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GUARULHOS – SP
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 4
2 METODOLOGIAS PARA ATUAÇÃO NOS ESPAÇOS DE EDUCAÇÃO NÃO FORMAL5
2.1 A atuação do pedagogo na educação não formal ...................................................... 5
3.2 Características das ações educativas não formais voltadas para a educação
especial........................................................................................................................21
5.3 Na prática...................................................................................................................46
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1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
Bons estudos
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2 METODOLOGIAS PARA ATUAÇÃO NOS ESPAÇOS DE EDUCAÇÃO NÃO
FORMAL
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A educação é parte da engrenagem social. Portanto, fazer uma análise de
educação exige uma análise da sociedade na qual se está inscrito. Então, se a
educação é função da sociedade, não se pode pensar numa mudança da
educação sem uma mudança na sociedade, e tampouco em mudar a sociedade
sem realizar mudanças na educação.
Essa citação indica que a educação está sempre sendo atravessada por outros
elementos, sentindo os efeitos das mudanças sociais existentes, seja no campo político,
no econômico ou no cultural. Assim, a educação não formal assume uma importância
fundamental na tarefa de acompanhar as mudanças sociais que ocorreram nas últimas
décadas, projetando uma sociedade de aprendizagem, com sujeitos que devem aprender
de forma permanente. A partir da educação não formal, ampliam-se as possibilidades de
aprendizagem, há um reforço das diferentes formas de educação (formal e informal) e
obtêm-se resultados sociais que podem melhorar a vida de toda a população (BES,
2020).
Para atuar na educação não formal, porém, o pedagogo deve apropriar-se de
algumas metodologias e estratégias pedagógicas que poderão fundamentar as suas
práticas. Desse modo, o processo de ensino e aprendizagem vai acontecer de forma mais
eficiente e serão atingidos os objetivos educacionais planejados para os aprendizes
individuais ou grupos. Há diversas estratégias pedagógicas possíveis, mas aqui você vai
conhecer resumidamente as seguintes:
dialogicidade;
utilização de princípios andragógicos;
envolvimento da cultura;
uso de metodologias ativas;
uso de técnicas de acolhimento;
uso de atividades grupais;
atividades voltadas para valores e ética.
O uso do diálogo na educação não formal tem sido proposto desde a atuação de
Paulo Freire na educação popular brasileira, nos anos 1960. O diálogo quebra a ideia do
paradigma pedagógico tradicional, em que o professor desponta como o detentor do
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saber frente a uma turma de alunos sobre os quais serão “depositados” os conhecimentos
e saberes. Assim, nessa concepção restritiva, o aluno aprende passivamente, sem
questionar ou envolver-se com ações de planejamento, organização e avaliação das
aprendizagens de que participa. Por outro lado, o diálogo na educação não formal deve
colocar o aprendiz como protagonista do processo de ensino e aprendizagem,
proporcionando que crie condições de reflexão, participação e crítica sobre o que
aprende e ensina aos demais membros do seu grupo (BES, 2020).
Ao estabelecer a dialogicidade como estratégia pedagógica que propõe o
compartilhamento e a construção coletiva de saberes, o pedagogo também deve
conhecer e aplicar os princípios da andragogia, que é conhecida como a ciência de
ensinar adultos. Segundo Bes (2017), esses princípios exigem que o pedagogo considere
as experiências que seus aprendizes trazem consigo e as utilize para promover suas
ações. Da mesma forma, o pedagogo deve considerar que os jovens e adultos são
motivados muito mais internamente — ou seja, quando buscam a educação não formal,
já decidiram aprender sobre determinado assunto e já ponderaram sobre a importância
disso para suas vidas. Além disso, os educandos também devem ser orientados para a
aprendizagem, isto é, cabe ao pedagogo estabelecer junto ao grupo, por meio do diálogo,
as melhores formas de realização do processo de ensino e aprendizagem (BES, 2020).
Quando for desenvolver suas ações pedagógicas junto aos grupos da educação
não formal, o pedagogo já deve ter se apropriado das características culturais que
formam as identidades dos aprendizes. Isso é feito a partir dos primeiros contatos com o
grupo, com a sua comunidade ou com o ambiente organizacional em que os sujeitos
estão inseridos. Assim, questões geracionais, ou que envolvam etnia, sexo, gênero,
religiosidade e classe social, devem ser consideradas sempre que forem pertinentes às
discussões realizadas nas ações pedagógicas.
Como você viu anteriormente, o pedagogo deve valer-se dos princípios
andragógicos para atuar nos grupos e espaços da educação não formal, dada a maneira
como os jovens e adultos aprendem, o que deve ser feito, ainda, de forma ativa. Assim,
conhecer algumas metodologias ativas é essencial para colocar os aprendizes em
movimento ao longo dos encontros realizados. É necessário colocar em prática
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atividades pedagógicas que viabilizem um maior índice de retenção dos conhecimentos,
como as listadas na figura a seguir.
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organizações do terceiro setor. Para isso, é possível utilizar dinâmicas de grupo e
expressões da arte, como o teatro, a música e a dança (BES, 2020).
É importante ainda que o pedagogo se aproprie dos conceitos que envolvem a
ética e o desenvolvimento de valores humanos. Tais conceitos devem pautar suas
atividades com os grupos da educação não formal, favorecendo o desenvolvimento de
habilidades sociais importantes para a vida cotidiana. Entre esses conceitos, você pode
considerar a honestidade, a solidariedade, a empatia, o senso de justiça e a cidadania.
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aprendizagem híbrida;
metodologias ativas;
aprendizagem tecnológica ativa.
[...] o potencial de promover uma aprendizagem mais ativa por meio do estímulo:
ao pensamento crítico; ao desenvolvimento de capacidades de interação,
negociação de informações e resolução de problemas; ao desenvolvimento da
capacidade de autorregulação do processo de ensino-aprendizagem.
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3. Contextualização.
4. Momentos teóricos e exploratórios.
5. Pesquisa individual.
6. Produção individual.
7. Discussão coletiva, crítica e reflexiva.
8. Produção coletiva.
9. Produção final (prática social).
10. Avaliação coletiva do projeto.
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[...] a partir do uso das TDIC com as Metodologias Ativas tem se observado um
crescimento de novas práticas em sala de aula, facilitando o processo de ensino
e aprendizagem, conduzindo à Aprendizagem Tecnológica Ativa (ATA). A
aprendizagem tecnológica ativa é um modelo explicativo sobre como ocorre a
incorporação das tecnologias digitais às metodologias ativas no processo de
ensino e aprendizagem visando melhorar a performance do aluno, que assume
o protagonismo de sua aprendizagem, com autonomia e comprometimento.
Moran (2015, p. 18) reforça que “[...] as metodologias ativas são pontos de partida
para avançar para processos mais avançados de reflexão, de integração cognitiva, de
generalização, de reelaboração de novas práticas”. Você precisa, então, conhecer as
metodologias ativas que podem ser utilizadas para trabalhar com os grupos da educação
não formal. Observe o quadro abaixo e conheça algumas das múltiplas técnicas
existentes (BES, 2020).
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2.3 Práticas pedagógicas
Você vai analisar agora uma proposta pedagógica da educação não formal
apresentada por Reis, Bonacin e Martins (2008). Ela é voltada para a disseminação de
tecnologias digitais, unindo o e-learning com o m-learning. Além disso, utiliza o conceito
da aprendizagem colaborativa dos participantes do grupo para atingir seus resultados.
Veja:
O relato dos autores mostra como um espaço público, como uma praça ou um
parque, pode ser adaptado para as aprendizagens da educação não formal pelo
pedagogo, que ainda pode se valer de metodologias ativas, como foi o caso da aplicação
da técnica do GV-GO (BES, 2020).
