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Periodontia 1

PRINCÍPIOS CIRÚRGICOS PERIODONTAIS


INTRODUÇÃO Obs: os materiais empregados nas cirurgias periodontais são
• Todos os procedimentos cirúrgicos precisam ser mais delicados em comparação com os usados em cirurgia
geral e bucomaxilo, pois há diferença no tecido trabalhado (o
cuidadosamente planejados e antes de qualquer
tecido periodontal é menor, logo, os materiais devem ser extra
procedimento cirúrgico periodontal, devemos atuar
finos, para não correr risco de acidentes e contaminação);
na recuperação da saúde dos tecidos ‘’alvo’’, pois Obs: em casos de presença de fatores de risco, tem que
qualquer processo inflamatório, vai dificultar ou verificar a possibilidade de realizar cirurgia;
impedir a cicatrização do tecido. Essa fase inicial Obs: a gengiva só tem aderência em tecido biocompatível, por
consiste basicamente na raspagem completa, isso é necessário realizar tratamento básico (raspagem,
alisamento radicular e na remoção de todos os curetagem e alisamento radicular) antes de qualquer cirurgia;
irritantes responsáveis pela inflamação periodontal. Obs: antes do processo cirúrgico, aferir pressão do paciente e
Estes procedimentos básicos restituem aos tecidos passar um analgésico (midazolan) para acalmá-lo e arrumar o
maior firmeza e consistência, permitindo assim uma campo cirúrgico enquanto ele espera na recepção;
cirurgia mais exata e delicada e poderão eliminam Obs: em casos de sedação, deve-se avisar o paciente para
trazer o remédio;
por completo algumas lesões;
Obs: geralmente até o terceiro dia, após o processo cirúrgico,
• Processos patológicos e inflamatórios incidem tem processo inflamatório. Passou três dias, há tendência a
negativamente ao reparo e cicatrização destes desinflamar, em caso de pacientes saudáveis.
tecidos. Obs: prescrever corticoides em casos com maior inflamação e
• A fase de reavaliação, após o tratamento básico, não passar corticoides associados a AINES;
consiste em nova sondagem e novo exame de todos Obs: a profilaxia antibiótica serve, principalmente, para evitar
os achados pertinentes que previamente indicaram endorcadite bacteriana;
a necessidade de um procedimento cirúrgico. A Obs: a antissepsia com Clorexidina 0,12% deve ser feito em
persistência desses achados confirma a indicação todos os procedimento cirúrgicos;
Obs: não se faz cirurgias sem exames complementares;
de cirurgia;
• O número de procedimentos, o resultado esperado
e os cuidados pós-operatórios são todos decididos CIRURGIAS PERIODONTAIS
antes da terapia; O profissional deve planejar previamente:
§ Incisões
Avaliar sempre antes de qualquer cirurgia:
§ Alvos cirúrgicos (Subtrações – adições –
Saúde geral
remodelamento)
Fatores de risco (diabético, fumante, bruxista, etc)
§ Uso de biomateriais ou não
Saúde periodontal § Suturas – cimentos cirúrgicos
§ Pós operatório
PREVENÇÃO/CONTROLE DA DOENÇA § Revisão e acompanhamento de resultados
PROTOCOLO FARMACOLÓGICO
§ Midazolan 7,5mg – 20 a 30 min antes Obs: todo processo cirúrgico passa por três fatores principais
SEDAÇÃO § Diazepan 5mg – 1 h antes = acesso + alvo + síntese.
§ Lorazepan 1mg – 2 h antes (idosos) Precisa ser feito a incisão para chegar ao alvo cirúrgico.
PREVENÇÃO DE § Dexametasona 4mg ou betametasona Depois é necessário ‘’fechar’’ (síntese) para não ocorrer
DOR E EDEMA 2mg (2 compridos) – 1 hora antes processos infecciosos.
§ Amoxilina 500mg (4 cápsulas 1 h antes) Obs: Síntese = fase de suturar.
PROFILAXIA § Clindamicina 600mg (1 comprimido 1h
ANTIBIÓTICA antes)
§ Azitromicina 500 mg (1 comprimido 1 h
INCISÕES
antes) • É definido como corte ou ferida realizada com bisturi,
ANTISSEPSIA § Bochechar digluconato de Clorexidina bisturi elétrico, laser ou qualquer outro instrumento;
INTRABUCAL 0,12% por 1 minuto • Deve ser planejada e de preferência desenhada;
ANTISSEPSIA § Aplicar gel de Clorexidina 2% • Evitar estruturas anatômicas nobres;
EXTRABUCAL
• Preferencialmente, deve ser única, firme e contínuas
MEDICAÇÃO § Dipirona sódica 500 a 800 mg – 4/4 horas
ANALGÉSICA DE § Paracetamol 750mg de 6/6 horas (ao fazer a incisão, não remover o bisturi até o final
SUPORTE § Em caso de dor para não criar rebarbas)
Obs: sempre fazer incisão de distal para mesial, pois o
sangue corre na direção para mesial.
Periodontia 2

