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DIREITO ADMINISTRATIVO

Princípios da Adm. Pública Não Expressos III


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PRINCÍPIOS DA ADM. PÚBLICA NÃO EXPRESSOS


NA CONSTITUIÇÃO III

Princípio da continuidade dos serviços públicos

O serviço público não pode parar e deve sempre atender ao interesse público. Excepcio-
nalmente, pode ocorrer sua interrupção, como segurança das instalações, melhoria (casos
de bairros que têm interrompidos os fornecimentos de água ou energia, por exemplo, para
reparos e melhorias). A interrupção também pode ocorrer por inadimplemento do particular. O
princípio da continuidade dos serviços públicos fundamenta a proibição de algumas catego-
rias entrarem em greve (como a segurança pública). A greve nesses casos só poderia ocorrer
se quem deu causa à mesma foi o Estado, por conta de negligência ou ilegalidade por ele
praticada. Quando a administração pública aplica a caducidade de um serviço público, pode
assumi-lo. A caducidade ocorre quando o particular não está prestando o serviço de maneira
correta (ex.: uma empresa que deveria prestar serviço de transporte público, mas não o exe-
cuta – a lei autoriza que a administração pública venha a prestar o serviço, podendo inclusive
realizar uma ocupação temporária).
O princípio da continuidade gera obrigação para a administração pública de prestar o ser-
viço para a comunidade de maneira correta.
Esse princípio é positivado, expresso em lei (que regulamenta concessão de serviços
públicos – Lei n. 8.987/1995).

Art. 6º
§ 3º Não se caracteriza como descontinuidade do serviço a sua interrupção em situação de emer-
gência ou após prévio aviso, quando:

Obs.: são dispostas as exceções.

I – motivada por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações; e,

Obs.: se um raio atinge um transformador de energia que distribui energia para um bairro, o
serviço público será interrompido no bairro inteiro até que possa ser reestabelecido.
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II – por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da coletividade.

Obs.: a interrupção só pode ocorrer após prévio aviso.


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§ 4º A interrupção do serviço na hipótese prevista no inciso II do § 3º deste artigo não poderá


iniciar-se na sexta-feira, no sábado ou no domingo, nem em feriado ou no dia anterior a feriado.
(Incluído pela Lei n. 1.4015, de 2020)

Obs.: isso para proteger o particular: o banco pode não estar aberto para realização do
pagamento, por exemplo.

ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA.


CONSUMIDOR INADIMPLENTE. SUSPENSÃO DO SERVIÇO. PREVISÃO LEGAL. POSSI-
BILIDADE. PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE. ART. 6º, § 3º, II, DA LEI N. 8.987/95. 1.
É lícito à concessionária interromper o fornecimento de energia elétrica se, após aviso prévio,
o Município devedor não solve dívida oriunda de contas geradas pelo consumo de energia.
Entretanto, para que não seja considerado ilegítimo, o corte não pode ocorrer de maneira
indiscriminada, de forma a afetar áreas cuja falta de energia colocaria em demasiado perigo
a população, como ruas, hospitais e escolas públicas (STJ).
O município é um consumidor de energia e não paga a conta. O fornecedor pode inter-
romper, mas não para o município todo: devem continuar recebendo os hospitais, as escolas
públicas, os presídios, por exemplo. O mesmo se dá em caso de particular que tem UTI em
casa para realizar um tratamento e deixa de pagar a conta de energia. Nesse caso, o opera-
dor não pode cortar a energia, por colocar em risco a vida da pessoa. É necessário sempre
avaliar o caso concreto.
Prof.ª Maria Di Pietro: quando se fala da continuidade do serviço público, ela gera aspec-
tos para o Direito Administrativo (transcende o conceito da continuidade):
(i) proibição de greve dos servidores públicos (não é uma vedação absoluta);
(ii) necessidade de institutos como a suplência, a delegação e a substituição para preen-
cher as funções públicas temporariamente vagas (ex.: um chefe entra em licença médica e
um de seus funcionários o substituirá pelo período de 10 dias. O objetivo é atender ao princí-
pio da continuidade do serviço público, bem como o princípio da eficiência);

