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Pós-Graduação em

Filosofia e Autoconhecimento:
uso pessoal e profissional

PENSAR
ORDENADAMENTE:
LÓGICA
Com Draiton Gonzaga de Souza e Roberto Hofmeister Pich

Os seres humanos não constroem a realidade,


reconstroem, repensam, interpretam.

Pedro Demo
Conheça
c o livro da disciplina
-
CONHEÇA SEUS PROFESSORES 3

Conheça os professores da disciplina.​

EMENTA DA DISCIPLINA 4

Veja a descrição da ementa da disciplina. ​

BIBLIOGRAFIA BÁSICA 5

Veja as referências principais de leitura da disciplina.​

O QUE COMPÕE O MAPA DA AULA? 6

Confira como funciona o mapa da aula.

MAPA DA AULA 7

Veja as principais ideias e ensinamentos vistos ao longo da aula.

ARTIGOS 38

Nesta página, você encontra links de artigos científicos, informativos e vídeos


sugeridos pelo professor PUCRS.

RESUMO DA DISCIPLINA 39

Relembre os principais conceitos da disciplina.​

AVALIAÇÃO 40

Veja as informações sobre o teste da disciplina.​

2
Conheça
c seus professores

-
DRAITON GONZAGA DE SOUZA
Professor Convidado

Draiton Gonzaga de Souza é advogado, filósofo, tradutor


público e intérprete comercial para o idioma alemão e vice-
diretor do Centro de Estudos Europeus e Alemães (CDEA).
Reconhecido por sua atuação, recebeu, em 2003, um prêmio da
maior organização alemã no campo de intercâmbio acadêmico,
o DAAD , e, em 2013, da Fundação Alexander von Humboldt
(Humboldt-Alumni-Preis) devido ao engajamento na cooperação
acadêmica Brasil-Alemanha. É professor titular e decano da
Escola de Humanidades da Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul (PUCRS), atuando na graduação e na pós-
graduação como professor permanente nos Programas de Pós
Graduação em Filosofia e em Direito da mesma instituição.
Também atua como advogado na Fayet Advogados, advocacia
criminal. É autor de dezenas de capítulos de livros e de 18
livros, entre os quais destacam-se ‘’Amor Scientae. Festschrift
em homenagem a Reinholdo Aloysio Ullmann’’, ‘’Justiça global
e democracia: homenagem a John Rawls’’ e ‘’Hermenêutica e
filosofia primeira: festschrift para Ernildo Stein’’.

ROBERTO HOFMEISTER PICH


Professor PUCRS

Possui Bacharelado e Licenciatura em Filosofia pela


Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1996). É Bacharel
em Teologia pela Escola Superior de Teologia (1996,). Possui
Doutorado em Filosofia pela Rheinische Friedrich-Wilhelms-
Universität Bonn (2001), Alemanha. Como Bolsista da Alexander
von Humbodt-Stiftung, realizou estudos de Pós-Doutorado na
Eberhard Karls Universität Tübingen (2005), no Albertus-Magnus-
Institut e na Universität Bonn (2007 e 2011). Como Bolsista da
Comissão Fulbright, realizou Pós-Doutorado na University of Notre
Dame, Indiana-USA (2010). Atualmente é Professor Adjunto da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS),
onde atua no Programa de Pós-Graduação em Filosofia e no
Programa de Pós-Graduação em Teologia. Na área de Filosofia,
atua em especial nas ênfases Filosofia na Idade Média, Metafísica,
Epistemologia e Filosofia da Religião.

3
Ementa da Disciplina
Introdução filosófica aos conceitos fundamentais e aos métodos da Lógica.
Reflexão sobre a lógica clássica e contemporânea. Estudo das Falácias.

4
Bibliografia básica
a

-
Bibliografia básica

COPI, I. M. Introdução à Lógica. 2ª Ed. São Paulo: Mestre Jou, 1978.

NOLT, John. Lógica. São Paulo: McGraw-Hill, 1991.

SMITH, W. H. Newton. Lógica – Um curso introdutório. Lisboa: Gradiva: 1998

Bibliografia complementar

BRANQUINHO, João; MURCHO, Desidério; GOMES, Nelson. Enciclopédia de termos


lógico-filosóficos. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

HAIGHT, Mary. A Serpente e a Raposa – Uma Introdução à Lógica. São Paulo: Loyola,
2003.

KNEALE, W. O desenvolvimento da lógica. 3. ed. Lisboa: FCG, 1991.

PRIEST, Graham. Logic: a very short introduction. Oxford e Nova York: Oxford
University Press, 2000.

SAINSBURY, M. Logical forms: an introduction to philosophical logic. 2. ed. Malden:


Blackwell, 2001.

5
o o
O que compõe

s
Mapa da Aula?
MAPA DA AULA
São os capítulos da aula, demarcam
momentos importantes da disciplina,
servindo como o norte para o seu FUNDAMENTOS
aprendizado.
Conteúdos essenciais sem os quais
você pode ter dificuldade em
compreender a matéria. Especialmente
importante para alunos de outras
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
áreas, ou que precisam relembrar
assuntos e conceitos. Se você estiver
Questões objetivas que buscam
por dentro dos conceitos básicos dessa
reforçar pontos centrais da disciplina,
disciplina, pode tranquilamente pular
aproximando você do conteúdo de
os fundamentos.
forma prática e exercitando a reflexão
sobre os temas discutidos.​
CURIOSIDADES
Apresentação de figuras públicas
e profissionais de referência
PALAVRAS-CHAVE mencionados pelo(a) professor(a),
além de fatos e informações que dizem
Conceituação de termos técnicos, respeito à conteúdos da disciplina.
expressões, siglas e palavras específicas
do campo da disciplina citados durante
a videoaula. DESTAQUES
Frases dos professores, que resumem
sua visão sobre um assunto ou
VÍDEOS situação.​

Assista novamente aos conteúdos


expostos pelos professores em vídeo.
Aqui você também poderá encontrar ENTRETENIMENTO
vídeos mencionados em sala de aula.
Lembre-se que a diversificação de Inserções de conteúdos da equipe de
estímulos sensoriais na hora do estudo design educacional para tornar a sua
otimiza seu aprendizado. ​ experiência mais agradável e significar
o conhecimento da aula.​

CASE
Neste item você relembra o case
analisado em aula pelo professor. ​
LEITURAS INDICADAS
A jornada de aprendizagem não
termina ao fim de uma disciplina. Ela
MOMENTO DINÂMICA segue até onde a sua curiosidade
alcança. Aqui você encontra uma lista
Aqui você encontra a descrição
de indicações de leitura. São artigos e
detalhada da dinâmica realizada pelo
livros sobre temas abordados em aula.​
professor em sala de aula com os alunos. ​

6
Mapa da Aula
Os tempos marcam os principais momentos das videoaulas.

AULA 1 • PARTE 1

Pensar ordenadamente 00:33

O ser humano é pluridimensional e


multifacetado. Tem capacidade de criar,
brincar, trabalhar, falar, bem como é um ser
07:24
pensante, que busca conhecer. Anthrōpos A linguagem aponta para essa
(ἄνθρωπος), termo grego que designa o dimensão do ser humano como
ser humano, na origem já é relacionado à ser corpóreo. Ele não tem corpo,
questão do pensamento, racionalidade e ele é corpo. O corpo é a forma
logos (λόγος). Zoón logikon (ζῷον λογικόν), como nos apresentamos no
expressão traduzida como “animal racional” mundo. E ao mesmo tempo temos
refere-se à sua capacidade pensante e uma dimensão psíquica, espiritual,
linguística. Edvino A. Rabuske divide os anímica.
pronomes pessoais e, através deles, explicita
as funções da linguagem:

• Eu: Autoexpressiva. A primeira dimensão PALAVRAS-CHAVE


da linguagem é a expressão, entrando em 08:55
uma dimensão psicossomática. Expressamos
Karl Bühler (1879 – 1963): Filósofo,
através do nosso corpo ideias não materiais, linguista, psicólogo e psiquiatra
demonstrando sentimentos. alemão. Na psicologia, é conhecido
• Tu: Comunicativa. Nessa dimensão se entra por seu trabalho na Psicologia Gestalt,
em relação com alguém. Algo em “comum”, tendo sido um dos fundadores da
partilho algo. Escola de Psicologia de Würzburg.
Na linguística, é conhecido por seu
• Ele (it): Referencial (designativa). Com
modelo de comunicação de órgão e
a linguagem eu mostro coisas, eu designo
por seu tratamento da dêixis como um
coisas, é a forma que eu tenho de interagir, fenômeno linguístico.
me expressar e comunicar.

A ideia de pensar ordenadamente pode


ser organizado pelo chamado Triângulo
Semiótico. Esse modelo já aparece com
FUNDAMENTO I
10:42
os filósofos da Grécia antiga, com Platão Triângulo Semiótico
e Aristóteles. Na obra “Da Interpretação”,
Aristóteles afirma que os objetos são os
mesmos, bem como o seu conceito em
nossas mentes, tendo na linguagem a única
mudança. Humboldt (século XIX), contrapõe
que conceitos também mudam conforme o
sujeito os experiencia e cria relação com eles.
Assim, como reforça o professor Draiton, a
forma como nos relacionamos com nosso
entorno se dá através da linguagem, a

7
maneira que apreendemos o mundo.
PALAVRAS-CHAVE
14:06

Wilhelm von Humboldt (1767 – 1835):


Funcionário do governo, diplomata,
filósofo, fundador da Universidade de
Berlim. Reconhecido como o primeiro a
identificar a linguagem humana como
17:34
um sistema governado por regras, e Nós nos relacionamos com o
não simplesmente uma coleção de mundo através da linguagem.
palavras e frases acompanhadas de Nós apreendemos e acessamos o
significados. mundo através da linguagem.

PALAVRAS-CHAVE
19:23

Logos: Sintetiza vários significados


que, em português, estão separados,
mas unidos em grego. Vem do verbo
légō, no infinitivo légein, que significa:
20:03 O que significa pensar?
1. Aquilo que é dito: palavra, frase,
discurso, história, debate, expressão; Martin Heidegger possui um livro cujo título
2. Aquilo que é pensado: razão, é esse questionamento. Ali, faz notar que
consideração, computação, cálculo, por mais que sejamos caracterizados pela
escolha, enumeração;
possibilidade de pensar, não é uma faculdade
3. Uma conta, explicação ou narrativa, que seja garantida de maneira inerente.
justificação, valor atribuído a alguma Requer esforço, permissão, uma atividade de
coisa;
nossa parte. Homo sapiens, espécie à qual
4. Assunto de discussão, motivo, causa, pertencemos, tem como origem da expressão
razão de alguma coisa;
a ideia de “homem sapiente”, sendo possível
5. (Cristianismo) A palavra ou sabedoria distinguir essa sapiência de um conhecimento
de Deus, identificada por meio de Jesus científico. O conhecimento e a sabedoria
no Novo Testamento.
também podem ser diferenciados, tendo
relação por vezes mais, outras vezes menos,
estreita.

No caso do filósofo, no sentido mais literal


CURIOSIDADE da expressão, trata-se de uma amizade com
20:11 a sabedoria. Na “Metafísica”, Aristóteles
Martin Heidegger (1889 – 1976) afirma que todos os seres humanos desejam
conhecer. Immanuel Kant resume a filosofia
em quatro questões: o que posso saber? O
que devo fazer? O que posso esperar? O que
é o ser humano?