Existem exemplos de atividades educativas não formais nos mais diversos
momentos da vida dos educandos, mesmo nos espaços voltados para o lazer e nas
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ocasiões normalmente relacionadas com o descanso. Um exemplo dessas ações é citado
por Masson e Silva (2015, documento on-line): a corrida de rua, que tem efeitos físicos e
sociais na vida de seus praticantes. Veja o que as autoras afirmam:
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[...] desde quando era criança... minha mãe e eu... não passava fome, mas a
gente ficava na rua. Aí minha mãe pedia comida prá outras pessoas lá, prá tentar
dar comida pra mim e ela sempre arranjava e aí nisso fui crescendo... Minha mãe
morreu quando eu tinha 3 anos, aí fiquei com minha vó (que) me botou em vários
lugares. Aí, na creche, no lugar onde o Rodrigo me conheceu... eu era tipo... não
jogado... como eu vou dizer isso... eu não tinha uma coisa prá mim, era vago, eu
tinha tudo como vago. Eu ficava andando lá na quadra, lá no Morro. E aí com a
música, aí eu fui me ocupando, comecei me ocupar, me ocupar e aí fui vendo
que com a música era totalmente diferente de como eu vivia antes; o sentimento
da música te deixa... senti a música! Não sei, é um caso... não sei como te dizer
isso, só sei que mudou muito, muito, muito, muito... (KLEBER 2006, documento
on-line).
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Dentro da educação formal, também existe hoje uma educação inclusiva, que é
implementada na rede regular de ensino e busca inserir os sujeitos da educação especial.
Estes, devido às particularidades das suas deficiências, aprendem de forma diferenciada,
com ritmos diversos e a partir de outros tipos de suportes pedagógicos. Assim, mesmo
as ações da escola precisam ser complementadas com os espaços da educação não
formal. É na educação não formal que a educação especial se efetiva, preparando
crianças, jovens e adultos para a vida social, capacitando-os e potencializando-os com o
que necessitam para viver. Esse é um espaço que oportuniza ao pedagogo excelentes
oportunidades de trabalho e realização profissional (BES, 2020).
Neste capítulo, você vai conhecer a educação especial que ocorre nos espaços
de educação não formal, direcionados para esses públicos. Além disso, verá as
características das ações educativas realizadas na educação especial e conhecerá
exemplos e organizações que atuam nessa área tão importante.
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Fonte: Olesia Bilkei/Shutterstock.com.
Assim, conforme afirma Trilla (1985, p. 24), “Os meios educacionais não formais
podem cobrir uma ampla gama de funções relacionadas com a educação permanente e
com outras dimensões do processo educacional global, marginalizadas ou
deficientemente assumidas pela instituição escolar [...]”. Este é justamente o interesse de
estudo deste capítulo: perceber como as ações educativas não formais complementam
a educação escolar e ampliam as possibilidades de aprendizagem de crianças, jovens e
adultos com deficiência. Para isso, primeiramente, você precisará entender quais são as
necessidades de aprendizagem associadas ao público-alvo da educação especial:
integração social;
apoio especializado;
recursos didáticos;
adaptações;
otimização de potencialidades;
educação para valores;
adequação ao meio.
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A integração social é uma conquista recente no nosso país, uma vez que os
discursos em torno de uma política pública educacional inclusiva se iniciaram com a
Constituição Federal de 1988 e foram impulsionados nos anos 1990, sobretudo a partir
da Declaração de Salamanca (em 1994). Esse documento propôs a criação de uma
estrutura educacional que contemplasse todas as crianças, independentemente das suas
deficiências. Conforme essa Declaração, produzida pela Unesco (1994, documento on-
line), “[...] o termo ‘necessidades educacionais especiais’ refere-se a todas aquelas
crianças ou jovens cujas necessidades educacionais especiais se originam em função de
deficiências ou dificuldades de aprendizagem [...]”. Dessa forma, ao pensarmos também
nas dificuldades de aprendizagem que os estudantes costumam apresentar na educação
formal, ampliamos ainda mais o espectro das possíveis ações da educação não formal.
No que se refere ao apoio especializado, este envolve um grande número de
estudantes que precisam de reforços nos seus estudos fora do ambiente escolar. Esses
alunos podem precisar de atendimentos individualizados nas áreas da psicologia,
fonoaudiologia, psicopedagogia, fisioterapia, entre outras, para que possam ter
condições de circular e frequentar os espaços sociais aos quais pertencem. Em muitas
dessas ações, que têm como objetivo uma integração social plena, complementando a
ação da escola, há processos educativos não formais ocorrendo e modificando a vida
dessas pessoas (BES, 2020).
A produção de recursos didáticos que potencializem as aprendizagens dos
sujeitos da educação especial também é de grande importância e exige ações educativas
não formais realizadas por profissionais da educação ou por organizações que se voltam
a essa finalidade. Cerqueira e Ferreira (1996, p. 24) comentam:
Recursos didáticos são todos os recursos físicos, utilizados com maior ou menor
frequência em todas as disciplinas, áreas de estudo ou atividades, sejam quais
forem as técnicas ou métodos empregados, visando auxiliar o educando a
realizar sua aprendizagem mais eficientemente, constituindo-se num meio para
facilitar, incentivar ou possibilitar o processo ensino-aprendizagem.
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naturais – elementos que existem na natureza, como água, pedras e
animais;
pedagógicos – elementos produzidos pelo ser humano para promover a
aprendizagem, como quadro, flanelógrafo, cartaz, gravura, álbum seriado,
slide, maquete;
tecnológicos – associados às invenções humanas na área das
tecnologias eletrônicas e digitais, como rádio, toca-discos, gravador,
televisão, videocassete, computador, ensino programado, laboratório de
línguas, ensino híbrido, ambientes virtuais de aprendizagem, e-learning,
mobile learning, etc.;
culturais – representam os espaços públicos típicos da educação não
formal, como bibliotecas públicas, museus, exposições.
A Apae é um bom exemplo de ação pedagógica não formal que presta um serviço
de apoio e busca pela adequação, autonomia e ampliação das possibilidades de muitas
crianças e jovens com deficiências, complementando a ação da escola. Assim, você pode
perceber o quanto são importantes e múltiplas as possibilidades educativas não formais,
e o quanto elas contribuem para as necessidades dos sujeitos da educação especial,
preparando-os não somente nos aspectos intelectuais e cognitivos, mas também para a
vida em sociedade (BES, 2020).
3.2 Características das ações educativas não formais voltadas para a educação
especial
Você viu anteriormente que a educação especial possui uma série de aspectos
que precisam ser desenvolvidos nos indivíduos, os quais a escola, por si só, não dá conta
de contemplar. Assim, as ações educativas não formais, que preparam para vários outros
aspectos da vida, são de fundamental importância para esses grupos.
Cabe retomar aqui alguns detalhes sobre o que significa aprender no contexto
da educação não formal. Para isso, Gohn (2014, p. 39) define a aprendizagem na
perspectiva de “[...] um processo de formação humana, criativo e de aquisição de saberes
e certas habilidades que não se limitam ao adestramento de procedimentos contidos em
normas instrucionais, como em algumas abordagens simplificadoras na atualidade [...]”.
Assim, a aprendizagem ocorre, em nossa vida, nos múltiplos grupos e nas organizações
de que participamos. Portanto, cabe destacar que os sujeitos da educação especial
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frequentam, de acordo com as particularidades das suas deficiências, os mais variados
espaços de formação não formais, além do ambiente escolar (BES, 2020).
Nesses espaços, existe um processo de intencionalidade pedagógica que é mais
ou menos estruturado, que faz com que os sujeitos que os frequentam tenham ganhos
de todas as ordens em termos das suas capacidades de viver e conviver socialmente.
