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IMPLICAÇÕES SÓCIO-PSICOLÓGICAS DO TRANSTORNO DE ELIMINAÇÃO DO

CONTROLE ESFINCTERIANO

SOCIO-PSYCHOLOGICAL IMPLICATIONS OF SLOT CONTROL ELIMINATION DISORDER

IMPLICACIONES SOCIO-PSICOLÓGICAS DEL TRASTORNO DE ELIMINACIÓN DEL


CONTROL DE SLOT

Emília da Conceição Pereira Kavela1


emiliakavela@hotmail.com

Pedro Chiangalala Kavela2


pedrochiangalalacavela@yahoo.com

RESUMO

Este estudo visou compreender a função do Sistema Nervoso Central no


funcionamento do sistema excretor do organismo “humano”. O funcionamento do
sistema excretor é regulado pelos esfíncteres. E, sempre que esta função for exercida
sem a orientação consciente da pessoa, através do córtex cerebral, estamos em
presença psicopatológica que se chama «transtorno da eliminação» que se distingue
em Enurese que é a eliminação repetida da urina em locais inapropriados e, Encoprese
que é a eliminação repetida de fezes em locais inapropriados. Tratou-se de um estudo
de revisão bibliográfica, que ficou motivada pela observância de falta de orientação e
treinamento por parte de muitos professores aos alunos sobre a necessidade do
controlo esficteriano para evitar manifestações involuntárias de urina (Enurese) ou de
fezes (Encoprese) que ocorrem muitas vezes entre alunos do Ensino Primário
sobretudo nas classes iniciais, situação que tem provocado depressão infantil e fuga à
escola por parte de muitas crianças que preferem não chegar ou fugir da escola, para
não ser alvo de bullying por Enurese e/ou Encoprese.
Palavras-chave: Implicações, sócio-psicológicas, transtorno, controle esfincteriano.

1 Mestranda em Educação Especial pelo ISCED/Benguela; Licenciada em Ensino Primário, pela Escola Superior
Pedagógica do Cuanza Norte/Angola. Professora da Escola Primária “Dundu-Yamutulo” no Lucala.
2 Doutorando em Andragogia e Mestre em Didáctica do Ensino Primário pela UAA/Paraguay; Licenciado em

Educação Especial pelo ISCED/Benguela/Angola; Bacharel em Filosofia pelo Seminário Maior do “Bom Pastor” de
Benguela/Angola. Docente universitário na ESPECN/Angola.
RESUMEN

Este estudio tuvo como objetivo comprender la función del Sistema Nervioso Central en
el funcionamiento del sistema excretor del organismo “humano”. El funcionamiento del
sistema excretor está regulado por los esfínteres. Y, siempre que esta función se ejerce
sin la guía consciente de la persona, a través de la corteza cerebral, estamos en una
presencia psicopatológica que se llama "trastorno de eliminación" que se distingue en
Enuresis que es la eliminación repetida de orina en lugares inadecuados y, Encopresis
que Es la eliminación repetida de heces en lugares inadecuados. Este fue un estudio de
revisión bibliográfica, el cual fue motivado por la falta de orientación y capacitación por
parte de muchos docentes a los estudiantes sobre la necesidad del control esfitérico
para evitar las manifestaciones involuntarias de orina (Enuresis) o heces (Encopresis)
que suelen presentarse entre alumnos de primaria, especialmente en las clases
iniciales, situación que ha provocado depresión infantil y evitación escolar por parte de
muchos niños que prefieren no llegar o huir del colegio, para no ser objeto de acoso
escolar por Enuresis y/o Encopresis.

Palabras clave: Implicaciones sociopsicológicas, trastorno, control de esfínteres.