João Batista Libânio reflete sobre aquilo que


podemos conhecer. A começar pelo mundo,
a objetividade. O ser humano é marcado pela
mundanidade, nossos sentidos fazem com
Filósofo, escritor, professor universitário e
que possamos perceber aquilo que está fora
reitor alemão. Foi um pensador seminal na
de nós. Tentamos dominar o mundo material
tradição continental e hermenêutica filosófica.
através da ciência. Por meio do pensamento,
É mais conhecido por suas contribuições para
temos acesso ao mundo de uma forma
a fenomenologia e existencialismo. Um ponto
imaterial, por meio de imagens e conceitos.
polêmico de sua biografia é o fato de ter
O ser humano não apenas conhece o mundo
aderido ao nazismo.
objetivo, mas busca conhecer a si mesmo e

8
outras pessoas.
VÍDEO
21:00
Heidegger

20:50
Não necessariamente aquele que
conhece muito é sábio. Uma coisa
é conhecer, e outra coisa é o que
eu faço com o conhecimento
- que seria uma espécie de
sabedoria.

Um olhar sobre Martin Heidegger


- um filósofo alemão muitas vezes CURIOSIDADE
incompreensível, mas profundamente 23:30
valioso, que queria que tivéssemos uma Immanuel Kant (1724 - 1804)
vida mais autêntica.

De alguma forma, a realidade e 24:35


o conhecimento nascem dentro
de nós. Como se a realidade
estivesse dentro de nós de uma
forma imaterial. Filósofo prussiano, é famoso pela elaboração
do denominado idealismo transcendental:
todos nós trazemos formas e conceitos a
priori para a experiência concreta do mundo,
os quais seriam de outra forma impossíveis
PALAVRAS-CHAVE
24:58 de determinar. A filosofia da natureza e da
natureza humana de Kant é historicamente
João Batista Libânio (1932 – 2014): uma das mais determinantes fontes do
Foi um padre jesuíta, escritor e teólogo relativismo conceptual que dominou a vida
mineiro. Foi autor de cerca de 125
intelectual do século XX.
livros, dos quais 36 de autoria própria
e os demais em colaboração com
outros autores. Autor de “Teologia da ENTRETENIMENTO
Revelação a partir da Modernidade”. 26:34
Série: Explicando

PALAVRAS-CHAVE
31:01

Técnica: Do grego tékhnē (τέχνη),


“arte, técnica, ofício”; arte ou maneira
de realizar uma ação ou conjunto de
O que se passa na cabeça dos animais?
ações. Procedimento ou o conjunto de Entender como eles pensam e o que sentem
procedimentos que têm, como objetivo, pode ser exatamente o que a gente precisa
obter um determinado resultado, seja para entender nosso próprio lugar no mundo.
no campo da ciência, da tecnologia, “Explicando” é uma séria da Netflix (2018),
das artes ou em outra atividade o episódio Inteligência Animal (Ep.3 T.2)
qualquer. traz uma perspectiva sobre a inteligência e
comportamental, a partir da consciência e
entendimento de que somos parte da natureza

9
como todas as espécies.
PALAVRAS-CHAVE

Resposta desta página: alternativa 1 e 3.


31:16

Ciência: Do latim scientia, traduzido


por “conhecimento”, refere-se a
qualquer conhecimento ou prática
sistemáticos. Em sentido estrito, 33:39
Nós somos natureza, nós somos
ciência refere-se ao sistema de corpo. E por outro lado temos a
adquirir conhecimento baseado no capacidade de domínio sobre as
método científico bem como ao
coisas da natureza.
corpo organizado de conhecimento
conseguido através de tais pesquisas.
PALAVRAS-CHAVE
35:02

Martin Buber (1878 – 1965): Filósofo,


escritor e pedagogo, austríaco e
PALAVRAS-CHAVE
35:54 naturalizado israelita, tendo nascido
no seio de uma família judaica
Alteridade: Do latim alteritas, ortodoxa de tendência sionista. Em
“outro”, é a concepção que parte suas publicações filosóficas, deu
do pressuposto básico de que todo ênfase à ideia de que não há existência
o ser humano social interage e é sem comunicação e diálogo, e que
interdependente do outro. Assim, os objetos não existem sem que haja
como muitos antropólogos e cientistas uma interação com eles. As palavras-
sociais afirmam, a existência do “eu- princípio, Eu-Tu (relação), Eu-Isso
individual” só é permitida mediante (experiência), demonstram as duas
um contato com o outro. Assim, pode dimensões da filosofia do diálogo
também se dizer que a alteridade é que, segundo Buber, dizem respeito à
a capacidade de se colocar no lugar própria existência.
do outro. Não significa que tenha de
haver uma concordância, mas sim uma
aceitação de ambas as partes.
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO
36:00
Edvino A. Rabuske explicita as funções da
linguagem através da divisão entre três
elementos. São eles:
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO
36:30 Pronomes pessoais: eu (função autoex-
O silogismo é a estrutura básica de um pressiva), tu (função comunicativa), ele
argumento ou um raciocínio dedutivo. (função designativa).
Foi um dos primeiros conceitos da
lógica, e surgiu: Três conceitos da psicanálise: ego,
superego e id.
Com as formulações de Immanuel Kant,
em sua Lógica Transcendental. Triângulo semiótico: conceito, lingua-
gem (falada e escrita), objetos (coisas).
Com Heidegger no século XX, na
Teoria do Juízo.
Objetiva, subjetiva e intersubjetivo.

Com Aristóteles na Grécia Antiga, o


primeiro a escrever uma teoria sobre
silogismo.

Não se sabe ao certo quem foram os


autores, apenas que surgiu na Grécia
antiga.

10
AULA 1 • PARTE 2

Conhecimento 00:00

Retomando as ideias vistas anteriormente,


o ser humano se relaciona com o
“mundo” (objetividade), “consigo mesmo” PALAVRAS-CHAVE
(autoconhecimento) e com o “tu” (alteridade), 00:23
como discutiram filósofos do século XX como
Emmanuel Levinas (1906 – 1995):
Martin Buber, Emmanuel Levinas e Ferdinand
Filósofo francês, bastante influenciado
Ebner. A convivência com o outro, o elemento pela fenomenologia de Edmund
da sociabilidade, é essencial nessa ideia. Husserl, de quem foi tradutor. Seu
pensamento parte da ideia de que a
Com o outro nós formulamos relações de
Ética, e não a Ontologia, é a Filosofia
reconhecimento, que podem ser simétricas primeira. É no face-a-face humano que
ou assimétricas. Há também uma relação de se irrompe todo sentido. Diante do
ambiguidade, ao mesmo tempo em que eu rosto do Outro, o sujeito se descobre
me realizo no outro, corro riscos com o outro. responsável e lhe vem à ideia o Infinito.
Ferdinand Ebner (1887 – 1931): Foi
João Batista Libânio discute ainda a
um filósofo austríaco, professor do
ideia do conhecimento em sua dimensão ensino fundamental, é considerado um
religiosa, a manifestação dentro da teologia dos representantes do pensamento
e religiosidade, a relação com Deus. “O que dialógico. A filosofia de Ebner é
significa a minha linguagem sobre Deus?”, sobre o homem existindo em um
provoca ele. Todo o pensar e o refletir sobre relacionamento pessoal Eu-Tu com
Deus e com os outros.
Deus é um pensar linguístico, e toda nossa
representação de Deus é uma representação Axel Honneth: É um filósofo e
humana.
sociólogo alemão. Está ligado ao
projeto de relançamento da tradição
da teoria crítica da Escola de
Frankfurt, através de uma teoria do
Reconhecimento, o ser humano reconhecimento recíproco. Desde
01:53
2001, é diretor do Instituto para
interage com objetos e com
Pesquisa Social da Universidade
seres que dizem ‘eu’, assim de Frankfurt. Também é professor
como nós dizemos ‘eu’. de Filosofia Social na mesma
universidade, desde 1996.

Então é isto o inferno. Eu não poderia 03:25


acreditar…. Vocês se lembram:
enxofre, fornalhas, grelhas… ah! Que
piada. Não precisa de nada disso: O
inferno são os Outros. LEITURAS INDICADAS
04:52
- Jean-Paul Sartre Formação Da Consciência Crítica Vol
1. Subsídios Filosófico-culturais
João Batista Libânio foi um padre jesuíta,
escritor e teólogo mineiro. Ensinou na
Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia
(ISI – FAJE) em Belo Horizonte, e foi vigário
da paróquia Nossa Senhora de Lourdes, em
Vespasiano, na Grande Belo Horizonte, até
sua morte. Livro publicado pela Editora Vozes
em 1978. v. 1.

11
Autoconhecimento 08:39

“Conhece-te a ti mesmo” (γνῶθι σεαυτόν),


famosa inscrição que podia ser lida
na fachada do Templo de Delfos, nos
12:40
tempos de Sócrates, invoca a questão do Nós precisamos desse olhar
autoconhecimento. exterior, externo, para que nós nos
conheçamos.
Contemporaneamente, se entende na
terapia, sessões em que nos dispomos a
falar de nós mesmos, uma possibilidade
de obter conhecimento sobre si. A partir CURIOSIDADE
disso, o profissional da psicologia identifica 14:22
uma estrutura de raciocínio, tenta acessar Sigmund Freud (1856 – 1939)
nosso aparato psíquico – tudo por meio da
linguagem. É importante para essa jornada de
autoconhecimento buscar o olhar do outro,
que aponta para determinados aspectos que
não conseguimos ver.

Por volta dos séculos XVII e XVIII surgem


diversas discussões sobre consciência,
e autoconsciência, com autores como
Descartes, Locke, Hume e Kant. Freud, já no Foi um médico neurologista e psiquiatra
século XIX, fala de três feridas narcísicas, ou criador da psicanálise. Famoso por seus
seja, abalos na autocompreensão humana: estudos com utilização da técnica da hipnose
cosmológico, biológico, psicológico. no tratamento de pacientes com histeria,
A primeira surge no século XVI, com como forma de acesso aos seus conteúdos
a passagem do geocentrismo para o mentais, a partir dos quais pode formular
heliocentrismo, proposta por Copérnico, conceitos relacionados ao inconsciente.
fazendo com que o ser humano já não saiba
mais seu lugar no universo – perde seu lugar
central. No século XIX, com Charles Darwin
há o abalo biológico, o ser humano não é
CURIOSIDADE
16:50
tão diferente e distante dos outros animais.
Com Freud há a descoberta do inconsciente, René Descartes (1596 – 1650)
demonstrando por meio da psicanálise que
o ser humano não tem acesso, ou controle,
de si mesmo. Portanto, não temos uma
transparência sobre nossas próprias ações,
constituindo a terceira ferida narcísica. O Ego,
o Superego e o Id são instâncias que formam
a psique humana, segundo Freud. O Id é a
dimensão pulsional, Superego é a consciência,
e o Ego fica entre essas duas instâncias. Desta
forma, podemos buscar por conhecer a nós Foi um filósofo, físico e matemático francês.
mesmos, mas nunca de forma absoluta. Por vezes chamado de “o fundador da
filosofia moderna” e o “pai da matemática
moderna”, é considerado um dos pensadores
PALAVRAS-CHAVE
17:02 mais importantes e influentes da História do
Pensamento Ocidental.
John Locke (1632 – 1704): Filósofo
inglês conhecido como o “pai do
liberalismo”, sendo considerado o
principal representante do empirismo
britânico e um dos principais teóricos
do contrato social.

