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Imobiliário e
Autoral
Indaial – 2023
1a Edição
Elaboração:
Prof. João Paulo Jamnik Anderson
220p.
ISBN 978-65-5646-575-3
ISBN Digital 978-65-5646-576-0
“Graduação - EaD”.
1. Despacho 2. Imobiliario 3. Autoral
CDD 333
Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679
Impresso por:
APRESENTAÇÃO
Olá, acadêmico! Bem-vindo ao livro da disciplina Despacho Imobiliário e Autoral.
O objetivo deste livro é auxiliá-lo no desenvolvimento da aprendizagem durante todo
o percurso de conhecimento e de aprendizagem da disciplina. Esperamos que, mais
do que um livro didático, seja um roteiro agradável de viagem. Principalmente, que o
incentive a se aprofundar nos assuntos aqui abordados, sempre buscando sua própria
rota de conhecimento. Nosso desejo é ajudá-lo a caminhar pelos diversos assuntos
que se relacionam com a disciplina, até que você possa, sozinho, encontrar outros
conhecimentos e informações complementares ao que aqui está escrito e discutido.
Feita essa primeira distinção, será a hora de estudar os tipos de relações que
essas pessoas – jurídicas e físicas – fazem em sociedade, quando trocam direitos.
Melhor dizendo, as pessoas estão sempre trocando coisas (res), transferindo entre si
informações, se comunicando, alienando e trocando direitos.
Com os direitos reais, ou seja, o direito das pessoas sobre as coisas, não
é diferente. Essas formas de transferências na maioria das vezes precisam ser
documentadas, certificadas e registradas para que sejam protegidas, para que tenham
eficácia jurídica. Sem o registro das transferências de direitos, sejam os direitos reais ou
não, não seria possível a existência do Direito como reconhecemos. Daí a importância
do Estado para a proteção dos direitos reais. Assim, o tema da segunda unidade é
justamente essa troca de direitos e, mais especificamente, a troca dos direitos reais.
Outro tema que será estudado na segunda unidade são as garantias que
circundam as transferências de direitos sobre as coisas. Além da alienação fiduciária,
serão abordadas outras formas de garantias e seus registros.
Bons estudos!
QR CODE
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e
dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes
completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você
acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar
essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só
aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.
ENADE
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira,
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma
disciplina e com ela um novo conhecimento.
TÓPICO 2 - CERTIDÕES....................................................................................................... 23
1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 23
2 PUBLICIDADE JURÍDICA.................................................................................................. 24
2.1 ELEMENTOS DA PUBLICIDADE JURÍDICA.....................................................................................24
2.1.1 Fato jurídico: o que se quer comunicar..................................................................................24
2.1.2 Emissário e destinatário da publicidade jurídica: Estado e administrados..................25
2.1.3 A mídia na qual ocorre a publicidade jurídica......................................................................26
2.2 COGNOSCIBILIDADE...........................................................................................................................26
2.3 MODALIDADES DE PUBLICIDADE JURÍDICA: NOTIFICAÇÃO, PUBLICAÇÃO E REGISTRO.27
2.4 PRESSUPOSTOS DA PUBLICIDADE JURÍDICA: VERACIDADE E PUBLICIDADE FORMAL.28
2.5 MEIOS DE COMUNICAÇÃO JURÍDICA.............................................................................................29
3 REGISTROS OFICIAIS E CERTIDÕES: CONCEITOS.......................................................... 31
3.1 REGISTROS PÚBLICOS.........................................................................................................................31
3.2 OFICIAL E TABELIÃO...........................................................................................................................32
3.2.1 Competência dos notários ou tabeliães...............................................................................33
3.2.2 Competência dos oficiais de registro....................................................................................33
3.3 CERTIDÃO..............................................................................................................................................34
3.3.1 Formalidade da certidão...........................................................................................................35
3.3.2 Tipos de certidão.......................................................................................................................36
3.3.3 Sistema Eletrônico de Registros Públicos – SERP............................................................ 37
3.3.4 Prazos para a emissão de uma certidão .............................................................................39
RESUMO DO TÓPICO 2.......................................................................................................... 41
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................. 42
REFERÊNCIAS.......................................................................................................................75
REFERÊNCIAS.....................................................................................................................153
REFERÊNCIAS.....................................................................................................................218
UNIDADE 1
ESTADO MODERNO E
TRANSPARÊNCIA: PARA
QUE SERVEM AS CERTIDÕES
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• diferenciar pessoas físicas e pessoas jurídicas, assim como saber como registrar o
nascimento de uma pessoa jurídica e de uma pessoa física.
PLANO DE ESTUDOS
A cada tema de aprendizagem desta unidade, você encontrará autoatividades com o
objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!
Acesse o
QR Code abaixo:
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UNIDADE 1 TÓPICO 1 -
DA PRÉ-MODERNIDADE AO ESTADO
BRASILEIRO MODERNO
1 INTRODUÇÃO
Entendemos que estudar sobre registros e certidões passa por entender a sociedade
que estamos inseridos.
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2 NASCIMENTO DO ESTADO MODERNO
Existem diversas teorias sobre a criação do Estado Moderno. Recorrer à história pode ser
uma boa estratégia para definir a partir de que momento passamos a pensar o Estado
Moderno como forma de organização social. Entretanto, a História é uma ciência, ou
seja, ela não possui toda a verdade possível sobre os fatos como ocorreram no passado,
muito menos tem a intenção de balizar o presente a partir de suas descobertas. Além
disso, como qualquer cientista, o historiador também está sujeito a levar os seus vieses,
as suas ideias, para dentro da análise que está realizando, embora deva sempre tomar
cuidado para que isso não aconteça.
Assim como qualquer uma das outras ciências, a História (pelo menos aquela
história que se pretende como ciência, e não a história com a clara intenção de mentir)
busca elementos que tragam a noção o mais perto possível da verdade sobre o que
ocorreu no passado. Estes elementos podem ser documentos – como escrituras, leis e
artes – e até mesmo declarações em áudio e vídeo.
Mesmo assim, com toda essa imprecisão sobre toda a verdade do nascimento
do Estado Moderno, repleta de várias histórias paralelas que levaram ao seu surgimento,
junto com a ascensão do capitalismo, cremos que entender o contexto de nascimento
do Estado Moderno é imprescindível para entendermos os registros públicos, os
documentos e a transparência nas transações imobiliárias e autorais.
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aos movimentos de estudo da história e da sociologia, que buscam outras maneiras de
entender o surgimento da sociedade atual.
DICA
Um livro, que foi adaptado para o cinema, que retrata bem o momento de
discussão entre a verdade da Igreja e a verdade da ciência é O Nome da Rosa,
escrito por Umberto Eco. Ele se passa durante a Idade Média. Dois personagens
são chamados para atuar em um convento a fim de desvendarem misteriosas
mortes que têm ocorrido no local. O filme, de ficção, é uma narrativa de como
a Igreja escondia qualquer espécie de explicação sobre os fatos da natureza
que não fossem àqueles ligados à doutrina religiosa.
Assim, é possível dizer que o conceito de Moderno surge como um passo evolutivo
na racionalidade humana – isso tanto dentro da Europa, onde a ciência deve organizar o
pensamento, afastando-se da mitologia, como a forma de pensar do europeu é usada
como maneira de colonizar o ser não-europeu, chamado de primitivo, de selvagem, de
não civilizado. O Estado Moderno nasce neste contexto de iluminação e racionalização.
A Idade Média recebe muitas vezes a alcunha de Idade das Trevas. Este apelido se
dá, principalmente, a partir da ideia de que se trata de um período em que a Igreja Católica
tinha muito mais poder de decisão sobre a sociedade e sobre o Estado. Assim, a transição
de uma forma de organização social e de economia (feudalismo) para outra forma de
organização (Estado Moderno) e de economia (capitalismo) seria o sinônimo, para essa
interpretação da história, de uma evolução na forma de organização e de racionalização.
Não é à toa que se diz que neste período de transição ocorre um movimento
que foi chamado de Iluminismo, ou seja, o contrário da escuridão. Se este movimento
teve vertentes dentro das artes e da ciência, transbordou também para a forma de
organização dos Estados que surgiriam neste contexto histórico.
Por isso, podemos dizer, com base em Wolkmer (2015), que existem quatro ciclos
do Direito e do Estado Moderno. O primeiro é o da formação. Ela ocorre com a ascensão
do Absolutismo e do monismo jurídico. Isto é, com o surgimento dos primeiros Estados,
mesmo que Absolutistas, governados por nobres, reis e rainhas. Outra característica dessa
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fase é a unificação das diversas leis esparsas – como as leis que regiam as comunidades
menores e os feudos – em Leis de abrangência mais regional. Assim, o Estado Moderno
adquire, nesta fase, a ideia de uma Lei unificada que regeria as relações das diversas
comunidades que estariam sobre o poder de um reinado ou mesmo das primeiras nações.
NOTA
Repúblicas – do latim coisa pública – são o contrário da Monarquia e da
Oligarquia. Nos últimos, o governo é exercido por uma pessoa (Monarquia) ou
por um grupo de pessoas (Oligarquia), teoricamente em interesse próprio, e
não em interesse público. República é uma Forma de Governo. O Brasil, além de
uma República, é uma Federação, que é uma Forma de Estado. Uma federação
conta com Unidades Federadas e, portanto, não é um Estado Unitário. Veja o
Quadro 1, no final desse tema de aprendizagem, para não se confundir!
DICA
O livro que melhor caracteriza essa fase de construção do Direito Moderno é Teoria
Pura do Direito, de Hans Kelsen. Trata-se de um dos expoentes da Escola Austríaca
de Direito. A teoria pura visa à purificação do direito, no sentido de afastá-lo de
outras ciências e discussões, como a moral, a honra, a sociologia e a economia.
Isto é, a partir da Teoria Pura do Direito, ele deve ser aplicado e estudado como
uma ciência pura, afastada das demais ciências, disciplinas e práticas.
ESTUDOS FUTUROS
Quando falarmos sobre as pessoas de direito e os indivíduos da sociedade (item
2.4 do segundo tema de aprendizagem), retomaremos o estudo sobre essa
purificação do Direito. Mais do que um afastamento do Direito das demais ciências,
outro desbravamento desta análise – separar a parte do todo complexo, como o
elétron do átomo ou o animal do rebanho – é a construção de um Direito Moderno
individualizado, afastado dos demais seres vivos e mesmo dos demais humanos.
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O último ciclo seria o da crise, que o autor aponta ser o momento atual, quando
o Direito Moderno deixa de atender às necessidades de uma sociedade complexa e
global. Para ele, a crise aparece a partir do momento que as Leis dos Estados Modernos
não mais conseguem dar conta de organizar uma sociedade cada vez mais complexa e
global. As situações as quais as pessoas estão envolvidas demandam uma velocidade
de atuação coletiva que nem mesmo o Estado, com sua estrutura burocrática e grande,
consegue solucionar no tempo necessário.
IMPORTANTE
O perfil do acadêmico em Tecnologia em Despachante Documentalista passa longe de
ser o mero carimbador ou buscador de papéis, documentos e certidões. Deve atender
às demandas inovadoras, com senso de colaboração, pensamento lógico, analítico e
principalmente criativo. Assim, entender que o Direito e o Estado Moderno encontram-se
em crise é estar atento para as oportunidades que esta crise apresenta. Como você,
a partir do conhecimento que adquire no nosso curso e também com o que
adquire com materiais complementares, como livros, filmes, sites da internet
e podcasts, pode criar produtos e serviços que inovem e melhorem a vida das
pessoas? É bastante relevante o Despacho Imobiliário e Autoral refletir sobre
essa crise dentro do contexto que envolve nossa área de estudo, principalmente
dentro do nosso curso, que visa à formação de um profissional dinâmico e
criativo. Não queremos aqui trazer respostas, mas apenas apontar pontos de
reflexão que você, acadêmico, pode se debruçar enquanto aprende outras
questões menos teóricas e mais práticas. Sugerimos que você faça isso com
professores, colegas e outras pessoas que fazem parte de seus ambientes de
trabalho, amizade e acadêmico!
No entanto, o que quisemos apontar até aqui é que o Estado Moderno não está
afastado da ideia de racionalidade e da iluminação que está circunscrita na Modernidade
como um todo, isto é, como afastamento dos mitos e da irracionalidade. O Iluminismo
pode ser encarado de maneira mais abrangente, como forma de iluminação das relações
em sociedade, trazendo para o Direito e para o Estado a ideia de transparência.
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a ser buscada para o conhecimento dos fenômenos da natureza, é também a razão que
passa a organizar os Estados. Assim, o Estado Moderno aparece como contraste do
sigilo. Por isso, o segredo passa a ser a exceção.
NOTA
Paradigma pode ser entendido como uma forma de visão de mundo, uma ideia que
é anterior a todas as demais ideias, disciplinas e ciências. Um paradigma dá base
para as demais ideias. Podemos dizer que vivemos sobre o Paradigma Moderno.
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NOTA
Princípios são normas que antecedem as demais normas. Nenhuma regra ou lei que
regem a Administração Pública podem estar em desacordo com esses princípios.
NOTA
Administração Pública direta são a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal.
Os órgãos (Ministérios, Secretarias, por exemplo) desses entes públicos também
fazem parte da Administração Pública direta. Eles não possuem autonomia, são
braços dos entes. Já a Administração Pública indireta é aquela que, mesmo ligada com
a Administração Pública, possui autonomia gerencial. Fazem parte da Administração
Pública Indireta as autarquias, as fundações públicas, as empresas de economia mista
ou empresas públicas e as Agências reguladoras – como Anatel ou Anac.
Não é à toa que aquele que presta serviço público é conhecido como servidor.
Quando está imbuído de seu trabalho público, é como se ele vestisse um manto de
Administração Pública. Suas ações devem ser entendidas como ações do Estado. As
pessoas que atuam como servidoras públicas são apenas os braços para a ação do Estado.
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Sobre a Moralidade não há muito o que se falar, apenas que o Estado, por seus
servidores, não apenas deve atender à Legalidade, mas deve se eximir de cometer atos
que atentem à moralidade, e principalmente à probidade. Contudo, essa moralidade
não deve ser confundida com a moral religiosa ou pública. Não se espera que o servidor
público seja um bom pai, tenha uma família constituída e vá a Igreja, por exemplo. O
que se espera é que ele, mais do que atender às Leis, tenha uma postura correta no
exercício e suas atribuições.
É por isso que, em regra, todos os atos praticados pela Administração Pública
devem ser publicizados, ou seja, deve ser atos públicos, de acesso por toda a população.
É a partir do princípio da Publicidade que decorre o princípio da Transparência, que
aparece explícito em outras Leis abaixo da Constituição.
IMPORTANTE
A distinção parece boba, mas é necessária: não se deve confundir o princípio da publicidade
com a publicidade relacionada com a comunicação de um produto ou serviço para
a marketing. Publicidade, para a Administração Pública, é tornar algo público. A
gestão da coisa pública deve ser comunicada. Não deve haver qualquer segredo
quanto a esta gestão – ela sempre deve ser publicada. Da mesma forma, os
fatos jurídicos – coisas que acontecem e geram alguma consequência jurídica –
também deve ser publicizados. Já a publicidade de um produto ou serviço tem
o intuito de vender aquele produto ou serviço. A Administração Pública pode
e deve realizar publicidade de seus atos, mas nunca com o intuito de gerar
benefícios para o gestor público. Deve ser uma comunicação sobre atos, uma
informação sobre algum serviço. Fazer uma publicidade pública para gerar
benefícios eleitorais para o gestor, por exemplo, é um crime eleitoral e um ato
de Improbidade Administrativa.
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Faltou ainda falarmos sobre o princípio da Eficiência. Está relacionado com o
melhor uso do erário – o dinheiro público – para o cumprimento das funções públicas.
Sua ideia principal é o enxugamento do Estado, cortando gastos considerados
desnecessários, criando parâmetros de eficiência e qualidade. Sua adesão à Constituição
Federal, por emenda parlamentar, se deu durante o governo de Fernando Henrique
Cardoso, e está relacionada com os programas de Reforma do Aparelho do Estado.
4 BUROCRACIA E FORMALIDADE
Neste momento, esperamos trazê-lo para mais perto da necessidade das
certidões e dos registros, a partir da reflexão sobre o nascimento de uma forma de
organização do poder público iniciada com a formação, sistematização e consolidação
do Estado Moderno.
Queremos deixar claro que este paradigma de Estado, Moderno, surge pela
necessidade de afastar o segredo, de democratizar o acesso ao poder e ao conhecimento
como um todo. Para essa democratização do acesso, retirando o poder e o conhecimento
apenas da nobreza, da Igreja e mesmo da burguesia, outra característica se torna
inerente ao Estado Moderno: o organograma e a burocracia.
O principal autor que fala sobre isso é Max Weber. Em diversas de suas obras,
ele aponta que, junto com o afastamento da Monarquia e da Oligarquia, a construção do
Estado Moderno como uma república deve passar pela organização do aparato estatal
de controle.
A igualdade entre pessoas e o fim do Estado como dominação vira a regra. Por
isso que, como afirmam Abrucio e Loureiro (2018, p. 25), a partir da modernidade “o Estado
adota o modelo burocrático e passa a ser pautado por regras universais e impessoais
previamente estabelecidas, o que gera um modelo que dá suporte à dominação de tipo
racional-legal e ao respectivo monopólio legítimo do uso da força”.
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O termo burocracia, no entanto, passou a ser sinônimo de morosidade nos
tempos atuais. Muitas vezes ela aparece com o oposto da Eficiência – que inclusive é
um dos princípios constitucionais da Administração Pública, conforme já estudamos.
É claro que a burocracia muitas vezes aparece como entrave para que as pessoas
consigam realizar os seus direitos. Às vezes aparece até mesmo como uma maneira de
conseguir alguma vantagem ilícita – quem nunca ouviu que “se cria dificuldades para
se vender facilidades”.
NOTA
Ato Administrativo é a forma como a Administração Pública atua. Cada movimentação
da Administração Pública, a partir de seus servidores, é classificada como um
Ato Administrativo. Assim, existem atos que declaram direitos (uma certidão, por
exemplo), que aplicam sanções (um Auto de Infração) e que regulamentam uma Lei
(Decretos, por exemplo).
Existem diversas maneiras do Estado atuar. A que primeiro vem a nossa cabeça
pode ser a atuação de maneira escrita. Contudo, muitas vezes, um Ato Administrativo
pode ser visual (placas de trânsito, por exemplo) ou mesmo sonoro (um agente de
trânsito controlando o tráfego de veículos).
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maior número de pessoas, não podemos relevar que o uso da linguagem formal e clara
seja importante dentro Administração Pública.
INTERESSANTE
Existe um movimento chamado de Legal Design, que se importa em melhorar o
acesso das pessoas aos documentos, decisões judiciais e certidões, a partir da
utilização de elementos visuais e do uso de linguagem simples. Vale a pena pesquisar!
5 TRANSPARÊNCIA E PRIVACIDADE
Byung-Chul Han aponta que vivemos, atualmente, a partir da Sociedade da Informação,
o que ele denomina de Segundo Iluminismo, que culmina na Sociedade da Transparência
(HAN, 2017). Para ele, se no primeiro Iluminismo a ideia era de afastar do “reino das trevas”,
hoje vivemos em uma sociedade em que tudo deve ser visto e que somos estimulados, a todo
tempo, a apresentar até mesmo nossa privacidade e dados pessoais na Internet.
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Estado Moderno. Trouxemos também elementos legais para demonstrar como tais
características são aceitas pelo Estado e aparecem no Brasil. Agora, chegou a hora de
debatermos sobre o seu contrário, ou seja, sobre a privacidade e o segredo dentro do
Estado Moderno.
Além disso, o segredo muitas vezes é o coração dos negócios. Muitas empresas,
principalmente as indústrias, investem em busca de novos produtos para conquistar
novos consumidores ou atingir as necessidades da sociedade. Se o segredo industrial
e empresarial não pudesse existir, muitos negócios seriam inviabilizados, e a ciência
evoluiria muito mais devagar – pelo menos é essa a ideia mais levantada quando se
debate a proteção dos direitos intelectuais. Debateremos esse assunto com mais
profundidade na terceira unidade deste livro.
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públicos da administração direta ligados aos Poderes Legislativo, Judiciário e Executivo;
b) aos Tribunais de Contas; c) ao Ministério Público; d) às entidades da administração
indireta ligadas à União, Estados, Municípios e Distrito Federal; e e) também às entidades
privadas que receberam algum valor para desempenharem ações de interesse público
– apenas quanto aos valores em que receberam desta forma. Isto é, a Lei de Acesso à
Informação é uma Lei que não se aplica às empresas privadas e às pessoas físicas.
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São quatro os graus de decretação de sigilo: a) sigilo de informações pessoais,
que envolvam a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem – acesso restrito,
independente de classificação de sigilo, por no máximo 100 anos (Art. 31, § 1º, I da
LAI); b) informação ultrassecreta – 25 anos de sigilo; c) secreta – 15 anos de sigilo; e d)
reservada – 5 anos de sigilo (Art. 24, §1º da LAI). A competência para decretar os três
últimos tipos de sigilo está disposta no Art. 27 da LAI.
Não há como negar que a Sociedade da Informação fez surgir com mais força
o debate sobre a proteção dos dados pessoais. Isto porque a topologia das redes, em
acesso aberto para todos que conseguem ter a tecnologia suficiente para adentrar à
internet, facilita a coleta de dados pessoais de uma maneira que outras formas de mídia
de massa não conseguiam realizar.
O rádio, a televisão e o jornal, por exemplo, eram mídias de trânsito único entre
o emissor da mensagem e o destinatário (leitor, ouvinte ou telespectador). A Internet,
principalmente a partir do momento em que atinge o status do que se chamou de web
2.0, dá aos antigos emissores de informações (que podem sem empresas, mídias ou
pessoas) a possibilidade de acesso a dados privados dos destinatários. Diferente da via
de seta única entre emissor de uma mensagem e o receptor, ocorre uma corrente de
emissão de dados e informações das duas partes de uma comunicação.
NOTA
N web 1.0, embora o acesso das pessoas também seja aberto, mais se parece a
transição digital de outras mídias para o computador. Nesta internet aquela que
recebe as mensagens recebe quase que da mesma forma que os antigos leitores
e telespectadores. Não há o caminho de retorno entre o emissor e o destinatário
das mensagens. Já na web 2.0 as figuras emissor e destinatário se confundem. Não
há um caminho em seta, mas em seta dupla. É constante a interação entre pessoas
e não se pode praticamente definir alguém como apenas passivo na comunicação,
recebendo as mensagens. A atividade e a interação são constantes. A web 3.0
vem se consolidando e recebe o nome de Internet das Coisas. Nela, não apenas
pessoas trocam dados e informações, mas também as coisas, como os semáforos,
as geladeiras, os relógios, recebem, transformam e emitem informações.
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Melhor dizendo, a figura do destinatário e do emissor de uma mensagem não
está mais tão clara diante das redes e da Internet. Hoje, a interatividade é a regra.
Aqueles que emitem dados e informações também recebem informações. As pessoas
não mais apenas absorvem o que grandes veículos de comunicação emitem, mas estão
em constante interatividade, fornecendo e compartilhando tanto opinião como outros
dados pessoais, opiniões, e até mesmo intimidades.
Por isso, é preciso lembrar que a mesma Constituição Moderna brasileira que
afirma que o sigilo é a exceção no caso do Estado, coloca entre os direitos fundamentais
constitucionais o direito à privacidade e à intimidade.
Assim, podemos entender a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) como a principal
norma jurídica que busca regular de que forma as empresas e o Estado – que têm acesso
aos dados pessoais que as pessoas transmitem a partir da internet ou fora dela – podem
tratar esses dados. Esta lei, diferentemente da Lei de Acesso à Informação, se aplica tanto
para o Estado como para pessoas naturais e pessoas jurídicas de direito privado.
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Quadro 1 – Formas de Estado e formas de governo
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RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
• Que a transparência, que é regra para a Administração Pública, salvo poucas exceções
– quando a informação pode causar insegurança à sociedade e ao Estado –, quando
se trata das pessoas de direito privado (empresas e pessoas físicas), a regra é a
privacidade e a intimidade. A Lei de Acesso à Informação e a Lei Geral de Proteção de
Dados são as normas que mais caracterizam esse binômio entre transparência-sigilo.
