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ALĖM DA REESTRUTURAÇÃO
As dolorosas revoluções que ocorreram em tantas empresas nos últimos anos refletem
a incapacidade, por parte dos novos líderes do setor, de acompanhar o ritmo acelerado das
mudanças. Durante décadas, as mudanças enfrentadas pela Sears, General Motors, IBM,
Westinghouse, Volkswagen e outras empresas líderes foram, se não exatamente glaciais em
termos de velocidade, pelo menos extrapolações lineares aproximadas do passado. A Sears
poderia contar com o fato de que gerações sucessivas de norte-americanos do interior do país
consideraram seu catálogo a forma mais conveniente de se vestir e equipar suas casas; a GM
poderia ter certeza de que, à medida que os salários aumentassem, os jovens consumidores,
exatamente como seus pais fizeram antes deles, trocariam seus Chevys por Oldsmobiles e seus
Buicks por Cadillacs; a IBM poderia esperar um eterno aumento de faturamento à medida que
as novas empresas acrescentassem mais "mips" aos seus centros de processamento de dados
e os sistemas operacionais proprietários protegessem as contas da IBM dos ataques dos
concorrentes.
A palavra de ordem para a alta gerência dessas empresas era "imutável". Essas
empresas eram administradas por gerentes, res; por engenheiros de manutenção, não por
arquitetos. Contudo, poucas empresas que começaram a década de 1980 como líderes do
setor terminaram a década com sua posição de liderança intacta e não por lide inalterada.
IBM, Philips, Dayton-Hudson, TWA, Texas Instruments, Xerox, Boeing, Daimler-Benz, Salomon
Brothers, Citicorp, Bank of America, Sears, Digital Equipment Corp. (DEC), Westinghouse,
DuPont, Pan Am e muitas outras viram a erosão ou destruição de seu sucesso pelas marés de
mudanças tecnológicas, demográficas e na regulamentação, e pela magnitude da
produtividade e ganhos em qualidade obtidos por seus concorrentes não tradicionais.
Surpreendidas por essas forças, poucas empresas pareciam ter o controle do seu próprio
destino. As bases para o sucesso obtido no passado foram abaladas e fragmentadas quando,
na maioria dos casos, a topografia do setor mudou mais rápido do que a capacidade da alta
gerência de reformular suas crenças e premissas básica sobre a que mercados deveria servir,
que tecnologias deveria dominar, que clientes deveria atender e como obter o melhor
desempenho dos funcionários.
Essas e muitas outras empresas encontraram-se diante de imensos problemas de
"transformação organizacional". Evidentemente, qualquer empresa que se comporte mais
como passageira do que como motorista na estrada do futuro descobrirá que seus valores e
habilidades se tornarão progressivamente menos sintonizados com a realidade em constante
mutação do setor. Essa discrepância entre a velocidade de mudança do ambiente do setor e a
velocidade de mudança do ambiente interno da em- presa impõe a assustadora tarefa da
transformação organizacional. Normalmente, a agenda de transformação organizacional inclui
downsizing, redução das despesas administrativas, empowerment (fortalecimento), redesenho
de processos e racionalização do portfólio. Embora sejam externamente importantes, essas
iniciativas não conseguem recuperar a posição de liderança de uma empresa no setor, nem
garantir que ela intercepte o futuro.
Quando um problema de competitividade (crescimento estagnado, declínio das
margens de lucro e redução da fatia de mercado) é finalmente cultivos lança mão de uma faça
e começa um trabalho brutal de reestruturação. A meta ê eliminar as camadas de gordura da
corporação, eliminar os negócios com desempenho insatisfatório e aumentar a produtividade.
Os executivos que não têm estomago para enfrentar o centro de emergência cirúrgica de um
hospital, como John Akers na IBM ou Robert Stempel na GM, logo descobrem que não são
capazes de realizar essa tarefa.
Disfarçada com nomes como novo enfoque, eliminação de níveis, reorganização e
rightsizing (tamanho certo) (sentimo-nos tentados a perguntar por que o right size é sempre
menor), o resultado da reestruturação é sempre o mesmo: redução do número de
funcionários. Em 1993, as grandes empresas norte-americanas anunciaram quase 600.000 -
um número 25% superior ao anunciado no mesmo período tamanho correto - demissões em
1992 e quase 10% superior aos níveis registrados em 1991 correspondeu tecnicamente ao
início da recessão nos Estados Unidos.