12
PALAVRAS-CHAVE
17:07

David Hume (1711 – 1776): Filósofo,


historiador e ensaísta britânico
nascido na Escócia que se tornou
O que são os deuses? São 24:04 célebre pelo seu empirismo radical e o
homens imortais. O que são os seu ceticismo filosófico.
homens? São deuses mortais.

29:05
Nós podemos conhecer a nós
mesmos, nós podemos refletir
sobre nós mesmos, nos espelhar.
Esse conhecimento nunca será
O que é o ser humano? 29:57 absoluto, será aproximativo. Eu
nunca saberei plenamente quem
Pergunta peculiar, pois quando há esse
eu sou.
questionamento parte-se da nossa própria
autocompreensão. Dessa forma, não haverá
resposta neutra ou imparcial.
PALAVRAS-CHAVE
Quando Heidegger questiona “o que 30:53
é filosofia?” já percebe que o próprio
Emerich Coreth (1919 – 2006):
questionamento, em si, é de postura
Filósofo austríaco, jesuíta e sacerdote
filosófica. Essa capacidade é algo especial católico. Ele é conhecido por
do ser humano. Segundo Gerd Bornheim, seus trabalhos sobre metafísica e
a filosofia ocorre por dentro de três antropologia filosófica.
dimensões: admiração (espanto), angústia
ou insatisfação. Para ele o indivíduo pode
adquirir uma postura ingênua-dogmática, PALAVRAS-CHAVE
imbricada em seu entorno, sentindo não 34:12
ter a possibilidade de intervir; pode romper
Gerd Bornheim: Foi um filósofo,
isso através de uma postura crítica, em
professor e crítico de teatro gaúcho.
uma atitude negativa; ou, ter na conversão Dedicou diversos trabalhos à
filosófica uma abertura, que não se convence filosofia moderna e contemporânea,
de tudo, mas também não nega tudo. destacando-se por seus estudos sobre
Sartre e Heidegger. Dentre suas obras
estão “Dialética: Teoria e Prática” e
“Introdução ao Filosofar”.

AULA 1 • PARTE 3

PALAVRAS-CHAVE
00:07

Urbano Zilles: É um sacerdote


católico do clero da Arquidiocese
de Porto Alegre (RS). Professor
emérito da Universidade, Monsenhor
Zilles, foi pró-reitor de Pesquisa e
Pós-Graduação da PUCRS. Algumas
de suas obras são “Filosofia da
religião”, “Teoria do conhecimento” e
“Antropologia Teológica”.

13
00:10 Níveis do conhecimento

Urbano Zilles propõe que existem diversos


níveis de conhecimento, os quais categoriza:
senso comum, mítico, filosófico (do mito ao
PALAVRAS-CHAVE
07:27 logos), teológico e científico.
Platão, filósofo da Antiguidade Grega
Carlos Roberto Cirne Lima
(1931 – 2020): Filósofo dialético conhecido especialmente pela obra
contemporâneo gaúcho. Reconhecido “República”, escreveu a alegoria da caverna
mundialmente também pela (ver o próximo Fundamento). Draiton
originalidade de suas pesquisas comenta que nessa obra fica clara uma
em Hegel. Dentre suas obras estão distinção entre aquilo que seria uma opinião,
“Dialética, caos e complexidade” e
e o real conhecimento.
“Dialética Para Principiantes”.
Conforme Cirne Lima, o pensamento
platônico é dialético, ou seja, se utiliza do
método de contraposição e contradição
em um diálogo, que leva a outras ideias.
Na alegoria da caverna, discute a realidade
FUNDAMENTO II
09:10 das ideias, acessada quando o prisioneiro
Alegoria da Caverna foge do cárcere e se depara com o mundo
externo, das formas. Assim, para Platão, antes
Platão narra uma história alegórica no sétimo
do ser humano assumir a forma corpórea,
livro de “A República”. O diálogo se dá entre
acessa o mundo das ideias, do qual esquece
Sócrates, personagem principal, e Glauco,
ao adentrar o mundo das sombras (mundo
seu interlocutor, a quem o filósofo convida a
em que vivemos). O conhecimento seria essa
imaginar a existência de uma caverna onde
lembrança do mundo das ideias. A beleza, por
prisioneiros vivem desde o nascimento. Com
exemplo, é uma ideia da qual as coisas belas
as mãos amarradas em uma parede, eles
participam.
podem avistar somente sombras projetadas
no fundo da caverna. São sombras de Aristóteles, discípulos de Platão, traz outra
homens que passam ante uma fogueira, concepção de conhecimento, destacando
fazem gestos e passam objetos, que de a dimensão linguística. Para ele, conhecer
maneira distorcida se projeta e é tudo que os significa apresentar razões – eu tenho que
prisioneiros conhecem do mundo. Quando fundamentar o que eu afirmo.
um dos prisioneiros é liberto, percebe então
que estava apenas observando as sombras.
Descobre a saída da caverna e se depara com
o mundo exterior, em que se descobre livre
e vidente, podendo observar a realidade das 19:44 Razão
ideias.
Pascal vê o homem como um caniço
pensante, um caniço mais frágil de todos.
Ainda que assim o seja, tem consciência de
si, e por isso atinge uma elevação, nossa
dignidade.

Como afirma o professor Draiton, a


racionalidade é uma característica própria do
ser humano, que ele necessita para passar
de uma atitude dogmática para uma atitude
crítica – ação que caracteriza a filosofia.
Pensar ordenadamente significa pegar
elementos distintos e começar a ordená-
los, como quem coleta gravetos para uma
fogueira, como aparece na obra de Heidegger.

14
Resposta desta página: alternativa 2. A ordem é a saída do caos para o cosmos,
PALAVRAS-CHAVE ideia que surge no pensamento Grego por
19:54 meio do logos. Ali, a ordem era inerente ao
mundo, e a atitude do ser humano era a de se
Blaise Pascal (1623 – 1662):
adequar a uma ordem pré-existente. Para os
Matemático, escritor, físico, inventor,
filósofo e teólogo católico francês. gregos, a ordem cósmica se reflete na pólis
Esclareceu os conceitos de pressão (cidade, πόλις), que por sua vez se reflete na
atmosférica e vácuo. Inventou a psyché (alma, ψυχή). No pensamento cristão
primeira máquina de calcular, chamada a ideia de ordem pré-concebida também
de máquina de aritmética, depois roda permanece, colocando o ser humano em
de pascalina e finalmente, pascalina.
uma posição central, possuidor do mundo e
Dedicou-se à reflexão filosófica e
subordinada a Deus.
religiosa, sem renunciar ao trabalho
científico. Na filosofia moderna surge a categoria da
autonomia, em que a ordem já não é mais
dada por uma natureza ordenada em si,
ou um deus. O sujeito passa a ser fonte
FUNDAMENTO III
20:18 de ordem. Kant faz uma oposição entre
Pensamentos de Blaise Pascal autonomia e heteronomia, pensando em seu
ideal iluminista, o sujeito será fonte da ordem.
“O homem não passa de um caniço, o mais
fraco da natureza, mas é um caniço pensante.
Não é preciso que o universo inteiro se arme
para esmagá-lo: um vapor, uma gota de EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO
água basta para matá-lo. Mas, mesmo que o 21:00
universo o esmagasse, o homem seria ainda O que é dialética?
mais nobre do que quem o mata, porque
sabe que morre e a vantagem que o universo Arte de usar a linguagem para comuni-
car de forma eficaz e persuasiva.
tem sobre ele; o universo desconhece tudo
isso. Toda a nossa dignidade consiste, pois,
Método de diálogo cujo foco é a
no pensamento (Toute notre dignité consiste
contraposição e contradição de ideias
donc en la penseé). Daí que é preciso nos que levam a outras ideias.
elevarmos, e não do espaço e da duração,
que não podemos preencher. Trabalhemos, Conjunto de regras que regem o uso de
pois, para bem pensar; eis o princípio da uma língua.
moral. Não é no espaço que devo buscar
minha dignidade, mas na ordenação de meu Método de diálogo em que o foco é um
pensamento. Não terei mais, possuindo terras; convencer o outro de suas ideias.
pelo espaço, o universo me abarca e traga
como um ponto; pelo pensamento, eu o
abarco.” (Artigo VI, 347-348)

PALAVRAS-CHAVE
24:06

Racionalidade: Do latim rationabilitas.


atis. substantivo feminino;
Característica ou particularidade
do que é racionável; passível de ser
racionado.

O pensamento grego é fortemente 31:03


relacionado à ordem, intrínseca às
coisas, pertence às coisas, e o ser
humano irá se adequar ao que é
dado.

15
AULA 1 • PARTE 4

O que é o conhecimento? 00:00

Poderíamos levantar as provocações: pensar


ordenadamente é objetivo, ou subjetivo?
Existe nas coisas? É anterior a nós? É um fruto
PALAVRAS-CHAVE
01:41
nosso, imposto às coisas? Essa contraposição
entre objetividade e subjetividade vem Lenio Streck: Jurista gaúcho,
perpassando a história do pensamento conhecido principalmente por seus
ocidental. O objetivismo pode colocar o trabalhos voltados à filosofia do direito
sujeito num estado de passividade, enquanto e à hermenêutica jurídica. É professor
dos cursos de pós-graduação em
a ênfase no sujeito cai no subjetivismo.
Direito da Universidade do Vale do Rio
Em uma fenomenologia do conhecimento, dos Sinos e atua como advogado.
de forma simplificada, há duas correntes:
realismo e idealismo. Conforme Morente, o
idealismo seria mais próximo ao ser humano,
02:28
pois parte-se do campo das ideias para A posição mais adequada é uma
acessar o mundo real. Na posição realista nós posição intermediária, que supere
partimos da objetividade, do pressuposto de tanto a postura objetivista quanto
que é possível o conhecimento verdadeiro, há a postura subjetivista.
uma primazia do ser.

É possível distinguir que, no ato de


conhecer, há aspectos lógicos, psicológicos PALAVRAS-CHAVE
e ontológicos. Essa relação é fundante no 04:07
que diz respeito à problemática entre sujeito
Manuel García Morente (1886 – 1942):
e objeto, termos relativos, que só existem
Foi um sacerdote, filósofo, teólogo
em uma correlação. Quando nos dirigimos e tradutor espanhol. Importante
à realidade para conhecer um objeto, divulgador e tradutor de obras do
essa aproximação se dá através da nossa pensamento europeu, dentre suas
habilidade cognitiva, dependendo sempre da obras está “Fundamentos de Filosofia
nossa percepção.
- Lições Preliminares”.

A história da filosofia nos ajuda a ver a


maneira com a qual os autores debateram
essas questões. Na filosofia antiga e medieval
06:26
há uma primazia do ser e da objetividade, Na filosofia nós nos preocupamos
enquanto na moderna há uma ênfase mais com as questões do que com
no conhecer, e teoria do conhecimento. as respostas.
Já a filosofia contemporânea está muito
conectada com à linguagem.
08:42
No conhecimento o sujeito faz
algo. Ele sai de si em direção
ao objeto, em uma espécie de
captação do objeto através do
O mundo vai estar de alguma forma pensamento. É uma espécie
09:28
presente em mim, mas não como de apreensão imaterial de algo
é exteriormente, e sim como eu o material.
percebo. Tudo que é recebido do
exterior, é recebido conforme o
recipiente.