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AUTOATIVIDADE
1 “O ano de 1492, segundo nossa tese central, é a data do ‘nascimento’ da
Modernidade; embora sua gestação – como o feto – leve um tempo de crescimento
intrauterino. A modernidade originou-se nas cidades europeias medievais, livres,
centros de enorme criatividade. Mas ‘nasceu’ quando a Europa pôde se confrontar
com o seu ‘Outro’ e controlá-lo, vencê-lo, violentá-lo; quando pôde se definir como
um ‘ego’ descobridor, conquistador, colonizador da Alteridade constitutiva da
própria Modernidade”. Sobre o nascimento do Estado Moderno e seus principais
pressupostos, assinale a alternativa CORRETA:
Fonte: https://mel.unir.br/uploads/56565656/
arquivos/1492_O_ENCOBRIMENTO_DO_
OUTRO___1993_2008370791.pdf. Acesso em: 4 abr. 2023.
a) ( ) A única tese correta sobre o nascimento do Estado Moderno é aquela que afirma
que a tecnologia e a ciência nascidas na Europa foram o motor que possibilitou que
todos os povos, não apenas os europeus, saíssem das trevas da Idade Média e do
primitivismo e entrassem na Era do Estado Moderno.
b) ( ) Existem duas teses sobre o nascimento do Estado Moderno. São teses
exclusivamente políticas e econômicas, e não levam em consideração mudanças de
paradigmas tecnológicos ou científicos.
c) ( ) O Estado Moderno surge a partir da ideia de transparência. Em conjunto com uma
mudança de paradigma que afasta a obscuridade e o acesso restrito ao conhecimento
e ao poder, junto com a Modernidade científica, surge o Estado Moderno.
d) ( ) O sigilo é a regra tanto para as pessoas de direito privado (empresas e pessoas
físicas) como quando se refere ao Estado. Isto porque o direito à privacidade e à
intimidade é irrestrito e aspecto fundamental do Estado Moderno.
2 A transparência é a regra dos Estados Modernos e, por isso, não é diferente dentro
do Estado brasileiro. Sobre a transparência e o sigilo, classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:
20
( ) A Lei de Acesso à informação se aplica apenas às entidades públicas e àquelas
entidades sem fins lucrativos que recebem recursos públicos; enquanto a Lei de
Geral de Proteção de Dados regulamenta o tratamento de dados tanto de entidades
públicas como de entidades privadas.
a) ( ) V - F - F.
b) ( ) V - F - V.
c) ( ) F - V - F.
d) ( ) F - V - V.
4 O Art. 90 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) dispõe que “não serão aplicadas
as sanções previstas neste Código por inobservância à sinalização quando esta for
insuficiente ou incorreta”. Diante disso, comente a seguinte frase: “toda certidão
pública deve seguir uma forma específica, que pode ser determinada pelo cartório de
registro ou pelo órgão público competente, ainda que não determinada por lei, sob
pena de ser invalidada”. Ela está correta?
Fonte:https://www.ctbdigital.com.br/artigo/
art90#:~:text=N%C3%A3o%20ser%C3%A3o%20
aplicadas%20as%20san%C3%A7%C3%B5es,falta%2C%20
insufici%C3%AAncia%20ou%20incorreta%20
coloca%C3%A7%C3%A3o. Acesso em: 4 abr. 2023.
21
22
UNIDADE 1 TÓPICO 2 -
CERTIDÕES
1 INTRODUÇÃO
Seja novamente bem-vindo! Em nosso primeiro tema de aprendizagem tivemos
a intenção de transmitir a necessidade da transparência e da publicidade a partir da ideia
de que, no Estado Moderno, a transparência é a regra. Com o advento da Modernidade,
o sigilo passa a ser a exceção. Não deve mais haver obscuridades, e a ciência funciona
como motor da iluminação. Também notamos que esta transparência se relativiza, e que
a privacidade e a intimidade são a regra quando as pessoas físicas e as empresas vêm
antes da transparência.
Novamente, esperamos que nosso livro didático seja apenas um primeiro passo
para o seu conhecimento. Mais do que trazer conceitos sobre certidões e publicidade
jurídica, esperamos que você possa, a partir no nosso material, se aprofundar cada vez
mais nos assuntos que abordamos. Queremos que, ao final da leitura deste tema de
aprendizagem, você esteja apto a reconhecer o que é uma certidão, quem pode emitir,
sua necessidade e seus tipos.
Boa leitura!
23
2 PUBLICIDADE JURÍDICA
Até este momento do nosso livro didático tratamos de oferecer para você
alguns conceitos básicos sobre a necessidade da transparência dentro do Estado
Moderno, que é o tipo de Estado em que estamos inseridos. Contudo, além de
comentarmos sobre a transparência, devemos agora nos atentar ao estudo de como
essa transparência ocorre no mundo do Direito e do Estado. Mais do que toda a teoria
inicial em que alertamos sobre a importância da publicidade como sinônimo de uma
nova fase de acesso ao conhecimento e às informações, partimos agora para o estudo
concreto da transparência, tanto do Estado como das relações entre pessoas privadas.
24
Para prosseguirmos em nosso estudo devemos, então, entender o conceito
de fato jurídico. Conforme argumentam Stolze e Pamplona Filho (2020, p. 225),
“todo acontecimento, natural ou humano, que determine a ocorrência de efeitos
constitutivos, modificativos ou extintivos de direitos e obrigações, na órbita do direito,
denomina-se fato jurídico”. Isto é, um fato jurídico pode ser: a) algo que acontece sem
a participação humana – que recebe o nome de fato jurídico em sentido estrito; b) uma
ação humana, lícita ou ilícita – quando recebe o nome de ato jurídico; como também
quando há uma ação humana, porém sem manifestação de vontade – recebe, neste
caso, o nome de ato-fato jurídico.
25
aprendizagem. Algumas informações são sigilosas, pois são segredo industrial ou
mesmo estão relacionadas com a honra, a intimidade e a privacidade das pessoas. Em
algumas situações, a lei ou mesmo a decisão judicial mitiga quem será o destinatário
de uma publicidade jurídica, ou seja, pode determinar o segredo de uma informação.
IMPORTANTE
Lembre-se de que já falamos sobre os conceitos de web 2.0 e web 3.0. Com o
desenvolvimento das tecnologias da comunicação, notamos que a interatividade
entre emissor e destinatário de uma mensagem faz com que a comunicação entre
eles seja quase que instantânea. Assim, um destinatário da publicidade jurídica não
é mais uma figura passiva. A comunicação, mesmo a jurídica, se torna cada vez mais
imediata.
Vamos deixar para comentar esses elementos mais adiante. Isto porque, antes
de nos atentarmos ao estudo dos meios em que uma comunicação jurídica ocorre
– especialmente as certidões –, precisamos estudar outro aspecto que circunda a
publicidade jurídica.
2.2 COGNOSCIBILIDADE
Já que estamos falando sobre comunicação de uma maneira geral, e
especificamente sobre publicidade jurídica, devemos nos atentar, dentro do que se
chama Sociedade da Informação, sobre quatro conceitos distintos quando se refere à
comunicação: os dados, a informação, o conhecimento e a sabedoria.
26
Já a informação é um conjunto de dados, que dá sentido para aqueles dados.
Por exemplo, uma informação leva em conta a temperatura do dia anterior, mas compara
com a temperatura de hoje e há uma semana ou há 100 anos. O dado do chão molhado
só se torna uma informação quando coletados outros dados, como o chão molhado por
toda a rua ou nuvens escuras.
27
Já a publicação e o registro são formas de publicidade jurídica que são
impessoais e gerais, ou seja, não possuem destinatário certo e determinado, podendo
ser qualquer pessoa que deseja ter acesso àquele dado ou informação.
Qualquer fato jurídico deve ser comunicado. Não há como se fazer aplicar uma
lei sem que ela seja publicada, por exemplo. Da mesma forma, o registro de um fato
jurídico, como a venda de um imóvel, é a forma de comunicar que houve a troca de
propriedade de um bem imóvel. Muitas vezes, o registro é condição para que um fato
jurídico seja concretizado.
ESTUDOS FUTUROS
Propriedade é um dos tipos de direitos reais. Existem diversas outras modalidades
de troca de direitos das pessoas sobre as coisas. Estudaremos os direitos reais na
segunda unidade deste livro didático.
28
Contudo, tal presunção é relativa dentro do Direito brasileiro. Da mesma forma
que é possível apresentar provas de que houve equívoco pelo agente de trânsito quanto
ao cometimento de uma infração de trânsito, é possível que a veracidade de um registro
seja contestada.
A comunicação – não apenas jurídica, mas de uma maneira geral – pode ocorrer
de diversas formas.
Alguns autores ainda podem argumentar que existe comunicação entre animais,
entre seres unicelulares e entre plantas. Não é nosso objetivo aqui nos aprofundar sobre
a capacidade de outros seres, naturais não humanos ou artificiais, se comunicarem,
embora o debate seja bastante interessante.
29
O ser humano, especificamente, costuma se comunicar de diversas formas. As
mais conhecidas são a forma escrita, visual, a fala e a escuta, bem como comunicação
por gestos. Dito desta forma, costumamos nos comunicar por diversos meios: cartas,
e-mails, placas, postagens em redes sociais, por rádio, pela televisão, em uma sala de
aula, através deste livro didático etc. São milhares de exemplos de meios de comunicação.
Por outro lado, alguns fatos jurídicos, principalmente os que dizem respeito às
relações interpessoais, não precisam ser publicizados para todos em meios abrangentes
de comunicação, principalmente quando podem atentar contra a privacidade, a
intimidade e a honra das pessoas. Os processos judiciais, por exemplo, têm como regra a
publicidade. Todavia, é possível que ocorram em segredo de justiça quando expuserem
às pessoas a qualquer um dos direitos anteriormente referidos.
30
3 REGISTROS OFICIAIS E CERTIDÕES: CONCEITOS
Após o breve estudo sobre a publicidade jurídica, seus elementos e pressupostos,
podemos finalmente nos atentarmos com mais afinco sobre o que são as certidões.
A Lei nº 8.935/94, a Lei dos Cartórios, dispõe, em seu Art. 1°, que serviços
notariais e de registro são “os de organização técnica e administrativa destinados a
garantir a publicidade, autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos” (BRASIL,
1994). Já o Art. 1º, §1º, da Lei nº 6.015/73 elenca quais são os Registros Públicos: a) o
registro civil de pessoas naturais; b) o registro civil de pessoas jurídicas; c) o registro de
títulos e documentos; e d) o registro de imóveis (BRASIL, 1973).
31
IMPORTANTE
Durante toda a nossa disciplina, recorrer aos tipos de Registros Públicos será
importante!
ESTUDOS FUTUROS
Quando estudarmos os registros das pessoas jurídicas, relembrar que existe outro
tipo de registro público que não se encontra no rol do Art. 1º, §1º, da Lei nº 6.015/73,
será importante. Isso porque as empresas mercantis são registradas em um registro
público específico, que tem como um de seus órgãos as Juntas Comerciais. Isso
explicaremos lá no terceiro tema de aprendizagem!
32
A Lei nº 8.935/94, Art. 5º, classifica como titulares dos serviços notariais e de
registro: a) o tabelião de notas; b) o tabelião e oficial de registro de contratos marítimos;
c) o tabelião de protesto de títulos; d) o oficial de registro de imóveis; e) o oficial de
registro de títulos e documentos civis das pessoas jurídicas; f) o oficial de registros civis
das pessoas naturais e de interdições e tutelas; e g) o oficial de registro de distribuição.
Assim, podemos entender que titular é um gênero que contêm duas espécies
de titulares: a) os notários, ou tabeliães; e b) os oficiais de registro, ou registradores. A lei
dá competências distintas para cada um desses tipos de titulares de serviços notariais
e de registro.
Quanto aos oficiais de registro, o Art. 12 da Lei nº 8.935/94 dispõe que os oficiais
de registro de imóveis, os oficiais de títulos e documentos civis das pessoas jurídicas,
e os oficiais de registro civis das pessoas naturais e de interdições e tutelas seguem
as competências que lhes são atribuídas pela Lei nº 6.015/73. Tal lei, por sua vez, trata
de regulamentar as formas de escrituração e registro das pessoas físicas e jurídicas.
Quanto aos oficiais de registro de distribuição, a competência é dada pelo Art. 13 da Lei
nº 8.935/94.
33
Agora que já comentamos brevemente sobre as competências e as diferenças
entre as atribuições de cada um dos titulares de registro – tabelião e oficial –, podemos
finalmente pensar o conceito de certidão.
3.3 CERTIDÃO
O Art. 16 da Lei nº 6.015/73 (Lei dos Registros Públicos), na parte em que versa
sobre a publicidade, dispõe que os oficiais e os encarregados dos registros públicos
são obrigados a: 1º) lavrar certidão do que lhes for requerido; e 2º) fornecer às partes as
informações solicitadas. Da mesma forma, essa lei traz que são atribuições dos tabeliães
e oficiais de contratos marítimos, dos tabeliães de protesto de títulos e dos oficiais de
registro de distribuição expedir certidões e traslados sobre o que se encontra em seus
registros e papéis (Art. 10, IV; Art. 11, VII; e Art. 13, III, respectivamente).
Por sua vez, Loureiro (2014, p. 81) afirma que “é precisamente na lavratura
da certidão que o registrador exerce o seu conhecimento no desempenho da função
técnica-jurídica. Além dos dados solicitados, o registrador deve incluir as informações
que julgue importante e que, de alguma forma, influenciam a situação jurídica publicada”.
Por fim, Serra e Serra (2013) afirmam que a certidão é a forma, ou seja, é o modo
como a publicidade jurídica é feita dentro dos Registros Públicos. Defendem, portanto,
que essa publicidade é indireta, pois não é deixada à disposição de todos, mas deve ser
requerida ao titular. Vale lembrar que aquele que requerer a informação ou a certidão
não precisa explicar os motivos e o interesse para tal atitude (BRASIL, 1973).
34
Dessa forma, podemos concluir que a certidão é o documento pelo qual o oficial
de registro ou o notário (tabelião) dá publicidade, a partir de requerimento, de algum fato
jurídico que tenha registrado.
35
Em contrapartida, a Lei nº 6.015/73 trata de apresentar quesitos de conteúdo de
algumas certidões. Isto é, embora não tenha sido determinada a forma que a certidão
lavrada pelo oficial de registro público ou o notário deve ter, há alguns requisitos que
devem constar dessas certidões.
Assim, sempre deve-se estar atento – quando se requer uma certidão ou mesmo
quando se é responsável por exauri-las – se os requisitos de conteúdo expostos nas leis
estão sendo cumpridos. Relembrando, eles não são requisitos legais de forma, mas de
conteúdo do que deve constar em uma certidão.
Dispõe o Art. 19, caput, da Lei nº 6.015/73, que existem três tipos de certidões:
a) as de inteiro teor; b) as em resumo; ou c) as em relatório, de acordo com os quesitos
apresentados por aquele que pediu a certidão.
• “A certidão de inteiro teor será extraída por meio reprográfico ou eletrônico” (BRASIL,
1973).
• Já as certidões em resumo e as em relatório são aquelas que aquele que a expedem
– o titular do registro – deve apresentar o conteúdo do que está registrado, sem
necessariamente fornecer uma cópia reprográfica ou eletrônica do registro.
No primeiro caso, nas certidões de inteiro teor, o papel do tabelião é apenas tirar
uma cópia do registro que está sob sua guarda no Registro que ele é titular. Ele tira uma
cópia do registro.
36
Lembre-se de que aquele que está lavrando o relatório – o oficial ou tabelião, a
depender da competência – está realizando um serviço público de publicidade.
Por isso, deve atender, quando está expedindo o relatório ou certidão, ao que é
pedido por aquele que requer a informação – destinatário da certidão, sempre estando
atento, é claro, se o que é pedido como informação é legal. A lei não desautoriza que
seja informado – ou não fere a intimidade ou a privacidade de alguém.
Conforme o Art. 19, §3º da Lei nº 6.015/73, “nas certidões de registro civil, não
se mencionará a circunstância de ser legítima, ou não, a filiação, salvo a requerimento
do próprio interessado, ou em virtude de determinação judicial” (BRASIL, 1973). Isto é,
a própria lei determina que a informação de filiação – se é filho legítimo ou não, se é
adotado ou de relação extraconjugal – de alguém não pode ser fornecida para qualquer
pessoa que requisitá-la.
37
a partir de dados fornecidos pelos oficiais dos registros públicos,
observado o disposto no inciso VII do caput do art. 7º desta Lei;
X - a consulta:
a) às indisponibilidades de bens decretadas pelo Poder Judiciário ou
por entes públicos;
b) às restrições e aos gravames de origem legal, convencional ou
processual incidentes sobre bens móveis e imóveis registrados ou
averbados nos registros públicos; e
c) aos atos em que a pessoa pesquisada conste como:
1. devedora de título protestado e não pago;
2. garantidora real;
3. cedente convencional de crédito; ou
4. titular de direito sobre bem objeto de constrição processual ou
administrativa; e
XI - outros serviços, nos termos estabelecidos pela Corregedoria
Nacional de Justiça do Conselho Nacional de Justiça (BRASIL, 2022).
A Lei da SERP modifica a Lei dos Registros Públicos (Lei nº 6.015/73). Passa a
vigorar o Art. 19, §5º, Lei nº 6.015/73, que dispõe que:
38
A identificação de autenticidade da documentação, a fim de que se coloque em
prática o pressuposto da veracidade das certidões, deve ser feita por meio de assinatura
eletrônica, em conformidade com a Lei nº 14.063/2020.
IMPORTANTE
Com a entrada em vigor da Lei nº 14.063/2020 muito do que imaginamos como ser
um serviço de registro, de emissão de certidões e de ida aos cartórios se modificou.
Hoje é possível expedir certidões de quase todos os registros civis de maneira on-line.
Alguns sites fazem essa captura de certidões e a própria emissão, como o https://
registradores.onr.org.br, o https://registrocivil.org.br e o https://sistemacentral.com.
br/.
Os sites fazem o papel de condensar diversos registros. Isto é, para que você não
tenha que buscar cada cartório para emitir as certidões, o papel do site é ser um
local que concentra diversos registros civis, facilitando para que você não tenha que
se deslocar para conseguir retirar a certidão – evitando o deslocamento de uma
cidade para outra, inclusive.
As certidões emitidas de maneira on-line também têm fé pública, o que facilita o uso
das certidões sem precisar ir até as instituições.
Dispõe o Art. 19, §10 da Lei nº 6.015/73, com modificação dada pela Lei nº
14.382/2022, que os prazos máximos para a emissão de certidões pelos registros de
imóveis é de:
39
Já quanto as demais certidões, feitas por outros Registros Públicos e seus
oficiais, a lei não tratou de fixar o prazo, estabelecendo que esses prazos e a forma
da certidão serão regulamentados por decisão estabelecida pela Corregedoria Nacional
de Justiça do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) – conforme Art. 19, §8º da Lei nº
6.015/73. No entanto, ainda não há tal regulamento, levando em consideração a data de
publicação deste livro.
Assim, ausente tal regulamentação, o prazo para que o oficial de registro público
– diferente do oficial de registro público de imóvel, que tem o prazo estabelecido pela
lei – é aquele que está disposto no Art. 19, caput, da Lei nº 6.015/73, ou seja, cinco dias.
40
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
• O que são Registros Públicos, Titulares, Oficiais e Tabeliães, sabendo diferenciar cada
um desses personagens e nomes que fazem parte da área de registros públicos,
principalmente quanto as suas competências legais.
• Uma breve noção do que são as certidões, conhecendo suas características, formas
e os prazos para a emissão de uma certidão.
41
AUTOATIVIDADE
1 O que se chama de publicidade jurídica, não diferente do que qualquer forma de
comunicação, conta com quatro elementos: a) quem comunica (o responsável por
registrar e fornecer um dado ou informação sobre um fato jurídico); b) quem recebe
a mensagem (qualquer pessoa que deseje ter acesso àquela informação ou dado);
c) o meio (mídia) em que a mensagem é transmitida (Internet, televisão e cartas, por
exemplo); e d) o fato jurídico a ser comunicado (a mensagem). Sobre esses elementos,
assinale a alternativa CORRETA:
2 Para Lemos (2021), a atual cultura digital produz muitos dados, alguma informação,
pouco conhecimento e raros momentos de sabedoria. Sobre a cognoscibilidade e a
publicidade jurídica, analise as sentenças a seguir:
III- As certidões são a maneira do titular de registro público transmitir suas opiniões,
pareceres e relatórios jurídicos. Isso porque ele não deve mais ser visto como um
mero carimbador de papel, mas um profissional jurídico que aconselha as partes para
buscar as melhores soluções jurídicas para suas demandas.
42
a) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença I está correta.
c) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.
( ) Não havendo lei que determine a Forma de uma Certidão, ela deve seguir a
formalidade disposta em Guia Oficial de Redação Jurídica, publicada anualmente
pela Academia Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.
( ) Somente a Lei nº 6.015/73 pode dispor sobre a forma e o conteúdo de uma certidão
de registro público.
( ) O prazo para que uma pessoa tenha acesso a uma certidão, principalmente as que
envolvam os registro de imóveis, é sempre de no máximo cinco dias.
Fonte: https://drive.google.com/file/d/1FPrHExD0t04cOIYnD
m4FovLkJH0D9Dsm/view. Acesso em: 4 abr. 2023.
a) ( ) V - F - V.
b) ( ) F - F - F.
c) ( ) V - V - F.
d) ( ) F - V - V.
Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-
2022/2022/lei/L14382.htm. Acesso em: 4 abr. 2023.
5 A lei que regulamenta a SERP (Lei nº 14.382/2022), além de modificar os prazos para a
emissão de certidões pelos registros de imóveis, trouxe mais algumas modificações:
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a) as certidões podem ser emitidas por meio eletrônico, mas prioritariamente devem ser
expedidas em papel-moeda, pois só assim terão validade jurídica. O titular de registro
público não deve aceitar como verdadeiras as certidões digitais;
b) fica proibido o atendimento remoto daqueles que desejem ter acesso a informações
sobre registros;
c) não é possível que haja a interconexão entre os Registros Públicos, pois cada um
deles deve ser respeitado em suas competências.
Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-
2022/2022/lei/L14382.htm. Acesso em: 4 abr. 2023.
44
UNIDADE 1 TÓPICO 3 -
PESSOAS E DOCUMENTOS
1 INTRODUÇÃO
Até aqui, nesta primeira unidade, nosso estudo esteve focado nos conceitos
de transparência – no primeiro tema de aprendizagem – e de publicidade jurídica – no
segundo momento. Agora, vamos estudar as pessoas – físicas e jurídicas – e quais são
os documentos necessários para a publicidade jurídica delas. Deixando um pouco de
curiosidade para a nossa próxima unidade, lá nosso foco será o estudo dos direitos reais
dessas pessoas, e das trocas e registros destes direitos. Te aguardamos lá, em breve!
Bons estudos!
45
2 PESSOAS, SUJEITOS, CIDADÃOS
Por isso, neste tema de aprendizagem, que tem como foco as pessoas e os
documentos, buscaremos distinguir os nomes dados para as pessoas dentro da
sociedade moderna e dentro do sistema legal brasileiro.
A pessoa natural tem seu conceito atrelado estritamente à biologia. Isso significa
que pessoa natural é qualquer um que pode ser reconhecido como um humano quando
nasce. Uma pessoa natural se difere de uma planta natural, de um outro tipo de animal.
A pessoa natural não está relacionada com o Direito, ainda. Diz respeito apenas
à biologia, com o se fazer gente, animal da espécie humana. Aliás, é preciso dizer que
não é nossa intenção e papel, aqui neste estudo, discutir e muito menos definir a partir
de que momento que podemos dizer que uma pessoa natural existe – se desde a
intenção dos pais de terem um filho, da concepção, do nascimento com vida ou desde
que adquire personalidade jurídica.
O primeiro ponto que devemos ter em mente é que a capacidade civil – termo
que estudaremos mais adiante – independe de registro ou documentação. Como está
disposto no Art. 2° do CC, “a personalidade civil da pessoa começa do nascimento com
vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro” (BRASIL, 2002).
Assim, qualquer pessoa natural que nasce com vida possui direitos e mesmo
deveres – é um sujeito de direito. E mesmo as pessoas que ainda não nasceram (os
nascituros) também possuem alguns direitos – um exemplo é o direito a alimentos
46
gravídicos, concedidos à mulher gestante, como representante do nascituro, em função
da gravidez.
INTERESSANTE
Está em tramitação no Congresso Nacional o Estatuto do Nascituro, que
versa sobre a proteção de direitos àquele com expectativa de vida desde a
concepção (Projeto de Lei nº 434/2021). Você pode acompanhar o texto do
projeto e a tramitação pelo site: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/
fichadetramitacao?idProposicao=2270201.
NOTA
Os alimentos gravídicos são regulamentados pela Lei nº 11.804/2008, disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11804.htm.
