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FERREIRA, F. R.; PRADO, S. D. ; SEIXAS, C. M.; VARGAS, E. P.

LIVRO - CINEMA E COMENSALIDADE. 1. ed. Curitiba: CRV, 2016. v. 1. 324p .

CAPÍTULO 02 - CINEMA E COMENSALIDADE: os aspectos simbólicos da


comida a partir da linguagem cinematográfica.

Larissa Escarce Bento Wollz e Shirley Donizete Prado

Introdução ou cena inicial

O ato de comer vai além da necessidade biológica e nutricional. Ao compartilhar


a mesa com outros comensais conhecidos ou não, optar por comer só, ou não poder
comer à mesa por um impedimento social qualquer, entra em cena todo um conjunto de
códigos, convenções e relações sociais. O ato de comer em público acompanhado ou só,
tem um significado simbólico e ritual muito superior à necessidade alimentar e pode
gerar sentimentos que vão do desconforto à simpatia recíproca, da comunhão da comida
à repulsa ao outro, trazendo a tona sentimentos de positividade e/ou negatividade. Basta
uma pessoa desconhecida sentar ao lado e começar a fazer uma oração antes de comer
que isto pode dar início a uma boa conversa ou a um conflito religioso.

A comida não se reduz à dimensão nutricional e biomédica dos nutrientes e


calorias, ela também vai além da superficialidade e da formalidade da vida cotidiana,
revelando todas as tensões que existem no jogo social de cada sociedade. Se o destino,
por acaso, colocar lado a lado ou numa mesa próxima, grupos sociais e étnicos em
conflito, a simples presença do outro pode mudar o sabor e o prazer da comida. Perde-se
a fome biológica em questão de segundos. Se um pedinte, seja ele um intocável indiano,
um imigrante africano na Europa ou um morador de rua no Brasil, se aproximar de um
restaurante com uma mesa na calçada, temos uma tensão que ultrapassa a simples
compreensão biológica do processo. A comida, ou a falta dela, desencadeia emoções de
solidariedade e/ou repulsa, revelando códigos que desvelam as relações sociais.

Se comer é uma necessidade da “ordem da natureza”, uma necessidade biológica


indiscutível, a escolha alimentar do que comer, como comer e com quem comer, por
outro lado, é totalmente mediada pela cultura e pelos códigos sociais de cada local e
grupo social. Para Montanari (2008), o gosto é um produto cultural, situado em um
contexto histórico e resultado do compartilhamento de opções e compartilhamentos que
não obedecem a um mecanismo biológico comum a todos os homens, para ele, o gosto
não é fruto de “um suposto instinto sensorial da língua, mas de uma complexa
construção histórica” (MONTANARI, 2008. Pág.11).

Comer, portanto, é uma escolha subjetiva, afetiva, altamente discutível e


totalmente inscrita na “ordem da cultura”, construída na história de cada povo ou grupo
social, fazendo com que uma simples escolha revele uma cadeia de gostos, filiações,
interdições, memórias e sentimentos ancestrais. Temos então duas dimensões opostas e
complementares na hora de comer, “natureza e cultura”, e cada uma dessas dimensões
possibilita uma forma de compreensão do fenômeno. Mas estas duas ordens não são
excludentes entre si, pelo contrário, são indissociáveis, pois os nutrientes, as calorias e
os símbolos culturais e códigos de distinção social estão no mesmo prato. Embora os
saberes biomédicos e específicos da Ciência da Nutrição uniformizem a comida e
transformem o alimento em uma massa orgânica a ser entendida com a objetividade
científica, a cultura teima em lembrar os seus aspectos simbólicos, sensoriais, afetivos,
religiosos e políticos (MONTANARI, 2008).

Os diferentes modos de comer à mesa, a escolha dos pratos, as opções


disponíveis, o ambiente, a percepção (ou não) da higiene do local, o barulho ou o
silêncio das pessoas em volta, o preço da comida, os códigos de distinção social
presente nas escolhas alimentares, as memórias gustativas e afetivas de cada um, os
padrões de cada cultura com suas preferências ou interdições, são exemplos cotidianos
de uma comensalidade que é tão natural que passa despercebida e nem notamos as
convenção às quais estamos sujeitos. Os pratos mais comuns do almoço com família, o
lanche do fast food nos dias de trabalho, os jantares comemorativos, os petiscos nos
momentos de lazer e os pratos sagrados das datas religiosas são tão “naturais” que, às
vezes, nem percebemos que eles só existem como pratos imutáveis no imaginário
social. Eles não são escolhas inquestionáveis, pelo contrário, são convenções que
determinam quais os pratos são mais adequados para cada ocasião. Esquecemos que
essas escolhas são códigos determinados socialmente e confundimos a ordem da
natureza com a ordem da cultura, naturalizando o que é predominantemente social,
cultural e simbólico, tornando “natural” comer pizza à noite e não de manhã, como se
isto fosse uma determinação biológica e não uma convenção social.