ABSTRACT

This study aimed to understand the function of the Central Nervous System in the
functioning of the excretory system of the “human” organism. The functioning of the
excretory system is regulated by the sphincters. And, whenever this function is
exercised without the person's conscious guidance, through the cerebral cortex, we are
in a psychopathological presence that is called "elimination disorder" which is
distinguished in Enuresis which is the repeated elimination of urine in inappropriate
places and, Encopresis which is the repeated elimination of feces in inappropriate
places. This was a bibliographical review study, which was motivated by the lack of
guidance and training on the part of many teachers to students on the need for
sphicteric control to avoid involuntary manifestations of urine (Enuresis) or feces
(Encopresis) that They often occur among primary school students, especially in the
initial classes, a situation that has caused childhood depression and avoidance of school
by many children who prefer not to arrive or run away from school, so as not to be the
target of bullying due to Enuresis and/or Encopresis.

Keywords: Implications, socio-psychological, disorder, sphincter control.

INTRODUÇÃO

Falar dos «transtornos de eliminação» é abordar assuntos que têm que ver com o
disfuncionamento do sistema urinário e digestivo em termos de expulsão da urina ou
fezes. Trata-se da incapacidade do indivíduo controlar a micção ou a defecação, ou
duas coisas simultaneamente por distúrbios neuroanatómicos ou perturbações no
conportamento. O tema remete-nos à compreensão do sistema excretor do organismo
“humano”, cujo funcionamento é regulado pelos esfíncteres. Os esfíncteres fazem parte
do Sistema Nervoso Periférico na parte final da medula espinal, junto do cóxis, isto é,
na região sacro. Os esfíncteres têm a função de executar aferências (a condução da
urina ou fezes para dentro do organismo), eferências (a expulsão da urina ou das fezes
para fora do organismo), controlando assim a micção e a defecação. E, sempre que
esta função for exercida sem a orientação consciente da pessoa, através do Sistema
Nervoso Central (córtex cerebral), estamos em presença psicopatológica que se chama
«transtorno da eliminação» que se distingue em Enurese que é a eliminação repetida
da urina e, Encoprese que é a eliminação repetida de fezes em locais inapropriados.

ABORDAGEM PSICOPATOLÓGICA SOBRE A ENURESE E A ENCOPRESE

1. Definição e Conceito de Enurese:

Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa Porto Editora (1979, p. 548), a “enurese ou


enuresia é uma palavra que vem do grego (enourein) que significa emissão involuntária
ou inconsciente das urinas; incontinência de urinas”.

Soco, et ali (2010) conceituam a enurese como a “falta de controlo sistemático da urina
em locais inapropriados, após uma idade em que a pessoa já estaria em altura de
controlar a sensação de urinar. É mais frequente nos rapazes do que nas meninas” (p.
55).

1.1. Sinais e sintomas da Enurese

Os sinais de enurese começam aos (5) cinco anos, quando a criança faz xixi
involuntariamente (na cama ou na roupa), pelo menos duas vezes por semana num
mínimo de (3) três meses consecutivos. No adolescente, no jovem e no adulto ocorre
quando este, durante o sono ou em estado de vigia urina-se involuntariamente.

Em Psicofisiologia, explica-se que apesar de que o controle da micção parecer simples,


o seu funcionamento aprsenta níveis de regulação complexa que somente através de
um estudo profundo em Anatomia e Fisiologia poderíamos compreender, uma vez que
intervêm neste processo os estados de consciência e inconsciência da pessoa,
envolvendo assim o Sistema Nervoso Central (encêfalo e o córtex cerebral) e o Sistema
Nervoso Periférico (medula sacral e o bulbo). Assim sendo, o indivíduo não consegue
controlar o sinal de mixação emitido pelo Sitema Nervos Periférico ao Sistema Urinário
(Soco, et ali, 2010).