Embora as empresas europeias estivessem tentando há muito adiar esse cálculo, no início da
década de 1990, as folhas de pagamento inchadas e custos de mão-de-obra fora de controle
tornaram o downsizing tão inevitável na Europa quanto nos Estados Unidos. Algumas
empresas europeias, como a Volkswagen, ávidas por preservar a paz no setor, procuraram
manter os níveis de emprego, reduzindo o número de horas trabalhadas por funcionário.
Aparentemente, a premissa deprimente era de que, como não ha- via esperança de aumentar
a produção, a única solução era distribuir me- nos empregos entre mais pessoas.
A despeito das desculpas sobre a competição mundial e do impacto da eliminação de
cargos provocada pela tecnologia de melhoria da produtividade, o fato era que, nas grandes
empresas norte-americanas, a principal causa da redução do número de empregos não era o
surgimento de concorrentes estrangeiros distantes dispostos a "roubar empregos nos Estados
Unidos", mas a negligência dos gerentes seniores norte-americano- pro- nos. A maioria das
empresas mais agressivas na redução de funcionários não entrará para uma lista das empresas
"mais admiradas" (Tabela 1.1). Essas empresas tendem a fazer parte da galeria das empresas
subgerenciadas ou mal gerenciadas.
Embora parte da responsabilidade pelo lamentável recorde europeu de criação de
empregos pudesse ser atribuída aos políticos e seus gastos sociais exageradamente generosos
(entre 1965 e 1989, a indústria europeia criou aproximadamente 50 milhões de novos
empregos), grande parte do problema foi, mais uma vez, provocada pela gerência. Dentre os
culpados estão executivos de empresas europeias esclerosadas do setor de telecomunicações
que se auto protegiam, determinados a impedir que as empresas europeias desfrutassem dos
benefícios da revolução da informação, gerentes tímidos das indústrias automobilísticas
europeias que preferiam o protecionismo dentro de casa do que o desafio de aprender a
competir com as indústrias automobilísticas norte-americanas e japonesas fora da Europa, e
gerentes famintos de subsidiárias de várias empresas europeias de alta tecnologia que, após
aceitar bilhões de contribuintes europeus sofridos, fracassaram na criação de novas empresas
líderes mundiais.
Com lento ou nenhum crescimento, essas empresas descobriram rapidamente que era
impossível manter quadros de funcionários cada vez maiores, orçamentos tradicionais de P&D
e programas significativos de investimentos. Frequentemente, os problemas resultantes do
crescimento reduzido combinavam-se à negligência e números estratosféricos de funcionários
(problema da IBM), diversificação em empresas não corre- latas (incursão da Xerox nos
serviços financeiros) e paralisia imposta por um staff corporativo infalivelmente conservador.
Não é surpreendente que os acionistas estejam dando novas orientações às empresas
moribundas: Cortem as gorduras dessa empresa! Explorem ao máximo os ativos! Voltem aos
princípios básicos! O retorno sobre o capital empregado, o valor acionário e o faturamento por
funcionário transformaram-se nos principais parâmetros de avaliação do desempenho da alta
gerência. Em- bora talvez seja inevitável e, em alguns casos, louvável, a reestruturação
resultante destruiu vidas, lares e comunidades em nome de quê? Em nome da eficiência e da
produtividade. Embora seja impossível argumentar contra esses objetivos, sua busca unilateral
e às vezes simplista muitas vezes fez tanto mal quanto bem. Deixe-nos explicar.
Imaginemos um diretor-executivo que, totalmente consciente de que, se não fizer uso
eficaz dos recursos da corporação, esta chance será dada a uma outra pessoa, lança um
programa árduo para melhorar o retorno do investimento. O retorno do investimento (ROI-
Return on Investment, RONA ou ROCE etc.) tem dois componentes: o numerador faturamento
líquido e o denominador investimento, ativos líquidos ou capital emprega. (no setor de
serviços, um denominador mais apropriado talvez fosse o número de funcionários) Todos os
gerentes de nossa empresa nem tão hipotética também sabem que aumentar o faturamento
líquido provavelmente é muito mais trabalhoso do que cortar ativos e funcionários. Para
aumentar o numerador, a alta gerência precisa saber onde estão as novas oportunidades, ser
capaz de prever as necessidades constantemente mutáveis dos clientes, ter investido na
criação de novas competências e assim por diante. Portanto, a intensa pressão para melhorar
rapidamente o retorno do investimento faz com que os executivos apelem para o que
resultará na melhoria mais rápida e certa do ROI -o denominador. Para reduzir o denominador,
a alta gerência não precisa de muito mais do que um lápis vermelho. Daí a obsessão pelos
denominadores.
