a comunicação dos fatos jurídicos sempre ocorreram por monopólio do Estado,
tampouco que esse monopólio nunca será mitigado ou extinto.

Assim, é dentro desta perspectiva de monopólio estatal que outros dois


elementos que já comentamos no primeiro tema de aprendizagem retornam: a
competência e a burocracia. Cabe à norma determinar quem registra e quem dá
publicidade aos fatos jurídicos. Isto porque, como já dissemos, a burocracia – a
ordenação do Estado em órgãos e competências – é inerente ao Estado Moderno.

Em resumo, para falarmos sobre quem é o emitente da publicidade de um


fato jurídico, devemos sempre buscar compreender a quem cabe a competência para
registrar e emitir tal informação ou dado.

Quanto aos destinatários da comunicação de um fato jurídico é importante


retomar o binômio segredo-transparência, que exploramos no primeiro tema de

25
aprendizagem. Algumas informações são sigilosas, pois são segredo industrial ou
mesmo estão relacionadas com a honra, a intimidade e a privacidade das pessoas. Em
algumas situações, a lei ou mesmo a decisão judicial mitiga quem será o destinatário
de uma publicidade jurídica, ou seja, pode determinar o segredo de uma informação.

Por isso, o destinatário da publicidade de um fato jurídico pode variar conforme


o grau de sigilo da informação. O destinatário pode ser apenas uma pessoa – com
legítimo interesse por aquela informação – ou mesmo toda a sociedade, fato que
ocorre na maioria das vezes.

IMPORTANTE
Lembre-se de que já falamos sobre os conceitos de web 2.0 e web 3.0. Com o
desenvolvimento das tecnologias da comunicação, notamos que a interatividade
entre emissor e destinatário de uma mensagem faz com que a comunicação entre
eles seja quase que instantânea. Assim, um destinatário da publicidade jurídica não
é mais uma figura passiva. A comunicação, mesmo a jurídica, se torna cada vez mais
imediata.

2.1.3 A mídia na qual ocorre a publicidade jurídica


O registro e a certidão são os principais meios para que ocorra a publicidade
jurídica. Por isso, são os elementos de maior relevância para este tema de aprendizagem.

Vamos deixar para comentar esses elementos mais adiante. Isto porque, antes
de nos atentarmos ao estudo dos meios em que uma comunicação jurídica ocorre
– especialmente as certidões –, precisamos estudar outro aspecto que circunda a
publicidade jurídica.

2.2 COGNOSCIBILIDADE
Já que estamos falando sobre comunicação de uma maneira geral, e
especificamente sobre publicidade jurídica, devemos nos atentar, dentro do que se
chama Sociedade da Informação, sobre quatro conceitos distintos quando se refere à
comunicação: os dados, a informação, o conhecimento e a sabedoria.

Como explica Lemos (2021), dado é uma maneira de quantificar o mundo. A


temperatura no dia de ontem é um dado, por exemplo. O chão molhado é um dado, que
pode nos fazer pensar que choveu ou que alguém pode ter lavado a calçada. Para o
autor, todo dado carrega consigo a subjetividade daquele que o coletou – ou seja, não
existem dados brutos. No caso do chão molhado, quem observa terá uma interpretação
sobre aquele dado, que pode ser diferente da interpretação de outras pessoas.

26
Já a informação é um conjunto de dados, que dá sentido para aqueles dados.
Por exemplo, uma informação leva em conta a temperatura do dia anterior, mas compara
com a temperatura de hoje e há uma semana ou há 100 anos. O dado do chão molhado
só se torna uma informação quando coletados outros dados, como o chão molhado por
toda a rua ou nuvens escuras.

Já o conhecimento é aquilo que se consegue criar, sintetizar, a partir da


articulação de diversas informações. Por fim, a sabedoria, a qual o autor afirma ocorrer
muito raramente no momento na sociedade digital em que vivemos; é quando se
consegue articular diversos conhecimentos para se chegar à melhoria na vida das
pessoas, misturando diversos conhecimentos de forma não linear e especializada.

A publicidade jurídica, afirma Loureiro (2014), não se destina a produzir um


conhecimento ou uma sabedoria. Como o destinatário da publicidade jurídica é uma
pessoa, é ela que, unindo diversas informações ou dados, chegará a um conhecimento.
Dessa forma, “a publicidade [jurídica] assegura um conhecimento potencial, presumido.
Os destinatários podem, voluntariamente e livres de qualquer obstáculo, ter acesso
ao objeto da publicidade e, dessa forma, adquirir o conhecimento concreto e efetivo”
(LOUREIRO, 2014, p. 54).

É por conta desta diferença entre sabedoria e conhecimento, frente à


informação e ao dado, que a doutrina que estuda a publicidade jurídica, afirma Loureiro
(2014), prefere falar de cognoscibilidade a partir da publicidade jurídica.

Isso significa que a função da publicidade jurídica não é gerar conhecimento ou


sabedoria para aquele que recebe a mensagem – o destinatário da comunicação do fato
jurídico –, mas fornecer elementos para um conhecimento, baseados em outros dados
e informações que o recebedor da publicidade jurídica possui. Estes outros elementos
podem ser convicções próprias, outros conhecimentos ou outros elementos levantados
pelo destinatário da mensagem em outras mensagens recebidas.

2.3 MODALIDADES DE PUBLICIDADE JURÍDICA: NOTIFICAÇÃO,


PUBLICAÇÃO E REGISTRO
Loureiro (2014) ensina que existem três modalidades de publicidade jurídica: a)
a notificação; b) a publicação; e c) o registro. A primeira é de caráter individual. Apenas
um destinatário – que possui maior interesse na mensagem – é comunicado daquele
fato jurídico. É, portanto, uma comunicação direta e pessoal. Geralmente, a notificação
refere-se a algum fato jurídico que gera efeito jurídico para a pessoa destinatária da
mensagem. Por exemplo, uma citação em um processo judicial ou uma notificação
extrajudicial para que faça ou deixe de fazer alguma coisa.

27
Já a publicação e o registro são formas de publicidade jurídica que são
impessoais e gerais, ou seja, não possuem destinatário certo e determinado, podendo
ser qualquer pessoa que deseja ter acesso àquele dado ou informação.

Geralmente a publicação refere-se à publicidade de normas e regulamentos


– por exemplo, a publicação de um Edital de Licitação ou a publicação de uma lei. O
registro, por sua vez, é a publicidade de outros fatos jurídicos, porém que dizem respeito
a pessoas específicas.

Qualquer fato jurídico deve ser comunicado. Não há como se fazer aplicar uma
lei sem que ela seja publicada, por exemplo. Da mesma forma, o registro de um fato
jurídico, como a venda de um imóvel, é a forma de comunicar que houve a troca de
propriedade de um bem imóvel. Muitas vezes, o registro é condição para que um fato
jurídico seja concretizado.

ESTUDOS FUTUROS
Propriedade é um dos tipos de direitos reais. Existem diversas outras modalidades
de troca de direitos das pessoas sobre as coisas. Estudaremos os direitos reais na
segunda unidade deste livro didático.

2.4 PRESSUPOSTOS DA PUBLICIDADE JURÍDICA: VERACIDADE


E PUBLICIDADE FORMAL

Retomando um ponto que debatemos anteriormente, precisamos relembrar


que o emissor de uma publicidade jurídica geralmente é o Estado – a partir de seus
servidores, lotados em órgãos públicos ou entidades da administração pública direta
e indireta. Por isso, estes servidores possuem duas prerrogativas – como se fossem
vantagens em relação às demais formas de comunicação.

A primeira prerrogativa da publicidade jurídica que devemos conhecer é a


prerrogativa de veracidade. Isso significa que um Ato Administrativo é presumidamente
verdadeiro. O servidor público goza do benefício da certeza. Um exemplo claro se dá
em uma multa de trânsito. Presume-se que o agente de trânsito não mentiu quanto ao
cometimento de alguma irregularidade pelo motorista e que a multa deve ser aplicada.
Da mesma forma, presume-se verdadeira qualquer publicidade jurídica, ou seja, a
notificação, a publicação e o registro.

28
Contudo, tal presunção é relativa dentro do Direito brasileiro. Da mesma forma
que é possível apresentar provas de que houve equívoco pelo agente de trânsito quanto
ao cometimento de uma infração de trânsito, é possível que a veracidade de um registro
seja contestada.

O segundo pressuposto importante da comunicação e da publicidade jurídica


é chamado de publicidade formal. Ele significa que se presume público – publicado e
comunicado – qualquer fato jurídico desde que posto à disposição para cognoscibilidade.

Melhor explicando, com um exemplo: quando uma lei é promulgada, o ato


contínuo para que ela entre em vigor é que ela seja publicada. Esta publicação, no
entanto, nunca é exigida que seja feita em jornal de grande circulação, na Internet,
ou qualquer outro meio de comunicação. Geralmente, o que torna uma lei exigível é a
publicação no Diário Oficial (do Município, do Estado ou da União). Depois de publicada
uma lei, ninguém poderá se esquivar de cumpri-la alegando desconhecer a norma.

Da mesma forma, o registro de um fato jurídico pressupõe a sua comunicação,


desde que seja possível a cognoscibilidade daquele registro. Isto é, desde que qualquer
interessado naquela informação tenha acesso ao registro – por meio de certidões,
por exemplo – presume-se que o fato jurídico foi publicizado, não podendo-se alegar
desconhecimento daquele registro.

2.5 MEIOS DE COMUNICAÇÃO JURÍDICA

Agora, após falarmos sobre as modalidades de publicidade jurídica e de seus


pressupostos, podemos retomar o debate sobre os elementos da comunicação e da
publicidade jurídica. Isso porque faltou comentarmos – com mais profundidade – sobre
quais são os meios de comunicação em que ocorre uma comunicação jurídica.

A comunicação – não apenas jurídica, mas de uma maneira geral – pode ocorrer
de diversas formas.

Poderíamos aqui trazer elementos históricos, antropológicos, sociológicos, para


apontar que os seres humanos possuem como característica específica a capacidade
de comunicar-se. Também lembrar que, na sociedade em redes em que vivemos – e
principalmente na web 3.0 – até mesmo coisas podem se comunicar sem que haja um
intermediário humano.

Alguns autores ainda podem argumentar que existe comunicação entre animais,
entre seres unicelulares e entre plantas. Não é nosso objetivo aqui nos aprofundar sobre
a capacidade de outros seres, naturais não humanos ou artificiais, se comunicarem,
embora o debate seja bastante interessante.

29
O ser humano, especificamente, costuma se comunicar de diversas formas. As
mais conhecidas são a forma escrita, visual, a fala e a escuta, bem como comunicação
por gestos. Dito desta forma, costumamos nos comunicar por diversos meios: cartas,
e-mails, placas, postagens em redes sociais, por rádio, pela televisão, em uma sala de
aula, através deste livro didático etc. São milhares de exemplos de meios de comunicação.

Quanto aos meios de comunicação de um fato jurídico – a publicidade jurídica


que estamos estudando neste tema de aprendizagem –, não diferem muito dos meios
de comunicação que estamos acostumados fora do ambiente jurídico. Por exemplo, o
Estado, a partir de seus servidores, costuma se comunicar de diversas formas: a partir
de uma sinalização sonora do agente de trânsito, a partir de uma placa de trânsito, a
partir de cartas, por meio de despachos e ofícios, por meio da publicação de uma Lei
nos Diários Oficiais etc.

Contudo, precisamos estar atentos ao grau de segredo e de sigilo que aquele


fato jurídico deve ter. Os Atos Administrativos, como já dissemos, são, em regra,
públicos. Cabe ao gestor público manter a transparência de todos os atos, mesmo
que isso prejudique a sua administração ou mesmo a sua imagem pessoal. Os atos
de gestão pública devem ser sempre publicizados, tornados acessíveis para qualquer
destinatário. Por isso, meios como: rádio, jornais impressos, televisão e, inclusive, a
Internet, devem ser aliados da Administração Pública para a publicidade de todos os
Atos Administrativos.

Por outro lado, alguns fatos jurídicos, principalmente os que dizem respeito às
relações interpessoais, não precisam ser publicizados para todos em meios abrangentes
de comunicação, principalmente quando podem atentar contra a privacidade, a
intimidade e a honra das pessoas. Os processos judiciais, por exemplo, têm como regra a
publicidade. Todavia, é possível que ocorram em segredo de justiça quando expuserem
às pessoas a qualquer um dos direitos anteriormente referidos.

No entanto, é possível acessar qualquer dado ou informação que não atentem


contra os direitos individuais e de personalidade das pessoas. Isto porque essa
publicidade é tarefa primordial para uma sociedade amplamente conectada. Deste
modo, dispõe o Art. 17 da Lei nº 6.015/73, que “qualquer pessoa pode requerer certidão
do registro sem informar ao oficial ou ao funcionário o motivo ou interesse do pedido”
(BRASIL, 1973).

Assim, os meios principais para a comunicação de fatos jurídicos são os


registros, as certidões, as publicações e as notificações individuais. Contudo, isso não
quer dizer que devem ser excluídos outros meios.

30
3 REGISTROS OFICIAIS E CERTIDÕES: CONCEITOS
Após o breve estudo sobre a publicidade jurídica, seus elementos e pressupostos,
podemos finalmente nos atentarmos com mais afinco sobre o que são as certidões.

Todavia, outros conceitos são necessários para entendermos a burocracia


que envolve o Registro Público – uma das formas de publicidade jurídica, junto com a
notificação e a publicação. Para isso, antes de falarmos sobre as certidões, vamos explicar
brevemente quem são as pessoas e os servidores públicos que estão encarregados de
publicar as certidões e de realizar os registros.

As leis mais importantes para entendermos as competências e como funciona


o registro público são: a) Lei nº 6.015/73, que regulamenta os registros públicos; b) Lei
nº 8.935/94, a Lei dos Cartórios; além do c) Art. 236 da Constituição Federal de 1988.

3.1 REGISTROS PÚBLICOS

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 236, afirma que os Registros


Públicos e os serviços notariais serão exercidos em caráter privado, a partir de delegação
do Poder Público. Assim, não se trata de serviços privados, mas de serviços públicos
exercidos sob delegação do Poder Público.

Embora os registros públicos e os serviços notariais não sejam órgãos da


Administração Pública e nem pertençam à administração pública indireta, prestam
serviço público, sob delegação.

Assim, o Estado continua tendo o monopólio sobre a atividade de registro


público, de noticiar e publicar um fato jurídico – aquele que gera efeitos jurídicos. No
entanto, delega para que um particular exerça tal atividade pública. Esta delegação,
no entanto, a partir da Constituição Federal de 1988, não pode ser realizada sem que
preceda de concurso público, necessariamente de provas e títulos (Art. 236, §3º, CF).
Isso significa que o princípio da Impessoalidade é atendido quando se refere a esta
delegação de serviço público.

A Lei nº 8.935/94, a Lei dos Cartórios, dispõe, em seu Art. 1°, que serviços
notariais e de registro são “os de organização técnica e administrativa destinados a
garantir a publicidade, autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos” (BRASIL,
1994). Já o Art. 1º, §1º, da Lei nº 6.015/73 elenca quais são os Registros Públicos: a) o
registro civil de pessoas naturais; b) o registro civil de pessoas jurídicas; c) o registro de
títulos e documentos; e d) o registro de imóveis (BRASIL, 1973).

31
IMPORTANTE
Durante toda a nossa disciplina, recorrer aos tipos de Registros Públicos será
importante!

Trata-se de rol exemplificativo, ou seja, pode haver outras formas de registros


públicos. Estes, porém, não serão regulamentados pela mesma lei, mas por lei própria.

ESTUDOS FUTUROS
Quando estudarmos os registros das pessoas jurídicas, relembrar que existe outro
tipo de registro público que não se encontra no rol do Art. 1º, §1º, da Lei nº 6.015/73,
será importante. Isso porque as empresas mercantis são registradas em um registro
público específico, que tem como um de seus órgãos as Juntas Comerciais. Isso
explicaremos lá no terceiro tema de aprendizagem!

3.2 OFICIAL E TABELIÃO

Os próximos personagens que fazem parte da publicidade jurídica são os


oficiais de registro – ou registradores – e os tabeliães – ou notários. São eles que são os
responsáveis pelos Registros Públicos e pelos Tabelionatos.

A Lei nº 8.935/94 tratou de conceituar quem são esses profissionais. Dispõe no


seu Art. 3º que: “notário, ou tabelião, e oficial de registro, ou registrador, são profissionais
do direito, dotados de fé pública, a quem é delegado o exercício da atividade notarial e
de registro” (BRASIL, 1994).

Como aponta Loureiro (2014, p. 8-9), “nada mais ultrapassado e enganador,


portanto, do que o estereótipo do notário e do registrador como meros escribas ou
carimbadores de papéis: [...]. Com a Constituição de 1988, o notário passou a ser em
nosso país um verdadeiro profissional do Direito”.

Mais do que apenas o papel burocrático de registro e publicidade jurídica, os


notários e os tabeliães devem “aconselhar as pessoas e prevenir litígios; intermediar os
contratos e atos solenes que marcam a vida das famílias e dos cidadãos” (LOUREIRO,
2014, p. 8). Assim, a função destes profissionais deve ser entendida muito além do que
se imagina como sua rotina de trabalho.

32
A Lei nº 8.935/94, Art. 5º, classifica como titulares dos serviços notariais e de
registro: a) o tabelião de notas; b) o tabelião e oficial de registro de contratos marítimos;
c) o tabelião de protesto de títulos; d) o oficial de registro de imóveis; e) o oficial de
registro de títulos e documentos civis das pessoas jurídicas; f) o oficial de registros civis
das pessoas naturais e de interdições e tutelas; e g) o oficial de registro de distribuição.

Assim, podemos entender que titular é um gênero que contêm duas espécies
de titulares: a) os notários, ou tabeliães; e b) os oficiais de registro, ou registradores. A lei
dá competências distintas para cada um desses tipos de titulares de serviços notariais
e de registro.

3.2.1 Competência dos notários ou tabeliães

Já comentamos sobre a competência quando falamos sobre as características


dos Atos Administrativos. Quer dizer que cada um dos Atos Administrativos cabe ser
executado por uma entidade da Administração Pública. Geralmente essa competência
é designada por lei. Quanto aos titulares de serviço notarial e de registro, as Leis nº
6.015/73 e 8.935/94 estabelecem essas competências.

Assim, todos notários, ou tabeliães, têm a competência legal de:

I - formalizar juridicamente a vontade das partes;


II - intervir nos atos e negócios jurídicos a que as partes devam ou
queiram dar forma legal ou autenticidade, autorizando a redação ou
redigindo os instrumentos adequados, conservando os originais e
expedindo cópias fidedignas de seu conteúdo;
III - autenticar fatos (BRASIL, 1994).

A mesma lei dispõe sobre as competências exclusivas de cada tabelião, ou


seja, a competência exclusiva dos tabeliães de notas (Art. 7); dos tabeliães e oficiais de
registro de contratos marinhos (Art. 10); e dos tabeliães de protesto de título (Art. 11).

3.2.2 Competência dos oficiais de registro

Quanto aos oficiais de registro, o Art. 12 da Lei nº 8.935/94 dispõe que os oficiais
de registro de imóveis, os oficiais de títulos e documentos civis das pessoas jurídicas,
e os oficiais de registro civis das pessoas naturais e de interdições e tutelas seguem
as competências que lhes são atribuídas pela Lei nº 6.015/73. Tal lei, por sua vez, trata
de regulamentar as formas de escrituração e registro das pessoas físicas e jurídicas.
Quanto aos oficiais de registro de distribuição, a competência é dada pelo Art. 13 da Lei
nº 8.935/94.

33
Agora que já comentamos brevemente sobre as competências e as diferenças
entre as atribuições de cada um dos titulares de registro – tabelião e oficial –, podemos
finalmente pensar o conceito de certidão.

3.3 CERTIDÃO

O Art. 16 da Lei nº 6.015/73 (Lei dos Registros Públicos), na parte em que versa
sobre a publicidade, dispõe que os oficiais e os encarregados dos registros públicos
são obrigados a: 1º) lavrar certidão do que lhes for requerido; e 2º) fornecer às partes as
informações solicitadas. Da mesma forma, essa lei traz que são atribuições dos tabeliães
e oficiais de contratos marítimos, dos tabeliães de protesto de títulos e dos oficiais de
registro de distribuição expedir certidões e traslados sobre o que se encontra em seus
registros e papéis (Art. 10, IV; Art. 11, VII; e Art. 13, III, respectivamente).

No entanto, embora as leis expliquem a competência para exaurir – realizar –


uma certidão, não trazem em seu bojo qual é o conceito de certidão. Isso faz com que
precisemos buscar o conceito do que seria uma certidão em outros documentos.

Por isso, buscamos o seguinte conceito de certidão:

um documento oficial obtido junto à autoridade ou agente do


poder Público que certifica determinado registro, ato ou fato sob
sua responsabilidade dando FÉ PÚBLICA. Reproduzindo de forma
autêntica e confiável textos ou documentos, tornando-se prova
documental e garantindo a terceiros veracidade. Podendo ser emitida
em diversos órgãos e repartições públicas ou privadas (CERTIDÃO,
c2023, s. p.).

Já para o Manual de Redação Oficial do Poder Executivo do Estado do Rio de


Janeiro (2014, p. 38), a certidão é a “declaração feita por escrito, objetivando comprovar
ato ou assentamento constante de processo, livro ou documento que se encontre em
repartições públicas”.

Por sua vez, Loureiro (2014, p. 81) afirma que “é precisamente na lavratura
da certidão que o registrador exerce o seu conhecimento no desempenho da função
técnica-jurídica. Além dos dados solicitados, o registrador deve incluir as informações
que julgue importante e que, de alguma forma, influenciam a situação jurídica publicada”.

Por fim, Serra e Serra (2013) afirmam que a certidão é a forma, ou seja, é o modo
como a publicidade jurídica é feita dentro dos Registros Públicos. Defendem, portanto,
que essa publicidade é indireta, pois não é deixada à disposição de todos, mas deve ser
requerida ao titular. Vale lembrar que aquele que requerer a informação ou a certidão
não precisa explicar os motivos e o interesse para tal atitude (BRASIL, 1973).

34
Dessa forma, podemos concluir que a certidão é o documento pelo qual o oficial
de registro ou o notário (tabelião) dá publicidade, a partir de requerimento, de algum fato
jurídico que tenha registrado.

Existem outras formas de dar publicidade a algum fato jurídico, como um


Edital. O que diferenciaria a certidão, portanto, seria que sua forma de publicidade é
individualizada, realizada a partir de requerimento de qualquer pessoa, independente de
explicar os motivos ou interesses pelos quais requer aquela publicidade.

3.3.1 Formalidade da certidão

Já comentamos sobre a competência de exaurir as certidões – as Leis nº 6.015/73


e 8.935/94 trataram de apresentar como é feita esta distribuição de competências.

No entanto, nos parece legítimo pensar sobre a formalidade deste documento.


Qual é a forma, a organização dos elementos, o modelo e o design que deve ter uma
certidão?

Retomando o que foi citado anteriormente, o Manual de Redação Oficial do


Poder Executivo do Estado do Rio de Janeiro (2014, p. 38) aponta que a certidão é uma
“declaração feita por escrito”. O documento ainda trata de apresentar quais são e como
são organizados os elementos do documento, a saber:

• Título (a palavra CERTIDÃO) em letras maiúsculas, em negrito, seguido de numeração,


centralizado;
• Texto constante de um parágrafo, com o teor da certidão;
• Local e data, por extenso, em sequência ao texto, à esquerda;
• Termo “Confere” à esquerda, seguido na próxima linha da assinatura do digitador da
certidão, com nome, cargo e ID funcional, centralizados;
• Termo “Visto” à esquerda, seguido na próxima linha da assinatura da chefia maior,
com nome, cargo e ID funcional, centralizados;

• Na elaboração final do tipo documental, devem ser incluídos o código de classificação,


a classificação de sigilo e a classificação de precedência, quando aplicáveis na
estrutura do documento (GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, 2014, p. 36).

Embora haja uma formalidade na organização de documentos públicos, o


Manual citado não tem a força de uma Lei Estadual, muito menos de uma Lei Federal.
O que queremos dizer é que não há uma forma determinada para o modo como uma
certidão deve ser feita pelos oficiais e tabeliães. Isto porque, vale lembrar, somente a
Lei pode determinar a forma ou a formalidade de um Ato Administrativo (BRASIL, 1999).
Dessa maneira, não há nem como afirmar que uma Certidão obrigatoriamente deverá
ser feita por escrito, ou seguir os padrões determinados pelo Manual citado.

35
Em contrapartida, a Lei nº 6.015/73 trata de apresentar quesitos de conteúdo de
algumas certidões. Isto é, embora não tenha sido determinada a forma que a certidão
lavrada pelo oficial de registro público ou o notário deve ter, há alguns requisitos que
devem constar dessas certidões.

Por exemplo, “as certidões de registro civil de pessoas naturais mencionarão


a data em que foi lavrado o assento” (BRASIL, 1973); “as certidões de nascimento
mencionarão a data em que foi feito o assento, a data, por extenso, do nascimento e,
ainda, expressamente, a naturalidade” (BRASIL, 1973); assim como:

a certidão da situação jurídica atualizada do imóvel compreende as


informações vigentes de sua descrição, número de contribuinte,
proprietário, direitos, ônus e restrições, judiciais e administrativas,
incidentes sobre o imóvel e o respectivo titular, além das demais
informações necessárias à comprovação da propriedade e à
transmissão e à constituição de outros direitos reais (BRASIL, 1973).

Assim, sempre deve-se estar atento – quando se requer uma certidão ou mesmo
quando se é responsável por exauri-las – se os requisitos de conteúdo expostos nas leis
estão sendo cumpridos. Relembrando, eles não são requisitos legais de forma, mas de
conteúdo do que deve constar em uma certidão.

3.3.2 Tipos de certidão

Dispõe o Art. 19, caput, da Lei nº 6.015/73, que existem três tipos de certidões:
a) as de inteiro teor; b) as em resumo; ou c) as em relatório, de acordo com os quesitos
apresentados por aquele que pediu a certidão.

• “A certidão de inteiro teor será extraída por meio reprográfico ou eletrônico” (BRASIL,
1973).
• Já as certidões em resumo e as em relatório são aquelas que aquele que a expedem
– o titular do registro – deve apresentar o conteúdo do que está registrado, sem
necessariamente fornecer uma cópia reprográfica ou eletrônica do registro.

No primeiro caso, nas certidões de inteiro teor, o papel do tabelião é apenas tirar
uma cópia do registro que está sob sua guarda no Registro que ele é titular. Ele tira uma
cópia do registro.

Já no segundo caso o responsável pela certidão deve descrever o que está


registrado. Ele atesta que existe aquele registro, informa que tal fato jurídico está
realmente publicizado no seu registro público. Como ele tem fé pública, não é necessário
que ele apresente o documento, o registro. O que ele afirma que está registrado é de fé
pública, a princípio sem qualquer possibilidade de contestação.

36
Lembre-se de que aquele que está lavrando o relatório – o oficial ou tabelião, a
depender da competência – está realizando um serviço público de publicidade.

Por isso, deve atender, quando está expedindo o relatório ou certidão, ao que é
pedido por aquele que requer a informação – destinatário da certidão, sempre estando
atento, é claro, se o que é pedido como informação é legal. A lei não desautoriza que
seja informado – ou não fere a intimidade ou a privacidade de alguém.

Conforme o Art. 19, §3º da Lei nº 6.015/73, “nas certidões de registro civil, não
se mencionará a circunstância de ser legítima, ou não, a filiação, salvo a requerimento
do próprio interessado, ou em virtude de determinação judicial” (BRASIL, 1973). Isto é,
a própria lei determina que a informação de filiação – se é filho legítimo ou não, se é
adotado ou de relação extraconjugal – de alguém não pode ser fornecida para qualquer
pessoa que requisitá-la.

Se o titular de registro acreditar que a informação requerida fere a privacidade


de alguém, poderá deixar de fornecê-la. Nestes casos, aquele que requer a informação
deverá recorrer à justiça para decidir se a informação deve ser prestada ou não pelo
titular do registro.

3.3.3 Sistema Eletrônico de Registros Públicos – SERP

A Lei nº 14.382, de 27 de junho de 2022, tratou de regulamentar o Sistema


Eletrônico de Registros Públicos – SERP. Conforme o Art. 3º desta lei:

Art. 3º O Serp tem o objetivo de viabilizar:


I - o registro público eletrônico dos atos e negócios jurídicos;
II - a interconexão das serventias dos registros públicos;
III - a interoperabilidade das bases de dados entre as serventias dos
registros públicos e entre as serventias dos registros públicos e o
Serp;
IV - o atendimento remoto aos usuários de todas as serventias dos
registros públicos, por meio da internet;
V - a recepção e o envio de documentos e títulos, a expedição de
certidões e a prestação de informações, em formato eletrônico,
inclusive de forma centralizada, para distribuição posterior às
serventias dos registros públicos competentes;
VI - a visualização eletrônica dos atos transcritos, registrados ou
averbados nas serventias dos registros públicos;
VII - o intercâmbio de documentos eletrônicos e de informações
entre as serventias dos registros públicos e:
a) os entes públicos, inclusive por meio do Sistema Integrado de
Recuperação de Ativos (Sira), de que trata o Capítulo V da Lei nº
14.195, de 26 de agosto de 2021; e
b) os usuários em geral, inclusive as instituições financeiras e as
demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do
Brasil e os tabeliães;
VIII - o armazenamento de documentos eletrônicos para dar suporte
aos atos registrais;
IX - a divulgação de índices e de indicadores estatísticos apurados

37
a partir de dados fornecidos pelos oficiais dos registros públicos,
observado o disposto no inciso VII do caput do art. 7º desta Lei;
X - a consulta:
a) às indisponibilidades de bens decretadas pelo Poder Judiciário ou
por entes públicos;
b) às restrições e aos gravames de origem legal, convencional ou
processual incidentes sobre bens móveis e imóveis registrados ou
averbados nos registros públicos; e
c) aos atos em que a pessoa pesquisada conste como:
1. devedora de título protestado e não pago;
2. garantidora real;
3. cedente convencional de crédito; ou
4. titular de direito sobre bem objeto de constrição processual ou
administrativa; e
XI - outros serviços, nos termos estabelecidos pela Corregedoria
Nacional de Justiça do Conselho Nacional de Justiça (BRASIL, 2022).

A recente lei acaba por modificar a forma como imaginamos os serviços de


registro público no Brasil. Tem a intenção de tornar menos demorado o requerimento de
certidões. Ao estabelecer a interconexão entre as serventias; as certidões eletrônicas; o
atendimento remoto dos usuários, pela internet; a possibilidade de registros e recepção
de documentos de forma eletrônica; a possibilidade de leitura de certidões de forma
eletrônica; e outros exemplos, torna o sistema de registro público muito mais eficiente,
sem que para isso a burocracia estatal tenha que ser totalmente esquecida.

Não é que as serventias, os cartórios e os tabelionatos não estivessem


caminhando para a era total digitalização dos registros, das certidões e mesmo dos
processos de publicidade jurídica dos fatos jurídicos. A lei regulamenta que esta
digitalização e a interconexão se torne obrigatória.

Assim, o trabalho do Despachante Documentalista também se modifica. De


mero carregador e requisitador de documentos, o profissional também deve ser alguém
bem-informado sobre as novidades, e sempre atento na velocidade possível dentro da
Internet para melhor satisfazer a demanda de seus clientes.

A Lei da SERP modifica a Lei dos Registros Públicos (Lei nº 6.015/73). Passa a
vigorar o Art. 19, §5º, Lei nº 6.015/73, que dispõe que:

§ 5º As certidões extraídas dos registros públicos deverão, observado


o disposto no § 1º deste artigo, ser fornecidas eletronicamente,
com uso de tecnologia que permita a sua impressão pelo usuário
e a identificação segura de sua autenticidade, conforme critérios
estabelecidos pela Corregedoria Nacional de Justiça do Conselho
Nacional de Justiça, dispensada a materialização das certidões pelo
oficial de registro (BRASIL, 1973).

Assim, as certidões passam a ser expedidas prioritariamente de forma eletrônica,


sendo dispensado que o oficial do registro apresente a certidão de forma impressa. De
outro modo, é preciso que a certidão possa ser impressa pelo requerente.

38
A identificação de autenticidade da documentação, a fim de que se coloque em
prática o pressuposto da veracidade das certidões, deve ser feita por meio de assinatura
eletrônica, em conformidade com a Lei nº 14.063/2020.

IMPORTANTE
Com a entrada em vigor da Lei nº 14.063/2020 muito do que imaginamos como ser
um serviço de registro, de emissão de certidões e de ida aos cartórios se modificou.
Hoje é possível expedir certidões de quase todos os registros civis de maneira on-line.
Alguns sites fazem essa captura de certidões e a própria emissão, como o https://
registradores.onr.org.br, o https://registrocivil.org.br e o https://sistemacentral.com.
br/.
Os sites fazem o papel de condensar diversos registros. Isto é, para que você não
tenha que buscar cada cartório para emitir as certidões, o papel do site é ser um
local que concentra diversos registros civis, facilitando para que você não tenha que
se deslocar para conseguir retirar a certidão – evitando o deslocamento de uma
cidade para outra, inclusive.
As certidões emitidas de maneira on-line também têm fé pública, o que facilita o uso
das certidões sem precisar ir até as instituições.

3.3.4 Prazos para a emissão de uma certidão

A lei que regulamentou o Serviço Eletrônico de Registros Públicos – SERP, Lei nº


14.382/2022, modificou os prazos em que as certidões de registros de imóveis devem
ser disponibilizadas para aqueles que requerem a sua publicidade.

Dispõe o Art. 19, §10 da Lei nº 6.015/73, com modificação dada pela Lei nº
14.382/2022, que os prazos máximos para a emissão de certidões pelos registros de
imóveis é de:

I - 4 (quatro) horas, para a certidão de inteiro teor da matrícula ou do


livro auxiliar, em meio eletrônico, requerida no horário de expediente,
desde que fornecido pelo usuário o respectivo número;

II - 1 (um) dia, para a certidão da situação jurídica atualizada do


imóvel; e

III - 5 (cinco) dias, para a certidão de transcrições e para os demais


casos (BRASIL, 1973, 2022).

Os prazos são contados a partir do momento em que é feito o pagamento das


custas (emolumentos).

39
Já quanto as demais certidões, feitas por outros Registros Públicos e seus
oficiais, a lei não tratou de fixar o prazo, estabelecendo que esses prazos e a forma
da certidão serão regulamentados por decisão estabelecida pela Corregedoria Nacional
de Justiça do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) – conforme Art. 19, §8º da Lei nº
6.015/73. No entanto, ainda não há tal regulamento, levando em consideração a data de
publicação deste livro.

Assim, ausente tal regulamentação, o prazo para que o oficial de registro público
– diferente do oficial de registro público de imóvel, que tem o prazo estabelecido pela
lei – é aquele que está disposto no Art. 19, caput, da Lei nº 6.015/73, ou seja, cinco dias.

40
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:

• A publicidade jurídica, que envolve um emissor – aquele ente público responsável


por registrar e dar publicidade; um destinatário – que pode ser qualquer pessoa; um
meio – que deve ser o mais abrangente possível, pois a transparência é a regra; e a
mensagem – que para a publicidade jurídica é sempre um fato jurídico.

• A publicidade jurídica, que está relacionada com a oportunidade de conhecer um


dado ou uma informação – a cognoscibilidade. Não está interessada em transmitir
um conhecimento ou sabedoria, visto que esses últimos dependem da interpretação
e das informações que o destinatário possui.

• O que são Registros Públicos, Titulares, Oficiais e Tabeliães, sabendo diferenciar cada
um desses personagens e nomes que fazem parte da área de registros públicos,
principalmente quanto as suas competências legais.

• Uma breve noção do que são as certidões, conhecendo suas características, formas
e os prazos para a emissão de uma certidão.

41
AUTOATIVIDADE
1 O que se chama de publicidade jurídica, não diferente do que qualquer forma de
comunicação, conta com quatro elementos: a) quem comunica (o responsável por
registrar e fornecer um dado ou informação sobre um fato jurídico); b) quem recebe
a mensagem (qualquer pessoa que deseje ter acesso àquela informação ou dado);
c) o meio (mídia) em que a mensagem é transmitida (Internet, televisão e cartas, por
exemplo); e d) o fato jurídico a ser comunicado (a mensagem). Sobre esses elementos,
assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A certidão é um meio da publicidade jurídica.


b) ( ) Qualquer acontecimento é um fato jurídico que deve ser registrado e informado
por certidão, mesmo que não gere qualquer efeito jurídico.
c) ( ) Um contrato de aluguel é um ato jurídico, porém não deve ser classificado como
tal porque envolve apenas duas partes.
d) ( ) O titular de registro público deve evitar que o fato jurídico seja conhecido pela
ampla maioria das pessoas, se abstendo de lavrar certidões em meio digital.

2 Para Lemos (2021), a atual cultura digital produz muitos dados, alguma informação,
pouco conhecimento e raros momentos de sabedoria. Sobre a cognoscibilidade e a
publicidade jurídica, analise as sentenças a seguir:

I- A publicidade jurídica não se dispõe a transmitir conhecimento ou sabedoria. Tem


como objetivo transmitir informações e dados, visto que cabe ao destinatário da
mensagem a interpretação desses dados em informações, a correlação com outros
fatos jurídicos ou não de que tenha ciência.

II- Um dado é uma forma de quantificar o mundo. A informação é a união de diversos


dados a fim de dar algum sentido para aquele dado. O conhecimento acontece quando
o destinatário da mensagem usa daqueles dados e informações para sintetizar novas
informações. A sabedoria é o uso do conhecimento para melhorar a vida e o bem-
estar de todos.

III- As certidões são a maneira do titular de registro público transmitir suas opiniões,
pareceres e relatórios jurídicos. Isso porque ele não deve mais ser visto como um
mero carimbador de papel, mas um profissional jurídico que aconselha as partes para
buscar as melhores soluções jurídicas para suas demandas.

Assinale a alternativa CORRETA:

Fonte: LEMOS, A. A tecnologia é um vírus: pandemia e cultura


digital. Porto Alegre: Sulina, 2021.

42
a) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença I está correta.
c) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 O Manual de Redação Oficial do Poder Executivo do Estado do Rio de Janeiro (2014, p.


38) dispõe que a certidão é a “declaração feita por escrito, objetivando comprovar ato
ou assentamento constante de processo, livro ou documento que se encontre em
repartições públicas”. Com base nisso, classifique V para as sentenças verdadeiras e
F para as falsas:

( ) Não havendo lei que determine a Forma de uma Certidão, ela deve seguir a
formalidade disposta em Guia Oficial de Redação Jurídica, publicada anualmente
pela Academia Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.
( ) Somente a Lei nº 6.015/73 pode dispor sobre a forma e o conteúdo de uma certidão
de registro público.
( ) O prazo para que uma pessoa tenha acesso a uma certidão, principalmente as que
envolvam os registro de imóveis, é sempre de no máximo cinco dias.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

Fonte: https://drive.google.com/file/d/1FPrHExD0t04cOIYnD
m4FovLkJH0D9Dsm/view. Acesso em: 4 abr. 2023.

a) ( ) V - F - V.
b) ( ) F - F - F.
c) ( ) V - V - F.
d) ( ) F - V - V.

4 A Lei nº 14.382/2022 dispõe sobre o Sistema Eletrônico dos Registros Públicos –


SERP. Dentre as diversas modificações que esta lei trouxe para os Registros Públicos,
uma delas modifica os prazos para que uma certidão seja emitida. Descreva quais são
os novos prazos que a lei estabelece, levando em consideração tanto os Registro de
Imóveis como os demais Registros Públicos.

Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-
2022/2022/lei/L14382.htm. Acesso em: 4 abr. 2023.

5 A lei que regulamenta a SERP (Lei nº 14.382/2022), além de modificar os prazos para a
emissão de certidões pelos registros de imóveis, trouxe mais algumas modificações:

43
a) as certidões podem ser emitidas por meio eletrônico, mas prioritariamente devem ser
expedidas em papel-moeda, pois só assim terão validade jurídica. O titular de registro
público não deve aceitar como verdadeiras as certidões digitais;
b) fica proibido o atendimento remoto daqueles que desejem ter acesso a informações
sobre registros;
c) não é possível que haja a interconexão entre os Registros Públicos, pois cada um
deles deve ser respeitado em suas competências.

Considerando as afirmativas apresentadas (a, b e c), explique porque todas estão


incorretas.

Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-
2022/2022/lei/L14382.htm. Acesso em: 4 abr. 2023.

44
UNIDADE 1 TÓPICO 3 -
PESSOAS E DOCUMENTOS

1 INTRODUÇÃO

Olá, estudante do curso de Tecnologia em Despachante Documentalista! Seja


muito bem-vindo ao nosso terceiro tema de aprendizagem desta primeira unidade
de estudo da disciplina Despacho Imobiliário e Autoral. Denominamos este terceiro
momento de Pessoas e Documentos.

Até aqui, nesta primeira unidade, nosso estudo esteve focado nos conceitos
de transparência – no primeiro tema de aprendizagem – e de publicidade jurídica – no
segundo momento. Agora, vamos estudar as pessoas – físicas e jurídicas – e quais são
os documentos necessários para a publicidade jurídica delas. Deixando um pouco de
curiosidade para a nossa próxima unidade, lá nosso foco será o estudo dos direitos reais
dessas pessoas, e das trocas e registros destes direitos. Te aguardamos lá, em breve!

Nosso roteiro de aprendizagem passa por reconhecer e diferenciar os diversos


nomes que as pessoas ganham assim que nascem – sujeito de direito, pessoa física,
cidadão. Depois, as pessoas jurídicas passam a ser o nosso foco – estudando os tipos de
pessoas jurídicas existentes legalmente no Brasil e como elas são constituídas.

Bons estudos!

45
2 PESSOAS, SUJEITOS, CIDADÃOS

Paradigma também pode significar a linguagem comum utilizada pelos


pertencentes de um grupo de estudiosos de um determinado tema de pesquisa (KUHN,
1998). Isto é, o conjunto de conceitos comuns que se deve ter para ser aceito como
membro de uma ciência. Assim, se queremos estudar os documentos e as certidões,
temos que estar a par e saber diferenciar conceitos que circundam a documentação e
o registro das pessoas físicas e jurídicas.

Por isso, neste tema de aprendizagem, que tem como foco as pessoas e os
documentos, buscaremos distinguir os nomes dados para as pessoas dentro da
sociedade moderna e dentro do sistema legal brasileiro.

2.1 PESSOA NATURAL

A pessoa natural tem seu conceito atrelado estritamente à biologia. Isso significa
que pessoa natural é qualquer um que pode ser reconhecido como um humano quando
nasce. Uma pessoa natural se difere de uma planta natural, de um outro tipo de animal.

A pessoa natural não está relacionada com o Direito, ainda. Diz respeito apenas
à biologia, com o se fazer gente, animal da espécie humana. Aliás, é preciso dizer que
não é nossa intenção e papel, aqui neste estudo, discutir e muito menos definir a partir
de que momento que podemos dizer que uma pessoa natural existe – se desde a
intenção dos pais de terem um filho, da concepção, do nascimento com vida ou desde
que adquire personalidade jurídica.

2.2 SUJEITO DE DIREITO

No entanto, na Sociedade Moderna, especificamente no Brasil, qualquer pessoa


natural é sujeito de direitos. Isso porque a Lei nº 10.406/2002, o Código Civil Brasileiro
(CC), define em seu Art. 1º que “toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil”
(BRASIL, 2002).

O primeiro ponto que devemos ter em mente é que a capacidade civil – termo
que estudaremos mais adiante – independe de registro ou documentação. Como está
disposto no Art. 2° do CC, “a personalidade civil da pessoa começa do nascimento com
vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro” (BRASIL, 2002).

Assim, qualquer pessoa natural que nasce com vida possui direitos e mesmo
deveres – é um sujeito de direito. E mesmo as pessoas que ainda não nasceram (os
nascituros) também possuem alguns direitos – um exemplo é o direito a alimentos

46
gravídicos, concedidos à mulher gestante, como representante do nascituro, em função
da gravidez.

INTERESSANTE
Está em tramitação no Congresso Nacional o Estatuto do Nascituro, que
versa sobre a proteção de direitos àquele com expectativa de vida desde a
concepção (Projeto de Lei nº 434/2021). Você pode acompanhar o texto do
projeto e a tramitação pelo site: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/
fichadetramitacao?idProposicao=2270201.

NOTA
Os alimentos gravídicos são regulamentados pela Lei nº 11.804/2008, disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11804.htm.

Vale lembrar que nem sempre foi assim. Por exemplo, existiam sociedades
antigas em que não eram todas as pessoas que possuíam direitos. Até certo ponto, em
diversos momentos da história, nascituros e pessoas que nasciam com vida poderiam
ser tratadas como bens, coisas, que poderiam ser vendidas e compradas. Os escravos,
por exemplo, eram negociados como bens. As mulheres também são, ainda hoje, em
algumas culturas, negociadas como bens.

2.2.1 Capacidade jurídica

É importante entender que possuir direitos e deveres não torna a pessoa


absolutamente capaz de exercer esses direitos – ou seja, a capacidade de pleitear e
ser pleiteado dentro do Poder Judiciário ou mesmo de maneira extrajudicial. É o caso
dos absolutamente incapazes – os menores de 16 anos (Art. 3º, CC) e dos relativamente
incapazes (Art. 4º, CC).

