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APG 6 ciclo cardíaco/ Coração de atleta

Objetivos
(1) DESCREVER o ciclo cardíaco
(2) ANALISAR a frequência cardíaca, débito cardíaco e seus determinantes
(3) COMPREENDER como ocorre a adaptação do coração ao exercício físico

CICLO CARDÍACO Contração Ventricular Isovolumétrica (B)


• O ciclo cardíaco é o conjunto dos eventos que começa durante o complexo QRS, que representa a
ocorre entre o início de um batimento e o início do ativação elétrica dos ventrículos. Início da contração
próximo. Cada ciclo é iniciado pela geração ventricular; a valva mitral se fecha, produzindo a
espontânea de potencial do nodo sinusal primeira bulha cardíaca (S1), porém, ainda sem
• Cada ciclo é iniciado pela geração espontânea de pressão suficiente para abrir a valva da artéria
potencial de ação no nodo sinusal ou nó sinoatrial aórtica, mantendo o volume constante.
(marca-passo do coração, propaga os impulsos Ejeção Ventricular Rápida (C)
elétricos, logo, governa o ritmo sinusal de minuto a A pressão aumenta até superar a pressão aórtica
minuto abrindo a valva semilunar aórtica. Agora, o sangue
• Há retardo de mais de 0,1 segundos na passagem do é rapidamente ejetado do ventrículo esquerdo para a
impulso cardíaco dos átrios para os ventrículos (esse aorta. A maior parte do volume sistólico é ejetado
retardo permite que os átrios se contraiam antes dos durante a ejeção ventricular rápida. Durante esse
ventrículos período os átrios começam a se encher
• Dividido em sete fases. (Sístole atrial (A); contração (O final desta fase coincide com o término do
ventricular isovolumétrica (B); ejeção ventricular rápida segmento ST (ou o começo da onda T))
(C); ejeção ventricular lenta (D); relaxamento Ejeção Ventricular Reduzida (D)
ventricular isovolumétrico (E); enchimento ventricular Redução da pressão ventricular e seu volume
rápido (F); enchimento ventricular lento (diástase) (G). chega ao mínimo
) Começa a repolarização dos ventrículos, (marcada
pelo início da onda T no ECG.)
Relaxamento Ventricular Isovolumétrico (E)
Após a repolarização completa dos ventrículos(final da
onda T) redução da pressão. Ejeção ventricular
termina e a valva aórtica se fecha (com a veia
pulmonar, produzindo a segunda bulha cardíaca (S2).)
Enchimento Ventricular Rápido (F)
A pressão ventricular atinge seu menor nível atrial,
a valva mitral se abre. Com isso, o ventrículo
começa a se encher com sangue do átrio esquerdo
e o volume ventricular rapidamente aumenta(80%
do sangue desceu). A pressão ventricular continua
baixa, porém, uma vez que o ventrículo ainda está
relaxado e complacente.
O fluxo rápido de sangue dos átrios para os
FASES ventrículos produz a terceira bulha cardíaca (S3),
Sístole Atrial (A) que é normal em crianças, mas não é auscultada em
Contração atrial que termina de encher os adultos normais; em indivíduos de meia-idade ou
ventrículos de sangue.A contração do átrio esquerdo idosos, a presença de S3 indica uma sobrecarga de
aumenta a pressão atrial esquerda.O ventrículo volume, como ocorre na insuficiência cardíaca
esquerdo está relaxado durante esta fase e, uma vez congestiva ou na regurgitação mitral ou tricúspide em
que a valva mitral está aberta, o ventrículo está se estágio avançado.
enchendo com sangue. Enchimento Ventricular Reduzido (Diástase) (G)
(A quarta bulha cardíaca (S4) não é audível em Fase mais longa do ciclo cardíaco e inclui a parte
adultos normais.) final do enchimento ventricular, que ocorre em um
(É precedida pela onda P no ECG) ritmo mais lento do que na fase anterior. marca o final
da diástole, no ponto em que o volume ventricular é
igual ao volume diastólico final.