“A eficiência está ligada ao modo de fazer uma tarefa. O eficaz faz o que é certo para
atingir o objetivo inicialmente planejado”.
A eficiência consiste em fazer certo as coisas: eficácia consiste em fazer as coisas
certas:
Na verdade, os Estados Unidos e a Grã-Bretanha produziram uma geração inteira de
gerentes de denominadores. Eles são capazes de fazer o downsizing, desorganizar, eliminar
níveis e desinvestir melhor do os gerentes do mundo. Mesmo antes da atual onda de
downsizing, as empresas norte-americanas e britânicas tinham, em média, as maiores taxas de
produtividade de ativos de todas as empresas do mundo. A gerência de denominadores é um
atalho contábil para a produtividade de ativos.
Não nos intérpretes mal. Não temos nada contra a eficiência e a produtividade.
Acreditamos, e defenderemos energicamente, que uma empresa precisa não só chegar
primeiro ao futuro, mas precisa chegar lá gastando menos. Contudo, há mais de um caminho
para melhorar a produtividade. Assim como as empresas que cortam o denominador e
mantêm o faturamento, as empresas bem-sucedidas que conseguem aumentar seu fluxo de
receita com base em um crescimento mais lento ou capital constante e em uma base de
empregos também aumentarão os ganhos de produtividade. Embora às vezes a primeira
abordagem possa ser necessária, acreditamos que a segunda normal- mente é a mais
desejável.
Em um mundo onde os concorrentes podem alcançar um cresci- mento real de 5, 10
ou 15% no faturamento, a redução agressiva do denominador, combinada a um fluxo de
receita constante, é simplesmente uma forma de vender a lucratividade da fatia de mercado.
Os estrategistas de marketing chamam isso de "estratégia de colheita" e consideram-na
insensata. Tomemos um país como exemplo. Entre 1969 e 1991, a produção na Inglaterra
(numerador) cresceu a uma taxa de 10% em termos reais. Contudo, durante o mesmo período,
o número de pessoas empregadas no setor de produção britânico (denominador) caiu 37%. O
resultado foi que, durante o início e meados da década de 1980-os anos Tatcher - a
produtividade do Reino Unido aumentou mais rápido do que a de qualquer outro grande país
industrializado, com exceção do Japão. Embora a imprensa especializada na área financeira e
os ministros conservadores alardeassem esse "sucesso", ele tinha, evidentemente, um sabor
agridoce. Embora a nova legislação limitasse o poder dos sindicatos e a redução dos
impedimentos estatutários à redução da força de trabalho permitisse que a gerência exercesse
práticas de trabalho ineficientes e inúteis, não houve um aumento correspondente na
habilidade das empresas britânicas de criar novos mercados dentro e fora do país. Na verdade,
com quase nenhum ganho de receita na produção real durante esse período, as empresas
britânicas estavam realmente entregando sua fatia do mercado mundial. Metade esperava
chegar ao aeroporto de Heathrow certa manhã, pegar o Financial Times e descobrir que a
Inglaterra tinha finalmente alcançado a produtividade japonesa e que o último operário de
produção empregado no Reino Unido era o mais produtivo do planeta.
Os custos sociais da reestruturação são altos. E, embora uma empresa isolada possa
evitar parte desses custos, a sociedade não pode. Na Inglaterra, o setor de serviços não
poderia absorver todos os trabalhadores desempregados e passou pelo seu próprio
downsizing vicioso durante a recessão iniciada em 1989. Evidentemente, a maioria dos cortes
nas empresas britânicas e no mundo foram necessários, mesmo considerando-se que os
operários de primeira linha tenham sofrido mais do que sua justa parcela de sofrimento. Os
níveis gerenciais improdutivos tinham que ser eliminados, as aquisições tolas desfeitas e as
práticas de trabalho inflexíveis abandonadas. Contudo, poucas empresas pareciam perguntar-
se: Como saberemos quando concluímos a reestruturação? Onde está a linha divisória entre
cortar as gorduras e cortar os músculos?
Um dos resultados inevitáveis do downsizing é o declínio do moral dos funcionários. Os
funcionários têm dificuldade em se conformar com todo discurso sobre a importância do
capital humano acompanhado de cortes aparentemente indiscriminados. Com muita
frequência têm que enfrentar a opção perder ou perder: “Se não for mais eficiente, você
perderá seu emprego. E, por falar nisso, se for realmente mais eficiente, você perderá seu
emprego. “O discurso é que os funcionários são o patrimônio mais valioso da empresa; o que
eles percebem é que são o patrimônio mais descartável.
