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Universidade Católica de Moçambique

Faculdade de Ciências Agronómicas

CURSO DE LICENCIATURA EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

3º ANO

Reforma do Sector Público

Trabalho em Grupo
Grupo (3)

Discentes: Docente:
Albertina Amade Tavares Elias Muaruelane
Altino Rafael João Ussene
Inês Alfândega
Marcelino Felisberto

Cuamba, 2021
Universidade Católica de Moçambique
Faculdade de Ciências Agronómicas
.

“Desafios de Reforma de Sector Publico em Moçambique”.

Trabalho da Cadeira de Reforma


do Sector Público, para efeitos de
avaliação em grupo.

Cuamba, Fevereiro 2021


Índice
Introdução..................................................................................................................................4

Objectivos:.................................................................................................................................4

A Reforma do Sector Público....................................................................................................5

Administração Pública...............................................................................................................6

Reforma......................................................................................................................................7

A Reforma do Sector Público em Moçambique........................................................................8

Evolução histórica da Administração Pública em Moçambique..............................................11

A Administração Pública Pós Independência Nacional...........................................................12

A Administração Pública moçambicana a Luz da Constituição de 90....................................13

Traços da Constituição da República de Moçambique de 2004..............................................14

Racionalização e Descentralização de Estruturas e Procedimentos de Prestação de Serviços 15

A Estratégia Global da Reforma do Sector Público.................................................................15

Formulação e Monitoria de Políticas Públicas.........................................................................16

Profissionalização dos Funcionários do Sector Público...........................................................17

Gestão Financeira e Prestação de Contas.................................................................................18

Boa Governação e Combate à Corrupção................................................................................19

Conclusão.................................................................................................................................20

Referencias Bibliográficas.......................................................................................................21
Introdução

A Administração Pública de qualquer país e de qualquer época tem como finalidade fundamental
satisfazer, através dos seus órgãos e serviços, as necessidades colectivas das respectivas
populações.

O presente trabalho insere-se no âmbito do curso de licenciatura em Administração Pública na


universidade católica de Moçambique, Faculdade de Ciências Agronómicas - Cuamba e tem
como finalidade identificar os principais desafios de reforma no sector público em Moçambique,
especificamente a mesma pretende diagnosticar a função pública Moçambicana, analisar as
disfunções a partir da Estratégia Global da Reforma do Sector Público.

Objectivos:

Geral

 Identificar os principais desafios de reforma no sector público em Moçambique

Específicos

 Diagnosticar a Função Pública Moçambicana


 Falar dos desafios da reforma no sector público em Moçambique
 Analisar as disfunções a partir da Estratégia Global da Reforma do Sector Público.
Estratégia Global da Reforma do Sector Público 2001-2011

No dia 25 de Junho de 2001, afirmou que “falamos da Reforma do Sector público porque não
estamos completamente satisfeitos com qualquer coisa na organização e funcionamento deste
universo de instituições do Estado” (CIRESP, 2001).

A Reforma do Sector Público

A reforma da Administração Pública é um amplo movimento, que se insere no objectivo global


da reforma administrativa, a qual é constituída por vários elementos, que são considerados por
uns e por outros autores, ora complementares ora alternativos.

Esses elementos poderão ser: a modernização administrativa, a desburocratização e simplificação


de processos, a descentralização e democratização, a reestruturação organizacional, a
privatização e adopção de mecanismos de mercado, a reestruturação do funcionalismo público, a
melhoria dos serviços, a qualidade e a produtividade.

A reforma administrativa, numa definição das Nações Unidas, baseia-se no “uso deliberado da
autoridade, e influência para aplicar novas medidas a um sistema administrativo com vista à
mudança dos seus objectivos, estruturas e procedimentos”. (Araújo, 2002 a: 2).

Mais do que alterações organizacionais e estruturais, de processos e procedimentos, de


reformulação de políticas e programas, a reforma da Administração Pública, implica por um
lado, vontade política que crie os pressupostos de uma relação profícua entre a administração e a
sociedade, e por outro, a mudança de mentalidade e atitude quer dos funcionários quer dos outros
actores, mormente os cidadãos, alicerçada num programa de informação e de formação dirigido a
atingir aqueles nobres objectivos.