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As alterações na frequência cardíaca alteram o volume sistólico de 70 mL e frequência cardíaca de 72
tempo disponível para a diástase, uma vez que esta é batimentos/min)
a fase mais longa do ciclo cardíaco.Por exemplo, o O débito cardíaco é igual ao volume sistólico (VS),
aumento da frequência cardíaca reduz o tempo do o volume de sangue ejetado pelo ventrículo a cada
intervalo antes da próxima onda P contração, multiplicado pela frequência cardíaca (FC),
a quantidade de batimentos cardíacos por minuto:
DC (ml/min) = VS (ml/batimento) × FC
(batimentos/min)

Fatores que aumentam o volume sistólico ou a


frequência cardíaca normalmente elevam o DC.
OBS! reserva cardíaca é a diferença entre o débito
cardíaco máximo de uma pessoa e o débito cardíaco
em repouso. A pessoa média tem uma reserva
cardíaca de quatro ou cinco vezes o valor de repouso.
Os atletas de endurance de elite têm uma reserva
cardíaca sete ou oito vezes o seu DC de repouso.
O volume diastólico final do ventrículo esquerdo
depende do retorno venoso, que também determina a
pressão atrial direita. Assim, não há apenas uma
relação entre o débito cardíaco e o volume diastólico
Regulação do bombeamento cardíaco final, mas também uma relação entre o débito cardíaco
Regulação intrínseca do bombeamento cardíaco e a pressão atrial direita.

Pré­carga | Efeito do alongamento ou mecanismo de Relações entre o débito cardíaco e o retorno


Frank-Starling venoso
O átrio direito recebe todo o fluxo venoso proveniente Curva de Função Cardíaca ou curva de débito
dos tecidos do corpo. Assim, o coração cardíaco
altomaticamente bombeia esse sangue que chegou Baseada na relação de Frank-Starling para o
ate ele para as artérias, para que volte a circular. ventrículo esquerdo. A curva de função cardíaca
Essa capacidade intrínseca do coração de se adaptar demonstra a relação entre o débito cardíaco do
a volumes crescentes de afluxo sanguíneo é ventrículo esquerdo e a pressão atrial direita.
conhecida com mecanismo cardíaco de
frank-starling. Basicamente ele afirma que quanto
mais o miocárdio for desatendido durante o
enchimento, maior será a força da contração e maior
será a quantidade de sangue bombeado para a aorta.
Isso ocorre porque a quantidade adicional de sangue
pressiona os filamentos de actina e miosina
aumentando a eficiência de sua contração.
Contratilidade
A contratilidade do miocárdio é a força de contração
em uma dada pré­carga.
Pós­carga
A pressão que precisa ser superada antes de que uma
válvula semilunar possa abrir é denominada pós­carga.
Um aumento da pós­carga faz com que o volume
sistólico diminua, de modo que mais sangue
permanece nos ventrículos no final da sístole.