16
Sujeito e objeto 12:36

Na modernidade, no que diz respeito ao


pensar, há uma profunda ruptura que não PALAVRAS-CHAVE
ocorre apenas na filosofia, tendo uma cisão 16:51
entre igreja e estado no campo da política,
bem como a formação dos estados nacionais.
Giovanni Pico dela Mirandola (1463
– 1494): Foi um nobre erudito,
No campo científico há uma passagem do
filósofo neoplatônico e humanista
geocentrismo para o heliocentrismo; rupturas do Renascimento italiano. Propôs
religiosas com a reforma protestante no defender 900 teses sobre religião,
século XVI; cisma do oriente no século XI; e filosofia, filosofia natural e magia,
cisma do ocidente no século XVI. Período de escrevendo o chamado “Manifesto
grande efervescência intelectual e artística, da Renascença”. Foi o fundador da
tradição da Cabala Cristã, um princípio
muda-se o desenho do mundo, e a posição do
chave do esoterismo ocidental
ser humano em relação ao universo infinito – moderno.
ou seja, um período de profunda crise.

A passagem da idade média para a idade


moderna, faz surgir as luzes do renascimento
23:14 Sujeito como fundamento
e as academias laicas. Movimentos
de interesse por uma ciência ativa, e
Por um movimento de reflexão se volta
fundamentação humanista, e naturalista, que
cada vez mais ao sujeito, e menos ao mundo
passa a se impor.
das coisas. Ou seja, adota-se uma postura
Tradição e autoridade são concepções cristãs transcendental, como conceitua Kant na
que entram em crise durante a reforma “Crítica da Razão Pura”. Não se preocupa
protestante no século XVI. Há uma ruptura da com os objetos no mundo exterior, mas
autoridade papal, inaugurando um período sim na forma de conhecer esses objetos.
crítico, tudo passa a necessitar do crivo da Transcendental é o conhecimento que se
razão. Autores da reforma inauguram uma preocupa com essa forma, e é necessário que
ênfase na subjetividade, ao afirmar que o se conheça esse aparato, a si mesmo, para
indivíduo deve ter acesso e poder interpretar conhecer o mundo.
as escrituras sagradas.
René Descartes, considerado o iniciador
Com a autonomia do sujeito, a noção da da filosofia moderna, constata que há uma
ciência também se altera. Se torna menos conexão entre o conhecimento e o método.
contemplativa e mais ativa, mais quantitativa Em seu “Discurso do Método” ele inicia
e menos qualitativa. Podemos falar de uma discutindo o “bom senso”, a capacidade de
passagem do transcendente para o imanente. distinguir entre o verdadeiro e o falso que
todos pensam ter. Porém, a filosofia é um
campo de batalha, em que tudo é discutível.
FUNDAMENTO VI
23:54 Não se trata de uma dúvida cética, e sim
de uma dúvida metódica, relacionada ao
Kant e o Idealismo Transcendental
agir. Conclui com a proposta de uma “moral
O filósofo distingue nosso ânimo, ou aparelho
provisória”, em que são necessárias algumas
representacional, através de três capacidade:
certezas práticas para que se possa avançar
conhecer (ciência), apetecer (ética), e julgar
no conhecimento. Em sua investigação,
(estética). Na primeira, a Razão é limitada
propõe rejeitar tudo aquilo que seja
pela representação. Na segunda, a Razão
duvidoso para chegar a uma verdade,
determina os parâmetros da ação, pois não
chegando a única certeza: “penso, logo sou”.
depende da experiência. E na última, nossa
Ou seja, a essência do ser humano está em
subjetividade percebe a beleza na obra
seu pensamento
humana. É sentimento (de prazer e desprazer)
que exprime juízos de gostos, e a reflexão Vivemos na filosofia contemporânea uma
que exprime juízos estéticos. Em “Crítica da herança desse pensamento, em que se perde
Razão Pura”, Kant tenta compreender o papel uma perspectiva de uma referência ao “além”,
da razão, seus usos e limites, fazendo um dando-se uma ênfase no “a quem” (filosofia

17
rastreamento desta. Leia mais no texto. da centralidade do indivíduo).
Resposta desta página: alternativa 4.
Antes de tentar conhecer o mundo, 24:48
eu vou me ocupar com o instrumento
que me possibilita o conhecimento
do mundo. Portanto, é uma volta LEITURAS INDICADAS
sobre o sujeito que conhece. 26:41
Discurso do método de René
Descartes
PALAVRAS-CHAVE Tratado matemático e filosófico de René
37:00
Descartes, publicado em Leiden, Holanda, em
Racionalismo: O racionalismo é a 1637. “Cogito ergo sum”, ou “Penso, logo sou”,
corrente filosófica que iniciou com é uma proposição que resume o espírito deste
a definição do raciocínio como uma tratado. Descartes postulava a ideia de que
operação mental, discursiva e lógica a razão deveria permear todos os domínios
que usa uma ou mais proposições para
da vida humana e que a apreciação racional
extrair conclusões, ou seja, se uma ou
outra proposição é verdadeira, falsa ou era parâmetro para todas as coisas, numa
provável. atividade libertadora, voltada contra qualquer
dogmatismo.

Subjetividade e empirismo 43:08

Uma postura subjetiva insere também alguns


novos problemas: como uma atitude de se
ocupar tanto consigo mesmo, a natureza fica
em um plano secundário, de exploração e
PALAVRAS-CHAVE
44:50
serviço do ser humano.
Empirismo: Teoria filosófica que
Temos de um lado o racionalismo, e de outro
afirma que o conhecimento sobre o
o empirismo. No primeiro caso, a fonte do mundo vem apenas da experiência
conhecimento é a razão, e no segundo é a sensorial. O método indutivo, por
experiência. Ambas convergem na filosofia sua vez, afirma que a ciência como
do idealismo alemão, em que Kant é um autor conhecimento só pode ser derivada a
fundamental, que coloca o ser humano como partir dos dados da experiência.
teórico e prático. Para ele há um primado da
razão prática, isto é, o que mais importa são
as questões relacionadas ao agir, ainda que
dedique boa parte de sua obra na discussão
do conhecimento.
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO
45:00
René Descartes constatou que:

Todo ser humano é dotado de bom


senso.

É possível ter certeza apenas da exis-


tência do “eu” e de Deus.

A moral sempre é de caráter provisório.

Há uma conexão entre o conhecimento


e o método.

18
Resposta desta página: alternativa 1.
AULA 2 • PARTE 1

Lógica 01:00

Por muito tempo, a sistematização da lógica


feita por Aristóteles foi predominante no
pensamento ocidental. Kant, por exemplo,
deu a lógica como encerrada na “Crítica
PALAVRAS-CHAVE
05:14
da Razão Pura”. Todavia, a lógica passou
por um grande processo de ampliações, Max Scheler (1874 - 1928): Filósofo
complementações e novas abordagens no alemão, conhecido por seu trabalho
século XIX e XX. sobre fenomenologia, ética e
antropologia filosófica, bem como
A lógica é utilizada tanto na filosofia quanto por sua contribuição à filosofia dos
na matemática. Disciplina extremamente valores. Sua obra aborda grande
importante, pois relaciona-se a como variedade de conhecimentos, como
biologia, psicologia, sociologia, teoria
nós argumentamos permanentemente, e
do conhecimento, metafísica e filosofia
como nós entendemos e interpretamos os
da religião.
argumentos.

Scheler afirma que temos a posição do ser


humano no cosmos influenciado pela tradição
judaico-cristã, as ideias da Grécia antiga
(tragédia e filosofia) e a ciência moderna da
natureza e da psicologia cibernética.

Aristóteles tem um conjunto de escritos LEITURAS INDICADAS


05:18
chamado Organon, que significa instrumento
Posição Do Homem No Cosmos,
(ὄργανον), são os textos: Categorias, da
Interpretação, Primeiros Analíticos, Segundos
de Max Scheler
Analíticos, Tópicos, Das Refutações Sofísticas.
Da Interpretação (em grego Περὶ Ἑρμηνείας)
coloca o entendimento do mundo em três
conceitos: coisas, conceitos e linguagem (oral
ou escrita).

EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO
15:00
O Empirismo é uma teoria da filosofia
que afirma que:

O conhecimento sobre o mundo vem


Com densidade de reflexão, e uma
apenas da experiência sensorial.
abrangência temática, deparamo-nos
com uma investigação do amor como o
Emoções precisam ser descartadas sentimento que mobiliza os homens ao
para se alcançar o conhecimento. conhecimento do ser dos objetos em geral,
ao mesmo tempo em que descobrimos o
espírito como o elemento diferenciador de
A ciência só pode ser derivada a partir
nossa humanidade. Nesta obra, temos a
dos dados da experiência. oportunidade de vislumbrar um dos mais
decisivos trabalhos de antropologia filosófica
Experiência pessoal não pode ser utili- já escritos. Max Scheler é um dos maiores
zada para provar nada. pensadores do século XX.

19
FUNDAMENTO I
17:43
A situação do homem no cosmos
“Se a um europeu culto se perguntar
que entende ele pela palavra ‘homem’,
quase sempre começam, na sua cabeça, a
defrontar-se três âmbitos de ideias de todo 24:13
Nós usamos uma estrutura lógica
inconciliáveis. Primeiro, o universo intelectual
na nossa forma de pensar e na
da tradição judeu-cristã de Adão e Eva, da
nossa forma de falar, e é isso que
criação, do paraíso e da queda. Em segundo
possibilita a nossa interação.
lugar, o círculo de ideias da Grécia antiga
em que, pela primeira vez no mundo, a
autoconsciência do homem se elevou a um
conceito da sua situação particular, mediante
a tese de que o homem é homem pela posse 28:00 Conceitos e tempos
da “razão”, logos, phronesis, ratio, mens, etc.
– Logos significa aqui tanto o discurso como A lógica tradicional é expressa em conceitos,
a aptidão para apreender a ‘quididade’ de termos, juízos e raciocínio. Conceito é um
todas as coisas. Estreitamente unida a esta conceber, dar à luz, apreensão imaterial sobre
ideia está a doutrina segundo a qual existe algo que está no mundo material. Operamos
também, subjacente ao todo integral, uma com a abstração, conhecendo as coisas
“razão” sobre-humana, da qual o homem, através de conceitos. “Begreifen”, conceito
e só ele entre todos os seres, participa. O em alemão que tem a ideia de abarcar, tomar
terceiro círculo intelectual, também ele já uma parte, delimitar, portanto, definir. Uma
há muito transformado em tradição, é o da definição precisa ser positiva, ou seja, o que a
ciência moderna da natureza e da psicologia coisa é.
genética: o homem seria o resultado final,
Termos podem ser unívocos, equívocos e
muito tardio, da evolução do planeta
análogos:
Terra – um ser que se distingue das formas
animais que o precederam só pelo grau de • Unívoco é um termo que possui o mesmo
complicação das combinações de energias e significado quando aplicado a vários sujeitos.
de capacidades que, em si, se encontram já Por exemplo, João e Maria são todos
na natureza infra-humana. Estes três círculos concebidos como “humanos”.
de ideias não têm entre si unidade alguma. • Equívoco é um termo que tem significados
Possuímos assim uma antropologia cientifico- bastante distintos, por exemplo: macaco
natural, uma antropologia filosófica e uma que pode ser um animal ou uma ferramenta
antropologia teológica, que mutuamente se mecânica; câncer, pode ser uma doença ou
ignoram – do homem, porém, não possuímos uma constelação.
nenhuma ideia unitária” (Max SCHELER, • Análogo é um termo em parte igual, em
A situação do homem no cosmos. Lisboa: parte diferente, por exemplo: estrelas e
Edições Texto e Grafia, 2008, p. 15). estrelas do cinema, sendo o segundo um
sentido metafórico do primeiro (a pessoa que
brilha).

