Você está na página 1de 50

Pós-Graduação em

Direito Penal e Criminoltogia

FUNDAMENTOS DO
PROCESSO PENAL

Com Aury Lopes Júnior e Marcos Eduardo Faes Eberhardt

O encarceramento não recai sobre todos da


mesma maneira.

Giane Silvestre
Conheça
c o livro da disciplina
-
CONHEÇA SEUS PROFESSORES 3

Conheça os professores da disciplina.​

EMENTA DA DISCIPLINA 4

Veja a descrição da ementa da disciplina. ​

BIBLIOGRAFIA BÁSICA 5

Veja as referências principais de leitura da disciplina.​

O QUE COMPÕE O MAPA DA AULA? 6

Confira como funciona o mapa da aula.

MAPA DA AULA 7

Veja as principais ideias e ensinamentos vistos ao longo da aula.

ARTIGOS 41

Links de artigos científicos, informativos e vídeos sugeridos.

RESUMO DA DISCIPLINA 42

Relembre os principais conceitos da disciplina.​

AVALIAÇÃO 43

Veja as informações sobre o teste da disciplina.​

2
Conheça
c seus professores

-
AURY LOPES JÚNIOR
Professor Convidado

Doutor em Direito Processual Penal, parecerista e


conferencista, com mais de 500 palestras ministradas no Brasil e
no exterior, o advogado criminalista, Aury Lopes Jr., foi nomeado
pelo ministro Cezar Peluso para integrar o Grupo de Trabalho
no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que analisou e emitiu
nota técnica sobre o projeto de reforma do Código de Processo
Penal (PLS n. 156/2009). Atualmente, é professor titular do
programa de pós-graduação em Ciências Criminais da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS. Referência
na área, participou do Conselho Penitenciário do Estado do Rio
Grande do Sul de 2001 a 2004. É membro do Instituto Brasileiro
de Ciências Criminais (IBCCrim), da Associação Brasileira
dos Advogados Criminalistas (ABRACRIM), membro emérito
do Instituto Baiano de Direito Processual Penal, além de ter
recebido nota máxima e voto de louvor por sua tese “Sistemas
de Investigación Preliminar en el Proceso Penal”.

MARCOS EDUARDO FAES


EBERHARDT
Professor PUCRS
É doutorando e mestre em Ciências Criminais pelo PPG/PUCRS.
É especialista em Ciências Penais pelo PPG/PUCRS. É graduado em
Ciências Jurídicas e Sociais pela PUCRS. É professor da ESCOLA
DE DIREITO e da Especialização em Direito Penal Empresarial
da PUCRS. É professor convidado da Especialização em Direito
Penal e Processo Penal da UNISINOS e da Especialização em
Advocacia Criminal da UPF. É Conselheiro Seccional da OABRS e
ocupou a Vice-Diretoria da Escola Superior de Advocacia - ESA/
OABRS. Dentre as principais obras publicadas estão PROVAS
NO PROCESSO PENAL, na 2a Edição, pela editoria Livraria do
Advogado, LEIS PENAIS E PROCESSUAIS ESPECIAIS, Volume 1,
na 2a Edição e MANUAL DE PRÁTICA PENAL, na 10a Edição. É
advogado criminal desde 2003 em Porto Alegre.

3
Ementa da Disciplina
Processo penal a partir do fundamento de sua existência e do conteúdo
constitucional e sua instrumentalidade. Sistema de garantias mínimas estruturado
a partir de uma base principiológica.

4
Bibliografia básica
a

-
As publicações destacadas têm acesso gratuito pela Biblioteca da PUCRS.

Bibliografia básica

GIACOMOLLI, Nereu. Legalidade, Oportunidade e Consenso no Processo Penal, na


perspectiva das garantias constitucionais. 01. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2006.

LOPES JR, Aury. Direito Processual Penal e sua Conformidade Constitucional.


volumes 1 e 2. Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2010.

GLOECKNER, Ricardo Jacobsen. Nulidades no Processo Penal. 3 ed. São Paulo:


Saraiva, 2017.

BOSCHI, José Antônio Paganella. Ação Penal. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2010.

Bibliografia complementar

BUTING, Jerome F. Ilusão de Justiça. Rio de Janeiro: Best Seller, 2018.

COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda. “O papel do novo juiz no processo penal”.


In: Crítica à Teoria Geral do Direito Processual Penal. Jacinto Nelson de Miranda
Coutinho (org.). Rio de Janeiro, Renovar, 2001.

DORNELES, Carlos. Bar Bodega: um crime de imprensa. Rio de Janeiro: Globo, 2007.

ELLET, William. Manual de Estudo de Caso. Porto Alegre: Bookman, 2008.

FERRAJOLI, Luigi. Derecho y Razón – Teoria del Garantismo Penal. 2.ed. Trad.
Perfecto Andrés Ibáñez; Alfonso Ruiz Miguel; Juan Carlos Bayón Mohino; Juan
Terradillos Basoco e Rocío Cantarero Bandrés. Madri, Trotta, 1997.

LOPES JR, Aury; GLOECKNER, Ricardo Jacobsen. Investigação Preliminar no


Processo Penal. 6 ed. São Paulo: Saraiva, 2014.

TOOBIN, Jeffrey. American Crime Story. O Povo Contra O. J. Simpson. Rio de Janeiro:
Darkside Books, 2016.

5
o o
O que compõe

s
Mapa da Aula?
MAPA DA AULA
São os capítulos da aula, demarcam
momentos importantes da disciplina,
servindo como o norte para o seu FUNDAMENTOS
aprendizado.
Conteúdos essenciais sem os quais
você pode ter dificuldade em
compreender a matéria. Especialmente
importante para alunos de outras
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
áreas, ou que precisam relembrar
assuntos e conceitos. Se você estiver
Questões objetivas que buscam
por dentro dos conceitos básicos dessa
reforçar pontos centrais da disciplina,
disciplina, pode tranquilamente pular
aproximando você do conteúdo de
os fundamentos.
forma prática e exercitando a reflexão
sobre os temas discutidos.​
CURIOSIDADES
Apresentação de figuras públicas
e profissionais de referência
PALAVRAS-CHAVE mencionados pelo(a) professor(a),
além de fatos e informações que dizem
Conceituação de termos técnicos, respeito à conteúdos da disciplina.
expressões, siglas e palavras específicas
do campo da disciplina citados durante
a videoaula. DESTAQUES
Frases dos professores, que resumem
sua visão sobre um assunto ou
VÍDEOS situação.​

Assista novamente aos conteúdos


expostos pelos professores em vídeo.
Aqui você também poderá encontrar ENTRETENIMENTO
vídeos mencionados em sala de aula.
Lembre-se que a diversificação de Inserções de conteúdos da equipe de
estímulos sensoriais na hora do estudo design educacional para tornar a sua
otimiza seu aprendizado. ​ experiência mais agradável e significar
o conhecimento da aula.​

CASE
Neste item você relembra o case
analisado em aula pelo professor. ​
LEITURAS INDICADAS
A jornada de aprendizagem não
termina ao fim de uma disciplina. Ela
MOMENTO DINÂMICA segue até onde a sua curiosidade
alcança. Aqui você encontra uma lista
Aqui você encontra a descrição
de indicações de leitura. São artigos e
detalhada da dinâmica realizada pelo
livros sobre temas abordados em aula.​
professor em sala de aula com os alunos. ​

6
Mapa da Aula
Os tempos marcam os principais momentos das videoaulas.

AULA 1 • PARTE 1

LEITURAS INDICADAS
01:24
Livro: Direito Processual Penal

LEITURAS INDICADAS
01:37
Livro: Fundamentos do Processo
Penal

De autoria de Aury Lopes Júnior, o livro se


apresenta, em um único volume, completo
e atual, sem perder de vista os jugados
mais recentes e polêmicos que envolvem o
processo penal.

LEITURAS INDICADAS
01:59
Livro: Prisões cautelares

Escrito por Aury Lopes Júnior, que,


com riqueza teórica, explora os pilares
fundamentais do processo penal (respeito
às categorias jurídicas do processo
penal, filtragem constitucional e de
convencionalidade e interdisciplinaridade).
Assim, a obra mantém alto nível de
reflexividade e alcança discussões que
envolvem a posição do juiz no processo e
correntes teóricas de autores como Bülow,
James Goldschmidt, Elio Fazzalari, etc.

Escrita por Aury Lopes Júnior, trata-se


de uma obra completa sobre a prisão
processual e as medidas cautelares diversas,
contemplando as alterações legislativas
promovidas pelas Leis nº 12.403/2011 nº
13.964/2019 (Pacote Anticrime).

7
Constitucionalização do
Processo Penal 04:07

O professor introduz a matéria lecionando


que o processo penal deve ser lido à luz da
Constituição. Parafraseia James Goldschmidt,
04:39
ao afirmar que o processo penal é um Se você tem uma Constituição
termômetro dos elementos autoritários ou democrática ela tem que
democráticos da Constituição. democratizar o processo penal.
Se você tem uma Constituição
Revela que o processo penal brasileiro
autoritária, é natural que ela
é o mais atrasado da América Latina,
vá influenciar de uma maneira
chamando a atenção ao fato de tratar-se de
autoritária no processo.
decreto lei, sancionado em 1941, enquanto
a promulgação da Constituição ocorreu em
1988. Nesse sentido, ressalta que o processo
deve se democratizar e ser “constituído” a
partir da Constituição.
06:41
Aury entende que o maior problema está A Constituição constitui a ação.
nas reformas pontuais (em que mantém- Ela deve constituir o Código,
se a estrutura do código, substituindo-se mas ela deve constituir a
apenas alguns artigos), porque elas não têm cabeça das pessoas.
força para romper com a cultura inquisitória
existente no país. Como exemplo, menciona
o pacote anticrime, que teve algumas
mudanças (sistema acusatório, juízo das
garantias, etc.) suspensas pelos ministros
Toffoli e Fux. 07:27
Quando você insere algo novo
na ambiência velha, você cria
condições férteis para nada
Recusa à teoria geral do
processo I 12:04 mudar.

A TGP nasce a partir da Escola Paulista


de Direito Processual, influência dos
processualistas civis, doutrinando sobre
o processo penal. Para o professor, 09:44
Tendemos a confundir direitos
trata-se de um grande erro porque, ao
e garantias fundamentais com
utilizar as categorias do processo civil no
impunidade. Isso é um erro
processo penal, desrespeita-se a complexa
infantil.
fenomenologia de um em relação a de outro.

Novamente, o professor parafraseia


Goldschmidt, que falava em respeitar as
categorias jurídicas próprias do processo
penal. Nesse mesmo sentido, Carnelutti, em
10:42
seu texto “La cenerentola”, desenvolve uma Não se entende nada, hoje, em
metáfora para demonstrar a necessidade de uma sociedade como a nossa,
se respeitar as categorias do processo penal, hiperacelerada, de processo
porque ele é ritual de exercício de poder. ou de direito, se você não fizer
uma leitura interdisciplinar.