No contexto da reforma os programas devem contemplar, o conhecimento as habilidades e


atitudes necessárias para a mudança de mentalidades dos funcionários a vários níveis, de modo a
que em última análise se constitua como um factor dinamizador do desenvolvimento económico
e social.
Um dos denominadores comuns da reforma e do papel da formação nesse âmbito, é a mudança
de comportamento e a assunção de uma nova atitude.

Vale a pena transcrever uma passagem, em nossa opinião bastante elucidativa para o caso de
Moçambique e de África no geral, da oração de sapiência proferida pelo escritor moçambicano
Mia Couto, na abertura oficial do ano lectivo de 1995 no ISCTEM – Instituto Superior de
Ciências e Tecnologia de Moçambique

Administração Pública

Fazendo uma incursão sobre a literatura existente sobre a matéria, nota-se que não existe uma
definição única deste conceito, embora existindo convergência em alguns aspectos que formam a
base do conceito. Para sustentar esta afirmação, são trazidas neste trabalho algumas definições
que foram sendo produzidas por vários autores desta área da ciência e de conhecimento.

Freitas do Amaral (2006), define a Administração Pública em sentido orgânico como


sendo “um sistema de órgãos, serviços e agentes do Estado bem como das demais
pessoas colectivas públicas, que asseguram em nome da colectividade a satisfação
regular e continua das necessidades colectivas de segurança, cultura e bem-estar”

Segundo o mesmo autor, Administração Pública é a actividade típica dos serviços


públicos e agentes administrativos no interesse geral da colectividade, com vista a
satisfação regular e continua das necessidades colectivas de segurança, cultura e bem-
estar, obtendo para o efeito os recursos mais adequados e utilizando as formas mais
convenientes”.

No entendimento do Governo de Moçambique e como definido no seu Plano Estratégico de


Desenvolvimento da Administração (PEDAP, também conhecido por ERDAP, 2011-2025 a
Administração Pública é “um conjunto de órgãos, serviços e funcionários e agentes do
Estado, bem como das demais pessoas colectivas públicas que asseguram a prestação de
serviços Públicos ao cidadão” (MAE, 2011).

A Administração Pública é entendida num duplo sentido: sentido orgânico e sentido material.
No sentido orgânico, a administração pública é o sistema de órgãos, serviços e agentes do
Estado e de outras entidades públicas que visam a satisfação contínua das necessidades
colectivas.

No sentido material, a Administração Pública é a própria actividade desenvolvida por aqueles


órgãos, serviços e agentes do Estado. Em outras palavras, a Administração Pública é dotada de
poderes que se constituem em instrumentos de trabalho.

Em Moçambique, a administração pública, através dos respectivos serviços públicos é o


instrumento através do qual o estado materializa a vontade dos cidadãos. Com efeito, os artigos
249 e 250 da CRM, e respectivos números, estabelecem que a administração pública serve o
interesse público e na sua actuação respeita os direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos.
Os seus órgãos obedecem à Constituição e à lei, e actuam com respeito pelos princípios da
igualdade, da imparcialidade, da ética e da justiça. Ainda, a administração pública estrutura-se
com base no princípio de descentralização e desconcentração, promovendo a modernização e a
eficiência dos seus serviços sem prejuízo da unidade de acção e dos poderes de direcção do
Governo.

Por seu turno, o Decreto no. 30/2001, de 15 de Outubro, define no seu artigos 5 e 6os princípios
de actuação dos serviços da administração pública, dos quais se pode destacar o princípio da
prossecução do interesse público e protecção dos direitos e interesses dos cidadãos; e o princípio
de justiça e de imparcialidade.

Reforma

O tema da reforma administrativa em Moçambique adquiriu centralidade crescente no debate


sobre as condições para o enfrentamento dos problemas estruturais e das fragilidades
institucionais da gestão pública, caracterizada por uma burocracia excessiva e inoperante, pouco
flexível e dinâmica, e, sobretudo, pela necessidade de ampliação da presença e representação do
Estado ao nível das comunidades locais.

As reformas do século XIX, assentaram fundamentalmente na abolição do patrocínio e na


substituição do recrutamento pelo exame competitivo sob supervisão de um conselho de
examinador central; na reorganização do pessoal do gabinete central dos departamentos em uma
ampla classe para lidar com trabalho mecânico e intelectual respectivamente.