1.2. Factores etiológicos e suas características

As causas ou factores etiológicos e características são relativamente comuns nas


literaturas consultadas. Mas, apegamo-nos na caracterização e explicações do DSM-5
(2014). Da análise feita deste documento, pudemos identificar (5) cinco factotes:

a) Factores hereditários: filhos de pai ou mãe enurética tendem a ser enuréticos;

b) Disfunções neuroanatómicas: atrasos no desenvolvimento dos ritmos


circadianos da produção de urina, em síndrome da bexiga instável). A enurese
ocorre com muita frequência em crianças, adolescentes, jovens ou adultos com
deficiência intelectual (severa ou profunda); pessoas paraplégicas ou
tetraplégicas, com outras perturbações associadas;

c) Problemas de saúde: infecção urinária (no homem ou na mulher), prostatite no


homem, disfunção do diafragma por infecções vaginais (na mulher), entre outras
doenças. A velhice com comorbidades também está entre os factores e;

d) Factores comportamentais: sintomas de comportamento disruptivo,


incontinência urinária durante o sono, incontinência por lembrança de um sonho
que envolvia micção, incontinência urinária por adiamento da micção, relutância
em usar o banheiro em virtude de ansiedade de uma actividade que a criança
esteja a realizar, medo de alguma represália ou castigo por incumprimento de
alguma tarefa, problemas emocionais (estado de choque, medo, excesso de
manifestação de alegria ou de tristeza).

e) Factores sócio-ambientais: treinamento atrasado ou inexistente do controle


esfincteriano e estresse psicossocial. A enurese pode ocorrer por inadaptação da
criança a novos contextos ou mudanças significativas (a ida da criança à escola,
mudança para uma nova escola, nova família, etc.).

Ainda dentro das causas sócio-ambientais, a enurese também pode acontecer


na mulher por altura do orgasmo sexual.

1.3. Classificação ou tipos de Enurese segundo o DSM-5

a) Classificação da enurese quanto a altura (idade) em que se manifesta:

Enurese Primária: caso a criança já tenha atingido os (5) cinco anos, que é a idade em
que começa o controlo esfincteriano, uma vez que já foi treinado nas idades anteriores;

Enurese Secundária: caso a criança já tenha chegado a controlar por um período


mínimo de (6) seis meses, passado os (5) cinco anos que se considera a idade ideal de
início de controlo esfincteriano e, esta vir novamente manifestar poliúria noturna ou
incontinência diurna da urina.

b) Subtipo ou classificação da enurese quanto ao período do dia em que se


manifesta:

Enurese monossintomática: quando ocorre exclusivamente no período noturno (dá-se


a eliminação de urina apenas durante o sono noturno). Esta acontece três horas depois
do indivíduo apanhar sono, sobretudo a criança adormecer;

Incontinência urinária: é um subtipo de enurese que ocorre quando se manifesta


exclusivamente diurno. Neste caso, o indivíduo não manifesta enurese noturna.
Indivíduos com esse subtipo podem ser divididos em dois grupos: os com
“incontinência de urgência” para os indivíduos que têm sintomas de urgência urinária
e instabilidade do detrusor, enquanto aqueles com “adiamento da micção” adiam
conscientemente a micção até resultar em incontinência.
Enurese não monossintomática: este subtipo de enurese manifesta-se
simultaneamente no indivíduo quer no período noturno e diurno. É, portanto, a
combinação dos dois tipos (diurna e nocturna) (DSM-5, 2014, p. 356).

1.4. Resenha histórica sobre a enurese


A resenha histórica sobre a enurese refere-se à prevalência desta patologia entre os
indivíduos, o desenvolvimento e curso da mesma em diferentes situações e ocasiões
em que ela ocorre.

Prevalência

A prevalência de enurese é de 5 a 10% entre crianças de (5) cinco anos, de 3 a 5%


entre crianças de 10 anos e em torno de 1% entre indivíduos com 15 anos ou mais.

Desenvolvimento e Curso

Dois tipos de curso de enurese foram descritos: um tipo “primário”, no qual o indivíduo
nunca estabeleceu continência urinária, e um tipo “secundário”, no qual a perturbação
se desenvolve depois de um período de continência urinária estabelecida. Não há
diferenças na prevalência de transtornos mentais comórbidos entre os dois tipos.