Na álgebra, em matemática, os termos são


comumente divididos entre particulares e
universais. Poderia se pensar que singulares
possui uma ideia específica, “uma pessoa
Quando eu defino algo eu tenho que 30:20 é”, enquanto os universais colocam o “todos
dizer o que essa coisa é, não adianta são”. Os particulares relativizam esses termos
eu dizer o que ela não é. “alguns são”.

20
Resposta desta página: alternativa 2 e 4.
35:22 Juízos

Juízos são operações da mente, normalmente


formados por um sujeito (S), um predicado
(P), e uma conexão (cópula) que pode ser
dada através do “é”, “Sócrates (S) é mortal
(P)”.
Formalização lógica 41:29
O pré-juízo (ou preconceito) pressupõe
Na lógica e na matemática se trabalha com
uma crença em uma preposição, que pode
formalizações, que podem ser expressas da
ser falsa: “as mulheres não dirigem bem”.
seguinte forma:
Verdade e Erro (falsidade) se opõem um
p = Pelé é brasileiro ao outro, e podem ser pensados através da
lógica.
q = Pelé é jogador de futebol.
A diferença entre “mentira” e “erro” é o
p ∧ q = Pele é brasileiro e Pelé é jogador de
elemento intencional. Um juízo pode ter
futebol.
qualidade afirmativa ou negativa. Exemplo:
p ∨ q = Pele é brasileiro ou Pelé é jogador de Pelé é brasileiro. Pelé não é argentino.
futebol.

p ∧ q (ou p ∧ ¬ q) = Pelé é brasileiro e Pelé


˜
não é jogador de futebol.

(Observação: o professor Draiton usa o


EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO
42:00
símbolo “ ” para negação, porém, também
˜ Seja p a sentença “hoje chove”
pode ser usado o símbolo “¬”)
e seja q a sentença “os pássaros
p → q = Se Pelé é brasileiro então Pelé é cantam”. Indique a correta tradução
jogador de futebol. de: p ∧ ¬ q; ¬ p → q

Hoje chove e os pássaros não cantam;


os pássaros cantam porque hoje chove.

Hoje chove e os pássaros não cantam;


se hoje não chove, então os pássaros
cantam.
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO
42:30
Hoje não chove, os pássaros não can-
Qual seria a tradução correta de: tam; se os pássaros cantam, hoje chove.
¬ p ∧ q; p → ¬ q.
Sendo que p sentença “o gato não mia” e Os pássaros cantam porque hoje não
q “o dia está quente”. chove; os pássaros cantam se, somente
se, hoje não chover.

O gato não mia e o dia está quente; o


dia está quente então o gato mia.

O dia está quente ou o gato mia; o


gato não mia e o dia não está quente.

O gato mia e o dia está quente; o gato


mia se, somente se, o dia está quente.

O gato mia e o dia está quente; o gato


não mia então o dia não está quente.

21
AULA 2 • PARTE 2

Falácias 00:00

Deriva do verbo latino fallere, que significa


enganar. Designa-se por falácia um raciocínio
errado com aparência de verdadeiro.
Na lógica e na retórica, uma falácia é um
argumento logicamente incoerente, sem
fundamento, inválido ou falho na tentativa
de provar eficazmente o que alega.

Uma falácia clássica é “depois disso, logo, por


causa disso”. É quando se estabelece um nexo
06:00 Quantidade e qualidade
causal entre dois acontecimentos, que não
são conectados causalmente – é um acaso,
Uma proposição pode ter quantidade
não uma causa.
particular ou universal. Particular: Alguns
Negação do antecedente é uma falácia que brasileiros são gaúchos. Universal: Todos os
consiste em confundir condição suficiente gaúchos são brasileiros.
com necessária. A condição é suficiente,
Se juntarmos quantidade e qualidade,
quando permite a consequência. Mesmo
podemos fazer a seguinte relação:
que a condição não seja verdadeira, a
consequência ainda pode ocorrer. A: Todos os gaúchos são brasileiros (Universal
afirmativa: todo G é B).

E: Nenhum alemão é brasileiro (Universal


FUNDAMENTO II
10:21 negativa: todos não A são B).
Panorama I: Alguns brasileiros são gaúchos (Particular
No seguinte panorama é possível entender de afirmativo).
forma gráfica o que é “universal afirmativa”
O: Alguns brasileiros não são gaúchos
(figura A), “universal negativa” (figura E),
(Particular negativo).
“particular afirmativa” (figura I) e “particular
negativa” (figura O). De modo gráfico pode-se dar através do
seguinte conjunto:

22
Resposta desta página: alternativa 4.
Quadrado das oposições 14:34

Também conhecido como quadrado lógico


ou tábua das oposições, é um diagrama que
representa as quatro proposições do sistema 21:12 Silogismo
aristotélico, ou formas lógicas, e as quatro
relações lógicas que cada uma das formas A terceira operação do espírito, o raciocínio é
pode estabelecer com as outras três. uma operação mental que se expressa através
da argumentação. O silogismo é um exemplo
clássico, que coloca duas premissas, e daí faz
surgir uma terceira proposição.

No direito se opera abundantemente com


a estrutura silogística. Se divide entre
uma premissa maior, premissa menor, e a
conclusão. Observe o exemplo:

Premissa maior: todos os homens são mortais.


Pode-se notar que entre A e O temos uma
proposição contraditória, bem como entre Premissa menor: Ora, Sócrates é homem.
I e E. Contradição é um termo técnico que
ocorre entre duas proposições que negam. Conclusão: Logo, Sócrates é mortal.

A e E estão no mesmo nível em termos de Todo nosso pensamento tem algumas


quantidade, bem como I e O. premissas e pressupostos. A premissa é
postulada, enquanto o pressuposto é um
A e E são universais, I e O são particulares. raciocínio do qual se parte sem o prévio
anúncio.
Tudo isso foi sistematizado por autores ao
longo da tradição do pensamento ocidental,
e existem regras no quesito de verdadeiro e
FUNDAMENTO III
falso. 22:00
Silogismo (Dialética para
principiantes)
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO “O silogismo, a segunda grande descoberta
23:00 feita por Aristóteles, consiste na
(1) “Todos os mamíferos se caracterizam concatenação lógica de duas proposições
pela presença de glândulas mamárias”. que, articuladas entre si, fazem sair
(2) “Alguns mamíferos não possuem de si uma Terceira proposição. Se as
glândulas mamárias”. Considerando duas proposições iniciais, as premissas,
essas proposições, a partir do quadrado forem verdadeiras, então a proposição
de oposições de Aristóteles, pode-se delas resultante, a conclusão, sempre e
afirmar que: necessariamente será também verdadeira”
(CIRNE LIMA, Dialética para principiantes, p.
Proposição 1 é universal, proposição 2
56).
é singular.

Proposição 1 é singular, proposição 2 é


universal.

27:09
Proposição 1 e 2 são subalternas. Houve um período na história do
pensamento ocidental em que se
Proposição 1 e 2 são contraditórias. queria começar do ponto zero, uma
filosofia sem pressupostos. Se viu
que nós sempre temos pressuposto.
Por exemplo, quando quero
começar sem pressuposto algum,
isso já é um pressuposto.

23
Dedução e Indução 28:19

Dedução é quando partimos do universal e


vamos ao particular. A indução é o caminho PALAVRAS-CHAVE
contrário, quando parto do singular e vou 34:03
até o universal, problema clássico da filosofia.
Karl Popper (1902 – 1994): Filósofo
Exemplo de indução: o metal A dilata com o e professor austro-britânico.
calor, B também, C também. Conclusão: todos Amplamente considerado um dos
os metais dilatam com o calor. maiores filósofos da ciência do
século XX, Popper é conhecido por
Na ciência as proposições são feitas de sua rejeição das visões indutivistas
forma espontânea, posteriormente de forma clássicas sobre o método científico em
sistemática, e são concluídas de forma favor do falsificacionismo.
universal. Ou seja, operamos com uma
regularidade das leis da natureza em alguns
experimentos, e contamos com ela para 34:20 Dialética e Analítica
criar conclusões. David Hume questionou
se é possível, e coerente, que se possa ser Segundo Cirne Lima, em Platão temos
feita esse tipo de generalização, ou se o um método dialético, e em Aristóteles um
experimento demonstra apenas um hábito, e método analítico.
não uma lei da natureza. Na jurisprudência,
conjunto das decisões sobre interpretações Ainda que tenha feito uso do método
das leis feitas no tribunal, se apresentam analítico, Platão não escreve sobre ele, mas
os casos que são favoráveis à nossa tese, e faz uso de textos de diálogos com Sócrates,
ignoramos os outros. Ou seja, no método seu mestre, para isso. Na filosofia moderna,
científico não fazemos infinitos testes, e Hegel também utiliza o método dialético de
sim utilizamos testes e argumentos para Platão.
confirmar, ou refutar, uma tese. Já a tradição aristotélica analítica indica
um sistema que procede por análise. Por
meio da separação de um todo em suas
PALAVRAS-CHAVE partes, se estuda em separado as partes, e
36:24
se busca a inter-relação entre elas. Como
Georg Wilhelm Friedrich Hegel já vimos, a analítica em Aristóteles aplica-
(1770 – 1831): Filósofo germânico, se inicialmente a proposições, que são
incluído no chamado Idealismo frases compostas de sujeito e predicado
Alemão, movimento marcado por e que podem ser analisadas, por exemplo,
intensas discussões entre pensadores
quanto aos seus quantificadores (individual,
de cultura alemã do final do século
XVIII e início do XIX. Sua obra particular, universal), e por serem afirmativas
“Fenomenologia do Espírito” é tida ou negativas.
como um marco na filosofia mundial.

AULA 2 • PARTE 3

PALAVRAS-CHAVE
00:10

Glenn W. Most: Estudioso do período


clássico, história comparada, e estudos
de recepção. É estadunidense, e
trabalha também na Itália e Alemanha.
Escreveu o artigo “Reading Raphael:
“The School of Athens” and Its Pre-
Text”, mencionado pelo professor.

24
Resposta desta página: alternativa 1.
Para que serve o silogismo? 01:17

A partir dessa pergunta, o professor


discorre sobre a utilização do silogismo em
áreas do dia a dia (linguagem coloquial),
direito e medicina. O silogismo não é uma
abstração, está presente em nossa vida
permanentemente.
07:38 Argumentos falaciosos
Na linguagem coloquial, o silogismo
nos auxilia a interpretar o que ocorre no
Uma falácia informal ocorre quando o
mundo: “se todos os professores podem ser
conteúdo das premissas de um argumento,
vacinados em junho, se eu sou professor, logo
falham a conclusão proposta. Veremos os
poderei me vacinar”.
tipos de falácias:
No direito, o silogismo é utilizado para
• Falsa causa: entre 1965 e 1987 houve
conectar acontecimento ao que prevê a
uma diminuição da taxa de natalidade na
jurisdição. Se a lei prevê que furto é “subtrair
Alemanha, e uma diminuição do número
para si ou para outrem coisa alheia móvel”,
de cegonhas. Como, na crença popular, são
logo, se alguém subtrai algo, está cometendo
as cegonhas que trazem as crianças, então
o crime de furto. Na medicina, se a descrição
poderiam dizer “se diminuem as cegonhas,
da doença é dos sintomas de febre, tosse,
logo diminui a natalidade”. Trata-se de uma
perdeu olfato, perdeu paladar, o médico
falsa causa, pois não é essa a motivação
utiliza da lógica para diagnosticar: “pode ser
do acontecimento, sendo esse o mesmo
covid-19”.
período em que se populariza a pílula
anticoncepcional.