Retalho periodontal: é uma secção da gengiva e/ou mucosa 3. INCISÃO BISEL EXTERNO:
cirurgicamente separada dos tecidos subjacentes para • A lâmina de bisturi é posicionada de apical para
fornecer visibilidade e acesso ao osso e superfície radicular. coronal, acarretando a formação de uma área cruenta
Com base na exposição óssea após o deslocamento do externa;
retalho, os retalhos são classificados como de espessura • O conjuntivo fica exposto;
total (mucoperiósteo) ou retalho de espessura parcial • Usado em casos de hiperplasia gengival, por exemplo;
(mucoso) • Cicatrização por segunda intenção. Não envolve osso;

A: bisel interno com retalho de espessura total (mucoperiósteo);


B: bisel interno para deslocamento do retalho de espessura
parcial.
INCISÕES VERTICAIS: folgam o tecido, por isso são
TIPOS DE INCISÕES
chamadas de relaxantes.
• Os retalhos periodontais utilizam incisões horizontais ou
verticais. • Incisão relaxante ou oblíquas
INCISÕES HORIZONTAIS: principais para o acesso • Melhor visibilidade, movimentação e reposição do
cirúrgico. As incisões horizontais são direcionadas ao tecido
longo da margem gengival em direção mesial ou distal. • Geralmente são perpendiculares às principais
Podem ser intrasulcular, por bisel interno e bisel externo. (horizontais). As incisões verticais podem ser usadas
Podem ser Incisão bisel interno, Incisão intrasulcular e em uma ou nas duas extremidades da incisão
Incisão bisel externo: horizontal, dependendo do desenho e do objetivo
1. INCISÃO BISEL INTERNO: do retalho.
• básica para a maioria dos procedimentos de retalho
periodontal. Esta incisão também foi denominada Obs: a incisão relaxante precisa passar da linha
incisão primária, porque é a incisão inicial no mucogengival para poder ter mobilidade de tecido.
deslocamento de um retalho periodontal.
• Envolve osso. Cicatrização de 1˚ intenção Localização das relaxantes
• Posicionamento da lâmina fora do sulco gengival,
redução do volume tecidual, com intenção de expor a
superfície coronária e se preciso dar acesso a área
óssea;
• Usado em casos de osteoplastia, aumento de coroa
com invasão de espaço

Incisão em bisel interno;

Obs: não se pode fazer incisão relaxante no centro da papila,


2. INCISÃO INTRASULCULAR: pois no centro da papila tem menos tecido conjuntivo, e
• também chamada de incisão secundária, é feita da pode haver perda de papila e também não pode fazer no
base da bolsa para a crista óssea. centro do dente, porque pode levar a recessão gengival.
• Posicionamento da lâmina dentro do sulco
gengival, sem excisão de tecido mole;

Posição do bisturi
para a realização
da incisão sulcular
(secundária).
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INSTRUMENTAIS FIOS
Seringa carpule Afastador de minesota • Espessura: 3.0 a 11.0
Cabo de bisturi Descolador de molt
• Comprimento: 45 a 76 cm
Curetas Micro cinzel
Sonda periodontal Pinça hemostática • Agulha ideal para periodontia: 1,7 cm
Cuba metálica Brocas 1016 e 3018
Tesoura Porta agulha Obs: quanto maior numeração do fio, mais fino o fio é.
Placa de vidro Alta-rotação Obs: tempo de reabsorção variando de 3 a 6 semanas.
Kirkland e Orban Espátula 24 Obs: fio reabsorvível gera resposta inflamatória para
Lima para osso Pinça dente de rato poder se degradar, logo, não se pode apenas usar esse
tipo de fio.
DESLOCAMENTO DO TECIDO MOLE
Obs: As suturas reabsorvíveis mais comuns usadas hoje
• Um elevador de periósteo é usado para separar o
são o categute simples e o categute cromado. Ambas são
mucoperiósteo do osso, movimentando-o para mesial,
monofilamentos, processadas a partir de colágeno
distal e apical até que o deslocamento seja finalizado;
purificado do intestino tanto de ovinos como de bovinos.
• Material a ser empregado: cureta de Molt (o lado maio
é usado para descolar área crestal e face vestibular e FIO DE SEDA
lingual e o lado menor é usado para descolar áreas de • Multifilamentar e retorcido;
papilas e incisões relaxantes) • Não reabsorvível;
SUTURAS • Permite o acúmulo de fluidos e biofilme (por
• Depois que todos os procedimentos necessários isso, para perio, não é o mais indicado)
foram finalizados, a área é reexaminada e limpa, e o • Remover entre 5 a 7 dias;
retalho é colocado na posição desejada. • Facilidade de manuseio;
• O objetivo da sutura é manter o retalho na posição
• Baixo custo.
desejada até que a cicatrização progrida para o ponto
FIO DE NYLON
em que as suturas não sejam mais necessárias.
• A finalidade básica é de coaptar as bordas da ferida • Monofilamentar (menor acumulação de
cirúrgica, levando-as, o mais próximo possível de uma biofilme/sujeira);
reparação por primeira intenção; • Não reabsorvível;
• Sutura mal executada poderá resultar em retalhos • Provoca pouca reação inflamatória;
dilacerados, feridas abertas e falha na cicatrização. • Usado na pele;
• Existem muitos tipos de suturas, agulhas de sutura e • Difícil manipulação;
materiais. Os materiais de sutura podem ser não • Desconforto para o paciente (sensação de
absorvíveis ou absorvíveis, e podem ser
perfuração);
subclassificados em trançados ou monofilamentos.
• Precisa dá nó subsequente.
FORÇA TENSIL PRINCÍPIOS DE SUTURA
Mais • Primeiro nó é o mais importante, o segundo nó
resistentes
TIPOS DE FIOS estabiliza o primeiro (segurança) - Tem que unir
INABSORVÍVEIS ABSORVÍVEIS o tecido já no primeiro nó;
Aço Poliglactina • Evitar as bordas do retalho, suturar a pelo
Poliéster Ácido poliglicólico menos 3 mm da margem;
Poliamida (nylon) Polidioxanona
• Nó sempre na face vestibular, para evitar
traumas.
Polipropileno poligliconato
Obs: tecidos finos: cuidado ao apertar o nó para não
Seda Categute cromado
dilacerar.
algodão Categute simples
Menos
resistente