Por definição, a enurese primária começa aos (5) cinco anos de idade. A faixa etária
mais comum de início da enurese secundária é entre (5) cinco e (8) oito anos, mas ela
pode ocorrer em qualquer idade. Depois dos (5) cinco anos, a taxa de remissão
espontânea é de (5) cinco a 10% por ano.

A maioria das crianças com o transtorno torna-se continente até a adolescência, mas
em aproximadamente 1% dos casos, o transtorno continua até a idade adulta. A
enurese diurna é incomum depois dos (9) nove anos de idade. Enquanto a
incontinência diurna ocasional é comum na infância intermediária (dos 5 a 12 anos), ela
é substancialmente mais comum nos indivíduos que já têm também enurese noturna
persistente. Quando a enurese persiste até o fim da infância ou da adolescência, a
frequência da incontinência pode aumentar, enquanto a continência na primeira infância
geralmente está associada a uma frequência descrescente de enurese noturna (DSM-5,
p. 356).

Culturalmente, a enurese tem sido relatada em vários países europeus, africanos e


asiáticos, bem como nos Estados Unidos. Em Angola, a taxa de ocorrência
(prevalência) é de alguma maneira similarem relação à outros países de África. As
taxas de enurese em orfanatos e em outros abrigos são muito altas, provavelmente
devido à forma incorrecta em que se orienta o treinamento do controlo esfincteriano, ou
por causa de ambientes pouco favoráveis à socialização na primeira infância e
situações de violência doméstica cujas vítimas sejam crianças e adolescentes ou
mesmo por causa do bullying nas escolas.

O Diagnóstico Diferencial da Bexiga (sintoma de bexiga instável); condição médica


(enurese por efeito colateral dos medicamentos antipsicóticos, diuréticos e outros que
possam provocar incontinência); sintomas de cormobidades decorrente do efeito pós-
tratamento; atraso de desenvolvimento da fala, atraso na aprendizagem de
comportamentos socialmente aceites em relação à continência urinária; histórico de
sonambulismo e transtorno de terror noturno também são considerados históricos
causadores de enurese.

O risco relativo de ter um filho que desenvolva enurese é maior para pais com história
de enurese do que para mães com a mesma história.

1.5. Diagnóstico da enurese

Os diagnósticos das perturbações psicopatológicas não são uniformes, variando de


acordo com a perspectiva do especialista que o faz, dependo dos factores ou causas
etiológicas e dos critérios que se estabelecem em determinado estudo, quer de âmbito
anatómico-fisiológico, psicofisiológico ou psicopatológico, etc. Neste trabalho,
adoptamos os (4) critérios do Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais 5ª Edição (DSM-5) da Associação Psiquiátrica Americana que são:
Critério-A: A característica essencial da enurese é a eliminação repetida de urina
durante o dia ou à noite na cama ou na roupa. Essa eliminação é mais comumente
involuntária, mas, às vezes, pode ser intencional.

Critério-B: Para se qualificar para um diagnóstico de enurese, é preciso que a


eliminação de urina ocorra no mínimo (2) duas vezes por semana durante pelo menos
(3) três meses consecutivos ou que cause sofrimento clinicamente significativo ou
prejuízo no funcionamento social, acadêmico (profissional) ou em outras áreas
importantes da vida do indivíduo.

Critério-C: É preciso que o indivíduo tenha chegado a uma idade na qual se espera a
continência (por exemplo, uma idade cronológica mínima de (5) cinco anos ou, para
crianças com atraso no desenvolvimento, uma idade mental mínima de (5) cinco anos).

Critério-D: A incontinência urinária não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma


substância (por exemplo, diurético, medicamento antipsicótico) ou a outra condição
médica, por doenças permanentes (por exemplo, diabetes, espinha bífida, transtorno
convulsivo).