Muitos gerentes de nível médio e funcionários de primeira linha de- vem se sentir
como os operários que construíram a tumba do faraó. O objetivo de todo faraó era construir
uma tumba com um projeto tão intrincado e enganoso que nenhum saqueador seria capaz de
entrar na tumba e apoderar-se de suas riquezas. Pense nos operários como gerentes de nível
médio em meio à reestruturação da corporação. Todos os operários sabiam que, quando a
tumba ficasse pronta, seriam condenados à morte era assim que o faraó destruía qualquer
registro de como encontrar suas riquezas. Imagine o que aconteceria quando o faraó aparecia
no local da construção e perguntava a um supervisor: "Como vão as coisas; vocês ainda não
terminaram?" "Ainda não, chefe. Temo que levará mais alguns anos." Não é difícil imaginar por
que as tumbas raramente eram concluídas durante a vida dos faraós! E não é difícil imaginar
por que tão poucos empregados de primeiro nível e nível médio empenham sua energia
intelectual e emocional em prol da tarefa de reestruturação.
A reestruturação raramente resulta em melhoria fundamental da em- presa. Na
melhor das hipóteses, consome tempo. Um estudo realizado com dezesseis grandes empresas
norte-americanas com pelo menos três anos de experiência em reestruturação revelou que,
embora a reestruturação normalmente tenha melhorado o preço das ações da empresa, a
melhoria foi quase sempre temporária. Após três anos de reestruturação, o preço das ações
das empresas que participaram do levantamento era, em média, bem inferior às taxas de
crescimento anteriores, registradas na época em que foi iniciada a reestruturação. O estudo
concluiu que um investidor astuto deve interpretar um anúncio de reestruturação como um
sinal para venda, e não para compra. O downsizing tenta corrigir tardiamente os erros do
passado; não se trata de criar os mercados do futuro. O ponto simples não basta reduzir o
porte da empresa. O downsizing, equivalente à anorexia corporativa, pode resultar em uma
empresa mais magra: mas não resulta necessariamente em uma empresa mais saudável. As
empresas que são mais eficazes na gerência de denominadores do que na gerência de
numeradores empresas que não tem um recorde de crescimento orgânico ambicioso e
lucrativo não devem esperar que Wall Street lhes de muita folga. O que Wall Street lhes diz é:
"Vá em frente, esprema o limão, elimine as ineficiências, mas nos dê o suco (os dividendos).
Pegaremos o suco e o daremos às empresas que fazem a melhor limonada." A comunidade
financeira sabe que uma equipe de gerência eficiente na redução de denominadores talvez
não seja eficiente no crescimento de numeradores. Veja como o preço da ação da IBM caiu
quando a empresa finalmente reduziu seus dividendos. Obviamente, os investidores não
acreditaram que a IBM poderia deslocar o dinheiro economizado, gerando mais riqueza para
os acionistas.
Embora muitos fatores influenciem a proporção de distribuição de dividendos (a
proporção dos ganhos paga aos acionistas) e embora as proporções nas empresas de países
desenvolvidos talvez estejam convergindo lentamente após a divergência que vinha ocorrendo
desde meados da década de 1970, não é totalmente casual o fato de os melhores gerentes de
denominadores do mundo os norte-americanos e britânicos pagarem aos acionistas uma
proporção do faturamento de suas empresas maior do que os gerentes japoneses e alemães.
Mais de uma vez, Wall Street mostrou-se bastante satisfeita ao perceber que a reestruturação
lucrativa de uma empresa a colocava fora do negócio, quando a alta gerência parece incapaz
de criar lucrativamente o futuro.
ALÉM DA REENGENHARIA
Ao reconhecer que a reestruturação é definitivamente inevitável, as empresas
inteligentes empenharam-se na reengenharia de seus processos. A reengenharia visa erradicar
o trabalho desnecessário e fazer com que todos os processos da empresa apontem na direção
da satisfação do cliente, redução do tempo do ciclo e qualidade total. Mais uma vez, utilizam-
se cronômetros: Como fazer as coisas mais rápido, desperdiçando menos? A diferença entre
este taylorismo do século 21 e o original é que hoje as empresas estão pedindo aos
funcionários, e não aos "especialistas", que redesenhem os processos e fluxos de trabalho. É
interessante observar que, embora a meta declarada da reengenharia seja enfocar todos os
processos envolvido na satisfação do cliente, é quase sempre a promessa de menores custos, e
não a de maior satisfação do cliente, que convence a equipe da alta Fonte gerência a aprovar
um grande projeto de reengenharia. Na verdade, muitas empresas consideraram os ônus da
reengenharia em relação aos seus ganhos exatamente como consideraram inicialmente o ônus
da reestruturação. Poucas empresas parecem ter se perguntado qual o custo de oportunidade
de dólares desperdiçados em das centenas de milhões ou até bilhões - reengenharia e
reestruturação. Que tal se todo esse dinheiro e todo esse "redundante" poder mental fossem
empregados na criação de mercados futuros? Longe de ser um tributo à capacidade de decisão
inflexível e à vi- são a longo prazo da gerência sênior, o ônus de uma grande reestruturação e
reengenharia é simplesmente a multa que uma empresa tem que pagar por não ter previsto o
futuro.