Obs: a resistência dos fios de tecidos é sempre menor.


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TIPOS DE SUTURA • Colchoeiro vertical interno: preserva a altura das
SUTURA INTERDENTAL INTERROMPIDAS: envolve, papilas. Ex: cirurgia para raspagem.
isoladamente a papila mesial e ou distal. • Colchoeiro horizontal: em áreas desdentados e
incisões relaxantes.

SUTURAS CONTÍNUAS: suturas sem interrupção, sem


cortar o fio.

Uma sutura de laço simples é usada para aproximar os SUTURAS CRUZADAS: regiões edêntulas e cirurgias
retalhos vestibular e lingual. A, A agulha penetra a mucogengivais (estabilizar tecidos e áreas doadoras e
superfície externa do primeiro retalho. B, A superfície receptores de enxertos).
interna do retalho oposto é transpassada, e a sutura é
trazida de volta para o lado inicial (C), onde o nó é atado
(D).

SUTURA SUSPENSÓRIO: Sutura suspensória simples


estabiliza simultaneamente as papilas mesial e distal,
mediante um único nó. Gengiva bem adaptada a CIMENTO CIRÚRGICO
circunferência dental. • Auxilia a controlar o sangramento;
Agulha penetra por vestibular; reposicionar tecido mole • Minimiza a possibilidade de infecção e hemorragia;
Contorna o dente por lingual, passa na proximal e volta • Evita dor provocada pelo trauma superficial;
penetrando novamente por vestibular. • Muito usado para bisel externo;
• Tecido conjuntivo exposto (cicatrização por 2°
intenção)
• Proteção do retalho, facilitando a cicatrização;
• Retido pelas estruturas dentarias (ameias).
• Ponto negativo: pode aumentar a infecção, pois há o
acúmulo de biofilme, e atrapalha no controle da
microbiota.
CUIDADOS PÓS OPERATÓRIOS
• Anti-inflamatório: AINES ou corticoides;
Sutura suspensória interrompida é usada para adaptar o • Analgésico;
retalho em volta do dente. (A) a agulha envolve a • Aplicar gelo na área (primeiras 12 horas)
superfície externa do retalho. (B) a agulha envolve • Alimentação (deve-se evitar comidas quentes)
circundando o dente. (C) a superfície externa do mesmo • Controles de placa – Clorexidina 0,12%
retalho da área interdental adjacente é envolvida. (D) a Obs: gelo = vasoconstritor, anestesia e analgesia a região
sutura retorna ao lado inicial e o nó é amarrado. de contato.
REMÉDIOS GENÉRICOS
SUTURA COLCHOEIRO: passagem dupla da agulha em Nimesulida (Scaflan) 100mg de 12/12horas
cada plano de sutura (própria da periodontia). Diclofenaco (Cataflan) 50mg de 8/8horas
• Colchoeiro vertical externo: diminuem a altura das
Piroxicam (Feldene) 20mg de 12/12horas
papilas. Ex: aumento de coroa clínica. Agulha penetra
4 mm distante da margem gengival e sai a 2 mm da Paracetamol (tylenol) 750mg de 6/6horas
margem gengival. Na outra face penetra 4 mm da Dipirona (Novalgina) 500mg de 6/6horas
margem e sai 2 mm. 4-2-4-2. Lisador 40 a 60 gotas de 6/6horas

Referências
• CARRANZA Jr., F.A.; NEWMAN M.G.; TAKEI H.H. Periodontia
clínica , 11˚ ed., Rio de Janeiro : Elsevier, 2011.
• Lee H.S. Princípios de Sutura em Odontologia – Guia completo
para fechamento cirúrgico. Livraria Santos Editora Ltda., 2003.
• LINDHE, J. Tratado de periodontologia clínica e implatologia
oral, 4 o ed., Ed. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro 2005

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