• Post hoc ergo propter hoc (depois disso,


EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO logo por causa disso): falácia que se deduz
20:00
que B aconteceu por causa de A. Contudo, B
Observe a relação entre as sentenças pode não ter relação alguma com A. Exemplo:
e os tipos de falácia, e assinale a Usei a camisa do time, e o time ganhou.
alternativa correta:
• Argumento ad hominem: falácia que ataca
I. “As pessoas começaram a falar sobre
a pessoa que fala, e não seu argumento.
corrupção durante o governo X, então
Exemplo: o político X não pode propor uma
foi durante esse período que começou
boa mudança na lei ambiental, pois está
a corrupção.” – Falácia Post hoc ergo
propter hoc. sendo processado por desmatamento.

• Transferência de competência: dá
II. “A novela teve recorde de audiência
graças ao carisma dos protagonistas” – a entender que se alguém tiver duas
Falácia de falsa causa. competências, terá, por conclusão, uma
terceira. Exemplo: C. é muito paciente e muito
III. “Meu amigo é engenheiro, e disse inteligente, logo é uma pessoa dedicada.
que não é necessário se preocupar
com vírus de computador” – Falácia de • Argumento de autoridade: quando se apoia
transferência de competência. em uma figura especializada para argumentar,
ou se apela para a palavra ou reputação
I e II estão corretas. de alguma autoridade a fim de validar o
argumento.
II e III estão incorretas.

II e III estão corretas.

Todas estão corretas.

25
Métodos do conhecimento 23:29

Como afirma Descartes, “não basta termos


um bom espírito, o mais importante é
aplicá-lo bem”. Ou seja, devemos buscar um
caminho seguro para conhecer, através de
método. Falaremos de alguns métodos do ENTRETENIMENTO
31:39
conhecimento:
Filme: A Rede Social
• Intuição: a partir de sensações e
sentimentos, muitas vezes ocorre de uma
forma inexplicável;

• Indução: do particular ao universal, funciona


a partir da regularidade das leis da natureza,
permite a generalização;

• Dedução: parte-se do universal e chega ao


particular. “No Brasil se fala português. Pedro
é brasileiro. Logo, Pedro fala português”.

Como diz a expressão em latim “verum


scire est scire per causas”, ou seja, saber
Direção de David Fincher (2010) relata a
de verdade é saber por meio de causas. A ascensão meteórica do criador do Facebook,
ciência é extremamente importante para que Mark Zuckerberg, bem como as complicações
possamos melhorar cada vez mais nossas legais e pessoais da empreitada.
vidas, bem como a sociedade em geral.

A ciência é composta de leis, e essas leis são


juízos. Comumente os juízos são divididos
entre juízo de constatação e juízo de valor.
Constatação se dá quando digo “quando uma
coisa é”. Juízo de valor é “quando atribuo
uma qualidade”, trata-se de uma avaliação.

AULA 2 • PARTE 4

Hermenêutica 00:00

É a filosofia que estuda a teoria da


interpretação. Assim como raciocinamos
permanentemente, interpretamos
permanentemente. O professor cita algumas
áreas nas quais a interpretação é constante: PALAVRAS-CHAVE
literatura, religião, direito, psicoterapia. 01:47

O quadrado hermenêutico divide o texto Umberto Eco (1932 – 2016): Escritor,


em autor (e seus mundos), textos (e seus filósofo, semiólogo, linguista e
mundos), recipientes (e seus mundos) e bibliófilo italiano. Foi titular da cadeira
de Semiótica e diretor da Escola
destinatários (e seus mundos), como sugere
Superior de ciências humanas na
Manfred Oeming.
Universidade de Bolonha. Famoso,
Nem sempre se trabalhou com a autoria como dentre outras obras, por “O Nome da
Rosa”.
fazemos hoje. Atualmente, buscamos sempre
conhecer quem foi o autor, qual seu contexto
histórico, para melhor interpretá-lo.

26
Isso não significa que iremos saber o que o PALAVRAS-CHAVE
autor quis dizer com seu texto, pois jamais 04:23
iremos acessar sua subjetividade. Mas
poderemos acessar como se utilizavam Manfred Oeming: É um teólogo
protestante e professor de teologia do
determinados conceitos em sua época, em
Antigo Testamento na Universidade de
que contexto escreveu. Assim, é interessante
Heidelberg.
perceber que o período em que a obra é
escrita a influencia, e o contexto no qual se
passa o próprio texto também é relevante. PALAVRAS-CHAVE
19:37
O texto é expresso em código, linguagem,
língua e gênero literário. A intenção do Friedrich Schleiermacher (1768 –
1834): Foi pregador em Berlim na
autor ao escrever determinado texto, mais
Igreja da Trindade e professor de
metafórico ou menos, poético, aberto a Filosofia da Teologia na Universidade
múltiplos entendimentos, ou uma tentativa de de Berlim. Traduziu as obras de Platão
passar uma mensagem diretamente, um relato para o alemão.
histórico, técnico, muda a interpretação que Wilhelm Dilthey (1833 – 1911): Filósofo
faremos. hermenêutico, psicólogo, historiador,
sociólogo e pedagogo alemão.
Existe toda uma área de estudos de recepção, Seus principais conceitos procuram
então “para quem se escreve” também fundamentar as ciências do espírito
deve ser considerado. O texto se refere como forma de conhecimento.
a coisas, acontecimentos, do mundo, do Hans-Georg Gadamer (1900 – 2002):
contexto. Pode ser datado por meio do que é Foi um filósofo alemão considerado
mencionado e discutido. como um dos maiores expoentes da
hermenêutica. Sua obra de maior
impacto foi “Verdade e Método”,
de 1960, onde elabora uma filosofia
propriamente hermenêutica, que
Nós, quando, interpretamos sempre 21:44 trata da natureza do fenômeno da
inserimos algo do nosso mundo compreensão.
de compreensão para o texto. Não
há como ser diferente. Nas nossas
interações também.
PALAVRAS-CHAVE
24:03

Emmanuel Leão: É um filósofo


pernambucano, professor emérito da
FUNDAMENTO IV UFRJ. Doutorou-se na Universidade
24:39 de Freiburg, onde foi aluno do filósofo
Interpretamos sempre alemão Martin Heidegger. Desenvolveu
sua própria filosofia sobre a
“O homem sempre interpreta. No sonho e
experiência e o realizar do homem em
na vigília nós sempre interpretamos. Mesmo sua existência.
quando não falamos, mas apenas ouvimos ou
lemos, estamos interpretando. Até quando não
ouvimos nem lemos ou falamos, mas somente
agimos ou simplesmente repousamos, ainda
assim interpretamos. É que interpretar não é
uma entre as possibilidades humanas, como
se o homem pudesse ser primeiro homem e 28:36
As partes me ajudam a
só depois, de propósito ou sem propósito, compreender o todo, e a partir
interpretasse, falando, ouvindo, sonhando, do todo eu consigo entender as
agindo, repousando. Não! É interpretando que partes.
o homem fala e ouve. É interpretando que
o homem sonha, age e repousa. Interpretar
é o modo de ser do homem. Ser homem é
interpretar”. (CARNEIRO LEÃO, Aprendendo a

27
pensar, p. 212)
29:20 Horizontes

Nosso conhecimento é marcado pela nossa


própria perspectiva de mundo; nunca
poderemos ter acesso a todos os pontos de
vista. Por outro lado, isso não quer dizer que
Apenas temos acesso ao mundo 29:41
nossos horizontes não possam ser ampliados
a partir de um determinado ponto
de vista. E o problema é quando por novas experiências. O preconceito
queremos absolutizar nosso ponto pode prejudicar o aspecto da experiência,
de vista, e não levar em consideração mas não é possível que nos livremos dele
o ponto de vista do outro. por completo, isso porque algumas ideias
permanecem enraizadas em nossas mentes,
muitas vezes de forma inconsciente. Nas
conclusões desta aula, o professor retoma
que a interpretação nunca é neutra e
PALAVRAS-CHAVE imparcial, e isso faz parte da condição
30:58 humana. Mesmo assim podemos nos abrir a

Manfredo de Oliveira: Padre, novas perspectivas, sair de nós mesmos, ouvir


filósofo, professor e escritor a opinião de outras pessoas.
cearense. Professor emérito da UFC,
contribuiu nos temas da Filosofia
Contemporânea, notadamente
nas áreas da Ética. Atenta-se a
FUNDAMENTO V
31:14
alguns dos impasses humanos mais
Perspectivas de Horizonte
urgentes, como a crise ambiental, a
globalização, as crises econômicas, a “O conceito de horizonte é empregado
miséria, entre outros. na Fenomenologia e, a partir daqui, na
hermenêutica para exprimir o caráter
paradoxal do conhecimento humano.
Em primeiro lugar, para exprimir sua
condicionalidade histórica: o mundo histórico
da experiência e da compreensão penetra
na maneira de ver do sujeito e forma seu
FUNDAMENTO VI
24:39 horizonte, abrindo-lhe certas possibilidades
Finitude da Compreensão de compreensão e fechando-lhe outras.
Portanto, ele é expressão da finitude, da
“O sujeito que compreende é finito, isto é,
situcionalidade de todo conhecimento
ocupa um ponto no tempo, determinado
humano. Por outro lado, um horizonte
de muitos modos pela história. A partir daí
nunca é uma fronteira definitivamente
desenvolve seu horizonte de compreensão,
determinada, mas algo suscetível a mudanças
o qual – este é o processo da comunicação
e, fundamentalmente, aberto a mudanças”.
– pode ser ampliado e fundido com outros
(OLIVEIRA, Tópicos de dialética, p. 10)
horizontes. O sujeito que compreende não
pode escapar da história pela reflexão. Dela
faz parte. Este estar na história tem como
consequência que o sujeito é ocupado
por pré-conceitos que pode modificar no PALAVRAS-CHAVE
36:18
processo da experiência, mas que não pode
liquidar inteiramente”. (Ernildo Stein, p. 37) Ernildo Stein: Filósofo, professor
e escritor brasileiro. Atualmente
é professor da PUCRS. Atua
principalmente nos seguintes temas:
Fenomenologia, Antropologia,
Heidegger, Círculo hermenêutico,
Método.