8
Recusa à teoria geral do
processo II 14:35

Para Carnelutti, o processo civil é o processo


do “ter”, em que discute-se, em linhas
gerais, contratos, dinheiro e obrigações, e
o processo penal é o processo do “ser”, em
que fala-se sobre a pessoa, a liberdade e a
vida. O processo penal é, ainda, o poder de
punir do Estado. No processo penal, forma é 15:13
Todo poder tende a ser
garantia, é limite de poder e legalidade. autoritário e precisa de limite.
Como exemplos da indevida aplicação de
categorias do processo civil no processo
penal, o professor menciona:

1. A teoria das nulidades relativas, do


processo civil;

2. A expressão “lide penal”, citada pelo


ministro Fux;

3. A jurisdição; 17:05
Eu não só posso, como devo,
4. Juízes que, invocando o poder geral de garantir para punir e punir
cautela do código de processo civil, aplicam garantindo.
medidas cautelares alternativas à prisão, não
previstas no art. 319 do código de processo
penal, sendo que, no processo penal, o poder
é condicionado específico; e

5. A revelia: não tem efeitos. O réu não pode


ser punido por não ter comparecido. Como
decidido pelo Supremo, estar presente em
audiência ou não é uma faculdade do réu.
LEITURAS INDICADAS
21:43
HC 186.421 e HC 188.888: habeas corpus
de relatoria de Celso de Mello, em que o
ministro preceitua que i) superadas situações
específicas e excepcionais de pandemia, a
audiência de custódia é obrigatóra, ii) não
existe poder geral de cautela no processo
penal, não podendo o juiz fixar medidas
cautelares além daquelas previstas em lei; e
iii) juíz não pode prender de ofício, ou seja,
não existe legitimidade na conversão de
ofício da prisão em flagrante para a prisão
preventiva, havendo violação ao sistema
acusatório.

9
Ação I 26:07

O processo penal é formado pela seguinte


estrutura: ação/acusação, jurisdição e
processo.

Sobre o primeiro elemento (a ação/


acusação), o professor menciona alguns
marcos importantes: 31:16
Você tem a ação, ainda que
você não tenha o direito
- Windscheid x Muther: polêmica sobre la
afirmado naquela ação.
actio – nasce o consenso de que a ação é um
direito público;

- Plosz: ação como um direito público, mas


abstrato (no sentido que você terá ação,
ainda que não ganhe o processo);

- Wach: ação como um direito concreto (só


tem ação quem ganha o processo);

- Chiovenda: ação enquanto ato de poder


(potestativo);

- Couture: ação como um direito abstrato,


independente do direito material; e

- Bulow: tem-se uma relação jurídica de


direito material autôma da relação jurídica
de direito processual.

10
AULA 1 • PARTE 2

LEITURAS INDICADAS
00:42
Livro: As misérias do processo
penal

00:59
Tem que ter muita
responsabilidade para acusar
e muito mais responsabilidade
para receber uma acusação.

01:39
As pessoas se matam, no
sentido literal da palavra, ou
Escrito por Francesco Carnelutti, um dos
são mortas, no sentido social
grandes expoentes da escola jurídica italiana,
que teve influência decisiva nos principais da palavra, pelo simples fato de
processos julgados em seu país. Nessa obra, serem acusadas.
o autor mostra todo o drama da Justiça
Penal, discorrendo sobre o papel do Juiz,
do Ministério Público, do advogado e do
acusado.

Ação II 02:12

Os professores Lima e Jacinto Nelson de


Miranda Coutinho dizem que, para que se
possa trabalhar com a acusação, deve haver
06:04
uma conexão instrumental ao caso penal, Se o estado parar de acusar,
uma justa causa que justifique o próprio ou seja, se o poder de acusar
nascimento do processo. cessar, não se criam as
condições de possibilidade de
Aury propõe repensar o processo penal a exercício do poder de punir,
partir do conceito de pretensão acusatória. porque o poder de punir é
Trabalha com a ideia de que o objeto do condicionado ao prévio exerício
processo é uma pretensão acusatória (o da acusação.
poder de proceder contra alguém) e, como
poder condicionado, deve haver um suporte
probatório mínimo que justifique a acusação.
Há dois poderes diferentes no processo
penal: o Ministério Público tem o poder de
acusar para o juiz, que vai, então, se acolher
essa acusação, a partir da prova produzida,
exercer, em relação ao réu, o poder de punir.

11
Ação III 09:13

Compõem a estrutura da pretensão


acusatória:

1. O elemento subjetivo: composto por


aquele que exerce a pretensão (acusador)
e contra quem se pretende fazer valer essa
pretensão (acusado); 10:20
A acusação é um poder
2. O elemento objetivo: é o caso penal, ou político-constitucional de
seja, o fato aparentemente punível praticado; invocação.
e

3. O elemento de atividade: é a existência


da acusação (ação processual penal), do
instrumento processual que, portando
a pretensão acusatória, irá solicitar sua
satisfação (com a condenação).

O professor chama a atenção ao fato de 11:55 Ação IV


que a nomenclatura correta a ser utilizada
em pedido de habeas corpus é “trancar o Destaca-se que as condições de
processo” e não trancar “a ação”, porque é o admissibilidade da acusação não se
processo que tem concatenação de atos. confundem com as condições da ação do
processo civil. São elas:
Faz, ainda, uma crítica ao art. 385 do código
de processo penal, que permite ao juiz 1. O fato narrado tem que constituir crime
condenar sem pedido, afirmando que tal (fumus comissi delicti);
dispositivo viola o sistema acusatório, mata
2. Tem que ter punibilidade concreta ou
a imparcialidade e é incompatível com o
punibilidade em potência: o crime não
objeto do processo penal.
pode estar prescrito, não pode ter sido
operada a decadência, não pode ter sido
operada a extinção da punibilidade, etc;

3. Legitimidade; e

4. Justa causa: o professor trabalha justa


causa em duas dimensões. I) deve haver
um suporte probatório mínimo de autoria
e materialidade; e ii) uma análise da justa
causa enquanto instrumento de controle
processual do caráter fragmentário do
direito penal.

12
AULA 1 • PARTE 3

Jurisdição 00:25

Jurisdição é poder dever. No processo penal,


não é atividade substitutiva, porque a pena é
pública. Trata-se da garantia de ser julgado,
no devido processo, por um juiz natural e
competente, isto é, que tenha competência LEITURAS INDICADAS
preestabelecida em lei e prévia ao fato. 05:35
Livro: Directorium Inquisitorum -
O tema da jurisdição está diretamente
Manual dos Inquisidores
relacionado à imparcialidade. O professor
parafraseia Werner Goldschmidt, ao afirmar
que o princípio supremo do processo é
a imparcialidade do juiz, ou seja não há
processo se não houver juiz, assim como não
há juiz se não houver imparcialidade.

Processo I 07:19

O professor leciona sobre a natureza jurídica


do processo e as respectivas teorias.

A primeira delas é a teoria da relação


jurídica. Em 1886, Oskar Von Bulow escreveu Essa obra reúne textos documentais
“O processo como relação jurídica”, obra que destindos a demonstrar o conteúdo e a
evolução das práticas inquisitoriais, tanto do
marcou o nascimento do processo, à medida
ponto de vista da teoria judicial, quanto de
em que o autor estruturou a concepção de uma perspectiva essencialmente histórica.
que existe uma relação jurídica de direito Como texto fundamental, é apresentado um
material (credor-devedor) e outra relação compêndio do diretório dos inquisidores,
obra do inquisidor geral de Aragão Nicolau
jurídica de direito processual (autor-
Eymerico, publicada na metade do século XIV.
réu), autônomas e independentes entre O valor dessa obra está em ser o primeiro
si. O processo é visto como uma relação intento que se conhece de sistematizar
jurídica triangular de natureza pública que o trabalho jurídico do “Santo Ofício” e as
normas nele contidas. Mesmo escrita por
se estabelece entre as partes (acusador e
um dos primeiros inquisidores, teve total
réu) e o juiz, e, também entre elas , dando atualidade durante a larga existência da
origem a uma reciprocidade de direitos e punitiva instituição.
obrigações processuais. Bulow teorizou,
ainda, a existência de “pressupostos
processuais” (que poderiam ser de existência
ou de validade), que, para o professor, estão
16:04
completamente superados. O processo não é uma estrutura
triangular, é uma espiral
einsteiniana de movimento
contínuo, aonde uma hora você
está em cima , uma hora você
está embaixo, você não está
sempre no mesmo lugar.

13
LEITURAS INDICADAS
16:59
Livro: O universo numa casca de
noz

17:07 Processo II

A segunda teoria mencionada pelo


professor é a do processo como
situação jurídica, estruturada por James
Goldschmidt, segundo a qual o processo
passa a ser visto como um conjunto de
situações processuais, pelas quais as
Escrita por Stephen Hawking, a obra
apresenta conceitos caros à física teórica, partes atravessam em direção à sentença
como a supergravidade, a teoria quântica, a definitiva favorável. Goldschmidt nega
teoria-M, a holografia e a dualidade. Também a existência de direitos e obrigações
são abordadas as propostas mais relevantes processuais e considera um erro a teoria
que desafiam o nosso entendimento atual de
como funciona o universo. dos pressupostos processuais de Bülow.
Evidencia que o processo é dinâmico
e pautado pelo risco e pela incerteza.
O processo é uma complexa situação
jurídica, cuja sucessão de atos vai
gerando chances que, bem aproveitadas,
permitem que a parte se libere das cargas
probatórias e caminhe em direção a uma
O juiz é alguém que as 21:00
partes lutam para obter sentença favorável.
a captura psíquica e aí é O não aproveitamento de uma chance
muito importante você e a não liberação de uma carga geram
compreender: você não tem uma situação processual desvantajosa,
que produzir a prova que conduzindo a uma perspectiva de
quer, tem que, também e sentença desfavorável. Às partes não
principalmente, produzir a
incumbem obrigações, mas cargas
prova que vai convencer o juiz.
processuais, sendo que, no processo
penal, não existe distribuição de cargas
probatórias, na medida em que toda a
carga de provar o alegado está nas mãos
do acusador.

O professor Aury adota essa teoria.

Hoje, cada vez mais, você tem 21:44


que pensar quem é o juiz.