Entretanto, há uma diferença entre reestruturação e reengenharia. Pelo menos a
reengenharia oferece uma esperança de melhorias com a redução, embora nem sempre essa
esperança se concretize. As empresas mais bem-sucedidas em reestruturação do que em
reengenharia descobrirão estão diminuindo mais rápido do que melhorando. Várias grandes
empresas norte-americanas descobriram recentemente que estão exatamente nesta posição
nada invejável. Embora a reestruturação nunca seja mais do que necessária, a reengenharia
pode ser benéfica. Contudo, existe um dilema. Deixe-nos explicar. A Máquina que Mudou o
Mundo, um estudo exaustivo e esclarecedor das mudanças econômicas do projeto e produção
de automóveis, foi publicado em 1990. A "produção enxuta termo usado pelo autor para o
sistema de produção extraordinariamente eficiente lançado pela Toyota é o tema central do
livro. Contudo, ao ler o livro, somos compelidos a perguntar: Quando a Toyota iniciou sua
busca da produção enxuta? Resposta: Há mais de quarenta anos. E surge outra pergunta: Por
que a indústria automobilística norte-americana levou quarenta anos para decodificar os
princípios da produção enxuta? Resposta: Porque esses princípios desafiavam todas as
premissas e inclinações dos executivos da indústria automobilística norte-americana.
Atualmente, Detroit está alcançando os concorrentes japoneses em termos de
qualidade e de custos. (Obviamente, Detroit foi ajudada por um iene 20% mais valorizado do
que o dólar entre 1991 e 1993 e por um novo presidente dos Estados Unidos que, no início de
seu mandato, ameaçou os fabricantes de automóveis japoneses com uma ação antidumping
(preços extraordinariamente abaixo) em larga escala. Não é surpreendente que as indústrias
automobilísticas japonesas tenham aumentado seus preços e perdido participação no
mercado.) As redes de fornecedores foram refeitas, os processos de desenvolvimento de
produtos redesenhados e a reengenharia dos processos de produção realizada. Contudo, as
manchetes otimistas proclamando o retorno triunfal de Detroit não contaram a verdadeira
história. Certamente, Detroit está alcançando os custos e a qualidade japoneses, mas o que se
perdeu em termos de empregos e participação no mercado mundial? Resposta: Centenas de
milhares de empregos, aproximadamente 25 pontos percentuais da participação no mercado
norte-americano e a esperança da indústria automobilística norte-americana superar a curto
prazo os rivais japoneses nos emergentes mercados da Ásia.
A questão é que, em muitas empresas, a reengenharia de processos e os esforços para
criação de vantagem estão mais relacionados a alcançar os concorrentes do que superá-los. Há
alguns anos, um de nós participou de uma exposição da metodologia de uma empresa de
consulto- ria em estratégia líder de mercado cujo objetivo era ajudar os clientes a fazer as
coisas mais rapidamente. "Competir a tempo" era, na opinião dos apresentadores, a próxima
grande vantagem competitiva.
Embora ninguém argumentasse contra esta premissa ou contra a metodologia
proposta, alguém lembrou aos consultores que, na década de 1970, os efeitos da escala e
experiência mundial tinham sido identificados como vantagem fundamentais e que, na
verdade, várias indústrias de automóveis, indústrias químicas, fabricantes de semicondutores
e outras tinham sido persuadidas a fazer investimentos importantes em fábricas de larga
escala, esperando garantir a capacidade mínima necessária para atender o mercado em nível
mundial.
Em vários setores, resultado foi um grave excesso de capacidade e uma doentia
redução nos preços vantagens.
Mais tarde, na década de 1980, esses consultores intimaram seus clientes a buscar a
qualidade, o que, certamente, era uma meta louvável. Agora estavam recomendando
velocidade como a tônica para a não-competitividade. Em todos os casos, vale ressaltar, os
consultores tinham a resposta certa, mas, em todos os casos, essa resposta tinha sido dada
com dez anos de atraso. Estavam ajudando seus clientes a alcançar os concorrentes, e não a
liderar o mercado.