Conforme reforça Gohn (2014, p. 39):
acolhimento;
vínculo;
ritmo;
especificidades;
erro;
cultura e identidade;
experiência;
habilidades;
processo;
acompanhamento;
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envolvimento familiar.
As ações da educação não formal voltadas para a educação especial podem ser
organizadas de forma individual ou em grupos. Entretanto, independentemente dessa
classificação, precisam envolver processos de acolhimento e de criação de vínculos entre
os sujeitos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem existente. Assim, o foco
sobre as relações interpessoais — e, mais ainda, sobre as habilidades sociais a serem
desenvolvidas — costuma ser o centro de muitas dessas atividades educativas (BES,
2020).
Em relação aos aspectos que caracterizam as ações educativas não formais no
âmbito da educação especial, é preciso considerar que esses sujeitos normalmente:
[...] se diferenciam por seus ritmos de aprendizagem, sejam mais lentos ou mais
acelerados. Apresentam dificuldades de aprendizagem, que nenhum médico,
psicólogo ou fonoaudiólogo conseguiu identificar qualquer causa orgânica ou
relacionada às características orgânicas, como as síndromes, lesões
neurológicas por falta de oxigenação pré, peri ou pós-natal. [...] necessitam de
sinais e códigos apropriados para se comunicar (linguagem de sinais) ou para ler
e escrever (Braille). Enfim, são pessoas que em situação de aprendizagem
escolar necessitam de adaptações nas condições materiais de ensino (DELOU,
2008, p. 16).
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considerados como momentos ricos para que a aprendizagem posterior dos sujeitos se
estabeleça (BES, 2020).
A cultura, entendida como o conjunto de práticas, ideias e ensinamentos que são
repassados pelos membros dos grupos sociais a que pertencemos, fornece condições
de produção de significados sobre as coisas ao nosso redor e, da mesma forma, produz
a nossa subjetividade, sendo também um ponto importante a ser considerado. Os sujeitos
da educação especial costumam ter as suas identidades fortemente construídas a partir
dos enlaces culturais que vivenciam. Assim, por exemplo, é muito forte a chamada cultura
surda, ou as aproximações de grupos de sindrômicos de Down, deficientes visuais, para-
-atletas, entre outros. Logo, é importante que o pedagogo se aproprie desses aspectos
culturais, para que possa planejar as suas intervenções pedagógicas em sintonia com as
crenças e os sentimentos dos aprendizes.
Um aspecto fundamental que se faz presente nas atividades pedagógicas não
formais nos grupos da educação especial é o grande valor dado à experiência para a
aprendizagem. Assim, as ações devem envolver o aprender fazendo, assim como devem
estimular o manuseio de materiais concretos, as técnicas de simulação da realidade, as
dramatizações, o jogo simbólico e demais jogos e brincadeiras que se aliem a esses
aspectos. Vale lembrar que, em alguns casos de deficiências, as atividades de
aprendizagem vão reforçar normas e condutas de convivência em sociedade e, para que
produzam sentido, precisam ser práticas (BES, 2020).
Muitas das ações não formais da educação especial objetivam o
desenvolvimento de alguma habilidade com o aprendiz, abrangendo tanto habilidades
cognitivas quanto sociais. Segundo Gatti (1997, p. 3):
Assim, podemos dizer que as habilidades cognitivas nos dão estrutura e base
para interagir com o meio no qual nos inserimos, tanto com as pessoas quanto com os
objetos que ali se encontram. Gatti (1997), ao produzir o marco conceitual do Laboratorio
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Latinoamericano de Evaluación de La Calidad de La Educación, da Unesco, adota uma
tipologia que classifica em cinco grandes áreas as habilidades cognitivas (GATTI, 1997):
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educação – apoio intensivo e atendimento educacional especializado ao
estudante com deficiência intelectual e múltipla incluído na escola comum,
nas séries iniciais de ensino fundamental;
capacitação – habilitações profissionais em diversos ofícios, voltadas às
aptidões dos aprendizes, a fim de desenvolver as suas atividades sociais;
assistência social – alianças estratégicas com vários setores e
segmentos sociais para a melhoria da qualidade de vida e inclusão da
pessoa com deficiência;
autogestão – desenvolvimento da autogestão, autodefensoria e
convivência em família da pessoa com deficiência intelectual.
Essa organização sem fins lucrativos organiza os seus trabalhos a partir da oferta
dos seguintes serviços: hospital ortopédico (onde se realizam cirurgias ortopédicas e
neurocirurgias); centro de reabilitação (que atende a diversas especialidades de
deficiências); oficina ortopédica (que produz artigos ortopédicos para a melhoria da
qualidade de vida dos pacientes); centro de diagnóstico por imagem; centro médico;
centro de terapia; ensino e pesquisa; AACD esporte; centro escolar; e cooperação técnica
(BES, 2020).
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A atuação do pedagogo é de grande valia para as práticas educativas não formais
da AACD, sobretudo nas atividades do centro de reabilitação, de terapias, de apoio à
inclusão escolar, de ensino e pesquisa, e de cooperação técnica, dando suporte aos
centros de trabalho que a organização possui. Veja, na descrição das atividades da área
escolar, como as atividades propostas para o reforço da educação formal realizadas pela
AACD vêm ao encontro daquilo que você está estudando como sendo importante para
as atividades ligadas à educação especial:
Uma vez definidas as modalidades de educação, agora você vai conhecer melhor
a educação não formal, que enfrenta desafios e possui uma função social. Além disso, a
educação não formal envolve metas que podem contribuir para a efetivação de sua
função social. A seguir, veja as principais metas da educação não formal:
Como você viu, as metas da educação não formal estão associadas à formação
do cidadão em seus princípios humanos. Assim, quando se pensa nessa modalidade, é
necessário considerar sua organização e seu planejamento, além de prever a ação de
um gestor comprometido e envolvido com o processo formativo das pessoas (BES, 2020).
A educação não formal designa um processo com várias dimensões tais como: a
aprendizagem política dos direitos dos indivíduos enquanto cidadãos, a
capacitação dos indivíduos para o trabalho, por meio da aprendizagem de
habilidades e/ou desenvolvimento de potencialidades; a aprendizagem e
exercício de práticas que capacitam os indivíduos a se organizarem com
objetivos comunitários, voltadas para a solução de problemas coletivos
cotidianos; a aprendizagem de conteúdos que possibilitem aos indivíduos
fazerem uma leitura do mundo do ponto de vista de compreensão do que se
passa ao seu redor; a educação desenvolvida na mídia e pela mídia, em especial
a eletrônica, etc.
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precisam ser replanejadas. Ao final de cada etapa, uma avaliação deve ser feita para que
se tenha a certeza de que os objetivos propostos foram atingidos. A avaliação deve ser
realizada coletivamente, dando voz tanto aos educadores como aos educandos,
garantindo, assim, uma gestão democrática (BES, 2020).