2.3 CIDADÃO

Também devemos diferenciar as pessoas naturais e os sujeitos de direito de um


terceiro conceito, que é o conceito de cidadão.

47
Conforme Andreassa (2021), em artigo publicado no site Politize, a cidadania
extrapola a ideia de direitos civis. Com base em José Murilo de Carvalho e em Thomas
Humphrey Marshall, o autor afirma que a cidadania existe quando uma pessoa natural
possui três tipos de direitos: a) direitos civis – aqueles designados na Constituição Federal
e nas demais Leis; b) direitos políticos – capacidade de votar e ser votado, de ter sua
opinião política e sobre a gestão dos bens públicos ouvida e levada em consideração; e
c) direitos sociais – oportunidade de ter uma vida digna, capaz de poder exercer seus
demais direitos. Aqui, estão inseridos direitos como alimentação, moradia e saúde.

A cidadania envolve não apenas a classificação de uma pessoa como sujeito


de direitos, mas também sua oportunidade de participar da vida pública. A democracia
atual, dentro do conceito de Modernidade, envolve a participação de todas as pessoas
naturais – ao menos de todos os animais humanos – na gestão da coisa pública. Assim,
a cidadania difere da ideia de sujeito civil.

Conforme o Art. 1º, § 3º, da Lei nº 4.717/1965, a prova de cidadania para o ingresso
em Ação Popular se dá com o título eleitoral ou com documento que corresponda.
Assim, para alguns autores, uma pessoa é considerada cidadã se possuir capacidade
de votar e ser votada, ou seja, ser cadastrada junto ao sistema eleitoral. Contudo, como
já vimos, a cidadania é algo muito mais abrangente.

2.4 PESSOA FÍSICA E PESSOA JURÍDICA

Além dos nomes anteriormente citados, outro conceito que é bastante usado
para classificar os indivíduos é o de pessoa física, em oposição ao conceito de pessoa
jurídica. Pessoas físicas são sujeitos de direito que estão relacionados com as pessoas
naturais. Isto é, uma pessoa física envolve apenas uma pessoa natural, que possui uma
única personalidade jurídica. É um ser vivo, é um animal, é da espécie humana.

NOTA
Indivíduo é o nome de algo que não é divisível. Assim como o cientista moderno,
a partir dos ensinamentos de Descartes (2009), deve sempre buscar o elemento
indivisível de uma matéria para estudar o todo. No Direito Moderno, o que deve
ser protegido é o indivíduo e suas individualidades, afastando-se a ideia de direitos
coletivos. Isto é, como afirma Sousa Júnior (2011, p. 49), “o sujeito aí radicado reflete,
na sua impregnação iluminista, uma visão de mundo dominada pela racionalidade
e a autotransparência [...]. Nesta sua origem histórico-filosófica, o conceito coincide
com a noção aristotélica de substância ou, como em Descartes, com quem começa
a tradição moderno do sujeito, como ‘início’ do indivíduo em si mesmo (o legislador
de si próprio no sentido kantiano)”.

48
INTERESSANTE
Os movimentos ambientalistas de todo o mundo têm lutado para que seres vivos
de diversos gêneros e espécies adquiram uma forma de personalidade jurídica, a
fim de que seus direitos sejam melhor protegidos pelos Estados de Direito. Alguns
rios, na Nova Zelândia e na Austrália, já adquiriram personalidade jurídica. No Brasil,
parece que classificar apenas animais humanos como pessoas físicas e naturais
ainda seja o melhor caminho. Você pode entender um pouco mais sobre o assunto
lendo o artigo Rios deveriam ter direitos semelhantes aos das pessoas?, publicado
originalmente no jornal The Guardian, e disponível em: https://infosaofrancisco.
canoadetolda.org.br/artigos/outros-rios/rios-deveriam-ter-direitos-semelhantes-
aos-das-pessoas/.

Já a pessoa jurídica é, dentre outras teorias que buscam explicá-la, uma ficção
jurídica, e representa uma união de pessoas naturais que se unem em prol de algum
fim em comum – pode ser um fim comercial (uma empresa), um fim esportivo e de
lazer (a Sociedade Esportiva Palmeiras, por exemplo), uma benevolência (uma ONG,
por exemplo), ou qualquer outro motivo em comum. Essa união de pessoas adquire,
quando dada a publicidade jurídica necessária, a partir do registro, uma personalidade
jurídica própria, que passa a responder por esse grupo como um todo.

Para Stolze e Pamplona Filho (2020, p. 155), a pessoa jurídica é “o grupo humano,
criado na forma da lei, e dotado de personalidade jurídica própria, para a realização de fins
comuns”. Isto é, “a razão de ser da pessoa jurídica está na necessidade ou conveniência de
os indivíduos unirem esforços e utilizarem recursos coletivos para a realização de objetivos
comuns, que transcendem as possibilidades individuais” (GONÇALVES, 2021, p. 341).

Mais adiante, teremos outra oportunidade para focarmos nos tipos e nos
documentos das pessoas jurídicas. Por enquanto, nosso objetivo aqui foi diferenciar a
pessoa física da pessoa jurídica, de pessoa natural, de sujeito de direitos e de cidadão.

3 REGISTROS DE PESSOAS NATURAIS

Agora que já sabemos distinguir os termos que um indivíduo pode ser chamado,
a depender dos critérios que estão sendo usados, voltemos nossa atenção às formas de
dar publicidade jurídica para a existência desses indivíduos, ou seja, como são feitos os
registros das pessoas naturais.

3.1 REGISTROS CIVIS DAS PESSOAS NATURAIS E DOS FATOS


JURÍDICOS

Antes de iniciar esse tópico, porém, gostaríamos de revisar um ponto que já


comentamos anteriormente – qual seja, o de que, na sociedade moderna, a publicidade

49
é a regra, desde que não afete os direitos individuais das pessoas. Ainda, precisamos
lembrar que a mensagem que interessa para a publicidade jurídica é aquela que gera
efeitos jurídicos – isto é, os fatos jurídicos –, que recebem o nome de atos jurídicos,
quando são realizados pelas pessoas. Assim, o nosso foco aqui é a publicidade jurídica –
por registro e certidão – de fatos e atos jurídicos que dizem respeito às pessoas naturais.

Dito isso, o Art. 9º do Código Civil Brasileiro (CC) dispõe que estão sujeitos a
registro público: a) os nascimentos, casamentos e óbitos; b) a emancipação por outorga
dos pais ou por sentença do juiz; c) a interdição por incapacidade absoluta ou relativa;
e d) a sentença declaratória de ausência ou morte presumida. Contudo, é preciso que
este dispositivo legal seja lido com a complementação do Art. 29, caput e § 1º, Lei nº
6.015/73 – a Lei de Registros Públicos, que dispõe que:

Art. 29. Serão registrados no registro civil de pessoas naturais:


I - os nascimentos;
II - os casamentos;
III - os óbitos;
IV - as emancipações;
V - as interdições;
VI - as sentenças declaratórias de ausência;
VII - as opções de nacionalidade;
VIII - as sentenças que deferirem a legitimação adotiva.

§ 1º Serão averbados:
a) as sentenças que decidirem a nulidade ou anulação do casamento,
o desquite e o restabelecimento da sociedade conjugal;

b) as sentenças que julgarem ilegítimos os filhos concebidos na


constância do casamento e as que declararem a filiação legítima;

c) os casamentos de que resultar a legitimação de filhos havidos ou


concebidos anteriormente;

d) os atos judiciais ou extrajudiciais de reconhecimento de filhos


ilegítimos;

e) as escrituras de adoção e os atos que a dissolverem;

f) as alterações ou abreviaturas de nomes (BRASIL, 1973).

NOTA
A emancipação é uma forma de finalização da incapacidade civil, pela concessão dos
pais ou por decisão do juiz (Art. 5º, parágrafo único, I, do CC).

50
NOTA
Averbação é a “modificações no teor do registro” (LOUREIRO, 2014, p. 70). Ela é,
portanto, acessória ao registro. É feita quando algum fato jurídico ocorre e que
modifica o teor do registro principal, sem que seja necessário – sem qualquer lei
determinar – um novo registro. Além do registro e da averbação, ensina Loureiro
(2014) que, no Registro de Imóveis, também é possível realizar anotações – quando
a averbação remete a outro livro ou registro; e a transcrição, quando se transcreve
termo a termo algum registro realizado fora do país, para que surta efeito no Direito
brasileiro.

Conforme leciona Loureiro (2014), o registro das pessoas naturais tem por objetivo
dar publicidade jurídica: a) ao estado civil – a capacidade jurídica – e b) ao estado de
família – se está casada, viúva, possui filhos, é solteira, por exemplo – de uma pessoa
natural, “provando seu nome, filiação, sua idade e capacidade para os atos da vida civil
[...], o casamento ou a viuvez, entre outros fatos e atos importantes para a identificação e
proteção da pessoa natural e para sua vida jurídica e social” (LOUREIRO, 2014, p. 64).

3.1.1 Formalidade do registro civil de pessoas naturais

Temos debatido aqui, nesta primeira unidade do nosso livro didático, sobre a
formalidade dos Atos Administrativos, defendendo que eles só devem seguir alguma
forma específica se esta forma for determinada por lei.

Dito isso, o Decreto nº 7.231/2010 determina a forma como devem ser as


certidões de nascimento, casamento e óbitos. Embora o decreto – que é expedido
pelo chefe do Poder Executivo – não tenha força de lei, pode-se entender que estas
certidões devam ser expedidas na forma do decreto, até mesmo para que exista uma
padronização nacional.

Já as demais certidões e registros civis determinados no Código Civil e na Lei


de Registros Públicos não possuem forma específica determinada por lei ou mesmo por
decreto.

3.2 OUTROS DOCUMENTOS E REGISTROS DAS PESSOAS NATURAIS

Além dos registros – e averbações, anotações e transcrições – e das certidões


– as quais dão publicidade para os primeiros – de competência dos Registros Civis (Art.
1º, §1º da Lei nº 6.015/73), existem outros registros e cadastros das pessoas naturais
que são de competência de outros órgãos. Eles estão relacionados não apenas com
fatos jurídicos, mas visam também à identificação civil dos cidadãos brasileiros, para

51
que possam ter acesso à cidadania.

Trazemos aqui alguns exemplos destes registros e cadastros.

3.2.1 Carteira de Identidade e o Sistema Nacional de Registro


de Identificação Civil

A Carteira de Identidade é regulamentada pela Lei nº 7.116/83. Esta lei define que
“art. 1º – a Carteira de Identidade emitida por órgãos de Identificação dos Estados, do
Distrito Federal e dos Territórios tem fé pública e validade em todo o território nacional”
(BRASIL, 1983). Isto é, a competência para a expedição da Carteira de Identidade é dos
entes federados, geralmente a partir dos Institutos de Identificação – que por sua vez
estão ligados, mas não necessariamente, às Polícias Civis dos Estados, Territórios e
Distrito Federal.

Sua finalidade não é exaustivamente declarada: nem a Lei nº 7.116/83 – que


apenas define que ela “fará prova de todos os dados nela incluídos, dispensando
a apresentação dos documentos que lhe deram origem ou que nela tenham sido
mencionados” (BRASIL, 1983); e nem o Decreto nº 10.977/2022 – que dispõe que ela
“constitui documento de identidade válido para todos os fins legais” (BRASIL, 2022)
tratam de definir qual é a finalidade da Carteira de Identidade.

Já a Lei nº 9.454/97, que institui o número único de Registro da Identidade


Civil, define em seu Art. 1º que “é instituído o número único de Registro de Identidade
Civil, pelo qual cada cidadão brasileiro, nato ou naturalizado, será identificado em suas
relações com a sociedade e com os organismos governamentais e privados” (BRASIL,
1997).

Assim, podemos concluir que a Carteira de Identidade tem como finalidade


instituir um registro das pessoas junto ao Poder Executivo dos Estados e da União,
a fim de que possam ser identificadas tanto junto aos Poderes Públicos quanto às
entidades privadas, sempre que tiverem relações com a sociedade e com o governo.
Estão relacionadas, assim, com o conceito de cidadania. A Carteira de Identidade é
instrumento de cidadania da pessoa natural brasileira.

A Lei nº 7.116/83 define que, para a expedição da Carteira de Identidade, não serão
exigidos outros documentos que não a Certidão de Nascimento ou a de Casamento (Art.
2º) – ou Certificado de Naturalização, em caso de brasileiro naturalizado (Art. 2º, §2º). Há
também a definição de que a emissão da primeira Carteira de Identidade será feita de
maneira gratuita (Art. 2º, §3º).

Essa lei também define qual a formalidade da Carteira de Identidade (Art.


3°), como que ela deve ter as armas da República, o nome da Unidade da Federação,

52
fotografia, nome, filiação e outros dados. Também dispõe que é possível a inclusão de
outros dados, como o número do Cadastro de Pessoa Física no Ministério da Fazenda
e o número no Programa de Integração Social- PIS ou no Programa de Formação do
Patrimônio do Servidor Público- PASEP (Art. 4°).

A Lei nº 7.116/83 foi regulamentada pelo Decreto nº 10.977/2022. Foram incluídas


algumas novidades na lei, com o intuito de tornar a Carteira de Identidade digital, dando
mais capacidade de interconexão entre os dados da Carteira de Identidade e outros
registros nacionais:

• o primeiro ponto de novidade que o decreto traz é que a Carteira de Identidade


passa a ser chamada de Carteira de Identidade Nacional (CIN). Embora continue
sendo de competência dos entes federados a sua expedição, elas deverão seguir o
padrão de “segurança, integridade e interoperabilidade estabelecidos pela Câmara-
Executiva Federal de Identificação do Cidadão – CEFIC” (BRASIL, 2022). O Anexo III
do decreto traz as “DISPOSIÇÕES SOBRE O MODELO DE CARTEIRA DE IDENTIDADE
EM FORMATO DIGITAL” (BRASIL, 2022);

• o número de inscrição do Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) passa a ser o número


único, ou seja, adotado como o Registro Geral (RG), conforme o Art. 3º do Decreto
nº 10.977/2022. Na prática, o RG some como número de identificação, devendo ser
adotado, na Carteira de Identificação Nacional (CIN), apenas o número do CPF.

Caso a pessoa que requerer a CIN ainda não possua CPF, o órgão responsável
pela emissão realizará o cadastro na hora (Art. 3º, parágrafo único do Decreto nº
10.977/2022). Ainda, o número único passa a integrar o Serviço de Identificação do
Cidadão, criado pelo Decreto nº 10.900/2021.

O Decreto nº 10.977/2022 dispõe que o novo modelo de Carteira de Identidade


deverá ser adotado pelos órgãos expedidores a partir de março deste ano de 2023,
sendo que os documentos antigos terão validade de dez anos (BRASIL, 2022).

3.2.2 Carteira do cadastro nacional de pessoas físicas – CPF

Outro registro de pessoas naturais bastante conhecido é o Cadastro Nacional


de Pessoas Física – o CPF. O documento que comprova a inscrição neste cadastro,
para as pessoas naturais, é a Carteira do CPF. Este cadastro é realizado pelo Ministério
da Fazenda, que geralmente delega competência para a realização da inscrição no
cadastro e emissão do documento para outras entidades, como os Correios e a Caixa
Econômica Federal.

Diferente do Registro Civil de nascimento – cuja finalidade é dar publicidade


para um fato jurídico, qual seja, o nascimento de uma pessoa natural – e da Carteira de

53
Identidade – cuja finalidade é instituir um registro das pessoas junto ao Poder Executivo
dos Estados e da União, a fim de que possam ser identificadas tanto junto aos Poderes
Públicos quanto às entidades privadas, sempre que tiverem relações com a sociedade
e com o governo –, o Cadastro de Pessoas Físicas junto ao órgão fazendário teria – pelo
menos até a instituição do CPF como número único de identificação pelo Decreto nº
10.977/2022 – apenas finalidade tributária.

O cadastro das pessoas físicas é, acima de tudo, uma forma do Ministério da


Fazenda e da Receita Federal atuarem em sua função pública, qual seja, o recolhimento
de tributos.

3.2.3 Carteira de identidade profissional

O Art. 21, XXIV, CF, dispõe que é competência da União “organizar, manter e
executar a inspeção do trabalho” (BRASIL, 1988). Esta competência, no entanto,
geralmente é delegada, por lei, para outros órgãos, os Conselhos Profissionais – como o
CREA, a OAB e o CRM, por exemplo.

INTERESSANTE
Está em tramitação no Congresso Nacional o Projeto de Lei nº 3081/2022,
que busca desregulamentar profissões e atividades que não ofereçam risco à
segurança, à saúde, à ordem pública e à incolumidade individual e patrimonial.
Você pode acompanhar a sua tramitação pelo site: https://www.camara.leg.br/
proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2345303.

Estes órgãos têm competência, além de fiscalizar as atividades profissionais,


para expedir Carteira de Identidade Profissional para seus membros. É uma outra
forma de identificação das pessoas naturais, que não está relacionada com as demais
certificações, registros e cadastros.

A lei que institui cada um dos Conselhos Profissionais dispõe sobre as


obrigatoriedades e as formas de aquisição de cadastro e identificação profissional para
atuar dentro do território nacional, a partir da delegação de competência instituída por
lei pela União para esta atividade de fiscalização e cadastro.

54
4 “PESSOAS” JURÍDICAS

Agora, nosso foco será a união de pessoas naturais e físicas. Antes de


começarmos a explorar o registro, os cadastros, as certidões e as documentações das
pessoas jurídicas, precisamos explicar o porquê colocamos o termo “pessoas” entre
aspas no título deste quarto tópico.

Diferente das pessoas naturais, quando falamos de pessoas jurídicas a biologia


passa longe da definição. Pessoas jurídicas são ficções jurídicas, não existem como
seres vivos.

NOTA
Existem outras teses e teorias que tentam explicar o conceito de pessoa jurídica.
No entanto, acreditamos que a tese de ficção explica a existência e a necessidade
da constituição de grupos de pessoas destinadas a algum fim como entidades
portadoras de direitos e personalidade

Esta é uma explicação que pode soar como boba. No entanto, embora não
tenham relação com a biologia, existe uma razão de se chamar essas entidades como
pessoas. Isto porque, assim como as pessoas físicas e naturais, as pessoas jurídicas
possuem desejos, objetivos, identidade e também direitos, como o direito à propriedade.

Conforme afirma Loureiro (2014, p. 223), “a pessoa jurídica é um sujeito de


direito que possui, sob o ponto de vista jurídico, todos os atributos da pessoa física,
salvo aqueles inerentes à natureza específica desta última”. Até mesmo alguns direitos
da personalidade, como o direito à honra, podem ser atribuídos às pessoas jurídicas. Por
isso que recebem uma atenção especial do sistema jurídico brasileiro.

INTERESSANTE
Como exemplo de como os direitos das pessoas físicas podem ser expandidos para
as pessoas jurídicas, está na Súmula 227 do STJ que “a pessoa jurídica pode sofrer
dano moral”.

Fonte:https://www.stj.jus.br/docs_internet/revista/eletronica/stj-revista-sumu-
las-2011_17_capSumula227.pdf. Acesso em: 5 abr. 2023.

55
Não podemos negar, ainda, o caráter de incentivo ao empreendedorismo
e ao crescimento econômico intrínseco à criação da figura da pessoa jurídica como
instrumento de proteção das pessoas naturais aos riscos da atividade econômico.

Tal finalidade está até mesmo positivada no ordenamento jurídico. O Art. 49-A,
parágrafo único, CC, deixa claro que “a autonomia patrimonial das pessoas jurídicas é
um instrumento lícito de alocação e segregação de riscos, estabelecido pela lei com a
finalidade de estimular empreendimentos, para a geração de empregos, tributo, renda
e inovação em benefício de todos” (BRASIL, 2002). Por outro lado, quando fica claro
que a criação da pessoa jurídica é realizada apenas pelo desejo de praticar atos ilícitos,
como, por exemplo, blindar patrimônio pessoal, é possível que tal seja desconsiderada a
personalidade jurídica. Tal instituto, conhecido como desconsideração da personalidade
jurídica, é positivado no Art. 50, CC.

A seguir, estudaremos como são criadas, quais são os tipos e como são
publicizadas as pessoas jurídicas.

4.1 O NASCIMENTO DA PESSOA JURÍDICA

Como as pessoas naturais nascem parece não ser ainda um segredo. Apesar de
todo o avanço científico que estamos vivendo, inclusive avanços da área da genética e
da biologia em geral, ainda não é possível gerar pessoas naturais de modo espontâneo
– ao menos, não há divulgação científica de tais gerações espontâneas. E como as
pessoas naturais adquirem personalidade jurídica a partir do nascimento, não há muita
dúvida que é o nascimento a partir da união de dois gametas (masculino e feminino) que
gera o nascimento de uma pessoa física, um sujeito de direitos.

Já o nascimento de uma pessoa jurídica, por esta entidade ser uma ficção
jurídica, é determinado pela própria lei, a partir do disposto no Art. 45, CC:

Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito


privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro,
precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do
Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por
que passar o ato constitutivo (BRASIL, 2002).

Então, se é o nascimento com vida que faz com que o sujeito de direito passe
a existir, quanto às pessoas naturais é necessário que esta pessoa seja registrada,
publicizada, para que possa ser considerada existente legalmente.

56
Portanto, antes da inscrição do ato constitutivo da pessoa jurídica no registro
público competente, não há como se dizer existir legalmente a pessoa jurídica. Pode
existir agrupamento de pessoas para diversos fins – nunca sabemos quando um
encontro será casual ou se deste encontro surgirá uma associação, uma sociedade,
uma fundação, ou mesmo uma organização religiosa ou um partido político.

ESTUDOS FUTUROS
Associação, sociedade, fundação, organização religiosa e partido político são os tipos
de pessoas jurídicas existentes. Estudaremos mais a fundo cada uma delas, e seus
atos constitutivos, mais adiante!

Para que essa união possa adquirir a personalidade jurídica, ela precisa ser
registrada nos órgãos competentes, para se realizar a publicidade jurídica desta
constituição. O registro, a publicidade jurídica, é ato constitutivo primordial de uma
pessoa jurídica.

No caso de nascimento de um grupo de pessoas que se unem para um fim


econômico, mas ainda não transformado em pessoa jurídica, dizemos que se trata: ou
a) de uma sociedade em comum – quando todos os sócios respondem solidariamente
e ilimitadamente pelas obrigações sociais do grupo (Arts. 986-990, CC); ou b) de uma
sociedade em conta de participação – quando existe o chamado sócio ostensivo, que
desenvolve a atividade em nome individual e sob sua própria e exclusiva responsabilidade,
podendo os demais sócios participar dos resultados correspondentes (Arts. 991-996, CC).

Os atos constitutivos de uma pessoa jurídica – a autorização e o registro –


são o assunto principal deste nosso tema de aprendizagem. Antes de falarmos sobre
esses elementos, vamos classificar os tipos de pessoas jurídicas. Só assim poderemos
entender como cada uma dessas pessoas jurídicas se constitui especificamente.

4.2 TIPOS DE PESSOAS JURÍDICAS

Gonçalves (2021, p. 341) leciona que “a razão de ser da pessoa jurídica está na
necessidade ou conveniência de os indivíduos unirem esforços e utilizarem recursos
coletivos para a realização de objetivos comuns, que transcendem as possibilidades
individuais”.

Assim, mais do que pensar que as pessoas jurídicas são entidades que atuam
no comércio, na indústria e no setor de serviços como empresas, podemos pensar que

57
elas são uma força superior que une pessoas em prol de algum objetivo, formando uma
outra pessoa que engloba os desejos das pessoas individualizadas.

Isto é, a partir do momento em que um grupo de pessoas físicas se une para


que a pessoa jurídica aconteça, e que é devidamente dada a publicidade jurídica de que
esta pessoa “nasceu”, ela adquire uma personalidade jurídica própria. Junto com essa
personalidade, adquire direitos e obrigações que, em tese, não atingem os direitos e
obrigações das pessoas que lhe formaram – lembrando do instituto da desconsideração
da personalidade jurídica, que já citamos. Assim, como as pessoas físicas podem se unir
para diversos tipos de vontades em comum, é preciso distinguir os tipos de pessoas
jurídicas.

O Art. 40 do Código Civil (CC) classifica as pessoas jurídicas em três tipos:


a) pessoas jurídicas de direito público interno; b) pessoas jurídicas de direito público
externo; e c) pessoas jurídicas de direito privado. Vamos estudá-las mais a fundo?

4.2.1 Pessoas jurídicas de direito público interno

As pessoas jurídicas de direito público, como o nome sugere, são aquelas que
estão relacionadas com a Administração Pública. Elas podem adquirir diversas naturezas
jurídicas, ou seja, diversas formas de organização a partir das leis ou decretos que as
instituem – as Leis Orgânicas.

No Art. 41, CC, estão elencados os tipos de pessoas jurídicas de direito público
interno. São elas: a) União; b) Estados, Distrito Federal e Territórios; c) Municípios; d)
autarquias, inclusive as associações públicas; e e) demais entidades de caráter público
criadas por lei.

Assim, tanto as entidades da administração pública direta como indireta são


consideradas pessoas jurídicas, na categoria de pessoas jurídicas de direito público. Isso
significa que elas estão no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas – ou seja, possuem
um CNPJ.

A criação de uma pessoa jurídica de direito público da administração direta foi


feita pela Constituição Federal – Art. 18, CF: “a organização político-administrativa da
República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição” (BRASIL, 1988).

Já os órgãos públicos – como as secretarias e os ministérios – estão ligados


diretamente com essas pessoas de direito público. Por isso, não são pessoas jurídicas,
não possuem autonomia e cadastro no CNPJ. São apenas entidades de desconcentração
do Estado. São braços do Estado, como os braços das pessoas naturais.

58
Diferente, porém, é o caso das autarquias, que pertencem à administração
pública indireta. Por isso, são pessoas jurídicas, possuem autonomia, patrimônio próprio
e CNPJ. A criação de uma autarquia é regulamentada no Art. 37, XIX, CF – que dispõe
que elas só podem ser criadas por lei específica (BRASIL, 1988). As autarquias são
publicizadas a partir das leis específicas que as criam. Por isso, não são registradas nos
Registro Civil de Pessoas Jurídicas.

As associações públicas se dão pela relação entre pessoas jurídicas de direito


público. Por exemplo, a união entre municípios de uma região para a gestão de insumos
de saúde. As associações são levadas a registro junto ao Registro Civil das Pessoas
Jurídicas.

Além das autarquias e das associações, há outros tipos de pessoas jurídicas de


direito público interno da administração pública indireta. São os casos das empresas
públicas, das sociedades de economia mista e das fundações. Nesses casos, o Art.
37, XIX, CF dispõe que a lei específica serve apenas para autorizar a criação dessas
entidades. Elas podem ser autorizadas pela lei, mas suas Normas Orgânicas (de
organização) podem ser feitas por decreto. As fundações se diferem um pouco das
demais formas de pessoas jurídicas elencadas anteriormente, porque é preciso que
uma Lei Complementar defina a sua área de atuação (Art. 37, XIX, CF) (BRASIL, 1988).

Também é a lei que dá publicidade jurídica para essas pessoas jurídicas. Assim,
não são registradas no Registro Civil das Pessoas Jurídicas.

4.2.2 Pessoas jurídicas de direito público externo

Dispõe o Art. 42 do CC que “são pessoas jurídicas de direito público externo os


Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo direito internacional
público” (BRASIL, 2002). Assim, pertence a esta categoria tanto outros países e Estados
como as entidades transnacionais, como a ONU, a União Europeia e o Mercosul.

A constituição dessas entidades é regida por normas internacionais, e se baseia


em acordos bi ou multilaterais. Não recebem registro público no Brasil.

4.2.3 Pessoas jurídicas de direito privado

O Art. 44, CC, dispõe que são pessoas jurídicas de direito privado: a) as
associações; b) as sociedades; c) as fundações; d) as organizações religiosas; e e) os
partidos políticos (BRASIL, 2002).

As associações e as sociedades diferem-se em razão de uma única


característica. Enquanto as primeiras caracterizam-se por ser a união de pessoas sem
um fim econômico (BRASIL, 2002), no caso das sociedades a pessoa jurídica é instituída,

59
registrada e formalizada com o “precípuo escopo de exercer atividade econômica e
partilhar lucros” (STOLZE, 2020, p. 168).

As sociedades podem ser constituídas de diversas formas. Até mesmo são


possíveis sociedades de apenas uma pessoa. Estudaremos mais especificamente sobre
essas formas de sociedades no próximo tópico.

As fundações, por sua vez, não possuem como característica serem a união
de pessoas, mas a designação de parte de um patrimônio para determinado fim –
necessariamente um fim de: a) assistência social; b) cultural; c) defesa e conservação
do patrimônio histórico e cultural; d) educação; e) saúde; f) segurança alimentar e
nutricional; g) defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do
desenvolvimento sustentável; h) pesquisa científica, desenvolvimento de tecnologias
alternativas, modernização de sistemas de gestão, produção e divulgação de
informações e conhecimentos técnicos e científicos; i) promoção da ética, da cidadania,
da democracia e dos direitos humanos; e j) atividades religiosas (Art. 62, parágrafo
único, CC) (BRASIL, 2002).

Já as organizações religiosas são “todas as entidades de direito privado,


formadas pela união de indivíduos com o propósito de culto a determinada força ou forças
sobrenaturais, por meio de doutrina e ritual próprios, envolvendo, em geral, preceitos
éticos” (STOLZE, 2020, p. 179). Para Stolze (2020, p. 179), “nesse conceito enquadram-se,
portanto, desde igrejas e seitas até comunidades leigas, como confrarias ou irmandades”.
Por fim, os partidos políticos são também a união de pessoas em prol de alguma causa, no
caso “conquistar o poder para a consecução de um programa” (DINIZ, 2019, p. 301).

4.2.4 Tipos de sociedades

Para que possamos definir quais são os tipos de sociedades que podem ser
constituídas como pessoas jurídicas, podemos tomar o conceito legal de sociedades,
disposto no Art. 981, do CC, qual seja: “celebram contrato de sociedade as pessoas
que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de
atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados” (BRASIL, 2002).

Assim, podem existir diversas formas em que as pessoas se organizam para que
possam atingir a mesma finalidade – que no caso das sociedades é um fim de atividade
econômica.

A primeira classificação de sociedades se dá pela atividade que exercem: a) se


são atividades que se sujeitam a registro no Registro Público de Empresas Mercantis, são
consideradas Sociedade Empresárias. Os demais tipos de sociedade são considerados
sociedades simples (Art. 982, CC). As últimas são regulamentadas pelos Arts. 997 a 1038 do
Código Civil. Há ainda as Sociedades em Nome Coletivo (Art. 1.039 a 1044 do Código Civil)
e as Sociedades em Comanditas Simples (Art. 1.045 a 1.051 do Código Civil) (BRASIL, 2022).

60
ESTUDOS FUTUROS
Vamos nos ater ao Registro Público de Empresas Mercantis quando falarmos sobre
o registro de Sociedades Empresárias!

Já as sociedades empresárias podem ser classificadas como: a) Sociedade


Limitada – quando os sócios respondem apenas quanto ao valor de suas quotas, mas
que todos respondem solidariamente quando a integralização do capital social (Art.
1.052, CC); b) Sociedade Anônima ou Companhia – que obriga os sócios apenas pelo
preço da emissão das ações que subscreverem ou adquirirem (Art. 1.088, CC); e c)
Sociedade em Comandita por Ações (Arts. 1.090 a 1.092, CC). Por fim, há a Sociedade
Cooperativa (Arts. 1.093 a 1.096, CC) e a Sociedade Coligada (Arts. 1.097 a 1.101, CC).

A Lei Complementar nº 123/2006 instituiu o Estatuto Nacional da Microempresa


e da Empresa de Pequeno porte, que “estabelece normas gerais relativas ao tratamento
diferenciado e favorecido a ser dispensado às microempresas e empresas de pequeno
porte no âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios”
(BRASIL, 2006). É esta Lei Complementar que passou a conceituar as microempresas
(ME) e as empresas de pequeno porte (EPP), conforme a receita bruta que aufere
anualmente. Para que possam ser classificadas dentro desses patamares e poderem
usufruir dos benefícios do Estatuto próprio, essas empresas podem se constituir
como Sociedade Simples ou Empresária ou como empresário individual (Art. 3°, LC nº
132/2006).

Ainda, a LC nº 123/2006 cita os Microempreendedores Individuais (MEI). Trata-


se de uma forma de atividade empresarial, que se diferencia das ME e das EPP porque
possui arrecadação anual ainda mais baixa que a das Microempresas. Também é possível
existir, a partir da Lei nº 13.874/2019, a sociedade empresária limitada unipessoal, pois
esta lei alterou o Art. 1.052 do Código Civil.

Toda essa atividade legislativa está relacionada com questões tributárias e


de fomento à atividade econômica. Contudo, pouco interfere com relação ao registro
público e à publicidade jurídica. Assim como diferenciamos os cadastros civis e
tributários das pessoas físicas, devemos levar em conta que a publicidade jurídica das
pessoas jurídicas segue o mesmo padrão de paralelismo. Assim, cada um desses tipos
de sociedade possui características próprias, e devem ser levados a registro, conforme
essas características. Isto é, a lei define quais são os documentos necessários, como
esses documentos devem ser organizados e que elementos devem constar.

61
4.3 REGISTROS E AUTORIZAÇÕES DAS PESSOAS JURÍDICAS

Antes de nos debruçarmos sobre a publicidade jurídica quanto ao nascimento


das pessoas jurídicas, ou seja, o seu registro, temos que retomar o Art. 45 do Código Civil:

Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito


privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro,
precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do
Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por
que passar o ato constitutivo (BRASIL, 2002).

Feita tal retomada, agora podemos destrinchar, mesmo que brevemente, sobre
a autorização e o registro das pessoas jurídicas.

4.3.1 Autorização ou aprovação da pessoa jurídica em geral

Em alguns casos, a lei ou a própria Constituição Federal condicionam a criação


de uma personalidade jurídica à autorização ou à aprovação do Poder Executivo. Há
diversas atividades que podem gerar riscos financeiros, econômicos e sanitários à
coletividade, por exemplo. Por isso, dependem de autorização ou aprovação do Poder
Executivo.

Quando estudamos sobre os cadastros e identidades profissionais (item 3.2.3),


comentamos sobre os Conselhos Profissionais, entidades que recebem delegação
estatal para regulamentar a prática de diversas profissões. Estes são alguns exemplos
de autorizações e aprovações necessárias e que precedem, conforme o Art. 45, do CC.
As leis podem designar as necessidades de diversas outras autorizações para que se
possa realizar o registro das pessoas jurídicas.

4.3.2 Registro da pessoa jurídica em geral

Além do já citado Art. 45 do CC, que condiciona a existência da pessoa jurídica ao


registro, o Art. 114, da Lei nº 6.015/73, regulamenta aquele dispositivo, dispondo que serão
inscritos no Registro Civil de Pessoas Jurídicas: a) os contratos, os atos constitutivos,
o estatuto ou compromissos das sociedades civis, religiosas, pias, morais, científicas
ou literárias, bem como o das fundações e das associações de utilidade pública; b) as
sociedades civis que revestirem as formas estabelecidas nas leis comerciais, salvo as
anônimas; e c) os atos constitutivos e os estatutos dos partidos políticos.

62
NOTA
Sociedades pias são sociedades beneficentes que não se enquadram no conceito
de fundação ou de organização religiosa.

O conteúdo do registro, isto é, quais informações devem constar em um registro


púbico de pessoa jurídica, é regulamentado tanto pelo Código Civil, em seu Art. 46, como
pela Lei dos Registros Públicos (Lei nº 6.015/73). Tal duplicidade, no entanto, não traz
muita dificuldade, visto que os elementos obrigatórios dispostos nas duas legislações
são praticamente iguais. Vejamos o Quadro 2, que compara as duas normas.

Quadro 2 – Comparação entre o artigo 46, CC, e o artigo 120, lei nº 6.015/73

Art. 46, CC Art. 120, Lei nº 6.015/73


I – a denominação, os fins, a sede, o tem- I - a denominação, o fundo social, quan-
po de duração e o fundo social, quando do houver, os fins e a sede da associação
houver; ou fundação, bem como o tempo de sua
duração;
II – o nome e a individualização dos fun- VI - os nomes dos fundadores ou instituido-
dadores ou instituidores, e dos diretores; res e dos membros da diretoria, provisória
ou definitiva, com indicação da nacionalida-
de, estado civil e profissão de cada um, bem
como o nome e residência do apresentante
dos exemplares.
III – o modo por que se administra e representa, II - o modo por que se administra e representa
ativa e passivamente, judicial e extrajudicial- a sociedade, ativa e passivamente, judicial e
mente; extrajudicialmente;
IV – se o ato constitutivo é reformável no to- III - se o estatuto, o contrato ou o compromisso
cante à administração, e de que modo; é reformável, no tocante à administração, e de
que modo;
V – se os membros respondem, ou não, subsi- IV - se os membros respondem ou não, subsi-
diariamente, pelas obrigações sociais; diariamente, pelas obrigações sociais;
VI – as condições de extinção da pessoa jurídica V - as condições de extinção da pessoa
e o destino do seu patrimônio, nesse caso. jurídica e nesse caso o destino do seu pa-
trimônio;

Fonte: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm; http://www.planalto.gov.br/


ccivil_03/leis/l6015compilada.htm. Acesso em: 6 abr. 2023.
63
Entendemos que o Código Civil e a Lei nº 6.015/73 são leis que devem ser
interpretadas de maneira complementar. Isto é, no que uma lei dispõe somando
obrigações àquele que está realizando o registro – como no caso do inciso VI do Art.
120, Lei n° 6.015/73 e inciso II do Art. 46, CC, segunda linha da tabela apresentada –
deve-se interpretar a obrigação maior, ou seja, a que traz mais detalhes de como realizar
o registro.

Estes são os atos constitutivos comuns a todos os tipos de pessoas jurídicas.


Como já dissemos, a pessoa jurídica é condicionada a existir apenas se for registrada no
Registro Civil das Pessoas Jurídicas. No entanto, há atos constitutivos especiais para
alguns tipos de pessoas jurídicas. Ainda, nem toda publicidade jurídica é feita com o
registro no Registro Civil das Pessoas Jurídicas. Por isso, vamos especificar esses atos
especiais a partir de agora.

4.3.3 Registro das associações

Uma associação é regida por um estatuto, que é a espécie de contrato realizado


pelos associados para que possam participar da associação. O estatuto deve conter,
conforme o Art. 54, CC:

Art. 54. Sob pena de nulidade, o estatuto das associações conterá:

I - a denominação, os fins e a sede da associação;

II - os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos associados;

III - os direitos e deveres dos associados;

IV - as fontes de recursos para sua manutenção;

V - o modo de constituição e de funcionamento dos órgãos


deliberativos;

VI - as condições para a alteração das disposições estatutárias e para


a dissolução.

VII - a forma de gestão administrativa e de aprovação das respectivas


contas (BRASIL, 2002).

Esses são requisitos para que a associação não seja declarada nula. Por não
haver nenhuma lei em contrário, as associações são registradas no Registro Civil das
Pessoas Jurídicas.

64
4.3.4 Registro das fundações

Dispõe o Art. 62, CC, que:

Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública
ou testamento, dotação especial de bens livres, especificando o fim
a que se destina, e declarando, se quiser, a maneira de administrá-la
(BRASIL, 2002).

Logo, o ato constitutivo de uma fundação é também o estatuto – conforme


dispõe o Art. 67, CC. Além do disposto no Art. 54, CC, no que couber, é preciso, para
a constituição de uma fundação, da escritura pública ou do testamento que dispõe
parte do patrimônio e para qual finalidade tal patrimônio deve ser utilizado, dentro das
finalidades possíveis de uma associação, dispostas no Art. 62, parágrafo único, CC. O
registro de uma fundação também é realizado no Registro Civil de Pessoas Jurídicas.

4.3.5 Registro dos partidos políticos

O registro dos partidos políticos acontece em três etapas. A primeira é dirigida


ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas da sede do partido. Há alguns requisitos para
essa etapa, dispostos no Art. 8° da Lei nº 9.096/1995:

• deve haver no mínimo 101 fundadores, que precisam ter domicílio eleitoral em ao
menos 1/3 dos Estados brasileiros. Eles devem subscrever o pedido do registro;
• ao requerimento de registro é acompanhado:
• cópia autêntica da ata da reunião de fundação do partido;

• exemplares do Diário Oficial que publicou, no seu inteiro teor, o programa e o


estatuto;
• relação de todos os fundadores com o nome completo, naturalidade, número do
título eleitoral com a Zona, Seção, Município e Estado, profissão e endereço da
residência;
• o nome e a função dos dirigentes provisórios e o endereço da sede do partido no
território nacional.

O segundo momento da criação do partido político é o de obtenção de apoio de


um número mínimo de eleitores.

65
NOTA
Art. 7º, § 1º, Lei nº 9.096/95: só é admitido o registro do estatuto de partido político
que tenha caráter nacional, considerando-se como tal aquele que comprove, no
período de dois anos, o apoiamento de eleitores não filiados a partido político,
correspondente a, pelo menos, 0,5% (cinco décimos por cento) dos votos dados na
última eleição geral para a Câmara dos Deputados, não computados os votos em
branco e os nulos, distribuídos por um terço, ou mais, dos Estados, com um mínimo
de 0,1% (um décimo por cento) do eleitorado que haja votado em cada um deles.

Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9096.htm. Acesso em: 6 abr. 2023.

A terceira etapa é a de registro junto ao Tribunal Superior Eleitoral, através de


requerimento acompanhado de: a) exemplar autenticado do inteiro teor do programa e
do estatuto partidário, inscritos no Registro Civil; b) certidão do registro civil da pessoa
jurídica, a que se refere o § 2º do artigo anterior; e c) certidões dos cartórios eleitorais
que comprovem ter o partido obtido o apoiamento mínimo de eleitores a que se refere
o § 1º do Art. 7º (BRASIL, 1995).

4.3.6 Registro das organizações religiosas

Não há lei especificando de que forma deve ser registrar uma organização
religiosa. Assim, elas devem seguir as mesmas regras e ritos das associações. Elas
também são regidas por um estatuto, e seu registro é feito junto ao Registro Civil de
Pessoas Jurídicas da sede em que estão localizadas.

4.3.7 Registro das sociedades simples e empresárias

Quanto às empresas mercantis e atividades afins, há uma outra lei que


regulamenta a publicidade jurídica, a Lei nº 8.934/1994.

Esta lei cria os serviços de Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades


Afins. A organização destes serviços se dá pelo Sistema Nacional de Registros de
Empresas Mercantis (Sinrem), composto por: a) Departamento Nacional de Registro
Empresarial e Integração; b) as Juntas Comerciais – “órgãos locais, com função
executora e administradora dos serviços de registro”, conforme o Art. 3º da Lei nº
8.934/1994 (BRASIL, 1994).

66
Em resumo, quando são pessoas jurídicas (sociedades empresárias), o registro
é feito não no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, disposto no Art. 1°, § 1º, II da Lei nº
6.015/73, mas em registro específico, que se rege por lei própria, conforme o §2º do Art.
1º da mesma lei.

O registro de sociedades não empresária, no entanto, ainda é realizado pelo


Registro Civil de Pessoas Jurídicas.

Tanto a sociedade empresária quanto a simples (não empresária) têm como


documento constitutivo não o estatuto, mas o contrato social. É o Art. 997, CC, que
dispõe sobre o conteúdo deste documento:

Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito,


particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas partes,
mencionará:
I - nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios,
se pessoas naturais, e a firma ou a denominação, nacionalidade e
sede dos sócios, se jurídicas;
II - denominação, objeto, sede e prazo da sociedade;
III - capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo
compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação
pecuniária;
IV - a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la;
V - as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista
em serviços;
VI - as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade,
e seus poderes e atribuições;
VII - a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas;
VIII - se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas
obrigações sociais (BRASIL, 2002).

Para registro das sociedades empresárias junto às Juntas Comerciais – ato


que pela Lei nº 8.934/1994 recebe o nome de arquivamento – é necessário, segundo o
Decreto nº 1.800/1996, que regulamenta a Lei nº 8.934/1994:

Art. 34. Instruirão obrigatoriamente os pedidos de arquivamento:


I - instrumento original, particular, certidão ou publicação de
autorização legal, de constituição, alteração, dissolução ou extinção
de empresário individual, e de sociedade empresária, de cooperativa,
de ato de consórcio e de grupo de sociedades, e de declaração de
microempresa e de empresa de pequeno porte, datado e assinado,
quando for o caso, pelo titular, sócios, administradores, consorciados
ou seus procuradores e testemunhas;
II - declaração do titular ou administrador, firmada sob as penas da
lei, de não estar impedido de exercer a atividade empresarial ou a
administração de empresa, em virtude de condenação criminal;
III - ficha de cadastro nacional, conforme modelo aprovado pelo
Departamento Nacional de Registro Empresarial e Integração, a
qual conterá, no mínimo, as seguintes informações sobre a empresa
mercantil:

67
a) os titulares e administradores; e
b) a forma de representação;
IV - comprovantes de pagamento dos preços dos serviços
correspondentes;
V - prova de identidade do empresário individual e do administrador
de sociedade empresária e de cooperativa:
a) poderão servir como prova de identidade, mesmo por cópia
regularmente autenticada, a cédula de identidade, o certificado
de reservista, a carteira de identidade profissional, a carteira de
identidade de estrangeiro e a carteira nacional de habilitação;
b) para o imigrante, empresário individual ou administrador de
sociedade empresária ou cooperativa, a identidade conterá a
comprovação da condição de residente no País;
c) o documento comprobatório de identidade, ou sua cópia
autenticada, será devolvido ao interessado logo após exame, vedada
a sua retenção;
d) fica dispensada nova apresentação de prova de identidade no caso
de já constar anotada, em processo anteriormente arquivado, e desde
que indicado o número do registro daquele processo (BRASIL, 1996).