DÉBITO CARDÍACO
O volume total de sangue ejetado por unidade de A curva da função cardíaca é o débito cardíaco como
tempo é o débito cardíaco. Assim, o débito cardíaco função da pressão atrial direita.
depende do volume ejetado em um único batimento A curva da função vascular é o retorno venoso como
(volume sistólico) e do número de batimentos por função da pressão atrial direita
minuto (frequência cardíaca).
O débito cardíaco é de aproximadamente 5.000
mL/min em um homem de 70 kg (com base em um
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As curvas se intersectam no ponto de funcionamento CORAÇÃO DE ATLETA
do estado de equilíbrio (círculo cheio), onde o débito O treinamento físico promove remodelamento cardíaco
cardíaco e o retorno venoso são iguais. importante e a expressão coração de atleta tem sido
utilizada para descrever essas adaptações
O aumento do volume diastólico final (ou seja, da
pressão atrial direita) aumenta o débito cardíaco por TREINAMENTO FÍSICO, HIPERTROFIA E FUNÇÃO
meio do mecanismo de Frank-Starling. No entanto, CARDÍACA
esta “correspondência” ocorre apenas até certo ponto: O músculo cardíaco tem a capacidade de adaptar-se
quando a pressão atrial direita atinge um valor de de acordo com as demandas de trabalho e energéticas
aproximadamente 4 mmHg, o débito cardíaco não impostas à ele e tais adaptações ocorrem a fim de
pode mais acompanhar o retorno venoso e a curva de manter a capacidade funcional deste órgão.
função cardíaca se estabiliza. Este nível máximo de Praticamente toda adaptação às demandas impostas
débito cardíaco é de aproximadamente 9 L/min ao miocárdio provém de sua capacidade de
hipertrofia, a qual pode ocorrer pelo aumento da
Curva da Função Vascular ou curva do retorno espessura e/ou comprimento dos cardiomiócitos.
venoso Porém, as características da hipertrofia miocárdica
Ilustra a relação entre o retorno venoso e a pressão variam de acordo com os estímulos sofridos pelo
atrial direita. Quanto menor a pressão no átrio direito, tecido, os quais podem ser aumento da massa
maior o gradiente de pressão entre as artérias corpórea e sobrecarga de trabalho advinda de
sistêmicas e o átrio direito e, então, maior o retorno exercício físico ou de determinadas patologias.
venoso. Assim, à medida que a pressão atrial direita
aumenta, este gradiente de pressão diminui, assim Durante a execução de exercício físico dinâmico,
como o retorno venoso. com grande componente aeróbio observa-se, em
geral, drástico aumento do retorno venoso ao
Pressão Sistêmica Média coração, ou seja, aumento importante da pré-carga
O valor da pressão atrial direita em que o retorno resultando em aumento do volume diastólico final.
venoso é zero é chamado pressão sistêmica média. Por outro lado, os exercícios físicos com grande
Este é o ponto em que a curva da função vascular componente isométrico ou realizados contra cargas
intersecta o eixo X (ou seja, onde o retorno venoso é elevadas promovem a oclusão total ou parcial do seio
zero e a pressão atrial direita atinge seu maior valor). arterial durante a contração muscular, dificultando o
A pressão sistêmica média ou pressão circulatória bombeamento do sangue pelo coração,
média é a pressão que seria medida por todo o aumentando a pós-carga.Esse tipo de exercício
sistema cardiovascular se o coração estivesse parado. promove grande sobrecarga pressórica ao miocárdio.
Dois fatores influenciam o valor da pressão sistêmica Essa sobrecarga pressórica é um estímulo para que
média: (1) o volume sanguíneo e (2) a distribuição ocorra adição em paralelo de novas miofibrilas,
do sangue entre o volume não estressado e o volume aumentando a espessura da parede, mas diminuindo
estressado. O valor da pressão sistêmica média, por pouco ou não modificando o tamanho da cavidade
sua vez, determina o ponto de intersecção (fluxo zero) ventricular, o que pode ser definido como hipertrofia
da curva de função vascular com o eixo X. concêntrica.
O volume não estressado (considerado o volume de Portanto, exercícios dinâmicos, com grande
sangue que as veias podem comportar) é o volume de componente aeróbio, promovem hipertrofia
sangue na vasculatura que não gera pressão. excêntrica enquanto os exercícios estáticos ou
O volume estressado (considerado o volume nas contraresistência pesada promovem hipertrofia
artérias) é o volume que produz pressão ao distender concêntrica.
as fibras elásticas nas paredes do vaso sanguíneo. OBS! Estímulos mistos promoverão hipertrofia
cardíaca também mista, ou seja, concêntrica e
excêntrica.
Além dos sinais mecânicos, o exercício físico promove
liberações neuro-humorais, as quais também são
responsáveis por ativar vias de sinalização para
hipertrofia cardíaca. Diferente dos estímulos
mecânicos promovendo hipertrofia cardíaca, os fatores
neuro-humorais ativam vias de sinalização que
promovem síntese protéica e, consequentemente,
aumento da massa cardíaca. Dentre os hormônios
liberados durante o exercício físico, podemos destacar
o hormônio do crescimento (GH), a insulina, o fator de

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crescimento semelhante à insulina 1 (IGF-1) e os
hormônios tireoidianos.

ALTERAÇÕES DA MORFOLOGIA CARDÍACA


● Aumento da massa cardíaca,
● Dilatação aurículo-ventricular
● Aumento de espessura da parede miocárdica
● Aumento do diâmetro do ventrículo esquerdo
no fim da diástole
● Aumento do diâmetro transversal da aurícula
esquerda
● Aumento das dimensões das artérias
coronárias
● Aumento do tônus parassimpático e a
diminuição do tônus simpático (ocasiona
bradicardia de repouso, arritmia sinusal e os
atrasos da condução aurículo-ventricular

Importância para não atletas


A importância da atividade física e do exercício físico
não competitivo reside na manutenção dos níveis de
função cardíaca dentro do padrão de normalidade.O
envelhecimento, sabidamente, provoca diminuição
significativa da função cardíaca. Dessa forma,
mantendo-se fisicamente ativo, o indivíduo consegue
diminuir essa deterioração da função, o que é de suma
importância para a manutenção da qualidade de vida.

REFERÊNCIAS
● Linda S.Costanzo FISIOLOGIA 6ºEdicao
● Tortora Princípios de anatomia e fisiologia 14º
E
● Artigo Coração de Atleta - Faculdade de
Medicina da Universidade de Coimbra
● Artigo EFEITO DO TREINAMENTO FÍSICO NO
CORAÇÃO Rev Soc Cardiol Estado de São
Paulo - Supl - 2019;
● Artigo Adaptações cardíacas fisiológicas
induzidas pelo exercício físico Revista
Eletrônica Acervo Saúde

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