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I – estudo do contexto educacional, envolvendo ações nos diferentes espaços
escolares, como salas de aula, laboratórios, bibliotecas, espaços recreativos e
desportivos, ateliês, secretarias;
II – desenvolvimento de ações que valorizem o trabalho coletivo, interdisciplinar
e com intencionalidade pedagógica clara para o ensino e o processo de ensino-
aprendizagem;
III – planejamento e execução de atividades nos espaços formativos (instituições
de educação básica e de educação superior, agregando outros ambientes
culturais, científicos e tecnológicos, físicos e virtuais que ampliem as
oportunidades de construção de conhecimento), desenvolvidas em níveis
crescentes de complexidade em direção à autonomia do estudante em formação;
IV – participação nas atividades de planejamento e no projeto pedagógico da
escola, bem como participação nas reuniões pedagógicas e órgãos colegiados;
V – análise do processo pedagógico e de ensino-aprendizagem dos conteúdos
específicos e pedagógicos, além das diretrizes e currículos educacionais da
educação básica;
VI – leitura e discussão de referenciais teóricos contemporâneos educacionais e
de formação para a compreensão e a apresentação de propostas e dinâmicas
didático-pedagógicas;
VII – cotejamento e análise de conteúdos que balizam e fundamentam as
diretrizes curriculares para a educação básica, bem como de conhecimentos
específicos e pedagógicos, concepções e dinâmicas didático- -pedagógicas,
articuladas à prática e à experiência dos professores das escolas de educação
básica, seus saberes sobre a escola e sobre a mediação didática dos conteúdos;
VIII – desenvolvimento, execução, acompanhamento e avaliação de projetos
educacionais, incluindo o uso de tecnologias educacionais e diferentes recursos
e estratégias didático-pedagógicas;
IX – sistematização e registro das atividades em portfólio ou recurso equivalente
de acompanhamento (BRASIL, 2015, documento on-line).
A análise da legislação demonstra que ainda há uma ênfase maior nas atividades
relacionadas à educação básica em contextos escolares. Contudo, o texto prevê também
a atuação em diferentes espaços formativos. Além disso, as habilidades e competências
pensadas para os contextos escolares são aplicáveis a contextos extraescolares (BES,
2020).
Assim, o educador que vai atuar na educação não formal deve estar apto a utilizar
os conhecimentos adquiridos no curso de formação para embasar suas ações, visando
à promoção de uma aprendizagem significativa para todos os envolvidos no processo
educativo. Como nem sempre essas habilidades são contempladas no curso de formação
inicial, é papel do gestor promover o desenvolvimento delas em ações de formação
continuada em serviço.
Para que haja uma educação de qualidade, é necessária a promoção de boas
práticas de ensino, isto é, de práticas que contemplem as necessidades de todos os
alunos envolvidos no processo de aprendizagem. Portanto, o gestor tem um papel
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fundamental na promoção dessa educação de qualidade, na medida em que cabe a ele
realizar a formação continuada dos educadores, acompanhar os processos de ensino e
avaliar os resultados (BES, 2020).
A gestão democrática deve ser implementada na educação formal por lei, como
você viu, pois a história dos espaços característicos dessa modalidade educativa não
favoreceu o desenvolvimento das ações de participação, ao contrário do que ocorreu no
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caso da educação não formal, que surgiu a partir de uma concepção democrática. Assim,
falar em gestão democrática é necessário porque os novos pedagogos são formados em
espaços de educação formal, mas poderão atuar em diferentes âmbitos (BES, 2020).
Nos espaços da educação não formal, é importante que os pedagogos realizem
a formação de um indivíduo ou de um coletivo, quer seja nos espaços comunitários, quer
seja nas igrejas ou em outros espaços. Esses espaços têm uma organização intencional
e apoiada no diagnóstico da comunidade em que estão inseridos, demandando, por parte
da gestão, um olhar atento para a orientação dos educadores, visando a agregar a
comunidade em uma participação ativa, democrática e que sirva para monitorar o
desenvolvimento das ações.
Para que isso ocorra, cabe ao gestor da educação não formal, em um primeiro
momento, conhecer de maneira pormenorizada a realidade na qual as ações educativas
serão desenvolvidas, para que as necessidades da comunidade sejam atendidas. Ao
conhecer a comunidade e suas demandas, cabe a ele envolver as pessoas na tomada
de decisões e nas providências para a implementação das ações planejadas.
Todos os atores envolvidos nas ações devem participar não só do processo de
tomada de decisões, mas também do funcionamento da organização educativa. Dessa
maneira, o conceito de gestão democrática no espaço não escolar é resultante de uma
nova concepção de gestão organizacional (BES, 2020).
A gestão democrática se coloca como um desafio na medida em que rompe com
os modelos tradicionais de gestão. Ao mesmo tempo, ela se impõe como uma
necessidade na busca constante pela qualidade das ações educativas oferecidas. Na
medida em que as ações educativas não formais surgem e são procuradas para o
atendimento de demandas sociais, é fundamental que os sujeitos que delas participam
tenham assegurada uma educação de qualidade (BES, 2020).
Embora você talvez nem perceba que está vivenciando esse tipo de mudança no
seu dia a dia, quantas vezes você participa de desafios em suas redes sociais digitais e
quantas vezes interage por meio de alguma plataforma que depois passa a produzir
conteúdo de acordo com as suas opiniões? Os youtubers, por exemplo, têm se
especializado em contar histórias a partir das ideias de seus seguidores. Os
influenciadores digitais constroem espaços de captura dos interesses de seus seguidores
para ajustar as suas produções e, assim, adquirir mais visualizações, etc.
Muitos dos recursos da Web, ainda que sejam bastante utilizados pelo marketing,
também podem ser devidamente formatados para se desenvolver seu caráter
pedagógico em prol das aprendizagens necessárias à educação não formal. Fala-se em
“formatar” pois, para ser considerada educação não formal, uma atividade precisa, ainda
que minimamente, ter uma intenção pedagógica bem definida e um mínimo de estrutura
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organizada, o que é atribuição do pedagogo que se insere nesse contexto. Logo, nem
todo uso heutagógico da Web para aprender pode ser considerado uma atividade de
educação não formal. Conforme Gohn (2006, p. 29), “[...] a educação não formal capacita
os indivíduos a se tornarem cidadãos do mundo, no mundo [...]”. Existe algo que seja tão
significativo e esteja presente com tanta frequência no cotidiano de pessoas do mundo
todo quanto as tecnologias digitais? Ao referir-se à educação não formal, Gohn (2006, p.
29) ainda afirma o seguinte:
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YouTube: é uma plataforma de streaming que permite a postagem de
vídeos produzidos pelos seus usuários de forma gratuita.
Como você pode perceber, são muitas as possibilidades de uso das tecnologias
digitais em ações de educação não formal. Basta que você saiba escolher aquelas que
melhor se aliam aos objetivos de cada formação, ao tempo disponível e às possibilidades
de acesso dos aprendizes. Claro que, para que isso ocorra, você deve conhecer as
tecnologias, experimentando-as e desenvolvendo as suas habilidades antes de utilizar
as ferramentas com os estudantes, não é mesmo? É isso que você vai ver nas próximas
seções (BES, 2020).
ferramentas de busca;
repositórios de teses e dissertações;
sites;
blogs;
narrativas digitais;
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vídeos;
ambientes virtuais de aprendizagem;
webinars;
games.
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Web, como Wix, Site 123, Weebly, WordPress, Webnode, SimpleSite, entre outros. No
Brasil, o mais utilizado, devido às suas facilidades, tem sido o Wix.
A criação de blogs também pode ser utilizada pelo pedagogo como atividade
prática a ser desenvolvida por aprendizes da educação não formal que procuram
aprimorar suas aprendizagens em alguma área específica. Assim, os blogs podem servir
como espaços para relatos pessoais e compartilhamento de experiências e conteúdo de
interesse do grupo, envolvendo recursos audiovisuais diversos. Existem plataformas que
auxiliam e hospedam de forma gratuita os blogs criados em atividades educativas, como
WordPress, Tumblr, Blogger, Wix e Webnode (BES, 2020).