Portanto, embora a indústria automobilística norte-americana pudesse comemorar o
fato de estar alcançando seus rivais japoneses no que se refere aos custos e à qualidade, os
fabricantes japoneses estavam definindo novos desafios competitivos desempenho
surpreendente do motor, extrema precisão na direção, luxo, nova estética de projeto e
desenvolvimento do produto voltada para nichos de estilos de vida específicos. Ainda não se
sabia se Detroit ditaria o ritmo na próxima rodada da fabricar veículos tão interessantes
quanto eficientes em competição termos de consumo de combustível e confiáveis ou se, mais
uma vez, descansaria sobre os desgastados louros da vitória. Em um levantamento realizado
na década de 1990, quase 80% dos gerentes norte-americanos acreditavam que a qualidade
seria uma fonte fundamental de vantagem competitiva no ano 2000. Contudo, menos da
metade dos gerentes japoneses previu a qualidade como fonte de vantagem no ano 2000,
embora 82% acreditassem que ela é atualmente uma vantagem importante.
Os gerentes japoneses classificaram como primeira fonte de vantagem competitiva no
ano 2000 a capacidade de criar produtos e negócios fundamentalmente novos. Isso significa
que os gerentes japoneses irão virar as costas para a qualidade? É claro que não.
Simplesmente indica que, a qualidade não será mais um diferencial 'competitivo; será
simplesmente o preço para entrar no mercado. Esses gerentes japoneses percebem que as
vantagens competitivas de amanhã são necessariamente diferentes das de hoje.
Visitamos muitos países onde a agenda de criação de vantagens da alta gerência ainda
é dominada pela qualidade, tempo de lançamento do produto no mercado e receptividade aos
clientes. Embora ninguém questione que essas vantagens sejam pré-requisitos para a
sobrevivência, continuar empenhando-se nas vantagens dos anos 80 dificilmente é um
testemunho da capacidade dos gerentes de antever o futuro. Embora tentem frequentemente
transformar a imitação em virtude e vesti-la com as cores modernas da "capacidade de
adaptação", muitas vezes os gerentes estão se adaptando a estratégias preemptivas de
concorrentes mais criativos.
REGENERANDO A ESTRATÉGIA
Mais uma vez, deixe-nos esclarecer. Igualar-se aos concorrentes é necessário, mas não
transformará ninguém em um líder. Algumas divisões da IBM, GM e DEC conquistaram o
prêmio Malcolm Baldrige da Qualidade prêmio para os melhores, e não para os diferentes.
Diminuir e melhorar não é suficiente. Pense novamente nas empresas retardatárias do final da
década de 1980 e início da década de 1990: Sears, TWA, Westinghouse, Sanyo, Upjohn. Será
que a Sears poderia realmente recuperar sua posição de lide- rança no mercado melhorando
ainda mais sua tática para "atrair o cliente", convencendo um número ainda maior de clientes
de que, na verdade, eles desejam uma máquina de lavar roupa de US$ 600 quando estão
procurando um modelo de US$ 300? Será que teria ajudado se a Sears tivesse se trans-
formado em um varejista de catálogo ainda mais eficiente e voltado cliente (em vez de acabar
com o seu catálogo enciclopédico)? E se a IBM para o criasse um processo-relâmpago de
desenvolvimento de mainframes e conquistasse ainda mais a lealdade dos gerentes das
centrais de processamento de dados? E se a American e a United se aperfeiçoassem na arte de
administrar um sistema aéreo radial será que isso as ajudaria a tirar os passageiros
internacionais endinheirados da classe executiva da British Airways e Singapore? Nossa opinião
é simples: Não basta que uma empresa diminua seu tamanho e aumente sua eficiência e
rapidez; por mais importantes que sejam essas tarefas, ela também precisa ser capaz de se
reavaliar, regenerar suas estratégias centrais e reinventar seu setor. Em suma, uma empresa
também precisa ser capaz de ser diferente (ver Figura 1.1).
Assim como algumas empresas diminuíram de tamanho mais rápido melhoraram sua
eficiência, outras melhoraram sua eficiência sem do que mudar muito. Considere o caso da
Xerox. Durante as décadas de 1970 e para 1980, a Xerox perdeu uma parte substancial de sua
fatia de mercado concorrentes japoneses como a Canon e a Sharp. Reconhecendo que a
empresa estava em queda livre para o esquecimento, a Xerox adotou o benchmark de seus
concorrentes e a reengenharia fundamental de seus processos.