14
Processo III 26:42

A terceira teoria é de Elio Fazzalari,


que sustentava que o processo é um
procedimento em contraditório. Situa-se em
FUNDAMENTO I
uma linha de continuidade do pensamento 32:12
de Goldschmidt, superando a visão Contraditório no inquérito policial
formalista-burocrática da concepção de
Súmula vinculante nº 14: “é direito do
procedimento até então vigente, resgatando
defensor, no interesse do representado,
a importância do contraditório, que deve
ter acesso amplo aos elementos de prova
orientar todos os atos do procedimento até
que, já documentados em procedimento
o provimento final (sentença), construído em
investigatório realizado por órgão com
contraditório (que é o núcleo imantador e
competência de polícia judiciária, digam
legitimador do poder jurisdicional).
respeito ao exercício do direito de defesa”.
Fazzalari, ensina, ainda, que o contraditório
Art. 7º, inc. XIV, Lei 8.906/96: “são direitos
é visto em duas dimensões (informazione
do advogado: XIV - examinar, em qualquer
e reazione), como direito à informação
instituição responsável por conduzir
e reação, gerando como consequência a
investigação, mesmo sem procuração, autos
igualdade de tratamento e de oportunidades.
de flagrante e de investigações de qualquer
Todos os atos do procedimento são
natureza, findos ou em andamento, ainda
pressupostos para o provimento final, ao
que conclusos à autoridade, podendo copiar
qual são chamados a participar todos
peças e tomar apontamentos, em meio físico
os interessados (partes). A essência do
ou digital”.
processo está na simétrica paridade da
participação dos interessados, reforçando o
papel das partes e do contraditório.

Também existe uma revaloração da


jurisdição na estrutura processual, pois
FUNDAMENTO II
permite superar a concepção tradicional de 33:45
poder-dever jurisdicional para a dimensão Ativismo judicial I
de poder condicionado (ao contraditório),
além de situar o juiz como garantidor do
contraditório e não de “contraditor”, fazendo Art. 156, incs. I e II: “a prova da alegação
uma recusa ao ativismo judicial característico incumbirá a quem a fizer, sendo, porém,
do sistema inquisitório. facultado ao juiz de ofício: I – ordenar,
mesmo antes de iniciada a ação penal,
a produção antecipada de provas
consideradas urgentes e relevantes,
observando a necessidade, adequação
FUNDAMENTO III e proporcionalidade da medida; II –
34:10 determinar, no curso da instrução, ou
Ativismo judicial II antes de proferir sentença, a realização de
diligências para dirimir dúvida sobre ponto
Art. 127: “o juiz, de ofício, a requerimento
relevante.”
do Ministério Público ou do ofendido, ou
mediante representação da autoridade Art. 209: “o juiz, quando julgar necessário,
policial, poderá ordenar o seqüestro, em poderá ouvir outras testemunhas, além das
qualquer fase do processo ou ainda antes de indicadas pelas partes”.
oferecida a denúncia ou queixa”.

Art. 242: “a busca poderá ser determinada


de ofício ou a requerimento de qualquer das
partes”.

15
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO
00:00
No processo penal, a acusação deve
demonstrar, ao oferecer a denúncia,
além de outros requisitos formais, a
existência de _________. Assinale a
palavra que preenche corretamente
a lacuna: 35:49 Crise do processo penal

Fumus boni iuris. O professor refere que, em uma sociedade


como a nossa, punir é necessário e
Fumus comissi delicti. civilizatório, mas aduz que existem três
aspectos a serem questionados:
Pretensão resistida. • Quem punir?

Nenhuma das alternativas. • O que punir?

• Como punir?

O primeiro aspecto remete a um diálogo


com a criminologia e com o labeling
approach (doutrina e a teoria do
etiquetamento). O professor afirma que
o sistema penal brasileiro é seletivo e que
tem seus clientes preferenciais: os pobres.
Diz, ainda, que o sistema penal é um
Muito mais importante do que instrumento de efetivação de um racismo
36:25
saber que você tem que punir, estrutural que está posto em sociedade,
que punir é necessário, que e se reproduz no processo, no agir da
punir é civilizatório, que punir polícia, no agir do juiz e no agir de um
é a recusa à barbárie e à lei do sistema punitivo complexo.
mais forte, você tem que fazer
O segundo aspecto refere-se à crise do
três perguntas: quem punir, o
bem jurídico. O direito penal vem sendo
que punir e como punir?
banalizado: para tudo quer-se a polícia;
tudo é crime.

O terceiro aspecto remete a duas


dimensões: o sistema carcerário medieval
e o processo.
O sistema penal é seletivo: 37:03
ele vai eleger os seus clientes
preferenciais. Isso é um
grande problema, porque
essa seletividade var ser cruel,
desumana e antidemocrática.
Resposta desta página: alternativa 2.

16
Crise existencial 44:32

A primeira dimensão da crise enfrentada


pelo processo penal brasileiro é a chamada
crise existencial. A concepção clássica de
processo, ainda bastante aplicada no Brasil,
o tem como um caminho para chegar à pena.
Todavia, o nulla poena sine iudicio tem sido 45:24
Os espaços de negociação/
cada vez mais relativizado e flexibilizado, em de consenso no processo vão
razão da ampliação dos espaços negociais. relativizar o processo como um
caminho necessário, na medida
Como exemplos, o professor menciona os
em que vão permitir, cada vez
institutos da transação penal e da suspensão
mais, que você tenha pena sem
condicional do processo, previstos na Lei
prévio processo.
9.099/95, o instituto da delação premiada,
atualmente previsto na Lei 12.850/13, mas
introduzido na Lei 8.072/90, e o acordo de
não persecusão penal, previsto no art. 28-A,
da Lei 131.964/13 (pacote anticrime), todos
consistentes em negociações (espaços
de consenso) e na possibilidade de haver 50:03 Justiça negocial
pena, sem prévio processo ou sem processo
integral. A justiça negocial tem vantagens e
inconvenientes. São citadas como
A ampliação dos espaços de consenso é
vantagens pelo professor:
uma tendência mundial. É preciso haver uma
compreensão antropológica de que vivemos • Eficiência;
em uma sociedade hiperacelerada, que cada
vez mais quer encurtar o tempo fato-pena, • Desafogamento.
ou seja, quer uma punição instantânea, o que Destaca-se, ainda, como inconvenientes da
não só é impossível, como geraria diversas justiça negocial:
injustiças.
• Fim do nulla poena sine iudicio e das
Figueiredo Dias diz que a ampliação dos garantias;
espaços negociais é sintoma de uma
eficiência funcionalmente orientada. Aury • Inexistência do contraditório;
chama a atenção ao fato de que existem • Negativa de jurisdição;
certas áreas, como a administração da
justiça, que, se trabalhadas a partir da lógica • Ministério Público às portas do Tribunal
eficientista de mercado, não trarão bons (negociação direta entre acusador e
resultados. acusado);

O professor leciona, ainda, que o • Perverso intercâmbio (processo penal


Brasil está em um ciclo autofágico: vira uma “perigosa aventura”);
panpenalização (“tudo” é direito penal) –
• Não é imposição do sistema acusatório.
panprocessualização (“tudo” vira processo
penal) – entulhamento da justiça – de(mora) O professor conclui afirmando que a
jurisdicional – percepção de ineficiência negociação pode ajudar, o problema está
(sensação de impunidade) – panpenalização. na dose.

17
A negociação é como um 55:53
remédio: se você der a dose
certa, você pode salvar o
paciente, se você abusar, o
remédio deixa de ser remédio
e vira veneno.

18
AULA 1 • PARTE 4

Argumentos justificacionistas 01:42

O professor faz a desconstrução dos


argumentos justificacionistas revelados do
plea bargaining:

1. Estar conforme os princípios do modelo


acusatório: o sistema acusatório não
tem relação com a acusação, mas com LEITURAS INDICADAS
a gestão da prova, que deve estar nas 04:16
mãos das partes e não na mão do juiz Caso Ximenes Lopes: além de se configurar
(característica do sistema inquisitório); como a primeira condenação do Brasil pela
Corte Interamericana de Direitos Humanos,
2. Ser um ato voluntário: não há inovou ao aferir critérios ao processo penal
voluntariedade, mas um consentimento em um prazo razoável.
viciado, porque não há igualdade
negocial entre Ministério Público (estado)
e réu. O professor acrescenta, ainda, que
o Ministério Público, ao contrário do réu,
nada tem a perder; e

3. Proporcionar celeridade na administração


de justiça: o professor refere que o
problema está em identificar o preço a
18:08 Argumento eficientista
ser pago por essa celeridade.

Parafraseando Dominique Lacordaire, O professor traduziu o texto “Por que


o professor aduz que, na relação entre os tribunais criminais dos EUA são tão
desiguais, a lei liberta e a liberdade oprime. dependentes do plea bargaining?”,
O professor afirma, ainda, que a negociação escrito pelo pesquisador Dylan Walsh,
no inicío do processo implica no fim da verificando que, nos Estados Unidos, hoje,
produção de provas e na supremacia da 90% dos casos penais são resolvidos com
investigação preliminar (inquérito policial) e negociação, chegando a 97% nos casos
da confissão. federais (Walsh) e até 99% em Detroit
(Langbein). Os Estados Unidos tem, hoje, a
maior população carcerária do mundo: são
mais de 2 milhões e 300 mil presos e mais
de 2 milhões além desses submetidos ao
PALAVRAS-CHAVE controle penal, de alguma forma.
19:56

Projeto inocência: primeira


organização brasileira especificamente
voltada a enfrentar a grave questão
das condenações de inocentes no
Brasil.

19
ENTRETENIMENTO
20:05
Documentário: A 13ª emenda

ENTRETENIMENTO
20:08
Série: Olhos que condenam

Lançado em 2016 e dirigido por Ava


DuVernay, o documentário sociocultural traz
a análise de estudiosos, ativistas e políticos
sobre a correlação entre a criminalização
da população negra dos Estados Unidos e o
boom do sistema prisional do país.

Lançado em 2019 e inspirado em uma história


real, o filme, dirigido por Ava DuVernay, narra
o pesadelo vivido por cinco adolescentes do
Harlem, ao serem injustamente acusados de
um ataque brutal no Central Park.

Estudo de impacto carcerário? 22:26

Em análise sobre a possibilidade de adoção


do plea bargain no Brasil, o professor Aury
faz algumas afirmações:

• Existe, hoje, no Brasil, um déficit de mais


de 400 mil vagas;

• A Defensoria Pública estima que o custo


mensal de um preso seja de R$ 5.000,00
25:02
mensais; e Crise existencial do processo
através da ampliação dos
• Dados antigos do CNJ apontam que o
espaços negociais tem limite, já
custo para construção de uma vaga seja está no limite.
de R$ 42.500,00. O professor aponta
que, hoje, esse valor aumentou para R$
50.000,00.

Considerando-se os aspectos mencionados


acima, seria necessário, para suprir o déficit
de vagas e iniciar o superencarceramento
gerado pelo plea bargain, mais de vinte
bilhões de reais. O professor refere que seria
necessário, ainda, acrescentar um bilhão ao
custo mensal para alimentação e etc.

20
Crise identidária da jurisdição 25:29

Para o professor, trata-se da crise mais


grave. Aury afirma que grande parte dos
juízes brasileiros não têm uma compreensão
correta de qual é o seu lugar no processo,
29:50
em termos de jurisdição penal. Regra do jogo vale para
quem vocês gostam, mas,
Rui Cunha Martins, autor português principalmente, para quem
questiona a que expectativas deve vocês não gostam.
corresponder o juiz criminal: às sociais? Às
midiáticas? Às políticas? Às econômicas?