Outra possibilidade muito rica e que contribui para a aprendizagem significativa
é a construção de narrativas digitais. O esforço de preparar um texto que sintetize as
ideias do grupo sobre determinado assunto, fazendo com que seja, então, endereçado
ao público, é uma excelente possibilidade de desenvolvimento de várias habilidades
cognitivas. Além disso, proporciona que o grupo aprimore suas habilidades sociais, como
a comunicação, a sensibilidade, a empatia, a solidariedade, etc. Para a produção dessas
narrativas digitais, costumam ser construídos storyboards e storytellings, o que organiza
e facilita o trabalho. Ao referir-se à possibilidade de construir narrativas digitais dentro de
um contexto de emergência da textualidade via Web, Santaella (2007, p. 3) afirma que a
textualidade eletrônica é multididática:
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Logo, valer-se do suporte digital para gerar essas histórias narradas é uma ótima
possibilidade que o pedagogo possui para enriquecer suas ações da educação não
formal (BES, 2020).
A produção de vídeos curtos, nos formatos digitais adotados atualmente, também
é uma possibilidade interessante de propor aprendizagens múltiplas na educação não
formal, pois exige ações coordenadas que envolvem roteirização, técnicas de
comunicação, filmagem, fotografia, seleção de imagens, reportagem, etc. Maraschin
(2012, p. 85), que desenvolveu oficinas de produção de vídeos na educação não formal
de jovens, destaca os seguintes aspectos dessa atividade:
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utilização de seminários realizados pela Web, conhecidos como webinars, que têm se
popularizado na atualidade. Conforme define Zenha (2018, p. 15),
5.3 Na prática
Agora você vai ver como colocar em prática nas atividades educativas não
formais alguns dos recursos da Web que podem contribuir para o alcance de seus
objetivos. Afinal, de acordo com Silva e Valente (2016, p. 70), “mudanças significativas
são oportunizadas pelas tecnologias e mídias digitais, transformadas na atualidade em
potencializadores de aprendizagens”. O termo “potencializador”, adotado pelos autores,
define como os recursos tecnológicos digitais atuam na educação não formal, ou seja,
eles potencializam as aprendizagens possíveis. Nielsen (1993) destaca ainda que, ao se
adotarem tecnologias digitais no processo educativo, deve-se prestar atenção aos
aspectos que envolvem sua usabilidade e a interatividade por parte dos usuários (BES,
2020).
A seguir, você vai verificar como aplicar algumas dessas ferramentas digitais que
se encontram à disposição na Web. Considere, para começar, a construção de narrativas
digitais. Ela pode ser utilizada para atingir os mais diversos objetivos, desde relatar
46
histórias pessoais até construir o percurso histórico de um grupo, organização ou
comunidade. As narrativas digitais permitem contar histórias de forma dinâmica,
mesclando recursos audiovisuais diversos. Para colocar a storytelling em prática com um
grupo da educação não formal, você pode seguir estes passos (MORRA, 2013):
fóruns de discussão;
chat;
enquete;
e-mail;
questionários;
notícias e agenda;
mensagens eletrônicas;
47
armazenamento de arquivos.
Desde o início da sua história, a humanidade aprende nos mais variados espaços
e nas relações sociais que estabelece na família, na comunidade, no trabalho e nas horas
de lazer. Assim, com o passar do tempo — mais precisamente, do século XVIII em diante
—, surgiram as primeiras iniciativas de escolarização, hoje denominadas como a
educação formal (BES, 2020).
A partir da década de 1990, com as reconfigurações sociais advindas da
globalização e os seus efeitos econômicos, políticos e culturais, reforçou-se a importância
da participação de outros espaços, além da escola, na formação do ser humano,
emergindo daí o conceito da educação não formal. Hoje, essa modalidade de educação
complementa e reforça a atuação do Estado junto aos problemas sociais, bem como
promove ações provenientes de órgãos públicos, empresas privadas e organizações da
sociedade civil para permitir a adaptação dos indivíduos às regras de mercado que se
impõem.
49
6.1 Histórico da educação não formal
50
as nações poderiam obter por meio desse tipo de educação formal. É importante
compreender que essa forma de pensar sobre a escola e o seu fenômeno de expansão
ao redor do mundo que ocorreu no século XX se alia com a afirmação de algumas teorias
que associaram diretamente o valor da educação ao desenvolvimento econômico.
Foi isso que tornou a escola tão importante e imprescindível até os dias de hoje.
Conforme comenta Trilla Bernet (2013, documento on-line), ao referir-se à escola:
Esse fato, sabemos, não chegou a se consumar, uma vez que ainda hoje discute-
se e busca-se, por meio de políticas públicas educacionais, a inclusão de todos no meio
escolar. Nesse sentido, cabe questionar: todos aqueles que ficaram fora da escola ao
longo desses dois séculos, seja pelo gênero, pela idade, por sua etnia, ou ainda por terem
nascido com alguma deficiência (motora ou intelectual), onde aprendiam os conceitos e
adquiriam as habilidades necessárias para a sua vida? A resposta está nos demais
espaços de aprendizado, organizados fora da escola para que esses grupos pudessem
aprender, ou seja, na educação que definimos como não formal (BES, 2020).
A partir da década de 1990, com a chamada globalização da economia —
fenômeno que alterou os aspectos econômicos, políticos, sociais e culturais —, reforçada
ainda pelas tecnologias digitais de informação e comunicação, surgiram novas
necessidades para a formação do homem, além daquelas adquiridas na escola. Para
marcar os aspectos que deram impulso ao surgimento, à afirmação e expansão da
educação não formal nessa época, veja a seguir alguns dos elementos envolvidos
(TRILLA BERNET, 2013):
51
transformações no mundo do trabalho;
a ampliação do tempo livre;
novos arranjos familiares e urbanos;
o aumento dos meios de comunicação de massa;
o desenvolvimento de novas tecnologias voltadas para a aprendizagem;
a ampliação da educação social.
53
(1968, p. 9, tradução nossa) já utilizava o termo para referir-se a outros processos
educacionais que também eram significativos e que ocorriam fora do contexto escolar:
Eles são chamados de educação não formal, por exemplo, do treinamento dos
operários e dos trabalhadores rurais; do trabalho de alfabetização funcional;
treinamentos no trabalho para as tarefas e atribuições; serviços de extensão
universitária (extramuros); cursos de atualização profissional; e programas
especiais para jovens. As atividades educacionais coletivas da educação formal
e não formal compreendem os esforços de organização total da educação de
uma nação, independentemente de como são financiadas ou administradas.
o trabalho;
o lazer e a cultura;
a educação social;
a própria escola.
54
São muito comuns as atividades de cunho pedagógico existentes no ambiente
organizacional que se voltam para a melhoria do desempenho de trabalhadores, seja na
esfera pública ou privada. Esse, aliás, é um campo muito promissor e interessante para
os pedagogos que se interessam em trabalhar com a área da gestão de pessoas. São
realizados treinamentos que consistem em ações específicas, direcionadas para as
tarefas que os empregados realizam ou para o desenvolvimento de novas habilidades
requeridas pelo mercado em constante transformação (BES, 2020).
Também podem ser consideradas da educação não formal algumas iniciativas
voltadas para complementar a educação profissional e que não se vinculam diretamente
ao meio escolar. Essas ações existentes na sociedade contribuem para a formação de
determinadas competências, por exemplo, em cursos de liderança, relações
interpessoais, dicção, desinibição e oratória, entre outros.
Existem também atividades educativas organizadas para preencher o tempo livre
de lazer das pessoas, como oficinas de artesanato, de artes plásticas, de dança, teatro,
música, entre outras. Essas ações podem ocorrer em vários locais públicos, como
bibliotecas, museus, praças e parques, ou ainda em espaços organizados com tal
finalidade, gratuitos ou pagos pelos seus aprendizes.
