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28/09/2023

PERCEÇÃO e ATENÇÃO
LPSI102 PPA

Michael Nyman, “L’ Escargot”,


digital remaster, 2004

M. C. Escher, “Waterfall”, Art


Institute Chicago, 1961

Sumário
Introdução à perceção:

1. Introdução à psicologia da perceção e atenção.


2. Conceitos e definições gerais de perceção:
2.1. O problema da deteção e da medida da sensação. Leis e métodos da psicofísica
clássica e teoria de deteção do sinal.
3. Fenómenos básicos da perceção visual:
3.1. A identificação e a localização de objetos;
3.2. A cor;
3.3. A orientação;
3.4. O movimento;
3.5. A forma;
4. A perceção da profundidade e o binding;

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O mundo exterior é traduzido naquilo


que estamos a experimentar.

O cérebro produz uma representação


mental que permite ver, ouvir, cheirar
e sentir. E recordar acontecimentos
associados.
Agimos também sobre esta
informação. Fazemos muitas coisas
sem nos apercebermos, de forma
automática.

Neste caso, as experiências sugeridas


pela imagem são imaginadas,
mentais. Se estivessem a descrever a
experiência numa praia, as coisas
estariam lá mas a experiência seria
na mesma mental!

Os primeiros modelos cognitivos incluíam a perceção, a atenção e a


memória (e.g. Broadbent, 1958).

Com o desenvolvimento da investigação, estes aspetos separaram-se


acabando por refletir a concentração em aspetos específicos.

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Toda a experiência de um mundo com significado é permitida


pela ação concertada de processos básicos como a atenção,
a perceção, a memória, o pensamento, etc.

2. Conceitos e definições gerais de perceção

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Conceitos e definições gerais de perceção

A definição do dicionário não explica como


percebemos este mundo com significado.
Perceção pode ser entendida como a ação e como
o produto de processos percetivos (que não se
percecionam).

A perceção começa com um conjunto de várias análises da sensação inicial que a


torna progressivamente mais complexa até um percepto ser formado. Um percepto é
a representação interna resultante do padrão de estimulação inicial a qual serve como
base para os processos de identificação subsequentes.

Parkin, 2000, p.27

O significado mais geral de perceção é processamento sensorial (…). Uma definição


mais específica refere-se à experiência consciente ou fenomenológica de ver, ouvir,
tocar, etc. (…). Esta é a experiência percetiva que constitui o resultado (output) final
do processamento percetivo.
Styles, 2005, p.7

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A perceção é o resultado de um processo


extraordinário que é levado a cabo por
mecanismos que, na sua complexidade
sofisticada, funcionam tão bem que o
resultado – a nossa consciência do
ambiente e a nossa capacidade de nos
movermos dentro dele – ocorre a maior
parte das vezes sem esforço.
Goldstein, 2005, p. 2

A perceção é como resolver um puzzle.


Para criar um percepto temos que conjugar
muitas pistas acerca do mundo exterior
Kantowitz & Roediger III, 1978, p. 227

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A relação “psi” é geralmente medida em humanos (psicofísica, estudos de Fechner e


Stevens, estudos envolvendo o reconhecimento, tempos de reação, etc.).

Estímulo

φ ψ

Resposta Fisiológica Resposta Perceptiva


L

A relação “fi” é geralmente medida em animais (por exemplo, a organização e resposta dos
neurónios do sistema visual de macacos e gatos estudada por Hubel e Wiesel na década de 60).

Estímulo

φ ψ

Resposta Fisiológica Resposta Perceptiva


L

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A relação L, correspondente à base fisiológica da perceção, é muito difícil de medir pois é


difícil medir no mesmo participante as modificações fisiológicas e percetivas.

Estímulo

φ ψ

Resposta Fisiológica Resposta Perceptiva


L

A perceção é o processo pelo qual os organismos interpretam e organizam a


sensação de forma a produzir uma experiência do mundo com significado. A
sensação refere-se ao resultado imediato, e relativamente não processado, da
estimulação de recetores sensoriais nos olhos, ouvidos, nariz, língua ou pele.