Não poderá ser requerido nenhum outro documento além dos constantes da
relação legal (Art. 34, parágrafo único, Decreto nº 1.800/96).

4.3.8 Registro da sociedade anônima

O registro das Sociedades Anônimas também é realizado junto às Juntas


Comerciais. Isto é, segue as normas específicas da Lei nº 8.934/1994 o do Decreto nº
1.800/1996. No entanto, o registro das ações é realizado em outro órgão específico, que
regulamenta o mercado de ações, a Comissão de Valores Mobiliários – CVM.

Esta Comissão foi criada pela Lei nº 6.385/76. Trata-se de entidade autárquica,
por isso independente, que tem entre suas funções proteger investidores e gerar
equidade e transparência para esse mercado específico.

68
LEITURA
COMPLEMENTAR
ATIVISTAS E CRIADORES DIVERGEM SOBRE PROJETO QUE TRANSFORMA
ANIMAIS EM SUJEITOS DE DIREITO

Proposta cria regime jurídico especial para animais, assegurando a eles o direito de
serem representados na Justiça em caso de violações

Murilo Souza e Ana Chalub

Aspectos jurídicos do Projeto de Lei 6054/19, conhecido como “PL animal não
é coisa”, colocaram em lados opostos, nesta sexta-feira (15), ativistas da causa animal e
criadores. Para os ativistas, o texto garante que animais vítimas de maus-tratos tenham,
por via judicial, a devida reparação do dano a eles causado. Criadores, adestradores
e segmentos do agronegócio acreditam que a proposta abre brechas para demandas
judiciais absurdas, tais como questionar a pecuária e o adestramento sob a alegação de
proteção animal.

O Projeto de Lei 6054/19 (antigo PL 6799/13) cria um regime jurídico especial


para animais não humanos, assegurando a eles, mesmo não tendo personalidade
jurídica, o direito de serem representados na Justiça em caso de violações. O texto
também veda o tratamento desses animais como coisas, reconhecendo-os como seres
sencientes, ou seja, passíveis de sofrimento.

Aprovado pela Câmara dos Deputados em 2017, o projeto foi alterado no Senado
em 2019. Os senadores incluíram emenda estabelecendo que a medida não se aplica a
animais usados na agropecuária, em pesquisas científicas e em manifestações culturais.

O texto aguarda agora votação na Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento


Sustentável da Câmara, que realizou audiência pública a pedido do autor do projeto,
deputado Ricardo Izar (PP-SP).

“Demandas bizarras”

Durante os debates, o representante da Federação Brasileira de Adestradores de


Animais Ubiratan Rabadan disse que a proposta permite questionamentos subjetivos,
que podem comprometer o processo de formação de cães para diversos fins. “Esse
projeto significa o fim dos cães-guias, dos cães-ouvintes, dos cães farejadores de
explosivos, armas e narcóticos, de busca e salvamento e de pastoreio, fora os cães da

69
saúde, especializados em terapias e na detecção de doenças”, advertiu.

Rabadan disse ainda que a alteração da natureza jurídica dos animais não
humanos pode saturar o Judiciário com o que considerou “demandas bizarras”. “Seu
vizinho, pelo simples fato de não gostar de você, decide representar os interesses do
seu cão em juízo, pedindo habeas corpus, ação de alimentos e indenização. Motivo:
você não deixava o cão entrar em casa”, disse. “Não podemos deixar de alertar para o
risco de pedidos matrimoniais e de reconhecimento conjugal interespécies, o que seria
uma legalização da zoofilia”, acrescentou.

Bem-estar animal

Favorável à proposta, a médica veterinária e diretora técnica do Fórum Nacional


de Proteção e Defesa Animal, Vânia Nunes, rebateu a ideia de subjetividade da proposta.
Para ela, a ciência já define claramente o bem-estar animal como “a condição psicológica
e fisiológica à qual o animal é capaz de se adaptar comodamente, podendo satisfazer
necessidades básicas e desenvolver capacidades”. Ela afirmou ainda que o projeto não
impede qualquer atividade envolvendo animais.

“Todos os que criam, tratam e cuidam dos seus animais não devem temer se o
fazem corretamente. Só devem temer o projeto aqueles que querem manter situações
de degradação, abuso, negligência, omissão ou crueldade contra animais”, disse ela.

Autor do projeto, o deputado Ricardo Izar disse que a medida apenas reconhece
a senciência dos animais. Ele também entende que a proposta não impede qualquer
atividade produtiva ou de adestramento nem o uso de animais em áreas como saúde
e segurança. “Isso não vai mudar em nada a relação dos pacientes com os animais.
Juridicamente, o projeto não proíbe essa questão”, disse o deputado, referindo-se ao
uso de cães no tratamento do autismo.

Divergências

Já o deputado Nelson Barbudo (PSL-MT) considera a proposta uma aberração


jurídica. “É um cavalo de Troia. Temos que cuidar dos animais, mas não podemos aprovar
esse projeto, que é a destruição do sistema produtivo do agronegócio. Como vamos
aplicar os agrotóxicos que acabam com a borboleta que destrói o milho? Vai chegar
algum juiz e dizer que não se pode matar as borboletas”. Barbudo também comentou
casos notificados pela imprensa dando conta de ações que atualmente já têm animais
como polo ativo. “Cão move ação contra o dono e assina com a própria patinha”, disse.

Diante das divergências, a presidente da comissão, deputada Carla Zambelli


(PSL-SP), sugeriu que Izar, por ser o autor, solicitasse o arquivamento do projeto
e apresentasse outro apenas proibindo o tratamento de animais como coisas e os
reconhecendo como seres capazes de sentir dor, ou seja, com outra abordagem jurídica.

70
Izar, no entanto, defendeu a manutenção do projeto por entender que todas as espécies
de animais não humanos merecem respeito. “Não retiro.”

Contrários à aprovação do PL, representantes da Associação Nacional de


Defesa dos Agricultores, Pecuaristas e Produtores da Terra; da Associação Brasileira
da Indústria de Produtos para Animais de Estimação; da Confederação Brasileira de
Cinofilia; e do Sindicato Nacional dos Criadores de Animais defenderam o arquivamento
do texto.

“Entendemos que animais não têm direitos, pelo simples fato de não poderem
ser atribuídas a eles quaisquer obrigações, princípio básico do Direito. O homem é que
deve ter a obrigação de cuidar dos animais, que devem sim ter garantias e proteções”,
argumentou Guilherme Bunguer, diretor do sindicato.

Por outro lado, a promotora de Justiça do Estado de Minas Gerais, Monique


Gonçalves, e o juiz Federal no Paraná, Vicente Ataíde Junior, defenderam a tese de que
todos os animais sencientes sejam sujeitos de direitos despersonificados, como prevê
o projeto.

“O animal deixará de ser o objeto material do crime para ser o sujeito passivo, a
vítima. A diferença é que os atos de maus-tratos, do ponto de vista civil, vão resultar em
responsabilidade direcionada ao próprio animal, permitindo indenizações para custear o
tratamento ou por danos morais”, disse a promotora.

Ataíde Junior sustentou que o projeto vai possibilitar uma nova estrutura de
proteção dos animais. Para ele, a proteção pela criminalização dos maus-tratos (Lei
Sansão) é insuficiente. “O processo penal não dá recursos para o tratamento médico
veterinário nem para a satisfação de outras necessidades do animal”, disse. Ele rebateu
a ideia de que o projeto vai criar demandas bizarras afirmando que só poderão ser
questionados casos concretos de maus-tratos.

Fonte: https://www.camara.leg.br/noticias/817294-ativistas-e-criadores-divergem-sobre-proje-
to-que-transforma-animais-em-sujeitos-de-direito%E2%80%A8/. Acesso em: 8 jan. 2023.

71
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:

• A diferença das formas como os indivíduos da sociedade são chamados: pessoa


natural, sujeito de direito, cidadão e pessoa física.

• Quais são os registros necessários para as pessoas naturais, como devem ser feitos
e quais os locais em que esses registros e cadastros são feitos.

• O que são e quais são os diferentes tipos de pessoas jurídicas.

• Como deve ser feito o registro de uma pessoa jurídica.

72
AUTOATIVIDADE
1 São indivíduos os animais humanos pertencentes à sociedade como um todo.
Durante a sua vida, podem ser reconhecidos pelo direito por diferentes nomes. Saber
do que se trata cada um desses nomes é importante para que se possa compreender
os registros e documentos aos quais esses indivíduos estão submetidos. Sobre os
conceitos de pessoa natural, sujeito de direito, cidadão e pessoa física, assinale a
alternativa CORRETA:

a) ( ) Pessoa natural é o ser humano que nasce com vida.


b) ( ) Nem toda pessoa natural é um sujeito de direitos, embora haja direitos reservados
aos nascituros.
c) ( ) Cidadão é aquele que possui carteira de identidade e CPF.
d) ( ) Pessoa física é a união de pessoas naturais, que se unem com uma finalidade
em comum.

2 Dispõe o Art. 44 do Código Civil que são pessoas jurídicas de direito privado: a) as
associações; b) as sociedades; c) as fundações; d) as organizações religiosas; e e)
os partidos políticos. Sobre o exposto, associe os itens, utilizando o código a seguir:

I- Associações.
II- Sociedade Simples.
III- Sociedade Empresária.
IV- Fundações.

( ) União de pessoas naturais com intuito não econômico.


( ) União de pessoas naturais com intuito econômico, cujas atividades não são aquelas
que devem ser inscritas no Registro Civil de Pessoas Jurídicas.
( ) Parte de um patrimônio alocado para uma finalidade específica.
( ) União de pessoas naturais com intuito econômico, cujas atividades são aquelas que
devem ser inscritas no Registro Civil de Pessoas Jurídicas.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

Fonte: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/
l10406compilada.htm. Acesso em: 6 abr. 2023.

a) ( ) II - I - III - IV.
b) ( ) I - II - IV - III.
c) ( ) III - IV - II - I.
d) ( ) IV - III - I - II.

73
3 Embora existam diversos tipos de pessoas jurídicas, todas elas devem ser registradas
no Registro Civil das Pessoas Jurídicas, para que possam existir legalmente.
Considerando esta afirmação, responda: ela está correta? Se não concorda, discorra
sobre o local correto de registro: a) das autarquias; b) da sociedade simples; c) da
sociedade empresária; e d) das associações.

4 Maria Helena Diniz afirma que os partidos políticos são a união de pessoas em prol
de “conquistar o poder para a consecução de um programa” (DINIZ, 2019, p. 301). O
Registro dessas pessoas jurídicas passa por três etapas. Explique essas etapas.

Fonte: DINIZ, M. H. Curso de Direito Civil Brasileiro. 36. ed. São


Paulo: Saraiva, 2019.

74
REFERÊNCIAS
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públicos, e dá outras providências. Brasília, DF: Diário Oficial [da] República Federativa
do Brasil, 14 jul. 2010. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2010/decreto/D7231.htm#:~:text=DECRETO%20N%C2%BA%207.231%2C%20
DE%2014,p%C3%BAblicos%2C%20e%20d%C3%A1%20outras%20provid%C3%AAncias.
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âmbito da administração pública federal direta, autárquica e fundacional, e altera o
Decreto nº 8.936, de 19 de dezembro de 2016, o Decreto nº 10.543, de 13 de novem-
bro de 2020, e o Decreto nº 9.278, de 5 de fevereiro de 2018. Brasília, DF: Diário Oficial
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presidencia.gov.br/atos/?tipo=DEC&numero=10900&ano=2021&ato=32eUTRU9UM-
ZpWT560. Acesso em: 5 abr. 2023.

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expedição da Carteira de Identidade por órgãos de identificação dos Estados e do
Distrito Federal, e a Lei nº 9.454, de 7 de abril de 1997, para estabelecer o Serviço de
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Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte; altera dispositivos das Leis
no 8.212 e 8.213, ambas de 24 de julho de 1991, da Consolidação das Leis do Trabalho
- CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, da Lei no 10.189, de
14 de fevereiro de 2001, da Lei Complementar no 63, de 11 de janeiro de 1990; e revoga
as Leis no 9.317, de 5 de dezembro de 1996, e 9.841, de 5 de outubro de 1999. Brasília,
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previsto no inciso XXXIII do art. 5º, no inciso II do § 3º do art. 37 e no § 2º do art. 216 da
Constituição Federal; altera a Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990; revoga a Lei nº
11.111, de 5 de maio de 2005, e dispositivos da Lei nº 8.159, de 8 de janeiro de 1991; e dá
outras providências. Brasília, DF: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 18
nov. 2011. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/
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sília, DF: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 14 ago. 2018. Disponível em:
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BRASIL. Lei nº 13.874, de 20 de setembro de 2019. Institui a Declaração de Direi-


tos de Liberdade Econômica; estabelece garantias de livre mercado; altera as Leis
nos 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), 6.404, de 15 de dezembro de
1976, 11.598, de 3 de dezembro de 2007, 12.682, de 9 de julho de 2012, 6.015, de 31 de
dezembro de 1973, 10.522, de 19 de julho de 2002, 8.934, de 18 de novembro 1994, o
Decreto-Lei nº 9.760, de 5 de setembro de 1946 e a Consolidação das Leis do Trabalho,

77
aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943; revoga a Lei Delegada nº 4,
de 26 de setembro de 1962, a Lei nº 11.887, de 24 de dezembro de 2008, e dispositivos
do Decreto-Lei nº 73, de 21 de novembro de 1966; e dá outras providências. Brasília,
DF: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 20 set. 2019. Disponível em: ht-
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BRASIL. Lei n° 14.063, de 23 de setembro de 2020. Dispõe sobre o uso de assina-


turas eletrônicas em interações com entes públicos, em atos de pessoas jurídicas e em
questões de saúde e sobre as licenças de softwares desenvolvidos por entes públicos;
e altera a Lei nº 9.096, de 19 de setembro de 1995, a Lei nº 5.991, de 17 de dezembro
de 1973, e a Medida Provisória nº 2.200-2, de 24 de agosto de 2001. Brasília, DF: Diário
Oficial [da] República Federativa do Brasil, 23 set. 2020. Disponível em: https://www.in.
gov.br/en/web/dou/-/lei-n-14.063-de-23-de-setembro-de-2020-279185931. Acesso
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BRASIL. Lei nº 14.382, de 27 de junho de 2022. Dispõe sobre o Sistema Eletrônico


dos Registros Públicos (Serp); altera as Leis nºs 4.591, de 16 de dezembro de 1964,
6.015, de 31 de dezembro de 1973 (Lei de Registros Públicos), 6.766, de 19 de dezembro
de 1979, 8.935, de 18 de novembro de 1994, 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código
Civil), 11.977, de 7 de julho de 2009, 13.097, de 19 de janeiro de 2015, e 13.465, de 11 de
julho de 2017; e revoga a Lei nº 9.042, de 9 de maio de 1995, e dispositivos das Leis nºs
4.864, de 29 de novembro de 1965, 8.212, de 24 de julho de 1991, 12.441, de 11 de julho
de 2011, 12.810, de 15 de maio de 2013, e 14.195, de 26 de agosto de 2021. Brasília, DF:
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WOLKMER, A. C. Pluralismo Jurídico: fundamentos de uma nova cultura do direito. 4.


ed. São Paulo: Saraiva, 2015.

79
80
UNIDADE 2

DIREITO DAS COISAS,


DOCUMENTOS E GARANTIAS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• diferenciar todos os tipos de direitos das pessoas sobre as coisas – chamados de


Direitos Reais;

• estudar a troca de Direitos Reais e, inclusive, como essas trocas devem ser
publicizadas;

• saber o que é usucapião, bem como saber diferenciar os seus diversos tipos;

• conhecer a alienação fiduciária e as demais formas de Direitos Reais de Garantia;

PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.

TEMA DE APRENDIZAGEM 1 – POSSE, PROPRIEDADE, USO E OUTROS DIREITOS REAIS

TEMA DE APRENDIZAGEM 2 – TROCANDO DIREITOS REAIS

TEMA DE APRENDIZAGEM 3 – GARANTIAS

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

81
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!

Acesse o
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82
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
POSSE, PROPRIEDADE, USO E OUTROS
DIREITOS REAIS

1 INTRODUÇÃO
Olá! Seja novamente bem-vindo ao nosso livro didático. Agora, começamos nossa
segunda unidade de estudo. Se, na primeira, o objetivo foi estudar sobre as pessoas físicas
e as pessoas jurídicas, focando na publicidade jurídica e nos documentos, nesta segunda
unidade, nós dialogaremos sobre os direitos dessas pessoas em relação às coisas. Como
ciência, o Direito separa essa parte do Direito, atribuindo-lhe o nome de Direitos Reais.

Contudo, o nome pode ser confuso. É claro que não existem direitos irreais,
direitos fictícios. O nome “Direitos Reais” está ligado à palavra de origem latina res, que
significa coisa. Assim, os Direitos Reais são aqueles direitos que as pessoas – físicas ou
jurídicas – adquirem – de diversas formas – sobre as coisas e, a partir do momento que
possuem esses direitos, podem alienar, trocar com outras pessoas, emprestar ou alugar
– dentre tantas outras formas de trocar Direitos Reais por outras obrigações ou, mesmo,
por outros Direitos Reais.

Os Direitos Reais mais conhecidos são a posse, o uso, a propriedade, mas existem
diversos outros tipos de direitos que as pessoas exercem sobre as coisas e que serão
objeto de estudo nesta unidade. Quando falamos de “coisas”, precisamos dizer que elas
podem ser tanto materiais (ou corpóreas) – como os carros, os imóveis, os móveis e os
livros – quanto imateriais (ou incorpóreas) – como a propriedade intelectual e artística.
O estudo dos registro e dos direitos sobre as coisas imateriais será tema específico da
terceira unidade do nosso livro. Aqui, falaremos, prioritariamente, sobre o direito das
pessoas sobre coisas móveis e imóveis.

Neste primeiro tema de aprendizagem, focaremos nosso estudo nas diversas


modalidades de Direitos Reais e em como se dá a publicidade jurídica desses direitos.
Serão temas de aprendizagem seguintes desta Unidade 2: as formas de trocas de Direitos
Reais e, também, o estudo dos Direitos Reais de Garantia.

Esperamos que você goste da leitura e reflita bastante sobre cada um desses
direitos. Comecemos!

83
2 COMEÇANDO A CARACTERIZAR OS DIREITOS REAIS
Dissemos, na introdução, que os Direitos Reais são aqueles que as pessoas têm
sobre coisas. No entanto, será preciso nos aprofundarmos um pouco mais sobre esse
conceito para que possamos, no momento seguinte, nos ater ao estudo de cada um dos
tipos de Direitos Reais existentes.

2.1 SUJEITO PASSIVO UNIVERSAL


Para Pontes de Miranda (2012), o que diferencia o Direito Real do Direito Pessoal é
que, no primeiro, o sujeito passivo é universal. Explicando melhor, nas palavras do autor,
se “o direito pessoal é direito a ato, ou conduta, de outrem […] O direito real tem como
conteúdo a coisa, de modo que a prestação da parte contrária apenas é consequência
do direito” (MIRANDA, 2012, p. 61).

ESTUDOS FUTUROS
No segundo tema de aprendizagem, nós falaremos de contratos. Eles são
uma das formas de Direitos Pessoais, ou seja, o direito que uma pessoa tem
de exigir que outra pessoa – física, jurídica, privada ou pública – cumpra uma
obrigação. Por enquanto, nosso foco estará somente nos Direitos Reais!

Se você firma um contrato com alguém ou afirma que cumprirá uma obrigação
qualquer, as pessoas dessa relação estão totalmente definidas: você e outra pessoa.
Quando você compra uma roupa, por exemplo, acontece uma relação entre você –
sujeito passivo que recebe a roupa – e a loja ou uma vizinha que vende roupas – sujeito
ativo que fornece a roupa. Quase todos os contratos que conhecemos possuem duas
figuras: aquela que compra e aquela que fornece.

No entanto, no Direito das Coisas, quando você tem a propriedade de algo,


essa propriedade é em relação à coisa, e não a uma outra pessoa determinada. As
demais pessoas – e não apenas a pessoa que vendeu a coisa para você – são os
sujeitos passivos dessa relação, sabem que aquela coisa pertence a você. Você exerce
a propriedade contra todas as pessoas. Ou seja, chama-se “Direito das Coisas” porque,
ao contrário de outros direitos que relacionam duas ou mais pessoas, ele é o direito
que uma pessoa tem sobre o objeto, o que obriga toda a coletividade de pessoas, e não
apenas uma. É por isso que Pontes de Miranda fala de um sujeito passivo universal,
ou seja, independentemente de qualquer relação entre as pessoas, isto é, “a relação
jurídica a que correspondem os direitos reais limitados é entre o titular do direito e todos:
o sujeito passivo do direito é total” (MIRANDA, 2012, p. 61).

84
NOTA
Pontes de Miranda (2012) fala sobre “direitos reais limitados” na citação anterior.
Trata-se de uma classificação dos Direitos Reais que envolvem duas categorias:
a) direito na coisa própria: a propriedade; e b) direito na coisa alheia: quando
se tem direito sobre uma coisa, mas não se tem a propriedade daquela coisa.
É o caso do uso e da habitação, por exemplo. É uma classificação que interessa
mais à teoria jurídica do que para nossos temas. Por isso, não se preocupe em
decorar esse conceito.

Vejamos o Quadro 1 para compreender melhor:


Quadro 1 – Diferenças entre obrigação, contrato e Direito Real

Obrigação Obriga B a prestar algo.

Contrato Obriga A, B, C etc. a prestarem algo mutuamente.

Afirma que A tem algum dos Direitos Reais sobre uma coisa e
Direito Real obriga aos demais quanto aquele direito. A publicidade jurídi-
ca desse direito não se dá por contrato, mas por registro.
Fonte: o autor

ESTUDOS FUTUROS
As obrigações e os contratos serão nosso objeto de estudo no segundo tema
de aprendizagem desta unidade!

2.2 A PUBLICIDADE DO DIREITO REAL OBRIGA GERAL


Caro aluno, embora não esteja escrito na Constituição ou no Código Civil
sobre a existência desse sujeito passivo universal ou da existência de um direito total,
a publicidade jurídica de um Direito Real, o direito sobre uma coisa, obriga todas as
pessoas quanto ao Direito Real pertencente a alguém. É isso que está explícito nos Arts.
1.227 e 1.228 do Código Civil: “Art. 1.227. Os direitos reais sobre imóveis constituídos, ou
transmitidos por atos entre vivos, só se adquirem com o registro no Cartório de Registro
de Imóveis dos referidos títulos (arts. 1.245 a 1.247), salvo os casos expressos neste
Código” (BRASIL, 2002, on-line).

Teremos, à frente, a oportunidade de atermos mais especificamente ao Direito


Real de Propriedade – disposto no Art. 1.228, CC citado – e aos demais Direitos Reais.
Entretanto, o que queremos demonstrar, por enquanto, é tanto o grau de universalidade

85
do sujeito passivo dos Direitos Reais como a importância do devido registro público
desse direito, a forma de dar publicidade jurídica a esse fato jurídico – qual seja: o direito
sobre uma coisa.

Pelo disposto no Art. 1.245, CC, por isso, é possível observar que “transfere-
se entre vivos a propriedade mediante o registro do título translativo no Registro de
Imóveis; § 1º Enquanto não se registrar o título translativo, o alienante continua a ser
havido como dono do imóvel” (BRASIL, 2002, on-line).
Da mesma forma, o Art. 108, CC, dispõe que “não dispondo a lei em contrário, a
escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição,
transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior
a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País” (BRASIL, 2002, on-line).

ESTUDOS FUTUROS
Estudaremos, no segundo tema de aprendizagem desta unidade, o conceito e
os quesitos de validade de um negócio jurídico.

IMPORTANTE
Note! O que se registra no caso de aquisição de um bem por compra e venda,
por exemplo, não é a transferência do bem – negócio jurídico –, mas que houve
uma troca de propriedade e que outra pessoa passou a ter a propriedade do
bem. Faz-se a publicidade da propriedade, e não do contrato.

Dito isso, a partir de agora, debruçar-nos-emos sobre cada uma das formas de
Direitos Reais possíveis e elencadas no Código Civil brasileiro.

3 POSSE E DETENÇÃO
Antes de começarmos a falar sobre a posse e a detenção, teremos que,
novamente, pedir desculpas por uma generalização que realizamos no texto anterior.
Dissemos, na introdução deste tema de aprendizagem, que os Direitos Reais podem ser
traduzidos como Direito das Coisas. Contudo, devemos constatar que tal afirmação é
um equívoco, mas não estamos sozinhos. Grande parte da doutrina coloca os Direitos
Reais como sinônimo dos Direitos das Coisas.

Acontece que, na organização do Código Civil (Lei nº 10.406/2002), os Direitos


Reais aparecem com espécie de Direito das Coisas. Isto é, os Direitos Reais são uma das

86
formas de Direitos das Coisas, mas não todas. Isso porque o Livro III do Código Civil, “Do
Direito das Coisas”, está separado em 11 títulos diferentes: o primeiro é a) Da Posse (Arts.
1.196 a 1.224); e, depois, b) Dos Direitos Reais (Arts. 1.225 a 1.227) – é nesse título, no Art.
1.225, que são elencados todos os Direitos Reais.

Em resumo: a posse não é classificada como um Direito Real. Ela é um direito


sobre as coisas, mas é precário. Por isso, não necessariamente é registrado. Ficará mais
compreensível a partir deste ponto.

Os Direitos Reais, depois, são regulamentados nos demais títulos, a saber:

• Da Propriedade (Arts. 1.228 a 1.368-F).


• Da Superfície (Arts. 1.369 a 1.377).
• Das Servidões (Arts. 1.378 a 1.389).
• Do Usufruto (Arts. 1.390 a 1.411).
• Do Uso (Arts. 1.412 e 1.413).
• Da Habitação (Arts. 1.414 a 1.416).
• Do Direito do Promitente Comprador do Imóvel (Arts. 1.417 e 1.418).
• Do Penhor, da Hipoteca e da Anticrese (Arts. 1.419 a 1.510).
• Da Laje (Art. 1.510-A a 1.510-E).
• Concessão de Uso Especial para Fins de Moradia (MP 2.220/2001 e Art. 183 da CF).
• Concessão de Direito Real de Uso (Lei n. 14.133/2021).

Elencamos todos os títulos do livro do Direito das Coisas do Código Civil por dois
motivos. O primeiro é para que você possa ter um guia, uma espécie de sumário, toda
vez que precisar se aprofundar sobre a legislação específica de cada uma das espécies
dos Direitos Reais. O segundo motivo é para deixar claro que a posse não se encontra
entre os Direitos Reais.

NOTA
O penhor, a hipoteca e a anticrese, além de outros institutos legais, são Direitos
Reais de Garantia. Serão analisados no último tema de aprendizagem desta
unidade, por isso, não nos aprofundaremos sobre eles agora.

Esta distinção pode parecer apenas metodológica e orgânica do Código Civil,


uma regra de organização didática, mas tem uma razão de ser. A posse, mais do que um
direito sobre as coisas, possui características específicas que merecem ser explicadas.
Para isso, primeiramente, buscaremos explicar um conceito de posse e, depois,
explicaremos as suas características. O mais importante é que você consiga diferenciar
a posse da propriedade e das demais maneiras de Direitos Reais.

87
3.1 ETIMOLOGIA
Buscar conceitos, jurídicos ou não, na etimologia – estudo da origem das
palavras – pode ser interessante e confuso ao mesmo tempo. Com a palavra “posse”,
não é diferente. Isso porque, em português, ela é usada para diversas interpretações.
Por muitas vezes, ela se confunde com a palavra poder. Uma pessoa de posses, por
exemplo, é uma pessoa com muitos bens e, por isso, é uma pessoa com poder, ao
contrário das pessoas sem posses.

Quando alguém assume um poder, um servidor público, ele toma posse do


cargo. Entretanto, a posse é usada para a tomada de poder de coisas materiais, também,
como se apossar de algo, tomar posse, reintegração de posse de um imóvel. Assim, para
o português, “posse” pode ser tomar para si e, ao mesmo tempo, ter o poder sobre algo.

Apesar de toda essa confusão sobre o conceito de posse, o que nos importa
aqui é, prioritariamente, distinguir a posse do ter e do deter, ou seja, da propriedade e
da detenção.

3.2 CONCEITO JURÍDICO

O Art. 1.196 do Código Civil traz um conceito nada claro sobre a posse: “considera-
se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos
poderes inerentes à propriedade” (BRASIL, 2002, on-line).

Assim, para entender o que é a posse, precisaríamos, primeiro, entender o que


é a propriedade. Olhando para o Art. 1.228, CC, portanto, o conceito de posse fica um
pouco mais claro. O dispositivo traz que “o proprietário tem a faculdade de usar, gozar
e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a
possua ou detenha” (BRASIL, 2002, on-line).

Então, o que temos, até agora, na construção de uma conceito de posse, é


que possuir é, de alguma forma, usar, gozar e dispor de alguma coisa, mesmo que não
seja o proprietário daquela coisa. O possuidor, inclusive, junto com o proprietário, pode
defender essa posse de outras pessoas que atentem contra ela.

3.3 DETENÇÃO

O Código Civil trata, também, de distinguir duas modalidades de direitos sobre as


coisas, mas que ainda não são Direitos Reais: a posse e a detenção.

A posse é exercida em conta própria. A pessoa exerce a posse e a protege em seu


próprio nome, defendendo a posse para seu próprio uso, gozo ou disposição da coisa. Já a

88
detenção ocorre quando a posse é exercida sob o comando de alguém de quem aquele que
detêm o bem se encontra em grau de dependência (Art. 1.198, CC).

O exemplo clássico da detenção é o do caseiro em relação ao bem de propriedade


daquele que é seu chefe – o proprietário ou aquele que aluga o imóvel onde o caseiro
presta serviço. Contudo, existem outros exemplos, como os parentes, os hóspedes e os
administradores dos bens alheios. O detentor, assim como o possuir, pode defender a posse
contra invasores ou outras pessoas que queiram oferecer resistência à posse ou detenção.

INTERESSANTE
Um filho entrou com um pedido de usucapião requerendo a propriedade de
um imóvel da sua mãe, no qual já morava há 16 anos. Você acha que o juiz
deveria conceder?

Aquele, porém, que detém algo nunca age como possuidor ou como proprietário.
Sabe que não possui e nem que é dono da coisa. E o mais importante para o Direito: não
tem a vontade de ter a posse e nem de ser o proprietário do bem que detém.

NOTA
Os autores dos Direitos Reais explicam, com base em estudos até mesmo
do Direito Romano, que a posse possui dois elementos: a) a coisa (no latim,
corpus); e b) a vontade de ter a coisa como posse ou como proprietário (no
latim, animus domini). Aquele que tem a coisa sem o animus domini, como,
por exemplo, o detentor e o locatário, não exerce uma posse que requeira a
usucapião. Entretanto, nós só falaremos da usucapião no segundo tema de
aprendizagem!

3.4 CLASSIFICAÇÕES DA POSSE

A posse tem quatro classificações. Ela pode ser: a) justa ou injusta; b) de boa ou
má-fé; c) com ou sem justo título; e d) direta e indireta. Contudo, uma posse, claro, pode
ser classificada em diversos desses elementos, a depender do critério. Uma posse pode
ser injusta e com justo título, por exemplo.

A posse justa, para o art. 1.200, CC, é aquela que não é violenta, clandestina
ou precária. Por outro lado, as posse injustas são aquelas viciadas (defeituosas) desde
a sua origem. Posse violenta é aquela que se adquire “por ato de força, seja ela natural

89
ou física, seja moral ou resultante de ameaças que incutam na vítima sério receio”
(PEREIRA, 2017, p. 42). A posse clandestina é exercida com ocultamento, escondendo
a posse da pessoa que possui posse ou propriedade da coisa. Já a posse precária é
exercida por aquele que tem a obrigação de restituir, mas “arroga-se a qualidade de
possuidor, abusando da confiança, ou deixando de devolvê-la ao proprietário, ou ao
legítimo possuidor” (PEREIRA, 2017, 43).

Quanto à boa-fé ou à má-fé na posse, trata-se de um elemento subjetivo de


classificação. Isso porque, para esse critério, deve-se analisar a intenção daquele que
possui a posse. Assim, a posse de boa-fé se dá por aquele que tem convicção de que
exerce a posse de maneira legítima. Já a posse de má-fé é exercida sabendo-se da
ilegitimidade daquela.

O justo título, por sua vez, é aquele que dá a quem tem a posse a ideia ou a
convicção de que ela é justa. Um justo título, por exemplo, é um contrato de compra e
venda, porque aquele que compra tem um documento hábil (título) que dá a ideia de
que exerce a posse de maneira justa. Entretanto, não são apenas documentos oficiais
ou formais que podem ser entendidos como título justo. O possuidor pode exercer uma
posse “a título hereditário”, por exemplo, quando os pais falecem e ele fica na posse
do imóvel, ainda que não feita, legalmente, a partilha de bens. Assim, o termo título,
na caracterização de uma posse a justo título, significa a causa ou o elemento criador
daquela posse, e não necessariamente um título público ou um outro documento.

Por fim, a posse direta e a indireta coexistem, não são opostas. Ou seja, o
possuidor direto é aquele que está usando e fruindo do bem diretamente, enquanto
há outra pessoa que possui a posse, mas não usa ou frui dela diretamente, apenas
de maneira mediata, indiretamente. Explicando com um exemplo, fica mais claro: em
um contrato de locação de imóvel, aquele que está locando o imóvel (o inquilino) é o
possuidor direto da coisa, possui o imóvel, usa e frui, de maneira direta a depender do
contrato que firma com o proprietário do bem. Já a pessoa que está locando o imóvel
possui a posse de modo indireto, não deixa de ter a posse, mesmo que indiretamente
em favor do inquilino.

IMPORTANTE
Não é totalmente correto que apenas o proprietário de uma coisa seja o
possuidor indireto. É possível que alguém não tenha a propriedade da coisa e,
mesmo assim, exerça a posse indiretamente.

90
3.5 QUANDO NASCE A POSSE

As diversas formas para se classificar a posse dão a clara noção de que ela
pode ser adquirida de diversas formas: com legitimidade ou não; de maneira violenta,
clandestina e precária; com justo título ou não.

O Art. 1.204 do CC dispõe que “adquire-se a posse desde o momento em que


se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à
propriedade” (BRASIL, 2002, on-line). A partir disso, podemos deduzir, se ainda não ficou
claro: a) a aquisição da posse não tem relação alguma com a legalidade ou legitimidade
dessa aquisição; b) adquire-se a posse a partir do momento que se começa a usar e
gozar do bem e, em alguns casos, até mesmo, dispor do bem – alugar e vender, por
exemplo.

A doutrina separa a aquisição da posse em duas classificações. A aquisição


originária se dá: a) a partir do momento em que o possuidor apreende a coisa; b) quando
o possuidor passa a exercer alguns dos poderes de proprietário (usar, gozar, dispor)
da coisa, mesmo que não a tenha apreendido. Já a aquisição derivada pode se dar: a)
com a tradição, ou seja, a entrega da coisa do antigo possuidor para o novo possuidor;
b) com o constituto possessório, quando se transfere a titularidade de um bem para
outra pessoa, mas ainda se mantêm possuidor do bem – um exemplo é quando uma
pessoa mora na casa e a vende para outra pessoa, no entanto, a pessoa que adquire
permite (por contrato ou caridade) que aquele que possuía o bem continue a fazê-lo.
Por fim, tem-se a aquisição de posse do herdeiro do bem, disposta no Art. 1.206, CC, em
que “a posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do possuidor com os mesmos
caracteres” (BRASIL, 2002, on-line).

91
NOTA
Uma coisa que pode ter gerado uma pulga atrás da sua orelha, acadêmico, é
sobre como se prova que existe a posse ou em que momento ela se constitui.
Essa é uma dúvida que não consegue ser resolvida completamente, nem
mesmo pelos autores do Direito. Isso porque essas definições se tratam,
na maioria das vezes, de interpretação subjetiva que será dada por alguém
que tenha que resolver algum conflito – um mediador, um titular de registro
público, um juiz, por exemplo.

As leis não conseguem oferecer respostas exatas para todas as situações que
ocorrem cotidianamente, porque a sociedade não vive situações organizadas,
como são as leis. Não lemos as leis e classificamos nossas condutas para, depois,
executá-las, mas, justamente, o contrário. Cabe ao Direito fornecer algumas
ferramentas para que o jurista, e você, como despachante documentalista,
encontre soluções para as relações que a sociedade realiza.

Dito isso, o que estudamos é o dever ser, e não como as situações ocorrem
naturalmente. Assim, a prova do momento em que começa a existir a posse
depende de elementos comprobatórios diversos, como fotos, testemunhos,
depoimentos, que serão interpretados por quem quer que seja chamado para
resolver o conflito, até mesmo o despachante documentalista.

Outro ponto importante é disposto no Art. 1.208, CC: “não induzem posse os
atos de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os
atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade”
(BRASIL, 2002, on-line). Assim, enquanto exercida por permissão e tolerância, o uso, a
disposição e o gozo do bem, não ocorre a posse. Ainda, a posse só se torna legítima
quando não é exercida a partir de violência ou de clandestinidade.

IMPORTANTE
Se a propriedade e os demais direitos reais só nascem com a publicidade
jurídica do ato jurídico, a partir do registro (art. 1.227, CC), este não é o caso da
posse e da detenção. Elas começam a existir quando o possuidor passa a agir
como se possuidor fosse. Por isso, a posse, em geral, não é objeto de registro
no Registro de Imóveis. No entanto, a posse pode ser objeto de registro no
caso de ser legítima (Art. 167, inciso I, alínea 41, Lei nº 6.015/73).

92
4 PROPRIEDADE
Já adiantamos que a propriedade, no Código Civil brasileiro, é dada como a
faculdade de usar, gozar e dispor de alguma coisa e, também, de reavê-la do poder de
outra pessoa que, injustamente, a detenha ou possua (Art. 1.228, CC). Por isso, é “o mais
amplo dos direitos reais” (GOMES, 2012, p. 103).

É claro que essa conceituação jurídica não leva em conta, principalmente,


o fator histórico e amplamente debatido pela Sociologia, pela Economia, por demais
Ciências Sociais: quando nasce a propriedade? Quando a propriedade individual passou
a ser um elemento tão importante para a sociedade e para a Economia?

Rousseau, filósofo francês, por exemplo, atribui à propriedade privada a origem


de todos os maus existentes. Citando-o:

O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo


cercado um terreno, lembrou-se de dizer isto é meu e encontrou pessoas
suficientemente simples para acreditá-lo. Quantos crimes, guerras,
assassínios, misérias e horrores não pouparia ao gênero humano aquele
que, arrancando as estacas ou enchendo o fosso, tivesse gritado a seus
semelhantes: “Defendei-vos de ouvir esse impostor; estareis perdidos
se esquecerdes que os frutos são de todos e que a terra não pertence a
ninguém!” (ROUSSEAU, 1999, p. 87).

Assim, para o autor francês, a propriedade nasce de uma violência – na forma


física (cerca) e psíquica (mentira) –, embora não tenha havido ocultamento e nem
precariedade pela sua tese.

Outros autores, é claro, defendem a propriedade como uma extensão até mesmo
do corpo do homem. Não é nossa intenção discutir sobre as origens da propriedade e,
muito menos, das desigualdades. Por isso, nos ateremos aos aspectos jurídicos deste
que é, sem dúvida, o mais importante dos Direitos Reais.

4.1 A PLENITUDE DA PROPRIEDADE


A discussão sobre a plenitude e amplitude do direito de uso, gozo e disposição
da propriedade das coisas é tão importante e recorrente quanto o próprio debate sobre
a existência da propriedade. A pergunta que se deve fazer aqui é: até que ponto o direito
da propriedade pode ser exercido frente às demais pessoas, aos animais, à natureza, à
economia local e global?

A Constituição Federal de 1988 dispõe, no Art. 170, que são princípios da ordem
econômica, dentre outros, tanto a propriedade privada como, também, a função social
da propriedade. Ainda, a Carta de 88 apresenta preocupação quanto à reforma agrária,
a fim de diminuir desigualdades sociais. Dispõe o Art. 184, CF, que:

93
Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para
fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua
função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da
dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis
no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão,
e cuja utilização será definida em lei (BRASIL, [2016], on-line).

O que a propriedade deve cumprir para que seja a sua função social é elencado
no Art. 9º da Lei nº 8.629/93.

Além da reforma agrária, a reforma urbana também é preocupação do sistema


jurídico e político urbano do Brasil, sendo que a propriedade de imóveis urbanos também
deve ser exercida cumprindo-se a função social, seguindo os ditames do plano diretor
das cidades.

Conforme o artigo 182, § 2º, CF, “a propriedade urbana cumpre sua função social
quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano
diretor” (BRASIL, [2016], on-line). O Estatuto das Cidades, como ficou conhecida a Lei nº
10.257/2001, regulamenta sobre o uso do solo urbano.

Figura 1 – Avião sobrevoando prédios

Fonte: https://unsplash.com/es/fotos/d3OaAYs30tc. Acesso em: 4 mar. 2023.

Portanto, se o Art. 1.229, CC, dispõe que “a propriedade do solo abrange a


do espaço aéreo e subsolo correspondentes, em altura e profundidade úteis ao seu
exercício”, é necessário constatar que essa plenitude do Direito de Propriedade
é restringida no mesmo artigo, pois dispõe que o proprietário não pode “opor-se às
atividades que sejam realizadas, por terceiros, a uma altura ou profundidade tais, que
não tenha ele interesse legítimo em impedi-las” (BRASIL, 2002, on-line). É por isso que
não pode o proprietário proibir que um avião passe por cima de seu imóvel, bem como
não pode impedir que o metrô passe por debaixo de seu imóvel.

94
INTERESSANTE
A limitação de altura de um imóvel é dada pelas Lei Municipais de zoneamento
urbano. Para esses limites de altura de construções, são levados em conta
diversos aspectos, como fatores históricos, de infraestrutura dos bairros,
número de equipamentos urbanos para atender às pessoas que viverão
naquele edifício, por exemplo. É possível, porém, que a rota de aviões seja
desviada para atender à necessidade de proprietários de terrenos que queiram
construir imóveis altos.

Além dessa limitação ao uso da propriedade, outras são dadas pelas leis, como o
Plano Diretor, que, dentre outras coisas, classifica a altura máxima que um edifício urbano
pode ter em determinada zona e, mesmo, o quanto de uso do solo é mínimo e máximo.

Da mesma forma, o parágrafo primeiro do Art. 1.228, CC, limita o poder inerente
à propriedade à função social que ela possa exercer. Literalmente, o dispositivo fala que:

Art. 1.228, §1º. O direito de propriedade deve ser exercido em


consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo
que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei
especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e
o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar
e das águas (BRASIL, 2002, on-line).

Logo, existem muitos limitantes aos direitos inerentes à propriedade – uso, gozo,
disposição –, como a função social da propriedade, as leis de uso do solo e, mesmo, as
leis ambientais nacional e municipais. Entretanto, afirma Pereira (2017, p. 95):

A condição normal da propriedade é a plenitude. A limitação, como


toda restrição ao gozo ou exercício dos direitos, é excepcional. A
propriedade, como expressão da senhoria sobre a coisa, é excludente
de outra senhoria sobre a mesma coisa, é exclusiva: plures eamdem
rem in solidum possidere non possunt.

Em resumo. Salvo disposições em contrário, o Direito à Propriedade é pleno e


exclusivo (Art. 1.231, CC). Aquele que, de alguma forma, adquire a propriedade de algo
pode dispor, usar, gozar, da forma que bem entender, até mesmo cedendo a posse e os
direitos de uso e gozo.

Vale destacar que outra característica da propriedade é que a coisa é, salvo


melhor juízo, única, indivisível. No entanto, tais características são mitigadas não só
pela necessária função social que a propriedade deve ter, mas, também, por outros
elementos dados pela lei.

95
NOTA
Durante todo o estudo dos Direitos Reais, você poderá notar como as
características desses direitos são voláteis, ou seja, repletas de exceções.
Isso acontece porque o Direito, como um todo, não se distancia da cultura e
dos costumes. Esses costumam sempre modificar, modificando, também, o
Direito. Desde seu princípio, o Direito se molda pela cultura e pelos costumes.
O primeiro Código Civil brasileiro é de 1916, mas muitos institutos do Código
atual, de 2002, já eram aplicados pela jurisprudência mesmo que ainda não
codificados entre esse intervalo de tempo entre o Código antigo e o novo.

4.1.1 Frutos da propriedade

Dispõe o Art. 1.232 do Código Civil que os frutos e mais produtos da coisa, ainda
que separados dela, pertencem ao proprietário da coisa. Contudo, a exceção aparece:
a) quando por preceito jurídico especial pertencem a outra pessoa (Art. 1.232, CC); e
b) quando “a propriedade do solo não abrange as jazidas, minas e demais recursos
minerais, os potenciais de energia hidráulica, os monumentos arqueológicos e outros
bens referidos por leis especiais” (Art. 1.230, CC) (BRASIL, 2002, on-line).