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(iii) impossibilidade, para quem contratada com a Administração, de invocar a cláusula da exceção
do contrato não cumprido (também não é uma vedação absoluta: em um contrato administrativo,
quando a administração atrasa os pagamentos por até 90 dias, o contratado deve continuar pres-
tando o serviço público. Só após 90 dias o contratado pode recorrer ao Judiciário e pedir a sus-
pensão do fornecimento da atividade. Ex.: uma empresa entrega merenda para as escolas e todo
dia 10 a administração realiza o pagamento. Se a administração não o realiza, o fornecedor deve
continuar o sérvio por 90 dias. Só após pode pedir ao Judiciário a suspensão do fornecimento da
atividade);

(iv) possibilidade de a Administração utilizar os equipamentos e instalações da empresa


com que ela contrata (ex.: uma empresa é contratada para asfaltar uma estrada. No meio
do caminho, a empresa fale, ou não está prestando o serviço como deveria. A administração
pública pode ocupar o canteiro de obras, as máquinas da empresa, contratar os funcionários
da empresa, para dar continuidade ao serviço);
(v) encampação da concessão de serviço público (o prestador do serviço não o está reali-
zando como deveria, então a administração pública rescinde o contrato administrativo e pode
realizar o serviço ela mesma).

Princípio da segurança jurídica

A Administração deve interpretar norma administrativa da forma que melhor garanta o


atendimento do fim público a que se dirige, vedada aplicação retroativa de nova interpreta-
ção (Art. 2, XII, Lei n. 9.784/99). Ex.: a Lei n. 5.320/15 autoriza o prefeito de um município a
regulamentar a ocupação do solo em sua região, mediante o decreto de execução 3.419/16.
O prefeito edita o decreto concedendo aos proprietários de imóveis do bairro A, que podem
usar a área da calçada para fazer uma construção em até 3 metros. Após alguns anos, o pre-
feito mudou e editou o decreto, que passou a ser o n. 3.620/19 e interpretou a lei de maneira
diferente: a área pública só poderia ser utilizada até 1 metro. Para os novos proprietários, só
pode avançar 1 metro na calçada, mas os que avançaram no decreto anterior podem conti-
nuar, pois o direito já incorporou no patrimônio jurídico. Se for para beneficiar, a lei não retro-
age, o particular usa a lei do momento (ex.: antes, o decreto só permitia avançar 1 metro e
depois, 3 metros. O particular passa a usar a legislação mais recente).
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A doutrina majoritária sustenta que o princípio da segurança jurídica pode ser dividido em
dois aspectos:
a. objetivo: garantia da estabilidade das relações jurídicas (objetivo porque está escri-
to na lei);
b. subjetivo: proteção à confiança do administrado (para alguns, o princípio da proteção à
confiança é um subprincípio do princípio da segurança jurídica), que deposita sua con-
fiança nos atos praticados pelo Poder Público. Pelo princípio da proteção à confiança
o administrado deposita sua confiança nos atos praticados pela administração. Dessa
forma, cria a expectativa de que serão respeitados pela própria Administração Pública.

Art. 5º, XXXVI, CF: a lei não prejudicará o direito, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada (a lei não
pode alterar uma sentença que já foi dada pelo Judiciário). Quando a administração muda seu
posicionamento, os efeitos são ex nunc (dali em diante, não pode retroagir).
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No contexto do princípio da segurança jurídica, é preciso lembrar-se da irretroatividade


legal e da estabilidade das relações jurídicas. A segurança jurídica representa uma atividade
objetiva e proteção da confiança subjetiva. O princípio da proteção da confiança representa
a confiança das pessoas nos atos praticados pela administração.
O princípio da irretroatividade legal é do Direito e alcança os atos administrativos. A esta-
bilidade das relações jurídicas tem como base o princípio da segurança jurídica.
Estado de Direito: o Estado cria suas normas e posições, e é sujeito às normas criadas.

DIRETO DO CONCURSO
1. (CESPE/TJ-PR/JUIZ SUBSTITUTO/2017) De acordo com o art. 54 da Lei n.º 9.784/1999,
o direito da administração de anular os atos administrativos de que decorram efeitos
favoráveis para os destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram
praticados, salvo comprovada má-fé. Trata-se de hipótese em que o legislador, em detri-
mento da legalidade, prestigiou outros valores. Tais valores têm por fundamento o princí-
pio administrativo da

a. presunção de legitimidade.
b. autotutela.
c. segurança jurídica.
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d. continuidade do serviço público.