O professor lê passagem de voto do ex-


ministro Nefi Cordeiro, para demonstrar que:

• Prisão cautelar não se confunde com LEITURAS INDICADAS


41:05
antecipação de pena. Trata-se de
garantidora do processo; Livro: Estudos de direito penal,
direito processual penal e
• A prisão corresponde à uma necessidade filosofia do direito
processual;

• O juiz não combate crimes, quem o faz é


a polícia e o Ministério Público;

• O juiz não tem que corresponder


às expectativas sociais, midiáticas e
políticas criadas;

Aury afirma que, além de ser colocado em


um lugar que não é o seu, o juiz brasileiro
entra excessivamente contaminado, não
havendo originalidade cognitiva.

O professor considera que só existe


A obra reúne uma série de recentes estudos
contraditório real se houver igualdade
de Bernd Schünemann, catedrático de Direito
cognitiva do juiz, ou seja, se o juiz entrar de Penal, Direito Processual Penal e Filosofia
espírito livre, aberto, sem pré-contaminação do Direito da Universidade de Munique,
e pré-julgamento, ouvindo ambas as partes Alemanha. Os estudos cuidam de temas
variados: desde os fundamentos do direito
para depois decidir.
penal material, como o princípio da proteção
de bens jurídicos e da ultima ratio, e o papel
da vítima no direito penal e processual
penal, passando por temas dogmáticos,
como o conceito de dolo e o domínio do
fato por domínio da organização, até temas
processuais penais, que gravitam em torno
do questionamento a respeito da correta
repartição de papéis entre juiz e acusador.

21
Teoria da dissonância cognitiva 41:23

O professor afirma que ter que tomar


decisões sérias gera uma dissonância
no sistema cognitivo, que, por sua vez,
gera estresse e sofrimento. Por isso, há
48:57
uma tendência em utilizar-se atalhos Nós normalizamos o anormal
cognitivos (heurísticas e vieses) para funcionamento da justiça.
decidir rapidamente, a fim de sofrer-se
menos, buscando-se, somente depois, os
argumentos que justificam a decisão já
tomada.

EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO
49:10
São pontos indicadas pelo professor
Aury Lopes Júnior como provas da
crise do processo penal, exceto:
A ampliação dos espaços de
negociação.

A diminuição de pena com


abreviação de rito.

A aceleração da eficiência.

A punição do servidor ou juiz que


dá causa à mora processual.
Resposta desta página: alternativa 4.

22
AULA 2 • PARTE 1

LEITURAS INDICADAS
08:45
Livro: Autoritarismo e Processo
Penal

11:02
A dissonância/o viés
confirmatório se opera não
só na relação entre juiz da
investigação com juiz do
processo, mas também no
tribunal.

Escrita por Ricardo Jacobsen Gloeckner, a


obra examina cuidadosamente a formação
do pensamento tecnicista, que deu origem 11:13 Primitividade do processo penal
à codificação italiana de 1930 e que
posteriormente impregnou a formação do
O professor afirma que o processo penal
código de processo penal brasileiro de 1941.
Nesse sentido, a obra perquire cada uma brasileiro é primitivo, indicando algumas
das estruturas dos códigos, colocando-as de suas características:
em confronto, evidenciando que o processo
codificatório brasileiro se vale dos mesmos • O sistema processual penal é
conceitos herdados da tradição italiana. ultrapassado;
Demais disso, o livro pretende examinar as
diversas tentativas de reforma do código • A estrutura é inquisitória;
de processo penal brasileiro, demonstrando
que as reformas parciais foram uma solução • O juiz entra contaminado;
compartilhada pelos intelectuais envolvidos
em tais procedimentos. Por fim, pretende-se • A prevenção fixa a competência;
demonstrar como as categorias processuais
penais, oriundas de um clima político • O mesmo juiz atua em todas as fases
autoritário, foram capazes de se manter do processo;
intactas, mesmo com a Constituição de
1988. Para tanto, foi examinada a noção de • Há ausência de originalidade cognitiva;
instrumentalidade do processo e de como
ela contribuiu para que um processo penal • Há ausência de estética de
de linhagem autoritária permanecesse indene imparcialidade;
com o passar dos anos.
• Estrutura cênica ultrapasssada
(aproximação entre juiz e acusador); e

• O processo vira “golpe de cena”.

23
Crise do regime de liberdade 19:25

O professor refere que, no Brasil, há um


proceito em relação à liberdade penal/uma
certa dificuldade de se compreender que a
liberdade é a regra e a prisão é a exceção
cautelar, e, portanto um esvaziamento
32:37 Princípios do processo penal I
normativo e de prática da presunção de
inocência. Tem autores que entendem que
É mencionada pelo professor como
o nível de evolução civilizatória de um país
primeiro princípio do processo penal a
se mede pela eficácia da presunção de
jurisdicionalidade, consistente no direito
inocência (tratar a pessoa como inocente até
de ser julgado, em um processo, por um
o trânsito em julgado).
juiz imparcial, natural, com competência
O professor refere que a presunção de preestabelecida por lei, em um prazo
inocência é um termômetro dos elementos razoável. Essa garantia decorre da própria
autoritários do processo penal. O Brasil tem exclusividade do órgão jurisdicional, que é
uma Constituição formalmente democrática, o único legitimado a impor a pena. Mesmo
mas tem, também, substancialmente, em um sistema de justiça negocial, a
práticas autoritárias, como o próprio pena será fixada pelo juiz. Deste princípio
processo penal. A prática recorrente da decorrem os subprincípios:
banalização da prisões cautelares acaba por
• Juiz natural: juiz cuja competência
ferir a presunção de inocência.
deve estar preestabelecida em lei.
No Brasil, demorou muito tempo para se
• Imparcialidade: somente existe em
compreender que a prisão em flagrante não
uma estrutura processual acusatória,
se trata de prisão cautelar, mas de prisão
que mantenha o juiz afastado das
precária, que deve ser reexaminada em
atividades inerentes às partes. Por isso,
24h. Ninguém pode ficar preso em razão
não deve o juiz ter iniciativa probatória,
de prisão em flagrande. Para que o sujeito
ou, ainda, determinar, de ofício, a
continuae preso após as 24h, a prisão deve
produção de provas.
ser convertida em preventiva.
• Prazo razoável: o professor aduz que o
Há, ainda, um problema relacionado à
prazo razoável no processo exige uma
duração razoável da prisão preventiva. Para
recusa aos dois extremos. Não se pode
Aury, a preventiva deveria ter prazo máximo
acelerar demais, para não atropelar
estabelecido em lei. O professor menciona,
direitos e garantias fundamentais,
também, o dever de revisar periodicamente
assim como não se pode ir devagar
a medida, previsto no parágrafo único do
demais. É preciso haver prazos com
art. 316 do CPP, incluído pela Lei 13.964/19,
sanção, porque prazos sem sanção
que foi inobservado pelo STF, ao revogar o
equivalem-se à ineficácia.
afastamento da prisão preventiva de André
do rap, entendendo que o transcurso do
prazo previsto no dispositivo normativo
(que obriga o magistrado a rever a prisão
preventiva a cada 90 dias) não acarreta,
automaticamente, a revogação da prisão
preventiva.

O art. 315 do CPP define um stardard mínimo


de qualidade do ato decisório que se aplica
não só à prisão cautelar, mas a qualquer
decisão. O professor faz uma crítica ao art.
492, inc. I, alínea “e”, do CPP, alterado pela
Lei 13.964/19, que prevê a possibilidade de
prisão automática em 1º grau, no júri.

24
LEITURAS INDICADAS
37:23
Livro: Princípio do Juiz Natural
no Processo Penal

LEITURAS INDICADAS
51:13
Livro: Uma breve história do
tempo

Escrita por Adelino Marcon, a obra trata de


um dos mais importantes institutos do direito
processual penal: o princípio do juiz natural.
Nela o autor demonstra, com profundidade,
que o réu tem o direito de ser julgado pelo
juiz então competente, no tempo do fato
ensejador da imputação penal, por tratar de
garantia de caráter constitucional. Assim,
a criação de novas varas criminais, ou a
sua especialização, nomeações aleatórias,
desaforamentos, redistribuições etc, não Stephen Hawking guia o leitor na busca por
podem alcançar situações anteriores, sob respostas a algumas das maiores dúvidas
pena de nulidade absoluta do processo. da humanidade: qual a origem do universo?
Ele é infinito? E o tempo? Sempre existiu,
ou houve um começo e haverá um fim?
Existem outras dimensões além das três
espaciais? E o que vai acontecer quando tudo
terminar? Com ilustrações criativas e texto
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO lúcido e bem humorado, Hawking desvenda
52:00 desde os mistérios da física de partículas
até a dinâmica que movimenta centenas de
Quais são os critérios para definição milhões de galáxias por todo o universo.
de prazo razoável?

Complexidade do caso, atividade


processual do interessado e
conduta das autoridades judiciárias.

Complexidade do caso e conduta


das autoridades judiciárias.

Complexidade do caso, atividade


processual do juiz e conduta das
Resposta desta página: alternativa 1.

autoridades judiciárias.

Complexidade do caso, atividade


processual do juiz, lugar onde se
localiza o processo e conduta das
autoridades judiciárias.

25
AULA 2 • PARTE 2

Princípios do processo penal II 00:25

Aury inicia a segunda parte da aula dando


seguimento à análise sobre o prazo razoável
do processo. Leciona que o processo penal
brasileiro contempla diversos prazos (para 33:03 Princípios do processo penal III
conclusão de inquérito policial, oferecimento
de denúncia, etc.), mas sem sanção, Deve-se buscar o difícil equilíbrio, evitando
afirmando que, à vista disso, o Brasil adota a demora excessiva no processo, mas
a “teoria do não prazo”. Para o professor, o também não admitindo o atropelo das
ideal seria a fixação de um prazo legal para a garantias fundamentais em nome da
conclusão do processo. pressa em punir. Para o professor, a
solução passa por:
Na falta de um prazo máximo de duração do
processo, o Tribunal Europeu dos Direitos 1. Definição de um marco normativo
Humanos e a Corte Interamericana de interno que defina a duração máxima
Direitos Humanos adotam a teoria dos três do processo e da prisão cautelar;
critérios:
2. As soluções compensatórias são
1. Complexidade do caso; insuficientes e produzem pouco efeito
inibitório, devendo se estabelecer uma
2. Atividade processual do interessado;
solução processual extintiva; e
3. Conduta das atividades judiciárias
3. Deve-se agilizar o processo penal
(polícia, Ministério Púbico, juízes e
com a diminuição dos tempos mortos,
tribunais).
de tempos burocráticos, através da
Esses três elementos devem passar pelo inserção de tecnologia e otimização
filtro da “Razoabilidade”, para afirmar-se dos atos cartorários.
se houve uma dilação indevida ou não. Foi
analisando esses referenciais que a Corte
Interamericana de Direitos Humanos – no
caso Ximenes Lopes – condenou o Brasil,
entre outras, pela violação do direito de ser EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO
julgado em um prazo razoável. 33:30
Segundo o professor Aury Lopes
Reconhecida a demora jurisdicional, o
Júnior, qual é o principal princípio
Tribunal Europeu propõe quatro soluções: do processo penal?
1. Compensatória cível: fixação de uma
Identidade.
indenização. O professor Aury aduz que
essa alternativa não tem eficácia – não
Imparcialidade.
há sentido em submeter a parte a outro
Resposta desta página: alternativa 3.

processo;
Jurisdicionalidade.
2. Compensatória penal: atenuação da
pena, perdão judicial etc.; Necessidade.