Reforma é o nome que se dá a uma mudança de forma (esta entendida no sentido amplo), uma
modificação na forma, na natureza ou no tamanho de algo, a fim de aprimorá-lo.

Reforma (construção): acção, acto ou efeito de reformar, mudar a forma (em sentido amplo) de
uma construção ou edificação.

Reforma, é um conjunto de acções de carácter transversal ou horizontal e processos de


mudanças que devem ser empreendidos para que os serviços públicos prestados nos diferentes
sectores sejam melhorados e a sua implementação é da responsabilidade dos próprios sectores.
(EGRSP, 2001 - 2011).

A Reforma do Sector Público em Moçambique

Não se pode dissociar a reforma do sector público em Moçambique das acções conducentes à
redução da pobreza, que aliás constituem um dos objectivos prioritários na agenda do Governo.
Para tal, foi instituído na legislatura 2000 - 2004 o “Plano de Acção de Redução da Pobreza” -
(PARPA), merecedor de continuidade pelo actual Governo (2005 – 2009), através do PARPA -
II o qual representa um esforço assinalável de providenciar um instrumento político, de carácter
abrangente, integrado e explícito para a redução dos níveis de incidência da pobreza absoluta em
Moçambique. O Plano de Acção para a Redução da Pobreza Absoluta (PARPA) foi esboçado
numa perspectiva multi dimensional, contemplando os aspectos de carácter económico, social,
político e cultural, sendo que os programas e projectos deverão ter uma abrangência de âmbito
nacional, provincial, sectorial e local.

É neste âmbito onde surge a Reforma do Sector Público - ora em curso, como uma ferramenta do
PARPA, mas também visando tornar a Administração Pública e o país mais competitivos. A
reforma está assente numa estratégia global, preconizada para ser posta em prática entre os anos
2001 e 2011.
Para além dos dois desafios fundamentais atrás referenciados (redução da pobreza e maior
competitividade), vários elementos do processo político, económico, social e institucional do
estado Moçambicano, directamente interligados, marcam também os pressupostos da reforma da
administração pública. Os mesmos, têm estado na agenda da reforma e são caracterizados por
várias vertentes, mormente: a transformação do modelo de economia centralizada para a
economia de mercado; a instauração e desenvolvimento do sistema político multipartidário; a
implementação da descentralização e desconcentração da administração do estado; a
reconstituição do tecido social após o términos da guerra que dilacerou o país, através de vários
programas económicos e sociais.

Noutra abordagem considera-se que os principais pontos de acção da reforma são:

 - a provisão do serviço público;


 formulação política e monitoria;
 profissionalização do pessoal do sector público;
 gestão das finanças públicas e boa governação e;
 combate à corrupção.

As razões evocadas para pôr em marcha a reforma, estão alicerçadas, em nossa opinião, em
factores marcadamente endógenos, tal como se pode depreender pelo seguinte:

 "A necessidade de adequar o conjunto das organizações que integram o sector público
para fazer face aos desafios que se colocam ao Estado Moçambicano.
 A permanente legitimação do Estado de Direito nas suas relações com a sociedade como
factor de garantia da soberania, da moçambicanidade e do progresso nacional" (CIRESP,
2001: 46 - 47)

São importantes as dimensões apresentadas e compreensível o seu destaque, tendo em conta a


etapa de desenvolvimento de Moçambique e as aspirações maiores desta fase - a consolidação do
estado e o desenvolvimento da nação em busca da sua solidificação. No entanto, parece-nos que
deveriam ser também considerados com o devido destaque, o modelo ou modelos adequados de
organização do estado e as acções a realizar face à integração regional, continental e mundial e à
globalização contemporânea bem como a ética pública e social.
É enfatizada na natureza da reforma do sector público em Moçambique, a mudança na cultura
organizacional e na mudança de atitude e de comportamento, aspectos de importância primordial
sobre os quais manifestamos já a nossa posição, em capítulos anteriores.

O âmbito da reforma abrange o sector público e estende-se às relações deste com o sector
privado e a sociedade civil, sendo que as suas características principais baseiam-se: na coerência
entre as suas componentes; na condução estratégica da mudança; numa ampla base de apoio; na
busca de resultados concretos; numa abordagem selectiva de áreas prioritárias; numa agenda
dinâmica; pela continuidade; e pela profissionalização do sector público.