Vale lembrar que nem sempre foi assim. Por exemplo, existiam sociedades
antigas em que não eram todas as pessoas que possuíam direitos. Até certo ponto, em
diversos momentos da história, nascituros e pessoas que nasciam com vida poderiam
ser tratadas como bens, coisas, que poderiam ser vendidas e compradas. Os escravos,
por exemplo, eram negociados como bens. As mulheres também são, ainda hoje, em
algumas culturas, negociadas como bens.
2.3 CIDADÃO
47
Conforme Andreassa (2021), em artigo publicado no site Politize, a cidadania
extrapola a ideia de direitos civis. Com base em José Murilo de Carvalho e em Thomas
Humphrey Marshall, o autor afirma que a cidadania existe quando uma pessoa natural
possui três tipos de direitos: a) direitos civis – aqueles designados na Constituição Federal
e nas demais Leis; b) direitos políticos – capacidade de votar e ser votado, de ter sua
opinião política e sobre a gestão dos bens públicos ouvida e levada em consideração; e
c) direitos sociais – oportunidade de ter uma vida digna, capaz de poder exercer seus
demais direitos. Aqui, estão inseridos direitos como alimentação, moradia e saúde.
Conforme o Art. 1º, § 3º, da Lei nº 4.717/1965, a prova de cidadania para o ingresso
em Ação Popular se dá com o título eleitoral ou com documento que corresponda.
Assim, para alguns autores, uma pessoa é considerada cidadã se possuir capacidade
de votar e ser votada, ou seja, ser cadastrada junto ao sistema eleitoral. Contudo, como
já vimos, a cidadania é algo muito mais abrangente.
Além dos nomes anteriormente citados, outro conceito que é bastante usado
para classificar os indivíduos é o de pessoa física, em oposição ao conceito de pessoa
jurídica. Pessoas físicas são sujeitos de direito que estão relacionados com as pessoas
naturais. Isto é, uma pessoa física envolve apenas uma pessoa natural, que possui uma
única personalidade jurídica. É um ser vivo, é um animal, é da espécie humana.
NOTA
Indivíduo é o nome de algo que não é divisível. Assim como o cientista moderno,
a partir dos ensinamentos de Descartes (2009), deve sempre buscar o elemento
indivisível de uma matéria para estudar o todo. No Direito Moderno, o que deve
ser protegido é o indivíduo e suas individualidades, afastando-se a ideia de direitos
coletivos. Isto é, como afirma Sousa Júnior (2011, p. 49), “o sujeito aí radicado reflete,
na sua impregnação iluminista, uma visão de mundo dominada pela racionalidade
e a autotransparência [...]. Nesta sua origem histórico-filosófica, o conceito coincide
com a noção aristotélica de substância ou, como em Descartes, com quem começa
a tradição moderno do sujeito, como ‘início’ do indivíduo em si mesmo (o legislador
de si próprio no sentido kantiano)”.
48
INTERESSANTE
Os movimentos ambientalistas de todo o mundo têm lutado para que seres vivos
de diversos gêneros e espécies adquiram uma forma de personalidade jurídica, a
fim de que seus direitos sejam melhor protegidos pelos Estados de Direito. Alguns
rios, na Nova Zelândia e na Austrália, já adquiriram personalidade jurídica. No Brasil,
parece que classificar apenas animais humanos como pessoas físicas e naturais
ainda seja o melhor caminho. Você pode entender um pouco mais sobre o assunto
lendo o artigo Rios deveriam ter direitos semelhantes aos das pessoas?, publicado
originalmente no jornal The Guardian, e disponível em: https://infosaofrancisco.
canoadetolda.org.br/artigos/outros-rios/rios-deveriam-ter-direitos-semelhantes-
aos-das-pessoas/.
Já a pessoa jurídica é, dentre outras teorias que buscam explicá-la, uma ficção
jurídica, e representa uma união de pessoas naturais que se unem em prol de algum
fim em comum – pode ser um fim comercial (uma empresa), um fim esportivo e de
lazer (a Sociedade Esportiva Palmeiras, por exemplo), uma benevolência (uma ONG,
por exemplo), ou qualquer outro motivo em comum. Essa união de pessoas adquire,
quando dada a publicidade jurídica necessária, a partir do registro, uma personalidade
jurídica própria, que passa a responder por esse grupo como um todo.
Para Stolze e Pamplona Filho (2020, p. 155), a pessoa jurídica é “o grupo humano,
criado na forma da lei, e dotado de personalidade jurídica própria, para a realização de fins
comuns”. Isto é, “a razão de ser da pessoa jurídica está na necessidade ou conveniência de
os indivíduos unirem esforços e utilizarem recursos coletivos para a realização de objetivos
comuns, que transcendem as possibilidades individuais” (GONÇALVES, 2021, p. 341).
Mais adiante, teremos outra oportunidade para focarmos nos tipos e nos
documentos das pessoas jurídicas. Por enquanto, nosso objetivo aqui foi diferenciar a
pessoa física da pessoa jurídica, de pessoa natural, de sujeito de direitos e de cidadão.
Agora que já sabemos distinguir os termos que um indivíduo pode ser chamado,
a depender dos critérios que estão sendo usados, voltemos nossa atenção às formas de
dar publicidade jurídica para a existência desses indivíduos, ou seja, como são feitos os
registros das pessoas naturais.
49
é a regra, desde que não afete os direitos individuais das pessoas. Ainda, precisamos
lembrar que a mensagem que interessa para a publicidade jurídica é aquela que gera
efeitos jurídicos – isto é, os fatos jurídicos –, que recebem o nome de atos jurídicos,
quando são realizados pelas pessoas. Assim, o nosso foco aqui é a publicidade jurídica –
por registro e certidão – de fatos e atos jurídicos que dizem respeito às pessoas naturais.
Dito isso, o Art. 9º do Código Civil Brasileiro (CC) dispõe que estão sujeitos a
registro público: a) os nascimentos, casamentos e óbitos; b) a emancipação por outorga
dos pais ou por sentença do juiz; c) a interdição por incapacidade absoluta ou relativa;
e d) a sentença declaratória de ausência ou morte presumida. Contudo, é preciso que
este dispositivo legal seja lido com a complementação do Art. 29, caput e § 1º, Lei nº
6.015/73 – a Lei de Registros Públicos, que dispõe que:
§ 1º Serão averbados:
a) as sentenças que decidirem a nulidade ou anulação do casamento,
o desquite e o restabelecimento da sociedade conjugal;
NOTA
A emancipação é uma forma de finalização da incapacidade civil, pela concessão dos
pais ou por decisão do juiz (Art. 5º, parágrafo único, I, do CC).
50
NOTA
Averbação é a “modificações no teor do registro” (LOUREIRO, 2014, p. 70). Ela é,
portanto, acessória ao registro. É feita quando algum fato jurídico ocorre e que
modifica o teor do registro principal, sem que seja necessário – sem qualquer lei
determinar – um novo registro. Além do registro e da averbação, ensina Loureiro
(2014) que, no Registro de Imóveis, também é possível realizar anotações – quando
a averbação remete a outro livro ou registro; e a transcrição, quando se transcreve
termo a termo algum registro realizado fora do país, para que surta efeito no Direito
brasileiro.
Conforme leciona Loureiro (2014), o registro das pessoas naturais tem por objetivo
dar publicidade jurídica: a) ao estado civil – a capacidade jurídica – e b) ao estado de
família – se está casada, viúva, possui filhos, é solteira, por exemplo – de uma pessoa
natural, “provando seu nome, filiação, sua idade e capacidade para os atos da vida civil
[...], o casamento ou a viuvez, entre outros fatos e atos importantes para a identificação e
proteção da pessoa natural e para sua vida jurídica e social” (LOUREIRO, 2014, p. 64).
Temos debatido aqui, nesta primeira unidade do nosso livro didático, sobre a
formalidade dos Atos Administrativos, defendendo que eles só devem seguir alguma
forma específica se esta forma for determinada por lei.
51
que possam ter acesso à cidadania.
A Carteira de Identidade é regulamentada pela Lei nº 7.116/83. Esta lei define que
“art. 1º – a Carteira de Identidade emitida por órgãos de Identificação dos Estados, do
Distrito Federal e dos Territórios tem fé pública e validade em todo o território nacional”
(BRASIL, 1983). Isto é, a competência para a expedição da Carteira de Identidade é dos
entes federados, geralmente a partir dos Institutos de Identificação – que por sua vez
estão ligados, mas não necessariamente, às Polícias Civis dos Estados, Territórios e
Distrito Federal.
A Lei nº 7.116/83 define que, para a expedição da Carteira de Identidade, não serão
exigidos outros documentos que não a Certidão de Nascimento ou a de Casamento (Art.
2º) – ou Certificado de Naturalização, em caso de brasileiro naturalizado (Art. 2º, §2º). Há
também a definição de que a emissão da primeira Carteira de Identidade será feita de
maneira gratuita (Art. 2º, §3º).
52
fotografia, nome, filiação e outros dados. Também dispõe que é possível a inclusão de
outros dados, como o número do Cadastro de Pessoa Física no Ministério da Fazenda
e o número no Programa de Integração Social- PIS ou no Programa de Formação do
Patrimônio do Servidor Público- PASEP (Art. 4°).
Caso a pessoa que requerer a CIN ainda não possua CPF, o órgão responsável
pela emissão realizará o cadastro na hora (Art. 3º, parágrafo único do Decreto nº
10.977/2022). Ainda, o número único passa a integrar o Serviço de Identificação do
Cidadão, criado pelo Decreto nº 10.900/2021.
53
Identidade – cuja finalidade é instituir um registro das pessoas junto ao Poder Executivo
dos Estados e da União, a fim de que possam ser identificadas tanto junto aos Poderes
Públicos quanto às entidades privadas, sempre que tiverem relações com a sociedade
e com o governo –, o Cadastro de Pessoas Físicas junto ao órgão fazendário teria – pelo
menos até a instituição do CPF como número único de identificação pelo Decreto nº
10.977/2022 – apenas finalidade tributária.
O Art. 21, XXIV, CF, dispõe que é competência da União “organizar, manter e
executar a inspeção do trabalho” (BRASIL, 1988). Esta competência, no entanto,
geralmente é delegada, por lei, para outros órgãos, os Conselhos Profissionais – como o
CREA, a OAB e o CRM, por exemplo.
INTERESSANTE
Está em tramitação no Congresso Nacional o Projeto de Lei nº 3081/2022,
que busca desregulamentar profissões e atividades que não ofereçam risco à
segurança, à saúde, à ordem pública e à incolumidade individual e patrimonial.
Você pode acompanhar a sua tramitação pelo site: https://www.camara.leg.br/
proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2345303.
54
4 “PESSOAS” JURÍDICAS
NOTA
Existem outras teses e teorias que tentam explicar o conceito de pessoa jurídica.
No entanto, acreditamos que a tese de ficção explica a existência e a necessidade
da constituição de grupos de pessoas destinadas a algum fim como entidades
portadoras de direitos e personalidade
Esta é uma explicação que pode soar como boba. No entanto, embora não
tenham relação com a biologia, existe uma razão de se chamar essas entidades como
pessoas. Isto porque, assim como as pessoas físicas e naturais, as pessoas jurídicas
possuem desejos, objetivos, identidade e também direitos, como o direito à propriedade.
INTERESSANTE
Como exemplo de como os direitos das pessoas físicas podem ser expandidos para
as pessoas jurídicas, está na Súmula 227 do STJ que “a pessoa jurídica pode sofrer
dano moral”.
Fonte:https://www.stj.jus.br/docs_internet/revista/eletronica/stj-revista-sumu-
las-2011_17_capSumula227.pdf. Acesso em: 5 abr. 2023.
55
Não podemos negar, ainda, o caráter de incentivo ao empreendedorismo
e ao crescimento econômico intrínseco à criação da figura da pessoa jurídica como
instrumento de proteção das pessoas naturais aos riscos da atividade econômico.
Tal finalidade está até mesmo positivada no ordenamento jurídico. O Art. 49-A,
parágrafo único, CC, deixa claro que “a autonomia patrimonial das pessoas jurídicas é
um instrumento lícito de alocação e segregação de riscos, estabelecido pela lei com a
finalidade de estimular empreendimentos, para a geração de empregos, tributo, renda
e inovação em benefício de todos” (BRASIL, 2002). Por outro lado, quando fica claro
que a criação da pessoa jurídica é realizada apenas pelo desejo de praticar atos ilícitos,
como, por exemplo, blindar patrimônio pessoal, é possível que tal seja desconsiderada a
personalidade jurídica. Tal instituto, conhecido como desconsideração da personalidade
jurídica, é positivado no Art. 50, CC.
A seguir, estudaremos como são criadas, quais são os tipos e como são
publicizadas as pessoas jurídicas.
Como as pessoas naturais nascem parece não ser ainda um segredo. Apesar de
todo o avanço científico que estamos vivendo, inclusive avanços da área da genética e
da biologia em geral, ainda não é possível gerar pessoas naturais de modo espontâneo
– ao menos, não há divulgação científica de tais gerações espontâneas. E como as
pessoas naturais adquirem personalidade jurídica a partir do nascimento, não há muita
dúvida que é o nascimento a partir da união de dois gametas (masculino e feminino) que
gera o nascimento de uma pessoa física, um sujeito de direitos.
Já o nascimento de uma pessoa jurídica, por esta entidade ser uma ficção
jurídica, é determinado pela própria lei, a partir do disposto no Art. 45, CC:
Então, se é o nascimento com vida que faz com que o sujeito de direito passe
a existir, quanto às pessoas naturais é necessário que esta pessoa seja registrada,
publicizada, para que possa ser considerada existente legalmente.
56
Portanto, antes da inscrição do ato constitutivo da pessoa jurídica no registro
público competente, não há como se dizer existir legalmente a pessoa jurídica. Pode
existir agrupamento de pessoas para diversos fins – nunca sabemos quando um
encontro será casual ou se deste encontro surgirá uma associação, uma sociedade,
uma fundação, ou mesmo uma organização religiosa ou um partido político.
ESTUDOS FUTUROS
Associação, sociedade, fundação, organização religiosa e partido político são os tipos
de pessoas jurídicas existentes. Estudaremos mais a fundo cada uma delas, e seus
atos constitutivos, mais adiante!
Para que essa união possa adquirir a personalidade jurídica, ela precisa ser
registrada nos órgãos competentes, para se realizar a publicidade jurídica desta
constituição. O registro, a publicidade jurídica, é ato constitutivo primordial de uma
pessoa jurídica.
Gonçalves (2021, p. 341) leciona que “a razão de ser da pessoa jurídica está na
necessidade ou conveniência de os indivíduos unirem esforços e utilizarem recursos
coletivos para a realização de objetivos comuns, que transcendem as possibilidades
individuais”.
Assim, mais do que pensar que as pessoas jurídicas são entidades que atuam
no comércio, na indústria e no setor de serviços como empresas, podemos pensar que
57
elas são uma força superior que une pessoas em prol de algum objetivo, formando uma
outra pessoa que engloba os desejos das pessoas individualizadas.
As pessoas jurídicas de direito público, como o nome sugere, são aquelas que
estão relacionadas com a Administração Pública. Elas podem adquirir diversas naturezas
jurídicas, ou seja, diversas formas de organização a partir das leis ou decretos que as
instituem – as Leis Orgânicas.
No Art. 41, CC, estão elencados os tipos de pessoas jurídicas de direito público
interno. São elas: a) União; b) Estados, Distrito Federal e Territórios; c) Municípios; d)
autarquias, inclusive as associações públicas; e e) demais entidades de caráter público
criadas por lei.
58
Diferente, porém, é o caso das autarquias, que pertencem à administração
pública indireta. Por isso, são pessoas jurídicas, possuem autonomia, patrimônio próprio
e CNPJ. A criação de uma autarquia é regulamentada no Art. 37, XIX, CF – que dispõe
que elas só podem ser criadas por lei específica (BRASIL, 1988). As autarquias são
publicizadas a partir das leis específicas que as criam. Por isso, não são registradas nos
Registro Civil de Pessoas Jurídicas.
Também é a lei que dá publicidade jurídica para essas pessoas jurídicas. Assim,
não são registradas no Registro Civil das Pessoas Jurídicas.
O Art. 44, CC, dispõe que são pessoas jurídicas de direito privado: a) as
associações; b) as sociedades; c) as fundações; d) as organizações religiosas; e e) os
partidos políticos (BRASIL, 2002).
59
registrada e formalizada com o “precípuo escopo de exercer atividade econômica e
partilhar lucros” (STOLZE, 2020, p. 168).
As fundações, por sua vez, não possuem como característica serem a união
de pessoas, mas a designação de parte de um patrimônio para determinado fim –
necessariamente um fim de: a) assistência social; b) cultural; c) defesa e conservação
do patrimônio histórico e cultural; d) educação; e) saúde; f) segurança alimentar e
nutricional; g) defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do
desenvolvimento sustentável; h) pesquisa científica, desenvolvimento de tecnologias
alternativas, modernização de sistemas de gestão, produção e divulgação de
informações e conhecimentos técnicos e científicos; i) promoção da ética, da cidadania,
da democracia e dos direitos humanos; e j) atividades religiosas (Art. 62, parágrafo
único, CC) (BRASIL, 2002).
Para que possamos definir quais são os tipos de sociedades que podem ser
constituídas como pessoas jurídicas, podemos tomar o conceito legal de sociedades,
disposto no Art. 981, do CC, qual seja: “celebram contrato de sociedade as pessoas
que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de
atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados” (BRASIL, 2002).
Assim, podem existir diversas formas em que as pessoas se organizam para que
possam atingir a mesma finalidade – que no caso das sociedades é um fim de atividade
econômica.
60
ESTUDOS FUTUROS
Vamos nos ater ao Registro Público de Empresas Mercantis quando falarmos sobre
o registro de Sociedades Empresárias!
61
4.3 REGISTROS E AUTORIZAÇÕES DAS PESSOAS JURÍDICAS
Feita tal retomada, agora podemos destrinchar, mesmo que brevemente, sobre
a autorização e o registro das pessoas jurídicas.
62
NOTA
Sociedades pias são sociedades beneficentes que não se enquadram no conceito
de fundação ou de organização religiosa.
Quadro 2 – Comparação entre o artigo 46, CC, e o artigo 120, lei nº 6.015/73
Esses são requisitos para que a associação não seja declarada nula. Por não
haver nenhuma lei em contrário, as associações são registradas no Registro Civil das
Pessoas Jurídicas.
64
4.3.4 Registro das fundações
Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública
ou testamento, dotação especial de bens livres, especificando o fim
a que se destina, e declarando, se quiser, a maneira de administrá-la
(BRASIL, 2002).
• deve haver no mínimo 101 fundadores, que precisam ter domicílio eleitoral em ao
menos 1/3 dos Estados brasileiros. Eles devem subscrever o pedido do registro;
• ao requerimento de registro é acompanhado:
• cópia autêntica da ata da reunião de fundação do partido;
65
NOTA
Art. 7º, § 1º, Lei nº 9.096/95: só é admitido o registro do estatuto de partido político
que tenha caráter nacional, considerando-se como tal aquele que comprove, no
período de dois anos, o apoiamento de eleitores não filiados a partido político,
correspondente a, pelo menos, 0,5% (cinco décimos por cento) dos votos dados na
última eleição geral para a Câmara dos Deputados, não computados os votos em
branco e os nulos, distribuídos por um terço, ou mais, dos Estados, com um mínimo
de 0,1% (um décimo por cento) do eleitorado que haja votado em cada um deles.
Não há lei especificando de que forma deve ser registrar uma organização
religiosa. Assim, elas devem seguir as mesmas regras e ritos das associações. Elas
também são regidas por um estatuto, e seu registro é feito junto ao Registro Civil de
Pessoas Jurídicas da sede em que estão localizadas.
66
Em resumo, quando são pessoas jurídicas (sociedades empresárias), o registro
é feito não no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, disposto no Art. 1°, § 1º, II da Lei nº
6.015/73, mas em registro específico, que se rege por lei própria, conforme o §2º do Art.
1º da mesma lei.
67
a) os titulares e administradores; e
b) a forma de representação;
IV - comprovantes de pagamento dos preços dos serviços
correspondentes;
V - prova de identidade do empresário individual e do administrador
de sociedade empresária e de cooperativa:
a) poderão servir como prova de identidade, mesmo por cópia
regularmente autenticada, a cédula de identidade, o certificado
de reservista, a carteira de identidade profissional, a carteira de
identidade de estrangeiro e a carteira nacional de habilitação;
b) para o imigrante, empresário individual ou administrador de
sociedade empresária ou cooperativa, a identidade conterá a
comprovação da condição de residente no País;
c) o documento comprobatório de identidade, ou sua cópia
autenticada, será devolvido ao interessado logo após exame, vedada
a sua retenção;
d) fica dispensada nova apresentação de prova de identidade no caso
de já constar anotada, em processo anteriormente arquivado, e desde
que indicado o número do registro daquele processo (BRASIL, 1996).
Não poderá ser requerido nenhum outro documento além dos constantes da
relação legal (Art. 34, parágrafo único, Decreto nº 1.800/96).
Esta Comissão foi criada pela Lei nº 6.385/76. Trata-se de entidade autárquica,
por isso independente, que tem entre suas funções proteger investidores e gerar
equidade e transparência para esse mercado específico.
68
LEITURA
COMPLEMENTAR
ATIVISTAS E CRIADORES DIVERGEM SOBRE PROJETO QUE TRANSFORMA
ANIMAIS EM SUJEITOS DE DIREITO
Proposta cria regime jurídico especial para animais, assegurando a eles o direito de
serem representados na Justiça em caso de violações
Aspectos jurídicos do Projeto de Lei 6054/19, conhecido como “PL animal não
é coisa”, colocaram em lados opostos, nesta sexta-feira (15), ativistas da causa animal e
criadores. Para os ativistas, o texto garante que animais vítimas de maus-tratos tenham,
por via judicial, a devida reparação do dano a eles causado. Criadores, adestradores
e segmentos do agronegócio acreditam que a proposta abre brechas para demandas
judiciais absurdas, tais como questionar a pecuária e o adestramento sob a alegação de
proteção animal.
Aprovado pela Câmara dos Deputados em 2017, o projeto foi alterado no Senado
em 2019. Os senadores incluíram emenda estabelecendo que a medida não se aplica a
animais usados na agropecuária, em pesquisas científicas e em manifestações culturais.
“Demandas bizarras”
69
saúde, especializados em terapias e na detecção de doenças”, advertiu.
Rabadan disse ainda que a alteração da natureza jurídica dos animais não
humanos pode saturar o Judiciário com o que considerou “demandas bizarras”. “Seu
vizinho, pelo simples fato de não gostar de você, decide representar os interesses do
seu cão em juízo, pedindo habeas corpus, ação de alimentos e indenização. Motivo:
você não deixava o cão entrar em casa”, disse. “Não podemos deixar de alertar para o
risco de pedidos matrimoniais e de reconhecimento conjugal interespécies, o que seria
uma legalização da zoofilia”, acrescentou.
Bem-estar animal
“Todos os que criam, tratam e cuidam dos seus animais não devem temer se o
fazem corretamente. Só devem temer o projeto aqueles que querem manter situações
de degradação, abuso, negligência, omissão ou crueldade contra animais”, disse ela.
Autor do projeto, o deputado Ricardo Izar disse que a medida apenas reconhece
a senciência dos animais. Ele também entende que a proposta não impede qualquer
atividade produtiva ou de adestramento nem o uso de animais em áreas como saúde
e segurança. “Isso não vai mudar em nada a relação dos pacientes com os animais.
Juridicamente, o projeto não proíbe essa questão”, disse o deputado, referindo-se ao
uso de cães no tratamento do autismo.
Divergências
70
Izar, no entanto, defendeu a manutenção do projeto por entender que todas as espécies
de animais não humanos merecem respeito. “Não retiro.”
“Entendemos que animais não têm direitos, pelo simples fato de não poderem
ser atribuídas a eles quaisquer obrigações, princípio básico do Direito. O homem é que
deve ter a obrigação de cuidar dos animais, que devem sim ter garantias e proteções”,
argumentou Guilherme Bunguer, diretor do sindicato.
“O animal deixará de ser o objeto material do crime para ser o sujeito passivo, a
vítima. A diferença é que os atos de maus-tratos, do ponto de vista civil, vão resultar em
responsabilidade direcionada ao próprio animal, permitindo indenizações para custear o
tratamento ou por danos morais”, disse a promotora.