Figura 2 – Barras de ouro

Fonte: https://unsplash.com/es/fotos/iYsrkq5qq0Q. Acesso em: 4 mar. 2023.

Portanto, embora a regra seja que os frutos e produtos da coisa pertençam ao


proprietário da coisa, pode a lei estabelecer casos em que pertencem a outra pessoa,
como ao Estado.

96
4.1.2 Desapropriação, requisição e expropriação
Uma das formas como o Estado pode controlar e regulamentar a propriedade
é o instrumento da desapropriação. Existem três modalidades: a) desapropriação por
necessidade ou utilidade pública ou interesse social; b) a desapropriação sanção;
e c) a desapropriação para a reforma agrária. Há, ainda, um quarto instituto, em que
a propriedade privada é tomada pelo Estado sem qualquer indenização, nesse caso,
chama-se de expropriação.

A primeira forma de desapropriação ocorre porque, para o Direito Administrativo,


as relações entre o Estado e os cidadãos é uma relação vertical, em que o Estado, como
representante do coletivo, possui o dever de defender o que é o bem comum. Ou seja, é
princípio intrínseco à supremacia do interesse público frente ao interesse privado.

Essa forma de desapropriação, portanto, está prevista na Constituição


Federal, no Art. 5º, XXVI, CF: “a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação
por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia
indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição” (BRASIL,
[2016], on-line), e no Código Civil, no Art. 1.228, CC.

Resumindo: o Estado pode desapropriar alguém, retirar-lhe a propriedade de


uma coisa, no caso de necessidade ou utilidade pública ou interesse social. Nesses
casos, há a troca do Direito Real por uma indenização, que deve ser paga de maneira
prévia e justa pelo ente público que está desapropriando o bem. Contudo, em alguns
casos, essa indenização, embora ocorra e seja justa, não é prévia.

A desapropriação sanção é regulamentada pelo Estatuto das Cidades (Lei nº


10.257/2001). Para que ela ocorra, o Município deve seguir um processo que envolve:
1º) o parcelamento, a edificação ou a utilização compulsória do solo não edificado (Art.
5º, caput, Lei nº 10.257/2001); 2°) aplicação de IPTU progressivo no tempo, por cinco
anos consecutivos (Art. 7º, Lei nº 10.257/2001); 3º) somente depois dessas etapas, o
Município poderá realizar a desapropriação do imóvel. Nesse caso, a indenização não
precisa ser prévia e em dinheiro, mas o pagamento deve ser em títulos da dívida pública,
resgatados no prazo de até 10 anos (Art. 8º, Lei nº 10.257/2001) (BRASIL, 2001).

ESTUDOS FUTUROS
Estudaremos o instituto do parcelamento, que pode se dar por loteamento ou
desmembramento, no próximo ponto.

97
A desapropriação para fim da reforma agrária é regulamentada pelo Art. 184
da Constituição Federal e Art. 5º da Lei nº 8.629/1993. O pagamento da indenização
é realizada mediante “prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária [...] [com]
cláusula assecuratória de preservação de seu valor real, serão resgatáveis [no prazo de
até vinte anos] a partir do segundo ano de sua emissão, em percentual proporcional ao
prazo” e cuja utilização será definida em lei (BRASIL, 1993, on-line).

Além da desapropriação, o Estado pode requerer o uso de coisa de propriedade


de alguém, no caso de iminente perigo público. Nesses casos, a indenização ocorre
apenas se houver dano e é realizada posteriormente. Esse tipo de uso da coisa privada
pelo Estado, por exemplo, ocorre quando é preciso usar um imóvel como hospital para
receber vítimas de um acidente.

Por fim, outra forma do Estado intervir na propriedade é a expropriação. Nesse


caso, entretanto, não ocorre indenização pela perda da propriedade, porque ela ocorre
como forma de penalidade por crimes cometidos. Um exemplo é a expropriação, ou
confisco, dos imóveis usados para a cultura ilegal de plantas psicotrópicas ou exploração
de trabalho escravo (Art. 243, CF) (BRASIL, [2016]).

4.1.3 Parcelamento da coisa: lote, desmembramento

Figura 3 – Vista aérea de residências

Fonte: https://unsplash.com/es/fotos/vOaUMTTr8YQ. Acesso em: 4 mar. 2023.

98
Uma das características do objeto da propriedade, a coisa, é, segundo Orlando
Gomes (2012, p. 107, grifos do autor), a sua unicidade, isto é, “o objeto do direito
de propriedade há de ser coisa especificamente determinada”. No entanto, essa
característica também é mitigada, porque, quanto à coisa bem imóvel urbano, é possível
o parcelamento. Ele é instrumento previsto no Estatuto das Cidades (Lei nº 10.257/2001).

A norma dispõe que o parcelamento é política pública que visa “permitir a redução
dos custos e o aumento da oferta dos lotes e unidades habitacionais” (Art. 2º, XV, Estatuto
das Cidades), bem como “promover a diversidade de usos e a contribuir para a geração de
emprego e renda” (Art. 42-A, I, Estatuto das Cidades) (BRASIL, 2001, on-line).

O parcelamento deve ser disciplinado pelo planejamento municipal (Art. 4º, III,
b, Estatuto das Cidades). Isto é, embora seja uma política pública para a geração de
emprego, renda e aumento dos locais de moradia, o parcelamento de imóveis urbanos
deve atender às regras de urbanização municipais, dispostas no planejamento municipal,
porque é nos municípios que as pessoas moram, e é esse planejamento que deve levar
em conta o oferecimento de serviços públicos como transportes, esgoto, água tratada.
Assim, para que ocorra o parcelamento, bem como qualquer edificação nova em um
imóvel, ele deve atender aos interesses municipais.

Existem duas formas de parcelamento: o loteamento e o desmembramento.


Embora ambos signifiquem a “divisão de determinada gleba em lotes destinados à
edificação” (GOMES, 2012, p. 113), no loteamento, há a abertura de novas ruas e áreas
de circulação, enquanto, no desmembramento, é aproveitado o sistema de ruas já
existentes no município.

IMPORTANTE
Lembre-se: já dissemos que o parcelamento pode ser utilizado pelo
Poder Público Municipal como instrumento de sanção, com o fim de dar à
propriedade a função social exigida para todos as propriedades. Nesses
casos, o parcelamento é coercitivo, ou seja, é uma forma do Estado coagir o
proprietário para que dê um fim social para sua propriedade imóvel urbana.
Não é, portanto, um ato de vontade do proprietário.

99
4.1.4 Copropriedade: condomínio, condomínio edilício e
multipropriedade

O condomínio também é uma exceção à regra, qual seja a da plenitude do


Direito da Propriedade, porque o instituto se caracteriza pela propriedade de mais de
uma pessoa de uma mesma coisa. Ou seja, “ocorre, assim, como que a contradição entre
duas noções: propriedade que é exclusiva e exclusivista, e condomínio que assenta na
comunidade de direitos” (PEREIRA, 2017, p. 173). Assim, se, no parcelamento, a coisa
pode ser dividida, adquirindo cada pessoa uma parcela da coisa antes indivisível, no
condomínio, a coisa não se divide, mas ganha mais de um proprietário.

Dessa forma, o Código Civil brasileiro regulamenta, em se Art. 1.314, que “cada
condômino pode usar da coisa conforme sua destinação, sobre ela exercer todos os
direitos compatíveis com a indivisão, reivindicá-la de terceiro, defender a sua posse
e alhear a respectiva parte ideal, ou gravá-la”. Justamente por isso, cada condômino
(coproprietário do bem) deve, “na proporção de sua parte, a concorrer para as despesas
de conservação ou divisão da coisa, e a suportar os ônus a que estiver sujeita” (Art.
1.315, CC) (BRASIL, 2002, on-line).

Isso não significa, contudo, e é preciso deixar claro que cada um dos condôminos
tenha direito a uma parte material da coisa, mesmo das coisas imateriais, como, por
exemplo, uma composição. Não há como ser desmembrada ou loteada para que cada
um dos coproprietários possam delas gozar, usar ou dispor. No condomínio, cada um dos
proprietários possui uma cota ou fração ideal da coisa, e dela pode exercer os Direitos da
Propriedade conforme suas frações ou conforme disposto em contrato.

Os condomínios podem ser, quanto à forma de constituição: a) convencional ou


voluntário: a constituição dele se dá por convenção, acordo entre as partes; b) incidental ou
eventual: quando não é constituída por vontade das pessoas que são coproprietárias, por
exemplo, a copropriedade da coisa resultante de herança antes que seja feita a partilha;
e c) em alguns momentos, a copropriedade obrigatória: nasce de ordem judicial, quando
se chama de copropriedade legal, necessária ou forçada. Este é caso, por exemplo, dos
muros, cercas e valas, conforme artigos 1.297 e 1.327, CC (BRASIL, 2002).

100
Figura 4 – Prédios residenciais
Os condomínios edilícios são
formas de condomínio convencionais.
Eles são regulados pelos Arts. 1.331
a 1.358 do CC. Há, ainda, uma outra
forma de condomínio convencional
que se constitui como condomínio
de lotes, regulamentados pelo Art.
1.358-A do CC. Nestes, há lotes
de propriedade comuns e lotes de
propriedade exclusiva.

Ou seja, uma copropriedade,


na forma de condomínio sobre a
propriedade de um bem, pode ser
constituída de diversas formas. Assim,
cabe ao profissional reconhecer cada
uma delas e buscar a melhor solução
para o desejo das pessoas.

Outra forma de copropriedade


de uma coisa, mas que difere do
Fonte: https://unsplash.com/es/fotos/pvt-yl-
p7hrA. Acesso em: 4 abr. 2023.
condomínio, é a multipropriedade.
Ela está definida no Art. 1.358-C do

Código Civil. Esse tipo de copropriedade se caracteriza pela divisão do direito de uso e
gozo da coisa em períodos de tempos pré-determinados. Nesse tipo de copropriedade,
é possível que diversas pessoas exerçam os poderes de propriedade – usufruto, gozo –
por um determinado tempo. Durante um tempo determinado por contrato e por registro
do imóvel, somente uma pessoa pode exercer os poderes.

ESTUDOS FUTUROS
A forma como é feito o registro e o contrato nesse tipo de copropriedade será
explorada no momento que realizarmos o estudo sobre a publicidade jurídica
dos Direitos Reais.

101
INTERESSANTE
A Lei fala apenas da multipropriedade da coisa imóvel. Não há previsão
legal, ainda, para a multipropriedade de coisa móvel, como de uma bicicleta.
Há sugestões legislativas para a regulamentação de propriedade de coisas
móveis. Você pode ler um artigo sobre elas aqui: https://www.migalhas.com.
br/coluna/migalhas-notariais-e-registrais/354161/condominio-especial-de-
multipropriedade-sobre-bens-moveis.

4.2 AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE

A propriedade pode ser adquirida: a) pelo Registro do Título ou pela Tradição; b)


por Acessão; c) por Ocupação, Achado de Tesouro ou Especificação; e d) por Usucapião.
Essa última será objeto de estudo do nosso segundo tema de aprendizagem. Por isso,
não nos aprofundaremos agora.
A propriedade da coisa imóvel se adquire pelo registro do título translativo ou
por acessão. No primeiro caso, a propriedade é transferida por ato entre vivos, uma
compra e venda, por exemplo. Nesses casos, apenas o Registro de Imóveis caracteriza a
disposição, por parte do vendedor, e a aquisição, por parte do comprador, da propriedade
do bem imóvel. “Enquanto não se registrar o título translativo, o alienante continua a ser
havido como dono do imóvel” (Art. 1.245, §1º, CC) (BRASIL, 2002, on-line).

ESTUDOS FUTUROS
No próximo ponto, estudaremos, especificamente, a publicidade jurídica da
aquisição de propriedade de coisa imóvel, bem como as diversas formas de
transação entre pessoas e de seus direitos sobre as coisas.

Já a aquisição da coisa móvel se dá com a tradição, isto é, a entrega da coisa do


proprietário para um novo proprietário.

Outras formas de adquirir uma coisa móvel que não possua proprietário é a
ocupação, quando se descobre algo que não possua dono (Art. 1.263, CC), bem como o
achado de tesouro. Nesse último caso, a propriedade de quem achou é dividida com o
proprietário do local onde o tesouro foi encontrado (Art. 1.264, CC).

A especificação acontece quando alguém está trabalhando com parte de


uma matéria-prima e obtém espécie nova. Quem sintetizou tal espécie nova será o
proprietário dela (Art. 1.269, CC).

102
IMPORTANTE
No entanto, quando se descobre algo que possui proprietário, não se adquire
a propriedade dessa coisa. Não vale, para o Direito, a máxima “achado não é
roubado, quem perdeu é relaxado”. Aquele que acha, no entanto, tem direito à
compensação (Art. 1.234, CC).

A acessão é forma de adquirir coisa imóvel ou móvel. Esse termo deriva do verbo
aceder, que significa aumentar, incrementar. Assim, uma acessão acontece quando,
por fenômeno natural ou artificial, a propriedade de alguém sobre uma coisa móvel ou
imóvel aumenta, mesmo que isso decorra da perda de propriedade de outra pessoa.

Quanto à aquisição da coisa imóvel por acréscimo, é quando decorre dos


seguintes fatos:

• Formação de ilhas: nesse caso, a ilha pertence aos proprietários ribeirinhos fronteiros
(Art. 1.249, CC).
• Aluvião: os acréscimos de depósitos e aterros naturais ao longo das margens da
corrente pertencem ao dono do terreno acrescido (Art. 1.250, CC).
• Avulsão: acontece quando, por fenômeno da natureza, uma parte de um imóvel
acresce ao outro. Nesses casos, diferente do que acontece na aluvião, aquele que
tem seu imóvel acrescido deve indenizar o proprietário do imóvel diminuído, mas
apenas se a pessoa reclamar em até um ano.
• Quando, por fenômeno natural ou por obra humana, o curso de um rio seca, a
propriedade do terreno resultante pertence aos proprietários das margens ribeirinhas,
sem qualquer indenização. Nesse caso, o nome jurídico é álveo abandonado (Art.
1.252, CC).

Há, também, a possibilidade de aquisição de propriedade móvel por acréscimo.


É o caso da propriedade dos frutos, que já comentamos aqui, e das construções na
coisa imóvel. Isto é, “toda construção ou plantação existente em um terreno presume-
se feita pelo proprietário e à sua custa, até que se prove o contrário” (Art. 1.253, CC)
(BRASIL, 2002, on-line). Assim, aquele que planta ou constrói em coisa alheia não terá
a propriedade dos frutos e das construções, salvo se provar boa-fé, quando terá direito
à indenização (Art. 1.255, CC).

4.3 O REGISTRO DA PROPRIEDADE DE COISA IMÓVEL

Já compreendemos que a propriedade só nasce a partir do momento em que é


dada publicidade jurídica de sua aquisição, o registro no Registro de Imóveis. Entretanto,
como demonstramos no item anterior, existem situações em que tanto o imóvel é
dividido em outras unidades, no caso dos parcelamentos, como existem diversos

103
proprietários de um mesmo imóvel, no caso dos condomínios, dos condomínios de lotes
e das multipropriedades.

A Lei nº 6.015/73 dispõe, em seu Art. 167, que serão objeto de inscrição no
Registro de Imóveis: a) as incorporações, instituições e convenções de condomínio
(inciso I, alínea 17); b) os loteamentos urbanos e rurais (inciso i, alínea 19); c) os julgados e
atos jurídicos entre vivos que dividirem imóveis ou os demarcarem, inclusive, nos casos
de incorporação que resultarem em constituição de condomínio e atribuírem uma ou
mais unidades aos incorporadores (inciso I, alínea 23); d) a alienação de imóvel (inciso I,
alínea 29). Ainda, será objeto de averbação a notificação para parcelamento, edificação
ou utilização compulsória de imóvel urbano (inciso II, alínea 18) (BRASIL, 1973).

Quanto à multipropriedade, além do registro do imóvel, será necessária uma


matrícula para cada fração de tempo, em que se registrarão e averbarão os atos
referentes à respectiva fração de tempo. Ainda, é possível que cada fração de tempo
receba inscrição imobiliária distinta, a depender da legislação tributária municipal (Art.
175, §§ 10 e 11, Lei nº 6.015/73).

4.4 PERDA DA PROPRIEDADE

O Código Civil brasileiro prevê, além da desapropriação, mais quatro situações


quando ocorre a perda da propriedade: a) pela alienação; b) pela renúncia; c) por
abandono; e d) por perecimento da coisa (Art. 1.275, CC).

Quanto à alienação, ela é instrumento correlato à aquisição. Se a aquisição de


um imóvel somente se concretiza com a publicidade jurídica do ato jurídico de alienação
no Registro de Imóveis, a perda da propriedade é constituída na mesma publicidade. Já
a coisa imóvel se perde com a entrega da coisa à outra pessoa – a tradição.

A renúncia apenas existe se for constituída de vontade do proprietário. Ou seja, exige


que, de alguma forma, o proprietário demonstre que não quer mais ser o dono a coisa. Para
coisas móveis, essa renúncia se dá com o abandono. Já para coisas imóveis, é necessário
que seja dada publicidade jurídica à renúncia, com registro no Registro de Imóveis.

O abandono da coisa móvel, e mesmo da imóvel, confunde-se com o instituto da


renúncia, porque o não exercício dos Direitos de Propriedade – como, por exemplo, uma
casa fechada – não retira o domínio que o proprietário tem sobre a coisa. Assim como a
renúncia, o abandono exige a vontade da pessoa de abandonar a coisa. No entanto, não
ocorre a publicidade do abandono do bem imóvel, diferente do instituto da renúncia.

Assim, enquanto a renúncia se caracteriza como um ato formal e publicizado


no Registro de Imóveis, o abandono não possui essa formalidade. Contudo, nos dois
casos, a vontade de deixar de ser possuidor de alguma coisa é necessária para que se

104
caracterize a renúncia ou abandono. Quando o imóvel é abandonado, após três anos
desse abandono, passa a ser considerado de propriedade do estado ou do município –
se imóvel urbano – ou da União – se imóvel rural (Art. 1.276, CC).

NOTA
É lei municipal que define se alguma área é considerada rural ou urbana.

Por fim, o perecimento da coisa também gera o fim da propriedade. Como


afirma Pereira, “não há direito [real] sem objeto, consequência é que o perecimento
deste esvazia, extinguindo a relação jurídica” (PEREIRA, 2017, p. 222). O perecimento
de coisa móvel é mais visível, pois é fácil que as coisas deixem de existir naturalmente,
degradem-se, transformem-se em outra coisa. Já o perecimento de coisa imóvel pode
ocorrer por ação humana e também natural, como incêndio e inundação.

5 DIREITOS REAIS SOBRE A COISA ALHEIA

Argumentamos, mais uma vez, que o Direito Real de Propriedade é o mais


completo dos Direitos Reais. Assim, os demais Direitos Reais que são elencados no Art.
1.225 do Código Civil são direitos que decorrem da propriedade e acontecem quando
o proprietário cede alguns de seus poderes inerentes à propriedade – uso, gozo e
disposição – para outra pessoa. Tratam-se, por isso, de “direito real sobre coisa alheia”
(PEREIRA, 2017, p. 231), em que a propriedade da coisa não é transferida, mas alguns ou
algum dos poderes inerentes à propriedade – uso, gozo, fruição.

5.1 DIREITO DE SUPERFÍCIE

É o caso do Direito de Superfície quando o proprietário concede, por tempo


determinado, para outra pessoa, o direito de plantar ou construir em seu terreno.
Como já dissemos, aquilo que gera frutos dentro de um imóvel adere à propriedade.
Entretanto, no caso do Direito de Superfície, é cedido para outra pessoa o direito sobre
os frutos da coisa. Não ocorre a cessão da propriedade, mas dos frutos que dela aderem.
A constituição de Direito de Superfície é objeto de registro no Registro de Imóveis (Art.
167, inciso I, alínea 38, Lei nº 6.015/73) (BRASIL, 1973).

5.2 DIREITO DE USUFRUTO

Já o Usufruto difere do Direito de Superfície. Não é apenas a superfície que é


cedida, mas o usufrutuário – aquele que tem o direito de usufruto – exerce os poderes

105
de posse, uso, administração e percepção dos frutos de propriedade alheia. Essa forma
de cessão de direitos reais também somente se constituirá com o registro em Registro
de Imóveis (Art. 1.391, CC) (BRASIL, 2002).

5.3 DIREITO DE USO E DIREITO DE HABITAÇÃO

Por sua vez, o Direito Real de Uso difere do Usufruto porque a pessoa apenas
usará do bem e dos frutos necessários para ele e para a sua família (Art. 1.412, CC). O
Direito de Habitação, por fim, tem como característica o uso específico, o de moradia
própria e da família.

Conforme ensina Pereira (2017, p. 269) sobre o Uso, o Usufruto e o Direito de


Habitação, “em verdade, não tem mais cabimento separá-los, senão por amor à tradição
histórica, de vez que o uso não passa de modalidade mais restrita de usufruto, e a
habitação reduz-se à especialização do uso em função do caráter limitado da utilização”.

Novamente, lembramos que serão objeto de inscrição no Registro de Imóveis


o Usufruto, o Uso e o Direito Real de Habitação quando não resultarem do Direito de
Família (Art. 167, inciso I, alínea 7, Lei nº 6.015/73).

6 SERVIDÃO

A servidão acontece quando a utilidade de uma coisa imóvel depende da limitação


da propriedade de outra pessoa. Ou seja, quando, para se acessar um imóvel, é necessário
passar por outro que pertence a pessoa diversa, aquele que tem a propriedade do imóvel
que tem que se passar precisa conceder esse Direito Real de Servidão.

Muitas cidades brasileiras foram construídas sem um bom planejamento urbano.


Por isso, é possível que não haja acesso público para alguns imóveis. As servidões são
encargos, obrigações, que são inerentes à propriedade daqueles que possuem os
imóveis que servem de obstáculo para o acesso a outro imóvel. Assim, conforme Pereira
(2017, p. 256), “diz-se servidão: o encargo que suporta um prédio denominado serviente,
em benefício de outro prédio chamado dominante, conferindo ao titular o uso e gozo do
direito ou faculdade”. Também, é preciso o registro em Registro de Imóveis das servidões
(Art. 167, inciso I, alínea 6, Lei nº 6.015/73).

7 DIREITO DE PROMITENTE COMPRADOR

Para Pereira (2017, p. 395), tal direito não deveria figurar entre os direitos reais,
trata-se de um “problema taxonômico”. Taxonomia é classificação de coisas em gêneros,

106
espécies, disciplinas. Assim, a classificação do direito do promitente comprador como um
direito real é controversa, visto se tratar de um contrato em duas pessoas. De fato, parece-
nos que se trata de um negócio jurídico realizado pelo proprietário e uma pessoa alheia, e
os negócios jurídicos serão objeto de estudo no nosso segundo tema de pesquisa.

Esse, também, é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, na Súmula


nº 239 (BRASIL, 2000, on-line), que diz que “o direito à adjudicação compulsória não
se condiciona ao registro do compromisso de compra e venda no cartório de imóveis”.
Ou seja, tanto é um contrato sem qualquer relação com os Direitos Reais que a sua
efetividade não está condicionada à publicidade jurídica do fato. Como é um contrato, é
um fato jurídico que relaciona apenas as pessoas envolvidas. Não precisa ser publicizado,
não gera efeitos para as demais pessoas. Vale relembrar que o que caracteriza os Direitos
Reais, justamente, é que eles têm um sujeito passivo universal.

É isso que vem escrito na ementa da Súmula do STJ, isto é:

A promessa de venda gera efeitos obrigacionais não dependendo,


para sua eficácia e validade, de ser formalizada em instrumento
público.
O direito à adjudicação compulsória é de caráter pessoal, restrito aos
contratantes, não se condicionando a obligatio faciendi [obrigação
de fazer] a inscrição no registro de imóveis (BRASIL, 2000, on-line).

Apesar de tal digressão, o Art. 1.417, CC, dispõe que, mediante uma promessa
de compra e venda, o promitente comprador adquire o “direito real à aquisição do bem”
(BRASIL, 2002, on-line). Isso significa que, quando duas pessoas afirmam, em documento
oficial ou qualquer outra forma de relação, que comprarão e venderão algo, aquele que
comprou a coisa adquire não apenas o direito legal de ter a coisa, mas, para a legislação,
trata-se, já, de um Direito Real sobre a coisa, mesmo que ela ainda não exista.

O Direito Real de Aquisição do bem deve ser registrado no Registro de Imóveis,


segundo a Lei dos Registro Públicos (Art. 167, inciso I, alínea 7, Lei nº 6.015/73). No
entanto, tal lei está fora de sintonia com o que entende o STJ. Nesse caso, a lei se torna
inócua, pois a Súmula citada tende a ser aplicada por todos os juízes.

8 DIREITO REAL DE LAJE

O proprietário de uma construção pode ceder tanto a parte superior quanto a parte
inferior do imóvel de que é proprietário. Nesse caso, o novo titular, cessionário (que adquire
a cessão), deve manter uma unidade distinta da construção original. É o que dispõe o Art.
1500-A do Código Civil. Trata-se de uma cessão em que o titular da cessão terá direito de
usar, gozar e dispor da nova unidade distinta. A laje é registrada em matrícula autônoma
da construção-base (Art. 1.500-A, §3º, CC; Art. 176, § 9º, Lei nº 6.015/73).

107
9 CONCESSÕES ADMINISTRATIVAS DE USO DE BEM
PÚBLICO

Os últimos dois tipos de Direitos Reais que estudaremos – que, por sinal, são
os mais novos incluídos no rol do Art. 1.225 do Código Civil – têm mais relação com o
Direito Administrativo – Direito relacionado com a Administração Pública – do que com
o Direito Civil, propriamente dito. São a concessão de uso especial para fins de moradia
(Art. 1.225, XI, CC) e a concessão do Direito Real de Uso (Art. 1.225, XII, CC).

Os dois institutos devem ser entendidos sob um aspecto fundamental. Uma das
características dos bens público – bens que pertencem às entidades públicas – é que elas
são inalienáveis, não podem ser vendidos nem doados. Contudo, nas circunstâncias desses
dois Direitos Reais, tal princípio esbarra em um direito fundamental, o Direito à Moradia.

Queremos dizer que esses Direitos Reais são concedidos com base nos direitos
fundamentais incluídos na Constituição Federal de 88, especialmente, o art. 6º, caput, CF,
que dispõe que a moradia é um direito social. São políticas públicas, destinadas a garantir
direito fundamental, como também a regularização fundiária (ALVARENGA, 2008).

Conforme veremos no terceiro tema de aprendizagem desta unidade,


a usucapião – uma das formas de aquisição de propriedade – não é cabível para a
aquisição de imóveis que pertencem aos municípios, estados e à União de Distrito
Federal. Isso porque, como já dissemos, os bens públicos são inalienáveis. Dessa
forma, as concessões administrativas de uso que estudamos são formas de equalizar
a impossibilidade de se dispor do bem público com o direito fundamental de moradia.

9.1 CONCESSÃO DE USO ESPECIAL PARA FINS DE MORADIA

Assim, a concessão de uso especial para fins de moradia não é uma forma
de transferir a propriedade de um bem público para terceiros. O que se transfere é o
domínio e o uso da coisa, e não a sua propriedade.

Os requisitos são: a) imóvel de até 250 m²; b) os beneficiários da concessão


têm que ter exercido a posse do imóvel por até cinco anos ininterruptos, sem qualquer
impedimento; c) não podem ter renda familiar superior a cinco salários-mínimos; e d)
não podem ter a propriedade de outro imóvel urbano ou rural (Art. 183, CF). Quando o
imóvel a ser concedido possuir mais de um proprietário e for maior que 250 m², poderá
ser concedido à pluralidade de ocupantes, de forma coletiva, desde que cada área não
passe de 250 m². Essa concessão será registrada no Registro de Imóveis (Art. 167, inciso
I, alínea 37, Lei nº 6.015/73).

108
9.2 CONCESSÃO DE DIREITO REAL DE USO

A concessão de Direito Real de Uso envolve três situações, diversas da atendida na


concessão de uso especial para fins de moradia. Ela é regulamentada no Art. 76, I, alíneas f,
g e h, da Lei nº 14.133/2021 – a nova Lei de Licitações e Contratos Públicos (BRASIL, 2021). A
norma dispõe sobre as situações em que será possível a alienação de bens da Administração
Pública sem licitação. São os casos das concessões de uso. As situações são:

• Para bens imóveis residenciais já construídos e que sejam destinados ou


efetivamente usados para programas de habitação ou de regularização fundiária de
interesse social desenvolvidos por órgão ou entidade da Administração Pública (Art.
76, I, f, Lei nº 14.133/2021). Nesse caso, portanto, a concessão de uso se dá entre
entidades da Administração Pública e deve ter um fim específico, qual seja: para uso
em programas de habitação ou de regularização fundiária.

• Para bens imóveis comerciais de âmbito local, com área de até 250 m² e destinados
a programas de regularização fundiária de interesse social desenvolvidos por órgão
ou entidade da Administração Pública (Art. 76, I, g, Lei nº 14.133/2021). Nesse caso,
a concessão de uso se dá também entre órgãos da Administração Pública, mas o
interesse é apenas da regularização fundiária. Além disso, nesse caso, os imóveis
com direito de uso cedido são comerciais.

• Para terras públicas rurais da União e do Instituto Nacional de Colonização e


Reforma Agrária (Incra) onde incidam ocupações até o limite de que trata o § 1º
do Art. 6º da Lei nº 11.952 (BRASIL, 2009), para fins de regularização fundiária,
atendidos os requisitos legais (Art. 76, I, h, Lei n. 14º133/2021). Nesse caso, a cessão
não é realizada entre órgãos da Administração, mas dispõe que podem ser cedidos
imóveis da União para fins de reforma agrária.

Essas formas de concessão também devem ser registradas no Registro de


Imóveis (Art. 167, inciso I, alínea 40, Lei nº 6.015/73).

NOTA
A Lei nº 11.952/2009 dispõe sobre a regularização fundiária das ocupações
incidentes em terras situadas em áreas da União no âmbito da Amazônia
Legal. O limite para a concessão de uso é de 2.500 hectares.

109
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:

• a diferença entre posse e propriedade;


• que a coisa da propriedade pode ser parcelada, assim como uma mesma coisa pode
possuir diversos proprietários;

• que o proprietário pode ceder os poderes de uso, gozo e disposição de suas coisas
a partir do Direito de Superfície, Usufruto, Uso, Habitação e da Laje;

• que, embora a Administração Pública não possa alienar seus bens, ela pode ceder o
uso de bens para moradia e uso de cidadãos e para outros entes públicos.

110
AUTOATIVIDADE
1 Embora sejam termos e institutos jurídicos sujeitos à confusão, possuir, deter e ser
proprietário de alguma coisa tem, para o Direto, significados diferentes. Com base
nessa distinção, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A posse nem sempre é registrada.


b) ( ) Aquele que detém algo possui os poderes de dispor, usar e gozar da coisa e deve
levar ao registro sua detenção.
c) ( ) A posse se caracteriza pela detenção de alguma coisa em nome de outra pessoa.
Ou seja, quando o filho está em posse de um imóvel de propriedade da sua mãe.
d) ( ) Justo título é o nome do documento que dá ao possuidor a ideia de que possui a
coisa legitimamente.

2 Dispõe o Art. 1.227 do Código Civil que: “os direitos reais sobre imóveis constituídos,
ou transmitidos por atos entre vivos, só se adquirem com o registro no Cartório de
Registro de Imóveis dos referidos títulos (arts. 1.245 a 1.247), salvo os casos expressos
neste Código” (BRASIL, 2002, on-line).

Fonte: BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002.


Institui o Código Civil. Brasília, DF: Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil, 11 jan. 2002. Disponível em: https://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.
htm. Acesso em: 3 abr. 2023.

Sobre a aquisição de direitos reais, analise as afirmativas a seguir:

I- A propriedade de coisa móvel acontece com a entrega da coisa, enquanto a da coisa


imóvel com a publicidade jurídica.
II- Encontrar algo, mesmo que seja um tesouro ou que seja de propriedade de alguém,
é uma forma de aquisição de propriedade da coisa móvel.
III- Aquele que constrói ou planta algo no terreno alheio não possui a propriedade do
que construiu ou plantou, ao menos que se comprove a boa-fé. Nesses casos, terá
direito à indenização.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.


b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

111
3 Conforme Caio Mário da Silva Pereira (2017, p. 269), sobre o Uso, o Usufruto e o
Direito de Habitação, “em verdade, não tem mais cabimento separá-los, senão por
amor à tradição histórica, de vez que o uso não passa de modalidade mais restrita
de usufruto, e a habitação reduz-se à especialização do uso em função do caráter
limitado da utilização”.

Fonte: PEREIRA, C. M. da S. Instituições de Direito Civil.


25. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017. v. 4.

Sobre as características do Direito de Superfície, da Laje, do Usufruto, do Uso e da


Habitação, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) O Usufruto acontece quando o proprietário de uma coisa transfere o direito de


construir ou de plantar em seu terreno, por tempo determinado, sem direito à posse,
ao uso e à administração.
( ) Quando o uso consistir no direito de habitar gratuitamente casa alheia, o titular
desse direito não a pode alugar, nem emprestar, mas simplesmente ocupá-la com
sua família.
( ) O Direito Real de Laje contempla o espaço aéreo ou o subsolo de terrenos públicos
ou privados.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V - F - F.
b) ( ) F - V - V.
c) ( ) F - V - F.
d) ( ) F - F - V.

4 A desapropriação é uma forma do Estado intervir na propriedade dos bens privados.


Está ancorada no Princípio de Supremacia do Interesse Público sobre o Interesse
Privado. Existem três formas de desapropriação: a) por necessidade ou interesse
público; b) para a reforma agrária; e c) desapropriação sanção. Ainda, é possível que
ocorra a expropriação. Diante disso, responda: todas as formas de desapropriação e a
expropriação recebem indenização? A indenização tem que ser prévia?

5 O Princípio da Indisponibilidade do Interesse Público é um princípio implícito da


Administração Pública, isto é, embora não elencado na Constituição Federal e nem
nas Leis abaixo desta, rege a Administração Pública. É por conta disso que os bens
públicos não podem ser dispostos, vendidos, por exemplo, pelo gestor público. Diante
disso, explique os Direitos Reais de Concessão de Uso Especial para Fins de Moradia
e a Concessão de Direito Real de Uso, dispostos no Art. 1.225 do Código Civil. Trata-se
de transferência de propriedade? Quais são os requisitos para a Concessão de Uso
Especial para Fins de Moradia?

112
UNIDADE 2 TÓPICO 2 -
TROCANDO E ADQUIRINDO DIREITOS
REAIS

1 INTRODUÇÃO
Começamos este segundo tema de aprendizagem com uma indagação filosófica:
o homem – e a mulher – são seres sociais ou apenas seres biológicos? São seres maus,
isolados e individualistas?

Não é novidade que o estudo do Direito e, principalmente, do Direito Civil – ou seja,


da relação das pessoas em sociedade – tangencia tais reflexões e debates. Já no século
III a.C., o filósofo Aristóteles defendia que, dentre os demais, os humanos pertenciam à
classe de animais que só sobrevivem em sociedade, embora alguns prefiram se isolar
sempre ou em alguns momentos da vida.

Marx e Engels, no mesmo lado de Aristóteles, defendem que as desigualdades


surgem quando alguns desses seres querem se impor aos outros. Desse modo, dentro
do recorte histórico de estudo do que se chama marxismo clássico, a burguesia seria a
responsável por alienar os seres humanos para que ajam de modo isolado. Contudo, na
essência, todos gostariam de viver em sociedade, e é assim que as pessoas se organizam
desde as primeiras tribos humanas. Já para Thomas Hobbes, o homem seria mau em sua
essência. É justamente por isso que depende do Estado e do Direito Moderno para que se
organize e não se destrua (PSICANÁLISE CLÍNICA, 2020).

Nós, na primeira unidade deste livro, expusemos que o Direito Moderno, o qual
vivemos, está baseado em conceitos de individualismo, de afastamento da complexidade
em favor da individualização das partes – seja em sociedade, seja em uma análise no
laboratório.

Mesmo com toda a relevância da discussão, o objetivo desta introdução não


é o debate sobre o individualismo e as relações sociais, mas trazer uma reflexão sobre
esses assuntos para que você possa discuti-los com seus colegas, amigos, familiares ou,
apenas, individualmente.

Este segundo tema de aprendizagem que se inicia, em complemento ao tema


anterior, tratará das formas como o Direito regula as trocas sociais entre as pessoas,
porque elas acontecem a todo o momento. Para o Direito, essa troca recebe diversas
classificações. Podem ser trocas de serviços, obrigações, trocas econômicas e trocas de
direitos. Nosso foco, especificamente, estará nas relações de trocas de Direitos Reais, bem
como na necessidade de publicidade jurídica dessas trocas.

113
Para isso, nossa viagem começará com o levantamento dos conceitos de negócio
jurídico, obrigações e contratos. Depois, trataremos de estudar as formas de negócios
jurídicos previstas na legislação pátria. O último tema de estudo será a Usucapião, uma forma
de adquirir direito real de propriedade sem que necessariamente ocorra um negócio jurídico.

2 NEGÓCIOS JURÍDICOS
Figura 1 – Aperto de mão

Fonte: https://unsplash.com/pt-br/fotografias/vWchRczcQwM. Acesso em: 4 mar. 2023.

Vivemos, sim, em constantes trocas. Trocamos informação quando nos


comunicamos, quando trocamos carinho com as pessoas que gostamos, quando
trocamos dinheiro por coisas. Aliás, não realizamos trocas apenas com outras
pessoas. Também realizamos relações com coisas – um semáforo, um GPS que nos
ajuda a encontrar o melhor caminho – e com a natureza – simplesmente ao respirar
realizamos trocas ou quando adotamos um animal de estimação. Mais do que sermos
seres sociáveis, nossa forma de nos organizar e de organizar o trabalho nos leva a estar
sempre em constantes trocas.

As Revoluções Industriais e a produção em massa, em contraponto à produção


artesanal e da agricultura para a sobrevivência, faz com que surja a divisão social do
trabalho e, com ela, mais troca de informações, produtos e serviços entre as pessoas.
Quanto mais avançamos nossas tecnologias, mais especialidades surgem e mais
necessidade de trocas entre especialidades e coisas se tornam necessárias.

114
A especialização é uma característica da nossa forma de viver. Dividimos
o trabalho entre os que fazem comida, os que colhem, os que cuidam das trocas
(comerciantes), os que transportam, os engenheiros, os médicos, os advogados. Cada
pessoa busca uma formação específica, um trabalho específico. Quanto mais especialista
em uma determinada área, mais é requisitado para resolver problemas específicos.

Assim, como afirma Paulo Nader (2018, p. 37), se o ser humano fosse apenas
autossuficiente, “não haveria fundamento para a divisão do trabalho e nem para
a sua decorrência natural: os contratos. O progresso das sociedades depende,
fundamentalmente, dos contratos, que atuam como verdadeira alavanca do
desenvolvimento”.

Uma das maneiras de chamar essas trocas é negócio. Contudo, assim como os
fatos jurídicos, que já conceituamos como tudo aquilo que acontece e que gera alguma
modificação para o Direito, gerando direitos e deveres e outros efeitos jurídicos, nem
toda troca, ou negócio, tem relevância para o Direito. Somente aquelas trocas que as
pessoas realizam com as coisas, com a natureza e com as outras pessoas, físicas ou
jurídicas, que geram direitos, deveres e outros efeitos jurídicos, recebem o nome de
negócios jurídicos.

Dito isso, Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona Filho (2020, p. 232) discorrem
que “negócio jurídico é a declaração de vontade, emitida em obediência aos seus
pressupostos de existência, validade e eficácia, com o propósito de produzir efeitos
admitidos pelo ordenamento jurídico pretendidos pelo agente”.

IMPORTANTE
Atenção! Embora os negócios jurídicos pressuponham a existência de, ao
menos, duas pessoas, existem negócios jurídicos unipessoais e pluripessoais.
São os casos, por exemplo, do testamento, que declara a vontade de alguém
de transferir a posse ou a propriedade de seus bens para outra pessoa; da
renúncia de direitos, que já comentamos anteriormente como forma de perda
do Direito Real de Propriedade; e da instituição de uma fundação, quando
uma pessoa física ou jurídica, pública ou privada, destaca uma parte de seu
patrimônio para a criação de uma entidade autônoma, como já expusemos na
primeira unidade deste livro. Como exemplo de negócio jurídico pluripessoal,
está a constituição de pessoas jurídicas, como as associações, as sociedades e
as empresas, que estudamos na Unidade 1.

Assim como os fatos jurídicos, as trocas relevantes para o Direito, que geram
efeitos jurídicos para a sociedade e para alguma pessoa específica e que recebem o nome
de negócios jurídicos, também precisam ser publicizadas, contando-se com as mesmas
advertências quanto aos fatos jurídicos, ou seja, desde que a publicidade não fira a honra
e a intimidade das pessoas, ou que não coloque o Estado ou a coletividade em risco.

115
2.1 VALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO

É importante compreender que as pessoas realizam trocas com coisas, pessoas


e com a natureza a qualquer momento. Não recorrem à lei para saber se essa troca é
lícita, legítima, válida. Geralmente, o que faz com que uma troca exista é a vontade das
pessoas de realizar aquele negócio.

Há, é claro, todo um estudo da neurociência sobre o que faz com que as pessoas
tenham uma escolha ou uma vontade. Diversos fatores podem levar uma pessoa a
acreditar que tenha uma vontade quando, na verdade, é sugestionada a fazer alguma
coisa e, até mesmo, a defender uma ideia.

INTERESSANTE
Existem diversos vídeos no YouTube ensinando técnicas para influir na vontade
das pessoas. Um exemplo é a ciência do Neuromarketing, que estuda porque
as pessoas compram algo e visa influir para que as pessoas passem a consumir
mais acreditando que realizam tais compras baseadas na razão e na vontade.
Um exemplo é este vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=YEMf2EW7p5A.

Você também pode ler os livros de Yuval Harari. Eles apresentam uma visão
bem distinta sobre como os seres humanos têm suas vontades baseadas nos
meios, e não apenas por decisões internas.

Por sua vez, um negócio entre pessoas físicas e jurídicas, para ter validade
jurídica, possui três elementos de validade: a) pessoa capaz, ou seja, pessoa que não
seja relativamente ou absolutamente incapaz, como as crianças; b) o objeto da troca,
o direito, o serviço, a coisa que se trocará, tem que ser lícito, possível e, no mínimo,
determinável; e c) a forma jurídica da troca tem que constar de alguma lei ou, ao menos,
não ser proibida pelas leis (Art. 104, CC) (BRASIL, 2002).

Um quarto elemento que caracteriza os negócios jurídicos é a vontade da pessoa


ou das pessoas que realizam aquela troca. E, mesmo se a pessoa que celebra o negócio
tenha pensado não realizar aquele negócio, entende-se a manifestação da vontade na
celebração daquele negócio, salvo se o destinatário do negócio sabia que a pessoa
não tinha a intenção de realizar a transação (Art. 110, CC). Quando não for necessária
declaração expressa da vontade, o silêncio importa em aceitação do negócio, se as
circunstâncias e os usos assim autorizarem (Art. 111, CC) (BRASIL, 2002).

Em alguns casos, ainda, o registro do negócio jurídico no Registro Específico é


requisito de validade do negócio jurídico.

116
2.2 CLASSIFICAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS

Os negócios jurídicos podem ser classificados de diversas formas, a depender


do critério que se usa para essa classificação. Dito isso, apresentaremos, aqui, duas
dessas classificações possíveis.

2.2.1 Quanto ao número de declarantes de vontade

Os negócios jurídicos podem ser unilateriais, já comentados acima. São negócios


jurídicos em que há a manifestação de vontade de apenas uma pessoa. Existem dois
tipos de negócios jurídicos unipessoais: a) receptícios: aqueles que só são válidos
quando o destinatário do ato toma ciência, é o caso, por exemplo, da renúncia de uma
procuração jurídica; e b) não receptícios: aqueles em que o conhecimento do ato pelo
destinatário é irrelevante.

Os negócios jurídicos bilaterais são os mais comuns. Aqueles em que há dois


agentes, um chamado de sujeito ativo, que pratica o ato, e outro de sujeito passivo,
que recebe o ato. A constituição de um contrato de Educação, que você realizou nesta
instituição de ensino, é um exemplo de negócio jurídico bilateral, em que o sujeito ativo
é a instituição de ensino, e você é o sujeito passivo, que recebe o que contratou, este
livro didático, inclusive.

Já os negócios jurídicos plurilaterais existem quando são realizados por uma


pluralidade de agentes. Além do contrato de sociedade com mais de uma pessoa, o
Contrato Social, que estudamos na primeira unidade deste livro didático, outro exemplo
de negócio jurídico plurilateral é o consórcio de imóveis e de outras coisas. Por fim, a
instituição de um condomínio, a partir da multipluralidade de proprietários, estudado no
primeiro tema de aprendizagem desta unidade de estudo, pode ser caracterizado como
um negócio jurídico plurilateral, a depender do caso.

INTERESSANTE
Você sabia que existem consórcios para diversos fins, inclusive, para viagens,
intercâmbios e cirurgias plásticas? Olha essa reportagem: https://globoplay.
globo.com/v/2816599/.