28
AULA 3 • PARTE 1

Resumo das aulas anteriores 01:20

A conexão entre lógica e filosofia dá-se


através da formação do pensamento e
suas características. A metafísica nos leva a PALAVRAS-CHAVE
suposição de que existe uma relação entre 02:49
realidade e pensamento, mesmo no uso
prático da razão, utilizando a moralidade
Epistemologia: Epistem, vem do grego
e significa conhecimento (ἐπιστήμη), e
de atos, a lógica une todas as questões. O
Logia, estudo. Assim, a epistemologia é
ser humano, em função da sua natureza
o estudo do conhecimento, suas fontes
epistemofílica – desejo de conhecimento
e como ocorre sua aquisição. De acordo
–, tem uma relação natural com a lógica
com Dancy, está dividida em quatro
mesmo que ela precise de ensino, de
áreas fundamentais: análise filosófica da
disciplina, de cuidado e de método. Todas as
natureza do conhecimento; problemas
atividades humanas que envolvem pretensão
relacionados ao ceticismo; afirmação
argumentativa, uso do pensamento, da razão,
e justificação do conhecimento e o
tangem a lógica.
alcance do saber.
Desde as origens da filosofia, os pensadores
procuraram entender a razão humana
especialmente por meio de dois mecanismos:
operações mentais fundamentais e comuns;
formas fundamentais e comuns da linguagem. 03:11
Quando nos justificamos, fazemos
Refletir sobre esses dois fatores nos leva a
apelo à lógica.
descoberta do pensamento ordenado e a
encontrar a lógica da razão em sua essência.
A apreensão, a capacidade de realizar juízos
e de inferir conclusões são fundamentais e,
para pensarmos nisso, precisamos entender o
processo de aprendizagem e seus avanços.

07:09 Evidentemente existe método de


pensamento, existe lógica, em
todo empreendimento em que
chamamos de saber científico.

A lógica é a expressão, depois a 11:56


técnica, depois a ciência, depois
o saber formalizado que mostra
como é a nossa razão nas nossas
operações (...) e como a linguagem a
apresenta.

17:35 O cerne da lógica é encontrado


quando nós a entendemos
como a reflexão cuidadosa,
metódica, exaustiva, acerca do
uso do pensamento para fins de
argumentação.

29
Lógica e validade 19:51

A lógica tem como base a filosofia, ao


questionar o princípio e a causa do todo,
e a matemática. A lógica é uma disciplina
intelectual que surge de maneira organizada
PALAVRAS-CHAVE
em várias obras, especialmente para entender 22:25
apreensão, juízo e raciocínio, ideias que
aparecem nos escritos do século IV a. C. de Gottlob Frege (1848 – 1925):
Aristóteles. No final do século XIX e início Matemático, lógico e filósofo alemão,
do XX, há um aprofundamento da relação foi um dos principais criadores da
lógica matemática moderna. Sua
entre lógica e matemática e essa contribuição
grande contribuição foi a criação
gerou muitos avanços importantes na de um sistema de representação
validade argumentativa. Em seguida, houve simbólica (Begriffsschrift,
um vínculo entre lógica e ciências dos conceitografia ou ideografia) para
processos de informação. representar formalmente a estrutura
dos enunciados lógicos e suas
Consideramos um argumento quando relações.
chegamos a conclusões a partir de uma
Bertrand Russell (1872 – 1970): Um
pretensa inferência de sentenças ou dos mais influentes matemáticos,
preposições anteriores. Todo argumento filósofos, ensaístas, historiadores
pressupõe a apreensão de termos e a sua e lógicos que viveram no século
concepção; atividades da razão; posição XX. Uma das características mais
sobre sentenças; de maneira que algo
marcantes de seu pensamento é
o ceticismo, sendo seu primeiro
próprio pressupõe outras realizações da
“mandamento”: “Não tenha certeza
razão. Verdade e falsidade são qualidades absoluta”. Defendia que a matemática
de proposições de sentenças, dessa forma, era mera lógica e que seus princípios
argumentos são válidos ou inválidos, poderiam ser compreendidos por
inferências são válidas ou inválidas. Portanto, categorias como proposições e classes
argumentos e inferências não são vistos como em vez de números.
verdadeiros ou falsos, e sim, como bons/ Ludwig Wittgenstein (1889 – 1951):
válidos ou ruins/inválidos. Um dos principais autores da virada
linguística na filosofia do século XX.
Quando um argumento é bom e válido? Para ele, filosofia não é doutrina, não
A lógica é essencialmente o estudo de é um conjunto de saberes prontos
pretensões argumentativas que preservam a para serem utilizados pelas ciências
naturais, mas uma atividade útil para
verdade. Em toda inferência ou argumentação
corrigir a linguagem e, portanto, o
há algo que se assume premissas e há algo pensamento.
que se deriva, conclusões. Portanto, sendo
as premissas verdadeiras, não há como uma
conclusão ser falsa.

PALAVRAS-CHAVE
24:37

Saul Kripke: Filósofo e protagonista de


relevantes contribuições para a filosofia
PALAVRAS-CHAVE
analítica e lógica modal. Sua obra é 24:39
muito influente em diversas áreas da
filosofia, desde a lógica até à filosofia David K. Lewis (1941 – 2001):
da mente, passando pela filosofia da Considerado um dos grandes filósofos
linguagem. Acredita que a necessidade analíticos da última metade do século
é uma noção metafísica, enquanto a XX. A sua teoria mais conhecida, e
prior é uma noção epistemológica. Isto mais controversa, é a de que existem
permitiu a aceitação da existência de concretamente uma infinidade de
verdades necessárias a posterior, como mundos isolados e que o nosso mundo
“água é H2O”. é apenas um desses mundos.

30
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO
30:14
Argumentos e inferências podem ser:

Verdadeiros e falsos.
31:36 A lógica é o estudo da validade.
Verdadeiros e inválidos.
Validade significa que entre
Válidos e inválidos. premissas e conclusão, há uma
concatenação preservadora da
Bons e falsos. verdade.

33:39 Lógica e literatura

A pretensão da filosofia quando se depara


com literatura, com o discurso coloquial,
PALAVRAS-CHAVE revela de forma metódica: estamos de fato
34:15 sendo consistentes? Nem sempre a percepção
meramente de que estamos sendo lógicos
Lewis Caroll (1832 – 1898): Pseudônimo
funciona. É importante que tenhamos técnica,
de Charles Lutwidge Dodgson, foi um
romancista, contista, fabulista, poeta, e o que nos provoca a chegar no método, é a
desenhista, fotógrafo, matemático e lógica.
reverendo anglicano britânico. Foi um
dos pioneiros no ensino lúdico, isto é,
o aprendizado por meio de atividades
divertidas. A inspiração para Alice no
País das Maravilhas teria vindo de Alice
Pleasance Liddell, uma das filhas do ENTRETENIMENTO
34:50
Reitor da Faculdade Christ Church. A
criação teve o intuito de entreter as Livro: Alice através do espelho
crianças, fazendo referência a vários
lugares e pessoas conhecidas.

Intuição 38:58

Possuímos uma percepção intuitiva de


validade em diferentes tipos de discurso. O
professor traz um exercício de lógica para
argumentar três discursos: no primeiro, ao
negarmos o condicionado, também negamos
a condição; no segundo, há inferência
Escrito em 1871, a continuação de Alice no
Resposta desta página: alternativa 3.

indutivamente válida, mas a conclusão


País das Maravilhas traz como mensagem
pode ser falsa; no terceiro, não há validade o aprendizado a partir dos erros, já que
dedutiva, nem indutiva, as premissas não dão não se pode mudar o passado, que haja
suporte para a conclusão. Em lógica, toda conhecimento.
inferência inválida é uma falácia.

A inferência indutiva é um válido tipo de


pensamento ordenado, mas por si só não é
estritamente válido. Nele existe suporte para a
conclusão, seja por analogia, por enumeração,
por probabilidade ou estatística, porém,
mesmo tendo premissas verdadeiras, a
conclusão pode ser falsa. Já na argumentação

31
dedutiva, isso não acontece.
PALAVRAS-CHAVE
40:53

Modus Tollens: Negação do


consequente é o nome formal para
uma prova indireta, uma forma de
resolver implicações lógicas.

No discurso nós sabemos que 42:42


quando as palavras ‘logo’ e ‘portanto’
aparecem, estamos diante de uma
conclusão e o que veio antes é
alegadamente um conjunto de
premissas.
50:34 Inferências válidas

Desde Aristóteles, no século IV a.C., existe


a percepção de que a lógica tem uma
relação com a argumentação válida. O
silogismo foi a primeira conquista da ideia
O Crisipo teve essa percepção: 01:00:00
de argumentação dedutivamente válida a
nós não podemos entender apenas ser claramente exposta, no qual podemos
verdade e falsidade de sentenças observar que três termos – menor, médio
isoladas, temos de entendê-las e maior – de tal maneira que na conclusão
das proposições ou sentenças varia qual será predicado por qual. Crisipo,
conectadas. no século III a.C., inspirou o tipo de
desenvolvimento que a lógica ganhou ao
ter como percepção que a nossa linguagem
possui diversos mecanismos de conexão de
sentenças.
Conectivos mostram a forma 01:03:13
lógica do pensamento quando
nós percebemos as formas lógicas
pelas quais no pensamento nós
conectamos sentenças.

AULA 3 • PARTE 2

Conectivos lógicos 00:00

O nosso pensamento apresenta elementos


fundamentais de conexão de sentenças, que
ao serem analisados, tem um potencial de
mostrar a forma lógica do pensamento. As
expressões “e”, “ou”, “não”, “se então”, “se”
e “somente se” ligam diferentes sentenças 02:40
de maneira que a verdade do todo depende Validade possui sempre o aspecto
do valor das partes. Os conetivos dão da ligação entre sentenças.
significados distintos para a frase, portanto,
não podemos nos basear na intuição
para estarmos seguros do valor lógico de
argumentos e inferências, precisamos de
técnica. Precisamos encontrar atrás da forma

32
linguística, a forma lógica.
Os lógicos dão nomes para as proposições
e seus valores foram nomeados, por Gottlob
Frege, de Valores de Verdade. Os conectivos
“e”, “ou” e “não” são chamados pelos
filósofos de, respectivamente, conjunção, PALAVRAS-CHAVE
disjunção e negação. Eles condicionam 13:31
a lógica do pensamento, mas quais são
Valores de verdade: Indica o grau
as condições de verdade? Uma técnica
de verdade de uma proposição,
surgiu, de nome Tabela de verdade, como
dependendo da interpretação. Este
visualizações formais simbólicas, que de valor pode ser verdadeiro ou falso.
maneira fácil, respondem à pergunta.

EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO
13:42
A falsidade e a verdade são:

Decorrentes de uma conclusão.

Concretos.
20:04 Tabela de verdade
Abstratos.
O filósofo, Ludwig Wittgenstein, desenvolveu
Os valores possíveis das preposições. as tabelas a fim de entender como podemos,
com segurança lógica, saber da validade
de inferências. Já que a intuição não é o
suficiente, utilizamos essa técnica que auxilia
na percepção de verdade dos conectivos
ENTRETENIMENTO e a concatenação preservador da verdade
21:00
de inferências. De maneira simples, elas
Filme: Wittgenstein
certificam quando a conjunção, disjunção e
negação são verdadeiras.

Uma conjunção contém duas sentenças, ao


nomearmos uma como P e outra como Q,
temos:

P = V; P = V; P∧Q = V

P = V; Q = F; P∧Q = F

P = F; Q = V; P∧Q = F

P = F; Q = F; P∧Q = F

Ou seja, uma conjunção de duas sentenças só


O filme de Derek Jarman de 1993 mostra
por meio de belíssimas e estranhas imagens é verdadeira quando ambas são verdadeiras.
Resposta desta página: alternativa 4.

as preferência e estilos do filósofo Ludwig O símbolo “∧” é o da conjunção.


Wittgenstein.
Na disjunção, se um dos elementos disjuntos
é verdadeiro, toda ela se torna verdadeira.
Se queremos ser lógicos, temos que 22:16 Apenas quando dois elementos são falsos, o
tentar preservar a verdade. todo é falso.