Pegando neste último aspecto, é importante fazer notar que as autoridades em Moçambique,
deram alguns passos importantes no sentido da profissionalização dos funcionários, destacando
nesse âmbito, o Sistema Nacional de Gestão de Recursos Humanos, o Estatuto Geral dos
Funcionários do Estado, o Sistema de Informação de Pessoal - SIP e o Sistema de Formação em
Administração Pública - SIFAP, sobre o qual faremos uma abordagem mais detalhada no
próximo capítulo.

No entanto no quadro da reforma é necessário, não só estender estes instrumentos a todas as


áreas e categorias, mas sobretudo ter uma visão crítica sobre os mesmos, de modo a revê-los
periodicamente e até substitui-los se for caso disso. O importante é a busca incessante de uma
gestão pública moderna eficiente e eficaz. Não se pode perder de vista o recurso estratégico que
constitui o factor humano nas organizações públicas e a crescente competição do sector privado
em busca dos melhores quadros.

" É de reforçar a importância que os profissionais do Sector Público têm enquanto elos de
ligação fundamentais nas relações entre Estado e Sociedade, enquanto actores fundamentais do
processo de reforçar identidade e pertença do cidadão ao país e suas instituições de poder. Para a
cidadania o estado é uma abstracção, enquanto que o atendimento de qualidade do funcionário é
uma realidade concreta para a própria credibilidade do Estado. Essa característica básica do
desempenho profissional a ser estimulada de modo permanente pelo Estado" (UTRESP, 2002: 39
- 40).
Uma das actividades fundamentais desta reforma e da profissionalização dos funcionários
públicos é a formação e o permanente aperfeiçoamento dos quadros e funcionários da
Administração Pública moçambicana. Sem descurar todas as premissas e razões apresentadas, é
válido reconhecer a prioridade que o PARPA constitui, e por isso, os conteúdos das diferentes
acções de formação deverão ser conceptual e pragmaticamente coerentes com os propósitos da
redução da pobreza. Para além da formação técnica específica de cada um dos sectores de
actividade, absolutamente indispensável, torna-se imperioso dotar os funcionários e
particularmente os quadros da administração pública, de conhecimentos e capacidades nos
domínios da gestão e das políticas públicas. Para tal, a formação em administração pública ocupa
um lugar de charneira que deve ser preocupação das entidades educacionais - que formam hoje
jovens para abraçarem no futuro funções neste domínio, mas também das autoridades da
administração pública que lidam com a organização estado e função pública - na formação dos
funcionários e quadros desse mesmo aparelho.

Evolução histórica da Administração Pública em Moçambique

O processo evolutivo da Administração Pública moçambicana, busca os seus alicerces nas várias
fases da presença Portuguesa e do jugo colonial iniciada nos finais de século XV (1498). Importa
destacar a descoberta de Vasco da Gama e a sua posterior fixação no litoral de Moçambique,
inicialmente como mercadores (efectuando trocas comerciais) e mais tarde como efectivos
colonizadores.

Segundo Nyakada (2008) a lógica da Administração Pública apresenta-se disposta da seguinte


forma:

1. no periodo colonial assistia-se a um sistema de administração com marcas


iminentemente patrimoniais,
2. no período após independência e antes da assinatura do Acordo Geral da Paz, a
Administração Publica era marcadamente burocrática,
3. Nos nossos dias, tem se visto o desencadear de uma série de reformas convindo tornar
a Administracao Pública menos onerosa e mais eficiente, reformas estas que são uma
marca da Nova Gestão Pública ou Administração Gerencial.
A Administração Pública Pós Independência Nacional

Com a proclamação da Independência Nacional a 25 de Junho de 1975, nasceu a República


Popular de Moçambique, e entrou em vigor a nova Constituição da República Popular de
Moçambique definindo como um Estado de Democracia Popular, onde o Poder passou a
pertencer aos operários e camponeses.

Para atingir novos objectivos, era necessário empreender uma profunda transformação dos
métodos de trabalho e de estruturação do aparelho do Estado, a fim de proporcionar a criação de
novos esquemas mentais e regras de funcionamento. A administração pública devia ser um
instrumento para a destruição de todos os vestígios do colonialismo e do imperialismo, para a
eliminação do sistema de “exploração do homem pelo homem”, tanto para a edificação da base
política, material, ideológica, cultural e social da nova sociedade”.