No início da década de 1990, a Xerox tinha se transformado em um exemplo citado nos
livros de redução de custos, melhoria da qualidade e satisfação dos clientes. Mas o discurso do
novo "Samurai Norte Americano" ignorou duas questões. Primeira, embora a Xerox tenha sido
bem-sucedida em interromper a erosão de sua fatia de mercado, não conseguiu recapturar
grande parte da fatia capturada por seus concorrentes japoneses. A Canon continua
produzindo mais copiadoras do que qualquer outra empresa do mundo. Segunda, a despeito
de seu papel pioneiro na impressão a laser, redes, computação baseada em ícones e laptops, a
Xerox não conseguiu criar novos negócios substanciais fora do negócio específico da empresa,
as copiadoras.
Embora seja a inventora do escritório moderno, da forma como o conhecemos hoje, a
Xerox lucrou muito pouco com sua criatividade. Na verdade, a Xerox perdeu mais
oportunidades de ganhar dinheiro, por não ter explorado as inovações, do que qualquer outra
empresa na história. Por que toda essa inovação não foi explorada? Porque para criar novos
negócios, a Xerox precisaria ter regenerado sua estratégia principal e reinventado seu conceito
de empresa: seus canais, processos de produção, clientes, critérios de promoção de gerentes,
medidas para avaliar o sucesso e assim por diante. Uma empresa perde seus atuais negócios
quando diminui mais rápido do que melhora sua eficiência. Uma empresa perde os futuros
negócios quando melhora sua eficiência sem mudar.
É inteiramente possível para uma empresa colocar em prática o downsizing e a
reengenharia sem nunca confrontar a necessidade de gerar sua estratégia principal, sem
nunca ser forçada a repensar as fronteiras de seu setor, sem nunca ter que imaginar o que os
clientes desejarão nos próximos dez anos e sem nunca ter que redefinir fundamentalmente o
"mercado servido". Contudo, sem essa reavaliação fundamental, a em- presa será
surpreendida a caminho do futuro. A defesa da posição atual de liderança não substitui a
criação da futura liderança. Conversamos com muitos gerentes que descrevem suas empresas
como "líderes de mercado". (Com criatividade suficiente para as fronteiras do mercado, quase
todas as empresas podem alardear que são líderes de mercado.) Mas a liderança de mercado
hoje certamente não significa a liderança de mercado amanhã. Pense sobre estas duas séries
de delimitar perguntas:
Que clientes você está servindo hoje? Que clientes estará servindo no futuro?
Por meio de que canais você atinge os clientes hoje? Por meio de que canais atingirá
os clientes no futuro?
Quais são seus concorrentes hoje? Quais serão seus concorrentes no futuro?
Qual é a base de sua vantagem competitiva hoje? Qual será a base de sua vantagem
competitiva no futuro?
De onde vem seus lucros hoje? De onde viram seus lucros no futuro?
Que habilidades ou capacidades fazem de sua empresa uma empresa única hoje? Que
habilidades ou capacidades farão de sua empresa uma empresa única O futuro?
De que mercados de produtos finais participara hoje? De que mercados de produtos
finais você participará no futuro?
Se os executivos experientes não tiverem respostas racionalmente detalhada para as
perguntas relacionadas ao "futuro", e se suas respostas não forem substancialmente
diferentes das respostas de "hoje", suas empresas têm poucas chances de continuar liderando
o mercado. Independente do mercado dominado pela empresa hoje, é bem provável que ele
mude substancialmente nos próximos dez anos. Não existe Fonte algo como "manter a
liderança"; a liderança precisa ser continuamente reinventada.
O problema da competitividade enfrentado atualmente por tantas empresas não é um
problema de competição "estrangeira", mas um problema de competição "não tradicional".
Não se trata de Estados Unidos versus Japão versus Europa (o Japão e a Europa enfrentam
problemas ainda mais desestimulantes do que os Estados Unidos). O verdadeiro problema
competitivo é retardatário versus desafiantes, líderes versus inovadores, inerciais e copiadores
versus criativos. Normalmente, as empresas desafiantes inventam soluções mais eficientes
para os problemas dos clientes (por exemplo, demanda de filmes em estações de TV a cabo
versos filmes disponíveis na locadora de vídeo local ou compras em lojas que oferecem
descontos versus compras nas tradicionais lojas de departamentos). As novas soluções não
surgem porque as empresas desafiantes são incrementalmente mais eficientes do que as
líderes, mas porque são substancialmente menos ortodoxas. Elas descobrem soluções novas
porque estão dispostas a enxergar muito além das soluções antigas.