Ataíde Junior sustentou que o projeto vai possibilitar uma nova estrutura de
proteção dos animais. Para ele, a proteção pela criminalização dos maus-tratos (Lei
Sansão) é insuficiente. “O processo penal não dá recursos para o tratamento médico
veterinário nem para a satisfação de outras necessidades do animal”, disse. Ele rebateu
a ideia de que o projeto vai criar demandas bizarras afirmando que só poderão ser
questionados casos concretos de maus-tratos.
Fonte: https://www.camara.leg.br/noticias/817294-ativistas-e-criadores-divergem-sobre-proje-
to-que-transforma-animais-em-sujeitos-de-direito%E2%80%A8/. Acesso em: 8 jan. 2023.
71
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
• Quais são os registros necessários para as pessoas naturais, como devem ser feitos
e quais os locais em que esses registros e cadastros são feitos.
72
AUTOATIVIDADE
1 São indivíduos os animais humanos pertencentes à sociedade como um todo.
Durante a sua vida, podem ser reconhecidos pelo direito por diferentes nomes. Saber
do que se trata cada um desses nomes é importante para que se possa compreender
os registros e documentos aos quais esses indivíduos estão submetidos. Sobre os
conceitos de pessoa natural, sujeito de direito, cidadão e pessoa física, assinale a
alternativa CORRETA:
2 Dispõe o Art. 44 do Código Civil que são pessoas jurídicas de direito privado: a) as
associações; b) as sociedades; c) as fundações; d) as organizações religiosas; e e)
os partidos políticos. Sobre o exposto, associe os itens, utilizando o código a seguir:
I- Associações.
II- Sociedade Simples.
III- Sociedade Empresária.
IV- Fundações.
Fonte: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/
l10406compilada.htm. Acesso em: 6 abr. 2023.
a) ( ) II - I - III - IV.
b) ( ) I - II - IV - III.
c) ( ) III - IV - II - I.
d) ( ) IV - III - I - II.
73
3 Embora existam diversos tipos de pessoas jurídicas, todas elas devem ser registradas
no Registro Civil das Pessoas Jurídicas, para que possam existir legalmente.
Considerando esta afirmação, responda: ela está correta? Se não concorda, discorra
sobre o local correto de registro: a) das autarquias; b) da sociedade simples; c) da
sociedade empresária; e d) das associações.
4 Maria Helena Diniz afirma que os partidos políticos são a união de pessoas em prol
de “conquistar o poder para a consecução de um programa” (DINIZ, 2019, p. 301). O
Registro dessas pessoas jurídicas passa por três etapas. Explique essas etapas.
74
REFERÊNCIAS
ABRUCIO, F. L.; LOUREIRO, M. R. Burocracia e ordem democrática: desafios contempo-
râneos e experiência brasileira. In: PIRES, R.; LOTTA, G.; OLIVEIRA, V. E. de. Burocracia
e políticas públicas no Brasil: interseções analíticas. Brasília: Ipea: Enap, 2018. p.
23-57.
BOBBIO, N. O futuro da democracia: uma defesa das regras do jogo. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1997.
75
BRASIL. Decreto nº 10.977, de 23 de fevereiro de 2022. Regulamenta a Lei nº 7.116,
de 29 de agosto de 1983, para estabelecer os procedimentos e os requisitos para a
expedição da Carteira de Identidade por órgãos de identificação dos Estados e do
Distrito Federal, e a Lei nº 9.454, de 7 de abril de 1997, para estabelecer o Serviço de
Identificação do Cidadão como o Sistema Nacional de Registro de Identificação Civil.
Brasília, DF: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 23 fev. 2022. Disponível
em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/decreto-n-10.977-de-23-de-fevereiro-
-de-2022-382332304. Acesso em: 10 jan. 2023.
BRASIL. Lei nº 4.717, de 29 de junho de 1965. Regula a Ação Popular. Brasília, DF:
Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 29 jun. 1965. Disponível em: https://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4717.htm. Acesso em: 10 jan. 2023.
76
BRASIL. Lei nº 9.454, de 7 de abril de 1997. Institui o número único de Registro de
Identidade Civil e dá outras providências. Brasília, DF: Diário Oficial [da] República Fe-
derativa do Brasil, 7 abr. 1997. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
l9454.htm. Acesso em: 10 jan. 2023.
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília, DF:
Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 10 jan. 2002. Disponível em: https://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso em: 10 jan.
2023.
77
aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943; revoga a Lei Delegada nº 4,
de 26 de setembro de 1962, a Lei nº 11.887, de 24 de dezembro de 2008, e dispositivos
do Decreto-Lei nº 73, de 21 de novembro de 1966; e dá outras providências. Brasília,
DF: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 20 set. 2019. Disponível em: ht-
tps://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13874.htm. Acesso em:
10 jan. 2023.
DINIZ, M. H. Curso de Direito Civil Brasileiro. 36. ed. São Paulo: Saraiva, 2019.
GONÇALVES, C. R. Direito Civil: obrigações – contratos – parte geral. v. 1. 11. ed. São
Paulo: Saraiva Educação, 2021.
78
LEMOS, A. A tecnologia é um vírus: pandemia e cultura digital. Porto Alegre: Sulina,
2021.
SERRA, M. G.; SERRA, M. H. Registro de imóveis I: parte geral. São Paulo: Saraiva,
2013.
SOUSA JÚNIOR, J. G. de. Direito como liberdade: o direito achado na rua. Porto Ale-
gre: Safe, 2011.
STOLZE, P.; PAMPLONA FILHO, R. Manual de direito civil. vol. único. 4. ed. São Paulo:
Saraiva Educação, 2020.
79
80
UNIDADE 2
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• estudar a troca de Direitos Reais e, inclusive, como essas trocas devem ser
publicizadas;
• saber o que é usucapião, bem como saber diferenciar os seus diversos tipos;
PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
81
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!
Acesse o
QR Code abaixo:
82
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
POSSE, PROPRIEDADE, USO E OUTROS
DIREITOS REAIS
1 INTRODUÇÃO
Olá! Seja novamente bem-vindo ao nosso livro didático. Agora, começamos nossa
segunda unidade de estudo. Se, na primeira, o objetivo foi estudar sobre as pessoas físicas
e as pessoas jurídicas, focando na publicidade jurídica e nos documentos, nesta segunda
unidade, nós dialogaremos sobre os direitos dessas pessoas em relação às coisas. Como
ciência, o Direito separa essa parte do Direito, atribuindo-lhe o nome de Direitos Reais.
Contudo, o nome pode ser confuso. É claro que não existem direitos irreais,
direitos fictícios. O nome “Direitos Reais” está ligado à palavra de origem latina res, que
significa coisa. Assim, os Direitos Reais são aqueles direitos que as pessoas – físicas ou
jurídicas – adquirem – de diversas formas – sobre as coisas e, a partir do momento que
possuem esses direitos, podem alienar, trocar com outras pessoas, emprestar ou alugar
– dentre tantas outras formas de trocar Direitos Reais por outras obrigações ou, mesmo,
por outros Direitos Reais.
Os Direitos Reais mais conhecidos são a posse, o uso, a propriedade, mas existem
diversos outros tipos de direitos que as pessoas exercem sobre as coisas e que serão
objeto de estudo nesta unidade. Quando falamos de “coisas”, precisamos dizer que elas
podem ser tanto materiais (ou corpóreas) – como os carros, os imóveis, os móveis e os
livros – quanto imateriais (ou incorpóreas) – como a propriedade intelectual e artística.
O estudo dos registro e dos direitos sobre as coisas imateriais será tema específico da
terceira unidade do nosso livro. Aqui, falaremos, prioritariamente, sobre o direito das
pessoas sobre coisas móveis e imóveis.
Esperamos que você goste da leitura e reflita bastante sobre cada um desses
direitos. Comecemos!
83
2 COMEÇANDO A CARACTERIZAR OS DIREITOS REAIS
Dissemos, na introdução, que os Direitos Reais são aqueles que as pessoas têm
sobre coisas. No entanto, será preciso nos aprofundarmos um pouco mais sobre esse
conceito para que possamos, no momento seguinte, nos ater ao estudo de cada um dos
tipos de Direitos Reais existentes.
ESTUDOS FUTUROS
No segundo tema de aprendizagem, nós falaremos de contratos. Eles são
uma das formas de Direitos Pessoais, ou seja, o direito que uma pessoa tem
de exigir que outra pessoa – física, jurídica, privada ou pública – cumpra uma
obrigação. Por enquanto, nosso foco estará somente nos Direitos Reais!
Se você firma um contrato com alguém ou afirma que cumprirá uma obrigação
qualquer, as pessoas dessa relação estão totalmente definidas: você e outra pessoa.
Quando você compra uma roupa, por exemplo, acontece uma relação entre você –
sujeito passivo que recebe a roupa – e a loja ou uma vizinha que vende roupas – sujeito
ativo que fornece a roupa. Quase todos os contratos que conhecemos possuem duas
figuras: aquela que compra e aquela que fornece.
84
NOTA
Pontes de Miranda (2012) fala sobre “direitos reais limitados” na citação anterior.
Trata-se de uma classificação dos Direitos Reais que envolvem duas categorias:
a) direito na coisa própria: a propriedade; e b) direito na coisa alheia: quando
se tem direito sobre uma coisa, mas não se tem a propriedade daquela coisa.
É o caso do uso e da habitação, por exemplo. É uma classificação que interessa
mais à teoria jurídica do que para nossos temas. Por isso, não se preocupe em
decorar esse conceito.
Afirma que A tem algum dos Direitos Reais sobre uma coisa e
Direito Real obriga aos demais quanto aquele direito. A publicidade jurídi-
ca desse direito não se dá por contrato, mas por registro.
Fonte: o autor
ESTUDOS FUTUROS
As obrigações e os contratos serão nosso objeto de estudo no segundo tema
de aprendizagem desta unidade!
85
do sujeito passivo dos Direitos Reais como a importância do devido registro público
desse direito, a forma de dar publicidade jurídica a esse fato jurídico – qual seja: o direito
sobre uma coisa.
Pelo disposto no Art. 1.245, CC, por isso, é possível observar que “transfere-
se entre vivos a propriedade mediante o registro do título translativo no Registro de
Imóveis; § 1º Enquanto não se registrar o título translativo, o alienante continua a ser
havido como dono do imóvel” (BRASIL, 2002, on-line).
Da mesma forma, o Art. 108, CC, dispõe que “não dispondo a lei em contrário, a
escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição,
transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior
a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País” (BRASIL, 2002, on-line).
ESTUDOS FUTUROS
Estudaremos, no segundo tema de aprendizagem desta unidade, o conceito e
os quesitos de validade de um negócio jurídico.
IMPORTANTE
Note! O que se registra no caso de aquisição de um bem por compra e venda,
por exemplo, não é a transferência do bem – negócio jurídico –, mas que houve
uma troca de propriedade e que outra pessoa passou a ter a propriedade do
bem. Faz-se a publicidade da propriedade, e não do contrato.
Dito isso, a partir de agora, debruçar-nos-emos sobre cada uma das formas de
Direitos Reais possíveis e elencadas no Código Civil brasileiro.
3 POSSE E DETENÇÃO
Antes de começarmos a falar sobre a posse e a detenção, teremos que,
novamente, pedir desculpas por uma generalização que realizamos no texto anterior.
Dissemos, na introdução deste tema de aprendizagem, que os Direitos Reais podem ser
traduzidos como Direito das Coisas. Contudo, devemos constatar que tal afirmação é
um equívoco, mas não estamos sozinhos. Grande parte da doutrina coloca os Direitos
Reais como sinônimo dos Direitos das Coisas.
86
formas de Direitos das Coisas, mas não todas. Isso porque o Livro III do Código Civil, “Do
Direito das Coisas”, está separado em 11 títulos diferentes: o primeiro é a) Da Posse (Arts.
1.196 a 1.224); e, depois, b) Dos Direitos Reais (Arts. 1.225 a 1.227) – é nesse título, no Art.
1.225, que são elencados todos os Direitos Reais.
Elencamos todos os títulos do livro do Direito das Coisas do Código Civil por dois
motivos. O primeiro é para que você possa ter um guia, uma espécie de sumário, toda
vez que precisar se aprofundar sobre a legislação específica de cada uma das espécies
dos Direitos Reais. O segundo motivo é para deixar claro que a posse não se encontra
entre os Direitos Reais.
NOTA
O penhor, a hipoteca e a anticrese, além de outros institutos legais, são Direitos
Reais de Garantia. Serão analisados no último tema de aprendizagem desta
unidade, por isso, não nos aprofundaremos sobre eles agora.
87
3.1 ETIMOLOGIA
Buscar conceitos, jurídicos ou não, na etimologia – estudo da origem das
palavras – pode ser interessante e confuso ao mesmo tempo. Com a palavra “posse”,
não é diferente. Isso porque, em português, ela é usada para diversas interpretações.
Por muitas vezes, ela se confunde com a palavra poder. Uma pessoa de posses, por
exemplo, é uma pessoa com muitos bens e, por isso, é uma pessoa com poder, ao
contrário das pessoas sem posses.
Apesar de toda essa confusão sobre o conceito de posse, o que nos importa
aqui é, prioritariamente, distinguir a posse do ter e do deter, ou seja, da propriedade e
da detenção.
O Art. 1.196 do Código Civil traz um conceito nada claro sobre a posse: “considera-
se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos
poderes inerentes à propriedade” (BRASIL, 2002, on-line).
3.3 DETENÇÃO
88
detenção ocorre quando a posse é exercida sob o comando de alguém de quem aquele que
detêm o bem se encontra em grau de dependência (Art. 1.198, CC).
INTERESSANTE
Um filho entrou com um pedido de usucapião requerendo a propriedade de
um imóvel da sua mãe, no qual já morava há 16 anos. Você acha que o juiz
deveria conceder?
Aquele, porém, que detém algo nunca age como possuidor ou como proprietário.
Sabe que não possui e nem que é dono da coisa. E o mais importante para o Direito: não
tem a vontade de ter a posse e nem de ser o proprietário do bem que detém.
NOTA
Os autores dos Direitos Reais explicam, com base em estudos até mesmo
do Direito Romano, que a posse possui dois elementos: a) a coisa (no latim,
corpus); e b) a vontade de ter a coisa como posse ou como proprietário (no
latim, animus domini). Aquele que tem a coisa sem o animus domini, como,
por exemplo, o detentor e o locatário, não exerce uma posse que requeira a
usucapião. Entretanto, nós só falaremos da usucapião no segundo tema de
aprendizagem!
A posse tem quatro classificações. Ela pode ser: a) justa ou injusta; b) de boa ou
má-fé; c) com ou sem justo título; e d) direta e indireta. Contudo, uma posse, claro, pode
ser classificada em diversos desses elementos, a depender do critério. Uma posse pode
ser injusta e com justo título, por exemplo.
A posse justa, para o art. 1.200, CC, é aquela que não é violenta, clandestina
ou precária. Por outro lado, as posse injustas são aquelas viciadas (defeituosas) desde
a sua origem. Posse violenta é aquela que se adquire “por ato de força, seja ela natural
89
ou física, seja moral ou resultante de ameaças que incutam na vítima sério receio”
(PEREIRA, 2017, p. 42). A posse clandestina é exercida com ocultamento, escondendo
a posse da pessoa que possui posse ou propriedade da coisa. Já a posse precária é
exercida por aquele que tem a obrigação de restituir, mas “arroga-se a qualidade de
possuidor, abusando da confiança, ou deixando de devolvê-la ao proprietário, ou ao
legítimo possuidor” (PEREIRA, 2017, 43).
O justo título, por sua vez, é aquele que dá a quem tem a posse a ideia ou a
convicção de que ela é justa. Um justo título, por exemplo, é um contrato de compra e
venda, porque aquele que compra tem um documento hábil (título) que dá a ideia de
que exerce a posse de maneira justa. Entretanto, não são apenas documentos oficiais
ou formais que podem ser entendidos como título justo. O possuidor pode exercer uma
posse “a título hereditário”, por exemplo, quando os pais falecem e ele fica na posse
do imóvel, ainda que não feita, legalmente, a partilha de bens. Assim, o termo título,
na caracterização de uma posse a justo título, significa a causa ou o elemento criador
daquela posse, e não necessariamente um título público ou um outro documento.
Por fim, a posse direta e a indireta coexistem, não são opostas. Ou seja, o
possuidor direto é aquele que está usando e fruindo do bem diretamente, enquanto
há outra pessoa que possui a posse, mas não usa ou frui dela diretamente, apenas
de maneira mediata, indiretamente. Explicando com um exemplo, fica mais claro: em
um contrato de locação de imóvel, aquele que está locando o imóvel (o inquilino) é o
possuidor direto da coisa, possui o imóvel, usa e frui, de maneira direta a depender do
contrato que firma com o proprietário do bem. Já a pessoa que está locando o imóvel
possui a posse de modo indireto, não deixa de ter a posse, mesmo que indiretamente
em favor do inquilino.
IMPORTANTE
Não é totalmente correto que apenas o proprietário de uma coisa seja o
possuidor indireto. É possível que alguém não tenha a propriedade da coisa e,
mesmo assim, exerça a posse indiretamente.
90
3.5 QUANDO NASCE A POSSE
As diversas formas para se classificar a posse dão a clara noção de que ela
pode ser adquirida de diversas formas: com legitimidade ou não; de maneira violenta,
clandestina e precária; com justo título ou não.
91
NOTA
Uma coisa que pode ter gerado uma pulga atrás da sua orelha, acadêmico, é
sobre como se prova que existe a posse ou em que momento ela se constitui.
Essa é uma dúvida que não consegue ser resolvida completamente, nem
mesmo pelos autores do Direito. Isso porque essas definições se tratam,
na maioria das vezes, de interpretação subjetiva que será dada por alguém
que tenha que resolver algum conflito – um mediador, um titular de registro
público, um juiz, por exemplo.
As leis não conseguem oferecer respostas exatas para todas as situações que
ocorrem cotidianamente, porque a sociedade não vive situações organizadas,
como são as leis. Não lemos as leis e classificamos nossas condutas para, depois,
executá-las, mas, justamente, o contrário. Cabe ao Direito fornecer algumas
ferramentas para que o jurista, e você, como despachante documentalista,
encontre soluções para as relações que a sociedade realiza.
Dito isso, o que estudamos é o dever ser, e não como as situações ocorrem
naturalmente. Assim, a prova do momento em que começa a existir a posse
depende de elementos comprobatórios diversos, como fotos, testemunhos,
depoimentos, que serão interpretados por quem quer que seja chamado para
resolver o conflito, até mesmo o despachante documentalista.
Outro ponto importante é disposto no Art. 1.208, CC: “não induzem posse os
atos de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os
atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade”
(BRASIL, 2002, on-line). Assim, enquanto exercida por permissão e tolerância, o uso, a
disposição e o gozo do bem, não ocorre a posse. Ainda, a posse só se torna legítima
quando não é exercida a partir de violência ou de clandestinidade.
IMPORTANTE
Se a propriedade e os demais direitos reais só nascem com a publicidade
jurídica do ato jurídico, a partir do registro (art. 1.227, CC), este não é o caso da
posse e da detenção. Elas começam a existir quando o possuidor passa a agir
como se possuidor fosse. Por isso, a posse, em geral, não é objeto de registro
no Registro de Imóveis. No entanto, a posse pode ser objeto de registro no
caso de ser legítima (Art. 167, inciso I, alínea 41, Lei nº 6.015/73).
92
4 PROPRIEDADE
Já adiantamos que a propriedade, no Código Civil brasileiro, é dada como a
faculdade de usar, gozar e dispor de alguma coisa e, também, de reavê-la do poder de
outra pessoa que, injustamente, a detenha ou possua (Art. 1.228, CC). Por isso, é “o mais
amplo dos direitos reais” (GOMES, 2012, p. 103).
Outros autores, é claro, defendem a propriedade como uma extensão até mesmo
do corpo do homem. Não é nossa intenção discutir sobre as origens da propriedade e,
muito menos, das desigualdades. Por isso, nos ateremos aos aspectos jurídicos deste
que é, sem dúvida, o mais importante dos Direitos Reais.
A Constituição Federal de 1988 dispõe, no Art. 170, que são princípios da ordem
econômica, dentre outros, tanto a propriedade privada como, também, a função social
da propriedade. Ainda, a Carta de 88 apresenta preocupação quanto à reforma agrária,
a fim de diminuir desigualdades sociais. Dispõe o Art. 184, CF, que:
93
Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para
fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua
função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da
dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis
no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão,
e cuja utilização será definida em lei (BRASIL, [2016], on-line).
O que a propriedade deve cumprir para que seja a sua função social é elencado
no Art. 9º da Lei nº 8.629/93.
Conforme o artigo 182, § 2º, CF, “a propriedade urbana cumpre sua função social
quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano
diretor” (BRASIL, [2016], on-line). O Estatuto das Cidades, como ficou conhecida a Lei nº
10.257/2001, regulamenta sobre o uso do solo urbano.
94
INTERESSANTE
A limitação de altura de um imóvel é dada pelas Lei Municipais de zoneamento
urbano. Para esses limites de altura de construções, são levados em conta
diversos aspectos, como fatores históricos, de infraestrutura dos bairros,
número de equipamentos urbanos para atender às pessoas que viverão
naquele edifício, por exemplo. É possível, porém, que a rota de aviões seja
desviada para atender à necessidade de proprietários de terrenos que queiram
construir imóveis altos.
Além dessa limitação ao uso da propriedade, outras são dadas pelas leis, como o
Plano Diretor, que, dentre outras coisas, classifica a altura máxima que um edifício urbano
pode ter em determinada zona e, mesmo, o quanto de uso do solo é mínimo e máximo.
Da mesma forma, o parágrafo primeiro do Art. 1.228, CC, limita o poder inerente
à propriedade à função social que ela possa exercer. Literalmente, o dispositivo fala que:
Logo, existem muitos limitantes aos direitos inerentes à propriedade – uso, gozo,
disposição –, como a função social da propriedade, as leis de uso do solo e, mesmo, as
leis ambientais nacional e municipais. Entretanto, afirma Pereira (2017, p. 95):
95
NOTA
Durante todo o estudo dos Direitos Reais, você poderá notar como as
características desses direitos são voláteis, ou seja, repletas de exceções.
Isso acontece porque o Direito, como um todo, não se distancia da cultura e
dos costumes. Esses costumam sempre modificar, modificando, também, o
Direito. Desde seu princípio, o Direito se molda pela cultura e pelos costumes.
O primeiro Código Civil brasileiro é de 1916, mas muitos institutos do Código
atual, de 2002, já eram aplicados pela jurisprudência mesmo que ainda não
codificados entre esse intervalo de tempo entre o Código antigo e o novo.
Dispõe o Art. 1.232 do Código Civil que os frutos e mais produtos da coisa, ainda
que separados dela, pertencem ao proprietário da coisa. Contudo, a exceção aparece:
a) quando por preceito jurídico especial pertencem a outra pessoa (Art. 1.232, CC); e
b) quando “a propriedade do solo não abrange as jazidas, minas e demais recursos
minerais, os potenciais de energia hidráulica, os monumentos arqueológicos e outros
bens referidos por leis especiais” (Art. 1.230, CC) (BRASIL, 2002, on-line).
96
4.1.2 Desapropriação, requisição e expropriação
Uma das formas como o Estado pode controlar e regulamentar a propriedade
é o instrumento da desapropriação. Existem três modalidades: a) desapropriação por
necessidade ou utilidade pública ou interesse social; b) a desapropriação sanção;
e c) a desapropriação para a reforma agrária. Há, ainda, um quarto instituto, em que
a propriedade privada é tomada pelo Estado sem qualquer indenização, nesse caso,
chama-se de expropriação.
ESTUDOS FUTUROS
Estudaremos o instituto do parcelamento, que pode se dar por loteamento ou
desmembramento, no próximo ponto.
97
A desapropriação para fim da reforma agrária é regulamentada pelo Art. 184
da Constituição Federal e Art. 5º da Lei nº 8.629/1993. O pagamento da indenização
é realizada mediante “prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária [...] [com]
cláusula assecuratória de preservação de seu valor real, serão resgatáveis [no prazo de
até vinte anos] a partir do segundo ano de sua emissão, em percentual proporcional ao
prazo” e cuja utilização será definida em lei (BRASIL, 1993, on-line).
98
Uma das características do objeto da propriedade, a coisa, é, segundo Orlando
Gomes (2012, p. 107, grifos do autor), a sua unicidade, isto é, “o objeto do direito
de propriedade há de ser coisa especificamente determinada”. No entanto, essa
característica também é mitigada, porque, quanto à coisa bem imóvel urbano, é possível
o parcelamento. Ele é instrumento previsto no Estatuto das Cidades (Lei nº 10.257/2001).