117
2.2.2 Negócios jurídicos gratuitos e onerosos

Os negócios jurídicos podem ser: a) gratuitos: são o caso das doações e


do comodato, um empréstimo de alguma coisa móvel ou imóvel, sem qualquer
contraprestação da parte que recebe o empréstimo, a única obrigação é devolver a
coisa nas mesmas condições que recebeu; e b) onerosos: aqueles que geram o dever
de prestação e o direito de contraprestação. É a maioria dos negócios que realizamos.

2.3 ELEMENTOS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS

No item 2.1, apontamos quais são os requisitos de validade do negócio jurídico.


Contudo, além daqueles elementos, existem outros requisitos na constituição de um
negócio jurídico que são essenciais para que eles possam ser aceitos como válidos.

Para Carlos Roberto Gonçalves (2021, p. 504), os elementos essenciais “são os


estruturais, indispensáveis à existência do ato e que lhe formam a substância”. Eles se
dividem entre aqueles essenciais para qualquer tipo de negócio jurídico e aqueles que
são essenciais para algum tipo específico, como o preço, a coisa e o consentimento, no
contrato de compra e venda (Art. 482, CC).

Outros elementos que constam da formalização do negócio, no entanto, variam


conforme o tipo e negócio que será firmado. São os elementos naturais, aqueles que são da
natureza do negócio jurídico firmado. Eles não precisam ser necessariamente estipulados,
são elementos que se juntam ao contrato sem que as partes precisem mencioná-los.

NOTA
O Código de Defesa do Consumidor (CDC), Lei nº 8.078/90, dispõe, nos Arts.
12 a 25, sobre a responsabilidade dos fornecedores quanto aos defeitos e aos
vícios dos produtos e serviços. Esse é um exemplo de elemento natural do
negócio jurídico. Não é preciso que sejam formalizadas as responsabilidades
dos fornecedores em um documento. Ela é natural da forma de negócio que
as pessoas realizam.

Outros tipos de elementos, os elementos acidentais, são aqueles que as


partes estipulam como acessórias ao negócio principal. Por exemplo, o prazo para o
cumprimento das obrigações, o modo como serão cumpridas, as penalidades por
inadimplemento – juros e multa, por exemplo.

118
ESTUDOS FUTUROS
Quando nos aprofundarmos sobre os tipos de contrato possíveis pela
legislação, comentaremos alguns desses elementos acidentais possíveis.

3 CONTRATOS

Agora que já comentamos sobre diversas características de todos os negócios


jurídicos, podemos focar nosso estudo, especificamente, no tipo de negócio jurídico
mais conhecido e, principalmente, aquele que é o mais usado quando falamos de trocas
de Direitos Reais.

3.1 CARACTERÍSTICAS DOS CONTRATOS

• Bilateralidade: a bilateralidade caracteriza o contrato. Os negócios jurídicos


plurilaterais costumam ser chamados de acordos, ou Contrato Social e
Estatuto, como já vimos na Unidade 1 deste livro didático.

• Deve envolver questões patrimoniais: outra característica dos contratos é


envolver questões patrimoniais. Existem diversas formas de negócios jurídicos
que envolvem duas pessoas e que não englobam questões patrimoniais,
mas só aquelas que extinguem, modifiquem, gerem ou conservem um direito
patrimonial são designadas como contrato para o Direito Civil. Os contratos,
no entanto, podem ser onerosos ou gratuitos.

• Vontade: como todo negócio jurídico, claro, os contratos necessitam de


declaração da vontade das partes, de pessoas capazes, de um objeto lícito,
possível e determinado, ou determinável (Art. 104, CC) (BRASIL, 2002).
Como afirmam Stolze e Pamblona Filho (2020, p. 609), “em uma perspectiva
civil-constitucional, devemos ter em conta que o contrato [...] apenas se
afirma socialmente se entendido como um instrumento de conciliação de
interesses contrapostos, manejado com vistas à pacificação social e ao
desenvolvimento econômico”. Assim, característica essencial de contrato
é que ele seja realizado de maneira que a vontade das duas partes sejam
atendidas. Ele não deve ser um instrumento de coação.

119
NOTA
A manifestação de vontade é a característica principal dos contratos. Os
contratos são negócios jurídicos em que duas partes, a partir de manifestação
de vontade, firmam obrigações mútuas. O Código Civil está organizado de forma
que separa dois temas: Direito das Obrigações e Contratos. São disciplinas que
são separadas na graduação. Isto porque obrigações não necessariamente
partem da vontade de alguém cumprir. Existem obrigações que são impostas
pela lei, como a obrigação de cuidar dos filhos e dos idosos e a obrigação de
pagar imposto. Neste livro, não nos aprofundaremos nas obrigações, focando
nosso estudo nas trocas de Direitos Reais a partir dos contratos.

• Capacidade civil: da mesma forma, a capacidade civil das partes


envolvidas em um contrato deve ser absoluta, e, quando relativa ou
inexistente, a pessoa envolvida deve ser juridicamente representada.

• Objeto lícito, possível e determinável: além disso, não é possível firmar


contratos sem que exista um objeto lícito, possível ou determinado. Assim,
seria inválido, a princípio, um contrato para compra de discos voadores
transplanetários. Isto porque, pelo que consta, esses objetos não existem.
O que se poderia realizar é um contrato em que aquele que se dispõe a
vender se dispõe a inventar a tecnologia e o objeto. Aquele que paga sabe
que o objeto ainda não é possível, mas investe em algo sem saber se haverá
a entrega. Contudo, como o objeto ainda não é possível, um contrato de
compra e venda não seria, a princípio, válido.

NOTA
Entre as diversas classificações dos contratos, existe uma que diz respeito
justamente à possibilidade e previsibilidade do objeto, ou seja, existem
os contratos comutativos, em que as partes preveem os resultados e as
contrapartidas mútuas, e os chamados contratos aleatórios, que dependem
da sorte (do latim alea). Isto é, o contrato aleatório “caracteriza-se, ao contrário
do comutativo, pela incerteza, para ambas as partes, sobre as vantagens e
sacrifícios que dele podem advir. A equivalência não está entre as prestações
estipuladas” (GONÇALVES, 2016a, p. 891).

Ainda, não é possível requerer juridicamente a entrega de coisa ilícita negociada


em contrato de compra e venda. Por exemplo, a compra e venda de pessoas. Este é um
contrato, hoje, totalmente ilícito e, por isso, inválido.

120
INTERESSANTE
É possível realizar a compra e venda de terrenos dentro da realidade virtual.
Na verdade, mesmo antes da criação e do investimento do Facebook em uma
realidade paralela, o Metaverso, já era possível realizar a compra de diversas
coisas virtuais, como roupas para avatares em jogos, rodas para carros de
corrida virtual, por exemplo. Com a criação do Metaverso, a compra e venda de
terrenos virtuais se tornou um assunto debatido. Um dos argumentos usados
é que se compra e vende, na virtualidade, um objeto possível e determinado,
pois é um token, um pixel, algo desenvolvido por alguém. Para ler mais
sobre o assunto, acesse: https://www.infomoney.com.br/guias/terrenos-no-
metaverso/.

• Formalidade: um negócio jurídico, em geral, também tem como requisito


possuir a forma prescrita ou, ao menos, não proibida pela Lei (Art. 104, CC). No
entanto, a forma, assim como já dissemos quanto ao Direito Administrativo
na primeira unidade deste livro, também não é requisito de validade de um
negócio jurídico, agora que falamos do Direito Civil e dos contratos, porque,
em complemento ao Art. 104, CC, deve ser lido o Art. 107, CC, que afirma
que “a validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial,
senão quando a lei expressamente a exigir” (BRASIL, 2002, on-line). Assim, é
possível que se realizem contratos de diversas maneiras. Aliás, a maioria das
trocas juridicamente importantes, os negócios jurídicos, que realizamos são
feitos de maneira informal, de maneira oral, como a compra de um pão na
padaria antes de começarmos a trabalhar. Mesmo na internet, há confiança
de que os negócios se concretizarão, ou seja, mesmo que não se firmem
contratos formais, as pessoas creem que as ofertas serão cumpridas, que
haverá o pagamento pelo produto ou serviço, que a tradição, a entrega do
produto, será concretizada. Porém, o que o Art. 104, CC, dispõe é que, para
alguns casos de transações e contratos, é necessário que alguma forma e
alguns requisitos dos contratos sejam cumpridos para que a transação seja
aceita como legal e legítima.

Cada tipo de contrato previsto no Código Civil trará suas formalidades específicas.

ESTUDOS FUTUROS
Teremos a oportunidade de estudar, especificamente, cada um dos tipos
possíveis de contratos de troca de Direitos Reais em tópico próximo.

121
3.2 FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO

Figura 2 – Mãos cheias de terra

Uma das características do


Código Civil de 2002 é a assunção da
função social do contrato como um dos
pilares do contrato, ao lado da autonomia
das partes e da obrigatoriedade. As partes
são livres para firmar contratos. Quando
firmam esses contratos, devem cumpri-
los à risca, pois manifestaram a vontade
de cumprir aquelas obrigações firmadas.
No entanto, a existência do Princípio
da Função Social do Contrato vem para
limitar os demais princípios quando
eles não atendem, principalmente, aos
ditames da Constituição Federal de 88.

Para Carlos Roberto Gonçalves


(2016, p. 780),

É possível afirmar que o


atendimento à função social pode ser
Fonte: https://unsplash.com/pt-br/fotografias/ enfocado sob dois aspectos:
jin4W1HqgL4. Acesso em: 4 mar. 2023.

• um, individual, relativo aos contratantes, que se valem do contrato para satisfazer
seus interesses próprios;

• e outro, público, que é o interesse da coletividade sobre o contrato. Nessa medida,


a função social do contrato somente estará cumprida quando a sua finalidade –
distribuição de riquezas – for atingida de forma justa, ou seja, quando o contrato
representar uma fonte de equilíbrio social.

É a função social do contrato, portanto, que limita a liberdade de contratar e a


faculdade de cobrar pelo cumprimento de contratos firmados sem que a função social
seja assumida pelos contratantes. Assim, é a partir da necessidade de função social que
é possível a aplicação do Princípio da Onerosidade Excessiva na revisão dos contratos
quando “os contraentes recorrerem ao Judiciário para obterem alteração da convenção
e condições mais humanas em determinadas situações” (GONÇALVES, 2016a, p. 792).

122
3.3 FORMAÇÃO DOS CONTRATOS

Os contratos passam por três momentos: a) as negociações preliminares; b) a


fase de proposta; e c) a aceitação da proposta.

• Negociações preliminares: é na primeira fase que as duas possíveis


partes de contrato futuro “discutem, ponderam, refletem, fazem cálculos,
estudos, redigem a minuta do contrato, enfim, contemporizam interesses
antagônicos, para que possam chegar a uma proposta final e definitiva”
(STOLZE; PAMPLONA FILHO, 2020, p. 662). Veja que, ainda, não há vínculo
entre as partes nem, portanto, qualquer obrigação recíproca.

• Proposta: já na segunda fase, da apresentação da proposta, ocorre o maior


grau de aliança de vontade entre as partes. A proposta, feita de maneira
bilateral ou ao público, obriga, exceto disposição legal em contrário, o
proponente a cumprir com os termos da proposta (Arts. 427 a 429, CC). Por
isso, ensina Gonçalves, a proposta deve conter:

• todos os elementos essenciais do negócio proposto, como


preço, quantidade, tempo de entrega, forma de pagamento etc.;
• deve também ser séria e consciente, pois vincula o proponente
(CC, art. 427);
• deve ser, ainda, clara, completa e inequívoca, ou seja, há
de ser formulada em linguagem simples, compreensível ao
oblato, mencionando todos os elementos e dados do negócio
necessários ao esclarecimento do destinatário e representando
a vontade inquestionável do proponente (GONÇALVES, 2016, p.
814, grifos do autor).

• Aceitação da proposta: por fim, a fase de aceitação da proposta é


a demonstração de que o contrato foi firmado entre as partes, pois as
vontades mútuas foram atendidas.

Figura 3 – Homens se cumprimentando

Fonte: https://unsplash.com/es/fotos/NbtIDoFKGO8. Acesso em: 4 mar. 2023.

123
É possível, no entanto, que a parte que recebe a proposta apresente contraproposta,
modificando os elementos. Nesse caso, é entendido que a formalização do contrato
voltou para a segunda fase. Isto é, “a aceitação fora do prazo, com adições, restrições, ou
modificações, importará nova proposta” (Art. 431, CC) (BRASIL, 2002, on-line).

4 CONTRATOS QUE ENVOLVEM A PROPRIEDADE

Agora que já estudamos o conceito e as características dos contratos e demais


negócios jurídicos, podemos estudar, especificamente, cada um dos tipos de contrato
que estão previstos no Código Civil brasileiro. Entretanto, lembre-se: as pessoas
estabelecem relações de diversas formas, e o Direito não necessariamente acompanha
essas mudanças na sociedade.

Assim, como já prevê o próprio ordenamento jurídico, apenas formas de


negócios jurídicos proibidos pelas Leis não serão considerados válidos (Art. 104, III, CC).

4.1 COMPRA E VENDA

Não é difícil entender do que se trata um contrato de compra e venda. É o tipo


de relação ou negócio jurídico que realizamos com mais frequência – na padaria, no
mercado, em uma compra pela internet, colocando gasolina do carro.

NOTA
Lembre-se: o que caracteriza um negócio jurídico e um contrato não é a
formalidade. Isso significa que não é preciso, na maioria das vezes, um
documento por escrito, oficial, para caracterizar um contrato de compra e
venda, uma oferta, um aceite da proposta, uma manifestação de vontade.

Outros elementos são importantes dentro de um contrato de compra e venda são:

• Troca de direito real por dinheiro: trata-se de um negócio jurídico em


que o comprador concorda com a obrigação de pagar, enquanto o vendedor
concorda em entregar o domínio de algo. Ou seja, necessariamente, o que
ocorre é a troca de um Direito Real por dinheiro. É isso que dispõe o Art.
481, CC: “pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga
a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em
dinheiro” (BRASIL, 2002, on-line).

124
• Vontade de contratar, de ter o valor e de ter a coisa: são três os
elementos desse tipo de contrato: a) a vontade de firmar o contrato, disposta
em documento ou qualquer outra forma que demonstre a concordância do
comprador com a oferta do vendedor; b) o interesse do vendedor em ter o
dinheiro, o preço pelo domínio da coisa, em que as duas partes concordaram
em pagar e receber; e c) o interesse do comprador de ter a coisa.
• Significado de dinheiro: outra observação que se deve ter sobre o contrato
de compra e venda é quanto ao termo dinheiro. Por dinheiro, entende-se
a moeda corrente nacional, o Real. Contudo, não necessariamente, é claro,
que por dinheiro se deve entender apenas cédulas ou moedas de Real. O
“dinheiro”, que se dá em troca de um Direito Real, pode ser cheque, letra de
câmbio, duplicatas – se elas ainda existem –, bem como transações bancárias
de crédito ou débito e, mesmo, o Pix.
• O preço: o valor a ser pago pelo comprador pode ser determinado: a)
previamente entre os contratantes; ou b) eles podem deixar que seja
determinado por terceiro (Art. 485, CC), por preço de mercado em determinada
data (Art. 486, CC) ou qualquer outro índice (Art. 487, CC). Só não é possível
que apenas uma das partes fixem o valor a ser pago (Art. 489, CC).
• A coisa pode ser atual ou futura: um contrato de compra e venda pode ser
feito quando a coisa é atual, já existente, e mesmo de coisa futura. Assim, é
possível realizar uma compra e venda de algo que ainda não existe, mas se
presume que existirá – grãos de feijão que estão plantados, mas que ainda
não existem, por exemplo. Se a coisa não existir – uma queimada que destrua
toda a plantação –, porém, o contrato se torna sem efeito. A exceção se dá se
a intenção das pessoas era que o contrato fosse aleatório – alea: sorte, como
já explicamos anteriormente. É isso que dispõe o Art. 483, CC: “a compra e
venda pode ter por objeto coisa atual ou futura. Neste caso, ficará sem efeito
o contrato se esta não vier a existir, salvo se a intenção das partes era de
concluir contrato aleatório” (BRASIL, 2002, on-line).
• Despesas acessórias ao negócio: salvo se as partes convencionarem o
contrário, ficam às custas do comprador as despesas necessárias para o
registro e a escrituração da coisa, bem como a cargo do vendedor as custas
necessárias para a entrega da coisa – transporte, chaves, refrigeração, por
exemplo (Art. 490, CC).

4.1.1 Venda da coisa alheia

O Código Civil autoriza, em caráter de exceção, que haja a venda de coisa


alheia, ou seja, a venda da coisa de que o vendedor não tem a propriedade. Para isso,
é necessário que a coisa: a) seja oferecida ao público, em leilão ou estabelecimento
comercial; e b) quem compra, com boa-fé, entende que quem vende é o dono da

125
coisa. Ainda, se, depois de realizada a venda, aquele que vende adquirir a propriedade,
entende-se que a transferência ocorreu desde a tradição – a entrega da coisa.

4.1.2 Elementos acidentais em um contrato de compra e


venda

Quando estudamos os elementos dos contratos (item 2.3), referimo-nos a três


tipos de elementos: a) os essenciais, que são estruturais para qualquer tipo de contrato;
b) os naturais, estruturais e obrigatórios para alguns tipos de contratos, ou seja, da
natureza do contrato que está se firmando – no caso do contrato de compra e venda, os
elementos naturais são o preço e a coisa, por exemplo; e c) os elementos acidentais, que
são firmados de maneira acessória aos contratos e não são obrigatórios. São os últimos,
previstos no Código Civil, que estudaremos agora.

• Retrovenda: é possível a existência, nos contratos de compra e venda, de


uma cláusula em que a pessoa que está vendendo tem o direito de reaver a
coisa que vendeu depois de um prazo. Nesses casos, a pessoa que vendeu e
quer a coisa de volta tem que devolver o que o comprador pagou pela coisa e
mais outras despesas que ele teve, como benfeitorias necessárias, aquelas
que o comprador teve para poder continuar usando a coisa, como a reforma
hidráulica de apartamento, por exemplo. O prazo máximo a ser estabelecido
para que o vendedor tenha a coisa de volta é de três anos (Art. 505, CC). A Lei
só dispõe sobre a retrovenda de coisa imóvel, embora haja entendimento da
jurisprudência de que é possível a retrovenda de coisa móvel.
• Venda a contento ou sujeita à prova: é possível contrato que só se
concretize depois de que o comprador, tendo a coisa, confirme que desejará
mesmo realizar a transação. Por exemplo, o comprador deseja comprar uma
máquina nova, mas quer experimentar para ver se aquela coisa satisfará a
sua necessidade. Ou seja, “sua finalidade é permitir que o adquirente verifique
se a coisa satisfaz o seu gosto” (NADER, 2018, p. 248).
• Direito de Preferência: preempção. A palavra preempção, mesmo sendo
a mais incomum, é a que costuma ser usada para esse tipo de cláusula nos
contratos de compra e venda. Trata-se de cláusula que pode ser adicionada
ao contrato de compra e venda que obriga o comprador de algo a, caso
queira vender a coisa para uma outra pessoa ou dar em pagamento, oferecer
a mesma coisa para aquele que vendeu. Exemplo: Joaquim comprou uma
casa do Amadeus. Contudo, agora, quer vender a casa. Como existe uma
cláusula de preempção, ele tem que, primeiro, realizar a oferta para Amadeus
para, depois, anunciar na OLX, por exemplo.

126
• Venda com reserva de domínio: embora o conceito de contrato de compra
e venda envolva a transferência do domínio de algo em troca de dinheiro, a
cláusula de reserva de domínio prevê que se entregue a coisa móvel para
alguém apenas como posse, deixando-se a transferência da propriedade
para quando houver o pagamento total da prestação em dinheiro. Ou seja,
como afirma Carlos Roberto Gonçalves (2016b, p. 78), com essa cláusula,
“o vendedor tem a própria coisa vendida como garantia do recebimento do
preço”. Essa cláusula só pode ser estipulada por escrito, e, para ter valor
perante terceiros, depende de registro no domicílio de quem comprou o
bem móvel (Art. 522, CC).

IMPORTANTE
Esta cláusula só é válida quando se tratar de compra e venda de coisas móveis.
No caso de coisa imóvel, trata-se de contrato específico. Estudaremos esses
tipos de contrato, chamados de Direitos Reais de Garantia, no terceiro tema de
aprendizagem desta unidade.

• Venda sobre documentos: neste tipo de cláusula especial, a prestação do


vendedor, ou seja, a obrigação de dar, de transferir direito real de propriedade,
não acontece com a tradição da coisa móvel, mas pode acontecer apenas
com o registro como de propriedade do comprador. Nesse caso, embora o
comprador não tenha a coisa materialmente, a troca acontece no registro,
na transferência documental da propriedade. Por exemplo, você pode
comprar um quadro de um museu, mas mantê-lo sobre a posse de outra
pessoa. Embora não tenha a posse da coisa, você pode usar, usufruir e
dispor da coisa, inclusive, cedendo, nesse exemplo, o Direito de Uso da coisa
pelo antigo vendedor. Aquele que adquire a coisa, mesmo sem a entrega
(tradição), não pode se eximir de prestar com a sua obrigação, qual seja, a
de pagar. Conforme a doutrina, esse tipo de contrato é muito realizado em
negócios internacionais e marítimos, quando a posse das coisas pode estar
em transporte ou em armazéns. Muitas vezes, aquele que compra – um
importador, por exemplo – não precisa ter a coisa sob seu domínio, às vezes,
até mesmo, já tem contrato para vender a coisa para outra pessoa.

127
Figura 4 – Embarcação com contêineres

Fonte: https://unsplash.com/es/fotos/jOqJbvo1P9g. Acesso em: 4 mar. 2023.

4.2 PERMUTA OU TROCA

Outro tipo de contrato que as pessoas podem firmar por acordo de vontades é a
troca ou permuta. A grande diferença entre o contrato de compra e venda e o de permuta
é que, se, no de compra e venda, ocorre a troca de uma propriedade por dinheiro, o que
caracteriza o contrato de permuta ou troca é que ocorre a troca de uma propriedade
do vendedor por uma propriedade do comprador. Assim, as duas partes do contrato de
permuta têm a mesma obrigação, qual seja a obrigação de dar.

No Código Civil, esse tipo de contrato é disposto em apenas um artigo (Art. 533,
CC), por conta da semelhança entre ele e o contrato de compra e venda. No inciso I
deste artigo, dispõe-se que as despesas – com tradição, registro, por exemplo – serão,
exceto por disposição em contrário, arcadas pela metade por cada um dos contratantes
(BRASIL, 2002).

4.2.1 Quando é um contrato de compra e venda ou uma


permuta

Salvo algumas exceções, é muito difícil que o preço estipulado pelas partes
pelas coisas seja totalmente igual, ou seja, na maioria das vezes, pode ser necessária
uma compensação em direito por uma das partes. Assim, poder-se-ia gerar uma dúvida
sobre quando o contrato é de compra e venda ou de permuta.

128
A doutrina afirma que, se mais da metade do valor da troca tiver que ser feito
em dinheiro, tratar-se-á de contrato de compra e venda, e não de permuta. Contudo,
acreditamos que esse tipo de dúvida é mais acadêmica do que prática.

4.3 CONTRATO INOMINADO DE TROCA DE PROPRIEDADE


POR SERVIÇOS

Já dissemos que o Art. 104, III, CC, não exige que todas as formas de relação
de troca entre as pessoas estejam dispostas no Código Civil ou em qualquer outra lei.
Apenas exige que esse negócio jurídico não seja proibido.

Uma troca entre um bem por um serviço é um tipo de contrato inominado, não
tem seu nome previsto na legislação nem mesmo quais são seus elementos naturais
ou acidentais. Ele não é proibido pela legislação. No entanto, é preciso tomar cuidado
se ele não é realizado para obscurecer uma relação de trabalho ou, pior, uma situação
análoga à escravidão.

4.4 CONTRATO ESTIMATÓRIO (CONSIGNAÇÃO)

Nesse tipo de contrato, a figura do vendedor é, também, chamada de


consignante. Ele entrega a coisa móvel para o comprador, que também recebe o nome
de consignatário. O consignatário pode: a) pagar pela coisa depois do prazo determinado;
ou b) devolver a coisa, de forma parcial ou total.

É contrato interessante para o comércio, porque “favorece as partes


contratantes: ao produtor ou atacadista, porque amplia as suas possibilidades de
vendas e ao comerciante, uma vez que lhe permite manter a atividade e obter lucros
sem contar com o próprio capital” (NADER, 2018, p. 287). Também é contrato que
envolve, pelo Código Civil, apenas a coisa móvel, embora se deva sempre ter e mente
que a legislação apenas não aceita negócios jurídicos que sejam proibidos.

4.5 DOAÇÃO
É fácil entender do que se trata a doação apenas apelando para o senso
comum. Doação é a transferência gratuita da propriedade de algo para alguém. Ou seja,
é um negócio jurídico gratuito, sem que uma das partes tenha qualquer obrigação, a
princípio. No entanto, é preciso ter em mente, antes de tudo, que todos os contratos têm
como princípio a função social. E, muitas vezes, a doação é usada para esconder outros
tipos de relações, como, por exemplo, uma doação usada para esconder uma relação de
compra e venda, a fim de que não se incidam impostos.

129
4.5.1 Doação com ou sem encargo

Embora a doação seja um ato de liberalidade daquele que deseja acrescer o


patrimônio de outra pessoa se desfazendo do seu, é possível que o doador imponha
condições (encargos) para aquele que receberá a coisa. Não se trata, mesmo assim, de
contrato oneroso.

4.5.2 Declaração de vontade de doar e de receber

Aquele que doa (doador) tem que demonstrar que deseja apenas dispor de seu
patrimônio em favor do beneficiário. Não pode haver a obrigação de realizar a doação, pois
ela é um ato de liberalidade. Também aquele que recebe (donatário) precisa concordar com
a doação. Ela é feita dentro do prazo estabelecido pelo doador. Contudo, se o donatário não
declarar que aceita dentro do prazo, não se manifestar, entende-se que ele aceitou o ato de
liberalidade, a não ser que seja uma doação com encargos (Art. 539, CC).

4.5.3 Formalidade

Conforme dispõe o Art. 541, CC, a doação deve ser feita por escritura pública
ou instrumento particular, embora, se a coisa for móvel e de baixo valor, ela se constate
apenas pela tradição (entrega da coisa) sem a manifestação contrária da doação de
nenhuma das partes.

5 CONTRATOS QUE ENVOLVEM OUTROS DIREITOS REAIS

Os que apresentamos até agora são tipos de contratos que envolvem a venda,
por dinheiro, e a troca, por outra propriedade, das coisas móveis e imóveis. No entanto,
alguns contratos dispostos no Código Civil – contratos nominados e típicos – versam
não sobre o Direito de Propriedade, mas sobre outros tipos de Direitos Reais, como o
Direito de Uso e Usufruto das coisas móveis ou imóveis.

5.1 CONTRATO DE LOCAÇÃO DE COISAS

Um dos tipos de contratos previsto no Código Civil é um dos mais comuns e


que não envolve a troca de propriedade: a locação das coisas. Pelo conceito disposto no
Código Civil, Art. 565, na locação, “uma das partes se obriga a ceder à outra, por tempo
determinado ou não, o uso e gozo de coisa não fungível, mediante certa retribuição”
(BRASIL, 2002, on-line). Algumas características estão, portanto, bem expostas:

130
• Obrigação de ceder o uso e o gozo: ao locador, possuidor ou proprietário,
está clara a sua obrigação contratual – a cessão do uso e gozo da coisa.
• A coisa: não é possível ceder algo possível de deixar de existir. É necessário
que a coisa seja não fungível, não seja consumível. Ainda, é possível se locar
tanto coisas móveis como imóveis. No entanto, a locação de alguns tipos de
coisas é regulamentada por outras legislações, que forma complementar ou
em substituição às regras do Código Civil. É caso, por exemplo, da locação de
imóveis urbanos, que é regulamentada por lei específica – a Lei nº 8.245/91,
Lei do Inquilinato (BRASIL, 1991).
• Tempo: o tempo da cessão do Direito de Uso e Gozo de algo é um dos
elementos do contrato de locação. Como dispõe o Art. 565, CC, esse
prazo pode ou não ser estipulado anteriormente pelas partes. No entanto,
mesmo que não seja estipulado em contrato, é característica do contrato
de locação que ele seja temporário, afinal, um contrato de locação perpétua
seria uma contradição (STOLZE; PAMPLONA FILHO, 2020). Se o tempo em
que as pessoas estipularam para a locação acabar, e não houver oposição
do locador sobre a pessoa continuar usando e gozando da coisa, presume-
se que a locação está prorrogada pelo mesmo valor do aluguel estipulado
anteriormente e que o contrato se tornou por prazo não determinado (Art.
574, CC). Se notificado e o locatário não devolver a coisa, deverá pagar valor
de aluguel estipulado pelo locador, a menos que seja excessivo, e pagar pelas
avarias que ocorrem (Art. 575, CC).

Figura 5 - Tempo

Fonte: https://unsplash.com/es/fotos/eIkbSc3SDtI. Acesso em: 4 mar. 2023.

Retribuição: a cessão do uso e do gozo de algo para alguém, sem que seja exigida
uma recompensa. Em geral, a periodicidade da retribuição – o preço do aluguel – é mensal,
e a recompensa se dá em dinheiro. No entanto, não é proibida a recompensa em produtos
ou serviços, bem como a periodicidade do pagamento pode ser estipulada pelas partes.

131
5.2 EMPRÉSTIMO

Existem duas formas de contratos de empréstimo: o comodato e o mútuo.

O comodato diz respeito aos bens não fungíveis. Ao contrário do que acontece
na locação, no comodato, a pessoa que empresta a coisa não empresta com a vontade
de adquirir uma recompensa. Daquele que recebe a coisa fungível para uso e gozo não
é exigida uma recompensa em dinheiro ou qualquer outra forma. Assim como a locação,
existe um tempo determinado para o comodato. Assim, findo o prazo, aquele que recebe
a coisa, que pode ser móvel ou imóvel, deve devolver a coisa àquele que emprestou.

No mútuo, no entanto, a coisa que é emprestada é fungível, pode ser trocada


por outra, pode ser consumível. Nesse caso, portanto, aquele que recebe a coisa, por
tempo determinado, não tem como devolvê-la integralmente. Assim, nesse tipo de
empréstimo, aquele que recebe a coisa, o mutuário, “é obrigado a restituir ao mutuante
(aquele que cedeu) o que dele recebeu em coisa do mesmo gênero, qualidade e
quantidade” (Art. 586, CC) (BRASIL, 2002, on-line).

Sobre a importância econômica do mútuo, Stolze e Pamplona Filho (2020, p.


968) afirmam que, “sem dúvida, o contrato de mútuo é uma das molas propulsoras
da economia mundial, por ser um importante instrumento de realização da atividade
financeira”, porque o bem fungível que mais se empresta a título de mútuo é o dinheiro.
Assim, o mútuo é, geralmente, a forma como bancos e outras pessoas, emprestam
dinheiro, por tempo determinado, para que outras pessoas usem para impulsionar um
negócio próprio, por exemplo.

Ao contrário do contrato de comodato, portanto, na maioria das vezes, o


empréstimo realizado na modalidade de mútuo é um contrato oneroso, que onera o
mutuário a devolver a coisa, a depender do contrato feito pelas partes da forma como
essa devolução será realizada – se em dinheiro, em coisas ou serviço, se com acréscimos
de juros ou não.

6 USUCAPIÃO

No item 4.2 do primeiro tema de aprendizagem, nesta unidade do nosso livro


didático, comentamos sobre as formas de aquisição da propriedade previstas no Código
Civil brasileiro. Já comentamos, no item 4, sobre a aquisição de propriedade de coisas
móveis e imóveis por contrato – compra e venda, doação, permuta, por exemplo. Agora,
estudaremos, neste último tópico do segundo tema de aprendizagem, sobre uma forma
de aquisição da propriedade distinta, que é a aquisição por Usucapião.

Não se trata de uma forma de contrato, mas de aquisição de propriedade por


determinado tempo de posse e uso. Não é possível que seja realizada a Usucapião de bens

132
públicos. Por isso, como já vimos, o que o Estado costuma conceder são Direitos Reais
especiais de uso e de habitação quando o imóvel é ocupado por uma família ou um grupo
delas, até mesmo, a título de regularização fundiária. É possível que exista Usucapião
tanto de coisa móvel como de coisa imóvel. Agora, destrincharemos cada uma delas.

6.1 USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA DE COISA IMÓVEL

A Usucapião Extraordinária de coisa imóvel é aquela que está prevista no Art.


1.238 do Código Civil. Dispõe que aquele que possuir, por 15 anos seguidos e sem
qualquer obstáculo ou oposição, uma coisa imóvel adquire a propriedade dela. Esse tipo
de Usucapião independe que a posse seja exercida com título ou de boa-fé.

6.2 USUCAPIÃO ORDINÁRIA DE COISA IMÓVEL

Já a Usucapião é chamada de Ordinária quando é exercida com boa-fé e com


justo título. Nesses casos, o prazo de exercício da posse para a aquisição da propriedade
diminui para 10 anos. Ela está disposta no Art. 1.238, parágrafo único, CC.

6.3 USUCAPIÃO ESPECIAL

A lei dispõe, ainda, de tipos de usucapião especiais, cujo prazo de posse


exercida é diminuída. Nesses casos especiais, o prazo de posse é de cinco anos. Trata-
se de formas de usucapião que priorizam a aquisição de propriedade de bens imóveis de
pessoas que estão, além da posse, exercendo o uso e o gozo da coisa e que não possuem
a posse de qualquer imóvel. Assim, trata-se de uma forma de política pública, pois visa à
diminuição da desigualdade social, priorizando a função social da propriedade.

A Usucapião Especial Rural está disposta no Art. 1.239, CC, e visa à


transformação de propriedade de quem exerce a posse de bem rural. Os requisitos para
essa aquisição são:

• Não ser proprietário de outro imóvel, rural ou urbano.


• O imóvel ser de, no máximo, 50 hectares.
• Ter tornado a terra produtiva para seu trabalho ou da sua família e tendo
nela sua moradia.
• Adquire-se a propriedade com a posse de cinco anos, exercida sem
interrupção e sem oposição.

A Usucapião Especial Urbana está disposta no Art. 1.240, CC, e no Art. 9º do


Estatuto das Cidades (Lei nº 10.257/2001). Tem características muito parecidas com a
de Usucapião Especial Rural:

133
• Não ser o adquirente proprietário de outro imóvel, rural ou urbano.
• O imóvel urbano não pode ter mais que 250 metros quadrados.
• Usar o imóvel para moradia sua ou da sua família.
• Adquire-se a propriedade com a posse de cinco anos, exercida sem
oposição.

NOTA
Quando nos referimos à Concessão de Uso Especial para Fins de Moradia,
comentamos que ela era concedida na forma de Direito de Uso, justamente
porque não é possível que exista a Usucapião de bens públicos – móveis ou
imóveis. Assim, a Usucapião Especial Urbana e Rural só acontece quando o
imóvel que se adquire a propriedade é um bem particular, pertencente a uma
pessoa privada.

Quanto à Usucapião Especial Urbana e Coletiva, nem sempre a posse de


imóveis urbanos é exercida apenas por uma família. Infelizmente, vemos, nas cidades,
ocupações de imóveis exercidas precariamente por diversas famílias, em “palafitas,
trapiches, farrapos”, como na música Alagados, da banda Paralamas do Sucesso.

Figura 6 - Moradia

Fonte: https://unsplash.com/pt-br/fotografias/BIyWjR-_ycc. Acesso em: 5 abr. 2023.

Nesses casos, o Estatuto das Cidades dispõe, em seu Art. 10, que é possível a
aquisição da propriedade do imóvel de maneira coletiva. São requisitos:

• Nenhum dos adquirentes ter a propriedade de um bem imóvel rural ou


urbano.
• A área a ser usucapida, dividida por todos os adquirentes, não pode ser
maior que 250 metros quadrados.

134
DICA
Quando nos referimos à Concessão de Uso Especial para Fins de Moradia,
comentamos que ela era concedida na forma de Direito de Uso, justamente
porque não é possível que exista a Usucapião de bens públicos – móveis ou
imóveis. Assim, a Usucapião Especial Urbana e Rural só acontece quando o
imóvel que se adquire a propriedade é um bem particular, pertencente a uma
pessoa privada.

A Usucapião Especial Familiar, dentre as espécies de Usucapião Especial, é,


conforme acreditamos, ainda mais especial. Ela é reservada para aquela pessoa que se
mantém com a posse de imóvel usado para domicílio familiar após o abandono do lar por
ex-cônjuge ou parceiro. Assim, tem a clara intenção de proteger aquele que se mantém
cuidando dos filhos. É disposto no Art. 1.240-A, CC. Seus requisitos são:

• Não possuir outro imóvel como seu, seja rural ou urbano.


• O imóvel urbano não pode ter mais que 250 metros quadrados.
• Exercer a posse do imóvel por até dois anos, sem interrupção ou
qualquer oposição.

A Usucapião Indígena, por fim, é uma última hipótese de Usucapião e diz


respeito aos indígenas. É disposta no Art. 33 do Estatuto do Indígena (Lei nº 6.001/73).
São seus requisitos:

• O prazo de posse é de 10 anos.


• O imóvel não pode ser maior que 50 hectares

6.4 USUCAPIÃO DE COISA MÓVEL

Assim como a Usucapião de coisa imóvel, a Usucapião de coisa móvel também


possui duas formas. A Extraordinária, que independe de justo título ou de boa-fé e é adquirida
após a pessoa ter a posse da coisa por mais de cinco anos; e a Ordinária, que depende de
justo título e boa-fé, neste caso, a propriedade é adquirida após dois anos de posse.

6.5 PUBLICIDADE DA PROPRIEDADE ADQUIRIDA POR


USUCAPIÃO

A Usucapião é forma de aquisição da propriedade a partir do exercício da posse


por tempo determinado. Isso significa que independe de decisão judicial ou qualquer
outro reconhecimento para que ela seja adquirida. No entanto, a pessoa que adquire

135
a propriedade dessa forma pode e deve exercer a publicidade jurídica dessa aquisição.
Existem duas formas para essa publicidade ser realizada.

6.5.1 Usucapião Judicial

A pessoa que adquiriu a propriedade a partir da Usucapião pode requerer, em


juízo, que seja declarada a propriedade. Essa sentença declaratória é instrumento
suficiente para realizar a publicidade jurídica da propriedade no Registro de Imóveis
competente (Art. 1.241, CC).

6.5.2 Usucapião Extrajudicial ou Administrativa

No entanto, é possível que a pessoa peça o reconhecimento da propriedade


diretamente no Registro de Imóveis competente, conforme disposto no Art. 216-A da
Lei de Registro Público. É preciso que o processo de reconhecimento seja feito com a
representação de um advogado.

136
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:

• o conceito de negócio jurídico e os seus requisitos de validade;

• que os contratos são uma espécie de negócios jurídicos, bem como as suas
características;

• os tipos de contratos firmados para a troca de Direitos Reais;

• sobre a Usucapião e suas diversas formas e requisitos.

137
AUTOATIVIDADE
1 Para Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona Filho (2020, p. 232), “negócio jurídico é a
declaração de vontade, emitida em obediência aos seus pressupostos de existência,
validade e eficácia, com o propósito de produzir efeitos admitidos pelo ordenamento
jurídico pretendidos pelo agente”.

Fonte: STOLZE, P.; PAMPLONA FILHO, R. Manual de Direito


Civil: volume único. 4. ed. São Paulo: Saraiva Educação,
2020.

Sobre os negócios jurídicos em geral, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Um negócio jurídico somente pode ser firmado por duas pessoas. Se for firmado
por apenas uma é uma obrigação. Se for firmado por mais de uma, é um acordo.
b) ( ) Nem todas as trocas entre as pessoas são reconhecidas como negócios jurídicos,
mas apenas aquelas que têm alguma relevância jurídica.
c) ( ) Para ser considerado um negócio jurídico, ele deve envolver questões patrimoniais.
d) ( ) Pelo Princípio da Publicidade, só existe um negócio jurídico a partir do momento
que for devidamente publicizado.

2 Dispõe o Art. 481, CC, que “pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes
se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em
dinheiro” (BRASIL, 2002, on-line).

Fonte: BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002.


Institui o Código Civil. Brasília, DF: Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil, 11 jan. 2002. Disponível em: https://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm.
Acesso em: 3 abr. 2023.

Com base no conceito legal, bem como no estudo dos contratos de compra e venda,
analise as sentença a seguir:

I- No contrato de compra e venda, o interesse do vendedor é ter a coisa, e do comprador


é o de ter o dinheiro. Assim, o vendedor se obriga a dar a coisa, e o comprador se
obriga a pagar.
II- A lei fala de pagar o preço certo em dinheiro. No entanto, por dinheiro, deve-se
entender, também, transações bancárias, letras de câmbio, cheques e até mesmo o
Pix.
III- Na retrovenda, o comprador se obriga, se quiser se desfazer da coisa, a oferecê-la
ao vendedor.

138
Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças II e III estão corretas.


b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 No contrato de compra e venda e na doação, o que se troca é a propriedade. No


entanto, existem outros tipos de contratos típicos, dispostos no Código Civil, que
não envolvem esse Direito Real. Sobre esses tipos de contratos, classifique V para as
sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) O empréstimo, nas modalidades de mútuo e comodato, têm como característica a


gratuidade. Assim, aquele que empresta não quer acrescer patrimônio.
( ) Uma das características do contrato de locação é a temporalidade. No entanto, se
o tempo estipulado acabar e a pessoa locatária não se manifestar requerendo a coisa
novamente, entende-se que ele se renovou, mas, agora, por tempo indeterminado.
( ) O que diferencia a locação do comodato é que a coisa, na locação, pode ser bem
fungível, substituível e consumível, ou não fungível; já o comodato somente pode
envolver coisas não fungíveis.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V - F - F.
b) ( ) V - F - V.
c) ( ) F - V - F.
d) ( ) F - F - V.

4 A Usucapião é uma forma de aquisição da propriedade a partir do exercício da posse.


Existem, no entanto, alguns requisitos para essa aquisição, bem como diversas
formas de usucapião, a depender da forma como essa posse é exercida e, mesmo,
da existência de boa-fé e justo título. Dessa maneira, responda, sobre a Usucapião
de Imóveis Extraordinária, a Usucapião de Imóveis Ordinária, a Usucapião Especial
Urbana e a Usucapião Especial Rural, especificamente, qual é o prazo de posse
para que seja adquirida a propriedade? É necessário justo título e boa-fé? Qual é o
tamanho máximo do imóvel de posse?

5 A Usucapião é a forma de aquisição de coisas móveis e imóveis. Embora, nesse


caso, a publicidade jurídica não seja condição para a aquisição da propriedade,
ela é importante para assegurar maior segurança jurídica àquele que adquiriu a
propriedade. Sobre as formas de publicidade jurídica da aquisição por Usucapião,
explique como acontece a Usucapião Judicial e a Administrativa.

139
140
UNIDADE 2 TÓPICO 3 -
GARANTIAS

1 INTRODUÇÃO

Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao último tema de aprendizagem desta nossa


segunda unidade do livro didático da disciplina de Despacho Imobiliário e Autoral.

Nos temas anteriores, focamos nosso estudo nas formas de Direitos que as
pessoas exercem sobre as coisas móveis e imóveis, bem como nas formas de trocas de
Direitos Reais por dinheiro e por Direitos Reais sobre outras coisas. Nosso estudo se deu,
basicamente, sobre o patrimônio, o conjunto de bens que as pessoas possuem.

Nesta última etapa de estudo desta unidade, falaremos do patrimônio como uma
garantia. Ou seja, o patrimônio é, muitas vezes, a forma que as pessoas têm de responder
sobre suas obrigações. Como defende Pereira (2017, p. 290), “pelos débitos, assumidos
voluntariamente ou decorrentes da força da lei, respondem os bens do devedor, tomado
o vocábulo ‘bens’ em sentido genérico, abrangentes de todos os valores ativos de que
seja titular”. Como aponta o professor, nem sempre foi assim, e a garantia que recai
sobre o patrimônio é uma vitória civilizacional. É melhor que as pessoas paguem por
suas obrigações a partir de seus bens do que a partir da sua própria vida.

Embora os chamados “Direitos Reais de Garantia”, o objeto de estudo deste último


tema de aprendizagem desta nossa segunda unidade, seja uma vitória civilizacional, é
preciso que ela seja regulamentada, a fim de que possa dar uma segurança jurídica que
dê às pessoas poder para assumir os riscos de realizar contratos entre si, diminuindo
as inseguranças de que a outra pessoa cumprirá com a sua obrigação e possa garantir
o bem-estar, a segurança, a integridade física e outros direitos pessoais daqueles que
estão obrigados a alguma coisa por um contrato, ou seja, a função social do contrato e,
mesmo, dos Direitos Reais.

141
2 GARANTIAS

Existem duas formas de garantias: as pessoais ou fidejussórias, que são dadas


por terceiros da relação, e as reais, que recaem sobre o patrimônio das pessoas que
estão no contrato. Neste tópico, nos ateremos às garantias pessoais e, nos demais,
sobre os Direito Reais de Garantia.

2.1 GARANTIAS PESSOAIS

Entre as garantias pessoais, também existem três tipos de garantias: o aval, a


fiança e a figura do garante solidário.