Na melhor das hipóteses, as empresas retardatárias seguem o caminho da menor
resistência. A Ford Motor Co. só iniciou o programa "Qualidade, a Tarefa No. 1" quando essa
demanda partiu de seus consumidores. A United e a American só desafiaram suas antigas
premissas de competição depois que a South West Airlines se transformou na companhia
aérea mais lucrativa dos Estados Unidos. Na pior das hipóteses, as empresas retardatárias
seguem o caminho da maior familiaridade. As desafiantes, por outro lado, seguem o caminho
da maior oportunidade, seja qual for a sua direção. Uma empresa não precisa ser nova para
ser uma desafiante. Embora a CNN, a Microsoft e a The Body Shop sempre tenham exibido
todas as tendencias rebeldes dos adolescentes, empresas mais idosas como a Merek, a British
Airways e a Hewlett-Packard também desafiaram a ortodoxia dos líderes de seus setores.
O Desafio Competitivo
Não Só Reengenharia de processos, Mas Também Regeneração de estratégias
Não Só Transformação organizacional, Mas Também Competindo pela participação no
Não Só Transformação do setor, Mas Também Competindo pela participação nas
mercado
A descoberta do futuro
Não Só Estratégia como aprendizado, Mas Também Estratégia como esquecimento
Não Só Estratégia cono posicionamento, Mas Também Estratégia como previsão
Não Só Planos estratégicos, Mas Também Arquitetura estratégica
Mobilização para o Futuro
Não Só Estratégia como adequação, Mas Também Estratégia como limite
Não Só Estratégia como alocação de recurso, Mas Também Estratégia como acúmulo
de recursos e alavancagem.
Chegar Primeiro ao Futuro
Não Só Competir para moldar a estrutura existente do setor, Mas Também Competir
dentro da estrutura futura do setor
Não Só Competir para liderança de produtos, Mas Também Competir para a liderança
de competências essenciais
Não Só Competir como entidade isolada, Mas Também Competir como uma coalizão
Não Só Maximizar a proporção de sucessos de novos produtos, Mas Também
Maximizar a taxa de aprendizado novos mercados
Não Só minimizar o tempo de entrada do produto no mercada, Mas Também
Minimizar o tempo para preempção global.
Embora as vozes que clamam por um novo paradigma organizacional (mais enxuto,
mais nivelado, virtual, modular etc.) sejam numerosas e sonoras, não há um clamor
concomitante por um novo paradigma da estratégia. Entretanto, acreditamos que a forma
como muitas empresas elaboram sua estratégia está tão desatualizada e é tão tóxica quanto
sua organização. Entretanto, para enxugar e adequar uma organização, ainda é preciso
cérebro. Mas o cérebro que temos em mente não é o cérebro do principal executivo ou do
responsável pelo planejamento estratégico.
Ao contrário, é um amálgama da inteligência e imaginação coletiva dos gerentes e
funcionários de toda a empresa, que precisam possuir uma visão ampliada do que significa ser
"estratégico". Este livro trata tanto da construção e aplicação dessa nova visão de estratégia
quanto de como chegar primeiro ao futuro.
Consequentemente, a meta deste livro pode ser definida em termos simples: ajudar os
gerentes a imaginar o futuro e, depois de imaginá-lo, criá-lo. Queremos ajudá-los a sair da
rotina da reestruturação e ir além dos programas de reengenharia que simplesmente
melhoram o desempenho atual. Queremos ajudá-los a capturar as riquezas que o futuro
reserva para os que chegarem lá primeiro. Talvez isso pareça um paradoxo:
Talvez faça sentido ajudar uma empresa a chegar primeiro ao futuro, mas como ajudar
várias chegar lá primeiro? Obviamente, para todo líder existe um seguidor. Não
necessariamente. Não existe um único futuro, mas centenas. Não existe Fonte Editando
empresas a determine que a maioria das empresas deva ser seguidora. Chegar primeiro ao
futuro não significa vencer concorrentes que lutam para ganhar o mesmo prêmio. Também
significa ter sua própria visão do que é o prémio. Pode haver tantos prêmios quanto
competidores; a imaginação é o único fator limitante. Renoir, Picasso, Calder, Serat e Chagall
uma lei que foram todos artistas extremamente bem-sucedidos, mas cada um tinha um estilo
distinto e original. De forma alguma, o sucesso de um significa o fracasso do outro. Contudo,
cada artista deu origem a uma horda de imitadores. Nos negócios, como na arte, o que
distingue os líderes dos retardatários, a grandeza da mediocridade, é a capacidade de imaginar
com originalidade o que é possível.