A norma dispõe que o parcelamento é política pública que visa “permitir a redução
dos custos e o aumento da oferta dos lotes e unidades habitacionais” (Art. 2º, XV, Estatuto
das Cidades), bem como “promover a diversidade de usos e a contribuir para a geração de
emprego e renda” (Art. 42-A, I, Estatuto das Cidades) (BRASIL, 2001, on-line).
O parcelamento deve ser disciplinado pelo planejamento municipal (Art. 4º, III,
b, Estatuto das Cidades). Isto é, embora seja uma política pública para a geração de
emprego, renda e aumento dos locais de moradia, o parcelamento de imóveis urbanos
deve atender às regras de urbanização municipais, dispostas no planejamento municipal,
porque é nos municípios que as pessoas moram, e é esse planejamento que deve levar
em conta o oferecimento de serviços públicos como transportes, esgoto, água tratada.
Assim, para que ocorra o parcelamento, bem como qualquer edificação nova em um
imóvel, ele deve atender aos interesses municipais.
IMPORTANTE
Lembre-se: já dissemos que o parcelamento pode ser utilizado pelo
Poder Público Municipal como instrumento de sanção, com o fim de dar à
propriedade a função social exigida para todos as propriedades. Nesses
casos, o parcelamento é coercitivo, ou seja, é uma forma do Estado coagir o
proprietário para que dê um fim social para sua propriedade imóvel urbana.
Não é, portanto, um ato de vontade do proprietário.
99
4.1.4 Copropriedade: condomínio, condomínio edilício e
multipropriedade
Dessa forma, o Código Civil brasileiro regulamenta, em se Art. 1.314, que “cada
condômino pode usar da coisa conforme sua destinação, sobre ela exercer todos os
direitos compatíveis com a indivisão, reivindicá-la de terceiro, defender a sua posse
e alhear a respectiva parte ideal, ou gravá-la”. Justamente por isso, cada condômino
(coproprietário do bem) deve, “na proporção de sua parte, a concorrer para as despesas
de conservação ou divisão da coisa, e a suportar os ônus a que estiver sujeita” (Art.
1.315, CC) (BRASIL, 2002, on-line).
Isso não significa, contudo, e é preciso deixar claro que cada um dos condôminos
tenha direito a uma parte material da coisa, mesmo das coisas imateriais, como, por
exemplo, uma composição. Não há como ser desmembrada ou loteada para que cada
um dos coproprietários possam delas gozar, usar ou dispor. No condomínio, cada um dos
proprietários possui uma cota ou fração ideal da coisa, e dela pode exercer os Direitos da
Propriedade conforme suas frações ou conforme disposto em contrato.
100
Figura 4 – Prédios residenciais
Os condomínios edilícios são
formas de condomínio convencionais.
Eles são regulados pelos Arts. 1.331
a 1.358 do CC. Há, ainda, uma outra
forma de condomínio convencional
que se constitui como condomínio
de lotes, regulamentados pelo Art.
1.358-A do CC. Nestes, há lotes
de propriedade comuns e lotes de
propriedade exclusiva.
Código Civil. Esse tipo de copropriedade se caracteriza pela divisão do direito de uso e
gozo da coisa em períodos de tempos pré-determinados. Nesse tipo de copropriedade,
é possível que diversas pessoas exerçam os poderes de propriedade – usufruto, gozo –
por um determinado tempo. Durante um tempo determinado por contrato e por registro
do imóvel, somente uma pessoa pode exercer os poderes.
ESTUDOS FUTUROS
A forma como é feito o registro e o contrato nesse tipo de copropriedade será
explorada no momento que realizarmos o estudo sobre a publicidade jurídica
dos Direitos Reais.
101
INTERESSANTE
A Lei fala apenas da multipropriedade da coisa imóvel. Não há previsão
legal, ainda, para a multipropriedade de coisa móvel, como de uma bicicleta.
Há sugestões legislativas para a regulamentação de propriedade de coisas
móveis. Você pode ler um artigo sobre elas aqui: https://www.migalhas.com.
br/coluna/migalhas-notariais-e-registrais/354161/condominio-especial-de-
multipropriedade-sobre-bens-moveis.
ESTUDOS FUTUROS
No próximo ponto, estudaremos, especificamente, a publicidade jurídica da
aquisição de propriedade de coisa imóvel, bem como as diversas formas de
transação entre pessoas e de seus direitos sobre as coisas.
Outras formas de adquirir uma coisa móvel que não possua proprietário é a
ocupação, quando se descobre algo que não possua dono (Art. 1.263, CC), bem como o
achado de tesouro. Nesse último caso, a propriedade de quem achou é dividida com o
proprietário do local onde o tesouro foi encontrado (Art. 1.264, CC).
102
IMPORTANTE
No entanto, quando se descobre algo que possui proprietário, não se adquire
a propriedade dessa coisa. Não vale, para o Direito, a máxima “achado não é
roubado, quem perdeu é relaxado”. Aquele que acha, no entanto, tem direito à
compensação (Art. 1.234, CC).
A acessão é forma de adquirir coisa imóvel ou móvel. Esse termo deriva do verbo
aceder, que significa aumentar, incrementar. Assim, uma acessão acontece quando,
por fenômeno natural ou artificial, a propriedade de alguém sobre uma coisa móvel ou
imóvel aumenta, mesmo que isso decorra da perda de propriedade de outra pessoa.
• Formação de ilhas: nesse caso, a ilha pertence aos proprietários ribeirinhos fronteiros
(Art. 1.249, CC).
• Aluvião: os acréscimos de depósitos e aterros naturais ao longo das margens da
corrente pertencem ao dono do terreno acrescido (Art. 1.250, CC).
• Avulsão: acontece quando, por fenômeno da natureza, uma parte de um imóvel
acresce ao outro. Nesses casos, diferente do que acontece na aluvião, aquele que
tem seu imóvel acrescido deve indenizar o proprietário do imóvel diminuído, mas
apenas se a pessoa reclamar em até um ano.
• Quando, por fenômeno natural ou por obra humana, o curso de um rio seca, a
propriedade do terreno resultante pertence aos proprietários das margens ribeirinhas,
sem qualquer indenização. Nesse caso, o nome jurídico é álveo abandonado (Art.
1.252, CC).
103
proprietários de um mesmo imóvel, no caso dos condomínios, dos condomínios de lotes
e das multipropriedades.
A Lei nº 6.015/73 dispõe, em seu Art. 167, que serão objeto de inscrição no
Registro de Imóveis: a) as incorporações, instituições e convenções de condomínio
(inciso I, alínea 17); b) os loteamentos urbanos e rurais (inciso i, alínea 19); c) os julgados e
atos jurídicos entre vivos que dividirem imóveis ou os demarcarem, inclusive, nos casos
de incorporação que resultarem em constituição de condomínio e atribuírem uma ou
mais unidades aos incorporadores (inciso I, alínea 23); d) a alienação de imóvel (inciso I,
alínea 29). Ainda, será objeto de averbação a notificação para parcelamento, edificação
ou utilização compulsória de imóvel urbano (inciso II, alínea 18) (BRASIL, 1973).
104
caracterize a renúncia ou abandono. Quando o imóvel é abandonado, após três anos
desse abandono, passa a ser considerado de propriedade do estado ou do município –
se imóvel urbano – ou da União – se imóvel rural (Art. 1.276, CC).
NOTA
É lei municipal que define se alguma área é considerada rural ou urbana.
105
de posse, uso, administração e percepção dos frutos de propriedade alheia. Essa forma
de cessão de direitos reais também somente se constituirá com o registro em Registro
de Imóveis (Art. 1.391, CC) (BRASIL, 2002).
Por sua vez, o Direito Real de Uso difere do Usufruto porque a pessoa apenas
usará do bem e dos frutos necessários para ele e para a sua família (Art. 1.412, CC). O
Direito de Habitação, por fim, tem como característica o uso específico, o de moradia
própria e da família.
6 SERVIDÃO
Para Pereira (2017, p. 395), tal direito não deveria figurar entre os direitos reais,
trata-se de um “problema taxonômico”. Taxonomia é classificação de coisas em gêneros,
106
espécies, disciplinas. Assim, a classificação do direito do promitente comprador como um
direito real é controversa, visto se tratar de um contrato em duas pessoas. De fato, parece-
nos que se trata de um negócio jurídico realizado pelo proprietário e uma pessoa alheia, e
os negócios jurídicos serão objeto de estudo no nosso segundo tema de pesquisa.
Apesar de tal digressão, o Art. 1.417, CC, dispõe que, mediante uma promessa
de compra e venda, o promitente comprador adquire o “direito real à aquisição do bem”
(BRASIL, 2002, on-line). Isso significa que, quando duas pessoas afirmam, em documento
oficial ou qualquer outra forma de relação, que comprarão e venderão algo, aquele que
comprou a coisa adquire não apenas o direito legal de ter a coisa, mas, para a legislação,
trata-se, já, de um Direito Real sobre a coisa, mesmo que ela ainda não exista.
O proprietário de uma construção pode ceder tanto a parte superior quanto a parte
inferior do imóvel de que é proprietário. Nesse caso, o novo titular, cessionário (que adquire
a cessão), deve manter uma unidade distinta da construção original. É o que dispõe o Art.
1500-A do Código Civil. Trata-se de uma cessão em que o titular da cessão terá direito de
usar, gozar e dispor da nova unidade distinta. A laje é registrada em matrícula autônoma
da construção-base (Art. 1.500-A, §3º, CC; Art. 176, § 9º, Lei nº 6.015/73).
107
9 CONCESSÕES ADMINISTRATIVAS DE USO DE BEM
PÚBLICO
Os últimos dois tipos de Direitos Reais que estudaremos – que, por sinal, são
os mais novos incluídos no rol do Art. 1.225 do Código Civil – têm mais relação com o
Direito Administrativo – Direito relacionado com a Administração Pública – do que com
o Direito Civil, propriamente dito. São a concessão de uso especial para fins de moradia
(Art. 1.225, XI, CC) e a concessão do Direito Real de Uso (Art. 1.225, XII, CC).
Os dois institutos devem ser entendidos sob um aspecto fundamental. Uma das
características dos bens público – bens que pertencem às entidades públicas – é que elas
são inalienáveis, não podem ser vendidos nem doados. Contudo, nas circunstâncias desses
dois Direitos Reais, tal princípio esbarra em um direito fundamental, o Direito à Moradia.
Queremos dizer que esses Direitos Reais são concedidos com base nos direitos
fundamentais incluídos na Constituição Federal de 88, especialmente, o art. 6º, caput, CF,
que dispõe que a moradia é um direito social. São políticas públicas, destinadas a garantir
direito fundamental, como também a regularização fundiária (ALVARENGA, 2008).
Assim, a concessão de uso especial para fins de moradia não é uma forma
de transferir a propriedade de um bem público para terceiros. O que se transfere é o
domínio e o uso da coisa, e não a sua propriedade.
108
9.2 CONCESSÃO DE DIREITO REAL DE USO
• Para bens imóveis comerciais de âmbito local, com área de até 250 m² e destinados
a programas de regularização fundiária de interesse social desenvolvidos por órgão
ou entidade da Administração Pública (Art. 76, I, g, Lei nº 14.133/2021). Nesse caso,
a concessão de uso se dá também entre órgãos da Administração Pública, mas o
interesse é apenas da regularização fundiária. Além disso, nesse caso, os imóveis
com direito de uso cedido são comerciais.
NOTA
A Lei nº 11.952/2009 dispõe sobre a regularização fundiária das ocupações
incidentes em terras situadas em áreas da União no âmbito da Amazônia
Legal. O limite para a concessão de uso é de 2.500 hectares.
109
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
• que o proprietário pode ceder os poderes de uso, gozo e disposição de suas coisas
a partir do Direito de Superfície, Usufruto, Uso, Habitação e da Laje;
• que, embora a Administração Pública não possa alienar seus bens, ela pode ceder o
uso de bens para moradia e uso de cidadãos e para outros entes públicos.
110
AUTOATIVIDADE
1 Embora sejam termos e institutos jurídicos sujeitos à confusão, possuir, deter e ser
proprietário de alguma coisa tem, para o Direto, significados diferentes. Com base
nessa distinção, assinale a alternativa CORRETA:
2 Dispõe o Art. 1.227 do Código Civil que: “os direitos reais sobre imóveis constituídos,
ou transmitidos por atos entre vivos, só se adquirem com o registro no Cartório de
Registro de Imóveis dos referidos títulos (arts. 1.245 a 1.247), salvo os casos expressos
neste Código” (BRASIL, 2002, on-line).
111
3 Conforme Caio Mário da Silva Pereira (2017, p. 269), sobre o Uso, o Usufruto e o
Direito de Habitação, “em verdade, não tem mais cabimento separá-los, senão por
amor à tradição histórica, de vez que o uso não passa de modalidade mais restrita
de usufruto, e a habitação reduz-se à especialização do uso em função do caráter
limitado da utilização”.
a) ( ) V - F - F.
b) ( ) F - V - V.
c) ( ) F - V - F.
d) ( ) F - F - V.
112
UNIDADE 2 TÓPICO 2 -
TROCANDO E ADQUIRINDO DIREITOS
REAIS
1 INTRODUÇÃO
Começamos este segundo tema de aprendizagem com uma indagação filosófica:
o homem – e a mulher – são seres sociais ou apenas seres biológicos? São seres maus,
isolados e individualistas?
Nós, na primeira unidade deste livro, expusemos que o Direito Moderno, o qual
vivemos, está baseado em conceitos de individualismo, de afastamento da complexidade
em favor da individualização das partes – seja em sociedade, seja em uma análise no
laboratório.
113
Para isso, nossa viagem começará com o levantamento dos conceitos de negócio
jurídico, obrigações e contratos. Depois, trataremos de estudar as formas de negócios
jurídicos previstas na legislação pátria. O último tema de estudo será a Usucapião, uma forma
de adquirir direito real de propriedade sem que necessariamente ocorra um negócio jurídico.
2 NEGÓCIOS JURÍDICOS
Figura 1 – Aperto de mão
114
A especialização é uma característica da nossa forma de viver. Dividimos
o trabalho entre os que fazem comida, os que colhem, os que cuidam das trocas
(comerciantes), os que transportam, os engenheiros, os médicos, os advogados. Cada
pessoa busca uma formação específica, um trabalho específico. Quanto mais especialista
em uma determinada área, mais é requisitado para resolver problemas específicos.
Assim, como afirma Paulo Nader (2018, p. 37), se o ser humano fosse apenas
autossuficiente, “não haveria fundamento para a divisão do trabalho e nem para
a sua decorrência natural: os contratos. O progresso das sociedades depende,
fundamentalmente, dos contratos, que atuam como verdadeira alavanca do
desenvolvimento”.
Uma das maneiras de chamar essas trocas é negócio. Contudo, assim como os
fatos jurídicos, que já conceituamos como tudo aquilo que acontece e que gera alguma
modificação para o Direito, gerando direitos e deveres e outros efeitos jurídicos, nem
toda troca, ou negócio, tem relevância para o Direito. Somente aquelas trocas que as
pessoas realizam com as coisas, com a natureza e com as outras pessoas, físicas ou
jurídicas, que geram direitos, deveres e outros efeitos jurídicos, recebem o nome de
negócios jurídicos.
Dito isso, Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona Filho (2020, p. 232) discorrem
que “negócio jurídico é a declaração de vontade, emitida em obediência aos seus
pressupostos de existência, validade e eficácia, com o propósito de produzir efeitos
admitidos pelo ordenamento jurídico pretendidos pelo agente”.
IMPORTANTE
Atenção! Embora os negócios jurídicos pressuponham a existência de, ao
menos, duas pessoas, existem negócios jurídicos unipessoais e pluripessoais.
São os casos, por exemplo, do testamento, que declara a vontade de alguém
de transferir a posse ou a propriedade de seus bens para outra pessoa; da
renúncia de direitos, que já comentamos anteriormente como forma de perda
do Direito Real de Propriedade; e da instituição de uma fundação, quando
uma pessoa física ou jurídica, pública ou privada, destaca uma parte de seu
patrimônio para a criação de uma entidade autônoma, como já expusemos na
primeira unidade deste livro. Como exemplo de negócio jurídico pluripessoal,
está a constituição de pessoas jurídicas, como as associações, as sociedades e
as empresas, que estudamos na Unidade 1.
Assim como os fatos jurídicos, as trocas relevantes para o Direito, que geram
efeitos jurídicos para a sociedade e para alguma pessoa específica e que recebem o nome
de negócios jurídicos, também precisam ser publicizadas, contando-se com as mesmas
advertências quanto aos fatos jurídicos, ou seja, desde que a publicidade não fira a honra
e a intimidade das pessoas, ou que não coloque o Estado ou a coletividade em risco.
115
2.1 VALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO
Há, é claro, todo um estudo da neurociência sobre o que faz com que as pessoas
tenham uma escolha ou uma vontade. Diversos fatores podem levar uma pessoa a
acreditar que tenha uma vontade quando, na verdade, é sugestionada a fazer alguma
coisa e, até mesmo, a defender uma ideia.
INTERESSANTE
Existem diversos vídeos no YouTube ensinando técnicas para influir na vontade
das pessoas. Um exemplo é a ciência do Neuromarketing, que estuda porque
as pessoas compram algo e visa influir para que as pessoas passem a consumir
mais acreditando que realizam tais compras baseadas na razão e na vontade.
Um exemplo é este vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=YEMf2EW7p5A.
Você também pode ler os livros de Yuval Harari. Eles apresentam uma visão
bem distinta sobre como os seres humanos têm suas vontades baseadas nos
meios, e não apenas por decisões internas.
Por sua vez, um negócio entre pessoas físicas e jurídicas, para ter validade
jurídica, possui três elementos de validade: a) pessoa capaz, ou seja, pessoa que não
seja relativamente ou absolutamente incapaz, como as crianças; b) o objeto da troca,
o direito, o serviço, a coisa que se trocará, tem que ser lícito, possível e, no mínimo,
determinável; e c) a forma jurídica da troca tem que constar de alguma lei ou, ao menos,
não ser proibida pelas leis (Art. 104, CC) (BRASIL, 2002).
116
2.2 CLASSIFICAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
INTERESSANTE
Você sabia que existem consórcios para diversos fins, inclusive, para viagens,
intercâmbios e cirurgias plásticas? Olha essa reportagem: https://globoplay.
globo.com/v/2816599/.
117
2.2.2 Negócios jurídicos gratuitos e onerosos
NOTA
O Código de Defesa do Consumidor (CDC), Lei nº 8.078/90, dispõe, nos Arts.
12 a 25, sobre a responsabilidade dos fornecedores quanto aos defeitos e aos
vícios dos produtos e serviços. Esse é um exemplo de elemento natural do
negócio jurídico. Não é preciso que sejam formalizadas as responsabilidades
dos fornecedores em um documento. Ela é natural da forma de negócio que
as pessoas realizam.
118
ESTUDOS FUTUROS
Quando nos aprofundarmos sobre os tipos de contrato possíveis pela
legislação, comentaremos alguns desses elementos acidentais possíveis.
3 CONTRATOS
119
NOTA
A manifestação de vontade é a característica principal dos contratos. Os
contratos são negócios jurídicos em que duas partes, a partir de manifestação
de vontade, firmam obrigações mútuas. O Código Civil está organizado de forma
que separa dois temas: Direito das Obrigações e Contratos. São disciplinas que
são separadas na graduação. Isto porque obrigações não necessariamente
partem da vontade de alguém cumprir. Existem obrigações que são impostas
pela lei, como a obrigação de cuidar dos filhos e dos idosos e a obrigação de
pagar imposto. Neste livro, não nos aprofundaremos nas obrigações, focando
nosso estudo nas trocas de Direitos Reais a partir dos contratos.
NOTA
Entre as diversas classificações dos contratos, existe uma que diz respeito
justamente à possibilidade e previsibilidade do objeto, ou seja, existem
os contratos comutativos, em que as partes preveem os resultados e as
contrapartidas mútuas, e os chamados contratos aleatórios, que dependem
da sorte (do latim alea). Isto é, o contrato aleatório “caracteriza-se, ao contrário
do comutativo, pela incerteza, para ambas as partes, sobre as vantagens e
sacrifícios que dele podem advir. A equivalência não está entre as prestações
estipuladas” (GONÇALVES, 2016a, p. 891).
120
INTERESSANTE
É possível realizar a compra e venda de terrenos dentro da realidade virtual.
Na verdade, mesmo antes da criação e do investimento do Facebook em uma
realidade paralela, o Metaverso, já era possível realizar a compra de diversas
coisas virtuais, como roupas para avatares em jogos, rodas para carros de
corrida virtual, por exemplo. Com a criação do Metaverso, a compra e venda de
terrenos virtuais se tornou um assunto debatido. Um dos argumentos usados
é que se compra e vende, na virtualidade, um objeto possível e determinado,
pois é um token, um pixel, algo desenvolvido por alguém. Para ler mais
sobre o assunto, acesse: https://www.infomoney.com.br/guias/terrenos-no-
metaverso/.
Cada tipo de contrato previsto no Código Civil trará suas formalidades específicas.
ESTUDOS FUTUROS
Teremos a oportunidade de estudar, especificamente, cada um dos tipos
possíveis de contratos de troca de Direitos Reais em tópico próximo.
121
3.2 FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO
• um, individual, relativo aos contratantes, que se valem do contrato para satisfazer
seus interesses próprios;
122
3.3 FORMAÇÃO DOS CONTRATOS
123
É possível, no entanto, que a parte que recebe a proposta apresente contraproposta,
modificando os elementos. Nesse caso, é entendido que a formalização do contrato
voltou para a segunda fase. Isto é, “a aceitação fora do prazo, com adições, restrições, ou
modificações, importará nova proposta” (Art. 431, CC) (BRASIL, 2002, on-line).
NOTA
Lembre-se: o que caracteriza um negócio jurídico e um contrato não é a
formalidade. Isso significa que não é preciso, na maioria das vezes, um
documento por escrito, oficial, para caracterizar um contrato de compra e
venda, uma oferta, um aceite da proposta, uma manifestação de vontade.
124
• Vontade de contratar, de ter o valor e de ter a coisa: são três os
elementos desse tipo de contrato: a) a vontade de firmar o contrato, disposta
em documento ou qualquer outra forma que demonstre a concordância do
comprador com a oferta do vendedor; b) o interesse do vendedor em ter o
dinheiro, o preço pelo domínio da coisa, em que as duas partes concordaram
em pagar e receber; e c) o interesse do comprador de ter a coisa.
• Significado de dinheiro: outra observação que se deve ter sobre o contrato
de compra e venda é quanto ao termo dinheiro. Por dinheiro, entende-se
a moeda corrente nacional, o Real. Contudo, não necessariamente, é claro,
que por dinheiro se deve entender apenas cédulas ou moedas de Real. O
“dinheiro”, que se dá em troca de um Direito Real, pode ser cheque, letra de
câmbio, duplicatas – se elas ainda existem –, bem como transações bancárias
de crédito ou débito e, mesmo, o Pix.
• O preço: o valor a ser pago pelo comprador pode ser determinado: a)
previamente entre os contratantes; ou b) eles podem deixar que seja
determinado por terceiro (Art. 485, CC), por preço de mercado em determinada
data (Art. 486, CC) ou qualquer outro índice (Art. 487, CC). Só não é possível
que apenas uma das partes fixem o valor a ser pago (Art. 489, CC).
• A coisa pode ser atual ou futura: um contrato de compra e venda pode ser
feito quando a coisa é atual, já existente, e mesmo de coisa futura. Assim, é
possível realizar uma compra e venda de algo que ainda não existe, mas se
presume que existirá – grãos de feijão que estão plantados, mas que ainda
não existem, por exemplo. Se a coisa não existir – uma queimada que destrua
toda a plantação –, porém, o contrato se torna sem efeito. A exceção se dá se
a intenção das pessoas era que o contrato fosse aleatório – alea: sorte, como
já explicamos anteriormente. É isso que dispõe o Art. 483, CC: “a compra e
venda pode ter por objeto coisa atual ou futura. Neste caso, ficará sem efeito
o contrato se esta não vier a existir, salvo se a intenção das partes era de
concluir contrato aleatório” (BRASIL, 2002, on-line).
• Despesas acessórias ao negócio: salvo se as partes convencionarem o
contrário, ficam às custas do comprador as despesas necessárias para o
registro e a escrituração da coisa, bem como a cargo do vendedor as custas
necessárias para a entrega da coisa – transporte, chaves, refrigeração, por
exemplo (Art. 490, CC).
125
coisa. Ainda, se, depois de realizada a venda, aquele que vende adquirir a propriedade,
entende-se que a transferência ocorreu desde a tradição – a entrega da coisa.