À estes critérios associam-se outras características que ajudam na realização do


diagnóstico, como são os casos da:

Enurese noturna: quando a eliminação ocorre ocasionalmente durante o sono de


movimentos rápidos dos olhos (REM), e a criança talvez recorde um sonho que
envolvia o acto de urinar. A enurese noturna é mais comum em indivíduos do sexo
masculino.

Enurese diurna (em vigília): quando a criança adia a micção até ocorrer a
incontinência, às vezes por relutância em usar o banheiro em virtude de ansiedade
social ou por preocupação com actividades escolares ou lúdicas. A incontinência diurna
é mais comum nos do feminino. O evento enurético ocorre mais comumente no início
da tarde nos dias escolares e pode estar associado a sintomas de comportamento
disruptivo. A enurese costuma persistir depois do tratamento apropriado de uma
infecção associada.

1.6. Consequências Funcionais da Enurese

O grau de prejuízo associado à enurese está relacionado às limitações nas actividades


sociais da criança, do adolescente ou mesmo do adulto (por exemplo, incapacidade
para dormir fora de casa, incontinência durante actividades que exigem continência),
efeitos na autoestima, ao nível de rejeição social pelos pares, além de a raiva, punição
e rejeição por parte dos cuidadores da criança ou do velho.

1.7. Tratamento da Enurese

Para descrevermos as formas de tratamento fizemos recurso ao portal da internet, mais


concretamente ao site Oficina de Psicologia que apresenta sucintamente (3) três formas
de intervenção psicoterapêutica em perturbações de eliminação, nomeadamente:

(i) Terapia Cognitiva: esta terapia tem como foco o confronto pessoal com crenças
desajustadas. Visa desconstruir ideia ou pensamentos que prognosticam incontinência
urinária. Esta terapia tem como método, tornar a criança consciente de seus
pensamentos, ideias ou expectativas e transforma-los.

(ii) Terapia Sistémica ou Familiar: esta intervenção visa a integração dos


diversos agentes educativos da criança na resolução do problema da eliminação,
utilizando como método a terapia familiar, psico-educacional e a articulação entre os
contextos familiar, escolar, social e comunitário.

(iii) Terapia Comportamental: o foco desta intervenção é a adaptação do


comportamento ao ambiente. Os métodos que se usam nesta psicoterapia são, entre
outros, a sensibilização e incentivo de hábitos e rotinas; aprendizagem, modelagem e
reforço positivo de comportamentos e, os ensaios e sistemas de recompensas.

2. Definição e conceito de Encoprese


Como já foi explicitado acima, quer a Enurese como a Encoprese decorrem do
descontrolo sistemático do Sistema Excretor do organismo. Apesar de maior parte dos
autores escreverem (Encoprese), o Dicionário da Língua Portuguesa Porto Editora
(1979, p. 527) apresenta o termo Encoprose que é a incontinência das matérias fecais,
geralmente nocturnas.

O DSM-5 (2014, p. 358) conceitua a Encoprese como sendo a “eliminação intestinal


repetida de fezes em locais inapropriados (por exemplo, na roupa ou no chão),
voluntária ou involuntária”.

2.1. Sinais e sintomas da Encoprese

São sinais e sintomas da perturbação de eliminação fecal (encoprese): defecar pelo


menos (1) uma vez por mês em três meses consecutivos; defecação dolorosa; fezes
retidas ou gazes encontradas no canal rectal durante o diagnóstico gastrintestinal quer
por via de exames físicos ou radiografia abdominal.