Além disso, dentro do entendimento de práticas culturais, cada localidade oferta
também aprendizagens possíveis para os seus membros, que se aliam com aquilo que
ali se projeta. Assim, um grupo de jovens de periferia pode frequentar aulas e ações
educativas a partir de uma interação com os ritmos presentes na música local (funk, rap,
sertaneja, gauchesca etc.), que vão compor essas práticas (BES, 2020).
A educação social, por sua vez, também é um campo muito rico de práticas de
educação não formal, uma vez que envolve as organizações do terceiro setor. Trata-se
de um setor que hoje se expande no Brasil e procura promover uma educação voltada
para os direitos sociais, para a cidadania e para a democracia. Assim, os programas
voltados para a educação social costumam estabelecer-se em comunidades vulneráveis,
potencializando os seus membros, formando lideranças comunitárias, desenvolvendo
capital social e buscando a transformação desses grupos por meio da problematização e
do enfrentamento das desigualdades. Veja algumas das possibilidades de educação
formal:
55
capacitação para o primeiro emprego;
requalificação profissional;
reciclagem profissional;
aperfeiçoamento profissional;
orientação vocacional e profissional;
qualificação técnica;
ensino a distância;
complementação das atividades escolares;
ampliação das aprendizagens pela participação em outros espaços, como
museus, bibliotecas e fazendas, colônias de férias, intercâmbios, grupos
de teatro e esportivos;
programas compensatórios;
preparação para o ingresso na universidade;
ensaio de métodos e produção de materiais educacionais;
alfabetização de pessoas adultas;
formação social, política e religiosa;
formação estética e artística;
formação física e desportiva;
animação cultural;
educação para o ócio, ambiental, sanitária, sexual e familiar, cívica;
educação especial;
educação de rua;
reabilitação de usuários de drogas;
desenvolvimento pessoal e relações humanas.
56
distúrbio de aprendizagem, atendimentos psicológicos para crianças e pais, plataformas
de aprendizagem adaptativa via educação a distância, entre outras. Essas ações são
organizadas por empresas privadas, organizações sociais e culturais, bem como pela
própria administração pública (BES, 2020).
Ao observar essas inúmeras práticas educativas que ocorrem nos âmbitos da
educação não formal, podemos concordar com Severo (2015, documento on-line), ao
afirmar que elas se articulam com o paradigma atual de:
[...] aprendizagem ao longo de toda a vida, de modo que representa ações que
prolongam os tempos e os espaços de formação e autoformação, com base em
necessidades contextuais dos sujeitos e das comunidades, atuando como
mecanismo catalisador da articulação de saberes diante de necessidades
emergentes nas esferas das sociabilidades humanas e do trabalho.
Considerando a noção de educação ao longo de toda a vida, propõe-se a ideia
de que as divisões tradicionais de tempos e espaços para educar e educar-se
devem ser superadas por meio da adoção de um paradigma dinâmico de
educação, tida como um processo que acompanha a vida das pessoas,
preparando-as para o seu exercício social, e como instrumento de
potencialização de qualidades que lhes permitam maior bem-estar global.
57
desejo de aperfeiçoar e ampliar as formações estritamente ligadas às exigências
da vida profissional, incluindo as formações práticas. Em suma, a “educação ao
longo de toda a vida”, deve aproveitar todas as oportunidades oferecidas pela
sociedade (DELORS et al., 1998, documento on-line).
mais aprendizagem;
mais sociedade;
mais comunicação.
59
Assim, ao defender a ideia de uma necessária retração da escola, propondo que
se promova uma “[...] consolidação do espaço público da educação” (NÓVOA, 2006,
documento on-line), o autor provoca a pensar:
60
A educação não formal, por sua vez, supõe também a intenção de estender a
educação e, por isso, a maioria da população que atinge é de pessoas menos
incluídas no sistema escolar convencional, ainda que não esteja dirigida a
determinados grupos de idade, sexo, classe social, habitat urbano ou rural etc.
Essas pessoas apresentam grande motivação intrínseca, sua adesão a
programas costuma ser voluntária e, sendo seus interesses e necessidades mais
claramente assumidos, podem seguir ou abandonar os programas conforme
entendam que estes satisfazem ou não suas expectativas.
Dessa forma, a educação não formal amplia o próprio entendimento sobre o que
vem a ser a educação, normalmente associado à escolarização, propondo outros
espaços e oportunidades de formação por meio do engajamento voluntário das pessoas.
Sobre a questão “mais comunicação”, entendemos que ela é fundamental para o
exercício da democracia e a construção de uma identidade cidadã. Assim, para
desenvolvermos esses atributos identitários, precisamos de espaços nos quais
possamos aprender a nos pronunciar e a elaborar o que entendemos e pensamos sobre
o mundo, a partir do diálogo e da troca de saberes. As organizações sociais são
excelentes espaços para perceber essas aprendizagens da educação não formal,
ocorrendo, por exemplo, nas assembleias e plenárias públicas que costumam ocorrer
para deliberar sobre assuntos de interesse daquela comunidade, ou nos espaços
colegiados que oportunizam a participação, como os conselhos municipais de diversas
áreas sociais existentes atualmente (BES, 2020).
Assim, podemos definir que a educação não formal serve tanto para
complementar os nossos conhecimentos, propondo aprendizagens de que necessitamos
ao longo da vida, quanto para compensar uma possível defasagem de experiências e
vivências a que não tivemos acesso. Isso precisa ser levado em consideração pelo
pedagogo, ao diagnosticar os locais nos quais vai atuar, a fim de construir as suas
propostas pedagógicas de acordo com o contexto ali existente. Conforme salienta Garcia
(2008, documento on-line):
61
Dessa forma, você pode perceber a importância da educação não formal na
atualidade, uma vez que ela pode acrescentar na formação humana muitos dos
elementos que hoje não são possíveis nem na educação informal, nem na formal. Assim,
a escola e a família não conseguem abranger todas as necessidades e os interesses que
as pessoas buscam, ficando essa finalidade ao encargo dos espaços de educação não
formal. Além disso, é nos espaços da educação não formal que são produzidos os
esforços em torno da transformação social e da busca pela construção de uma sociedade
mais justa e solidária, e menos desigual.
63
Muitas dessas ações transformadoras conscientes citadas pelo autor têm espaço
e suporte para se realizarem nos ambientes não escolares — mais precisamente, nas
organizações em que a educação não formal é ofertada. Dessa forma, a educação não
formal é caracterizada pelos seguintes aspectos:
natureza integracionista;
caráter emancipatório;
natureza transformadora;
finalidade política/participativa;
natureza contextual.
A educação não formal é aquela que se aprende "no mundo da vida", via os
processos de compartilhamento de experiências, principalmente em espaços e
ações coletivas cotidianas. Nossa concepção de educação não formal articula- -
se ao campo da educação cidadã — a qual no contexto escolar pressupõe a
democratização da gestão e do acesso à escola, assim como a democratização
do conhecimento. Na educação não formal, essa educação volta-se para a
formação de cidadãos(ãs) livres, emancipados, portadores de um leque
diversificado de direitos, assim como de deveres para com o(s) outro(s).
65
7.2 O conhecimento nas ações coletivas da educação não formal
Você viu anteriormente que vamos sendo produzidos como sujeitos a partir de
nossa curiosidade e busca por mais conhecimentos. Nesse sentido, podemos afirmar que
aprendemos, de forma intencional ou não, ao longo de toda a nossa vida, por meio das
mídias e das mais variadas formas de cultura que compartilhamos, bem como nos
diversos contextos em que nos encontramos. Ao falarmos em conhecimento, sabemos
que as organizações da educação não formal que estão ao nosso redor em cada fase da
vida são uma excelente fonte a partir da qual podemos aprender (e ensinar), por meio
das interações e trocas com outras pessoas (BES, 2020).