126
• Venda com reserva de domínio: embora o conceito de contrato de compra
e venda envolva a transferência do domínio de algo em troca de dinheiro, a
cláusula de reserva de domínio prevê que se entregue a coisa móvel para
alguém apenas como posse, deixando-se a transferência da propriedade
para quando houver o pagamento total da prestação em dinheiro. Ou seja,
como afirma Carlos Roberto Gonçalves (2016b, p. 78), com essa cláusula,
“o vendedor tem a própria coisa vendida como garantia do recebimento do
preço”. Essa cláusula só pode ser estipulada por escrito, e, para ter valor
perante terceiros, depende de registro no domicílio de quem comprou o
bem móvel (Art. 522, CC).
IMPORTANTE
Esta cláusula só é válida quando se tratar de compra e venda de coisas móveis.
No caso de coisa imóvel, trata-se de contrato específico. Estudaremos esses
tipos de contrato, chamados de Direitos Reais de Garantia, no terceiro tema de
aprendizagem desta unidade.
127
Figura 4 – Embarcação com contêineres
Outro tipo de contrato que as pessoas podem firmar por acordo de vontades é a
troca ou permuta. A grande diferença entre o contrato de compra e venda e o de permuta
é que, se, no de compra e venda, ocorre a troca de uma propriedade por dinheiro, o que
caracteriza o contrato de permuta ou troca é que ocorre a troca de uma propriedade
do vendedor por uma propriedade do comprador. Assim, as duas partes do contrato de
permuta têm a mesma obrigação, qual seja a obrigação de dar.
No Código Civil, esse tipo de contrato é disposto em apenas um artigo (Art. 533,
CC), por conta da semelhança entre ele e o contrato de compra e venda. No inciso I
deste artigo, dispõe-se que as despesas – com tradição, registro, por exemplo – serão,
exceto por disposição em contrário, arcadas pela metade por cada um dos contratantes
(BRASIL, 2002).
Salvo algumas exceções, é muito difícil que o preço estipulado pelas partes
pelas coisas seja totalmente igual, ou seja, na maioria das vezes, pode ser necessária
uma compensação em direito por uma das partes. Assim, poder-se-ia gerar uma dúvida
sobre quando o contrato é de compra e venda ou de permuta.
128
A doutrina afirma que, se mais da metade do valor da troca tiver que ser feito
em dinheiro, tratar-se-á de contrato de compra e venda, e não de permuta. Contudo,
acreditamos que esse tipo de dúvida é mais acadêmica do que prática.
Já dissemos que o Art. 104, III, CC, não exige que todas as formas de relação
de troca entre as pessoas estejam dispostas no Código Civil ou em qualquer outra lei.
Apenas exige que esse negócio jurídico não seja proibido.
Uma troca entre um bem por um serviço é um tipo de contrato inominado, não
tem seu nome previsto na legislação nem mesmo quais são seus elementos naturais
ou acidentais. Ele não é proibido pela legislação. No entanto, é preciso tomar cuidado
se ele não é realizado para obscurecer uma relação de trabalho ou, pior, uma situação
análoga à escravidão.
4.5 DOAÇÃO
É fácil entender do que se trata a doação apenas apelando para o senso
comum. Doação é a transferência gratuita da propriedade de algo para alguém. Ou seja,
é um negócio jurídico gratuito, sem que uma das partes tenha qualquer obrigação, a
princípio. No entanto, é preciso ter em mente, antes de tudo, que todos os contratos têm
como princípio a função social. E, muitas vezes, a doação é usada para esconder outros
tipos de relações, como, por exemplo, uma doação usada para esconder uma relação de
compra e venda, a fim de que não se incidam impostos.
129
4.5.1 Doação com ou sem encargo
Aquele que doa (doador) tem que demonstrar que deseja apenas dispor de seu
patrimônio em favor do beneficiário. Não pode haver a obrigação de realizar a doação, pois
ela é um ato de liberalidade. Também aquele que recebe (donatário) precisa concordar com
a doação. Ela é feita dentro do prazo estabelecido pelo doador. Contudo, se o donatário não
declarar que aceita dentro do prazo, não se manifestar, entende-se que ele aceitou o ato de
liberalidade, a não ser que seja uma doação com encargos (Art. 539, CC).
4.5.3 Formalidade
Conforme dispõe o Art. 541, CC, a doação deve ser feita por escritura pública
ou instrumento particular, embora, se a coisa for móvel e de baixo valor, ela se constate
apenas pela tradição (entrega da coisa) sem a manifestação contrária da doação de
nenhuma das partes.
Os que apresentamos até agora são tipos de contratos que envolvem a venda,
por dinheiro, e a troca, por outra propriedade, das coisas móveis e imóveis. No entanto,
alguns contratos dispostos no Código Civil – contratos nominados e típicos – versam
não sobre o Direito de Propriedade, mas sobre outros tipos de Direitos Reais, como o
Direito de Uso e Usufruto das coisas móveis ou imóveis.
130
• Obrigação de ceder o uso e o gozo: ao locador, possuidor ou proprietário,
está clara a sua obrigação contratual – a cessão do uso e gozo da coisa.
• A coisa: não é possível ceder algo possível de deixar de existir. É necessário
que a coisa seja não fungível, não seja consumível. Ainda, é possível se locar
tanto coisas móveis como imóveis. No entanto, a locação de alguns tipos de
coisas é regulamentada por outras legislações, que forma complementar ou
em substituição às regras do Código Civil. É caso, por exemplo, da locação de
imóveis urbanos, que é regulamentada por lei específica – a Lei nº 8.245/91,
Lei do Inquilinato (BRASIL, 1991).
• Tempo: o tempo da cessão do Direito de Uso e Gozo de algo é um dos
elementos do contrato de locação. Como dispõe o Art. 565, CC, esse
prazo pode ou não ser estipulado anteriormente pelas partes. No entanto,
mesmo que não seja estipulado em contrato, é característica do contrato
de locação que ele seja temporário, afinal, um contrato de locação perpétua
seria uma contradição (STOLZE; PAMPLONA FILHO, 2020). Se o tempo em
que as pessoas estipularam para a locação acabar, e não houver oposição
do locador sobre a pessoa continuar usando e gozando da coisa, presume-
se que a locação está prorrogada pelo mesmo valor do aluguel estipulado
anteriormente e que o contrato se tornou por prazo não determinado (Art.
574, CC). Se notificado e o locatário não devolver a coisa, deverá pagar valor
de aluguel estipulado pelo locador, a menos que seja excessivo, e pagar pelas
avarias que ocorrem (Art. 575, CC).
Figura 5 - Tempo
Retribuição: a cessão do uso e do gozo de algo para alguém, sem que seja exigida
uma recompensa. Em geral, a periodicidade da retribuição – o preço do aluguel – é mensal,
e a recompensa se dá em dinheiro. No entanto, não é proibida a recompensa em produtos
ou serviços, bem como a periodicidade do pagamento pode ser estipulada pelas partes.
131
5.2 EMPRÉSTIMO
O comodato diz respeito aos bens não fungíveis. Ao contrário do que acontece
na locação, no comodato, a pessoa que empresta a coisa não empresta com a vontade
de adquirir uma recompensa. Daquele que recebe a coisa fungível para uso e gozo não
é exigida uma recompensa em dinheiro ou qualquer outra forma. Assim como a locação,
existe um tempo determinado para o comodato. Assim, findo o prazo, aquele que recebe
a coisa, que pode ser móvel ou imóvel, deve devolver a coisa àquele que emprestou.
6 USUCAPIÃO
132
públicos. Por isso, como já vimos, o que o Estado costuma conceder são Direitos Reais
especiais de uso e de habitação quando o imóvel é ocupado por uma família ou um grupo
delas, até mesmo, a título de regularização fundiária. É possível que exista Usucapião
tanto de coisa móvel como de coisa imóvel. Agora, destrincharemos cada uma delas.
133
• Não ser o adquirente proprietário de outro imóvel, rural ou urbano.
• O imóvel urbano não pode ter mais que 250 metros quadrados.
• Usar o imóvel para moradia sua ou da sua família.
• Adquire-se a propriedade com a posse de cinco anos, exercida sem
oposição.
NOTA
Quando nos referimos à Concessão de Uso Especial para Fins de Moradia,
comentamos que ela era concedida na forma de Direito de Uso, justamente
porque não é possível que exista a Usucapião de bens públicos – móveis ou
imóveis. Assim, a Usucapião Especial Urbana e Rural só acontece quando o
imóvel que se adquire a propriedade é um bem particular, pertencente a uma
pessoa privada.
Figura 6 - Moradia
Nesses casos, o Estatuto das Cidades dispõe, em seu Art. 10, que é possível a
aquisição da propriedade do imóvel de maneira coletiva. São requisitos:
134
DICA
Quando nos referimos à Concessão de Uso Especial para Fins de Moradia,
comentamos que ela era concedida na forma de Direito de Uso, justamente
porque não é possível que exista a Usucapião de bens públicos – móveis ou
imóveis. Assim, a Usucapião Especial Urbana e Rural só acontece quando o
imóvel que se adquire a propriedade é um bem particular, pertencente a uma
pessoa privada.
135
a propriedade dessa forma pode e deve exercer a publicidade jurídica dessa aquisição.
Existem duas formas para essa publicidade ser realizada.
136
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
• que os contratos são uma espécie de negócios jurídicos, bem como as suas
características;
137
AUTOATIVIDADE
1 Para Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona Filho (2020, p. 232), “negócio jurídico é a
declaração de vontade, emitida em obediência aos seus pressupostos de existência,
validade e eficácia, com o propósito de produzir efeitos admitidos pelo ordenamento
jurídico pretendidos pelo agente”.
a) ( ) Um negócio jurídico somente pode ser firmado por duas pessoas. Se for firmado
por apenas uma é uma obrigação. Se for firmado por mais de uma, é um acordo.
b) ( ) Nem todas as trocas entre as pessoas são reconhecidas como negócios jurídicos,
mas apenas aquelas que têm alguma relevância jurídica.
c) ( ) Para ser considerado um negócio jurídico, ele deve envolver questões patrimoniais.
d) ( ) Pelo Princípio da Publicidade, só existe um negócio jurídico a partir do momento
que for devidamente publicizado.
2 Dispõe o Art. 481, CC, que “pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes
se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em
dinheiro” (BRASIL, 2002, on-line).
Com base no conceito legal, bem como no estudo dos contratos de compra e venda,
analise as sentença a seguir:
138
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) V - F - F.
b) ( ) V - F - V.
c) ( ) F - V - F.
d) ( ) F - F - V.
139
140
UNIDADE 2 TÓPICO 3 -
GARANTIAS
1 INTRODUÇÃO
Nos temas anteriores, focamos nosso estudo nas formas de Direitos que as
pessoas exercem sobre as coisas móveis e imóveis, bem como nas formas de trocas de
Direitos Reais por dinheiro e por Direitos Reais sobre outras coisas. Nosso estudo se deu,
basicamente, sobre o patrimônio, o conjunto de bens que as pessoas possuem.
Nesta última etapa de estudo desta unidade, falaremos do patrimônio como uma
garantia. Ou seja, o patrimônio é, muitas vezes, a forma que as pessoas têm de responder
sobre suas obrigações. Como defende Pereira (2017, p. 290), “pelos débitos, assumidos
voluntariamente ou decorrentes da força da lei, respondem os bens do devedor, tomado
o vocábulo ‘bens’ em sentido genérico, abrangentes de todos os valores ativos de que
seja titular”. Como aponta o professor, nem sempre foi assim, e a garantia que recai
sobre o patrimônio é uma vitória civilizacional. É melhor que as pessoas paguem por
suas obrigações a partir de seus bens do que a partir da sua própria vida.
141
2 GARANTIAS
O aval é regulamentado pelo Art. 897, CC. Ele tem o objetivo de garantir o
pagamento de algum tipo de título de crédito, como, por exemplo, um cheque. Ou seja,
o “avalista” é a pessoa, alheia às partes de um título de crédito – o credor e o devedor –
e que garante que aquele pagamento será realizado – se não pelo credor original, pelo
próprio avalista, que pode entrar em ação de cobrança contra o credor original. O aval
somente tem validade se contar com a assinatura do avalista.
Figura 1 - Cheque
142
dado pelo avalista, mas a figura do garante solidário se confunde com o de devedor. Ele
e o devedor devem responder solidariamente à dívida, mesmo que apenas um deles seja
quem esteja com a coisa, por exemplo.
3 ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA
Figura 2 - Viajantes
143
• A coisa: a reserva de domínio só é aplicável para a compra e venda de
coisas móveis, enquanto é possível realizar a alienação fiduciária tanto de
coisas móveis como de coisas imóveis.
• Propriedade fiduciária: na alienação fiduciária, o credor transfere ao
devedor a propriedade, embora seja uma forma precária de propriedade,
que só se concretiza com o pagamento total do preço acordado pelos
contratantes. Já no caso da cláusula de reserva de domínio, a pessoa
que está vendendo a coisa móvel transfere apenas a posse para quem
está comprando, esperando para transferir a propriedade para quando o
preço estiver totalmente pago.
144
ser oferecidos por aqueles que podem alienar a coisa. Se houver copropriedade, todos
os proprietários devem concordar com a garantia real; somente podem se impor sobre
coisas que podem ser alienadas.
Por se tratar de Direito Real de Garantia, entende-se que esses direitos são
acessórios ao contrato principal de transferência de Direitos Reais.
4.1 PENHOR
O penhor é realizado sobre coisas móveis. Ele se distingue em: penhor rural –
agrícola e pecuário; penhor industrial e mercantil; penhor de direitos e títulos de créditos;
penhor de veículos; e penhor legal. Quando se tratar do penhor de direitos e títulos de
créditos e penhor legal, a posse da coisa móvel é transferida para o credor. Nos demais
casos, permanece com o devedor, que deve guardar e conservar (Art. 1.431, CC).
• Da mesma forma, o dono de imóvel pode reter, por penhor, as coisas móveis
dos rendeiros ou inquilinos.
145
4.2 HIPOTECA
Se o penhor é realizado sobre coisa móvel, a hipoteca tem por objeto a coisa
imóvel e, também, se aplica sobre navios e aeronaves. Também podem ser objetos de
hipoteca, ainda, os direitos – o Direito de Uso Especial para fins de moradia e o Direito
Real de Uso.
• Pelo coerdeiro. Nesse caso, aquele que não está com o imóvel herdado –
por exemplo: um dos filhos mora na casa dos pais, e os seus irmãos são
coerdeiros – tem, sobre o imóvel herdado, o direito de hipoteca legal sobre
o imóvel.
146
4.3 ANTICRESE
A anticrese é garantia real que recai sobre os frutos e rendimentos, e não sobre a
propriedade total do imóvel – que envolve, também, o Direito de Uso e disposição da coisa.
No caso da anticrese, o devedor pode oferecer ao credor que assuma o direito de usufruir
dos frutos e dos rendimentos de imóvel, a fim de garantir o pagamento de uma dívida.
Embora o Código Civil não exemplifique que apenas bens imóveis podem ser
colocados em anticrese, a doutrina entende que tal tipo de garantia real se dá apenas
sobre coisas imóveis. A publicidade da anticrese é realizada no Registro de Imóveis do
local onde se encontra o imóvel.
147
LEITURA
COMPLEMENTAR
USUCAPIÃO DE FILHO QUE MORA EM IMÓVEL DA MÃE: PODE ISSO?
Diante de diversos casos complexos que lido em minha vida profissional, tive
que escrever este breve artigo a ponto de querer ainda mais me aprofundar à temática,
a qual tive como inspiração.
É inegável que o acesso à informação por meio da internet é algo positivo para a
sociedade. No entanto, é preciso evitar informações errôneas e precipitadas, como aquela
velha frase: “eu ouvi dizer” ou “me contaram que eu tenho direito”. Não é bem assim!
O caso inspirador deste artigo: uma mãe que, há mais de 16 anos, entregou um
de seus imóveis para que seu filho morasse, autorizado por seus irmãos. Ocorre que a
mãe, por problemas financeiros e por saber que seu filho já havia comprado um imóvel
financiado em seu nome, resolveu pedir a posse amigável para o filho, no entanto, para
sua surpresa, ele diz: “não devolverei o imóvel, pois possuo o direito sobre ele, a senhora
o perdeu pelo desuso. Entrarei com usucapião e pronto!”.
[...]
Em primeiro lugar, não vislumbro sequer uma possibilidade, nem mesmo mínima,
de direito por parte do filho que pretendia adquirir o imóvel por meio de usucapião, seja
quais espécies fossem! Detenção e posse são coisas distintas. Considera-se possuidor
todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes
à propriedade. A detenção é aquela situação em que alguém conserva a posse em nome
de outro e em cumprimento às suas ordens e instruções.
148
No caso, o filho possuía apenas a detenção sobre o bem imóvel, pois a relação
jurídica entre mãe e filho se caracterizou como comodato (empréstimo), ainda que
ausente de formalidade, por escrito, sendo válido verbalmente. De fato, a proprietária
transferiu a posse direta e manteve como indireta, sendo, portanto, ausente, ao filho,
“animus domini”, devido à posse precária.
Nesse sentido, conclui-se que a mãe apenas empresou o imóvel e o filho detém
o imóvel, mas não é possuidor do bem, não obtendo o direito a promover nenhum tipo
de usucapião.
Caso a mãe pense antes de promover a referida ação, deixando o seu filho no
imóvel, o caminho é instrumentalizar com um documento específico, a fim de proteger
seu bem imóvel contra problemas futuros.
Fonte: https://drluizfernandopereira.jusbrasil.com.br/artigos/700800143/usucapiao-de-filho-que-mora-
-em-imovel-da-mae-pode-isso. Acesso em: 6 abr. 2023.
149
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
150
AUTOATIVIDADE
1 A garantia é instrumento importante para o capitalismo, pois pode servir de respaldo
para que pequenas e grandes trocas de coisas, serviços e informações sejam
realizadas, pois as duas partes se sentem seguras para realizar essas trocas. A partir
da garantia, as partes convencionam sem correrem o risco de não poderem cumprir
com suas obrigações ou não terem as obrigações da outra parte cumpridas.
Com base nas definições sobre a alienação fiduciária, analise as sentenças a seguir:
II- Tanto na alienação fiduciária como na compra e venda com cláusula de reserva de
domínio, quem vende está transferindo apenas a posse do bem. Assim, a pessoa que
compra adquire a propriedade apenas quando terminar de cumprir a sua obrigação
– a obrigação de pagar.
151
Assinale a alternativa CORRETA:
3 O Código Civil dispõe explicitamente sobre três tipos de Direitos Reais de Garantia,
dentre eles, o penhor.
( ) Somente nos casos de penhor de direitos e títulos de créditos e penhor legal a posse
da coisa móvel é transferida para o credor.
( ) Deve ser dada a publicidade jurídica, no Registro de Imóveis, de todo tipo de penhor.
( ) Penhor é uma forma de dispor a garantia do pagamento de uma dívida. Assim, trata-
se de um contrato em que o devedor coloca à disposição seus bens para garantir
que os contratos e as obrigações serão cumpridos. Dessa forma, apenas o contrato,
devidamente publicizado, é instrumento legal de penhor.
a) ( ) V - F - F.
b) ( ) V - F - V.
c) ( ) F - V - F.
d) ( ) F - F - V.
4 O penhor, a hipoteca e a anticrese são tipos de Direitos Reais de Garantia que estão
previsto no Código Civil brasileiro. A partir deles, é gravado, na propriedade e no
Registro, que aquele móvel ou imóvel foi dado em garantia ao pagamento de alguma
obrigação. Existem características que diferenciam cada um desses tipos de Direitos
Reais de Garantia. Disserte sobre essas diferenças levando em conta dois aspectos:
que tipo de coisa – móvel ou imóvel – pode ser penhorada, hipotecada ou colocada
em anticrese? E o que o devedor oferece como garantia em cada um desses institutos
– a propriedade, o uso ou o usufruto?
5 A principal diferença entre o penhor e a hipoteca está no fato de que recaem sobre
tipos de coisas – móveis ou imóveis – diferentes. Nos dois tipos de Direitos Reais, no
entanto, a lei reserva uma forma legal para que eles passem a existir. São os casos do
penhor legal e da hipoteca legal. Explique em que situações eles ocorrem.
152
REFERÊNCIAS
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mento de Regularização Fundiária e Acesso à Moradia. Revista de Direito Imobiliá-
rio, v. 65, p. 61, jul. 2008. Disponível em: https://www.cjf.jus.br/caju/FUNDIARIA-2.pdf.
Acesso em: 3 mar. 2023.
153
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília, DF:
Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 11 jan. 2002. Disponível em: https://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso em: 3 abr.
2023.
GOMES, O. Direitos Reais. 21. ed. rev. atual. Rio de Janeiro: Forense, 2012.
GONÇALVES, C. R. Direito Civil: obrigações: contratos: parte geral. 11. ed. São Paulo:
Saraiva Educação, 2021. v. 1.
MIRANDA, P. de. Direito das Coisas: direitos reais limitados. Enfiteuse. Servidões. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2012.
NADER, P. Curso de Direito Civil: contratos. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018. v. 3.
154
ROUSSEAU, J.-J. Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade
entre os Homens. Discurso sobre as Ciências e as Artes. São Paulo: Nova Cultura,
1999. v. 2.
STOLZE, P.; PAMPLONA FILHO, R. Manual de Direito Civil: volume único. 4. ed. São
Paulo: Saraiva Educação, 2020.
155
156
UNIDADE 3 —
DIREITOS REAIS
IMATERIAIS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• entender quais são os tipos de direitos imateriais que devem ser publicizados;
PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar
o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
157
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 3!
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158
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
DIREITOS REAIS IMATERIAIS
1 INTRODUÇÃO
Olá, acadêmico! Seja bem-vindo à última unidade de estudo do nosso livro
didático da disciplina Despacho Imobiliário e Autoral. Se na unidade anterior nosso tema
foram os direitos reais sobre coisas materiais – tanto de coisas imóveis como de coisas
móveis –, agora, nosso tema de pesquisa continua sendo os direitos reais, mas agora
sobre coisas imateriais.
A disciplina dos bens jurídicos, de modo geral, é dada no Livro II do Código Civil,
arts. 79 à 103. Lá estão elencados os bens imóveis, móveis, públicos, e outras classificações.
No entanto, o Código não trata de classificar os bens imateriais. O que demonstra que eles
são uma construção doutrinária – uma ideia que surge dentro da doutrina e da didática, a
fim de melhor explicar fenômenos das relações entre as pessoas.
159
NOTAS
Embora esta distinção não seja feita pela legislação, e os autores do Direito
não tenham um consenso sobre o assunto, Stolze e Pamplona Filho (2020)
diferenciam os bens e as coisas. Para eles, apenas bens corpóreos, tangíveis,
tocáveis, podem ser classificados como coisas. Já os bens incorpóreos não
seriam coisas.
Portanto, o que vamos tratar nesta unidade de estudo são os direitos reais
relativos aos bens jurídicos incorpóreos – chamados, também, apenas de direitos
imateriais. Eles se distinguem em três tipos: a) os direitos de personalidade; b) os direitos
autorais; e c) os direitos de propriedade industrial.
3 DIREITOS DE PERSONALIDADE
Melhor dizendo, o Direito, como o conhecemos nos dias atuais, está focado
nas pessoas, de maneira individual, e muito menos em aspectos coletivos, ligados à
coletividade de pessoas e das relações com os animais e o resto da natureza.
INTERESSANTE
Há toda uma área de estudo, principalmente nas ciências sociais, que
aborda que estaríamos vivendo uma Era Geológica específica, chamada de
Antropoceno, ou seja, de uma ciência focada no indivíduo (e mesmo no homem),
em detrimento dos demais seres e da natureza. O conceito de antropoceno
como Era Geológica foi cunhado pelo químico e vencedor do Prêmio Nobel
de química Paul Crutzen. Você pode ler mais sobre esse conceito em: https://
www.iberdrola.com/sustentabilidade/o-que-e-antropoceno#:~:text=O%20
conceito%20%22antropoceno%22%20%E2%80%94%20do,impacto%20
do%20homem%20na%20Terra.
160
3.1 SÃO DIREITOS DE PRIMEIRA GERAÇÃO
Na verdade, podemos imaginar que o Direitos, como conhecemos atualmente,
passa por gerações de direitos, que tudo têm a ver com o momento político que se está
vivendo, e com os anseios das sociedades. Dizem que vivemos, hoje, numa terceira,
quarta e até mesmo quinta geração de direitos. Os direitos de primeira geração, no
entanto, são aqueles que podem ser chamados de direitos da personalidade. Eles
estão muito relacionados com o que se chama de direitos negativos – direitos de não
intervenção do Estado.