2.2. Factores etiológicos e suas características

a) Factores hereditários: os filhos de pais que já sofreram ou sofrem de


encoprese tendem a manifestarem este transtorno, tal como na enurese;

b) Factores anatómico-fisiológicos: estes estão associados à genética e


distúrbios fisiológicos (insensibilidade da necessidade fecal ou incapacidade de
conter as fezes);

c) Factores de saúde: incontinência fecal provocada por diarreia crônica, espinha


bífida, estenose anal, hemorróides, pressão de ventre, inflamação na região do
ânus, desvio do canal fecal por cirurgia do intestino grosso, alimentação pobre
em fibras, excessivo consumo de açúcar ou produtos lácteos;

d) Factores comportamentais: estresses psicológicos, treinamento inadequado ou


inexistente do controlo esfincteriano, comportamento disruptivo, clautro-fobia,
congestão, ansiedade de defecação; no homem ou na mulher pode acontecer
encoprese por prática de masturbação anal (sexo anal).

e) Factores sócio-ambientais: problemas de socialização aos novos ambientes


(ida à escola, passar a noite fora de casa, etc); crenças erradas sobre a
evacuação, tabus; falta de higiene e de cuidados por parte dos educadores (pais,
encarregados de educação e educadores na pré-escola).
2.3. Classificação ou tipos de Encoprese segundo o DSM-5

a) Classificação da encoprese quanto a altura em que se manifesta:

Os dois tipos de enconprese mais comuns são:

Enconprese primário ocorre quando o indivíduo ainda nunca chegou a estabelecer a


continência fecal e, Enconprese secundário, no qual a perturbação se desenvolve
depois de um período de continência fecal estabelecida. Ainda no DSM-5 (2014)
descrevem-se os subtipos de encoprese:

Encoprese com constipação e incontinência por extravasamento: quando há


evidência de constipação no exame físico ou pela história e manifesta-se mais durante
o sono nocturno.

Encoprese sem constipação e incontinência por extravasamento: Não há evidência


de constipação no exame físico ou pela história. Neste caso, as fezes podem ser
depositadas num local destacado, o que normalmente está associado à presença de
transtorno de oposição desafiante ou transtorno da conduta, ou pode ser consequência
de masturbação anal.

Transtorno da Eliminação Especificado: este subipo pode ocorrer com sintomas


urinários e fecais.

Transtorno da Eliminação Não Especificado: este subipo pode ocorrer com sintomas
urinários e fecais.
2.4. Resenha histórica sobre a Encoprese

A Prevalência da encoprese estima-se que aproximadamente 1% das crianças de (5)


cinco anos de idade tenham encoprese, e o transtorno é mais comum no sexo
masculino do que no feminino. Porém, a enurese e encoprese são cormóbidos mais no
sexo femino que no masculino.

O desenvolvimento e curso da encoprese não é diagnosticada até a criança tcompletar


a idade cronológica mínima de 4 anos (ou, no caso de crianças com atraso no
desenvolvimento, uma idade mental de no mínimo 4 anos). A encoprese pode persistir,
com exacerbações intermitentes, por anos.

2.5. Diagnóstico da Encoprese

Descevem-se (4) critérios do Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos


Mentais 5ª Edição (DSM-5, 2014) da Associação Psiquiátrica Americana que são:

Critério-A: O aspecto característico da encoprese é a eliminação repetida de fezes em


locais inapropriados (por exemplo, na roupa ou no chão).

Critério-B: Com mais frequência, essa eliminação é involuntária, porém


ocasionalmente pode ser intencional. É preciso que isto ocorra pelo menos uma vez por
mês durante pelo menos três meses

Critério-C: é que a idade cronológica da criança seja de no mínimo 4 anos (ou, no caso
de crianças com atraso no desenvolvimento, a idade mental deve ser de pelo menos 4
anos).

Critério-D: A incontinência fecal não é levada em consideração quando a pessoa


estiver em medicação, a exemplo de uso de laxantes-pastilhas relaxante ou
estimulantes sexuais, ou a outra condição médica, excepto por um mecanismo
envolvendo constipação (resto de fezes no ânus).
2.6. Consequências Funcionais da Encoprese

A criança com encoprese frequentemente se sente envergonhada e pode desenvolver


sentimento de isolamento. O grau de prejuízo depende do efeito na autoestima da
criança, do nível de rejeição social pelos outros e da raiva, punição e rejeição por parte
dos cuidadores. Sujar-se com fezes pode ser um acto deliberado ou acidental,
resultando da tentativa da criança de limpar ou esconder fezes que foram evacuadas.