Para isso, foi aprovado o primeiro instrumento normativo para organizar a Administração
Pública, o Decreto nº. 1/75 De 27 de Julho, que definia as principais funções e tarefas do
Aparelho de Estado Central.

Com base no Centralismo Democrático, os Órgãos Centrais do Aparelho de Estado deveriam


aplicar os seguintes princípios:

 Unidade e concentração da direcção política, económica, técnica e

Administrativa;

 Desenvolvimento, protecção e plena utilização da propriedade estatal;


 Observância permanente da legalidade;
 Participação nas tarefas de defesa, segurança e vigilância popular; e
 Participação organizada das massas nas tarefas estatais;

Com a proclamação da Independência Nacional em Moçambique, a Administração Pública


associou-se ao modelo socialista, para suprir a necessidade da máquina administrativa, com a
escassez de mão-de-obra qualificada e neste contexto foram recrutados muitos moçambicanos
para integrarem o Aparelho do Estado, outros para gerirem empresas que haviam sido
abandonadas pelos respectivos proprietários.
Um movimento similar de transformações seguiu-se nos anos 80, que culminou com a realização
do IV Congresso da Frelimo, em Abril de 1983, dando um marco importante para a mudança do
sistema político de governação e a substituição do modelo de desenvolvimento com base na
economia planificada para a economia de mercado em Moçambique.

A Administração Pública moçambicana a Luz da Constituição de 90

A revisão da Constituição teve um marco importante, com a sua aprovação em 30 de Novembro


de 1990 o que terá trazido várias modificações no seio da Administração Pública, porque foi
nesse período em que o sistema de economia centralmente planificado conheceu os seus últimos
momentos, marcando nova era do pluralismo político e da economia do mercado em
Moçambique.

Após as primeiras eleições gerais e multipartidárias em 1994, o Governo saído vencedor


(Frelimo) deu iniciam ao processo de reconstrução nacional, face as consequências funestas
trazidas pela guerra civil que durou dezasseis anos, daí que as eleições multipartidárias
trouxeram uma mudança política significativa no contexto da democratização em Moçambique,
dando uma efectiva implantação de um Estado de Direito.

Administração Pública em Moçambique à luz da Constituição de 2004

A Constituição da República de Moçambique de 2004, passou a ser constituído pelo Conselho de


Ministros, da qual o Presidente da República é quem preside, seguido do Primeiro-Ministro e
outros Ministros. No entanto podem ser convocados para participar em reuniões do Conselho de
Ministros os Vice-Ministros e os Secretários de Estado e que na sua actuação, o Conselho de
Ministros observa as decisões do Presidente da República e as deliberações da Assembleia da
República.

Das tarefas encarregues ao conselho de Ministros destacam-se:

 Assegurar a Administração do País;


 Garantir a integridade territorial;
 Velar pela Ordem Pública, Segurança e estabilidade dos cidadãos;
 Promover o desenvolvimento económico e social;
 Desenvolver e consolidar a legalidade e realizar a política externa do país.

Em suma a Administração Pública a luz da Constituição de 2004, tem em primazia servir os


interesses públicos e na sua actuação respeita os direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos.
Igualmente os órgãos da Administração Pública obedecem à Constituição e à lei, baseando pelos
princípios de igualdade, imparcialidade, ética e justiça patente no art. 249 da Constituição da
Republica de Moçambique.

Traços da Constituição da República de Moçambique de 2004

 A Administração Pública estrutura-se com base no princípio de descentralização e


desconcentração, promovendo a modernização e a eficiência dos serviços;
 Promove a simplificação de procedimentos administrativos e a aproximação dos serviços
públicos aos cidadãos, art. 250 da CRM, coadjuvado com o Decreto nº 30/2001 de 15 de
Outubro que aprova as Normas de Funcionamento dos Serviços da Administração
Pública estabelecendo os princípios da actuação da Administração Pública, Principio da
legalidade, Principio da prossecução do interesse público e protecção dos direitos e
interesses dos cidadãos.Órgãos Locais do Estado.