Conforme reitera Marchiori (2018, p. 18), “[...] uma pessoa se revela como ser
social em sua relação com as outras. Dessa forma, emerge nas organizações um
processo contínuo e ininterrupto de construção de culturas”. Em outras palavras, em
todas as organizações, estamos sendo expostos a práticas pedagógicas que nos
ensinam coisas, que nos fornecem novos conceitos e valores, que produzem
competências e nos preparam para o que a vida exige.
Ao falarmos sobre a importância da busca de conhecimento pelo ser humano e
como isso contribui para a nossa formação, devemos considerar os diversos tipos de
conhecimentos existentes. Chauí (2000) divide o conhecimento da seguinte forma: senso
comum, conhecimento mítico, conhecimento religioso, conhecimento científico e
conhecimento filosófico. Observe no quadro abaixo as principais características desses
tipos de conhecimentos.
66
Fonte: Adaptado de Chauí (2000).
mudança;
comunicação;
67
compartilhamento;
práticas;
integração;
adaptação;
competição;
cultura (BES, 2020).
O Movimento pela Base é um grupo não governamental que, desde 2013, reúne
entidades, organizações e pessoas físicas, de diversos setores educacionais,
que têm em comum a causa da Base Nacional Comum Curricular. O Movimento
pela Base acredita que a BNCC, assim como outras políticas públicas e
estratégias, é essencial para melhorar a equidade e a qualidade da Educação do
país. O papel do Movimento pela Base é gerar insumos e evidências para
qualificar o debate público sobre a causa, observar a qualidade dos processos
de construção e implementação do documento, participar dos momentos
coletivos de construção desta e de outras políticas correlatas, por meio de leituras
críticas, audiências e consultas públicas, zelar pela qualidade e disseminar
materiais e informações que apoiem redes e escolas a concretizarem a
implementação com foco na aprendizagem dos alunos. Perceba que esse
“movimento” apresenta ações intencionais e pedagógicas não formais que
educam sobre os aspectos curriculares, dando suporte a várias organizações,
incluindo a escola.
69
que única pela educação. Assim, o conceito de comunidade escolar, ainda que envolva
as organizações do entorno da instituição de ensino, parece restringir a essa organização
a finalidade de educar. Gohn (2004, documento on-line) rebate essa ideia, sugerindo que
seria melhor utilizarmos o termo “comunidade educativa”, pois este envolveria as
estruturas organizadas dentro e fora da escola, entendendo que em ambos os espaços
há intencionalidade e práticas educativas:
70
Os sujeitos reinterpretam o significado das coisas e fatos que recebem, dão
sentido às ações de que participam e produzem novos significados, porque,
embora os significados sejam conceitos, não são fixos nem imutáveis; não são
seres eternos, inativos, e sim ferramentas dinâmicas que nos ajudam a
decodificar o que é uma coisa. No entanto, a própria dinâmica da História os
transforma continuamente. Por isso, sempre estão abertas as portas e as
possibilidades para mudanças, cujo caráter não é dado a priori, podendo ser no
sentido de transformação ou de reiteração de valores e práticas existentes.
Dessa forma, a autora teve a possibilidade de vivenciar muitos dos aspectos que
constituem e caracterizam um espaço da educação não formal:
Cheguei a me envolver com o crime. Droga nunca usei, graças a Deus... Agora
crime, eu desandei bastante. Cheguei a fazer coisa que não era pra ter feito: eu
roubava mesmo! Roubava carro, essas coisas e levava. Aí o Flavão foi lá e
graças a Deus me ajudou. Tirou eu, de novo, do buraco. Duas vezes... eu voltei
pra cá...essa menina que eu falo que é minha namorada, ela que falou pro Flávio
que eu estava mexendo com arma. Eu conheci ela no projeto, ela tinha 12 anos
e eu tinha acho que 16 ou 15, uma coisa assim e namorava com ela. E aí, agora
o Flávio é o meu padrinho de casamento, o Flávio e a Ligia. Eu casei, o Flávio
ajudou a casar, ajudou lá na igreja, na festa, sabe, em tudo assim. Nós fizemos
o maior festão, foi legal. Aí ele é padrinho da minha filha também e meu patrão e
meu pai também. Pra mim ele é isso e a Ligia é a mesma coisa.
73
Ao frequentar os espaços culturais da sua comunidade, você aprende novos
saberes, se apropria de valores e aperfeiçoa a sua humanidade, o que o habilita a ser
um cidadão melhor. Da mesma forma, a cultura envolve tudo aquilo que é ensinado nos
grupos que você frequenta, o que se refere a ideias e formas de ser, pensar e viver (BES,
2020).
75
forma, Moreira e Candau (2007, p. 5), ao considerarem o caráter antropológico da cultura,
definem que ela “[...] identifica-se, assim, com a forma geral de vida de um dado grupo
social, com as representações da realidade e as visões de mundo adotadas por esse
grupo”. A identidade é produzida a partir dessas representações e dos significados
apropriados dos grupos com que os sujeitos convivem, seja na família, com os amigos,
na igreja, na escola, no trabalho, nos espaços públicos, nos programas televisivos, na
internet, etc.
Hall (2016, p. 19) pontua que a cultura “[...] também passou a ser utilizada para
descrever os valores compartilhados de um grupo ou de uma sociedade”. Assim, basta
você pensar como foi ensinado desde a infância e como se apropriou de alguns valores
considerados importantes para aqueles que o educaram, como o amor, a amizade, a
confiança, a lealdade, a honestidade, o altruísmo, a empatia, entre outros. Esses valores
são compartilhados pelos membros de um grupo cultural com o intuito de que se
perpetuem, de que contribuam para o seu benefício pessoal e para toda a coletividade.
Devido às significativas manifestações da cultura e ao seu impacto na vida
contemporânea, alguns autores utilizam a expressão hibridismo cultural (ou “hibridação
cultural”) para indicar que existe uma grande miscelânea ou miscigenação entre as mais
diversas culturas que formam os sujeitos ao longo de sua vida. Conforme Canclini (2008,
p. 19), a hibridação consiste em “[...] processos socioculturais nos quais estruturas ou
práticas discretas, que existiam de forma separada, se combinam para gerar novas
estruturas, objetos e práticas”. Logo, a formação dos indivíduos ocorre também por meio
de processos que vão ser hibridizados a partir das várias organizações e grupos
socioculturais.
Partindo da interpretação do circuito da cultura de Du Gay et al. (1997), Hall
(1997) enfatiza que a cultura também é regulada e utilizada como forma de conduzir as
condutas na sociedade. Assim, a partir dos múltiplos canais de informação a que estão
expostos cotidianamente, os sujeitos podem ser subjetivados por novas ideias e
conceitos que os façam mudar sua trajetória, colocando em cena novos pensamentos e
atitudes. Isso é perceptível no consumo e na necessidade constante de comprar mais e
mais, bem como nas questões relacionadas à estética, na busca do corpo perfeito e do
76
prolongamento da juventude, no empreendedorismo, entre tantas outras ideias que hoje
circulam nas mídias e que, por vezes, capturam os sujeitos (BES, 2020).
Entender como a cultura interfere na formação humana é essencial. As
representações sobre o mundo, ou seja, os sentidos ou significados que os indivíduos
atribuem às coisas, são ensinadas a eles a partir das experiências culturais que
vivenciam. Assim, quando alguém defende que uma etnia, por exemplo, tem maior poder
de representação social pois sua cultura é melhor, entram em cena atos de preconceito
e discriminação. Ao longo da história humana, ocorreram diversos incidentes de violência
e genocídio. Como pedagogo e conhecedor da centralidade da cultura na
contemporaneidade, você deve estar atento para promover uma educação que
contemple todas as culturas com igual respeito e oportunidade de participação e
desenvolvimento. Nesse sentido, você deve realizar práticas pedagógicas nos diferentes
espaços, dentro e fora da escola, com respeito ao outro e reconhecendo a importância
dele para a formação da sua própria identidade.