161
Ainda, há outras características dos direitos da personalidade dispostos no
Código Civil:
162
INTERESSANTE
Os tratamentos médicos vêm vivendo uma fase de reestruturação de seus
conceitos. Se antes o médico era incentivado a salvar a vida das pessoas
de qualquer forma, independente da dor que pudesse causar no paciente,
e nas consequências dos procedimentos invasivos, cresce a demanda por
tratamentos mais humanizados, focado no bem-estar do paciente e de sua
família. É o caso dos cuidados paliativos, que visam “a melhoria da qualidade
de vida do paciente e seus familiares, diante de uma doença que ameace a
vida, por meio da prevenção e alívio do sofrimento, por meio de identificação
precoce, avaliação impecável e tratamento de dor e demais sintomas físicos,
sociais, psicológicos e espirituais”, segundo a Organização Mundial da Saúde
(WHO, 2002).
Você pode saber mais sobre os cuidados paliativos vendo esse vídeo: https://
www.youtube.com/watch?v=ep354ZXKBEs
Dispõe o art. 16, CC, que “toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos
o prenome e o sobrenome” (BRASIL, 2015). A mesma proteção do nome é dada quanto
ao pseudônimo, apelido de alguém.
INTERESSANTE
Um exemplo bastante interessante do uso de pseudônimo para fins
comerciais é o caso do Café Pelé. O jogador, morto neste ano de 2023, recebia
compensação financeira para que seu nome fosse usado pela empresa que
produzia o café. No início, a utilização do nome serviu para internacionalizar
a produção brasileira de café. Hoje, a marca pertence a uma empresa
internacional, que comprou a marca da empresa brasileira que tinha firmado
a parceria com o jogador.
163
3.3.3 Direito à Honra
O direito à honra também aparece no rol de proteção do Código Civil. No art.
20, CC, está disposto que “a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a
publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas,
a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra,
a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais” (BRASIL, 2015).
164
Já Stephan Kinsella, de uma maneira mais resumida, aponta que “a propriedade
intelectual é um conceito amplo que cobre diversos tipos de direitos legalmente
reconhecidos sobre algum tipo de criatividade intelectual, ou que estão de alguma
forma relacionados a ideias” (KINSELLA, 2010, p. 9).
b) que são criações – ligadas com o intelecto, com o mundo das ideias. Neste
sentido, a Lei n° 9.610/98, em seu art. 7º, dispõe que são obras a serem protegidas
pelos direitos autorais às “criações do espírito” (BRASIL, 1998b). A doutrina entende, no
entanto, que o conceito de criações do espírito envolve não apenas os direitos autorais,
mas toda a gama de direitos envolvidos pela propriedade intelectual.
INTERESSANTE
Quando falamos de criações do espírito, no entanto, algo pode surgir na cabeça
daquele ser mais curioso: mas quando a criação parte de uma máquina, ou seja,
da Inteligência Artificial? Ainda, outra questão deve ser levada em consideração:
e se a criação surgir de um animal? Os animais possuem espírito, ou apenas os
homens são dotados dele?
Não existe um consenso internacional sobre as criações não humanas. Os
países legislam de forma diferente sobre o tema. No Brasil, afirmam Marcos
Waschowicz e Giulia Michelotto, “uma solução levantada é a da autoria ser
dada às pessoas físicas ou jurídicas que tenham utilizado a IA, se tornando
titulares da obra feita e mantendo um ambiente jurídico confiável e seguro”
(WASCHOWICZ; MICHELOTTO, 2022).
Você pode entender mais sobre o assunto clicando neste link: https://ioda.org.
br/entre-a-maquina-e-o-homem-de-quem-sao-os-direitos-autorais-das-obras-
produzidas-por-inteligencia-artificial/.
165
Assim, conceituada a Propriedade Intelectual como uma área de estudo, que
envolve diversos subgêneros e leis de proteção, iremos, a partir de agora, nos aprofundar
sobre cada um desses protegidos.
5 DIREITOS AUTORAIS
5.1 MEIOS
Conforme os incisos do art. 7° da Lei n° 9.610/98, esses meios podem ser:
No entanto, tais meios não são os únicos possíveis para que uma obra seja
publicada. Trata-se de um rol exemplificativo. Ou seja, a lei traz apenas alguns exemplos
de meios onde uma obra passível de proteção de direitos autorais pode ser divulgada.
Obras que são apresentadas por outros meios também estão passíveis de proteção legal.
166
NOTA
Neste ponto, vale a pena retomar nosso estudo desenvolvido na primeira
unidade deste livro didático, quando estávamos nos referindo à comunicação,
de uma forma geral.
Lá, falamos que uma comunicação acontece com: a) um remetente e um
destinatário; b) um conteúdo; e c) um meio, pelo qual esta comunicação
acontece.
Os direitos autorais envolvem tão somente o conteúdo do que se comunica.
Isto porque o que se cria, a maioria das vezes, não são os meios – e nem as
pessoas que estão trocando informações, obviamente – mas as ideias para
que algo seja colocado dentro de um meio.
No entanto, o meio em que a obra é publicada – os apresentados como
exemplo no art. 7º da Lei n° 9.610/98 – é elemento importante quando se
refere à cessão dos direitos autorais no caso de obras de artes plástica. Isto
porque, quando o autor cede o direito de expor uma obra de arte, não cede o
direito de reprodução em outro meio, por exemplo (art. 77, Lei n° 6.610/98).
Ainda, os direitos autorais, como um direito real sobre coisa intangível, podem
ser objeto de cessão. Ou seja, pode o autor ceder os direitos inerentes à autoria – direitos
de uso, gozo, fruição – para uma empresa, a partir de contrato, tema que abordaremos
ainda neste capítulo. No entanto, não deixará de ser o autor da obra.
Aquele que é autor da obra pode se identificar como autor tanto por seu nome
civil, como por meio de abreviaturas, pseudônimos, e por qualquer outra forma de se
identificar, como marcas e outros símbolos gráficos (art. 12, Lei n° 9.610/98).
Quem adapta, traduz, arranja ou orquestra obra de outra pessoa que esteja em
domínio público é considerado autor da obra que criou a partir de outra, mas não pode
opor-se a outras adaptações, arranjos, tradições e orquestrações, salvo se estas forem
cópias da sua obra (art. 14, Lei n° 9.610/98).
5.2.1 Coautoria
Se mais de uma pessoa assina a obra, com qualquer um dos sinais que os
identifique, são considerados coautores da obra (art. 15, Lei n° 9.610). Por outro lado,
aquele que apenas auxilia o autor – revisando, atualizando, dirigindo ou fiscalizando a
apresentação ou a edição da obra – não é reconhecido como coautor da obra (art. 15,
§1º, Lei n° 9.610/98). Quando esta contribuição à obra pode ser utilizada de maneira
167
separada da obra original comum, se reconhecerá os direitos de autoria àquela parte ao
autor diverso. No entanto, só poderá realizar a utilização desta obra se ela não acarretar
prejuízo à exploração da obra em comum (art. 15, §2º, Lei n° 9.610/98).
NOTA
Argumento – literário, musical, ou lítero-musical – é com que um tema central
de uma obra. Um exemplo claro pode ser uma novela ou um filme. Ambos os
tipos de obras podem possuir diversas tramas interligadas ou não. No entanto,
normalmente existe uma trama principal que circunda toda a obra. Este é o
argumento da obra. Ele está presente do início ao fim de uma obra audiovisual.
Lógico que algumas obras, principalmente filmes alternativos e não norte-
americanos, costumam não apresentar uma solução final para o argumento.
No entanto, o argumento é ferramenta quase que essencial a uma obra. Isto
porque toda obra – na verdade toda história – costuma ter um início – um
problema –, um meio – as alternativas e as possíveis soluções –, e um final para
aquele problema inicial.
Você pode ler mais sobre o assunto neste link: https://www.frizero.com.
br/2022/04/15/o-que-sao-e-como-funcionam-os-argumentos-em-um-texto-
de-ficcao/
168
5.2.3 Textos Publicados em Periódicos
Da mesma forma, os direitos autorais de textos publicados na imprensa
periódica, quando não assinados ou realizados com reserva, ou quando não tenha sido
firmado contrato em contrário, pertencem ao editor.
Sendo assim, a Lei n° 9.610/98 dispõe, no art. 29, que cabe ao autor – ou aos
coautores – dispor, por autorização prévia e expressa, sobre a utilização da obra em
qualquer modalidade, tais como: a) reprodução integral ou parcial; b) adaptação; c)
tradução para outros idiomas; d) exposições. Qualquer modalidade de utilização da obra
que venha a ser inventada depende da autorização do autor para ser aplicada – ou seja,
trata-se, novamente, de um rol exemplificativo (BRASIL, 1998b).
ESTUDOS FUTUROS
Claro que, como já dissemos, os direitos autorais são direitos reais. Por isso,
assim como qualquer outro direito real sobre coisa tangível – móvel ou imóvel
–, os direitos imateriais podem ser objeto de contrato de cessão e disposição.
Nosso segundo tema de aprendizagem desta unidade será sobre esses
contratos.
169
5.3.2 Caducidade ou Decadência e Prescrição dos Direitos
Autorais
Existem três nomes dados para quando um direito deixar de existir com o
decurso do tempo: a) prescrição; e b) decadência ou caducidade.
Dito isso, os direitos patrimoniais sobre uma obra caducam setenta anos após
a morte do autor, contado a partir do dia 1º de janeiro do ano posterior a sua morte. Se
houver coautoria, este prazo começa a contar da morte do último coautor.
Após esses prazos, as obras entram em domínio público, e não mais precisa
haver autorização expressa e prévia dos autores e dos herdeiros dos direitos autorais.
Também entram em domínio público as obras cujos autores não deixaram sucessores
dos direitos autorais, bem como as obras de autores desconhecidos – ressalvada a
proteção legal aos conhecimentos étnicos e tradicionais.
170
5.4 O QUE NÃO É OBRA PROTEGIDA POR DIREITOS AUTORAIS
A Lei n° 9.610/98 traz, no art. 8º, um rol de ideias e de bens materiais e intangíveis
que não são objeto de proteção por aquela Lei como direitos autorais. Trata-se de um
rol taxativo, isto é, não são apenas exemplos, mas situações concretas em que não
se entende haver proteção da ideia. Não é possível interpretar outras ideias como não
suscetíveis à proteção.
O que não se considera como obra protegida pelos direitos autoriais são:
a) ideias, procedimentos, fórmulas, métodos;
b) esquemas, planos ou regras para a realização de jogos, atos mentais ou negócios;
c) os formulários em branco, para serem preenchidos numa pesquisa, científica ou
não;
d) os textos oficiais, como decretos, leis, decisões judiciais;
e) informações de uso como, como calendários e agendas;
f) os nomes e títulos isolados; e
g) o aproveitamento industrial ou comercial de ideias contidas em obras (BRASIL,
1998b).
6.1 PATENTES
As patentes são a forma de proteger os direitos daqueles que inventaram alguma
coisa. É claro que a noção de invenção não é muito clara. Quando algo é totalmente
novo que possa ser classificado como uma inovação, uma invenção? Por isso, Cláudio
Barbosa (2009, p. 134) trata de conceituar que a patente “é a proteção da invenção que
apresenta novidade absoluta, atividade inventiva, aplicação industrial, e seu objeto não
é vedado por alguma norma legal”. Já Kinsella (2010) prefere definir as patentes como
aquelas que recaem sobre artefatos ou processos que desempenhem uma função “útil”.
171
O conceito jurídico de coisas intangíveis patenteáveis é disposto no art. 8º da Lei
n° 9.279/96: “é patenteável a invenção que atenda aos requisitos de novidade, atividade
inventiva e aplicação industrial” (BRASIL, 1996).
INTERESSANTE
Circulou na internet uma notícia de que a Volvo patenteou a invenção do sinto
de segurança como livre para o uso de qualquer outra empresa. A história é
verdade.
Na verdade, o primeiro cinto de segurança foi patenteado no início do séc.
XX – em 1903. Todavia, a invenção não foi muito usada, pois a segurança não
era prioridade. A Volvo contratou um engenheiro sueco especialista em ejeção
de pilotos em 1958, e um ano depois ele apresentou a ideia do cinto de três
pontos. A patente da invenção foi cedida gratuitamente pela Volvo, conforme
informa em seu site oficial: https://www.volvogroup.com/br/news-and-media/
news/2019/mai/Invencao-da-Volvo-faz-60-anos.html.
172
situações concretas, não podendo se estender o artigo para novas situações.
173
característica normalmente não alcançável pela espécie em condições
naturais (BRASIL, 1996).
INTERESSANTE
Conforme dados da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI),
são requeridas 2,5 milhões, e concedidas 1,2 milhões, de registros de patentes
por ano (GOV.BR, 2015). No Brasil, em 2021 foram requeridos 26,9 mil
registros de patentes. O número vinha caindo por 3 anos seguidos, segundo
levantamento feito pela CNN (JANONE; BARRETO, 2022).
No entanto, não se aplica a proibição quando: a) a pessoa que tem a coisa a produziu
para consumo próprio, não colocou à venda; b) quando o processo é realizado em caráter
experimental, com fins científicos ou tecnológicos; c) a preparação de medicamentos a
pedido médico, em casos individuais – como nas farmácias de manipulação; e d) quando
se usa o produto vivo patenteado para a obtenção de outro produto.
174
6.1.6 Caducidade da Patente
Assim como no caso dos direitos autorais, a patente – e, por consequência, os
seus direitos – se extinguem com o tempo. Para as invenções, a extinção se dá após
20 anos, e no caso dos modelos de utilidade, a extinção se dá no prazo de 15 anos. Os
prazos são contatos a partir da data de depósito da invenção ou do modelo de utilidade
para registro da patente.
INTERESSANTE
Volte e meia, no Brasil, se debate sobre as patentes de medicamentos que
caducaram, e que por isso poderiam ser produzidas sem exclusividade pela
empresa titular da patente – os chamados remédios genéricos. Discute-se
que a caducidade da patente diminuiria os gastos públicos com saúde, além
de diminuir a inflação de medicamentos para o público em geral (JUNQUEIRA,
2019). O art. 229 da Lei n° 9.279/96 dispõe que, no caso de medicamentos e
outros produtos químicos, não se aplicam as disposições da Lei (BRASIL, 1996).
6.2 MARCAS
Dentre as diretrizes elencadas no art. 2º da Lei n° 9.279/96 – que regula direitos
e obrigações relativos à propriedade industrial – estão, além da concessão do registro
de marca, a repressão à concorrência desleal. Por outro lado, o Código de Defesa do
Consumidor (CDC) – Lei n° 8.078/90 – dispõe que é direito básico do consumidor “a
proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou
desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento
de produtos e serviços” (art. 6º, IV, CDC).
Ainda, a proteção às marcas é uma extensão de outro direito imaterial, qual seja,
o direito de personalidade e de proteção ao nome. A marca é um caráter distintivo das
pessoas, sejam jurídicas, sejam físicas.
Para Kinsella (2010, p. 12), “uma marca registrada é uma palavra, frase, símbolo,
ou design usado para identificar a fonte dos bens e serviços vendidos, e para distingui-
los dos bens e serviços de outros”.
175
Todo ser, corpóreo ou incorpóreo, é identificado e comunicado às
outras pessoas através de um símbolo, o qual possibilita ao receptor
dessa informação objetiva um conteúdo adicional de informações
subjetivas e complementares. Os sinais distintivos, espécie do gênero
propriedade industrial, são os símbolos que indicam às pessoas qual
serviço é prestado por determinada empresa, de qual produto se
trata e com qual empresa estamos negociando.
O art. 122 da Lei n° 9.279/96 dispõe que são objeto de registro como marcas o
“sinais distintivos perceptíveis, não compreendidos nas proibições legais” (BRASIL, 1996).
176
XI - reprodução ou imitação de cunho oficial, regularmente adotada
para garantia de padrão de qualquer gênero ou natureza;
XII - reprodução ou imitação de sinal que tenha sido registrado como
marca coletiva ou de certificação por terceiro, observado o disposto
no art. 154;
XIII - nome, prêmio ou símbolo de evento esportivo, artístico,
cultural, social, político, econômico ou técnico, oficial ou oficialmente
reconhecido, bem como a imitação suscetível de criar confusão,
salvo quando autorizados pela autoridade competente ou entidade
promotora do evento;
XIV - reprodução ou imitação de título, apólice, moeda e cédula da
União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios, dos Municípios,
ou de país;
XV - nome civil ou sua assinatura, nome de família ou patronímico e
imagem de terceiros, salvo com consentimento do titular, herdeiros
ou sucessores;
XVI - pseudônimo ou apelido notoriamente conhecidos, nome
artístico singular ou coletivo, salvo com consentimento do titular,
herdeiros ou sucessores;
XVII - obra literária, artística ou científica, assim como os títulos
que estejam protegidos pelo direito autoral e sejam suscetíveis de
causar confusão ou associação, salvo com consentimento do autor
ou titular;
XVIII - termo técnico usado na indústria, na ciência e na arte, que
tenha relação com o produto ou serviço a distinguir;
XIX - reprodução ou imitação, no todo ou em parte, ainda que com
acréscimo, de marca alheia registrada, para distinguir ou certificar
produto ou serviço idêntico, semelhante ou afim, suscetível de causar
confusão ou associação com marca alheia;
XX - dualidade de marcas de um só titular para o mesmo produto ou
serviço, salvo quando, no caso de marcas de mesma natureza, se
revestirem de suficiente forma distintiva;
XXI - a forma necessária, comum ou vulgar do produto ou de
acondicionamento, ou, ainda, aquela que não possa ser dissociada
de efeito técnico;
XXII - objeto que estiver protegido por registro de desenho industrial
de terceiro; e
XXIII - sinal que imite ou reproduza, no todo ou em parte, marca que o
requerente evidentemente não poderia desconhecer em razão de sua
atividade, cujo titular seja sediado ou domiciliado em território nacional
ou em país com o qual o Brasil mantenha acordo ou que assegure
reciprocidade de tratamento, se a marca se destinar a distinguir
produto ou serviço idêntico, semelhante ou afim, suscetível de causar
confusão ou associação com aquela marca alheia (BRASIL, 1996).
O requerimento do registro de marca pode ser feito por pessoas físicas ou por
pessoas jurídicas, de direito público ou privado. No entanto, a pessoa que requer o
registro da marca deve comprovar que exerce a atividade referente àquela marca.
177
No caso de marcas coletivas, o requerimento do registro é feito pela pessoa
representante da instituição, mesmo que não exerça a atividade; e no caso de marca de
certificação, o pedido deve ser feito por pessoa sem interesse comercial ou industrial no
produto ou serviço atestado.
Por outro lado, o titular da marca não pode: a) impedir que os comerciantes
e distribuidores utilizem a marca para promoção e comercialização dos produtos; b)
impedir que os fabricantes de acessórios utilizem a marca para indicar a destinação
dos seus produtos; c) impedir, por conta da marca, que os produtos sejam colocados
no mercado em livre circulação; e d) impedir que se cite a marca em discursos, obras
científicas ou literárias ou qualquer outra forma de publicação, desde que sem conotação
comercial e sem prejuízo de seu caráter distintivo.
178
Ainda, não é considerado como desenho industrial qualquer obra de caráter
puramente artístico – que são protegidos pelos direitos autorais.
NOTA
Neste ponto, podemos refletir sobre três fatores interessantes e
distintivos sobre a inovação e a indústria. Ou seja: até que ponto
uma ideia pode ser considerada uma invenção, passível de patente,
passível de registro como desenho industrial, ou uma obra de arte?
Costumamos ser bombardeados de novos produtos que pouco trazem de
inovação, embora sejam apresentados como tal. Muitas vezes, são apenas
incrementos, modificações acessórias em produtos apenas para gerar maior
consumismo. São o caso de versões de celulares que são lançadas todo ano.
Existe um nome para esse tipo de ação, que se chama obsolescência programa,
ou seja, abreviar a duração de um produto no mercado, com o intuito claro de
que seus consumidores comprem outro produto.
179
Conforme o art. 14 desta norma, “podem requerer registro de Indicações
Geográficas, na qualidade de substitutos processuais, a associação, o sindicato, ou
qualquer outra entidade que possa atuar como tal em razão da lei” (INPI, 2022, s. p.).
INTERESSANTE
Apesar de parecer um procedimento bem específico, existam registradas,
no Brasil, 94 indicações geográficas até o ano de 2020. No mundo, esse
número chega a mais de 10 mil indicações geográficas registradas.
180
7.1 PROTEÇÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL DE
PROGRAMAS DE COMPUTADORES
É o caso da proteção de autoria de programas de computadores, que, como
visto, não são protegidos nem pelo sistema nos direitos autorais, e nem pelo sistema da
proteção à propriedade industrial.
Isto porque há uma Lei específica para regulamentar os direitos de autor para
este caso, a Lei n° 9.609/98. Conforme esta lei, programa de computador é:
NOTA
A Lei n° 9.609/96 também é antiga, e provavelmente não previu que os meios
físicos deixariam de existir. Hoje, vemos que cada vez mais CDs e outros
equipamentos estão sendo substituídos por dados que circulam livremente
pela Internet. Por exemplo: hoje, os carros não mais contam com um toca fitas
ou um toca-CDs. Por mais que você queira, não consegue mais extrair dados
de um CD para seu carro para realizar uma bela viagem ao som do Bee Gees.
Quanto ao armazenamento de programas pelas nuvens – e não em um meio
físico específico –, o que se entende é que, mesmo a nuvem, é algo que está
estruturado em um meio físico, um hardware, que contém as informações ali
colocadas e compartilhadas.
c) a cadeia de expressões deve ser usada para dar comandos para máquinas
automáticas de tratamento de informações, bem como em dispositivos, instrumentos
ou equipamentos periféricos, fazendo com que esses funcionem e solucionem
necessidades determinadas.
Quanto aos direitos morais sobre a obra, se aplica apenas aquele que o autor
tem de reclamar, a qualquer tempo, a autoria do programa de computador, bem como o
de defender a sua integridade quando ferirem a honra ou a reputação do autor.
181
Se o programa de computador for realizado por empregado sob contrato de
trabalho ou realização de serviço, os direitos autoriais sobre o programa pertencerão
ao empregador ou tomador de serviços. Já se não houver contrato de trabalho, ou se
programa for desenvolvido fora de relação do contrato, pertencerão com exclusividade
ao desenvolvedor.
Há exceções quanto aos direitos patrimoniais também, dados pelo art. 6º da Lei
n° 9.609/98:
NOTA
A cybercultura possui características peculiares, que muitas vezes não
condizem com a proteção da propriedade intelectual. A própria criação
da internet remonta à ideia de compartilhamento livre de informações. Por
isso, há toda uma discussão sobre a existência de softwares livres contra
softwares proprietários, ou seja, aqueles que estão blindados de distribuição
livre e gratuita. Trata-se, é claro, de uma discussão muito mais profunda e sem
respostas padrões.
Você pode entender mais sobre isso ouvindo o podcast Tecnopolítica #65:
o cenário atual das tecnologias abertas. Disponível em: https://www.youtube.
com/watch?v=PlJsSdSKyGs.
182
contidos principalmente em softwares, para chegar num output, o que se protege
neste tipo de sistema de proteção aos direitos intelectuais é o desenho de elementos –
hardwares, mas não só – para se chegar a um objetivo.
NOTA
As máquinas funcionam sobre sistemas de input e output, isto é, são pensadas
sobre a ideia de ação e reação. Melhor dizendo, para que, quando colocado
um dado (input) – que pode ser o clique numa tecla do teclado ou um pedaço
de madeira – o dado seja transformado pela máquina (output) – que pode ser
a aparição da letra na tela do computador ou um compensado de madeira
7.2.2 Caducidade
Neste caso, a proteção dos direitos intelectuais é de 10 anos.
7.3 CULTIVARES
Outra propriedade intelectual que não está regulamentada nem pelos direitos
autorais e nem pela propriedade intelectual é a propriedade intelectual de melhoramentos
em organismos vivos.
183
Melhor dizendo, a Lei n° 9.456/97 visa proteger o direito do autor – chamado
de melhorista pela Lei – sobre nova espécie por ele criada. Este produto é chama do
cultivar, e tem como característica ser “a variedade de qualquer gênero ou espécie
vegetal superior que seja claramente distinguível de outras cultivares conhecidas por
margem mínima de descritores, por sua denominação própria, que seja homogênea e
estável quanto aos descritores através de gerações sucessivas e seja de espécie passível
de uso pelo complexo agroflorestal, descrita em publicação especializada disponível e
acessível ao público, bem como a linhagem componente de híbridos” (BRASIL, 1997).