Órgãos Locais do Estado

Os órgãos locais do Estado conforme citam artigos 262, 263 e 264 da Constituição da República
de Moçambique, têm como função à representação do Estado ao nível local para a
Administração e o Desenvolvimento do respectivo Território e contribuem para a integração e
unidade nacional. No seu funcionamento, os órgãos locais do Estado, promovem a utilização dos
recursos disponíveis e garantem a participação activa dos cidadãos e incentivam a iniciativa local
na solução dos problemas das comunidades, respeitando na sua actuação as atribuições,
competências e autonomia das autarquias locais e a realização de tarefas e programas
económicos, culturais e sociais de interesse local e nacional, observando o estabelecido na
Constituição, deliberações da Assembleia da República, do Conselho de Ministros e dos órgãos
do Estado do escalão superior.

Para assegurar a participação das comunidades na definição das prioridades das Acções de
Desenvolvimento Económico Local, foi instituído um fundo de investimento de iniciativa local,
que é gerido pelos Governos Distritais, cuja utilização é concertada pelo Governo Distrital com
os Conselhos Consultivos Locais, que estão em funcionamento nos Distritos, Postos
Administrativos e Localidades.

Racionalização e Descentralização de Estruturas e Procedimentos de Prestação de Serviços

Nesta componente, a Análise Funcional e Reestruturação dos Ministérios é a principal


actividade. Este exercício, permitirá aos ministérios reflectirem sobre a sua missão e objectivos
estratégicos, suas funções e estruturas que melhor possam permitir o cumprimento da finalidade
e razão da sua existência, e sobre o destino a dar às funções actualmente existentes: se serão
mantidas a nível central ou provincial, se serão abolidas, privatizadas ou transferidas para outros
sectores incluindo agências ou ONG´s. A Análise Funcional é uma oportunidade para os
ministérios alocarem funções e recursos de forma mais efectiva em prol da criação de uma
capacidade maior de resposta às demandas da sociedade. Ocorrendo isto, a reforma terá um
impacto económico evidente, porque permitirá ao Estado criar as condições necessárias para que
os agentes económicos tenham as suas iniciativas implementadas, de forma eficiente e eficaz.

Por outro lado, a privatização e/ou contratação de algumas funções do Estado abre espaço a uma
maior competitividade na prestação de serviços públicos, com fortes possibilidades de melhoria
de sua qualidade e criação de novas formas de rendimento. Ademais, a redução do tempo de
resposta bem como da burocracia no funcionamento do sector público e particularmente no
licenciamento das actividades económicas, previstas sob esta componente e já em curso, são
medidas que estimularão consideravelmente os investimentos tanto internos como externos, com
um impacto positivo na economia.

A Estratégia Global da Reforma do Sector Público


É um programa do Governo integrando todas as reformas em curso nos ministérios e governos
provinciais.Com esta nova abordagem, as mudanças que vinham sendo sectoriais e isoladas
passam a ser integradas e interdependentes, com uma única direcção, visando a melhoria da
prestação de serviços públicos ao cidadão e o desenvolvimento de um ambiente favorável ao
crescimento do sector privado.

Para o alcance desses objectivos, estão previstas mudanças profundas na gestão e capacitação
dos recursos humanos, nas estruturas e procedimentos de prestação de serviços, no processo de
gestão de políticas públicas e na programação orçamental e gestão financeira. Estas reformas
contribuirão consideravelmente para a promoção da boa governação e combate à corrupção, ao
aumentar a capacidade de resposta do sector público às demandas dos cidadãos, através da
criação de mecanismos de prestação de contas e transparência e pela redução de oportunidades
de acesso ilícito aos recursos públicos. A ocasião faz o ladrão. É preciso reduzir senão eliminar
os espaços para a corrupção.

Formulação e Monitoria de Políticas Públicas

A melhoria do processo de gestão de políticas públicas é um dos objectivos pretendidos com a


Análise Funcional e Reestruturação dos Ministérios. A melhoria da capacidade de formulação,
implementação e monitoria de políticas públicas contribuirá consideravelmente para o
crescimento económico, porque permitirá dar resposta adequada das demandas existentes na
sociedade. No caso da economia, o sector público terá a capacidade para intervir onde a sua
presença se revele necessária para estimular o desenvolvimento, e terá um a função mais
regulatórias onde haja perigo de ocorrência de disfunções do mercado e de desequilíbrios na
interacção entre os agentes económicos. Os processos participativos, previstos na nova lei dos
órgãos locais do Estado, serão um insumo necessário a este tipo de intervenção dos poderes
públicos, na perspectiva de acomodar institucionalmente a governação participativa no nosso
país.