3. Processual: seria a melhor solução seria


a extinção do feito, mas não há previsão
legal no CPP; e

4. Sancionatória: punição administrativa do


servidor público responsável pela dilação

26
indevida.
Princípios do processo penal IV 34:05

O professor passa à análise do segundo


princípio do processo penal, o acusatório,
que é o núcleo fundante do sistema 36:54
Não adianta você ter uma
acusatório. Esse princípio se estabelece a
separação inicial das funções
partir de uma característica básica: a gestão
de acusar, julgar e defender
da prova. Quando há radical separação de
se depois você permitir uma
funções e gestão da prova nas mãos das confusão de papéis, leia-se:
partes, tem-se a observação do princípio permitir que o juiz atue de
acusatório. Por outro lado, quando há ofício.
mistura de funções, confusões de papéis e
gestão da prova nas mãos do juiz, tem-se
o princípio inquisitivo, que funda o sistema
inquisitório. Aury afirma, ainda, que para
haver princípio acusatório, é preciso retomar
a máxima “ne procedat iudex ex officio” (juiz 40:46 Só é possível ter contraditório
não atua de ofício), princípio fundante. se você tiver sistema acusatório,
se você tiver radical separação.
O professor relembra algumas características
E com isso você vai ter
do sistema inquisitório, antítese do sistema
originalidade cognitiva.
acusatório:

• Gestão/iniciativa probatória nas mãos


do juiz (figura do juiz ator e do ativismo
judicial = princípio inquisitivo);

• Ausência de separação das funções de ENTRETENIMENTO


acusar e julgar (aglutinação das funções 44:34
nas mãos do juiz); Filme: Os fantasmas de Goya
• Violação do princípio ne procedat iudex
ex officio, pois o juiz pode atuar de ofício
(sem prévia invocação);

• Juiz parcial;

• Inexistência de contraditório pleno; e

• Desigualdade de armas e oportunidades.

O sistema acusatório, por sua vez, é


caracterizado por:

• Gestão/iniciativa probatória nas mãos


das partes (juiz espectador = princípio
Nos primeiros anos do século XIX, em meio
acusa­tório); ao radicalismo da Inquisição e à iminente
invasão da Espanha pelas tropas de Napoleão
• Radical separação das funções de acusar Bonaparte, o gênio artístico do pintor
e julgar (durante todo o processo); espanhol Francisco Goya é reconhecido na
corte do Rei Carlos IV. Inés, a jovem modelo e
• Observância do princípio ne procedat musa do pintor, é presa sob a falsa acusação
iudex ex officio; de heresia. Nem as intervenções do influente
Frei Lorenzo, também retratado por Goya,
• Juiz imparcial; conseguem evitar que ela seja brutalmente
torturada nos porões da Igreja. Esses
• Pleno contraditório; e personagens e os horrores da guerra, com os
seus fantasmas, alimentam a pintura de Goya,
• Igualdade de armas e oportunidades testemunha atormentada de uma época
(tratamento igualitário). turbulenta.

27
LEITURAS INDICADAS
45:15
Livro: Malleus maleficarum

52:11 Princípios do processo penal V

Muitos sustentam que o Brasil adota o


sistema misto. O professor aduz que
sistemas puros são tipos históricos e que, a
certa altura, todos os sistemas são mistos,
porque alternam maior ou menor eficácia
de um ou outro elemento satelitário
orbitando em torno do núcleo, que está
demarcado. Ou seja, ainda que o sistema
seja “misto”, há um núcleo fundante: o
Também chamado de “o martelo das
princípio, que, por sua vez, não pode ser
feiticeiras”, foi o mais célebre manual redigido
durante o período de “caça às bruxas” da misto, ou é inquisitivo ou é acusatório.
Idade Média. A inflamada epidemia que
perseguiu e condenou mulheres, fosse por Aury entende que o Brasil possui um
seus conhecimentos ou comportamentos que sistema penal brasileiro misto inquisitório
fugissem aos padrões morais e religiosos da ultrapassado e que esse pensamento esse
época, fosse por pura vingança e misoginia, é pensamento tradicional de sistema misto
uma mancha na história da humanidade.
deve ser revisado porque:

• É reducionista, na medida em que


atualmente todos os sistemas são
mistos, sendo os modelos puros
apenas uma referência histórica; e

• Por ser misto, é crucial analisar qual


EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO o núcleo fundante para definir o
53 predomínio da estrutura inquisitória
É característica básica do sistema ou acusatória, ou seja, se o princípio
acusatório: informador é o inquisitivo ou o
acusatório.
A gestão da prova nas mãos das
partes.

Aglutinação de funções.

Inexistência de contraditório pleno.

Nenhuma das alternativas.


Resposta desta página: alternativa 1.

28
AULA 2 • PARTE 3

Princípios do processo penal VI 00:42

O princípio da presunção de inocência


consiste em tratar o réu como inocente até o
trânsito em julgado da sentença penal. Tem
uma dimensão interna e outra externa. A
interna significa tratar o réu como inocente 01:51
O bizarro espetáculo midiático
dentro do processo, enquanto a externa é incompatível com a presunção
corresponde ao dever de tratamento como de inocência.
inocente atribuído a quem está “de fora” do
processo. Portanto, em suma, a norma de
tratamento dentro e fora do processo é a
manifestação da presunção de inocência.

Aury menciona a problemática da


condenação prévia pela mídia: há uma
LEITURAS INDICADAS
02:59
tensão constante entre presunção de
Livro: Justiça: o que é fazer a
inocência, dignidade, imagem, vida privada
coisa certa?
e liberdade de imprensa, informar e ser
informado.

LEITURAS INDICADAS
03:24
Livro: A tirania da comunicação

Publicado em 2009 e escrito por Michael


J. Sander, professor da Universidade
de Harvard, o livro é uma exploração
investigativa e lírica do significado de justiça
que convida os leitores de todas as doutrinas
políticas a considerar as controvérsias
familiares de maneira nova e iluminada.
Ação afirmativa, casamento entre pessoas
do mesmo sexo, suicídio assistido, aborto,
serviço militar, patriotismo e protesto, os
limites morais dos mercados — Sandel
dramatiza o desafio de meditar sobre esses
De autoria de Ignacio Ramonet, jornalista conflitos e mostra como uma abordagem
e sociólogo galego, a obra analisa as mais firme da filosofia pode nos ajudar a
consequências da ascensão da mídia entender a política, a moralidade e também
audiovisual como mídia dominante, para a as nossas convicções.
informação, para os meios de comunicação
e para o mundo empresarial. Conclui
demonstrando que os jornais simplificaram
seu discurso no momento em que o
mundo tornou-se mais complicado - daí a
necessidade de situar melhor a informação.

29
LEITURAS INDICADAS
04:04
Livro: Processo penal do
espetáculo

04:12 Princípios do processo penal VII

A segunda perspectiva da presunção de


inocência é a presunção de inocência
enquanto norma probatória. A partir
da presunção de inocência, dentro da
dimensão probatória, não se pode atribuir
carga probatória ao réu.

O professor refere que é importante


estudar a diferenciação entre ato de
investigação e ato de prova. O primeiro
Obra de autoria de Rubens Casara, juiz
de direito do Tribunal de Justiça do é ato meramente informativo, enquanto
Estado do Rio de Janeiro. São analisadas o segundo refere-se àquilo que é feito
as características do processo penal do no processo, na frente do juiz, com
espetáculo, a dimensão política da dogmática
observação ao contraditório, à públicidade
penal e diversos fenômenos que fazem do
sistema de justiça penal um local privilegiado e aos demais princípios. Somente a prova
de luta pela consolidação da democracia. pode atingir a presunção de inocência.
Trata-se da garantia de ser julgado por
prova, produzida no processo.

Por último, a presunção de inocência gera


uma regra de julgamento para o juiz:

• In dubio pro reo: havendo dúvida


razoável, absolve-se.

PALAVRAS-CHAVE
08:02

Standar probatório: critério para


aferir a suficiência probatória. Em
última análise, é o quanto de prova é
necessário para proferir uma decisão.
É, também, o grau de confirmação
que será exigido da hipótese
acusatória. É o grau mínimo de prova
exigido para se considerar provado.
Para Susan Haack, professora de 09:08
Stardard probatório é uma
direito e filosofia da universidade de escolha de política processual
Miami, standar é o “grau de confiança” que oscila conforme a evolução
que a sociedade crê que o juiz deveria
ou involução e as opções de
ter ao decidir.
política processual de influência,
de influxo, de elementos
autoritários ou democráticos.

30
PALAVRAS-CHAVE
10:50

Epistemologia: ramo da filosofia, que


tem por foco a relação entre sujeito
e objeto (na interação que se dá,
PALAVRAS-CHAVE
11:19
na valoração que o sujeito faz em
relação à uma circunstância/à uma Epistemologia probatória: tem por
situação). Busca analisar a capacidade foco a capacidade de apreensão do
de apreensão do ser que observa em crime enquanto um fato complexo
relação ao objeto observado. passado e a reprodução dele no
processo, enquanto verossimilhança/
capacidade de trazer/reconstruir
minimamente aquele passado.

No processo penal, 15:14


principalmente, não é
suficiente que uma parte
produza melhores provas que 15:24 Stardards probatórios I
a outra.

São quatro stards probatórios,


correspondentes a quatro níveis de
exigência probatória:

• Prova clara e convincente (clear and


convincing evidence): não é utilizado
Com as devidas cautelas, é 16:50 no processo penal, por ser frágil;
possível pensar no standard • Prova mais provável que sua negação
de prova, como algo que
(more probable than not): pode ser
amplia direitos e garantias
um critério subsidiário/acessório, mas
fundamentais, quando se
jamais fundante;
pensa em maior nível de
exigência para condenar. • Preponderância da prova
(preponderance of the evidence):
é preocupante, porque pode se
relacionar à prova tarifada, acabando
com o livre convencimento e com a
LEITURAS INDICADAS liberdade probatória; e
18:08
• Prova além da dúvida razoável (beyond
Artigo: “Para além do BARD: uma crítica à
a reasonable doubt): esse critério
crescente adoção do standard de prova “para
passou a ser utilizado no processo
além de toda a dúvida razoável” no processo
penal brasileiro. Aury entende ser
penal brasileiro”, de Janaina Roland Matida e
sustentável a adoção de standards de
Antonio Vieira.
prova no Brasil, quando se pensa na
necessidade de haver prova além da
dúvida para que haja condenação, sem
deixar de conhecer as críticas feitas ao
LEITURAS INDICADAS critério, por outros estudiosos. Aury
18:25
destaca que a dúvida razoável deve
Artigo: “Standard probatório para
se referir a dados relevantes (não é
condenação e dúvida razoável no processo
imaginária ou meramente possível)
penal: análise das possíveis contribuições ao
e que deve-se, também, analisar o
ordenamento brasileiro”, de Vinicius Gomes
conjunto probatório.
de Vasconcellos.