184
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
185
AUTOATIVIDADE
1. “A divisão dos direitos humanos em gerações foi proposta pelo jurista checo
Karel Vasak, inspirado nos ideais da Revolução Francesa (Liberdade, igualdade,
fraternidade), no Instituto Internacional de Direitos Humanos, em Estrasburgo, em
1979” (SUPREMO CONCURSOS, 2022, s. p.). Sobre os direitos de personalidade,
assinale a alternativa CORRETA:
2. Os autores têm, sobre suas obras, direitos morais e direitos patrimoniais. Com base
nestes direitos e nesta classificação, analise as sentenças a seguir:
I- Dentre os direitos morais, reservados ao autor de obra, estão o direito de ter seu
nome atrelado às suas obras, bem como defender a integridade da obra contra
qualquer modificação que desabone a honra do autor.
II – No caso das obras coletivas, todos os autores que participam da obra têm direitos
autorais sobre ela, inclusive os direitos patrimoniais.
III- Cabe ao autor e aos coautores disporem, por autorização prévia e expressa, sobre
a utilização da obra em qualquer modalidade, tais como: a) reprodução integral ou
parcial; b) adaptação; c) tradução para outros idiomas; d) exposições.
186
( ) Assim como ocorre com os direitos autorais, o titular da propriedade intelectual
sobre invenções ou modelos de utilidade é aquele que inventa algo, independente
se a invenção é realizada a partir de contrato de prestação de serviço ou de trabalho.
( ) Dentre os direitos intelectuais que não são objeto de proteção legal do autor está
a forma plástica ornamental de um objeto, pois se tratam de elementos acessórios
à patente.
( ) O modelo de utilidade é patenteado, assim como as invenções.
a)( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.
5. Direitos da propriedade intelectual sui generis são aqueles que não se enquadram
nem na classificação de direitos autorais e em na de propriedade industrial. Entre
eles, estão os direitos sobre a propriedade intelectual de programas de computadores
e de topologias de circuitos em redes. Discorra sobre o que as diferencia, bem como
sobre o tempo que é vigente esta proteção antes de que alcance a decadência.
187
188
UNIDADE 3 TÓPICO 2 -
DIREITOS IMATERIAIS E TRANSAÇÕES
1 INTRODUÇÃO
Se no primeiro tema de aprendizagem desta unidade de estudo nosso foco foi
em destrinchar quais sãos os tipos de direitos reais imateriais – direitos de personalidade,
direitos autorais, direitos da propriedade industrial e os direitos imateriais sui generis –,
agora vamos retomar nossos focos de estudo da unidade dois deste livro didático.
Ou melhor, se já deixamos claro que os direitos imateriais são direitos reais sobre
coisas intangíveis – como a personalidade e as criações “do espírito” –, resta-nos, neste
momento, estudar como esses direitos reais, e seus poderes inerentes, como uso, gozo,
fruição, disposição podem ser negociados. Assim, além de retomar o estudo dos direitos
reais, retomaremos os estudos sobre os negócios jurídicos e os contratos.
189
Como já dissemos, os direitos imateriais podem ser divididos em dois direitos
– direitos morais e direitos patrimoniais. A disposição dos direitos imateriais da
personalidade segue a mesma lógica.
(a) de forma integral ou parcial – ou seja, o autor pode ceder toda a obra
desenvolvida ou parte dela. A cessão integral, ou total, compreende todos os direitos
190
patrimoniais do autor. Quanto aos direitos morais – de integridade da obra e de ter
seu nome atrelado à autoria da obra – somente podem ser transferidos se dispostos
expressamente em contrato.
(b) o contrato pode ser estipulado pelo autor ou por seus herdeiros –
como já dito no primeiro tema de aprendizagem, os direitos autorais acabam – caducam,
decaem – somente 70 anos após a morte do autor. Isto significa que, quando ocorre a
morte do autor, ficam sobre a responsabilidade dos herdeiros do autor os direitos morais
e patrimoniais referentes às obras.
3.1 O CONTRATO
Embora o tipo de transmissão dos direitos seja livre – concessão, cessão,
licenciamento, venda –, o contrato de transmissão será sempre escrito. Presume-se
oneroso, ou seja, com a obrigação de ceder o direito pela obrigação, da outra parte, de
pagar pela transmissão.
O contrato ainda deve estipular: a) a especificação da obra que está sendo cedida;
b) as condições de uso do direito; e c) o tempo, o lugar e o preço estipulado. Sobre esse
último elemento necessário, existem alguns requisitos. O tempo dos contratos para
cessão de direitos autorias para obras futuras é de no máximo 5 anos. Os contratos são
válidos apenas nos países em que foram firmados, salvo estipulação em contrário.
Feita essa introdução, vamos agora estudar como funciona cada uma das
transferências de direitos industriais.
191
4.1 TRANSFERÊNCIAS DE PATENTE
A transferência de patentes é feita a partir de licenças. Elas podem ser realizadas
a) por contrato onerosos e voluntários – isto é, quando o titular da patente tem o desejo
e concedê-la para uso, e com obrigação de pagar pela parte que recebe a licença de
utilização; e b) de maneira compulsória.
Ainda, não se trata de uma perda ou nulidade da patente. Ou seja, não é uma
expropriação do direito – sem direito à indenização. Por isso, aquele titular que têm
sua exclusividade sobre o uso da patente licenciada compulsoriamente tem direito à
indenização.
192
b) insuficiência da produção – o produto não está sendo fabricado a contento,
ou não colocado à comercialização de forma a atender às necessidades das pessoas.
c) quando uma patente, que traz progresso técnico de uma patente anterior,
depende da outra patente. Nestes casos, só haverá a licença compulsória se não houver
um acordo entre a parte que requer a licença compulsória e a titular da licença.
193
Esta cessão é exclusivamente dos direitos patrimoniais sobre a marca – ou seja,
o titular continua com o direito de defender a integralidade da marca, controlando suas
especificações, e também a natureza e a qualidade dos produtos e serviços oferecidos
com o uso da marca.
O contrato de cessão de uso da marca deve ser averbado no INPI para que
produza efeitos em relação a terceiros.
194
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
• As patentes, que podem ser licenciadas para uso de forma voluntária, mas também
de forma compulsiva.
• Assim como o nome, é possível que sejam transferidos os diretos de uso das marcas.
195
AUTOATIVIDADE
1. Andrea Marighetto (2019) ensina que os direitos da personalidade são direitos
subjetivos absolutos, sendo que regulamentam os aspectos mais essenciais e
relevantes da personalidade humana. Esses direitos não possuem caráter patrimonial
e são inalienáveis, intransmissíveis, irrenunciáveis e imprescritíveis. No entanto,
vimos que existe uma certa relatividade da intransmissibilidade dos direitos da
personalidade, podendo serem cedidos em algumas circunstâncias. Sobre o exposto,
assinale a alternativa CORRETA:
196
3. As patentes são transferidas a partir de licenças. Elas podem conceder ao cessionário,
aquele que adquire a patente, para que ele use da patente para desenvolver os
produtos da patente. Sobre as licenças, classifique V para as sentenças verdadeiras
e F para as falsas:
a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.
4. Para Bruno Schnell (2017, s. p.), “o licenciamento compulsório é o meio pelo qual
um governo mantém o controle sobre a arbitrariedade do inventor ou detentor de
uma patente, a fim de que o exercício do direito reconhecido não seja feito de forma
abusiva e nociva contrariando o bem-estar social”. Nestes casos, a licença para o
uso é transferida, mesmo que sem a vontade do titular da patente, para que outras
empresas ou pessoas possam produzir o produto a partir da patente. Dito isso,
explique quais são as quatro formas de licença compulsória de patente previstas na
Lei n° 9.279/96.
5. Para o Direito, marca é qualquer sinal perceptível que distingue uma empresa, um
produto ou um serviço. Além de ser instrumento de combate à concorrência desleal
entre as empresas, as marcas são protegidas também como forma de defender os
consumidores, para que não sejam enganados quanto ao produto ou serviço que
estão escolhendo. No entanto, embora a marca seja o elemento que caracteriza as
empresas e as pessoas, assim como o nome – direito da personalidade –, é possível
que o titular da marca transfira pra outro o direito de usá-la. Com base na transferência
do direito intelectual de marca, responda: qual a diferença entre cessão de registro
e de licença de uso da marca? Os direitos morais e patrimoniais são cedidos pela
licença de uso da marca?
197
198
UNIDADE 3 TÓPICO 3 -
PUBLICIDADE JURÍDICA DOS DIREITOS
IMATERIAIS
1 INTRODUÇÃO
Com os direitos sobre obras, esta noção de que a propriedade intelectual está
ligada com uma capacidade inerente às pessoas é ainda maior. A própria Lei de Proteção
aos Direitos Autorais fala que “são obras intelectuais protegidas as criações do espírito”
(BRASIL, 1998b).
Toda essa introdução serve para constatar que, no caso das obras cuja proteção
se dá pela Lei de Proteção aos Direitos Autorais, o registro não é necessário. Assim
como qualquer pessoa que nasce adquire a personalidade jurídica, sem a necessidade
da publicidade jurídica, qualquer “criação do espírito” recebe a proteção do Estado, e
seu autor passa a ser detentor dos direitos de propriedade – usar, expor, gozar, usufruir.
199
2.1 REGISTRO FACULTATIVO
No entanto, mesmo que não seja necessário o registro das obras para que o
autor seja beneficiário dos direitos autorais, a sua proteção é uma forma de segurança
para os autores. É faculdade o autor realizar o registro no órgão público criado para essa
finalidade e que tenha a maior afinidade com o tipo de obra produzida.
2.1.1 Instituições
O Art. 17 da Lei n° 5.988/73 dispõe sobre quais são os órgãos em que os autores
podem, querendo, por segurança, registrar suas obras: a) a Biblioteca Nacional; b) a
Escola de Música; c) a Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro;
d) o Instituto Nacional do Cinema; e e) o Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura
e Agronomia (BRASIL, 1973). Vale relembrar que o Poder Executivo tem a liberdade
de organizar o sistema de registro de propriedade autoral de obras. Assim, o leque de
opções da Lei pode ser expandido por decisão do Poder Executivo, por decreto.
NOTA
Além do Escritório de Direitos Autorais (EDA) localizado no Rio de Janeiro,
seu local de sede, existem mais 10 EDAs espalhados pelo Brasil. O endereço
deles pode ser visto neste link: https://www.gov.br/bn/pt-br/servicos/direitos-
autorais-1/documentos-do-eda-2/formulario-01-requerimento_de_registro_
averbacao_eda_fbn.pdf.
200
c) A Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ou apenas
EBA, é onde são requeridos registros de obras visuais. Existem dois tipos de registros: o
registro simples, e o registro com cessão de direitos.
Existem vários tipos de registro. Para obras não publicitárias – que podem
seriadas, não seriada, brasileiras ou estrangeiras; e para obras publicitárias – que se
dividem em brasileiras filmadas no Brasil, filmadas no exterior, ou estrangeiras.
Para o registro das obras é necessário usar o Sistema Ancine Digital (https://sad.anci-
ne.gov.br/controleacesso/menuSistema/menuSistema.seam).
O registro das obras é feito eletronicamente, pelo serviço digital SICCAU (https://
servicos.caubr.gov.br/). A solicitação deve ser instruída com cópia do projeto e descrição
de suas especificidades.
201
RTT é uma taxa de serviço técnico executado por arquiteto. Para o ano de 2023,
o valor de uma RTT é de R$ 115,18. Portanto, a taxa para o registro de uma obra de
arquitetura ou urbanismo é de R$ 230,36.
IMPORTANTE
O registro de obras é facultativo. No entanto, nada impede que os autores se
associem para que possam, em conjunto, realizarem a proteção dos direitos
autorais. Estas associações podem ser as responsáveis por cobrar pelo uso
das obras, por exemplo, representando os seus autores associados.
O exemplo mais conhecido dessas associações são os casos da Amar, Assim,
Sbacem, Sicam, Socinpro e UBC, que em conjunto administram o ECAD –
Escritório Central de Arrecadação e Distribuição. Tratam-se de entidades
privadas, que agem em nome dos músicos e compositores associados.
O trabalho do ECAD envolve: a) a arrecadação – é cobrado um valor de
estabelecimentos que tocam músicas. Este preço é determinado com base
em vários requisitos, como o tamanho do local, a finalidade da música; b) do
valor arrecadado, 85% são destinados aos autores, 6% com as associações de
gestão coletiva e 9% para o ECAD.
Ou seja, o trabalho de arrecadação de valores pelo uso de obras musicais não
tem relação com o registro das obras, que é facultativo.
No entanto, o trabalho das associações é importante para que o autor possa
ter acesso aos direitos econômicos da sua obra, visto que, fora das associações,
a capacidade do autor de fiscalizar se sua obra vem sendo utilizada sem a sua
permissão ou compensação financeira fica prejudicado.
Assim, a Biblioteca Nacional (BN), com sede a Av. Rio Branco, na cidade do Rio
de Janeiro, é parte integrante da Fundação Biblioteca Nacional, que conta com outras
instituições públicas de depósito, registro, proteção da propriedade intelectual e cultura
brasileira.
202
INTERESSANTE
A Biblioteca nacional tem uma história riquíssima. É possível acessar seus
eventos e parte do acesso em seu site oficial https://antigo.bn.gov.br/.
A BN, além de ser um local de consulta de acervo, tem também como objetivo
o registro e o depósito de obras como forma de manutenção do patrimônio cultural
brasileiro, uma das maneiras de proteção ao meio ambiente.
NOTA
O Meio ambiente é separado em quatro tipos: meio ambiente natural, meio
ambiente artificial, meio ambiente do trabalho e meio ambiente cultural. As
obras e o acervo cultural das sociedades fazem parte da última forma de meio
ambiente. Todas essas formas de direitos do meio ambiente são de importância
para a preservação da memória, da vida, da história. Por isso, devem ser
protegidos de igual forma. A Biblioteca Nacional cumpre essa função.
203
IMPORTANTE
O depósito legal e obrigatório na Biblioteca Nacional, determinado pela Lei n°
10.904/2014, não retira a capacidade legislativa que outros entes da federação
determinem o depósito no acervo estaduais. O depósito na Biblioteca Nacional
não exime o autor de realizar o depósito em entidade estadual, se a lei local
assim determinar.
A falta do depósito gera multa no valor de 100 vezes o valor da obra no mercado.
3.1 INPI
204
3.2 REGISTRO DE PATENTES
NOTA
Um pedido de patente é um documento de elaboração complexa. Embora
pareçam poucos quesitos, cada um deles exige dedicação profunda para deixar
claro o que será patenteado. Qualquer informação de falta nas descrições pode
fazer o pedido ser rejeitado, ou aprovado sem que toda a invenção ou modelo
de utilidade esteja totalmente protegido, gerando prejuízos ao inventor.
O INPI possui uma cartilha com mais detalhes sobre como elaborar o pedido
de patente, que pode ser acessada pelo link: https://www.gov.br/inpi/pt-br/
servicos/patentes/guia-basico/ManualdePatentes20210706.pdf.
2) Se tudo estiver correto, o pedido ficará sob sigilo por 18 meses no INPI, sendo
que o requerente pode pedir que a publicação do pedido seja antecipada.
205
6) Se a decisão for pela não patenteabilidade, o requerente terá 90 dias para
contestar a decisão.
NOTA
A tabela com o valor das retribuições pelos serviços prestados pelo INPI
pode ser acesso pelo link: https://www.gov.br/inpi/pt-br/servicos/tabelas-de-
retribuicao/tabela-patentes.pdf. O valor da retribuição para um pedido de
patente de invenção ou modelo de utilidade, hoje, é de R$ 175,00 (centro e
setenta e cinco reais), sendo que pessoas naturais, microempreendedores,
cooperativas e outras instituições pagam o valor com desconto de 60%, ou
seja, R$ 70,00 (setenta reais).
O registro de desenhos industriais deverá conter, conforme o art. 101, Lei n° 9.279/96:
a) requerimento;
b) relatório descritivo, se for o caso;
c) reivindicações, se for o caso;
d) desenhos ou fotografias;
e) campo de aplicação do objeto; e
comprovante do pagamento da retribuição relativa ao depósito (BRASIL, 1996).
206
IMPORTANTE
O INPI também tem um Manual de registro de desenhos industriais. Os
pedidos de registro são feitos de maneira eletrônica, pela Internet, e é
necessário cadastrar-se no e-INPI, cadastro eletrônico do INPI. O acesso ao
cadastro é feito pelo site https://www.gov.br/inpi/pt-br/cadastro-no-e-inpi.
Acesse o manual de registro de desenhos industriais em: http://manualdedi.
inpi.gov.br/projects/manual-de-desenho-industrial/wiki.
207
3.5 REGISTRO DE INDICAÇÕES GEOGRÁFICAS
208
de extração, produção ou fabricação do produto ou de prestação do
serviço;
VII – em se tratando de Denominação de Origem, documentos que
comprovem a influência do meio geográfico nas qualidades ou
características do produto ou serviço, devendo conter os elementos
descritivos:
a) do meio geográfico, incluindo os fatores naturais e humanos;
b) das qualidades ou características do produto ou serviço; e
c) do nexo causal entre os itens a que se referem as alíneas “a” e “b”.
VIII – instrumento oficial que delimita a área geográfica:
a) no qual conste a fundamentação acerca da delimitação geográfica
apresentada de acordo com a espécie de Indicação Geográfica
requerida;
b) expedido por órgão competente de cada Estado, sendo
competentes, no Brasil, no âmbito específico de suas competências,
a União Federal, representada pelos Ministérios afins ao produto
ou serviço distinguido pela Indicação Geográfica, e os Estados,
representados pelas Secretarias afins ao produto ou serviço
distinguido pela Indicação Geográfica; e
c) elaborado com base nas normas do Sistema Cartográfico Nacional,
exceto para as indicações geográficas localizadas fora do território
nacional.
IX – se for o caso, a representação gráfica ou figurativa da Indicação
Geográfica ou de representação geográfica de país, cidade, região ou
localidade do território (INPI, 2022, s. p.)
O pedido também passa por uma análise formal preliminar, sendo que o prazo
para atender às exigências é de 60 dias.
209
O registro também é feito todo pela internet. É preciso: 1) Registro no e-INPI; 2)
Gerar a Guia e pagar a taxa; e 3) Preencher o formulário eletrônico.
DICA
Todo o passo a passo para o registro de programas de computadores pode ser
acesso pelo site https://www.gov.br/inpi/pt-br/assuntos/arquivos-programa-
de-computador/ApresentaoeSoftware.pdf.
I – requerimento;
II – descrição da topografia e de sua correspondente função;
III – desenhos ou fotografias da topografia, essenciais para permitir sua
identificação e caracterizar sua originalidade;
IV – declaração de exploração anterior, se houver, indicando a data de seu
início;
V – comprovante do pagamento da retribuição relativa ao depósito do pedido
de registro (BRASIL, 2007).
Se o depositante quiser, o pedido pode ser mantido em sigilo por até 6 meses.
Após o pedido, e mesmo com o sigilo, o INPI faz a análise formal prévia, tendo o
requerente 60 dias para atender às exigências.
210
Para o registro do cultivares, o pedido deverá conter:
a) o requerimento;
b) a espécie botânica;
c) o nome da cultivar;
d) a origem genética;
e) relatório descritivo mediante preenchimento de todos os descritores exigidos;
f) declaração garantindo a existência de amostra viva à disposição do órgão
competente e sua localização para eventual exame;
g) o nome e o endereço do requerente e dos melhoristas;
h) comprovação das características de DHE, para as cultivares nacionais e
estrangeiras;
i) relatório de outros descritores indicativos de sua distinguibilidade,
homogeneidade e estabilidade, ou a comprovação da efetivação, pelo requerente,
de ensaios com a cultivar junto a controles específicos ou designados pelo órgão
competente;
j) prova do pagamento da taxa de pedido de proteção;
k) declaração quanto à existência de comercialização da cultivar no País ou no
exterior;
l) declaração quanto à existência, em outro país, de proteção, ou de pedido
de proteção, ou de qualquer requerimento de direito de prioridade, referente a
cultivar cuja proteção esteja sendo requerida;
m) extrato capaz de identificar o objeto do pedido (BRASIL, 1997).
O acesso ao sistema onde é feito o registro pode ser feito por meio do link: https://sis-
temas.agricultura.gov.br/snpc/cultivarweb/index.php.
211
LEITURA
COMPLEMENTAR
O QUE É SOFTWARE LIVRE E QUAIS AS VANTAGENS EM USÁ-LO NA
SUA EMPRESA
Com a evolução dos softwares livres já existem programas similares e tão bons
quanto aqueles tradicionais e conhecidos pela maioria das pessoas. São programas de
redação de textos, tabelas, banco de dados e muito mais. Basta entrar no site e baixar
em seu computador.
Vantagens
212
O preço de algumas licenças chega a custar 70% do valor do software. Ou seja,
imagine um software (o programa em si) que custe R$ 1.000,00, a sua licença a 70% seria
algo em torno de R$ 700,00. Além disso, quando se compra um software proprietário só
se tem “o direito” de usar em um único computador.
Software livre
Para que essas liberdades sejam reais, elas devem ser irrevogáveis. Caso o
desenvolvedor do software tenha o poder de revogar a licença, o software não é livre.
Tais liberdades não fazem referência aos custos envolvidos. É possível que
um Software Livre não seja gratuito. Quando gratuito, empresas podem explorá-lo
comercialmente com o serviço envolvido – principalmente suporte.
A maioria dos Softwares Livres é licenciada por uma licença de Software Livre,
como a GNU GPL (a mais conhecida).
Liberdades
213
Liberdade de redistribuir. A liberdade de redistribuir deve incluir a possibilidade
de repassar os códigos-fonte bem como, quando possível, os arquivos binários gerados
da compilação desses códigos, seja em sua versão original ou modificada. Não é
necessária a autorização do autor ou do distribuidor do software para que este possa
ser redistribuído, já que as licenças de software livre assim o permitem.
Assim, para cada tipo de negócio existe uma demanda de programas de gestão.
Procure a mais indicada para as necessidades da sua empresa e garanta economia para
o seu empreendimento, dentro da legalidade.
Fonte: SEBRAE. O que é software livre e quais as vantagens em usá-lo na sua empresa. 2013. Disponível em:
https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/o-que-e-software-livre-e-quais-as-vantagens-em-u-
sa-lo-na-sua-empresa,2928d53342603410VgnVCM100000b272010aRCRD. Acesso em: 5 mar. 2023.
214
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
215
AUTOATIVIDADE
1. A publicidade jurídica é instrumento da Modernidade, cuja transparência é
característica. O registro é a forma de publicidade de fatos jurídicos como a
constituição de empresas, o nascimento de pessoas, e também instrumento para o
nascimento de direitos intelectuais. Sobre o registro nos direitos intelectuais, assinale
a alternativa CORRETA:
216
( ) O autor pode decidir fazer o registro da música no ECAD – Escritório Central de
Arrecadação e Distribuição.
( ) Com o fim do Instituto Nacional do Cinema, o registro de obras audiovisuais deve ser
feito da Ancine – Agência Nacional de Cinema.
( ) O registro de obras relacionadas à arquitetura e urbanismo é realizado no Confea –
Conselho Federal de Engenharia e Agronomia.
a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.
217
REFERÊNCIAS
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA INDÚSTRIA. Um panorama das indicações geográficas
no Brasil. 2020. Disponível em: https://noticias.portaldaindustria.com.br/especiais/
um-panorama-das-indicacoes-geograficas-no-brasil/#:~:text=O%20pa%C3%ADs%20
contabiliza%2094%20indica%C3%A7%C3%B5es,as%20condi%C3%A7%C3%B5es%20
geogr%C3%A1ficas%20daquele%20ambiente*. Acesso em: 10 fev. 2023.
219
JANONE, L.; BARRETO, E. Pedido de patentes no Brasil registra queda pelo 3° ano
consecutivo, diz Inpi. 2022. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/business/
pedido-de-patentes-no-brasil-registra-queda-pelo-3o-ano-consecutivo-diz-inpi/.
Acesso em: 10 fev. 2023.
JUNQUEIRA, D. Lei deixa remédio até 80% mais caro e gera prejuízo ao governo,
diz estudo. UOL Notícias. 2019. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/
ultimas-noticias/reporter-brasil/2019/08/30/patentes-remedios-cancer-reumatismo-
-governo.htm. Acesso em: 10 fev. 2023.
STOLZE, P.; PAMPLONA FILHO, R. Manual de direito civil – volume único. 4 ed. São
Paulo: Saraiva Educação, 2020.
220