Como você viu, a cultura tem efeito na subjetividade. Assim, é sempre necessário
considerar a importância do contexto em que se está inserido, pois em cada espaço se
pode aprender e ensinar algo. As trocas ocorrem nas relações dos indivíduos nos locais
que compõem a comunidade, a partir das interações entre seus membros. Esse fator
contribui para que aqueles que frequentam ou compartilham um espaço cultural se
alinhem com seus principais pressupostos. Por exemplo, uma comunidade religiosa
compartilha uma linguagem comum e um entendimento sobre alguns aspectos da vida,
não é? Às vezes, ao se confrontarem com princípios de outras religiões, alguns grupos
entram em disputas em torno de pontos considerados relevantes.
Baumann (2003) faz uma importante constatação a respeito dos significados
idealizados ou imaginados que a palavra “comunidade” apresenta na
contemporaneidade. Ele cita os significados a seguir:
77
conforto;
aconchego;
segurança;
entendimento;
confiança;
ajuda mútua;
simpatia;
amizade (BAUMANN, 2003)
80
Assim, as palavras são parte significativa daquilo que alguém experiência ao
longo da vida. As experiências de que participa na infância, por exemplo, são
fundamentais para que o sujeito se torne um jovem e, posteriormente, um adulto que vive
de forma coerente e harmoniosa com os padrões e normas sociais. Porém, o próprio
conceito de experiência, muitas vezes, é mal- -entendido. Larrosa Bondía (2002,
documento on-line) conceitua a experiência da seguinte forma:
É importante destacar que nem tudo que passa pelo sujeito ao longo da vida
produz algum sentido ou significado. A experiência é que é caracterizada pelo efeito de
proporcionar algo, tocar, mexer de alguma forma com emoções e pensamentos.
Benjamin (1994) afirma que há uma crise da experiência na atualidade, que se justifica a
partir de, no mínimo, quatro aspectos: o excesso de informação, a profusão de opiniões,
a falta de tempo e o excesso de trabalho. Assim, na lógica da sociedade da informação
e do conhecimento, as pessoas despendem grandes esforços para se manterem
informadas sobre assuntos de seu interesse, deixando, muitas vezes, de viver
experiências significativas que lhes atravessem e produzam novos significados (BES,
2020).
Enquanto se encontram nessa busca por informações, os sujeitos procuram
opinar sobre elas, o que também os envolve e dispersa em relação às possibilidades de
experienciar outras situações. Um dos recursos mais escassos na sociedade atual é o
tempo, pois o mundo do trabalho ocupa um período cada vez maior do dia das pessoas.
Assim, com as reconfigurações nas exigências de habilidades e com o incremento das
competências necessárias para se manter a empregabilidade, os indivíduos assumem
cada vez mais tarefas e atribuições, ou ainda assumem outros trabalhos paralelos, o que
absorve quase a totalidade do seu tempo (BES, 2020).
Ao participar dos processos interativos que ocorrem nos espaços formais,
informais e não formais da educação, o sujeito deve ter a oportunidade de viver
81
experiências que o toquem e produzam efeitos em sua formação e na construção da sua
subjetividade e de sua identidade. Para que não existam dúvidas quanto a esses tipos
de educação, acompanhe a conceituação proposta por Bianconi e Caruso (2005,
documento on-line):
A educação formal pode ser resumida como aquela que está presente no ensino
escolar institucionalizado, cronologicamente gradual e hierarquicamente
estruturado, e a informal como aquela na qual qualquer pessoa adquire e
acumula conhecimentos, através de experiência diária em casa, no trabalho e no
lazer. A educação não formal, porém, define-se como qualquer tentativa
educacional organizada e sistemática que, normalmente, se realiza fora dos
quadros do sistema formal de ensino.
82
suspender a opinião;
suspender o juízo;
suspender a vontade;
suspender o automatismo da ação;
cultivar a atenção e a delicadeza;
abrir os olhos e os ouvidos;
falar sobre o que nos acontece;
aprender a lentidão;
escutar os outros;
cultivar a arte do encontro;
calar muito;
ter paciência;
dar-se tempo e espaço.
Como você pode perceber, uma experiência real e significativa para a formação
dos sujeitos — que os capture e envolva tanto os aspectos sensoriais quanto os
cognitivos — exige interromper o ritmo e a lógica da sociedade atual. Tal sociedade é
caracterizada por um dinamismo exagerado, uma busca excessiva pelas informações e
pelas sensações geradas nos relacionamentos virtuais, que, em alguns casos, acabam
ocupando grande parte da vida social das pessoas. A lógica das redes sociais prevê a
ligação em rede dos sujeitos, o que ocorre por meio de mecanismos de conexão e
desconexão de contatos, denominados “amigos” nesses espaços. Porém, é importante
considerar se essas conexões ou amizades virtuais têm o mesmo teor daquelas
encontradas nas comunidades do mundo real (BES, 2020).
Uma das grandes problemáticas da sociedade contemporânea é o
individualismo, que, por meio das redes sociais, ganhou mais impulso. Essa situação,
aliada a práticas de consumo exageradas, acaba também impedindo, ou ao menos
diminuindo, a participação nos espaços culturais da sociedade. É claro que as redes
sociais, assim como as demais mídias, também são espaços pedagógicos e amplamente
utilizados em ações de educação formal e não formal. Contudo, é necessário um
83
equilíbrio entre as experiências físicas e as virtuais para que o desenvolvimento pleno
dos sujeitos se realize (BES, 2020).
9 PROJETOS SOCIAIS
87
ensino às crianças para que sejam agentes de mudanças do seu próprio
desenvolvimento (por meio de atividades de educação financeira);
discussão com os pais sobre temas ligados à criança, ao adolescente e
ao trabalho infantil, no âmbito da escola ou do trabalho com as famílias,
além da proposição de atividades que estimulem a geração de renda
sustentável e a conscientização sobre a necessidade de manter as
crianças na escola;
apoio para a reunião informal de grupos de 10 a 20 pessoas de uma
mesma região, sobretudo mulheres empobrecidas que passam a se ajudar
e, como consequência da ajuda mútua, melhoram suas condições de vida,
afastando-se da linha de pobreza.
89
9.3.3 Projeto de apoio a refugiados
90
Desde o início de suas atividades, o Migraflix já alcançou mais de 110 mil
brasileiros com suas atividades. Hoje, empodera mais de cem refugiados e imigrantes de
26 país que moram em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília.
Todo o trabalho realizado é pautado pelos valores de respeito à história de cada
refugiado e imigrante, sem preconceito de qualquer tipo. A ideia é promover
oportunidades para que os refugiados adquiram independência e uma nova vida no
Brasil. Também está em jogo a mobilização de esforços para que a sociedade brasileira
compartilhe os mesmos valores, desfazendo preconceitos em relação à situação de
refúgio (TOLEDO, 2020).
91
10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
REFERÊNCIA BÁSICA
REFERÊNCIA COMPLEMENTAR
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https://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1702200208.htm. Acesso em: 11 mai. 2021.
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COOMBS, P. H. The world educationalcrisis. New York: Oxford University Press, 1968.
DALE, E. Audiovisual methods in teaching. New York: Reinhart & Winston, 1969.
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contextualização do problema. In: DELOU, C. M. C. et al. (org.). Fundamentos teóricos
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99