Um exemplo de suma importância que está a ser implementado neste sentido é o “Observatório
do PARPA”, através do qual o Governo ausculta a sociedade e incorpora contribuições que
visam melhorar os métodos de trabalho na formulação e monitoria de políticas públicas. Por
outro lado, estão previstos, no âmbito da Lei dos Órgãos Locais do Estado Fóruns Consultivos
aos vários níveis como um mecanismo de consulta periódico entre o Governo e a sociedade, na
promoção da governação participativa e ampliação da democracia.

Profissionalização dos Funcionários do Sector Público

A melhoria da qualificação dos recursos humanos é fundamental para o sucesso da Análise


Funcional, porque é o garante de que as novas estruturas a serem criadas serão competente e
adequadamente geridas. Por outro lado, no âmbito do desenvolvimento dos recursos humanos
está prevista a adopção de uma nova política salarial, que ligará a remuneração ao desempenho
e/ou gestão por resultados. Este elemento irá introduzir uma maior competitividade pelos
recursos humanos qualificados entre o sector público e o sector privado, e reduzirá, em certa
medida, a crónica fuga de quadros do primeiro para o segundo. Como resultado global, o país
tenderá a ter um padrão comum de qualificação dos recursos humanos tanto no sector público
como no privado, que pelos incentivos existentes tenderão a ser, pelo menos nas funções
estratégicas, de um nível alto. A economia poderá se beneficiar disso com a tendência a uma
busca constante de maior qualificação pelos que pretendem entrar no mercado de trabalho. Este
aspecto de formação e desenvolvimento de recursos humanos nacionais tecnicamente
qualificados é que reduzirá drasticamente o eterno argumento de contratação de mão-de-obra
estrangeira preterindo-se a nacional. Por isso é que a nossa primeira aposta para o sucesso da
reforma está na formação e treinamento profissional porque é um dado adquirido que “a
qualidade e riqueza de um País depende dos seus recursos humanos”.

Um instrumento importante aprovado pelo Governo e em processo de implementação é o


Sistema de Formação em Administração Pública (SIFAP), que já é uma realidade no País. Trata-
se de um programa compreensivo de treinamento e formação profissional incorporando métodos
formais e não formais de educação, incluindo o ensino modular e à distância. No presente o
SIFAP é implementado e coordenado através de três Institutos de Formação Pública e
Autárquica (IFAPAs) existentes em Lichinga (para servir as províncias da zona norte), na Beira
(para as províncias da zona centro), e na Matola (para as províncias da zona sul. Também se
encontra já em actividade o Instituto Superior de Administração (ISAP), uma instituição de cariz
vocacional de ensino superior destinado a coordenar cursos formais, cursos de pequena duração e
investigação aplicada sobre a administração pública em Moçambique.

Gestão Financeira e Prestação de Contas

Por tradição a gestão financeira nos países em via de desenvolvimento é reconhecidamente um


dos aspectos mais críticos do sector público. No entanto, a má gestão financeira, além de
abrandar a capacidade do Estado na provisão de serviços públicos e de sustento do seu próprio
funcionamento, incorpora em si o fantasma dos défices públicos, cujas formas de financiamento
quase sempre se revelam nefastas para a economia nacional, o que pode dilatar as taxa de juros,
sendo uma das consequências decorrente a retracção de investimentos, aumento do desemprego e
queda da economia, problema este já identificado em Moçambique e que as autoridades
governamentais têm vindo a envidar esforços, para impugnar o cenário no quadro da sua
governação.

A aprovação da Lei da Administração Financeira do Estado e a sua regulamentação, bem como


as reformas tributárias em curso, são elementos da Reforma que contribuirão consideravelmente
para a melhoria do quadro fiscal.

Além da melhoria na gestão financeira em si, a nova legislação incorpora também mecanismos
de prestação de contas que serão a base para uma maior transparência e responsabilização. Neste
sentido, está para aprovação o Regulamento de Contratação de Empreitadas de Obras Públicas e
de Fornecimento de Bens e de Prestação de Serviços ao Estado (O Regulamento do
Procurement), como forma de imprimir maior transparência no relacionamento do Estado com
os agentes económicos e outros particulares.