A perceção descreve melhor a experiência última que temos do mundo e


envolve geralmente um processamento maior dos dados sensoriais. Na prática
os processos sensoriais e percetivos são muito difíceis de separar porque
fazem parte de um processo contínuo.

Então, a perceção nos humanos descreve o processo pelo qual a estimulação


sensorial é traduzida em experiência organizada. O percepto é o produto
conjunto da estimulação e dos próprios processos percetivos.

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2.1 - O problema da deteção e da medida da sensação.


Leis e métodos da psicofísica clássica

A sensação não é igual à mera transdução do sinal realizada pelos recetores


sensoriais. Transdução é o transporte de informação pelo sistema nervoso central
ou, da biologia celular, a modificação de um sinal noutro de outro tipo.

Por exemplo: as células recetoras da retina só estão aptas a transmitir sinais


visuais. Quando o olho é atingido, a estimulação mecânica é transduzida em
informação visual e «vemos estrelas» (fotopsia).

2.1 - O problema da deteção e da medida da sensação.


Leis e métodos da psicofísica clássica
A medida da sensação

É da interpretação de dados físicos pelos sentidos que nasce a


perceção das sensações, princípio da experiência psicológica que
temos do mundo.

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2.1 - O problema da deteção e da medida da sensação.


Leis e métodos da psicofísica clássica

Os métodos psicofísicos foram desenvolvidos a partir do século


XIX para estudar a relação entre a energia física e a
experiência psicológica.

2.1 - O problema da deteção e da medida da sensação.


Leis e métodos da psicofísica clássica

A psicofísica clássica, disciplina que mede a relação entre


magnitudes percebidas, ou subjetivas, e magnitudes físicas,
representou um passo decisivo para a acreditação da psicologia
enquanto ciência.

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2.1 - O problema da deteção e da medida da sensação.


Leis e métodos da psicofísica clássica
A procura de uma escala métrica para as sensações de brilho,
intensidade sonora (altura do som), peso, etc.

Noção de limiar absoluto e diferencial

http://cobweb.ecn.purdue.edu/~ece511/OnLineLabs/Index.html

Intervalo

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Psicofísica

A psicofísica é uma área do estudo da perceção que


procura determinar a relação entre uma grandeza física e uma
grandeza psicológica (sensação).

A relação entre uma grandeza física e a perceção não é


linear e por isso são necessárias metodologias que esclareçam
esta relação permitindo, entre outros aspetos, estabelecer
escalas métricas para as sensações.

Este tipo de estudos iniciou-se com Weber, no séc. XIX.

I ∆I K
10 3 0,3
100 30 0,3
500 150 0,3
1000 300 0,3
2000 600 0,3

700

600

500

400
∆I
I

300

200

100 ∆I / I = K Weber (1795 – 1878)


0
0 500 1000 1500 2000 2500

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S = K log I Gustav T. Fechner (1801 - 1887)

1,2

0,8

S ensação
0,6

0,4

0,2

0
10 100 500 1000 2000
Intensidade

A escala métrica para as sensações

Limiar diferencial

Limiar absoluto

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E = K x In Stevens (1951) Lei da Potência

E = estímulo percebido (“sensação”)


K = constante (depende das circunstâncias experimentais, escala)
I = intensidade do estímulo
n = valor da potência que varia consoante a modalidade sensorial

Métodos
Psicofísicos

Método dos limites


Método do ajustamento
Método do estímulo constante
Método da escada

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Métodos
Psicofísicos

Limitações:
Mesmo controlando os erros de antecipação e habituação, os métodos
da psicofísica não têm em conta factores como:
A personalidade do sujeito
A probabilidade de aparecimento do estímulo
Outras variáveis que afectam a tomada de decisão (v.g.
consequências da resposta)

Teoria de Deteção do Sinal


O sinal está presente?
SIM NÃO
Resposta do detector

SIM ÊXITO FALSO


ALARME

NÃO ERRO REJEIÇÃO


CORRECTA

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Teoria de Deteção do Sinal


Green e Swets (1966)

Ruído Ruído + sinal

β<1 = risco

δ’ = Z(Falsos Alarmes) - Z(Êxitos)