2.7. Tratamento da Encoprese

i) Terapia médica
No geral o tratamento da encoprese, tal como a enurese é psicoterápico, podendo
haver intervenção médico-medicamentosa. Ainda que a intervenção seja médica com a
administração de medicamentos, é importante que os pais e outros responsáveis da
criança saibam as razões do problema e levem ao conhecimento dela para que através
da intervenção psicopedagógica, possa corrigir a sua conduta, sua atitude ou
comportamento face à tendência de incontinência, seja ela voluntária ou involuntária.
ii) Terapia psicopedgógica

Tendo em conta as consequências fisiológicas e psicológicas destas problemáticas


para a criança (evitando situações sociais ou criação de sentimentos de
humilhação/irritação) é aconselhável que os pais, professores e educadores estejam
atentos e conscientes, procurando ajuda na presença de sinais de alerta.

iii) Terapia sistémica ou familiar

Deve-se começar a ensinar a criança sobre o controle dos esfíncteres após os 18


meses de vida, pois, em geral, antes disso ela não está pronta para tal aprendizado.
Normalmente, a criança está pronta para iniciar o treinamento quando fala “xixi” e
“cocô”, sem se confundir. Devem evitar partilhar os episódios com outras pessoas ou
transmitir nojo/repugnância aos filhos quando estes se sujam. É importante que
conversem com tranquilidade, demonstrando afecto, compreensão e segurança.
3. Importância do estudo do Transtorno de Eliminação do Controlo Esfincteriano

Consideramos ter sido um bom exercício, pois, ajudou-nos a compreender situações


que ocorrem no nosso dia-a-dia, em casa, nas escolas, na rua e outros lugares em que
nos deparamos com crianças, adolescentes, jovens, adultos e velhos que por causas
etiológicas associadas ou não, urinam-se e/ou defecam-se na roupa ou na cama.

Assiste-se também nos transportes públicos, casos de pessoas que manifestam


incontinência urinária ou fecal.

Este estudo fez-nos de facto, compreender a necessidade de construção de latrinas


comunitárias ou públicas para evitar vergonha pública por enurese ou enconprese
durante as horas que as pessoas estão na correria do dia-a-dia. Outrossim, tal como
acontece noutros países, os transportes públicos colectivos de passageiros (autocarros)
em Angola, deviam ter já balneários.

CONCLUSÃO

Os Transtornos de Eliminação do Controlo Esfincteriano tem que ver com a


incapacidade do indivíduo conter a urina (enurese) ou as fezes (encoprese) ou as duas
coisas em simultâneo (enurese comórbido à encoprese ou vice-versa) quer no período
nocturo ou diurno. E, estas manifestações são consideradas perturbações psicológicas
quando ocorre até aos cinco anos de idade para a enurese e até aos quatro anos para
a encoprese, quando se dá consecutivamente em intervalos aproximadamente igual,
provocando sérios constrangimentos à vida pessoal (privada), social e profissional.

Estas perturbações quando não são corrigidas oportunamente, por intervenção


precoce, provocam isolamento social, depressão, comportamentos auto-destrutivos e
podem mesmo provocar suicídios.

Os factores etiológicos de ambos estão associados à questões anátomo-fisiológicas,


psicossociais, comportamentais e ambientais. O tratamento, não obstante possa
carecer de intervenção clínica, carece indispensavelmente de um tratamento
psicoterápico de corte psicopedagógico, de orientação e reorientação de condutas e
comportamentos pessoais, podendo mesmo haver intervenção educativa.
BIBLIOGRAFIA

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