Em suma, uma maior responsabilidade fiscal terá um efeito positivo na economia, porque
eliminará alguns dos elementos que podem prejudicar os esforços de desenvolvimento
económico. No entanto, torna-se necessário aprofundar de forma participativa o tipo de reforma
fiscal que não asfixie o desenvolvimento do sector empresarial nas grandes e médias empresas e
muito menos prejudicar a emergência e desenvolvimento dos pequenos empreendedores.
Boa Governação e Combate à Corrupção

O fenómeno da corrupção é outra face da moeda que assola o sector público e tem custos
económicos elevados, porque contribui para a retracção dos investimentos, pois, consiste no uso
ilícito dos recursos públicos para fins particulares. No âmbito do sector público ela floresce com
a falta de transparência, burocracia excessiva, procedimentos de estruturas demasiadas e
complexas.

No entanto, no âmbito do sector público ela floresce onde há falta de transparência, excessiva
burocracia, procedimentos e estruturas demasiado complexas. Por essa razão, o combate à
corrupção decorre naturalmente das mudanças positivas que forem operadas nas estruturas e
procedimentos de prestação de serviços, na profissionalização da Administração Pública, e
modernização na gestão e desenvolvimento de recursos humanos, na gestão de políticas públicas
e na gestão financeira e melhoria de mecanismos de prestação de contas.

Portanto, o combate à corrupção, é parte integrante da Reforma porque cada componente da


Estratégia Global da Reforma do Sector Público contribui na redução de oportunidades de acesso
ilícito aos recursos públicos. Ao se melhorar o funcionamento dos elementos acima indicados,
reduz-se o espaço para práticas ilícitas. Desta forma, o combate à corrupção estimula o
desenvolvimento económico porque reduz os custos de transacção dos agentes económicos e
promove o ambiente para uma efectiva boa governação.
Conclusão

Desta elaboração pode-se concluir que apesar de esforços e vontade política do Governo de
Moçambique, ainda persistem muitos problemas de organização e do funcionamento da
Administração Pública que constituem autênticos desafios de momento e para os próximos anos.
Estes podem ser agrupados em problemas estruturais e funcionais.

Para fazer face a esta situação o Governo aprovou uma estratégia de longo prazo, a Estratégia de
Reforma e Desenvolvimento da Administração Pública 2012-2025 (ERDAP), com objectivo
fundamental de continuar com as reformas, de forma mais integrada nas actividades do sector
público

A atitude geral do sector público requer uma mudança significativa de forma a ser centrada no
cliente e orientada para um maior grau de eficácia. A descentralização e a desconcentração
constituem objectivos importantes da política do Governo de Moçambique (GdM), cujo alcance
constitui pré-condição uma maior capacidade das instituições do sector público a nível central,
provincial e distrital.

O Governo de Moçambique reconheceu a necessidade de Reforma do Sector Público como


factor crítico para o sucesso na implementação das suas políticas fundamentais, razão pela qual
adoptou um programa de mudanças legislativas e políticas de dez anos com vista a apoiar a
transformação dos serviços do sector público. Para superintender o programa assim decidido, foi
criado, pelo Decreto Presidencial N.º 5/2000, o Comité Interministerial para a Reforma do Sector
Público (CIRESP). Assim perspectivada, a reforma do sector de segurança é fundamental para
concretizar e estabilizar o progresso e criar condições para um desenvolvimento equilibrado em
Moçambique
Referencias Bibliográficas

CIRESP - Comissão Interministerial da Reforma do Sector Público, (2001) Estratégia Global da


Reforma do Sector Público 2001 - 2011, Imprensa Nacional de Moçambique, Maputo.

UTRESP (2002) - Unidade Técnica da Reforma do Sector Público, Estudo sobre o papel do
sector público, o processo das políticas públicas, a estratégia de descentralização e
desconcentração e a formação e capacitação institucional em Moçambique - Draft para
Discussão, Maputo.

CRM 2004

CRM 1990

CRPM 1975

ERDAP, 2011-2025

Ministério de Administração Estatal (MAE-2011)

Nyakada (2008)

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