31
LEITURAS INDICADAS
20:43
Artigos: “A quem serve o paradigma do
‘homem médio’?” e “Ainda sobre a figura
do ‘homem médio’: por que é preciso
Standards probatórios II 24:18
abandoná-la?”, de Marina Cerqueira.
No Brasil, existe uma prática sistemática
de rebaixamento do nível de exigência
probatória para determinados crimes. O
professor aduz que isso é inconstitucional e
insustentável porque os tribunais brasileiros
construíram uma doutrina errada de que,
para determinados crimes, pode-se condenar
com menos prova do que normalmente se 25:16
Eu não posso condenar por
exigiria para o restante dos crimes. convicção, eu não posso
O CPP prevê a possibilidade de exigir-se condenar por indícios, eu
menos prova (indícios razoáveis, indícios preciso de prova. Prova robusta,
suficientes, etc.), conforme a fase do
sólida, forte, lícita, além de
qualquer dúvida razoável.
procedimento, não para sentença final. Como
exemplo de rebaixamento, o professor cita
o art. 413 do CPP, que preceitua que “O juiz,
fundamentadamente, pronunciará o acusado,
CURIOSIDADE
se convencido da materialidade do fato e da 33:00
existência de indícios suficientes de autoria
Elizabeth Loftus
ou de participação”. Destaca, ainda, que o
rebaixamento conforme a natureza do crime
é um erro, porque a presunção de inocência
não é mais robusta ou mais frágil conforme o
tipo de crime.

O professor menciona alguns crimes que,


para ele, têm sido valorados erroneamente:

• Crimes contra o patrimônio, mediante


Elizabeth F. Loftus é uma psicóloga
violência ou grave ameaça;
cognitiva americana especializada na
• Tráfico de drogas; memória humana. Ela coordenou diversas
pesquisas sobre a maleabilidade da memória
• Crimes sexuais; e
e é conhecida pelas suas descobertas
• Violência doméstica. inovadoras sobre o efeito da desinformação
e a memória de testemunhas oculares, bem
como a criação de falsas memórias, como
aquelas relacionadas a abuso sexual infantil.
Seu trabalho envolve também a aplicação de
Prova é efetivamente algo que 37:44 pesquisas no meio legal, onde ela consulta
tem que ser analisado no seu ou providencia testemunhos para milhares
conjunto, na sua credibilidade, de casos.
dentro de um sistema, de um
conjunto e contraditório etc.

32
Princípios do processo penal VIII 44:10

Previstos no art. 5º, LV, da CB, o contraditório


e a ampla defesa são princípios distintos,
mas, dada a íntima relação e interação,
estudados juntos. O contraditório nos remete LEITURAS INDICADAS
47:53
às lições de Fazzalari, em suma, de igualdade
de tratamento e oportunidades no processo. Livro: O Que é Isto Decido
Conforme Minha Consciência?
O professor chama a atenção ao direito
de defesa: ninguém pode ser acusado
ou julgado sem defensor (constituído
ou dativo), exercida por advogado
habilitado, diante da presunção absoluta de
hipossuficiência técnica do réu (arts. 261 do
CPP; 5º, LXXIV, e 134 da CB; 8.2 da CADH).
Diz, ainda, que é possível o contraditório
no inquérito policial, mas restrito ao seu
primeiro momento (informação).

Escrito por Lenio Luiz Streck, o livro é


um libelo contra as diversas formas de
FUNDAMENTO IV decisionismo. Ou seja, as decisões judiciais
47:59 não devem ser tomadas a partir de critérios
pessoais, isto é, da consciência psicologista
Fundamentação das decisões
do intérprete. Na democracia – diz Lenio –
judiciais não cabe mais dizer entre a lei e a minha
O professor chama a atenção ao art. 315, § consciência, opto pelo meu sentimento do
2º, do CPP, que estabelece o novo standard justo que está na minha consciência. É por
tais razões que o título é uma indagação, que
de qualidade da fundamentação das
procura ser respondida no decorrer desta
decisões. obra.

33
AULA 3 • PARTE 1

Código Processual Penal Brasileiro 01:38

Ao falar de processo penal contemporâneo


e fundamentos do processo penal, o
professor Marcos Eberhardt destaca que
é sempre importante entender qual é
o ponto de partida, ou seja, a ideia do 03:44 O Código de Processo Penal
contexto, a crise que passamos e os quais teve poucas modificações que
são os caminhos. pudessem impactar no dia a dia
do processo penal.
• Contexto: inspiração do Código de
Processo Penal Brasileiro, da década
passada, que passou por poucas
modificações;

• Crise: perda do fundamento de CURIOSIDADE


existência do processo penal; 04:42

• Caminhos: dentre eles, está uma Jacinto Coutinho


mudança cultural na forma de pensar
o processo judicial e como os atores
jurídicos entendem o processo penal.

LEITURAS INDICADAS
04:47
O professor Marcos Eberhardt indica a leitura Advogado criminalista, Jacinto Nelson de
do artigo “O papel do novo Juiz no Processo Miranda Coutinho é membro da Comissão de
Penal”, de Jacinto Coutinho, que pode ser Juristas do Senado Federal, que elaborou o
acessado clicando aqui. Anteprojeto de Reforma Global do Código
de Processo Penal, hoje Projeto 156/2009.
Também participa da Rede de Direito
Público Brasil-Itália-Espanha (REDBRITES)
e é presidente de Honra e Pesquisador do
Observatório da Mentalidade Inquisitória.
Exposição de motivos do CPP 06:00
Como autor, publicou diversos títulos de
Direito, Psicanálise e Estudos Constitucionais.
O professor retoma a motivação e o que
Seu livro “A Lide e o Conteúdo do Processo
se pensava sobre o processo penal e sobre
Penal” é considerada a mais bem acabada
o Código de Processo Penal na década de
síntese de uma crítica brasileira relativa ao
40, ou seja, a carga política e jurídica que
Processo Penal.
possuía nesse período histórico.

Durante a década de 30, o ministro


Francisco Campos construiu o Código de
Processo Penal Brasileiro a partir do código
italiano criado por Alfredo Rocco, conhecido
como Código de Rocco.

34
Exposição de motivos do CPP 06:00
(continuação)

Na década de 40, o Código de Processo


Penal era entendido como um “extenso
catálogo de garantias e favores”. Mais do
que isso, existia uma primazia injustificável PALAVRAS-CHAVE
08:25
do interesse do indivíduo sobre a tutela
social. De acordo com o texto, as nulidades Alicantinas: De acordo com Marcos
no processo penal “devem ser reduzidas ao Eberhardt, representam modos de
mínimo”, pois não é possível depender de desvirtuamento, ou seja, fraudes,
meandros técnicos, sendo “coibido o êxito combinados que poderiam levar a uma
das fraudes, subterfúgios e alicantinas”. A nulidade dentro do processo penal.
principal ideia do Código de Processo Penal
da década de 40, portanto, era acabar com
as nulidades no Processo Penal.

A decretação da prisão preventiva, de


12:19 Sistema acusatório
acordo com o texto do ministro Francisco
Campos, “em certos casos, deixa de ser uma O professor argumenta que o Código de
faculdade”, passando a ser um dever imposto Processo Penal, com vigência da década
ao juiz, que deixa de ser um espectador, de 40 até os dias de hoje, caminha em um
inerte na produção da prova, e passando a retrocesso, uma vez que pressupõe utilidade
ter um peso ativo na produção probatória. (o útil é o verdadeiro), rapidez, objetividade
e uma busca pela verdade, em que vem a
ideia de nulidade vinculada à procrastinação,
prisão como regra e que o recurso vai
A Constituição da República impactar o processo do ponto de vista
13:32
Federativa do Brasil, de 1988, temporal e que, portanto, é preciso reduzir
traz, inerente a uma soma de as medidas impugnativas.
princípios, regras e normas, uma Na contramão disso, de acordo com o
ideia em relação ao sistema professor, está a Constituição Federal de
acusatório de processo penal. 1988. No texto, a ideia de sistema acusatório
consta no inciso I do artigo 129, e tem como
premissa de que está exclusivamente nas
mãos do Ministério Público o exercício da
O nosso Código de Processo 17:32
ação penal, ou seja, o poder de punir. O
Penal ainda é materialmente
sistema acusatório do Código de Processo
inquisitório.
Penal, por outro lado, possui um princípio
unificador, que consiste na gestão da prova
entre o juiz e as partes.

O professor Marcos explica que o artigo 156


LEITURAS INDICADAS do Código de Processo Penal ainda deixa
18:19
nas mãos do magistrado a possibilidade de
Para maior entendimento acerca do sistema
produzir provas de ofício, principalmente
acusatório, o professor Marcos Eberhardt
quando tem alguma dúvida antes de proferir
sugere a leitura complementar do artigo que
a sentença. Fica evidente, portanto, a
escreveu juntamente com Alexandre Bizzoto
contradição da ideia do Código de Processo
e Augusto Jobim, intitulado “Sistema
Penal, pois ao mesmo tempo que a gestão
Acusatório: (Apenas) Uma Necessidade do
da prova está nas mãos das partes, também
Processo Penal Constitucional”. O material
está nas mãos do magistrado, criando-se um
pode ser acessado na seção de artigos do
paradoxo a ser enfrentado.
Livro da Disciplina ou clicando aqui.

35
Como garantir que, 24:17
efetivamente, [o juiz] não
esteja, ao produzir provas,
na verdade, contrariando
a ideia do fundamento de
existência do processo penal
contemporâneo? 24:56 Na visão dos tribunais, a ideia
do sistema acusatório não
permite um juiz como um mero
espectador.

Artigo 212 25:30

Dentro da ideia de gestão da prova entre


o juiz e as partes, e para poder trabalhar
institutos mais concretos em relação ao
que o processo penal proporciona e,
também, entender como que o processo
penal evolui, — se é que evolui — e EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO
28:00
como a jurisprudência acompanha isso,
o professor Marcos argumenta sobre a Sobre a exposição de motivos do
importância de alguns institutos, como Codigo de Processo Penal, assinale
o artigo 212 do Código de Processo
a alternativa correta:
Penal, de 2008, que altera o sistema de
Na década de 40, era entendido
perguntas às testemunhas, que até antes como um “extenso catálogo de
da criação do artigo, independentemente garantias e favores”.
se arroladas pela acusação ou pela defesa,
as perguntas eram feitas ao magistrado, De acordo com o texto, as nulidades
que reperguntava às testemunhas, no processo penal “devem ser
compondo um sistema conhecido como reduzidas ao mínimo”.
presidencialista.
A decretação da prisão preventiva,
Esse sistema foi superado em uma mini- “em certos casos, deixa de ser uma
reforma do ano de 2008, que alterou faculdade”.
tópicos em relação à prova penal,
procedimentos do júri, entre outros Todas as alternativas estão corretas.
procedimentos dentro do Código de
Processo Penal. As perguntas, portanto,
passavam a ser feitas pelas partes
diretamente às testemunhas.
Resposta desta página: alternativa 4.