Na negação, temos sempre o valor oposto: se


P for verdadeiro, o valor é falso.
O nosso pensamento é 31:22
acompanhado pelas formas lógicas
dos conectivos, dos argumentos e
das inferências.

33
AULA 3 • PARTE 3

Conectivos e inferências 01:40

Se formalizamos conectivos, também


precisamos formalizar inferências. Quando
conectamos várias premissas – como em
14:21
discursos, textos, linguagem – fica mais Validade significa adequada
difícil perceber a validade. O que vem depois concatenação das premissas para
do “logo” e “portanto” é a conclusão e ao a conclusão.
utilizarmos esses elementos, formalizamos
inferências. Em princípio, nomeando os
conectivos e as preposições, separando as
preposições antes do “logo”, somos capazes 19:06
A gente precisa da forma do
de formalizar todos os argumentos.
pensamento para ter segurança
Nas situações em que as premissas são sobre validade.
verdadeiras, a verdade é conservada até
a conclusão. Sabemos que uma inferência
é inválida quando montamos a tabela de
verdade e verificamos a sua forma: aplicamos
23:40
o conectivo para decidir a verdade ou Sempre que há uma situação em
falsidade das premissas. O argumento que as premissas verdadeiras, que
só é válido se mostra uma concatenação não preservam a verdade até a
que preserva a verdade das premissas à conclusão, temos uma inferência
conclusão, se isso não ocorre, a inferência é inválida.
inválida.

Desafio 25:49

Combinação de conectivos, que juntam


sentenças, coordena a verdade do todo e
aparecem nas inferências: entender isso
juntamente com o auxílio das tabelas de
verdades, nos leva à segurança lógica. Porém,
28:20
há vários aspectos das inferências que são A lógica não se apresenta como
objetos de debate. uma coisa só de um jeito, de uma
vez, para sempre. Ela é viva e
Aos termos duas premissas verdadeiras e a dinâmica (...) existem debates.
conclusão falsa, temos o desafio, porque não
apresenta a forma da validade. Alguns lógicos
dizem que essa inferência com premissas
que se contradizem é vacuamente válida no
sentido de que no contraditório qualquer
coisa pode ser dita. Desde a Idade Média, foi 36:19
nomeada como ex falso qualibet, com a ideia
A lógica não se apresenta como
de que a razão do falso contraditório, tudo a
uma coisa só de um jeito, de uma
partir disso pode ser derivado. No século XX,
vez, para sempre. Ela é viva e
essa situação lógica vácua e permissiva foi
dinâmica (...) existem debates.
chamada de Princípio de Explosão.

Porém, a lógica é a busca da segurança


de que ao iniciar com a verdade, ela será

34
preservada até a conclusão.
PALAVRAS-CHAVE
37:00

Princípio de Explosão: Lei da lógica


clássica e de alguns outros sistemas,
como a lógica intuicionista, que
Conclusão 38:33 afirma que qualquer coisa pode
surgir de uma contradição.
Quando comparamos linguagem, com seus
muitos aspectos e usos, e lógica, nem sempre
tudo vai estar alinhado. A lógica possui áreas
em aberto, para debate, por exemplo: há
razões para pensar que disjunção e conjunção
– como ocorrem em português – em muitos
casos não são funções de verdades ou
conectivos lógicos. Há inequívocos, portanto,
há um no caminho a ser percorrido.
43:40
Para a lógica, na disjunção, bastando um Nem sempre linguagem, que
elemento ser verdadeiro, o todo também é. veste o pensamento, e lógica, que
Na língua, isso não necessariamente acontece. precisa de forma, estão em total
Assim como para a linguagem, na conjunção, alinhamento.
a ordem das premissas altera o sentido da
frase.

Se os conectivos lógicos têm boa relação


com a inferência – como “e”, “ou” e “não”
-, teremos facilidade de perceber como
e quando as inferências são válidas ou
inválidas. Há, contudo, muita discussão sobre
conectivos e sua tradução lógica correta e
sobre inferências paradoxais.

AULA 3 • PARTE 4

Se, então 00:00

Nosso pensamento, quando ligamos


sentenças e proposições, é moldado por
conectivos e operadores lógicos como
conjunção (e), disjunção (ou), negação
(não). Também fazemos uso de sentenças
condicionais, que se utilizam dos conectivos
PALAVRAS-CHAVE
“se, então”, “se, e somente se”. 05:32
Quando uma sentença se estabelece da forma
Modus ponens: Na lógica
“se a, então c”, chamada de condicional, proposicional, é uma válida e
a simbolização: a → c; nesse caso, a é simples forma de argumento e regra
o “antecedente” e c é o “consequente”. de inferência. Ele pode ser resumido
Clássica inferência no tocante a condicionais como “P implica Q, P é afirmado
é o modus ponens: pressupondo ae a → c, verdade, portanto, Q deve ser
segue-se c (formalmente: a, a → c ... c)
verdade.

35
Observe os exemplos:
14:20 Se, e somente se
“Se chove, então a superfície da terra fica
molhada; chove; logo, a superfície da terra A bicondicional, que os lógicos costumam
.
fica molhada”; a → c, a . . c simbolizar com a seta dupla ou “↔”, é tal
Para compreender melhor as situações de que a verdade é o seu valor somente quando
valor, observe a tabela de verdade: as duas sentenças ligadas são verdadeiras ou
quando as duas sentenças ligadas são falsas.
Na linguagem corrente, “bicondicional” opera
segundo a ideia de “se e somente se”. Sugere
uma dupla implicação, tal como em “Augusto
é pai de alguém [p] se e somente se alguém
é filho(a) de Augusto [q]”; “Se e somente
ninguém é filho(a) de Augusto [¬q], Augusto
não é pai de ninguém [¬p]”.

Na linguagem corrente, o operador


bicondicional “p ↔ q” também se
traduz como “p se e só q”, “p se q e q
se p”, “p exatamente quando q”, “se p, q
reciprocamente”, “p é condição necessária e
Como reforça o professor Roberto, não é suficiente de q”, “p é equivalente a q”.
unânime a interpretação da condicional, pois
a tabela de verdade pode ir, por vezes, contra A tabela de verdades é da seguinte forma:
a intuição do pensamento e da linguagem.

Considerações finais 23:06

No encerramento da aula, o professor


Roberto afirma que, na lógica, é importante
que saibamos formalizar, dar nome às
proposições, ver o operador lógico que rege
a complexidade, lembrar que os operadores
e conectivos possuem regras muito fortes em
relação à verdade ou à falsidade.

Argumentar a partir de premissas até as


conclusões, podendo perceber se a validade
foi preservada, vai nos permitir saber se
estamos sendo cuidadosos em nosso
discurso, texto, redação, conversa, discussão,
interpretação, acusação, e no uso ordenado
25:34
do pensamento. Apenas assim poderemos A segurança da validade, o
ganhar segurança na validade do nosso entendimento da validade, é a
argumento. principal meta e contribuição
da lógica para o pensamento
ordenado.

36
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO
25:50
Qual a tradução correta, para a
linguagem simbólica, fazendo uso de
“a” e “b” para sentenças, dos símbolos
“¬”, “∧”,“∨”, “→” e “↔” para os conectivos
lógicos e do símbolo “...” para “logo” ou
“portanto”, da seguinte inferência: “Se 26:00 EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO
o hospital não tem leitos suficientes,
então as pessoas não poderão ser “Renan é irmão de João se e
atendidas; Ou o hospital tem leitos somente se João é irmão de Renan;
suficientes, ou as pessoas não serão Ou bem João não é irmão de Renan
atendidas; portanto, o hospital não tem ou Renan não é irmão de João;
leitos suficientes”. logo, João é irmão de Renan”.
Fazendo uso da tabela de verdade
a inferência é:
¬a → ¬ b; ∨ a ∨¬ b ... ¬ a.
Inválida, visto que se trata de uma
¬a → .
b; ∨ a ∨ ¬ b . . ¬ a.
falácia ad hominem.

Indutivamente válida.
¬a → b; ∨ a ∨ ¬ b .
.. a.
Inválida.
a → .
b; ∨ a ¬ ∨ b . . ¬ a.
Válida.
Resposta desta página: alternativa 1 e 3.

37
Artigos
Nesta página, você encontra links de artigos científicos, informativos
e vídeos sugeridos pelo professor PUCRS.

ARTIGO CIENTÍFICO

CARNIELLI, W. A. e EPSTEIN, R. L., com assistência e colaboração de


MURCHO, D. Pensamento crítico – O poder da lógica e da argumentação.
3. ed. São Paulo: Editora Rideel, 2011, Capítulo 3 (“O que é um bom
argumento?”), p. 35-56.

ARTIGO INFORMATIVO

KNEALE, W. e KNEALER, M. O Desenvolvimento da lógica. Prefácio de


W. Kneale, tradução de M. S. Lourenço. 2. ed. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, 1980, Capítulo II (“O Organon de Aristóteles”), p. 25-83. (Texto
erudito e de nível acadêmico).
Lógica. In: Wikipédia, a enciclopédia livre. (Texto informativo geral e
acessível a todos).
Quadrado de oposições. In: Wikipédia, a enciclopédia livre. (Texto
informarivo geral e acessível a todos).

VÍDEO
Falácias (Prof. Dr. Walter Carnielli, UNICAMP)
Silogismos e falácias (Professor Cristiano)

38
Resumo da disciplina
Veja nesta página, um resumo dos principais conceitos vistos ao longo da disciplina.

AULA 1

Nós devemos conhecer a nós mesmos,


contudo, com a certeza de que nunca
poderemos nos conhecer por completo. Com a autonomia do sujeito ao longo
da história, a noção da ciência também
se altera. O ser humano passa a estar no
centro do pensamento filosófico, e na
Com o antropocentrismo, surgem novas ciência.
problemáticas, como a imposição da
natureza em um plano secundário, de
exploração e serviço do ser humano.

AULA 2

O silogismo não é uma abstração,


está presente em nossa vida
permanentemente. Nos auxilia a
interpretar o que ocorre ao nosso
A ciência é extremamente importante redor.
para que possamos melhorar cada
vez mais nossas vidas, bem como a
sociedade em geral. Assim como raciocinamos
permanentemente, interpretamos
permanentemente. Quando,
interpretamos inserimos algo do
nosso mundo de compreensão.

AULA 3
Todas as atividades humanas que
envolvem pretensão argumentativa
necessitam da lógica, e para compreendê-
la se necessita ensino, de disciplina, de
cuidado e de método.
Evidentemente existe método de
pensamento, existe lógica, em todo
empreendimento em que chamamos de
saber científico.
A lógica é a busca da segurança de
que ao iniciar com a verdade, ela será
preservada até a conclusão.

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Avaliação
Veja as instruções para realizar a avaliação da disciplina.

Já está disponível o teste online da disciplina. O prazo para realização


é de dois meses a partir da data de lançamento das aulas. ​

Lembre-se que cada disciplina possui uma avaliação online.


A nota mínima para aprovação é 6. ​

Fique tranquilo! Caso você perca o prazo do teste online, ficará aberto
o teste de recuperação, que pode ser realizado até o final do seu curso.
A única diferença é que a nota máxima atribuída na recuperação é 8. ​
Pós-Graduação em
Filosofia e Autoconhecimento:
uso pessoal e profissional

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