O aval é regulamentado pelo Art. 897, CC. Ele tem o objetivo de garantir o
pagamento de algum tipo de título de crédito, como, por exemplo, um cheque. Ou seja,
o “avalista” é a pessoa, alheia às partes de um título de crédito – o credor e o devedor –
e que garante que aquele pagamento será realizado – se não pelo credor original, pelo
próprio avalista, que pode entrar em ação de cobrança contra o credor original. O aval
somente tem validade se contar com a assinatura do avalista.

A fiança não garante o pagamento de um título de crédito qualquer, mas é tipo


de garantia que se dá em contratos. Ou seja, é um contrato realizado, com ou sem a
participação do comprador e devedor, entre o fiador e o credor de um contrato. Dispõe o
Art. 818, CC, que, “pelo contrato de fiança, uma pessoa garante satisfazer ao credor uma
obrigação assumida pelo devedor, caso este não a cumpra” (BRASIL, 2002, on-line).

Figura 1 - Cheque

Fonte: https://unsplash.com/pt-br/fotografias/KkV-GYUCZf4. Acesso em: 6 abr. 2023.

No garante solidário, além das duas formas de garantias pessoais dispostas


no Código Civil, existem diversas situações em que o terceiro não apenas é o avalista
ou o fiador do pagamento do preço, mas responde solidariamente pela dívida. Essa
solidariedade não se dá por contrato entre o credor e o fiador, nem mesmo com um aval

142
dado pelo avalista, mas a figura do garante solidário se confunde com o de devedor. Ele
e o devedor devem responder solidariamente à dívida, mesmo que apenas um deles seja
quem esteja com a coisa, por exemplo.

3 ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA

No contrato de compra e venda, o momento do cumprimento da obrigação de


pagar pode variar conforme as pessoas acordem. Contudo, enquanto não houver o total
cumprimento dessa obrigação de pagar, a pessoa que vende não é obrigada a dar a
coisa, pela tradição ou Registro, a não ser que o pagamento acordado tenha sido feito a
crédito (Art. 491, CC).

No entanto, na modalidade de alienação fiduciária, há a entrega da coisa mesmo


que não seja realizado o pagamento, mesmo que não tenha sido pago nada. A entrega
é feita com a segurança de que a pessoa pagará pela coisa entregue. Nesse caso, é a
própria coisa entregue que garante o pagamento.

Figura 2 - Viajantes

Fonte: https://unsplash.com/pt-br/fotografias/uTFiFYeQhlI. Acesso em: 6 abr. 2023.

“Fiduciária” vem de fidúcia, palavra de origem latina que significa confiança.


Assim, a alienação (venda) fiduciária seria a realizada com a confiança, a garantia, de
que a pessoa que está comprando realizará sua obrigação de pagar no futuro, dentro do
prazo estipulado no contrato.

3.1 DIFERENÇAS ENTRE A ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA E A


CLÁUSULA DE RESERVA DE DOMÍNIO

Você pode estar se lembrando de que, quando falamos do contrato de compra


e venda, falamos sobre um elemento acidental desse tipo de contrato, que é a cláusula
de reserva de domínio. E, de fato, a reserva de domínio é muito semelhante à alienação
fiduciária. No entanto, elas se distinguem porque:

143
• A coisa: a reserva de domínio só é aplicável para a compra e venda de
coisas móveis, enquanto é possível realizar a alienação fiduciária tanto de
coisas móveis como de coisas imóveis.
• Propriedade fiduciária: na alienação fiduciária, o credor transfere ao
devedor a propriedade, embora seja uma forma precária de propriedade,
que só se concretiza com o pagamento total do preço acordado pelos
contratantes. Já no caso da cláusula de reserva de domínio, a pessoa
que está vendendo a coisa móvel transfere apenas a posse para quem
está comprando, esperando para transferir a propriedade para quando o
preço estiver totalmente pago.

• As pessoas: a alienação fiduciária é realizada entre uma entidade


financeira – bancos, financeiras e outros tipos de empresas que atuam
no mercado financeiro – e o credor. Por outro lado, a cláusula de reserva
de domínio pode ser realizada entre qualquer tipo de pessoa, física ou
jurídica.

3.2 PUBLICIDADE DA ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA

A publicidade jurídica do contrato de alienação fiduciária é condição para a


existência do contrato. Em outras palavras: é necessário que ele seja registrado no
Registro de Imóveis competentes ou, então, no lugar competente para o licenciamento
do veículo. Deve haver a publicidade no local que é o domicílio do devedor (Art. 1.361,
§1º, CC). Ou seja, sem que haja a publicidade jurídica, a pessoa devedora não adquire a
propriedade da coisa.

3.3 FORMALIDADE DO CONTRATO

O Código Civil dispõe sobre elementos necessários para um contrato de


alienação fiduciária: o total da dívida ou a sua estimativa; o prazo ou a época em que
será pago o preço; a taxa de juros, se houver; a descrição da coisa, com os elementos
necessários para a sua identificação (Art. 1.362, CC).

4 PENHOR, HIPOTECA E ANTICRESE

O penhor, a hipoteca e a anticrese são Direitos Reais de Garantia que estão


dispostos no mesmo Título dentro do Código Civil brasileiro, porque possuem
características em comum, apresentadas nos Arts. 1.419 a 1.430, CC: somente podem

144
ser oferecidos por aqueles que podem alienar a coisa. Se houver copropriedade, todos
os proprietários devem concordar com a garantia real; somente podem se impor sobre
coisas que podem ser alienadas.

Por se tratar de Direito Real de Garantia, entende-se que esses direitos são
acessórios ao contrato principal de transferência de Direitos Reais.

4.1 PENHOR

O penhor é instrumento de garantia que o devedor oferece ao credor de alguma


obrigação. Ou seja, quando as partes realizam algum tipo de transação, o devedor, a fim
de assegurar ao credor que cumprirá com a sua obrigação, oferece algum bem de sua
propriedade como garantia para aquela obrigação.

O penhor é realizado sobre coisas móveis. Ele se distingue em: penhor rural –
agrícola e pecuário; penhor industrial e mercantil; penhor de direitos e títulos de créditos;
penhor de veículos; e penhor legal. Quando se tratar do penhor de direitos e títulos de
créditos e penhor legal, a posse da coisa móvel é transferida para o credor. Nos demais
casos, permanece com o devedor, que deve guardar e conservar (Art. 1.431, CC).

4.1.1 Publicidade jurídica do penhor

Qualquer um dos contratantes deve realizar a publicidade jurídica do penhor,


levando-o a registro: no Registro de Títulos e Documentos, quando se tratar do penhor
rural, do penhor de direitos e títulos de crédito e do penhor de veículos – neste caso, no
domicílio do devedor; ou no Registro de Imóveis, quando de tratar do penhor industrial
ou mercantil.

4.1.2 Penhor legal

O penhor legal é hipótese de penhor que independe de convenção. Ele se dá a


favor do credor sobre coisas que pertençam ao devedor. São os casos:

• Dos hospedeiros ou fornecedores de pousada ou alimento. Isto é, os donos


de hotéis, de restaurantes, de pousadas, por exemplo, podem exercer o
penhor sobre bagagens, móveis, joias e dinheiro de seus consumidores ou
fregueses, até que esses paguem suas dívidas referentes ao consumo e
hospedagem.

• Da mesma forma, o dono de imóvel pode reter, por penhor, as coisas móveis
dos rendeiros ou inquilinos.

145
4.2 HIPOTECA

Se o penhor é realizado sobre coisa móvel, a hipoteca tem por objeto a coisa
imóvel e, também, se aplica sobre navios e aeronaves. Também podem ser objetos de
hipoteca, ainda, os direitos – o Direito de Uso Especial para fins de moradia e o Direito
Real de Uso.

4.2.1 Publicidade jurídica da hipoteca

A hipoteca só se constitui com a sua publicidade jurídica, realizada no Registro


de Imóveis do lugar onde a coisa estiver.

4.2.2 Hipoteca legal

Assim como ocorre com a penhora legal, há situações em que a hipoteca


independe de que a pessoa credora demonstre vontade de realizar a hipoteca. São os
casos da hipoteca realizada (Art. 1.489, CC):

• Pelas pessoas de Direito Público Interno, de imóveis pertencentes aos


encarregados da cobrança, guarda ou administração de seus fundos e
rendas.

• Pelos filhos, dos imóveis do pai ou da mãe, quando se casam novamente,


até que seja feito o inventário dos bens do casal anterior.
• Pela vítima ou seus herdeiros sobre os imóveis do agressor, até que sejam
pagos os danos da agressão e das despesas judiciais.

• Pelo coerdeiro. Nesse caso, aquele que não está com o imóvel herdado –
por exemplo: um dos filhos mora na casa dos pais, e os seus irmãos são
coerdeiros – tem, sobre o imóvel herdado, o direito de hipoteca legal sobre
o imóvel.

• Pelo credor de imóvel arrematado, a fim de garantir o pagamento do


restante do preço da arrematação.

146
4.3 ANTICRESE

A anticrese é garantia real que recai sobre os frutos e rendimentos, e não sobre a
propriedade total do imóvel – que envolve, também, o Direito de Uso e disposição da coisa.
No caso da anticrese, o devedor pode oferecer ao credor que assuma o direito de usufruir
dos frutos e dos rendimentos de imóvel, a fim de garantir o pagamento de uma dívida.

Embora o Código Civil não exemplifique que apenas bens imóveis podem ser
colocados em anticrese, a doutrina entende que tal tipo de garantia real se dá apenas
sobre coisas imóveis. A publicidade da anticrese é realizada no Registro de Imóveis do
local onde se encontra o imóvel.

147
LEITURA
COMPLEMENTAR
USUCAPIÃO DE FILHO QUE MORA EM IMÓVEL DA MÃE: PODE ISSO?

Luiz Fernando Pereira Advocacia

Diante de diversos casos complexos que lido em minha vida profissional, tive
que escrever este breve artigo a ponto de querer ainda mais me aprofundar à temática,
a qual tive como inspiração.

É inegável que o acesso à informação por meio da internet é algo positivo para a
sociedade. No entanto, é preciso evitar informações errôneas e precipitadas, como aquela
velha frase: “eu ouvi dizer” ou “me contaram que eu tenho direito”. Não é bem assim!

O caso inspirador deste artigo: uma mãe que, há mais de 16 anos, entregou um
de seus imóveis para que seu filho morasse, autorizado por seus irmãos. Ocorre que a
mãe, por problemas financeiros e por saber que seu filho já havia comprado um imóvel
financiado em seu nome, resolveu pedir a posse amigável para o filho, no entanto, para
sua surpresa, ele diz: “não devolverei o imóvel, pois possuo o direito sobre ele, a senhora
o perdeu pelo desuso. Entrarei com usucapião e pronto!”.

Entristecida com a reação de seu filho, ela busca apoio jurídico-profissional.


E qual é a solução? Existe mesmo o direito do filho de obter o imóvel por meio de
usucapião? Vejamos as respostas conforme uma análise mais técnica.

[...]

Feitas todas as considerações iniciais acerca de cada espécie ou tipologia das


usucapiões existentes, podemos retomar ao tema: afinal, quem tem o direito? A mãe,
que emprestou o imóvel ao seu filho? Ou o filho, com o direito de promover a ação de
usucapião? Vale responder tais questionamentos!

Em primeiro lugar, não vislumbro sequer uma possibilidade, nem mesmo mínima,
de direito por parte do filho que pretendia adquirir o imóvel por meio de usucapião, seja
quais espécies fossem! Detenção e posse são coisas distintas. Considera-se possuidor
todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes
à propriedade. A detenção é aquela situação em que alguém conserva a posse em nome
de outro e em cumprimento às suas ordens e instruções.

148
No caso, o filho possuía apenas a detenção sobre o bem imóvel, pois a relação
jurídica entre mãe e filho se caracterizou como comodato (empréstimo), ainda que
ausente de formalidade, por escrito, sendo válido verbalmente. De fato, a proprietária
transferiu a posse direta e manteve como indireta, sendo, portanto, ausente, ao filho,
“animus domini”, devido à posse precária.

É muito diferente se a mãe vier a falecer no futuro e o filho ainda residir no


imóvel, do qual poderá obter o direito de aquisição da propriedade por meio de usucapião
extraordinário, conforme já tratamos, no entanto, os prazos começarão a contar a partir
de preenchidos os requisitos previstos em lei.

Nesse sentido, conclui-se que a mãe apenas empresou o imóvel e o filho detém
o imóvel, mas não é possuidor do bem, não obtendo o direito a promover nenhum tipo
de usucapião.

Respondidas tais questões, agora, qual é a conclusão de tudo isso?

Na defesa dos interesses da dona legitima do imóvel, a solução ideal seria


notificar o filho para sair do imóvel com prazo previamente estabelecido e, descumprido
o prazo, promover ação de reintegração de posse sobre o imóvel a favor da mãe.

Caso a mãe pense antes de promover a referida ação, deixando o seu filho no
imóvel, o caminho é instrumentalizar com um documento específico, a fim de proteger
seu bem imóvel contra problemas futuros.

Fonte: https://drluizfernandopereira.jusbrasil.com.br/artigos/700800143/usucapiao-de-filho-que-mora-
-em-imovel-da-mae-pode-isso. Acesso em: 6 abr. 2023.

149
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:

• que existem dois tipos de garantias de negócios jurídicos: as pessoais e as reais.


• a diferença entre o aval, a fiança e a garantia solidária.
• no que constitui a alienação fiduciária.
• sobre os institutos do penhor, da hipoteca e da anticrese, reconhecendo suas
diferenças.

150
AUTOATIVIDADE
1 A garantia é instrumento importante para o capitalismo, pois pode servir de respaldo
para que pequenas e grandes trocas de coisas, serviços e informações sejam
realizadas, pois as duas partes se sentem seguras para realizar essas trocas. A partir
da garantia, as partes convencionam sem correrem o risco de não poderem cumprir
com suas obrigações ou não terem as obrigações da outra parte cumpridas.

Sobre as formas de garantias, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Existem dois tipos de garantias. As pessoais, que incorrem sobre a pessoa


devedora, sem a participação de terceiros; e as garantias reais, que incidem sobre o
patrimônio de terceiros.
b) ( ) O aval é forma de garantia em que o devedor indica o avalista diretamente no
título de crédito. É necessário, porém, que o avalista assine o título, concordando com
o aval.
c) ( ) A fiança é contrato que ocorre entre o fiador e o credor – o vendedor, por exemplo.
Nesses casos, o fiador garante o pagamento do título de crédito ou do contrato. É
uma relação em que a presença do devedor não é necessária.
d) ( ) A garantia solidária é uma espécie de fiança, em que o garante solidário arca
solidariamente com fiança, por forma de contrato ou acordo.

2 A alienação fiduciária é uma forma de contrato de compra e venda em que a garantia


do pagamento é a própria coisa alienada. Ela se confunde com a cláusula de reserva
de domínio, elemento acidental dos contratos de compra e venda comuns.

Com base nas definições sobre a alienação fiduciária, analise as sentenças a seguir:

I- A alienação fiduciária é permitida para coisas móveis e imóveis. Enquanto ela é


realizada apenas com a participação de uma empresa do setor financeiro, qualquer
pessoa pode realizar um contrato de compra e venda com cláusula de reserva de
domínio. Ainda, essa cláusula de reserva de domínio só será permitida para o caso de
compra e venda de coisas móveis.

II- Tanto na alienação fiduciária como na compra e venda com cláusula de reserva de
domínio, quem vende está transferindo apenas a posse do bem. Assim, a pessoa que
compra adquire a propriedade apenas quando terminar de cumprir a sua obrigação
– a obrigação de pagar.

III- A publicidade jurídica da alienação fiduciária, no Registro de Imóveis ou na instituição


responsável pelo licenciamento, no caso, de veículos, é condição jurídica para a
existência do contrato de alienação fiduciária.

151
Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.


b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 O Código Civil dispõe explicitamente sobre três tipos de Direitos Reais de Garantia,
dentre eles, o penhor.

Sobre esse instituto, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) Somente nos casos de penhor de direitos e títulos de créditos e penhor legal a posse
da coisa móvel é transferida para o credor.
( ) Deve ser dada a publicidade jurídica, no Registro de Imóveis, de todo tipo de penhor.
( ) Penhor é uma forma de dispor a garantia do pagamento de uma dívida. Assim, trata-
se de um contrato em que o devedor coloca à disposição seus bens para garantir
que os contratos e as obrigações serão cumpridos. Dessa forma, apenas o contrato,
devidamente publicizado, é instrumento legal de penhor.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V - F - F.
b) ( ) V - F - V.
c) ( ) F - V - F.
d) ( ) F - F - V.

4 O penhor, a hipoteca e a anticrese são tipos de Direitos Reais de Garantia que estão
previsto no Código Civil brasileiro. A partir deles, é gravado, na propriedade e no
Registro, que aquele móvel ou imóvel foi dado em garantia ao pagamento de alguma
obrigação. Existem características que diferenciam cada um desses tipos de Direitos
Reais de Garantia. Disserte sobre essas diferenças levando em conta dois aspectos:
que tipo de coisa – móvel ou imóvel – pode ser penhorada, hipotecada ou colocada
em anticrese? E o que o devedor oferece como garantia em cada um desses institutos
– a propriedade, o uso ou o usufruto?

5 A principal diferença entre o penhor e a hipoteca está no fato de que recaem sobre
tipos de coisas – móveis ou imóveis – diferentes. Nos dois tipos de Direitos Reais, no
entanto, a lei reserva uma forma legal para que eles passem a existir. São os casos do
penhor legal e da hipoteca legal. Explique em que situações eles ocorrem.

152
REFERÊNCIAS
ALVARENGA, L. C. A Concessão de Uso Especial para Fins de Moradia como Instru-
mento de Regularização Fundiária e Acesso à Moradia. Revista de Direito Imobiliá-
rio, v. 65, p. 61, jul. 2008. Disponível em: https://www.cjf.jus.br/caju/FUNDIARIA-2.pdf.
Acesso em: 3 mar. 2023.

BRASIL. Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973. Dispõe sobre os registros pú-


blicos, e dá outras providências. Brasília, DF: Diário Oficial [da] República Federativa
do Brasil, 31 dez. 1973. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
l6015compilada.htm. Acesso em: 3 abr. 2023.

BRASIL. Lei nº 8.245, de 18 de outubro de 1991. Dispõe sobre as locações dos


imóveis urbanos e os procedimentos a elas pertinentes. Brasília, DF: Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil, 21 out. 1991. Disponível em: https://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/leis/l8245.htm. Acesso em: 3 abr. 2023.

BRASIL. Lei nº 8.629, de 25 de fevereiro de 1993. Dispõe sobre a regulamentação


dos dispositivos constitucionais relativos à reforma agrária, previstos no Capítulo III, Tí-
tulo VII, da Constituição Federal. Brasília, DF: Diário Oficial [da] República Federativa do
Brasil, 26 fev. 1993. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8629.
htm. Acesso em: 3 abr. 2023.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula nº 239. O direito à adjudicação compul-


sória não se condiciona ao registro do compromisso de compra e venda no cartório de
imóveis. Brasília, DF: Superior Tribunal de Justiça, 30 ago. 2000. Disponível em: https://
www.stj.jus.br/docs_internet/revista/eletronica/stj-revista-sumulas-2011_18_capSu-
mula239.pdf. Acesso em: 4 mar. 2023.

BRASIL. Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001. Regulamenta os arts. 182 e 183 da


Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras provi-
dências. Brasília, DF: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 11 jul. 2001. Dis-
ponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10257.htm. Acesso
em: 3 abr. 2023.

153
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília, DF:
Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 11 jan. 2002. Disponível em: https://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso em: 3 abr.
2023.

BRASIL. Lei nº 11.952, de 25 de junho de 2009. Dispõe sobre a regularização fun-


diária das ocupações incidentes em terras situadas em áreas da União, no âmbito da
Amazônia Legal; altera as Leis nos 8.666, de 21 de junho de 1993, e 6.015, de 31 de
dezembro de 1973; e dá outras providências. Brasília, DF: Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil, 26 jun. 2009. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/cci-
vil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l11952.htm. Acesso em: 3 abr. 2023.

BRASIL. Lei nº 14.133, de 1º de abril de 2021. Lei de Licitações e Contratos Admi-


nistrativos. Brasília, DF: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 1 abr. 2021.
Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/l14133.
htm. Acesso em: 3 abr. 2023.

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de


1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2016]. Disponível em: http://www.planal-
to.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 3 abr. 2023.

GOMES, O. Direitos Reais. 21. ed. rev. atual. Rio de Janeiro: Forense, 2012.

GONÇALVES, C. R. Direito Civil: esquematizado: parte geral: obrigações e contratos. 6


ed. São Paulo: Saraiva, 2016a. v. 1.

GONÇALVES, C. R. Direito Civil Esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2016b. v. 2.

GONÇALVES, C. R. Direito Civil: obrigações: contratos: parte geral. 11. ed. São Paulo:
Saraiva Educação, 2021. v. 1.

MIRANDA, P. de. Direito das Coisas: direitos reais limitados. Enfiteuse. Servidões. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2012.

NADER, P. Curso de Direito Civil: contratos. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018. v. 3.

PEREIRA, C. M. da S. Instituições de Direito Civil. 25. ed. Rio de Janeiro: Forense,


2017. v. 4.

PSICANÁLISE CLÍNICA. O Homem é um Ser Social: 3 teorias científicas. 11 mar. 2020.


Disponível em: https://www.psicanaliseclinica.com/o-homem-e-um-ser-social/. Aces-
so em: 3 abr. 2023.

154
ROUSSEAU, J.-J. Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade
entre os Homens. Discurso sobre as Ciências e as Artes. São Paulo: Nova Cultura,
1999. v. 2.

STOLZE, P.; PAMPLONA FILHO, R. Manual de Direito Civil: volume único. 4. ed. São
Paulo: Saraiva Educação, 2020.

155
156
UNIDADE 3 —

DIREITOS REAIS
IMATERIAIS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• reconhecer e saber diferenciar quais são os tipos de direitos imateriais;

• entender quais são os tipos de direitos imateriais que devem ser publicizados;

• saber quais as formas de transferência de direitos reais sobre coisas imateriais;

• compreender quais são e como funcionam as instituições oficiais do direito imaterial;

PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar
o conteúdo apresentado.

TEMA DE APRENDIZAGEM 1 – OS DIREITOS IMATERIAIS

TEMA DE APRENDIZAGEM 2 – DIREITOS IMATERIAIS E TRANSAÇÕES

TEMA DE APRENDIZAGEM 3 – PUBLICIDADE JURÍDICA DOS DIREITOS IMATERIAIS

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

157
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 3!

Acesse o
QR Code abaixo:

158
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
DIREITOS REAIS IMATERIAIS

1 INTRODUÇÃO
Olá, acadêmico! Seja bem-vindo à última unidade de estudo do nosso livro
didático da disciplina Despacho Imobiliário e Autoral. Se na unidade anterior nosso tema
foram os direitos reais sobre coisas materiais – tanto de coisas imóveis como de coisas
móveis –, agora, nosso tema de pesquisa continua sendo os direitos reais, mas agora
sobre coisas imateriais.

Existem três tipos de direitos imateriais – os direitos de personalidade, os direitos


autorais e os direitos de propriedade industrial. Eles serão os assuntos que abordaremos
neste primeiro tema de aprendizagem.

Esperamos que, ao final deste tema de aprendizagem, você saiba conceituá-los


e diferenciá-los. Isso será importante tanto para a continuidade dos nossos estudos, nos
temas de pesquisas posteriores desta unidade de estudo, como para a sua vida profissional
de despachante documentalista.

2 POR QUE DIREITOS IMATERIAIS?

Num primeiro momento, podemos conceituar: os direitos imateriais são direitos


reais sobre bens imateriais. Todavia, essa definição é inócua se não tocar numa questão
essencial: o que são bens imateriais?

A disciplina dos bens jurídicos, de modo geral, é dada no Livro II do Código Civil,
arts. 79 à 103. Lá estão elencados os bens imóveis, móveis, públicos, e outras classificações.
No entanto, o Código não trata de classificar os bens imateriais. O que demonstra que eles
são uma construção doutrinária – uma ideia que surge dentro da doutrina e da didática, a
fim de melhor explicar fenômenos das relações entre as pessoas.

Stolze e Pamplona Filho ensinam que “bem jurídico é a utilidade, física ou


imaterial, objeto de uma relação jurídica, seja pessoal ou real” (STOLZE; PAMPLONA
FILHO, 2020, p. 211). Já os bens jurídicos incorpóreos – espécie de bem jurídico ao lado
dos bens jurídicos corpóreos – são “abstratos, de visualização ideal (não tangível)”. Deste
modo, a existência destes bens incorpóreos só existe pela lei, são como ficções jurídicas
(STOLZE; PAMPLONA FILHO, 2020, p. 2012).

159
NOTAS
Embora esta distinção não seja feita pela legislação, e os autores do Direito
não tenham um consenso sobre o assunto, Stolze e Pamplona Filho (2020)
diferenciam os bens e as coisas. Para eles, apenas bens corpóreos, tangíveis,
tocáveis, podem ser classificados como coisas. Já os bens incorpóreos não
seriam coisas.

Ou seja, a distinção entre bens jurídicos incorpóreos e bens jurídicos corpóreos


é dada em relação à tangibilidade do bem. Os primeiros, não podem ser tocados, existem
apenas pela lei. Já os corpóreos, como fica claro, são tangíveis.

Portanto, o que vamos tratar nesta unidade de estudo são os direitos reais
relativos aos bens jurídicos incorpóreos – chamados, também, apenas de direitos
imateriais. Eles se distinguem em três tipos: a) os direitos de personalidade; b) os direitos
autorais; e c) os direitos de propriedade industrial.

3 DIREITOS DE PERSONALIDADE

Retomando um pouco o que falamos quando estivemos estudando às pessoas


– físicas e jurídicas –, queremos relembrar que conceituamos o Direito Moderno como
um direito focado mais em aspectos isolados do que na complexidade.

Melhor dizendo, o Direito, como o conhecemos nos dias atuais, está focado
nas pessoas, de maneira individual, e muito menos em aspectos coletivos, ligados à
coletividade de pessoas e das relações com os animais e o resto da natureza.

INTERESSANTE
Há toda uma área de estudo, principalmente nas ciências sociais, que
aborda que estaríamos vivendo uma Era Geológica específica, chamada de
Antropoceno, ou seja, de uma ciência focada no indivíduo (e mesmo no homem),
em detrimento dos demais seres e da natureza. O conceito de antropoceno
como Era Geológica foi cunhado pelo químico e vencedor do Prêmio Nobel
de química Paul Crutzen. Você pode ler mais sobre esse conceito em: https://
www.iberdrola.com/sustentabilidade/o-que-e-antropoceno#:~:text=O%20
conceito%20%22antropoceno%22%20%E2%80%94%20do,impacto%20
do%20homem%20na%20Terra.

160
3.1 SÃO DIREITOS DE PRIMEIRA GERAÇÃO
Na verdade, podemos imaginar que o Direitos, como conhecemos atualmente,
passa por gerações de direitos, que tudo têm a ver com o momento político que se está
vivendo, e com os anseios das sociedades. Dizem que vivemos, hoje, numa terceira,
quarta e até mesmo quinta geração de direitos. Os direitos de primeira geração, no
entanto, são aqueles que podem ser chamados de direitos da personalidade. Eles
estão muito relacionados com o que se chama de direitos negativos – direitos de não
intervenção do Estado.

Vamos explicar. O surgimento desses direitos está relacionado diretamente


com o que se convenciona chamar de Revolução Francesa – quando as pessoas, e
especificamente os cidadãos, passam a reivindicar o fim dos Estados Absolutistas e o
nascimento dos Estados Democráticos.

O lema conhecido da Revolução Francesa – que depois é tomada como modelo


para o surgimento dos demais Estados – é o da “Igualdade, Liberdade e Fraternidade”.
É com base neste lema, e principalmente nos dois primeiros desejos, que surgem os
direitos de personalidade. São uma reivindicação por direitos como o direito à vida, a
liberdade, à integridade física e psicológica.

Os direitos de segunda geração são conhecidos como direitos positivos – que


necessitam de uma atuação do Estado. Por exemplo, o direito à saúde, à educação de
qualidade, ao saneamento básico. Neste caso, ainda são direitos focados no indivíduo –
ou seja, na prestação do Estado para alguma pessoa específica.

No entanto, os direitos de terceira geração envolvem não só a atuação do


Estado, como também dos cidadãos e das empresas. Nesta geração de direitos estão o
direito ao meio ambiente equilibrado, ao saneamento básico, por exemplo. Ainda se fala
de direitos de quarta e quinta geração, que envolvem a segurança genética, as relações
nas redes digitais, por exemplo. Lógico que existem diversas dúvidas e complexidades
nesta classificação de direitos. Não é nossa intenção aqui nos aprofundar neste tema.

3.2 INATOS, VITALÍCIOS, INTRANSMISSÍVEIS


A resposta da pergunta colocada é bem simples. Para respondê-la, só
precisamos relembrar a primeira unidade de estudo.

Isto é, como dispõem os art. 1º e 2º do Código Civil, toda pessoa é capaz de


direitos e deveres na ordem civil, e a personalidade civil começa com o nascimento
com vida. Ou seja, os direitos da personalidade são inerentes a qualquer pessoa. Não é
preciso nenhum registro e nenhum outro óbice para que as pessoas possam gozar de
todos os direitos da personalidade. Por isso, se diz que eles são inatos, originários.

161
Ainda, há outras características dos direitos da personalidade dispostos no
Código Civil:

(a) Vitalícios e imprescritíveis – os direitos da personalidade, além de existirem


e serem direito de qualquer pessoa, perduram por toda a sua vida, e em alguns casos,
até mesmo depois de sua morte não deixam de existir. Por isso, são imprescritíveis, ou
seja, não prescrevem – não caducam, cessam, deixam de ter validade com o tempo.
b) Inalienáveis – como dispõe o art. 11 do Código Civil, não é possível dispor –
vender, transmitir ou renunciar – dos direitos da personalidade, salvo exceção de casos
previstos em Lei. Não se pode voluntariamente limitar-se dos direitos de personalidade,
nem dispor de parte do corpo, salvo por exigência de saúde – art. 13 do Código Civil.

3.3 DIREITOS DA PERSONALIDADE EM ESPÉCIE


Desde as primeiras Cartas Constitucionais que instituíram as Modernas
Repúblicas, portanto, os direitos de personalidade são objeto de proteção e atenção. Na
Constituição Federal brasileira de 1988, grande parte deles estão expostos e explícitos
no art. 5° - direito à igualdade (art. 5°, I), à liberdade (art. 5º, II), à liberdade de expressão
(art. 5°, IV), à liberdade de crença (art. 5º, VI), e tantos outros exemplos.

Segundo Ana Paula Zanin (2021), a doutrina separa os direitos da personalidade


em três tipos: a) direitos à integridade física – ao corpo vivo e do cadáver, alimentos,
saúde, por exemplo; b) direitos à integridade psíquica – privacidade, sigilo, liberdade, por
exemplo; e c) direitos à integridade moral.

3.3.1 Direitos da Integridade Física


O Código Civil trata de regulamentar alguns desses direitos de personalidade.
Aos direitos à integridade física, dispõe que é proibido dispor do seu corpo ao todo ou
em parte, a não ser por exigência médica ou para a doação de órgãos (art. 13, caput
e parágrafo único, CC); ou depois da morte, para fins de pesquisa ou altruísmo, de
maneira gratuita (art. 14). Ainda sobre o corpo, o Código Civil proíbe que as pessoas
sejam constrangidas a submeter-se a procedimentos em seu corpo ou tratamentos
médicos com risco de vida.

162
INTERESSANTE
Os tratamentos médicos vêm vivendo uma fase de reestruturação de seus
conceitos. Se antes o médico era incentivado a salvar a vida das pessoas
de qualquer forma, independente da dor que pudesse causar no paciente,
e nas consequências dos procedimentos invasivos, cresce a demanda por
tratamentos mais humanizados, focado no bem-estar do paciente e de sua
família. É o caso dos cuidados paliativos, que visam “a melhoria da qualidade
de vida do paciente e seus familiares, diante de uma doença que ameace a
vida, por meio da prevenção e alívio do sofrimento, por meio de identificação
precoce, avaliação impecável e tratamento de dor e demais sintomas físicos,
sociais, psicológicos e espirituais”, segundo a Organização Mundial da Saúde
(WHO, 2002).
Você pode saber mais sobre os cuidados paliativos vendo esse vídeo: https://
www.youtube.com/watch?v=ep354ZXKBEs

3.3.2 Direito ao nome


O direito ao nome também é um dos direitos da personalidade protegidos no
Código Civil. Ele diz respeito tanto à honra como à integridade psíquica da pessoa.

Dispõe o art. 16, CC, que “toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos
o prenome e o sobrenome” (BRASIL, 2015). A mesma proteção do nome é dada quanto
ao pseudônimo, apelido de alguém.

Para a Lei, não é possível usar o nome de alguém em publicações e representações


que exponham a pessoa ao desprezo público, independente se a intenção é difamatória
(art. 17, CC); tampouco é permitido usar o nome de alguém, sem autorização, em
propagandas comerciais (art. 18, CC).

INTERESSANTE
Um exemplo bastante interessante do uso de pseudônimo para fins
comerciais é o caso do Café Pelé. O jogador, morto neste ano de 2023, recebia
compensação financeira para que seu nome fosse usado pela empresa que
produzia o café. No início, a utilização do nome serviu para internacionalizar
a produção brasileira de café. Hoje, a marca pertence a uma empresa
internacional, que comprou a marca da empresa brasileira que tinha firmado
a parceria com o jogador.

163
3.3.3 Direito à Honra
O direito à honra também aparece no rol de proteção do Código Civil. No art.
20, CC, está disposto que “a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a
publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas,
a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra,
a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais” (BRASIL, 2015).

O Código Penal (Decreto-Lei n° 2.848/40) também traz sanções penais para


aqueles que atentarem contra a honra das pessoas. É o caso dos crimes de calúnia –
dizer que alguém cometeu um crime –, de difamação – dizer que alguém fez algo que,
mesmo não sendo crime, atente contra a sua reputação –, ou, simplesmente, a injúria
– o ato de ofender alguém.

3.4 DIREITOS DA PERSONALIDADE DA PESSOA JURÍDICA


Embora os direitos da personalidade estejam focados na proteção da pessoa
natural e física, eles se encontram estendidos às pessoas jurídicas. Desta forma,
é possível ofender a honra e o nome de uma pessoa jurídica, podendo as pessoas
responsáveis por ela (administradores, sócios, associados, a depender a forma de
constituição e de acordo de constituição da pessoa jurídica) ingressar com pedidos de
proteção preventiva ou restaurativa e agressão aos direitos de personalidade.

4 DIREITOS DA PROPRIEDADE INTELECTUAL

Os direitos de propriedade intelectual são uma segunda espécie de direitos


imateriais, que se subdividem em: a) direitos autorais; b) direitos de propriedade
industrial; e c) os diretos sui generis.

Vamos iniciar este tópico focados em estudar os direitos da propriedade


intelectual como um todo, para depois nos debruçarmos sobre cada uma dessas
espécies de propriedade intelectual.

4.1 CRIAÇÕES DO ESPÍRITO HUMANO


Barbosa (2009, p. 7) conceitua a propriedade intelectual como:

o termo correspondente às áreas do direito que englobam a proteção


aos sinais distintivos (marcas, nomes empresariais, indicações
geográficas e outros signos de identificação de produtos, serviços,
empresas e estabelecimentos), as criações intelectuais (patentes de
invenção, de modelo de utilidade e registro de desenho industrial), a
repressão à concorrência desleal, as obras protegidas pelo direito de
autor, os direitos conexos, enfim, toda a proteção jurídica conferida
às criações oriundas do intelecto.

164
Já Stephan Kinsella, de uma maneira mais resumida, aponta que “a propriedade
intelectual é um conceito amplo que cobre diversos tipos de direitos legalmente
reconhecidos sobre algum tipo de criatividade intelectual, ou que estão de alguma
forma relacionados a ideias” (KINSELLA, 2010, p. 9).

Desta maneira, analisando os dois conceitos expostos, podemos observar que,


por Propriedade Intelectual, podemos entender:

a) uma gama de direitos que estão, de alguma forma, relacionados com os


direitos da personalidade. Ou seja, eles envolvem não apenas questões patrimoniais –
questões relacionadas ao uso, gozo e disposição de uma ideia própria –, mas também
questões de personalidade – como a proteção do nome, da marca, dos slogans de uma
empresa ou mesmo de uma pessoa. Estes direitos de personalidade estão englobados
como objeto de estudo e de aplicação da Propriedade Intelectual.

b) que são criações – ligadas com o intelecto, com o mundo das ideias. Neste
sentido, a Lei n° 9.610/98, em seu art. 7º, dispõe que são obras a serem protegidas
pelos direitos autorais às “criações do espírito” (BRASIL, 1998b). A doutrina entende, no
entanto, que o conceito de criações do espírito envolve não apenas os direitos autorais,
mas toda a gama de direitos envolvidos pela propriedade intelectual.

INTERESSANTE
Quando falamos de criações do espírito, no entanto, algo pode surgir na cabeça
daquele ser mais curioso: mas quando a criação parte de uma máquina, ou seja,
da Inteligência Artificial? Ainda, outra questão deve ser levada em consideração:
e se a criação surgir de um animal? Os animais possuem espírito, ou apenas os
homens são dotados dele?
Não existe um consenso internacional sobre as criações não humanas. Os
países legislam de forma diferente sobre o tema. No Brasil, afirmam Marcos
Waschowicz e Giulia Michelotto, “uma solução levantada é a da autoria ser
dada às pessoas físicas ou jurídicas que tenham utilizado a IA, se tornando
titulares da obra feita e mantendo um ambiente jurídico confiável e seguro”
(WASCHOWICZ; MICHELOTTO, 2022).

Você pode entender mais sobre o assunto clicando neste link: https://ioda.org.
br/entre-a-maquina-e-o-homem-de-quem-sao-os-direitos-autorais-das-obras-
produzidas-por-inteligencia-artificial/.

165
Assim, conceituada a Propriedade Intelectual como uma área de estudo, que
envolve diversos subgêneros e leis de proteção, iremos, a partir de agora, nos aprofundar
sobre cada um desses protegidos.

5 DIREITOS AUTORAIS

Dentro do estudo e da gama de direitos e leis que envolvem a propriedade


intelectual, os Direitos Autorais dizem respeito a obras e criações – da alma ou do espírito
– ligadas à arte, a cultura, ao desenvolvimento intelectual. Essas criações podem ser
apresentadas em diversos meios.

5.1 MEIOS
Conforme os incisos do art. 7° da Lei n° 9.610/98, esses meios podem ser:

I - os textos de obras literárias, artísticas ou científicas;


II - as conferências, alocuções, sermões e outras obras da mesma
natureza;
III - as obras dramáticas e dramático-musicais;
IV - as obras coreográficas e pantomímicas, cuja execução cênica se
fixe por escrito ou por outra qualquer forma;
V - as composições musicais, tenham ou não letra;
VI - as obras audiovisuais, sonorizadas ou não, inclusive as
cinematográficas;
VII - as obras fotográficas e as produzidas por qualquer processo
análogo ao da fotografia;
VIII - as obras de desenho, pintura, gravura, escultura, litografia e arte
cinética;
IX - as ilustrações, cartas geográficas e outras obras da mesma
natureza;
X - os projetos, esboços e obras plásticas concernentes à geografia,
engenharia, topografia, arquitetura, paisagismo, cenografia e ciência;
XI - as adaptações, traduções e outras transformações de obras
originais, apresentadas como criação intelectual nova;
XII - os programas de computador – a Lei n° 9.609/98 regulamenta
apenas sobre os direitos autorais sobre programas de computadores.
XIII - as coletâneas ou compilações, antologias, enciclopédias,
dicionários, bases de dados e outras obras, que, por sua seleção,
organização ou disposição de seu conteúdo, constituam uma criação
intelectual (BRASIL, 1998b).

No entanto, tais meios não são os únicos possíveis para que uma obra seja
publicada. Trata-se de um rol exemplificativo. Ou seja, a lei traz apenas alguns exemplos
de meios onde uma obra passível de proteção de direitos autorais pode ser divulgada.
Obras que são apresentadas por outros meios também estão passíveis de proteção legal.

166
NOTA
Neste ponto, vale a pena retomar nosso estudo desenvolvido na primeira
unidade deste livro didático, quando estávamos nos referindo à comunicação,
de uma forma geral.
Lá, falamos que uma comunicação acontece com: a) um remetente e um
destinatário; b) um conteúdo; e c) um meio, pelo qual esta comunicação
acontece.
Os direitos autorais envolvem tão somente o conteúdo do que se comunica.
Isto porque o que se cria, a maioria das vezes, não são os meios – e nem as
pessoas que estão trocando informações, obviamente – mas as ideias para
que algo seja colocado dentro de um meio.
No entanto, o meio em que a obra é publicada – os apresentados como
exemplo no art. 7º da Lei n° 9.610/98 – é elemento importante quando se
refere à cessão dos direitos autorais no caso de obras de artes plástica. Isto
porque, quando o autor cede o direito de expor uma obra de arte, não cede o
direito de reprodução em outro meio, por exemplo (art. 77, Lei n° 6.610/98).

5.2 QUEM É O AUTOR?


A Lei n° 9.610/98, em seu art. 11, dispõe que o autor é a pessoa física que cria a
obra, o conteúdo a ser publicado em meio específico. No entanto, o parágrafo único do
mesmo artigo afirma que, embora a autoria seja de pessoa física, será possível conceder
à pessoa jurídica a proteção de direitos autorais.

Ainda, os direitos autorais, como um direito real sobre coisa intangível, podem
ser objeto de cessão. Ou seja, pode o autor ceder os direitos inerentes à autoria – direitos
de uso, gozo, fruição – para uma empresa, a partir de contrato, tema que abordaremos
ainda neste capítulo. No entanto, não deixará de ser o autor da obra.

Aquele que é autor da obra pode se identificar como autor tanto por seu nome
civil, como por meio de abreviaturas, pseudônimos, e por qualquer outra forma de se
identificar, como marcas e outros símbolos gráficos (art. 12, Lei n° 9.610/98).

Quem adapta, traduz, arranja ou orquestra obra de outra pessoa que esteja em
domínio público é considerado autor da obra que criou a partir de outra, mas não pode
opor-se a outras adaptações, arranjos, tradições e orquestrações, salvo se estas forem
cópias da sua obra (art. 14, Lei n° 9.610/98).

5.2.1 Coautoria
Se mais de uma pessoa assina a obra, com qualquer um dos sinais que os
identifique, são considerados coautores da obra (art. 15, Lei n° 9.610). Por outro lado,
aquele que apenas auxilia o autor – revisando, atualizando, dirigindo ou fiscalizando a
apresentação ou a edição da obra – não é reconhecido como coautor da obra (art. 15,
§1º, Lei n° 9.610/98). Quando esta contribuição à obra pode ser utilizada de maneira

167
separada da obra original comum, se reconhecerá os direitos de autoria àquela parte ao
autor diverso. No entanto, só poderá realizar a utilização desta obra se ela não acarretar
prejuízo à exploração da obra em comum (art. 15, §2º, Lei n° 9.610/98).

Ainda, quando se tratar e obras audiovisuais, são considerados coautores quem


for o autor do assunto ou do argumento literário, musical ou lítero-musical, e o diretor
(art. 16, Lei n° 9.610/98); e quanto aos desenhos animados, aqueles que desenham
também são considerados coautores da obra (art. 16, parágrafo único, Lei n° 9.610/98).

NOTA
Argumento – literário, musical, ou lítero-musical – é com que um tema central
de uma obra. Um exemplo claro pode ser uma novela ou um filme. Ambos os
tipos de obras podem possuir diversas tramas interligadas ou não. No entanto,
normalmente existe uma trama principal que circunda toda a obra. Este é o
argumento da obra. Ele está presente do início ao fim de uma obra audiovisual.
Lógico que algumas obras, principalmente filmes alternativos e não norte-
americanos, costumam não apresentar uma solução final para o argumento.
No entanto, o argumento é ferramenta quase que essencial a uma obra. Isto
porque toda obra – na verdade toda história – costuma ter um início – um
problema –, um meio – as alternativas e as possíveis soluções –, e um final para
aquele problema inicial.
Você pode ler mais sobre o assunto neste link: https://www.frizero.com.
br/2022/04/15/o-que-sao-e-como-funcionam-os-argumentos-em-um-texto-
de-ficcao/

Nestes casos, o que se observa é a multipropriedade dos direitos reais de autor.


Aqueles que são coautores possuem os direitos inerentes à autoria, que explicaremos
mais adiante.

5.2.2 Obras Coletivas


Nos casos de obras coletivas, no entanto, não ocorre a multipropriedade. Apenas
são assegurados, ao participante da obra coletiva, a proteção da sua participação. Isto
significa, por exemplo, que o participante pode proibir que se indique a sua participação
e o seu nome na obra.

A titularidade dos direitos patrimoniais da obra é do seu organizador, que é com


quem o participante estipula, por contrato, a sua participação, a remuneração, os prazos
e outras condições e execução da obra (art. 17, Lei n° 9.610/98).

168
5.2.3 Textos Publicados em Periódicos
Da mesma forma, os direitos autorais de textos publicados na imprensa
periódica, quando não assinados ou realizados com reserva, ou quando não tenha sido
firmado contrato em contrário, pertencem ao editor.