36
AULA 3 • PARTE 2

Artigo 212 (continuação) 00:00

O professor Marcos Eberhardt segue


a discussão sobre a participação do
magistrado na gestão da prova dentro
do contexto do artigo 212 do Código de
Processo Penal. 03:27 Sendo uma reforma parcial,
não é uma reforma total, e não
sendo uma reforma total, não é
uma reforma cultural.

Já que os fundamentos de 05:25


existência do processo penal
estão sendo diuturnamente
desrespeitados, evidentemente
que uma subversão de institutos
no processo penal tende a
acontecer com regularidade. Dentro de um ano de vigência
06:30
do artigo 212, ele já sofreu uma
interpretação completamente
diversa daquela proposta
literalmente pela lei.

Há algumas tentativas 09:40


de explicação da própria
jurisprudência para tentar dizer
algo diferente para justificar
uma subversão ao sistema
acusatório.
12:19 Pacote anticrime

Seguindo a ideia de tirar das mãos do


magistrado a gestão da prova, o professor
Marcos discute que um dos acertos do
Pacote Anticrime é o Artigo 3º-A, que
argumenta que “o processo penal terá
O Pacote Anticrime traz uma 16:24 estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do
reforma parcial de alguns juiz na fase de investigação e a substituição
institutos dentro do Código da atuação probatória do órgão de
de Processo Penal. acusação”. O Supremo Tribunal Federal,
no entanto, por decisão do Ministro Luiz
Fux, suspendeu, entre outros artigos como
instituto do juiz de garantias, o Artigo 3º-A.

37
Controle da decisão judicial 17:55

O professor Marcos comenta sobre


complexidade acerca do controle da
decisão judicial. Ele explica que quando
trabalhada no Brasil, a ideia do controle 17:56 Dentro da ideia de estrutura
judicial acontece em dois momentos: acusatória e poderes do
magistrado, sempre foi um
• Controle à propria decisão, em que o problema, uma complexidade,
magistrado é obrigado a fundamentar “um vácuo” a ideia de controle
sua decisão, de acordo com o Artigo da decisão judicial.
93, inciso 9º da Constituição Federal;

• Ao passo em que é publicada a decisão,


o controle que se faz da decisão é
o controle recursal à outro órgão LEITURAS INDICADAS
19:19
judiciário, que vai reavaliar a decisão.
Livro: O Que é Isto? Decido
Conforme Minha Consciência

LEITURAS INDICADAS
20:52
Livro: O Ponto Cego do Direito:
The Brazilian Lessons

Obra publicada originalmente em 2019,


em que o professor Lenio Streck trabalha
a questão livre conhecimento, a busca
da verdade e a ideia do “útil como o
verdadeiro” no processo penal.

Obra publicada em 2013, em que o professor


Rui Cunha Martins trabalha a prova no
processo penal a partir do Brasil e a ideia de 22:34 A palavra ‘evidente’ é utilizada,
evidência como desamor ao contraditório. em muitos casos, para indefinir
pedidos de prova da defesa.

Nós estamos aqui, na verdade, 27:20


caminhando para um controle
das decisões judiciais, e é isso
que nos importa no processo
penal. Para que tenhamos uma
segurança maior em relação ao 27:49 Toda vez que se fala de livre
livre convencimento. convencimento, se fala, também,
de verdade.

38
AULA 3 • PARTE 3

Identidade física do juiz 00:00

Consta no Art. 399 , § 2º do Código de


Processo Penal, e diz que o juiz que foi
responsável pela instrução, deverá, no
processo penal, proferir sentença.
03:05 A ideia é concentrar os atos
A identidade física, de acordo com o
procedimentais em uma só
professor, é a ideia de permitir que dentro
audiência.
do contraditório, ou seja, o juiz que tenha
sentido o contraditório, que tenha validado
os atos das partes em contraditório,
seja responsável pelo provimento final,
influenciado pela atuação das partes do
direito penal. 06:32 É inerente à atividade do juiz
natural que eu, como magistrado,
A identidade física tem vinculação com o
fundamente nos autos por que
princípio da concentração, ou seja, de que
que eu não vou proferir sentença
a maioria dos atos procedimentais deve
naquele processo.
se concentrar perante o juiz de origem
e, quanto mais possível, em apenas uma
audiência. O professor discorre sobre
o Art. 280, que faz parte do projeto de
reforma do Código de Processo Penal, que
pontua que “o juiz que presidiu a instrução 09:16 Você quer um processo penal
deverá proferir a sentença, salvo se estiver em que a forma é garantia ou
convocado, licenciado, afastado por motivo um processo penal em que a
independente da sua vontade, promovido forma é meramente um meio
ou aposentado, casos em que passará os para chegar na sentença?
autos ao seu sucessor”.

Toda vez que eu tenho acesso 14:16


livre, eu estou perdendo o
controle sobre aquela prova.

18:20 Precisamos de uma metodologia


para extração de dados de
eletrônicos.

O Supremo Tribunal Federal 21:30


não enfrenta o tema da
licitude da prova.

39
É esse juiz que não pode 22:46
tudo que é o juiz esperado
pelo sistema acusatório.

25:42 Cadeia de custódia

Dentro do Código de Processo Penal, o


professor destaca como um dos acertos do
Pacote Anticrime uma disciplina da cadeia
LEITURAS INDICADAS de custódia da prova no processo penal,
27:21
no Art. 158, que explica do que se trata a
O professor indica a leitura do texto
cadeia de custódia e o tudo que deve ser
“Quebra de sigilo de dados e das
feito em relação às provas e aos vestígios
comunicações telefônicas: o dever estatal
do processo penal brasileiro, concluindo-se
de preservação da fonte de prova”, de
a importância da fiabilidade da prova para
Assusete Magalhães. O material pode ser
o processo penal.
acessado na seção de artigos do Livro da
Disciplina ou clicando aqui. De acordo com Art. 158-A, “considera-se
cadeia de custódia o conjunto de todos
os procedimentos utilizados para manter
e documentar a história cronológica do
vestígio coletado em locais ou em vítimas
Ilicitude da prova 27:45 de crimes, para rastrear sua posse e
manuseio a partir de seu reconhecimento
O professor Marcos explica que na até o descarte”.
década de 40, o Código de Processo
Penal abandona o sistema da prova
legal, passando a adotar a ideia do livre
39:00 A ideia do Pacote Anticrime é
convencimento motivado.
justamente a preservação da
O Recurso Extraordinário 85.439 do imparcialidade do julgador, a
ministro Xavier de Albuquerque, de preservação da jurisdição.
1977, referente a gravações de conversas
telefônicas utilizadas por um cônjuge
para demonstrar adultério, serve como
precedente inicial para o STF lidar com o
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO
40:00
tema da ilicitude da prova.
“O juiz que presidiu a instrução
Em 1987, o STF volta a se manifestar deverá proferir a sentença, salvo
sobre ilicitude da prova e reafirma a ideia se estiver convocado, licenciado,
de inadmissibilidade da prova, e não da
afastado por motivo independente
da sua vontade, promovido ou
possibilidade de que o juiz possa, dentro
aposentado, casos em que passará
do livre convencimento, administrar
os autos ao seu sucessor”. O texto
questões ilegais com relação à obtenção
diz respeito:
da prova.
Resposta desta página: alternativa 1.

Ao Art. 280.
Com a chegada da Constituição Federal de
1988, através do Art. 5, trabalha-se a ideia
Ao Art. 399.
de que são inadmissíveis as provas obtidas
por meios ilícitos.
Ao Art. 158-A.

Ao Art. 212.

40
AULA 3 • PARTE 4

PALAVRAS-CHAVE
00:37

Código de Processo Penal de 1941:


Decreto-lei imposto por Getúlio
Vargas durante o Estado Novo com
o objetivo de regular os direitos e CURIOSIDADE
garantias processuais dos cidadãos 00:45
acusados de crime. É conhecido Francisco Campos
por conter traços de um regime
totalitário para coibir quaisquer
comportamentos adversos e buscar a
condenação a qualquer custo.

PALAVRAS-CHAVE
01:39
Um dos mais principais ideólogos da direita
Artigo 129 da Constituição Federal: no Brasil. Foi nomeado ministro da Justiça
Dispõe sobre as competências dias antes do golpe que impôs o Estado
do Ministério Público como órgão
Novo e foi encarregado por Getúlio Vargas
fiscalizador. Em seu inciso I, atribui
como função institucional da entidade de elaborar a nova Constituição do país.
“promover, privativamente, a ação Também foi responsável pela elaboração do
penal pública, na forma da lei”. novo código penal e de um novo código de
processo penal (1941).

PALAVRAS-CHAVE
01:39

Principiologia: Conjunto de
princípios que regem determinada
área, ofício ou atividade.
Representa as fontes fundamentais,
o alicerce de uma matéria.
PALAVRAS-CHAVE
02:39

PLS 8.045/2010: Projeto de tramita


na Câmara dos Deputados e tem
o objetivo de reformar o Processo
Penal brasileiro, com a instituição de
novo código. O projeto é dividido em
seis livros: da persecução penal, do
processo e dos procedimentos, das
medidas cautelares, das ações de
impugnação, das relações jurisdicionais
com autoridade de estrangeira e
disposição finais.

41
06:38 Transação penal

Instituída pela Lei 9.099/95, em seu


artigo 76, a transação penal é uma
PALAVRAS-CHAVE espécie de acordo realizado entre
09:04 o acusado e o Ministério Público,
no qual o acusado aceita cumprir
Juizado Especial Criminal: Órgão as determinações e as condições
da Justiça responsável por realizar propostas pelo promotor em troca
conciliações, processos e julgamentos do arquivamento do processo. Aqui,
de infrações penais de menor potencial
a pena é antecipada e aplicada em
ofensivo, com o objetivo de agilizar
a resolução do processo, bem como forma de prestação de serviços à
reparar o dano causado à vítima, comunidade ou multa pecuniária, por
através de um acordo. exemplo.

Desta forma, não há condenação, o


processo é encerrado sem análise da
PALAVRAS-CHAVE questão e o acusado continua sem
09:04
registros criminais.