β = Ordenada Êxitos / Ordenada Falsos Alarmes

Teoria de Deteção do Sinal

Green e Swets (1966)


Êxitos, Erros, Rejeições Correctas, Falsos Alarmes
Distribuição Sinal e Distribuição Ruído
Sensibilidade e Critério

A metodologia de detecção de sinal permitiu ter em consideração os


factores que afectam a tomada de decisão

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Perceção visual

O que a perceção visual permite:

PERCEPÇÃO: 1. Fenómenos básicos da percepção visual:


A identificação e a localização de objectos

Foto retirada de: http://farm1.static.flickr.com/49/175587493_5cfe840c8c.jpg

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PERCEPÇÃO: 1. Fenómenos básicos da percepção visual:


OOOOO Ver a cor OOOOO

PERCEPÇÃO: 1. Fenómenos básicos da percepção visual:


A orientação
Orientação altera
a perceção visual
da forma mas:
A forma não se
altera com a
mudança
uniforme do
tamanho
A forma não se
altera com a
mudança
uniforme de cor

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PERCEPÇÃO: 1. Fenómenos básicos da percepção visual:


O movimento

PERCEPÇÃO: 1. Fenómenos básicos da percepção visual:


O movimento

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PERCEPÇÃO: 1. Fenómenos básicos da percepção visual:


A forma

PERCEPÇÃO: 1. Fenómenos básicos da percepção visual:


A forma

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PERCEPÇÃO: 1. Fenómenos básicos da percepção visual:


A percepção da profundidade

PERCEPÇÃO: 1. Fenómenos básicos da percepção visual:


A percepção da profundidade

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PERCEPÇÃO: 1. Fenómenos básicos da percepção visual:


A percepção da profundidade

PERCEPÇÃO: 1. Fenómenos básicos da percepção visual:


A percepção da profundidade

Instruções:
Ampliar a imagem para que o slide ocupe o monitor.
Olhar livremente para os pontos cinzentos, permitindo
que a sua imagem fique desfocada (passando a ver três
ou mais pontos cinzentos). Quando começar a ver os
três pontos cinzentos, mantenha o olhar no ponto
central (que parecerá mais brilhante) e mova
suavemente o olhar para a imagem. Repita até
conseguir ver uma máquina fotográfica, do tipo reflex,
representada através de diferentes profundidades da
textura da imagem.

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PERCEPÇÃO: 1. Fenómenos básicos da percepção visual:


A percepção da profundidade

O estereograma «esconde» esta imagem, representada através de


diferentes profundidades da textura da imagem.
Quando se consegue aceder à representação tridimensional a
imagem surge sob a forma de relevos ou profundidades na textura

O problema do “binding”
(Conjunção de propriedades)

• “Binding” corresponde ao problema de


representação de conjunções de propriedades.

Ver: The MIT Encyclopedia of the cognitive sciences, entrada «Binding


Problem»

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O problema do “binding”

Para detectar a linha vermelha vertical é necessário conjugar a propriedade cor com a
propriedade vertical

O problema do “binding”
(Conjunção de propriedades)
• Existem diversas teorias para explicar como ocorre
a conjunção das propriedades mas o problema do
binding ainda não está resolvido.

• Uma dessas teorias defende que ocorre uma


sincronização na atividade neuronal: Se dois
aspetos estão ligados, então a atividade neuronal
associada a esses aspetos é sincronizada (e.g.
Miner, 1974).

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Ilusões: Prova de que a perceção pode ser ilusória

M. C. Esher (1961), Waterfall


litografia

Ilusões: Prova de que a perceção pode ser ilusória

Tridente de dois dentes (Two pronged trident)


Apareceu na revista Mad, nos EUA, em 1965.
D.H. Schuster, The American Journal of Psychology, 1964.

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Ilusões: Prova de que a perceção pode ser ilusória

Quando se estuda a figura por alguns momentos, tornam-se evidentes as contradições


devidas a pistas de profundidade que entram em conflito

Ilusões: Prova de que a perceção pode ser ilusória

Akiyoshi KITAOKA, Rotating snakes

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