Quando ocorre um contrato de cessão de direitos autorais para a utilização


econômica de um texto, acaba essa concessão 20 dias após a periodicidade do diário
ou periódico.

5.3 DIREITOS DO AUTOR


Os direitos do autor são de duas ordens: patrimonial e moral. Ou seja, o autor tem
direito sobre o ganho patrimonial resultante de sua obra, bem como o de ter assegurada
a integridade e a autoria de sua obra. Vamos apresentar, a seguir, mais especificamente
quais são esses direitos patrimoniais e morais.

5.3.1 Proteção patrimonial


O autor de uma obra é considerado o proprietário de direitos reais sobre coisa
intangível. Ou seja, como proprietário, tem direito de usufruir, gozar e dispor de seu
patrimônio (art. 28, Lei n° 9.610/98), bem como dá-lo como garantia.

Sendo assim, a Lei n° 9.610/98 dispõe, no art. 29, que cabe ao autor – ou aos
coautores – dispor, por autorização prévia e expressa, sobre a utilização da obra em
qualquer modalidade, tais como: a) reprodução integral ou parcial; b) adaptação; c)
tradução para outros idiomas; d) exposições. Qualquer modalidade de utilização da obra
que venha a ser inventada depende da autorização do autor para ser aplicada – ou seja,
trata-se, novamente, de um rol exemplificativo (BRASIL, 1998b).

ESTUDOS FUTUROS
Claro que, como já dissemos, os direitos autorais são direitos reais. Por isso,
assim como qualquer outro direito real sobre coisa tangível – móvel ou imóvel
–, os direitos imateriais podem ser objeto de contrato de cessão e disposição.
Nosso segundo tema de aprendizagem desta unidade será sobre esses
contratos.

169
5.3.2 Caducidade ou Decadência e Prescrição dos Direitos
Autorais
Existem três nomes dados para quando um direito deixar de existir com o
decurso do tempo: a) prescrição; e b) decadência ou caducidade.

Na primeira, o direito de reclamar um direito é que deixa de existir a partir de um


prazo, geralmente dado pela Lei. Já na decadência – ou na caducidade, usados como
sinônimos – o que se extingue com o tempo não é apenas o direito de pleitear, mas o
próprio direito material deixa de existir com o passar no tempo.

Dito isso, os direitos patrimoniais sobre uma obra caducam setenta anos após
a morte do autor, contado a partir do dia 1º de janeiro do ano posterior a sua morte. Se
houver coautoria, este prazo começa a contar da morte do último coautor.

No entanto, se tratando de obras audiovisuais ou fotográficas, a caducidade


começa a contar a partir do dia 1º de janeiro do ano depois da divulgação da obra.

Após esses prazos, as obras entram em domínio público, e não mais precisa
haver autorização expressa e prévia dos autores e dos herdeiros dos direitos autorais.
Também entram em domínio público as obras cujos autores não deixaram sucessores
dos direitos autorais, bem como as obras de autores desconhecidos – ressalvada a
proteção legal aos conhecimentos étnicos e tradicionais.

Quanto à prescrição dos direitos autorais – ou melhor, a extinção do direito de


pleitear contra a violação de um direito autoral – é de 10 anos. Esta prescrição é dada
pelo art. 205 do Código Civil.

5.3.3 Proteção Moral


A proteção moral envolvendo os direitos autorais tem relação ao direito do autor
de pleitear algo como obra sua, bem como de proteger a integridade desta obra. Eles
estão dispostos no art. 24 da Lei n° 9.610/98, e envolve, dentre outras coisas, o direito
de pleitear uma obra como sua; o direito de ter seu nome – ou pseudônimo – indicado
ou anunciado em toda utilização da obra; conservar a obra, se opondo a qualquer
modificação que possa prejudicar a obra ou a ele próprio, em sua reputação ou honra.

Esses direitos morais sobre as obras são irrenunciáveis e inalienáveis. Isto


significa, também, que não há prescrição e decadência ou caducidade dos direitos
morais. No entanto, para se pleitear indenização por danos morais de ações ou omissões
que levem ao ataque aos danos morais de autor, o prazo prescricional é de três anos.

170
5.4 O QUE NÃO É OBRA PROTEGIDA POR DIREITOS AUTORAIS
A Lei n° 9.610/98 traz, no art. 8º, um rol de ideias e de bens materiais e intangíveis
que não são objeto de proteção por aquela Lei como direitos autorais. Trata-se de um
rol taxativo, isto é, não são apenas exemplos, mas situações concretas em que não
se entende haver proteção da ideia. Não é possível interpretar outras ideias como não
suscetíveis à proteção.

O que não se considera como obra protegida pelos direitos autoriais são:
a) ideias, procedimentos, fórmulas, métodos;
b) esquemas, planos ou regras para a realização de jogos, atos mentais ou negócios;
c) os formulários em branco, para serem preenchidos numa pesquisa, científica ou
não;
d) os textos oficiais, como decretos, leis, decisões judiciais;
e) informações de uso como, como calendários e agendas;
f) os nomes e títulos isolados; e
g) o aproveitamento industrial ou comercial de ideias contidas em obras (BRASIL,
1998b).

6 DIREITOS DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL

Diferente da propriedade intelectual protegida pelo sistema dos direitos autorais


– cuja proteção se dá sobre ideias e criações de pessoas físicas – o que se protege na
propriedade industrial são “criações industriais” (BARBOSA, 2009, p. 133).

Mais especificamente, pertencem ao sistema da propriedade industrial: a) a


patente – direito sobre invenções; b) as marcas – basicamente o que designa, o que
diferencia, os produtos, os serviços e as pessoas do setor industrial; c) os desenhos
industriais; e d) as indicações geográficas.

Vamos estudar cada um deles a partir de agora.

6.1 PATENTES
As patentes são a forma de proteger os direitos daqueles que inventaram alguma
coisa. É claro que a noção de invenção não é muito clara. Quando algo é totalmente
novo que possa ser classificado como uma inovação, uma invenção? Por isso, Cláudio
Barbosa (2009, p. 134) trata de conceituar que a patente “é a proteção da invenção que
apresenta novidade absoluta, atividade inventiva, aplicação industrial, e seu objeto não
é vedado por alguma norma legal”. Já Kinsella (2010) prefere definir as patentes como
aquelas que recaem sobre artefatos ou processos que desempenhem uma função “útil”.

171
O conceito jurídico de coisas intangíveis patenteáveis é disposto no art. 8º da Lei
n° 9.279/96: “é patenteável a invenção que atenda aos requisitos de novidade, atividade
inventiva e aplicação industrial” (BRASIL, 1996).

Ou seja, se ainda não tenha ficado claro, o último requisito, o de aplicação


industrial, deixa explícita a diferença entre uma criação protegida pelos direitos
autorais – as “criações do espírito” – e as invenções protegidas pela patente – que não
necessariamente partem do espírito, mas muito mais da utilidade econômica da coisa
inventada. Melhor dizendo, nas palavras de Kinsella, “uma patente garante efetivamente
ao inventor um monopólio limitado sobre a manufatura, uso ou venda da invenção”
(KINSELLA, 2010).

INTERESSANTE
Circulou na internet uma notícia de que a Volvo patenteou a invenção do sinto
de segurança como livre para o uso de qualquer outra empresa. A história é
verdade.
Na verdade, o primeiro cinto de segurança foi patenteado no início do séc.
XX – em 1903. Todavia, a invenção não foi muito usada, pois a segurança não
era prioridade. A Volvo contratou um engenheiro sueco especialista em ejeção
de pilotos em 1958, e um ano depois ele apresentou a ideia do cinto de três
pontos. A patente da invenção foi cedida gratuitamente pela Volvo, conforme
informa em seu site oficial: https://www.volvogroup.com/br/news-and-media/
news/2019/mai/Invencao-da-Volvo-faz-60-anos.html.

6.1.1 Modelo de Utilidade


Além da invenção, também é passível de ser patenteado o modelo de utilização,
ou seja, “criações de caráter técnico-funcional relacionadas à forma ou disposição
introduzida em objeto de uso prático, ou parte deste, conferindo ao objeto melhoria
funcional no seu uso ou fabricação” (INPI, 2012, p. 3).

Se na invenção o objetivo é a proteção de criações que trazem “novas para


um problema existente”, a partir de produtos ou atividades industriais, os modelos
de utilidade “se destinam a melhorar o uso do objeto, podendo acarretar uma maior
eficiência ou comodidade no uso do mesmo” (INPI, 2012, p. 3).

6.1.2 O Que Não é Invenção e Nem Modelo de Utilidade


Da mesma forma que a Lei n° 9.610/98, que regulamenta os direitos autorais,
dispõe sobre o que não é possível de proteção como direito autoral, a Lei n° 9.279/96
tratou de expor um rol de ideias que não são passíveis de serem patenteadas, nem
como invenção e nem como modelo de utilidade. Da mesma forma que o disposto na
Lei de Direitos Autorais, o rol é taxativo – não traz apenas exemplos, mas sim todas as

172
situações concretas, não podendo se estender o artigo para novas situações.

O rol do que não é considerado invenção e nem modelo de utilidade é disposto


no art. 10, Lei n° 9.279/96. São eles:

I - descobertas, teorias científicas e métodos matemáticos;


II - concepções puramente abstratas;
III - esquemas, planos, princípios ou métodos comerciais, contábeis, financeiros,
educativos, publicitários, de sorteio e de fiscalização;
IV - as obras literárias, arquitetônicas, artísticas e científicas ou qualquer criação
estética – isto porque o caminho certo para proteção destas ideias é a Lei de
proteção aos direitos autorais;
V - programas de computador em si – isto porque existe uma Lei específica que
protege a propriedade intelectual de programas de computador, que é a Lei n°
9.609/98;
VI - apresentação de informações;
VII - regras de jogo;
VIII - técnicas e métodos operatórios ou cirúrgicos, bem como métodos
terapêuticos ou de diagnóstico, para aplicação no corpo humano ou animal; e
IX - o todo ou parte de seres vivos naturais e materiais biológicos encontrados
na natureza, ou ainda que dela isolados, inclusive o genoma ou germoplasma
de qualquer ser vivo natural e os processos biológicos naturais – trata-se de
proteção de direitos intelectuais sui generis, que será estudada num momento
posterior (BRASIL, 1996).

6.1.3 O Que Não Pode Ser Patenteável


A Lei de proteção à propriedade industrial ainda expõe um rol de invenções ou
modelos de utilidade que não são passiveis de serem patenteados. Conforme o art. 18,
Lei n° 9.279/96:

Art. 18. Não são patenteáveis:


I - o que for contrário à moral, aos bons costumes e à segurança, à ordem e à
saúde públicas;
II - as substâncias, matérias, misturas, elementos ou produtos de qualquer
espécie, bem como a modificação de suas propriedades físico-químicas e os
respectivos processos de obtenção ou modificação, quando resultantes de
transformação do núcleo atômico; e
III - o todo ou parte dos seres vivos, exceto os microorganismos transgênicos
que atendam aos três requisitos de patenteabilidade - novidade, atividade
inventiva e aplicação industrial - previstos no art. 8º e que não sejam mera
descoberta.
Parágrafo único. Para os fins desta Lei, microorganismos transgênicos são
organismos, exceto o todo ou parte de plantas ou de animais, que expressem,
mediante intervenção humana direta em sua composição genética, uma

173
característica normalmente não alcançável pela espécie em condições
naturais (BRASIL, 1996).

INTERESSANTE
Conforme dados da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI),
são requeridas 2,5 milhões, e concedidas 1,2 milhões, de registros de patentes
por ano (GOV.BR, 2015). No Brasil, em 2021 foram requeridos 26,9 mil
registros de patentes. O número vinha caindo por 3 anos seguidos, segundo
levantamento feito pela CNN (JANONE; BARRETO, 2022).

6.1.4 Quem é o Proprietário da Patente


Existem duas formas titularidade da patente de invenção e do modelo de
utilidade. A titularidade pode ser concedida para o autor da invenção ou modelo de
utilidade, presumindo-se que é inventor aquele que entra com o pedido de patente (art.
6º, caput e §1º, Lei n° 9.279/96).

No entanto, quando a invenção ou o modelo de utilidade é realizado por


consequência de contrato de trabalho ou de prestação de serviço realizado no Brasil, a
titularidade da patente será do empregador, e não do autor. A Lei ainda não dispõe que
o autor tem direito à remuneração extra pela invenção, embora a esteja prevista esta
possibilidade realizada por meio de contrato e como forma de incentivo ao empregado
(art. 88, Lei n° 9.279/96).

6.1.5 Os Direitos do Titular da Patente


Dispõe o art. 42 da Lei n° 9.279/96 que são direitos do titular da patente o de
impedir que outra pessoa produza, use, venda ou mesmo coloque à venda, importe
tanto o produto objeto da patente como o processo ou o produto obtido diretamente
pelo processo patenteado.

No segundo caso, aquele que tiver o produto – como proprietário ou possuidor


– deverá comprovar, judicialmente, que o processo para obter o produto foi diverso do
processo para obter o produto patenteado.

No entanto, não se aplica a proibição quando: a) a pessoa que tem a coisa a produziu
para consumo próprio, não colocou à venda; b) quando o processo é realizado em caráter
experimental, com fins científicos ou tecnológicos; c) a preparação de medicamentos a
pedido médico, em casos individuais – como nas farmácias de manipulação; e d) quando
se usa o produto vivo patenteado para a obtenção de outro produto.

174
6.1.6 Caducidade da Patente
Assim como no caso dos direitos autorais, a patente – e, por consequência, os
seus direitos – se extinguem com o tempo. Para as invenções, a extinção se dá após
20 anos, e no caso dos modelos de utilidade, a extinção se dá no prazo de 15 anos. Os
prazos são contatos a partir da data de depósito da invenção ou do modelo de utilidade
para registro da patente.

INTERESSANTE
Volte e meia, no Brasil, se debate sobre as patentes de medicamentos que
caducaram, e que por isso poderiam ser produzidas sem exclusividade pela
empresa titular da patente – os chamados remédios genéricos. Discute-se
que a caducidade da patente diminuiria os gastos públicos com saúde, além
de diminuir a inflação de medicamentos para o público em geral (JUNQUEIRA,
2019). O art. 229 da Lei n° 9.279/96 dispõe que, no caso de medicamentos e
outros produtos químicos, não se aplicam as disposições da Lei (BRASIL, 1996).

6.2 MARCAS
Dentre as diretrizes elencadas no art. 2º da Lei n° 9.279/96 – que regula direitos
e obrigações relativos à propriedade industrial – estão, além da concessão do registro
de marca, a repressão à concorrência desleal. Por outro lado, o Código de Defesa do
Consumidor (CDC) – Lei n° 8.078/90 – dispõe que é direito básico do consumidor “a
proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou
desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento
de produtos e serviços” (art. 6º, IV, CDC).

A proteção das marcas, portanto, tanto serve contra a concorrência desleal


entre as empresas – aliás, a proteção contra a concorrência desleal é diretriz da ordem
econômica, disposta no art. 170, IV da Constituição Federal – como para a defesa do
consumidor, que não deve ser enganado quanto ao produto que está consumindo ou à
empresa que está contratando.

Ainda, a proteção às marcas é uma extensão de outro direito imaterial, qual seja,
o direito de personalidade e de proteção ao nome. A marca é um caráter distintivo das
pessoas, sejam jurídicas, sejam físicas.

Para Kinsella (2010, p. 12), “uma marca registrada é uma palavra, frase, símbolo,
ou design usado para identificar a fonte dos bens e serviços vendidos, e para distingui-
los dos bens e serviços de outros”.

Da mesma maneira, Barbosa (2009, p. 137) afirma:

175
Todo ser, corpóreo ou incorpóreo, é identificado e comunicado às
outras pessoas através de um símbolo, o qual possibilita ao receptor
dessa informação objetiva um conteúdo adicional de informações
subjetivas e complementares. Os sinais distintivos, espécie do gênero
propriedade industrial, são os símbolos que indicam às pessoas qual
serviço é prestado por determinada empresa, de qual produto se
trata e com qual empresa estamos negociando.

O art. 122 da Lei n° 9.279/96 dispõe que são objeto de registro como marcas o
“sinais distintivos perceptíveis, não compreendidos nas proibições legais” (BRASIL, 1996).

Além das marcas de produtos e serviços, que os distinguem de produtos e


serviços semelhantes ou afins, mas que são oriundos de outro lugar, existem as marcas
de certificação – que atestam a qualidade ou a legalidade e conformidade do produto
ou serviço. Por exemplo, os selos da ABRINQ e do IMETRO, ou sanitários, como selos
da ANVISA; e as marcas coletivas – que atestam que o produto é de origem de uma
determinada entidade ou coletivo, como aquelas que atestam que o produto é oriundo
da reforma agrária, por exemplo.

6.2.1 O Que Não Pode Ser Registrado Como Marca


A Lei n° 9.279/96 dispõe que não podem ser registrados como marcas próprias:

I - brasão, armas, medalha, bandeira, emblema, distintivo e monumento


oficiais, públicos, nacionais, estrangeiros ou internacionais, bem
como a respectiva designação, figura ou imitação;
II - letra, algarismo e data, isoladamente, salvo quando revestidos de
suficiente forma distintiva;
III - expressão, figura, desenho ou qualquer outro sinal contrário à
moral e aos bons costumes ou que ofenda a honra ou imagem de
pessoas ou atente contra liberdade de consciência, crença, culto
religioso ou ideia e sentimento dignos de respeito e veneração;
IV - designação ou sigla de entidade ou órgão público, quando não
requerido o registro pela própria entidade ou órgão público;
V - reprodução ou imitação de elemento característico ou
diferenciador de título de estabelecimento ou nome de empresa de
terceiros, suscetível de causar confusão ou associação com estes
sinais distintivos;
VI - sinal de caráter genérico, necessário, comum, vulgar ou
simplesmente descritivo, quando tiver relação com o produto ou
serviço a distinguir, ou aquele empregado comumente para designar
uma característica do produto ou serviço, quanto à natureza,
nacionalidade, peso, valor, qualidade e época de produção ou de
prestação do serviço, salvo quando revestidos de suficiente forma
distintiva;
VII - sinal ou expressão empregada apenas como meio de propaganda;
VIII - cores e suas denominações, salvo se dispostas ou combinadas
de modo peculiar e distintivo;
IX - indicação geográfica, sua imitação suscetível de causar confusão
ou sinal que possa falsamente induzir indicação geográfica;
X - sinal que induza a falsa indicação quanto à origem, procedência,
natureza, qualidade ou utilidade do produto ou serviço a que a marca
se destina;

176
XI - reprodução ou imitação de cunho oficial, regularmente adotada
para garantia de padrão de qualquer gênero ou natureza;
XII - reprodução ou imitação de sinal que tenha sido registrado como
marca coletiva ou de certificação por terceiro, observado o disposto
no art. 154;
XIII - nome, prêmio ou símbolo de evento esportivo, artístico,
cultural, social, político, econômico ou técnico, oficial ou oficialmente
reconhecido, bem como a imitação suscetível de criar confusão,
salvo quando autorizados pela autoridade competente ou entidade
promotora do evento;
XIV - reprodução ou imitação de título, apólice, moeda e cédula da
União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios, dos Municípios,
ou de país;
XV - nome civil ou sua assinatura, nome de família ou patronímico e
imagem de terceiros, salvo com consentimento do titular, herdeiros
ou sucessores;
XVI - pseudônimo ou apelido notoriamente conhecidos, nome
artístico singular ou coletivo, salvo com consentimento do titular,
herdeiros ou sucessores;
XVII - obra literária, artística ou científica, assim como os títulos
que estejam protegidos pelo direito autoral e sejam suscetíveis de
causar confusão ou associação, salvo com consentimento do autor
ou titular;
XVIII - termo técnico usado na indústria, na ciência e na arte, que
tenha relação com o produto ou serviço a distinguir;
XIX - reprodução ou imitação, no todo ou em parte, ainda que com
acréscimo, de marca alheia registrada, para distinguir ou certificar
produto ou serviço idêntico, semelhante ou afim, suscetível de causar
confusão ou associação com marca alheia;
XX - dualidade de marcas de um só titular para o mesmo produto ou
serviço, salvo quando, no caso de marcas de mesma natureza, se
revestirem de suficiente forma distintiva;
XXI - a forma necessária, comum ou vulgar do produto ou de
acondicionamento, ou, ainda, aquela que não possa ser dissociada
de efeito técnico;
XXII - objeto que estiver protegido por registro de desenho industrial
de terceiro; e
XXIII - sinal que imite ou reproduza, no todo ou em parte, marca que o
requerente evidentemente não poderia desconhecer em razão de sua
atividade, cujo titular seja sediado ou domiciliado em território nacional
ou em país com o qual o Brasil mantenha acordo ou que assegure
reciprocidade de tratamento, se a marca se destinar a distinguir
produto ou serviço idêntico, semelhante ou afim, suscetível de causar
confusão ou associação com aquela marca alheia (BRASIL, 1996).

6.2.2 Quem é o Titular da Marca?


Dispõe a Lei n° 9.279/96 que é titular da marca aquele que realiza o seu registro.
Ainda, aquele que, de boa-fé, utiliza o sinal distintivo no país até 6 meses antes de
pedido de registro por outra pessoa.

O requerimento do registro de marca pode ser feito por pessoas físicas ou por
pessoas jurídicas, de direito público ou privado. No entanto, a pessoa que requer o
registro da marca deve comprovar que exerce a atividade referente àquela marca.

177
No caso de marcas coletivas, o requerimento do registro é feito pela pessoa
representante da instituição, mesmo que não exerça a atividade; e no caso de marca de
certificação, o pedido deve ser feito por pessoa sem interesse comercial ou industrial no
produto ou serviço atestado.

6.2.3 Direitos do Titular da Marca


O titular da marca tem: a) a exclusividade de usá-la e todo território nacional,
ceder seu registro ou pedido de registro, licenciar o uso da marca – direitos patrimoniais;
e b) direito de zelar pela integridade material da marca e de sua reputação – direitos
morais.

Por outro lado, o titular da marca não pode: a) impedir que os comerciantes
e distribuidores utilizem a marca para promoção e comercialização dos produtos; b)
impedir que os fabricantes de acessórios utilizem a marca para indicar a destinação
dos seus produtos; c) impedir, por conta da marca, que os produtos sejam colocados
no mercado em livre circulação; e d) impedir que se cite a marca em discursos, obras
científicas ou literárias ou qualquer outra forma de publicação, desde que sem conotação
comercial e sem prejuízo de seu caráter distintivo.

6.2.4 Caducidade da Titularidade da Marca


Dispõe o art. 133 da Lei n° 6.279/96 que as marcas têm prazo de validade de 10
anos. No entanto, esse período é prorrogável por períodos iguais e sucessivos.

Ou seja, há um prazo de decadência do direito. No entanto, é possível prorrogar


esse prazo ad eternum, para sempre, desde que cumprida as exigências para a
prorrogação – as mesmas do seu registro.

6.3 DESENHOS INDUSTRIAIS


O art. 95 da Lei n° 9.279/96 conceitua o desenho industrial, passível de registro
como propriedade intelectual, “a forma plástica ornamental de um objeto ou o conjunto
ornamental de linhas e cores que possa ser aplicado a um produto, proporcionando
resultado visual novo e original na sua configuração externa e que possa servir de tipo
de fabricação industrial” (BRASIL, 1996).

Ou seja, podemos dizer que o desenho industrial se encontra entre a patente e


a marca. A forma de um produto é caráter distintivo – assim como a marca. Do mesmo
modo, a forma do produto é inerente à utilização do produto.

A novidade do desenho industrial é reconhecida quando resulta em uma


configuração distinta dos objetos anteriores, mesmo que apenas seja resultado da
combinação de elementos (formas e cores) já conhecidos e utilizados.

178
Ainda, não é considerado como desenho industrial qualquer obra de caráter
puramente artístico – que são protegidos pelos direitos autorais.

NOTA
Neste ponto, podemos refletir sobre três fatores interessantes e
distintivos sobre a inovação e a indústria. Ou seja: até que ponto
uma ideia pode ser considerada uma invenção, passível de patente,
passível de registro como desenho industrial, ou uma obra de arte?
Costumamos ser bombardeados de novos produtos que pouco trazem de
inovação, embora sejam apresentados como tal. Muitas vezes, são apenas
incrementos, modificações acessórias em produtos apenas para gerar maior
consumismo. São o caso de versões de celulares que são lançadas todo ano.
Existe um nome para esse tipo de ação, que se chama obsolescência programa,
ou seja, abreviar a duração de um produto no mercado, com o intuito claro de
que seus consumidores comprem outro produto.

6.3.1 Decadência da Propriedade Intelectual


A decadência da propriedade intelectual de desenhos industriais é de 10 anos,
contados do momento em que ele é depositado para registro. No entanto, este período
pode ser prorrogável, por 3 vezes, por períodos de 5 anos sucessivos.

6.4 INDICAÇÕES GEOGRÁFICAS


Você sabe a diferença entre um espumante e um champagne? A resposta
para essa pergunta é um bom exemplo do que são as indicações geográficas. Elas
são indicações de procedência ou a denominação de origem de um produto, que faz
com que ele seja distinto dos demais. Assim, o que faz com que um espumante seja
reconhecido como champagne é o local onde ele é produzido – a região de Champagne,
à 90 km de Paris, na França.

Em resumo, as indicações geográficas envolvem poder usar o nome desta


indicação geográfica pelos produtores de uma determinada região. Além de estar
localizado em determinada região, é possível que também seja necessário o atendimento
a requisitos de qualidade para que o produto possa ser denominado como procedente
daquela região.

6.4.1 Como se Reconhece uma Indicação Geográfica?


A maneira de se registrar uma Indicação Geográfica é dada pelo INPI, a partir da
Portaria n° 4, de 12 de janeiro de 2022.

179
Conforme o art. 14 desta norma, “podem requerer registro de Indicações
Geográficas, na qualidade de substitutos processuais, a associação, o sindicato, ou
qualquer outra entidade que possa atuar como tal em razão da lei” (INPI, 2022, s. p.).

INTERESSANTE
Apesar de parecer um procedimento bem específico, existam registradas,
no Brasil, 94 indicações geográficas até o ano de 2020. No mundo, esse
número chega a mais de 10 mil indicações geográficas registradas.

Você pode conhecer cada uma das indicações geográficas no Brasil


acessando o link a seguir: https://noticias.portaldaindustria.com.br/
especiais/um-panorama-das-indicacoes-geograficas-no-brasil/#:~:text=O%20
pa%C3%ADs%20contabiliza%2094%20indica%C3%A7%C3%B5es,as%20
condi%C3%A7%C3%B5es%20geogr%C3%A1ficas%20daquele%20ambiente*.

7 DIREITOS DA PROPRIEDADE INTELECTUAL SUI GENERIS


No decorrer de todo o nosso livro didático, desde a primeira unidade, deve ter
ficado claro para você, acadêmico, que o Direito não tem como prever todos os tipos de
relações que as pessoas terão entre si e com as coisas.

Quando falamos de inovação e de ideias, essa incapacidade do Direito de


prever o futuro é ainda mais evidente. Ou seja, a implementação de novas tecnologias
traz consigo novos paradigmas. Coisas que antes pareciam impossíveis, ou ao menos
improváveis, se toram viáveis com a instituição e propagação das tecnologias.

Quando essas relações com as coisas, a natureza e entre as pessoas apresentam


inovações, cabe ao Direito: a) recorrer às Leis e normas – morais e legais – existentes;
ou b) criar soluções jurídicas e legislativas. Um exemplo claro são os crimes cometidos
pela ou com o uso da Internet. Nem sempre as regras do Direito Penal são suficientes
para apresentar as penas para os crimes cometidos. Algumas vezes, se usa as regras
já postas, com uma certa analogia, e outras vezes são criadas novas Leis – como a
Lei “Carolina Dieckmann” (Lei n° 12.737/2012) ou a Lei de Combate ao Stalking, ou
perseguição pela Internet (Lei n° 14.132/2021).

Os direitos imateriais de propriedade intelectual que não estão tipificados nas


Leis n° 9.610/98 e n° 9.279/96 – que discorrem sobre os direitos autorais e de propriedade
industrial, respectivamente –, são chamados de direitos imateriais sui generis.

180
7.1 PROTEÇÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL DE
PROGRAMAS DE COMPUTADORES
É o caso da proteção de autoria de programas de computadores, que, como
visto, não são protegidos nem pelo sistema nos direitos autorais, e nem pelo sistema da
proteção à propriedade industrial.

Isto porque há uma Lei específica para regulamentar os direitos de autor para
este caso, a Lei n° 9.609/98. Conforme esta lei, programa de computador é:

a) expressão de um conjunto de instrução em linguagem natural ou codificada


– ou seja, é uma sequência de comandos dados, a partir linguagem padrão ou de
códigos específicos (como linguagem C, python, e outros códigos usados nos sistemas
informáticos por programadores);

b) contida em suporte físico de qualquer natureza – ou seja, a sequência de


comandos deve estar contida em algum meio físico, como um computador ou um CD.

NOTA
A Lei n° 9.609/96 também é antiga, e provavelmente não previu que os meios
físicos deixariam de existir. Hoje, vemos que cada vez mais CDs e outros
equipamentos estão sendo substituídos por dados que circulam livremente
pela Internet. Por exemplo: hoje, os carros não mais contam com um toca fitas
ou um toca-CDs. Por mais que você queira, não consegue mais extrair dados
de um CD para seu carro para realizar uma bela viagem ao som do Bee Gees.
Quanto ao armazenamento de programas pelas nuvens – e não em um meio
físico específico –, o que se entende é que, mesmo a nuvem, é algo que está
estruturado em um meio físico, um hardware, que contém as informações ali
colocadas e compartilhadas.

c) a cadeia de expressões deve ser usada para dar comandos para máquinas
automáticas de tratamento de informações, bem como em dispositivos, instrumentos
ou equipamentos periféricos, fazendo com que esses funcionem e solucionem
necessidades determinadas.

7.1.1 Peculiaridades da Lei Especial

A Lei especial que regulamenta os direitos de propriedade intelectual sobre


programas de computador traz algumas peculiaridades que o diferem dos demais
sistemas de proteção.

Quanto aos direitos morais sobre a obra, se aplica apenas aquele que o autor
tem de reclamar, a qualquer tempo, a autoria do programa de computador, bem como o
de defender a sua integridade quando ferirem a honra ou a reputação do autor.

181
Se o programa de computador for realizado por empregado sob contrato de
trabalho ou realização de serviço, os direitos autoriais sobre o programa pertencerão
ao empregador ou tomador de serviços. Já se não houver contrato de trabalho, ou se
programa for desenvolvido fora de relação do contrato, pertencerão com exclusividade
ao desenvolvedor.

Há exceções quanto aos direitos patrimoniais também, dados pelo art. 6º da Lei
n° 9.609/98:

a) reprodução, a título de salvaguarda, de um exemplar do programa


legitimamente adquirido;
b) a citação parcial do programa, para fins didáticos – reservado o direito moral
do desenvolvedor de ter seu nome atribuído ao programa;
c) a semelhança preexistente entre programas;
d) integração do programa a outro, mantendo suas características essenciais
(NRASIL, 1998).

NOTA
A cybercultura possui características peculiares, que muitas vezes não
condizem com a proteção da propriedade intelectual. A própria criação
da internet remonta à ideia de compartilhamento livre de informações. Por
isso, há toda uma discussão sobre a existência de softwares livres contra
softwares proprietários, ou seja, aqueles que estão blindados de distribuição
livre e gratuita. Trata-se, é claro, de uma discussão muito mais profunda e sem
respostas padrões.
Você pode entender mais sobre isso ouvindo o podcast Tecnopolítica #65:
o cenário atual das tecnologias abertas. Disponível em: https://www.youtube.
com/watch?v=PlJsSdSKyGs.

7.1.2 Caducidade do Direito


Conforme o art. 2º, §2º, Lei n° 9.609/98, a propriedade intelectual sobre
programas de computadores caduca em 50 anos, contatos a partir do dia 1º de janeiro
do ano seguinte do registro ou da criação do programa (BRASIL, 1998a).

7.2 TOPOGRAFIAS DE CIRCUITOS EM REDE


Outra forma de criação que é protegida pelo sistema jurídico brasileiro, de forma
sui generis, são as formas de organizar máquinas, condutores e semicondutores, ou
seja, a topografia, a cartografia de elementos para se chegar a um objetivo final.

Se a proteção dos direitos intelectuais dos programas de computadores, que


apresentamos anteriormente, estava mais relacionado com o desenho de comandos

182
contidos principalmente em softwares, para chegar num output, o que se protege
neste tipo de sistema de proteção aos direitos intelectuais é o desenho de elementos –
hardwares, mas não só – para se chegar a um objetivo.

NOTA
As máquinas funcionam sobre sistemas de input e output, isto é, são pensadas
sobre a ideia de ação e reação. Melhor dizendo, para que, quando colocado
um dado (input) – que pode ser o clique numa tecla do teclado ou um pedaço
de madeira – o dado seja transformado pela máquina (output) – que pode ser
a aparição da letra na tela do computador ou um compensado de madeira

A Lei que dispõe sobre esta propriedade intelectual é a Lei n° 11.484/2007 –


que tem por objetivo a promoção dos sistemas eletrônicos no Brasil. Ela dispõe sobre o
conceito de circuito integrado – o produto final de uma montagem de elementos – e a
topografia de circuitos internos – que é “uma série de imagens relacionadas, construídas
ou codificadas sob qualquer meio ou forma, que represente a configuração tridimensional
das camadas que compõem um circuito integrado, e na qual cada imagem represente,
no todo ou em parte, a disposição geométrica ou arranjos da superfície do circuito
integrado em qualquer estágio de sua concepção ou manufatura” (BRASIL, 2007).

Assim, o que se protege não é o produto – o meio em que o desenho é colocado


– mas o próprio desenho.

7.2.1 Quem é o Titular?


Presume-se que é quem oferece ao registro o autor da topologia do circuito
em rede. Assim como no caso da proteção da propriedade intelectual dos programas
de computador, a proteção dos desenhos de sistemas de máquinas e elementos
também pertencerão aos empregadores e tomadores de serviço quanto às criações
desenvolvidas durante contrato.

7.2.2 Caducidade
Neste caso, a proteção dos direitos intelectuais é de 10 anos.

7.3 CULTIVARES
Outra propriedade intelectual que não está regulamentada nem pelos direitos
autorais e nem pela propriedade intelectual é a propriedade intelectual de melhoramentos
em organismos vivos.

183
Melhor dizendo, a Lei n° 9.456/97 visa proteger o direito do autor – chamado
de melhorista pela Lei – sobre nova espécie por ele criada. Este produto é chama do
cultivar, e tem como característica ser “a variedade de qualquer gênero ou espécie
vegetal superior que seja claramente distinguível de outras cultivares conhecidas por
margem mínima de descritores, por sua denominação própria, que seja homogênea e
estável quanto aos descritores através de gerações sucessivas e seja de espécie passível
de uso pelo complexo agroflorestal, descrita em publicação especializada disponível e
acessível ao público, bem como a linhagem componente de híbridos” (BRASIL, 1997).

Aquele que é reconhecido como titular da propriedade intelectual de cultivar


– pessoa física ou jurídica – tem assegurado o direito de reprodução comercial no
território brasileiro. Terceiros não podem, para fins comerciais, oferecer a venda ou
comercialização do material de propagação do cultivar.

7.3.1 Caducidade do Direito


A duração da proteção à propriedade intelectual será de 18 anos para videiras,
árvores frutíferas, florestais e ornamentais; e 15 anos para os demais casos.

184
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:

• Os três tipos de direitos reais sobre coisas imateriais.

• O que e quais são os direitos de personalidade.

• A diferença entre direitos autorais e direitos da propriedade intelectual.

• Os direitos da propriedade intelectual sui generis.

185
AUTOATIVIDADE
1. “A divisão dos direitos humanos em gerações foi proposta pelo jurista checo
Karel Vasak, inspirado nos ideais da Revolução Francesa (Liberdade, igualdade,
fraternidade), no Instituto Internacional de Direitos Humanos, em Estrasburgo, em
1979” (SUPREMO CONCURSOS, 2022, s. p.). Sobre os direitos de personalidade,
assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Os direitos de personalidade são direitos de primeira geração, e por isso estão


focados nos indivíduos.
b) ( ) Os direitos da personalidade estão relacionados com os direitos humanos. Por
isso, eles são reservados somente às pessoas físicas.
c) ( ) Os direitos da personalidade começam a valer a partir do momento do registro
da pessoa física ou da pessoa jurídica.
d) ( ) Os diretos da personalidade não direitos personalíssimos, por isso podem ser
vendidos e cedidos.

2. Os autores têm, sobre suas obras, direitos morais e direitos patrimoniais. Com base
nestes direitos e nesta classificação, analise as sentenças a seguir:

I- Dentre os direitos morais, reservados ao autor de obra, estão o direito de ter seu
nome atrelado às suas obras, bem como defender a integridade da obra contra
qualquer modificação que desabone a honra do autor.
II – No caso das obras coletivas, todos os autores que participam da obra têm direitos
autorais sobre ela, inclusive os direitos patrimoniais.
III- Cabe ao autor e aos coautores disporem, por autorização prévia e expressa, sobre
a utilização da obra em qualquer modalidade, tais como: a) reprodução integral ou
parcial; b) adaptação; c) tradução para outros idiomas; d) exposições.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.


b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3. São conhecidos como direitos da propriedade industrial três formas de proteção: a) a


proteção as marcas; b) a proteção aos desenhos industriais; e c) as patentes. Sobre
a proteção dos direitos patrimoniais, classifique V para as sentenças verdadeiras e F
para as falsas:

186
( ) Assim como ocorre com os direitos autorais, o titular da propriedade intelectual
sobre invenções ou modelos de utilidade é aquele que inventa algo, independente
se a invenção é realizada a partir de contrato de prestação de serviço ou de trabalho.
( ) Dentre os direitos intelectuais que não são objeto de proteção legal do autor está
a forma plástica ornamental de um objeto, pois se tratam de elementos acessórios
à patente.
( ) O modelo de utilidade é patenteado, assim como as invenções.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a)( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4. A caducidade, ou decadência, se diferencia da prescrição pelo fato de que, nas


primeiras, o que se extingue é o próprio direito, quando, no segundo caso, o que
deixa de existir é a possibilidade jurídica de requer o direito, embora ela ainda possa
existir. Dito isso, explique qual o tempo para a extinção dos direitos intelectuais: a)
dos direitos autorais; b) das patentes; c) das marcas; e d) dos desenhos industriais.

5. Direitos da propriedade intelectual sui generis são aqueles que não se enquadram
nem na classificação de direitos autorais e em na de propriedade industrial. Entre
eles, estão os direitos sobre a propriedade intelectual de programas de computadores
e de topologias de circuitos em redes. Discorra sobre o que as diferencia, bem como
sobre o tempo que é vigente esta proteção antes de que alcance a decadência.

187
188
UNIDADE 3 TÓPICO 2 -
DIREITOS IMATERIAIS E TRANSAÇÕES

1 INTRODUÇÃO
Se no primeiro tema de aprendizagem desta unidade de estudo nosso foco foi
em destrinchar quais sãos os tipos de direitos reais imateriais – direitos de personalidade,
direitos autorais, direitos da propriedade industrial e os direitos imateriais sui generis –,
agora vamos retomar nossos focos de estudo da unidade dois deste livro didático.

Ou melhor, se já deixamos claro que os direitos imateriais são direitos reais sobre
coisas intangíveis – como a personalidade e as criações “do espírito” –, resta-nos, neste
momento, estudar como esses direitos reais, e seus poderes inerentes, como uso, gozo,
fruição, disposição podem ser negociados. Assim, além de retomar o estudo dos direitos
reais, retomaremos os estudos sobre os negócios jurídicos e os contratos.

Nossa escolha didática foi estudar as transações de direitos reais na mesma


ordem e que estudamos quais são esses direitos reais imateriais. Esperamos que você
possa ter uma boa experiência!

2 TRANSAÇÃO DE DIREITOS DA PERSONALIDADE


Como já deixamos claro no tema de aprendizagem anterior, os direitos de
personalidade são adquiridos a partir do nascimento com vida, e perduram até a morte e
mesmo depois dela. Eles são intransmissíveis, ou, em tese, não estão sujeitas a qualquer
forma de disposição entre pessoas.

Tal impossibilidade de se dispor dos direitos de personalidade parece meio clara.


O direito à vida, ao corpo, à privacidade, parecem direitos muito importantes para serem
colocados à disposição, ainda mais na contemporaneidade, em que esses institutos
– e a individualidade como um todo – parecem ser bens muito valiosos para serem
colocados à disposição.

2.1 DISPOSIÇÃO DA PRIVACIDADE E DA LIBERDADE


Esta indisponibilidade e a impossibilidade de se transmitir direitos da
personalidade não é absoluta. O próprio art. 11, CC ressalva que há possibilidades de se
transferir direitos da personalidade.

189
Como já dissemos, os direitos imateriais podem ser divididos em dois direitos
– direitos morais e direitos patrimoniais. A disposição dos direitos imateriais da
personalidade segue a mesma lógica.

Em alguns casos, é possível que haja a transferência de um direito da


personalidade por contrato. São os casos, por exemplo, de um contrato em que alguma
pessoa cede para a outra o direito de uso de sua imagem, para a venda de uma roupa ou
de cosméticos. Nesses casos, são firmados contratos de cessão de imagem.

Outra oportunidade de disposição de um direito da personalidade é a disposição


da própria liberdade para a participação de um evento ou de um show, por exemplo.
O caso clássico são as pessoas que concordam em participar de jogos televisivos, os
chamados realities shows.

2.2 DISPOSIÇÃO DO PRÓPRIO CORPO


Em outros casos, é possível dispor do próprio corpo, mas a Lei brasileira proíbe que
esta disposição se dê mediante pagamento, senão por ato de solidariedade voluntária.
É o caso da doação de órgãos, por exemplo. O art. 1° da Lei n° 9.434/97 dispõe que as
doações de órgãos e partes do corpo somente poderá ser realizada de forma gratuita,
tanto entre pessoas vivas como entre uma pessoa morta para uma pessoa viva.

2.3 DISPOSIÇÃO DO NOME


Outro exemplo de disposição e cessão de direito de personalidade é quando a
pessoa dispõe de seu próprio nome para ser usado por uma empresa. São os casos, por
exemplo, de nomes de pessoas famosas que, com essa cessão de direitos, ajudam a
alavancar as vendas de um produto.

Um exemplo emblemático é o Café Pelé, cujo jogador recebia uma compensação


financeira para que seu nome pudesse ser atrelado ao produto. Outros famosos cedem,
além de suas imagens, também seus próprios nomes para estratégias de marketing,
como a Xuxa e a Anitta.

3 TRANSAÇÃO DE DIREITOS AUTORAIS


O artigo 49 da Lei n° 9.610 dispõe que os direitos do autor podem ser cedidos:

(a) de forma integral ou parcial – ou seja, o autor pode ceder toda a obra
desenvolvida ou parte dela. A cessão integral, ou total, compreende todos os direitos

190
patrimoniais do autor. Quanto aos direitos morais – de integridade da obra e de ter
seu nome atrelado à autoria da obra – somente podem ser transferidos se dispostos
expressamente em contrato.

No caso de ausência de estipulação em contrato do tempo de cessão dos


diretos morais e patrimoniais, ela presume-se feita pelo prazo máximo de 5 anos.

(b) o contrato pode ser estipulado pelo autor ou por seus herdeiros –
como já dito no primeiro tema de aprendizagem, os direitos autorais acabam – caducam,
decaem – somente 70 anos após a morte do autor. Isto significa que, quando ocorre a
morte do autor, ficam sobre a responsabilidade dos herdeiros do autor os direitos morais
e patrimoniais referentes às obras.

(c) não há contrato específico para a transmissão dos direitos autorais


– as transmissões dos direitos dos autores sobre as obras podem ser feitas por cessão,
concessão, licenciamento ou qualquer outro meio admitido pelo Direito (BRASIL, 1998b).

3.1 O CONTRATO
Embora o tipo de transmissão dos direitos seja livre – concessão, cessão,
licenciamento, venda –, o contrato de transmissão será sempre escrito. Presume-se
oneroso, ou seja, com a obrigação de ceder o direito pela obrigação, da outra parte, de
pagar pela transmissão.

O contrato ainda deve estipular: a) a especificação da obra que está sendo cedida;
b) as condições de uso do direito; e c) o tempo, o lugar e o preço estipulado. Sobre esse
último elemento necessário, existem alguns requisitos. O tempo dos contratos para
cessão de direitos autorias para obras futuras é de no máximo 5 anos. Os contratos são
válidos apenas nos países em que foram firmados, salvo estipulação em contrário.

4 TRANSAÇÃO DE DIREITOS INDUSTRIAIS


Já vimos no primeiro tema de aprendizagem que os direitos industriais são
separados em quatro categorias: a) as patentes; b) as marcas; c) os desenhos industriais;
e d) as indicações geográficas. As últimas não são concedidas, por se tratar mais de
uma classificação de empresas do que de uma propriedade intelectual. Isto é, para que
uma indicação geográfica seja usada pela empresa, ela deve cumprir requisitos de local
e qualidade. Qualquer empresa que cumpra com os requisitos pode usar a indicação
geográfica, sem que para isso seja feita uma transferência de direitos reais imateriais.

Feita essa introdução, vamos agora estudar como funciona cada uma das
transferências de direitos industriais.