Fonaje: Sigla para Fórum Nacional de Pode ganhar este benefício aquele que
Juizados Especiais. Criado em 1997, estiver respondendo a um processo
tem o intuito de reunir coordenadores de competência do Juizado Especial
estaduais dos Juizados Especiais
Criminal, com bons antecedentes e
Cíveis e Criminais para o
boa conduta na sociedade. Os crimes
aprimoramento dos serviços judiciais
a partir da troca de informações e da e contravenções em que a transação
padronização de procedimentos em penal é aplicável devem ser de menor
todo o território nacional. potencial ofensivo e não podem ter
pena superior a dois anos.

Neste momento da aula, o professor


faz uma reflexão, a partir de artigo
CURIOSIDADE um artigo escrito por Vera Ribeiro de
10:34 Almeida, que questiona as aplicações
Nereu Giacomolli da transação penal. Segundo a autora,
este benefício, em grande parte dos
acordos acompanhados, não teve
a finalidade de resolver o conflito,
tampouco identificou o conflito social
que originou a situação, além de
ser identificada, ainda, um tom de
advertência ou ameaça para com o réu.

Professor na Pontifícia Universidade Católica


do Rio Grande do Sul (PUCRS), desde
2006, vinculado à graduação, mestrado e
doutorado em Ciências Criminais. Exerceu
a magistratura de 1986 a 2014 e é um
dos fundadores do Instituto Brasileiro de
Direito Processual Penal e editor da Revista
Brasileira de Direito Processual Penal
(RBDPP).

42
LEITURAS INDICADAS
10:36
Livro: Legalidade, Oportunidade
e Consenso no Processo Penal:
Na Perspectiva das Garantias
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO Constitucionais
11:00
Considere as afirmativas abaixo e
assinale a alternativa correta:

I. Cabe ao Juizado Especial Federal


Criminal processar e julgar os feitos
de competência da Justiça Federal
relativos às infrações de menor
potencial ofensivo.

II. Para a aplicação de transação penal,


o crime ou a contravenção não pode
ser pena maior que três anos.

III. No caso da transação penal, não há


condenação contra o réu e ele também Obra de autoria de Nereu Giacomolli,
fica isento de quaisquer condições. mostra a delimitação dos conceitos
de legalidade, de oportunidade e de
consenso no processo penal, sua evolução,
Apenas I está correta. mecanismos e fundamentos, considerando
as garantias constitucionais.
I e II estão corretas.

I e II estão incorretas.

II e III estão corretas.


11:02 Nós estamos desde 1995, até
hoje, décadas depois, sofrendo
os efeitos de uma transação
penal mecânica, matemática
e com propostas prontas por
parte do Ministério Público e que
normalmente são apresentas
LEITURAS INDICADAS como imposição, sob pena de
11:53 sofrer o processo.
O consenso na justiça criminal do Rio de
Janeiro: uma descrição etnográfica

Escrito por Vera Ribeiro Almeida, o artigo


traz uma análise, a partir de uma pesquisa
de campo em práticas e discursos dos
PALAVRAS-CHAVE
12:51
conciliadores que atuam na audiência
preliminar à transação penal. Jurisdicionado: Aquele que faz
Resposta desta página: alternativa 1.

parte de um processo como


reclamante ou reclamado.

43
CURIOSIDADE
19:09
Geraldo Prado

LEITURAS INDICADAS
19:13
Livro: Transação penal

Advogado, desembargador aposentado e


autor, é um dos principais estudiosos do
Processo Penal no Brasil. Integrou a Comissão
instituída pelo Ministério da Justiça para
elaborar projeto de lei, apresentado ao
Congresso, orientado à Reforma dos Recursos
e Ações Autônomas de Impugnação no
Código de Processo Penal e como convidado
participou de audiência pública do Senado
De autoria de Geraldo Prado, trata do Federal para debater o projeto de novo
debate, no âmbito do processo penal Código de Processo Penal (PLS 156 no
brasileiro, do acordo em torno da Senado; PLS8.045 na Câmara).
aplicação da pena, com destaque para
as possibilidades abertas no sistema
para a imposição negociada da pena
de prisão.
19:30 Acordo de não persecução penal

Com o Pacote Anticrime, foi


introduzido ao Código de Processo
Penal o instituto do Acordo de Não
Persecução Penal. O instituto está
PALAVRAS-CHAVE previsto no Artigo. 28-A da lei. O
25:18
ANPP, portanto, na letra da lei, prevê:
“não sendo caso de arquivamento
Opinio delicti: Refere-se à formação
e tendo o investigado confessado
da convicção do Ministério Público,
que precisa ter no mínimo um formal e circunstancialmente a prática
indício de suspeita para levar uma de infração penal sem violência ou
investigação adiante. grave ameaça e com pena mínima
inferior a quatro anos, o Ministério
Público poderá propor acordo de
não persecução penal, desde que
necessário e suficiente para reprovação
PALAVRAS-CHAVE
e prevenção do crime”. Evidentemente,
25:30
a prática só pode ser aplicado
mediante algumas condições, as quais
PIC: Sigla para Procedimento
Investigatório Criminal. Tem a finalidade o professor apresenta, elencando os
apurar a ocorrência de infrações principais requisitos.
penais de natureza pública, servindo
como preparação e embasamento Neste momento da aula, ele diz que há
para o juízo de propositura, ou não, da possibilidade de ANPP, caso a infração
respectiva ação penal. penal não tenha sido cometida com
violência ou grave ameaça. Desta

44
forma, não se aplica a crimes sexuais, a
roubo ou homicídio. A exceção, segundo
o professor, é o homicídio culposo, onde
o acordo é cabível uma vez que, nesses
casos, a violência não está na conduta,
mas no resultado não querido ou não
aceito pelo agente.

AULA 3 • PARTE 5

Acordo de não persecução


00:00
penal (continuação)

Neste momento, o professor dá


sequência à apresentação dos requisitos
para a aplicação do acordo de não
persecução penal, em que apresenta
a confissão em sua característica.
03:52 No acordo de não persecução
Também, Marcos reflete sobre os efeitos penal [...], tem-se a ideia da
da confissão dentro do processo penal, confissão. Na colaboração
que, segundo ele, apresentaria efeitos premiada, tem-se que
apenas dentro do processo, dentro do efetivamente contribuir, trazer
acordo realizado. Ao final deste tópico, informações para dentro do
o professor traz a consideração do acordo de colaboração.
Ministério Público a respeito do acordo
de não persecução penal.

06:57 Independentemente da culpa, ou


da inocência, eu estou admitindo
avaliar uma proposta de acordo
de não persecução penal.

A confissão nada mais é do 11:55


que uma forma de tornar
pública, formalizada, a ideia de
que eu não estou acordando LEITURAS INDICADAS
com um inocente. 15:02
O plea bargain e as falsas confissões: uma
discussão necessária no sistema de justiça
criminal

O artigo apresenta um diagnóstico de falsas


confissões identificadas no sistema de justiça
criminal estadunidense, em que, em mais de
90% dos casos dos processos, ocorre acordo
de não persecução penal. Em ¼ dos casos de
acordo, as pessoas revelam que não cometeram
os crimes, representando falsas confissões.

45
Condições 17:29

Ainda, dentro da perspectiva do acordo de


não persecução penal, Marcos apresenta as
seguintes condições:

• Reparação do dano ou restituição da


coisa à vítima, saldo impossibilidade de
21:23 Quando estou diante do acordo
fazê-lo;
de não persecução [...] eu
• Renúncia a bens e direitos indicados estou renunciando ao devido
pelo Ministério Púbico como processo legal.
instrumentos, produto ou proveito do
crime;

• Prestação de serviço por período


correspondente à pena mínima
cominada ao delito diminuída de um a 22:40 A imposição de sanções no
dois terços; acordo se trata da imposição de
sanções de natureza penal.
• Pagamento de prestação pecuniária;

• Cumprimento, por prazo determinado,


de outra condição indicada pelo
Ministério Público. 24:40 Prisão preventiva no pacote anticrime

Marcos trata sobre as principais


modificações que ocorreram no pacote
ENTRETENIMENTO anticrime a partir da perspectiva da
32:32 prisão preventiva. São listadas as
Podcasts seguintes modificações:
O professor indica os seguintes podcasts:
• Extinção da prisão preventiva EX
• Conecta processo penal em debate OFFICIO (Art. 282, § 2º e 311 do
• Criminal Player CPP);

• Improvável Podcast • Do contraditório (Art. 282, §3º);

• Da iniciativa das partes em caso de


descumprimento (Art. 282, § 4º);
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO
33:00 • Da atuação do Juiz: revogação,
Sobre o acordo de não persecução substituição da medida (Art. 282, §
penal, é correto afirmar que: 5º);

Nesse tipo de acordo, deve-se • Da prisão como última ratio (Art.


efetivamente contribuir, trazer 282, § 6º).
informações para dentro do acordo.
Ao final da aula, o professor Marcos
No acordo de persecução penal, iden- trata sobre a necessidade de
Resposta desta página: alternativa 2.

tifica-se a ideia da confissão. motivação da prisão preventiva, em


que consta no Art. 315, § 2º.
Os efeitos da confissão dentro do
processo penal ocorrem além do
processo, perpassando instancias
públicas e sociais.

Nenhuma das alternativas anteriores.

46
Artigos
Nesta página, você encontra links de artigos científicos, informativos
e vídeos sugeridos pelo professor PUCRS.

ARTIGO INFORMATIVO

Sistema acusatório: (apenas) uma necessidade do processo penal


constitucional

ARTIGO CIENTÍFICO

Quebra de sigilo de dados e das comunicações telefônicas: o dever estatal


de preservação da fonte da prova

47
Resumo da disciplina
Veja nesta página, um resumo dos principais conceitos vistos ao longo da disciplina.

AULA 1

O processo penal é formado pela


seguinte estrutura: ação (acusação),
jurisdição e processo.
Forma é garantia: é limite de poder
e legalidade.

O processo penal brasileiro está em


crise.

AULA 2

A jurisdição é o principal princípio


do processo penal.

O princípio acusatório se estabelece a


partir de uma característica básica: a
gestão da prova.

A presunção de inocência tem três


perspectivas: norma de tratamento,
norma probatória e regra de
julgamento.

AULA 3

O CPP cria um paradoxo a ser


enfrentado: ao mesmo tempo que a
gestão da prova está nas mãos das
partes, está nas mãos do juiz.
O juiz esperado pelo sistema
acusatório é aquele que não pode
tudo.

O controle judicial decorre da


necessidade de fundamentação da
decisão (art. 93, inc. IX, da CF) e do
controle recursal.

48
Avaliação
Veja as instruções para realizar a avaliação da disciplina.

Já está disponível o teste online da disciplina. O prazo para realização


é de dois meses a partir da data de lançamento das aulas. ​

Lembre-se que cada disciplina possui uma avaliação online.


A nota mínima para aprovação é 6. ​

Fique tranquilo! Caso você perca o prazo do teste online, ficará aberto
o teste de recuperação, que pode ser realizado até o final do seu curso.
A única diferença é que a nota máxima atribuída na recuperação é 8. ​
Pós-Graduação em
Direito Penal e Criminologia

Você também pode gostar