COMENTÁRIO
O ato é praticado e traz algum efeito favorável para o particular. Se tiver algum vício, a
administração tem 5 anos para fazer a anulação (salvo se o particular estiver de má-fé). Após
esse período, ocorre a convalidação tácita.

Ex.: um servidor aposenta, o ato já foi homologado pelo Tribunal de Contas, ele já rece-
beu a primeira parcela de seus proventos, e 3 anos depois, a administração descobre um
erro no processo de aposentadoria (o servidor ainda não tinha o tempo de contribuição exi-
gido pela Constituição). O ato nesse caso pode ser anulado. Se a administração descobre o
fato após 10 anos, não pode anular.
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Convalidação tácita: o ato se aperfeiçoa, não é possível alterá-lo mais.
Presunção de legitimidade: presume-se que os atos editados pela administração
são legais.
Princípio da autotutela: autocontrole.
Em relação aos princípios aplicáveis à administração pública, julgue o próximo item.

DIRETO DO CONCURSO
2. (CESPE/STJ/ANALISTA JUDICIÁRIO/2018) Em decorrência do princípio da segurança
jurídica, é proibido que nova interpretação de norma administrativa tenha efeitos retroati-
vos, exceto quando isso se der para atender o interesse público.

COMENTÁRIO
Mesmo se for para atender interesse público, uma nova interpretação não pode retroagir.

3. (FGV/ALERJ/PROCURADOR/2017) O art. 54, da Lei n. 9.784/99, dispõe que o direito


da Administração de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis
para os destinatários decai em 5 (cinco) anos, contados da data em que foram pratica-
dos, salvo comprovada má-fé. Da análise do texto normativo, verifica-se que o legislador
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procurou conjugar os aspectos de tempo e boa-fé, sendo certo que teve o objetivo funda-
mental de estabilizar as relações jurídicas pelo fenômeno da convalidação de atos admi-
nistrativos inquinados de vício de legalidade. Nesse contexto, de acordo com a doutrina
de Direito Administrativo, a citada norma aborda especificamente os seguintes princípios
reconhecidos da Administração Pública:

a. autotutela e certeza jurídica;


b. segurança jurídica e proteção à confiança;
c. inafastabilidade da jurisdição e proporcionalidade;
d. temporalidade e moralidade administrativas;
e. indisponibilidade e aproveitamento administrativos.

COMENTÁRIO
O ato pode ter vício em qualquer de seus elementos, se passar 5 anos, não é possível
alterá-lo mais, ele passa a ser válido.
Em relação aos princípios informativos da Administração Pública e aos atos administra-
tivos, julgue o item.

4. (QUADRIX/CREA-TO/ADVOGADO/2019) Como decorrência do princípio da segurança


jurídica, a aplicação retroativa da nova interpretação que garanta o fim público a que se
dirige é possível para atingir, inclusive, os processos administrativos já julgados, desde
que a nova interpretação seja mais favorável à Administração Pública.
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COMENTÁRIO
A nova interpretação jamais pode retroagir. Se beneficiar o particular, o particular no caso
utiliza a nova interpretação para ampliar seu direito, não é que a nova interpretação retroage.

5. (FCC/AL-PA/ANALISTA LEGISLATIVO/2020) Considerando os princípios que regem a


Administração Pública, de acordo com o princípio da:
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I – Indisponibilidade do interesse público, os interesses públicos não se encontram à livre


disposição do Administrador público.
II – Supremacia do interesse público, a Administração Pública está sempre acima dos
direitos e garantias individuais.
III – Segurança jurídica, deve ser prestada a assistência jurídica integral e gratuita aos
que comprovem insuficiência de recursos.
IV – Continuidade do serviço público, o serviço público, atendendo a necessidades essen-
ciais da coletividade, como regra, não deve parar.

Está correto o que se afirma APENAS em


a. II e III.
b. I e II.
c. III e IV.
d. I e IV.
e. II e IV.

COMENTÁRIO
A administração pública tem relação vertical, mas precisa atender e respeitar os direitos
individuais.

GABARITO
1. c
2. E
3. b
4. E
5. d

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula
preparada e ministrada pelo professor Rodrigo Cardoso.
A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do conteúdo
ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela leitura exclu-
siva deste material.
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