191
4.1 TRANSFERÊNCIAS DE PATENTE
A transferência de patentes é feita a partir de licenças. Elas podem ser realizadas
a) por contrato onerosos e voluntários – isto é, quando o titular da patente tem o desejo
e concedê-la para uso, e com obrigação de pagar pela parte que recebe a licença de
utilização; e b) de maneira compulsória.

4.1.1 Licença Voluntária


No caso da licença realizada de maneira voluntária, o titular da patente – o
inventor ou o seu empregador ou tomador de serviço, como já explicamos no primeiro
tema de estudo – pode celebrar um contrato com outra pessoa para que esta explore
a patente. O contrato pode envolver todos os poderes da titularidade da patente, ou
apenas alguns. Para que esse contrato tenha validade perante terceiros, ele precisa ser
averbado o Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI).

4.1.2 Licença Compulsória


Ao contrário do que acontece no caso da licença voluntária – um negócio jurídico
em que está presente a vontade das duas partes –, no caso da licença compulsória,
como o nome sugere, a transferência da patente, e dos direitos intelectuais do titular da
patente, é feita de maneira compulsória, para que a exploração da ideia seja usada por
outras pessoas, seja pelo Estado ou por outra pessoa jurídica ou física.
Como afirma Bruno Schnell (2017, s. p.), “o licenciamento compulsório é o meio
pelo qual um governo mantém o controle sobre a arbitrariedade do inventor ou detentor
de uma patente, a fim de que o exercício do direito reconhecido não seja feito de forma
abusiva e nociva contrariando o bem-estar social”.

Todas as licenças compulsórias – que muitas vezes recebem a alcunha errônea


de “quebra de patentes” – são não exclusivas, isto é, não são concedidas a apenas uma
pessoa, como no caso das licenças voluntárias, que se dão por contrato. Ainda, não é
possível que sejam subconcedidas.

Ainda, não se trata de uma perda ou nulidade da patente. Ou seja, não é uma
expropriação do direito – sem direito à indenização. Por isso, aquele titular que têm
sua exclusividade sobre o uso da patente licenciada compulsoriamente tem direito à
indenização.

Os momentos quem que a licença é compulsória são:

a) quando o titular usa da patente de maneira a praticar abuso do poder


econômico. Neste caso, a decisão de licenciar compulsoriamente a patente pode ser
feita por decisão administrativa – pelo Poder Executivo – ou por decisão do Poder
Judiciário. Neste caso, ocorre um apelo à função social da patente.

192
b) insuficiência da produção – o produto não está sendo fabricado a contento,
ou não colocado à comercialização de forma a atender às necessidades das pessoas.

Nestes casos, a licença compulsória é requerida por terceiro, interessado em


produzir o material resultante da patente. Ele deve provar, administrativamente ou em
juízo, que possui capacidade de produção do produto resultante da patente.

c) quando uma patente, que traz progresso técnico de uma patente anterior,
depende da outra patente. Nestes casos, só haverá a licença compulsória se não houver
um acordo entre a parte que requer a licença compulsória e a titular da licença.

d) uma quarta hipótese de licença compulsória de patentes são os casos de


calamidades públicas, nacionais ou internacionais, ou em casos de interesse público.
Nestes casos, a licença é temporária e não exclusiva.

Essa forma de licença compulsória foi fruto legislativo da pandemia de COVID-19.

4.2 TRANSFERÊNCIAS DE DIREITOS INTELECTUAIS SOBRE


DESENHO INDUSTRIAL
É possível realizar a licença voluntária do desenho industrial. No entanto, não
há previsão legal para a licença compulsória. A transferência é realizada sob os mesmos
fundamentos de como ocorre com a licença de patentes.

4.3 TRANSFERÊNCIA DE USO DA MARCA


Como estamos afirmando aqui, todas as vezes que falamos sobre as marcas,
elas são como que um direito de personalidade das pessoas jurídicas. Isto porque são
os sinais que distinguem as empresas, os serviços e os produtos de outros que prestam
serviços e fazem produtos semelhantes.

Assim, com semelhança com o direito de personalidade de nome, as marcas


também podem ser concedidas e licenciadas o seu uso, através de contrato.

(a) A cessão é quando o registro ou mesmo o pedido de registro é cedido para


outra pessoa.
(b) Já a licença de uso é quando o cedente – o titular da marca – cede o direito
para que um terceiro possa usar da marca.

193
Esta cessão é exclusivamente dos direitos patrimoniais sobre a marca – ou seja,
o titular continua com o direito de defender a integralidade da marca, controlando suas
especificações, e também a natureza e a qualidade dos produtos e serviços oferecidos
com o uso da marca.

O contrato de cessão de uso da marca deve ser averbado no INPI para que
produza efeitos em relação a terceiros.

194
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:

• Os direitos da personalidade, que são intransferíveis, mas de forma relativa.

• A forma como é feita a concessão dos direitos autorais

• As patentes, que podem ser licenciadas para uso de forma voluntária, mas também
de forma compulsiva.

• Assim como o nome, é possível que sejam transferidos os diretos de uso das marcas.

195
AUTOATIVIDADE
1. Andrea Marighetto (2019) ensina que os direitos da personalidade são direitos
subjetivos absolutos, sendo que regulamentam os aspectos mais essenciais e
relevantes da personalidade humana. Esses direitos não possuem caráter patrimonial
e são inalienáveis, intransmissíveis, irrenunciáveis e imprescritíveis. No entanto,
vimos que existe uma certa relatividade da intransmissibilidade dos direitos da
personalidade, podendo serem cedidos em algumas circunstâncias. Sobre o exposto,
assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O nome é a forma de distinguir as pessoas jurídicas e físicas. Por isso não é


possível que o nome seja cedido para o uso de outras pessoas, por meio de contrato.
b) ( ) O direito à integralidade do corpo pode ser mitigada no caso de disposição
voluntária de parte do corpo ou para a doação de órgãos, em vida ou após a morte.
Nos dois casos, o médico não precisa ser consultado.
c) ( ) No Brasil, não é possível dispor da própria vida, mesmo que a pessoa esteja em
estado terminal e sofrendo.
d) ( ) A liberdade é direito fundamental, e não pode ser colocada à disposição pelas
pessoas, sob qualquer circunstância.

2. Os direitos intelectuais são de duas ordens: a) patrimoniais e b) morais. Sobre a cessão


destes direitos quando aos direitos autorais, analise as sentenças a seguir:

I- A transferência de direitos autorais pode ser realizada de diversas formas, como a


concessão, a cessão, o direito de uso. No entanto, somente são válidos se realizados
de maneira escrita. Ainda, presume-se que, aquele que recebe os direitos do autor,
deve pagar por isso.
II- Só é possível a cessão dos direitos patrimoniais sobre as obras. São intransferíveis
dos direitos morais, pois pertencem à personalidade do autor. Eles podem sem
defendidos pelo autor a qualquer tempo, independente de contrato que estipule a
cessão dos direitos morais.
III- O prazo máximo para a cessão de direitos autorais sobre obras que ainda não estão
prontas é de 10 anos.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.


b) ( ) Somente a sentença I está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

196
3. As patentes são transferidas a partir de licenças. Elas podem conceder ao cessionário,
aquele que adquire a patente, para que ele use da patente para desenvolver os
produtos da patente. Sobre as licenças, classifique V para as sentenças verdadeiras
e F para as falsas:

( ) Na licença compulsória as partes acordam sobre o uso da patente, quando ela se


torna necessária para que o produto seja colocado em qualidade necessária para
atender à demanda populacional.
( ) Na licença compulsória o titular da patente perde o direito de explorar a patente,
bem como os direitos patrimoniais e morais referentes a ela.
( ) Embora deve ser requerida por pessoa que comprove a capacidade de produzir o
produto da patente, a licença compulsória nunca será exclusiva daquele que requer.
Ele também não adquire o direito de transferir a patente para terceiro.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4. Para Bruno Schnell (2017, s. p.), “o licenciamento compulsório é o meio pelo qual
um governo mantém o controle sobre a arbitrariedade do inventor ou detentor de
uma patente, a fim de que o exercício do direito reconhecido não seja feito de forma
abusiva e nociva contrariando o bem-estar social”. Nestes casos, a licença para o
uso é transferida, mesmo que sem a vontade do titular da patente, para que outras
empresas ou pessoas possam produzir o produto a partir da patente. Dito isso,
explique quais são as quatro formas de licença compulsória de patente previstas na
Lei n° 9.279/96.

5. Para o Direito, marca é qualquer sinal perceptível que distingue uma empresa, um
produto ou um serviço. Além de ser instrumento de combate à concorrência desleal
entre as empresas, as marcas são protegidas também como forma de defender os
consumidores, para que não sejam enganados quanto ao produto ou serviço que
estão escolhendo. No entanto, embora a marca seja o elemento que caracteriza as
empresas e as pessoas, assim como o nome – direito da personalidade –, é possível
que o titular da marca transfira pra outro o direito de usá-la. Com base na transferência
do direito intelectual de marca, responda: qual a diferença entre cessão de registro
e de licença de uso da marca? Os direitos morais e patrimoniais são cedidos pela
licença de uso da marca?

197
198
UNIDADE 3 TÓPICO 3 -
PUBLICIDADE JURÍDICA DOS DIREITOS
IMATERIAIS
1 INTRODUÇÃO

Chegamos ao último tema de aprendizagem do nosso livro didático. Existem


estudos que afirmam que a melhor forma de aprender algo é ensinando para alguém.

Neste último tema de aprendizagem do livro de Despacho Imobiliário e Autoral,


iremos retomar um assunto que estamos tratando deste a primeira unidade de estudo:
a publicidade jurídica – ou seja, a publicização dos fatos jurídicos, daqueles fatos que
geram efeitos jurídicos, direitos ou deveres para alguém.

Assim como o estudo da propriedade intelectual é dividido em dois grandes


centros: a) direitos autorais e b) propriedade industrial, além da propriedade intelectual
sui generis, para estudarmos a publicidade jurídica – feita por registro – da propriedade
intelectual, nós teremos que nos atendar às diferenças de formas e processos de
registro de cada um desses direitos.

2 REGISTRO DOS DIREITOS AUTORAIS

Já comentamos que a propriedade intelectual é reconhecida como um direito


imaterial. As ideias são intangíveis. A imaginação, a capacidade de contar histórias,
a capacidade de criar. Todas essas coisas são apontadas como características que
diferencial o animal humano das demais criaturas da Terra. Essa distinção é feita tanto
por religiões de matriz europeia como pela ciência daquele continente, e, hoje, é difícil
sair deste paradigma antropocêntrico.

Com os direitos sobre obras, esta noção de que a propriedade intelectual está
ligada com uma capacidade inerente às pessoas é ainda maior. A própria Lei de Proteção
aos Direitos Autorais fala que “são obras intelectuais protegidas as criações do espírito”
(BRASIL, 1998b).

Toda essa introdução serve para constatar que, no caso das obras cuja proteção
se dá pela Lei de Proteção aos Direitos Autorais, o registro não é necessário. Assim
como qualquer pessoa que nasce adquire a personalidade jurídica, sem a necessidade
da publicidade jurídica, qualquer “criação do espírito” recebe a proteção do Estado, e
seu autor passa a ser detentor dos direitos de propriedade – usar, expor, gozar, usufruir.

199
2.1 REGISTRO FACULTATIVO
No entanto, mesmo que não seja necessário o registro das obras para que o
autor seja beneficiário dos direitos autorais, a sua proteção é uma forma de segurança
para os autores. É faculdade o autor realizar o registro no órgão público criado para essa
finalidade e que tenha a maior afinidade com o tipo de obra produzida.

Cada um desses órgãos terá o seu próprio regime de funcionamento, e o poder


público poderá criar órgãos e organizar o registro da forma que achar melhor. Ainda,
cada um dos órgãos de registro definirá a forma de contribuição que o autor das obras
registradas terão que arcar pelo registro da obra.

2.1.1 Instituições
O Art. 17 da Lei n° 5.988/73 dispõe sobre quais são os órgãos em que os autores
podem, querendo, por segurança, registrar suas obras: a) a Biblioteca Nacional; b) a
Escola de Música; c) a Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro;
d) o Instituto Nacional do Cinema; e e) o Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura
e Agronomia (BRASIL, 1973). Vale relembrar que o Poder Executivo tem a liberdade
de organizar o sistema de registro de propriedade autoral de obras. Assim, o leque de
opções da Lei pode ser expandido por decisão do Poder Executivo, por decreto.

a) A Biblioteca Nacional é o local de registro de obras escritas.

Para o registro das obras, é necessário preencher um formulário eletrônico com


as informações da obra, pagar a guia no valor de R$ 20,00 à R$ 60,00, uma cópia da
obra e documentos de identificação pessoal. Os documentos devem sem entregues em
um Escritório de Direitos Autorais.

NOTA
Além do Escritório de Direitos Autorais (EDA) localizado no Rio de Janeiro,
seu local de sede, existem mais 10 EDAs espalhados pelo Brasil. O endereço
deles pode ser visto neste link: https://www.gov.br/bn/pt-br/servicos/direitos-
autorais-1/documentos-do-eda-2/formulario-01-requerimento_de_registro_
averbacao_eda_fbn.pdf.

b) A Escola de Música expressa na Lei é a Escola de Música da UFRJ. Ela é o local


para o registro de músicas. Para realizar o registro é preciso preencher um formulário
eletrônico, uma cópia da partitura e o comprovante de pagamento da taxa de registro. O
material deve ser enviado para a Escola de Música do Rio de Janeiro.

200
c) A Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ou apenas
EBA, é onde são requeridos registros de obras visuais. Existem dois tipos de registros: o
registro simples, e o registro com cessão de direitos.

Desde janeiro de 2022 o procedimento somente é realizado por correio eletrônico.


É preciso, para o registro, encaminhar à EBA: a) requerimento – formulário eletrônico
disponível no site da EBA; b) comprovante de pagamento de taxa de R$ 150,00; c) cópia
das identidades dos autores; e d) duas reproduções idênticas da obra visual.

d) O Instituto Nacional do Cinema, disposto na Lei n° 5.988/73, foi criado em


1966 e extinto em 1975, quando suas atribuições foram transferidas para a Embrafilmes.
Hoje, o registro das obras audiovisuais, publicitárias ou não, é feito pela Agência Nacional
do Cinema – Ancine.

Existem vários tipos de registro. Para obras não publicitárias – que podem
seriadas, não seriada, brasileiras ou estrangeiras; e para obras publicitárias – que se
dividem em brasileiras filmadas no Brasil, filmadas no exterior, ou estrangeiras.

Para o registro das obras é necessário usar o Sistema Ancine Digital (https://sad.anci-
ne.gov.br/controleacesso/menuSistema/menuSistema.seam).

e) As obras relacionadas com a agronomia, a engenharia, a geografia, a geologia


e a meteorologia são realizadas pelo Confea – Conselho Federal de Engenharia e
Agronomia.

O registro é feito de maneira presencial. O autor deve preencher um formulário


eletrônico (https://www.confea.org.br/sites/default/files/antigos/FORMULARIO_
DIREITOAUTORAL.docx), pagar uma taxa de R$ 332,18 e protocolar, em um dos Conselhos
Regionais – CREA-PR: a) quatro cópias do formulário; b) comprovante do pagamento da
taxa; c) dois exemplares da obra; e d) declaração de cessão de direitos patrimoniais, no
caso de pedido requerido por pessoa física ou jurídica diversa do autor ou dos autores.

f) O registro de obras relacionadas com a arquitetura e o urbanismo, que agora


possuem conselho federal distinto – o CAU –, é regulamentado pela Resolução n° 67 do
CAU (CAU, 2013).

O registro das obras é feito eletronicamente, pelo serviço digital SICCAU (https://
servicos.caubr.gov.br/). A solicitação deve ser instruída com cópia do projeto e descrição
de suas especificidades.

A taxa a ser paga é de duas vezes o valor de uma RTT.

201
RTT é uma taxa de serviço técnico executado por arquiteto. Para o ano de 2023,
o valor de uma RTT é de R$ 115,18. Portanto, a taxa para o registro de uma obra de
arquitetura ou urbanismo é de R$ 230,36.

IMPORTANTE
O registro de obras é facultativo. No entanto, nada impede que os autores se
associem para que possam, em conjunto, realizarem a proteção dos direitos
autorais. Estas associações podem ser as responsáveis por cobrar pelo uso
das obras, por exemplo, representando os seus autores associados.
O exemplo mais conhecido dessas associações são os casos da Amar, Assim,
Sbacem, Sicam, Socinpro e UBC, que em conjunto administram o ECAD –
Escritório Central de Arrecadação e Distribuição. Tratam-se de entidades
privadas, que agem em nome dos músicos e compositores associados.
O trabalho do ECAD envolve: a) a arrecadação – é cobrado um valor de
estabelecimentos que tocam músicas. Este preço é determinado com base
em vários requisitos, como o tamanho do local, a finalidade da música; b) do
valor arrecadado, 85% são destinados aos autores, 6% com as associações de
gestão coletiva e 9% para o ECAD.
Ou seja, o trabalho de arrecadação de valores pelo uso de obras musicais não
tem relação com o registro das obras, que é facultativo.
No entanto, o trabalho das associações é importante para que o autor possa
ter acesso aos direitos econômicos da sua obra, visto que, fora das associações,
a capacidade do autor de fiscalizar se sua obra vem sendo utilizada sem a sua
permissão ou compensação financeira fica prejudicado.

2.2 BIBLIOTECA NACIONAL

A Biblioteca Nacional Brasileira tem sua história intimamente relacionada com a


chegada da corte real portuguesa ao Brasil, no ao de 1.808. Junto à corte portuguesa, o
colonizador encaminhou para a colônia roupas, costumes, acessórios, cultura e objetos
culturais.

Assim, a Biblioteca Nacional (BN), com sede a Av. Rio Branco, na cidade do Rio
de Janeiro, é parte integrante da Fundação Biblioteca Nacional, que conta com outras
instituições públicas de depósito, registro, proteção da propriedade intelectual e cultura
brasileira.

A BN é reconhecida pela UNESCO – Organização das Nações Unidas para a


Educação, a Ciência e a Cultura – como uma das bibliotecas mais importantes do
mundo, além de ser a maior biblioteca da América Latina.

202
INTERESSANTE
A Biblioteca nacional tem uma história riquíssima. É possível acessar seus
eventos e parte do acesso em seu site oficial https://antigo.bn.gov.br/.

A BN, além de ser um local de consulta de acervo, tem também como objetivo
o registro e o depósito de obras como forma de manutenção do patrimônio cultural
brasileiro, uma das maneiras de proteção ao meio ambiente.

NOTA
O Meio ambiente é separado em quatro tipos: meio ambiente natural, meio
ambiente artificial, meio ambiente do trabalho e meio ambiente cultural. As
obras e o acervo cultural das sociedades fazem parte da última forma de meio
ambiente. Todas essas formas de direitos do meio ambiente são de importância
para a preservação da memória, da vida, da história. Por isso, devem ser
protegidos de igual forma. A Biblioteca Nacional cumpre essa função.

2.2.1 Depósito Legal de Obras na Biblioteca Nacional

Já comentamos que os direitos autorais são adquiridos com o nascimento da


obra, não sendo necessário que seja levado a registro para que sejam protegidos. Por
outro lado, a Lei obriga que dois tipos de obras sejam depositados na Biblioteca Nacional.

A Lei n° 10.994/2004 determina que se deve efetuar o depósito de um ou mais


exemplares das publicações – obras em formato escrito, produzidas por qualquer meio
ou processo, na Biblioteca Nacional.

O intuito do depósito legal é “assegurar o registro e a guarda da produção


intelectual nacional, além de possibilitar o controle, a elaboração e a divulgação da
bibliografia brasileira corrente, bem como a defesa e a preservação da língua e cultura
nacionais” (BRASIL, 2014).

A omissão no depósito gera multa correspondente à 100 vezes o valor da obra


no mercado e a apreensão de exemplares.

203
IMPORTANTE
O depósito legal e obrigatório na Biblioteca Nacional, determinado pela Lei n°
10.904/2014, não retira a capacidade legislativa que outros entes da federação
determinem o depósito no acervo estaduais. O depósito na Biblioteca Nacional
não exime o autor de realizar o depósito em entidade estadual, se a lei local
assim determinar.

Também é necessário o depósito legal de obras musicais na Biblioteca Nacional,


conforme dispõe a Lei n° 12.192/2014. A lei determina o depósito de cada obra editada
ou gravada, e da cópia digital da obra, no prazo de 30 dias após a sua publicação.

A falta do depósito gera multa no valor de 100 vezes o valor da obra no mercado.

3 REGISTRO DOS DIREITOS DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL

Se os direitos intelectuais sobre obras são facultativos, no caso dos direitos de


propriedade industrial – referente às patentes, às marcas, aos desenhos industriais,
às indicações geográficas, aos programas de computadores, às topografias de circuito
em rede e aos cultivares –, se faz necessário o registro da autoria para que os direitos
intelectuais sejam reconhecidos e devam sem respeitados por todos os demais.

Vamos estudar como se dá o registro de cada uma dessas propriedades


intelectuais sujeitas a registro.

3.1 INPI

O Instituto Nacional da Propriedade Intelectual – INPI – foi criado em 1970, pela


Lei n° 5.648/70. Trata-se de uma autarquia federal, que se encontra ligada ao Ministério
da Econômica. Sua sede fica no Rio de Janeiro.

O INPI é o órgão responsável por executar, em âmbito nacional, as normas sobre


propriedade industrial. Isto significa que é esta autarquia a responsável por realizar a
publicidade jurídica, a partir do registro, da propriedade industrial sobre invenções,
modelos de utilidade, marcas, desenho industrial, indicações geográficas, programas de
computadores, topografias de circuito em rede e cultivares.

204
3.2 REGISTRO DE PATENTES

Para o registro de patentes de invenções ou de modelos de utilidade, o pedido


deverá constar, conforme art. 19 da Lei n° 9.279/96 (BRASIL, 1996), de: a) o requerimento;
b) o relatório descritivo da invenção ou do modelo de utilidade; c) desenhos, se for o
caso; d) o resumo do pedido; e e) comprovante de pagamento da retribuição relativa ao
depósito.

NOTA
Um pedido de patente é um documento de elaboração complexa. Embora
pareçam poucos quesitos, cada um deles exige dedicação profunda para deixar
claro o que será patenteado. Qualquer informação de falta nas descrições pode
fazer o pedido ser rejeitado, ou aprovado sem que toda a invenção ou modelo
de utilidade esteja totalmente protegido, gerando prejuízos ao inventor.
O INPI possui uma cartilha com mais detalhes sobre como elaborar o pedido
de patente, que pode ser acessada pelo link: https://www.gov.br/inpi/pt-br/
servicos/patentes/guia-basico/ManualdePatentes20210706.pdf.

3.2.1 Processo de Concessão da Patente

A concessão da patente deve passar por exames formais e técnicos, no INPI. O


processo está descrito nos arts. 30 a 39 da Lei n° 9.279/96 (BRASIL, 1996), e compreende
as seguintes etapas:

1) O primeiro desses exames, preliminar, é feito no ato do depósito do pedido


de registro. Ele é apenas formal – analisa a formalidade, se os requisitos para o pedido
foram atendidos. Se tiver algum vício sanável no pedido, o requerente terá 30 dias para
corrigir, sob pena de arquivamento ou devolução da documentação.

2) Se tudo estiver correto, o pedido ficará sob sigilo por 18 meses no INPI, sendo
que o requerente pode pedir que a publicação do pedido seja antecipada.

3) Publicado o pedido, qualquer interessado poderá instruir o processo com


documentos, que serão usados para melhor avaliar o pedido de patente.

4) Até 36 meses do depósito do requerimento de patente, deve o inventor ou


qualquer interessado requerer o exame do depósito.

5) O exame técnico versará sobre: I – patenteabilidade do pedido; II – adaptação


do pedido à natureza reivindicada; III – reformulação do pedido ou divisão; ou IV -
exigências técnicas (art. 35, Lei n° 9.279/96 (BRASIL, 1996).

205
6) Se a decisão for pela não patenteabilidade, o requerente terá 90 dias para
contestar a decisão.

7) Deferido o pedido, a carta patente será concedida sob condição do pagamento


da retribuição correspondente.

NOTA
A tabela com o valor das retribuições pelos serviços prestados pelo INPI
pode ser acesso pelo link: https://www.gov.br/inpi/pt-br/servicos/tabelas-de-
retribuicao/tabela-patentes.pdf. O valor da retribuição para um pedido de
patente de invenção ou modelo de utilidade, hoje, é de R$ 175,00 (centro e
setenta e cinco reais), sendo que pessoas naturais, microempreendedores,
cooperativas e outras instituições pagam o valor com desconto de 60%, ou
seja, R$ 70,00 (setenta reais).

3.3 REGISTRO DE DESENHOS INDUSTRIAIS

O registro de desenhos industriais deverá conter, conforme o art. 101, Lei n° 9.279/96:

a) requerimento;
b) relatório descritivo, se for o caso;
c) reivindicações, se for o caso;
d) desenhos ou fotografias;
e) campo de aplicação do objeto; e
comprovante do pagamento da retribuição relativa ao depósito (BRASIL, 1996).

Os pedidos também passam por exame formal preliminar, com o intuito de


analisar se há algum vício no pedido. Caso conste alguma modificação a ser feita, o
requerente terá 5 dias para realizá-la.

Ao contrário do que acontece no caso das patentes, estando tudo correto, o


pedido é automaticamente publicado e o certificado de registro é expedido. Não há a
segunda fase de exame técnico.

206
IMPORTANTE
O INPI também tem um Manual de registro de desenhos industriais. Os
pedidos de registro são feitos de maneira eletrônica, pela Internet, e é
necessário cadastrar-se no e-INPI, cadastro eletrônico do INPI. O acesso ao
cadastro é feito pelo site https://www.gov.br/inpi/pt-br/cadastro-no-e-inpi.
Acesse o manual de registro de desenhos industriais em: http://manualdedi.
inpi.gov.br/projects/manual-de-desenho-industrial/wiki.

3.4 REGISTRO DE MARCAS

Para o registro de marcas, é necessário, conforme o art. 155 da Lei n° 9.279/96


(BRASIL, 1996): a) o requerimento; b) etiquetas, quando for o caso; e c) comprovante do
pagamento da retribuição relativa ao depósito.

No site do INPI, há mais informações sobre como requerer o registro da marca.

1) é necessário um cadastro no e-INPI (https://www.gov.br/inpi/pt-br/


cadastro-no-e-inpi)
2) o pedido é realizado eletronicamente. Não é necessário ir até um escritório
ou agência do INPI.

3.4.1 Processo de Concessão de Registro de Marcas

O processo de concessão do registro, após o depósito do pedido, é regulamentado


nos arts. 156 a 164 da Lei n° 9.279/96 (BRASIL, 1996).

1) Há o exame formal preliminar do pedido, sendo que o requerente tem 5 dias


para refazer o pedido caso haja algum problema.
2) No segundo passo, o pedido ficará publicado, e poderá ser sujeito à contestação
por 60 dias.
3) Caso alguém conteste o pedido, o autor terá 60 dias para responder à
contestação.
4) Decorrido o período 60 dias para que qualquer um possa contestar o pedido,
será feito o exame pelo INPI.
5) Deferido o pedido, e pago o valor das retribuições correspondentes, o
certificado de registro será expedido.

207
3.5 REGISTRO DE INDICAÇÕES GEOGRÁFICAS

O processo de registro das indicações geográficas não é regulamentado pela Lei


n° 9.279/96, e sim pelo próprio INPI.

Conforme a Portaria n° 04/2022-INPI, para o depósito do pedido de registro de


indicações geográfica são necessários:

Art. 16. O pedido de registro de Indicação Geográfica deverá referir-se


a um nome geográfico e conterá:
I – requerimento de Indicação Geográfica (modelo I);
II – caderno de especificações técnicas, no qual conste:
a) o nome geográfico, conforme descrito no §3º do art. 9º;
b) descrição do produto ou serviço objeto da Indicação Geográfica;
c) delimitação da área geográfica, nos termos do instrumento oficial
previsto no inciso VIII;
d) em pedido de Indicação de Procedência, a descrição do processo
de extração, produção ou fabricação do produto ou de prestação do
serviço, pelo qual o nome geográfico se tornou conhecido;
e) em pedido de Denominação de Origem, a descrição das qualidades
ou características do produto ou serviço que se devam exclusiva ou
essencialmente ao meio geográfico, incluindo os fatores naturais e
humanos, e seu processo de obtenção ou prestação;
f) descrição do mecanismo de controle sobre os produtores ou
prestadores de serviços que tenham o direito ao uso da Indicação
Geográfica, bem como sobre o produto ou serviço por ela distinguido;
g) condições e proibições de uso da Indicação Geográfica; e
h) eventuais sanções aplicáveis à infringência do disposto na alínea
“g”.
III – procuração, se for o caso;
IV – comprovante do pagamento da retribuição correspondente;
V – comprovante da legitimidade do requerente, por meio de:
a) Estatuto social, devidamente registrado no órgão competente, que
preveja:
1. a representação dos produtores e prestadores de serviços;
2. a relação direta com a cadeia do produto ou serviço objeto da
Indicação Geográfica;
3. a possibilidade de depositar o pedido de registro;
4. o objetivo de gerir a Indicação Geográfica; e
5. a abrangência territorial de atuação englobando a área da Indicação
Geográfica.
b) ata registrada da Assembleia Geral com aprovação do Estatuto;
c) ata registrada da posse da atual Diretoria;
d) ata registrada da Assembleia Geral com a aprovação do caderno
de especificações técnicas, acompanhada de lista de presença
com indicação de quais dentre os presentes são produtores ou
prestadores do serviço a ser distinguido pela Indicação Geográfica;
e) cópia da identidade e do CPF dos representantes legais do
substituto processual; e
f) declaração, sob as penas da lei, de que os produtores ou
prestadores de serviços, e outros operadores, estão estabelecidos
na área delimitada, conforme modelo II, com a identificação e a
qualificação dos mesmos.
VI – em se tratando de Indicação de Procedência, documentos que
comprovem que o nome geográfico se tornou conhecido como centro

208
de extração, produção ou fabricação do produto ou de prestação do
serviço;
VII – em se tratando de Denominação de Origem, documentos que
comprovem a influência do meio geográfico nas qualidades ou
características do produto ou serviço, devendo conter os elementos
descritivos:
a) do meio geográfico, incluindo os fatores naturais e humanos;
b) das qualidades ou características do produto ou serviço; e
c) do nexo causal entre os itens a que se referem as alíneas “a” e “b”.
VIII – instrumento oficial que delimita a área geográfica:
a) no qual conste a fundamentação acerca da delimitação geográfica
apresentada de acordo com a espécie de Indicação Geográfica
requerida;
b) expedido por órgão competente de cada Estado, sendo
competentes, no Brasil, no âmbito específico de suas competências,
a União Federal, representada pelos Ministérios afins ao produto
ou serviço distinguido pela Indicação Geográfica, e os Estados,
representados pelas Secretarias afins ao produto ou serviço
distinguido pela Indicação Geográfica; e
c) elaborado com base nas normas do Sistema Cartográfico Nacional,
exceto para as indicações geográficas localizadas fora do território
nacional.
IX – se for o caso, a representação gráfica ou figurativa da Indicação
Geográfica ou de representação geográfica de país, cidade, região ou
localidade do território (INPI, 2022, s. p.)

O pedido também passa por uma análise formal preliminar, sendo que o prazo
para atender às exigências é de 60 dias.

Depois desse prazo, será realizado o exame de mérito, publicado o registro e


expedido o certificado.

3.6 REGISTRO DE PROGRAMAS DE COMPUTADORES

O registro dos programas de computador, assim como no caso dos direitos


autorais, é facultativo. Ou seja, o direito nasce sem que seja necessária a publicidade
jurídica da obra.

No entanto, se o autor quiser realizar o registro, ele é regulamentado pelo Decreto


n° 2.556/98. Para o depósito do pedido, no INPI, é necessário (art. 1°, §1º, Decreto n°
2.556/98):

I - os dados referentes ao autor do programa de computador e ao titular, se distinto


do autor, sejam pessoas físicas ou jurídicas;
II - a identificação e descrição funcional do programa de computador; e
III - os trechos do programa e outros dados que se considerar suficientes para
identificá-lo e caracterizar sua originalidade (BRASIL, 1998c).

209
O registro também é feito todo pela internet. É preciso: 1) Registro no e-INPI; 2)
Gerar a Guia e pagar a taxa; e 3) Preencher o formulário eletrônico.

DICA
Todo o passo a passo para o registro de programas de computadores pode ser
acesso pelo site https://www.gov.br/inpi/pt-br/assuntos/arquivos-programa-
de-computador/ApresentaoeSoftware.pdf.

3.7 REGISTRO DE TOPOGRAFIAS DE CIRCUITO EM REDE

O registro de topografias de circuito em rede é requerido também no INPI, e é


regulamentado pela Lei n° 11.484/2007.

Para o depósito do pedido, é necessário, conforme o art. 31 da Lei n° 11.484/2007:

I – requerimento;
II – descrição da topografia e de sua correspondente função;
III – desenhos ou fotografias da topografia, essenciais para permitir sua
identificação e caracterizar sua originalidade;
IV – declaração de exploração anterior, se houver, indicando a data de seu
início;
V – comprovante do pagamento da retribuição relativa ao depósito do pedido
de registro (BRASIL, 2007).

Se o depositante quiser, o pedido pode ser mantido em sigilo por até 6 meses.
Após o pedido, e mesmo com o sigilo, o INPI faz a análise formal prévia, tendo o
requerente 60 dias para atender às exigências.

Não tendo exigências, ou elas sendo atendidas, é feito o registro, a publicação


e é expedida a certidão.

3.8 REGISTRO DE CULTIVARES

O registro de cultivares é feito, hoje, pelo Serviço Nacional de Proteção aos


Cultivares (SNPC). Ele foi criado pela Lei n° nº 9.456/97, e está alocado no âmbito do
Ministério da Agricultura e Abastecimento.

210
Para o registro do cultivares, o pedido deverá conter:

a) o requerimento;
b) a espécie botânica;
c) o nome da cultivar;
d) a origem genética;
e) relatório descritivo mediante preenchimento de todos os descritores exigidos;
f) declaração garantindo a existência de amostra viva à disposição do órgão
competente e sua localização para eventual exame;
g) o nome e o endereço do requerente e dos melhoristas;
h) comprovação das características de DHE, para as cultivares nacionais e
estrangeiras;
i) relatório de outros descritores indicativos de sua distinguibilidade,
homogeneidade e estabilidade, ou a comprovação da efetivação, pelo requerente,
de ensaios com a cultivar junto a controles específicos ou designados pelo órgão
competente;
j) prova do pagamento da taxa de pedido de proteção;
k) declaração quanto à existência de comercialização da cultivar no País ou no
exterior;
l) declaração quanto à existência, em outro país, de proteção, ou de pedido
de proteção, ou de qualquer requerimento de direito de prioridade, referente a
cultivar cuja proteção esteja sendo requerida;
m) extrato capaz de identificar o objeto do pedido (BRASIL, 1997).

O acesso ao sistema onde é feito o registro pode ser feito por meio do link: https://sis-
temas.agricultura.gov.br/snpc/cultivarweb/index.php.

211
LEITURA
COMPLEMENTAR
O QUE É SOFTWARE LIVRE E QUAIS AS VANTAGENS EM USÁ-LO NA
SUA EMPRESA

Softwares são programas de computador que permitem aos usuários redigir


textos, fazer tabelas, editar conteúdo, ver imagens e executar outras infinitas atividades
no computador. Sem a instalação dos softwares, não podemos executar essas
atividades. Para tê-los, até pouco tempo, o usuário tinha que pagar por quase todos
esses programas essenciais.

Na maioria das vezes o computador já vem com os programas básicos instalados,


mas o cliente paga o valor do software, nada módico, embutido no preço do computador.
No entanto, uma geração de programas surgiu para acabar com isto: os softwares livres.

Software livre, segundo a definição criada pela Free Software Foundation, é


qualquer programa de computador que pode ser usado, copiado, estudado, modificado
e redistribuído com algumas restrições.

Diferentemente do software proprietário, que é vendido almejando lucro,


software livre é produzido de forma colaborativa por milhares de programadores em
todo o mundo, produzindo um único software de acesso gratuito.

Com a evolução dos softwares livres já existem programas similares e tão bons
quanto aqueles tradicionais e conhecidos pela maioria das pessoas. São programas de
redação de textos, tabelas, banco de dados e muito mais. Basta entrar no site e baixar
em seu computador.

Vantagens

Vantagens para micro e pequenas empresas.

O uso de software livre possui uma grande vantagem em relação ao software


proprietário, especialmente para as empresas, pelo não pagamento de licenças. Licenças
de softwares podem representar um imenso custo a cada ano para a utilização de tais
programas.

212
O preço de algumas licenças chega a custar 70% do valor do software. Ou seja,
imagine um software (o programa em si) que custe R$ 1.000,00, a sua licença a 70% seria
algo em torno de R$ 700,00. Além disso, quando se compra um software proprietário só
se tem “o direito” de usar em um único computador.

A instalação em outro computador é ilegal, o que é considerado Pirataria de


Software. Logo a economia em uma empresa que decide pela utilização de software
livre é muito alta.

Software livre

Pré-requisitos de um software livre.

Um software é considerado livre se atender a quatro pré-requisitos:

1. A liberdade para executar o programa qualquer que for o propósito;


2. A liberdade de estudar como o programa funciona e adaptá-lo para as suas
necessidades, sendo liberado o acesso ao código-fonte;
3. A liberdade de redistribuir cópias de modo que você possa ajudar outros
usuários;
4. A liberdade de aperfeiçoar o programa, e liberar os seus aperfeiçoamentos,
de modo que toda a comunidade se beneficie, sendo o acesso ao código-fonte
um pré-requisito para esta liberdade.

Para que essas liberdades sejam reais, elas devem ser irrevogáveis. Caso o
desenvolvedor do software tenha o poder de revogar a licença, o software não é livre.

Tais liberdades não fazem referência aos custos envolvidos. É possível que
um Software Livre não seja gratuito. Quando gratuito, empresas podem explorá-lo
comercialmente com o serviço envolvido – principalmente suporte.

A maioria dos Softwares Livres é licenciada por uma licença de Software Livre,
como a GNU GPL (a mais conhecida).

Liberdades

Liberdade de executar. A liberdade de executar o programa significa a liberdade


para qualquer pessoa física ou jurídica utilizar o software, sem que seja necessário
atender a alguma restrição imposta pelo fornecedor:

1. Em qualquer tipo de sistema computacional;


2. Para qualquer tipo de trabalho ou atividade.

213
Liberdade de redistribuir. A liberdade de redistribuir deve incluir a possibilidade
de repassar os códigos-fonte bem como, quando possível, os arquivos binários gerados
da compilação desses códigos, seja em sua versão original ou modificada. Não é
necessária a autorização do autor ou do distribuidor do software para que este possa
ser redistribuído, já que as licenças de software livre assim o permitem.

Liberdade de estudar ou modificar. Para que seja possível estudar ou modificar


o software (para uso particular ou para distribuir) é necessário ter acesso ao código-
fonte. Por isso, a disponibilidade desses arquivos é pré-requisito para a liberdade do
software. Cada licença determina como será feito o fornecimento do código-fonte para
distribuições típicas, como é o caso de distribuições em mídia portátil somente com os
códigos binários já finalizados (ou seja, sem o código-fonte). No caso da licença GPL, o
código-fonte deve ser disponibilizado em local de onde possa ser acessado ou deve ser
entregue ao usuário, se solicitado, sem custos adicionais (exceto transporte e mídia).

Assim, para cada tipo de negócio existe uma demanda de programas de gestão.
Procure a mais indicada para as necessidades da sua empresa e garanta economia para
o seu empreendimento, dentro da legalidade.

Fonte: SEBRAE. O que é software livre e quais as vantagens em usá-lo na sua empresa. 2013. Disponível em:
https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/o-que-e-software-livre-e-quais-as-vantagens-em-u-
sa-lo-na-sua-empresa,2928d53342603410VgnVCM100000b272010aRCRD. Acesso em: 5 mar. 2023.

214
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:

• Os direitos autorais, que são de registro facultativo.

• O que é e como é feito o depósito legal compulsório na Biblioteca Nacional.

• Como fazer o registro de propriedade intelectual.

• O que são o INPI e a Biblioteca Nacional.

215
AUTOATIVIDADE
1. A publicidade jurídica é instrumento da Modernidade, cuja transparência é
característica. O registro é a forma de publicidade de fatos jurídicos como a
constituição de empresas, o nascimento de pessoas, e também instrumento para o
nascimento de direitos intelectuais. Sobre o registro nos direitos intelectuais, assinale
a alternativa CORRETA:

a) ( ) Os direitos autorais nascem com registro na Biblioteca Nacional.


b) ( ) Os direitos autorais nascem com o registro no Instituto Nacional de Proteção
Industrial – INPI.
c) ( ) Não é necessário o registro de direitos autorais para que eles possam existir.
d) ( ) É obrigatório o registro de um exemplar das publicações na Biblioteca Nacional,
embora o registro de direitos autorais seja facultativo.

2. O intuito do depósito legal é “assegurar o registro e a guarda da produção intelectual


nacional, além de possibilitar o controle, a elaboração e a divulgação da bibliografia
brasileira corrente, bem como a defesa e a preservação da língua e cultura nacionais”
(BRASIL, 2014). Sobre o depósito obrigatório, analise as sentenças a seguir:

I- Determina que sejam depositados ao menos 10 exemplares de publicações


brasileiras na Biblioteca Nacional.
II- Determina o depósito obrigatório de publicações e de obras musicais na Biblioteca
Nacional.
III- A falta do depósito obrigatório pode gerar multa de até 100 vezes o valor de
mercado da obra.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.


b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3. Embora o registro de obras para a proteção de direitos autorais seja facultativo,


algumas obras podem ser registradas em instituições de registro, somente como
forma de segurança para os autores. De acordo com o estudado, classifique V para
as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

216
( ) O autor pode decidir fazer o registro da música no ECAD – Escritório Central de
Arrecadação e Distribuição.
( ) Com o fim do Instituto Nacional do Cinema, o registro de obras audiovisuais deve ser
feito da Ancine – Agência Nacional de Cinema.
( ) O registro de obras relacionadas à arquitetura e urbanismo é realizado no Confea –
Conselho Federal de Engenharia e Agronomia.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4. O INPI é a autarquia federal responsável pelo registro de direitos da propriedade


intelectual. O processo de registro, após o requerimento, passa por diversas etapas
até a concessão da certidão de propriedade intelectual. Explique quais são essas
etapas que ocorrem após o depósito do pedido de patente.

5. Os programas de computadores têm seu registro de maneira facultativa. No entanto,


o autor pode requerer o registro. Onde deve ser feito esse registro? Quais são os
documentos e informações necessárias para o depósito do pedido?

217
REFERÊNCIAS
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no Brasil. 2020. Disponível em: https://noticias.portaldaindustria.com.br/especiais/
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BRASIL. Decreto-Lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível


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BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF:


Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/cci-
vil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. Acesso em: 18 abr. 2023.

BRASIL. Lei n° 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do


consumidor e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/cci-
vil_03/leis/L8078.htm. Acesso em: 18 abr. 2023.

BRASIL. Lei n° 9.279, de 14 de maio de 1996. Regula direitos e obrigações relativos à


propriedade industrial. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9279.
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BRASIL. Lei n° 9.456, de 25 de abril de 1997. Institui a Lei de Proteção de Cultivares


e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
L9456.htm. Acesso em: 18 abr. 2023.

BRASIL. Lei n° 9.609, de 19 de fevereiro de 1998a. Dispõe sobre a proteção da


propriedade intelectual de programa de computador, sua comercialização no País, e dá
outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9609.
htm. Acesso em: 18 abr. 2023.

BRASIL. Lei n° 9.610, de 19 de fevereiro de 1998b. Altera, atualiza e consolida a


legislação sobre direitos autorais e dá outras providências. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9610.htm. Acesso em: 18 abr. 2023.
218
BRASIL. Decreto n° 2.556, de 20 de abril de 1998c. Regulamenta o registro previsto
no art. 3º da Lei nº 9.609, de 19 de fevereiro de 1998, que dispõe sobre a proteção da
propriedade intelectual de programa de computador, sua comercialização no País, e
dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/
D2556.htm. Acesso em: 18 abr. 2023.

BRASIL. Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível


em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm. Acesso em: 18 abr.
2023.

BRASIL. Lei n° 10.994, de 14 de julho de 2004. Dispõe sobre o depósito legal de


publicações, na Biblioteca Nacional, e dá outras providências. Disponível em: https://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/lei/l10994.htm. Acesso em: 18
abr. 2023.

BRASIL. Lei n° 11.484, de 31 de maio de 2007. Dispõe sobre os incentivos às indús-


trias de equipamentos para TV Digital e de componentes eletrônicos semicondutores
e sobre a proteção à propriedade intelectual das topografias de circuitos integrados,
instituindo o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de
Semicondutores – PADIS e o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da
Indústria de Equipamentos para a TV Digital – PATVD; altera a Lei no 8.666, de 21 de
junho de 1993; e revoga o art. 26 da Lei no 11.196, de 21 de novembro de 2005. Dispo-
nível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11484.htm
Acesso em: 18 abr. 2023.

CAU. Resolução n° 67. Dispõe sobre os Direitos Autorais na Arquitetura e Urbanismo,


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