Esses fatores compõem o que chamamos de comensalidade porque ao


escolhermos comer juntos ou separados, em locais valorizados (ou não), ou então, ao
escolher refeições “mais adequadas” aos diferentes contextos revelamos os códigos e os
rastros das relações sociais estabelecidas em cada cultura. O comensal, aquele que
compartilha a mesa conosco, pode ser um amigo, um estranho ou um hóspede
ocasional, que pode comer na mesma mesa mesmo sem ter sido convidado, de modo
que ele pode comer ao lado de outras pessoas sem sequer trocar um sorriso ou a menor
gentileza. A comensalidade, portanto, pode ser agradável e ativa quando a comida é
compartilhada amigavelmente e, por outro lado, pode ser passiva, desagradável e
“suportável” se a pessoa ao lado não compartilha os mesmos códigos sociais.

Para Boutaud (2011), “não se trata só de comer, mas também de saber comer
em comum, de ser visto comendo, sob o olhar dos outros. Todo o ambiente se torna um
cenário, a encenação da refeição, a encenação de si.” (BOUTAUD, 2011.pág. 1213).
O lugar social do sujeito é sempre questionado ou reforçado na mesa, a imagem que
construímos socialmente é cotidianamente atualizada na relação com o outro a partir da
mesa ou do local social da refeição. A comensalidade sempre está atrelada ao olhar do
outro, mesmo que o comensal não queira comer à mesa. Uma cena comum como uma
família comendo numa praça de alimentação de um shopping pode passar despercebida,
mas se é uma família de obesos certamente os olhares em volta serão diferenciados.

O cinema pode ser uma boa ferramenta para identificar as formas


contemporâneas da comensalidade e também analisar formas consagradas e mais
tradicionais do comer à mesa em diferentes contextos. “A linguagem alimentar
representa identidades, posições sociais, gêneros, significados religiosos e, por isso, ela
é ostentatória e cenográfica" (MONTANARI, 2008. Pág.12). Uma mesa posta, em
qualquer época ou cultura, possui uma dimensão teatral, “cenográfica”, que torna
evidente as relações sociais em jogo, por isso acreditamos que a linguagem
cinematográfica possa expor com clareza e sensibilidade as formas de comportamento,
os hábitos de consumo, os prazeres da mesa ou as compulsões alimentares. O cenário, a
iluminação, o figurino e os papéis representados por atores profissionais em cena
traduzem os mesmos aspectos do cotidiano, onde os atores sociais representam os seus
papéis sociais, porque os sujeitos em sociedade também estão sujeitos a regras,
convenções, cenários, papéis e narrativas pré-determinadas. A encenação da tela
representa a encenação do cotidiano, ou vice versa.

São muitos os filmes que retratam o lugar social do sujeito num almoço, as
interdições culinárias de uma cultura, o conflito de geração nos modos de comer, a gula,
o excesso ou o seu oposto, a anorexia e os transtornos alimentares. Assim como também
expõe com muita clareza e de forma caricata os sentidos atribuídos à gordura ou
magreza, ao refinamento ou à ausência de conhecimento das regras sociais, os conflitos
familiares presentes em um simples jantar, os conflitos causados pela fome ou pela gula,
pela carência de alimentos ou pela opulência, ou seja, são inúmeros exemplos para
pensarmos a comensalidade em suas diferentes vertentes e aplicações do conceito.

Os filmes apresentam cenas banais que retratam a comensalidade no cotidiano


dos almoços em família, na lanchonete, nos restaurantes mais sofisticados ou nos
lugares mais simples, nas cerimônias religiosas, nos banquetes dos reis ou nos jantares
de negócios. O cinema nos permite participar de um almoço com o rei, um mendigo, um
bandido, um policial e um padre, às vezes na mesma película. As cenas são construídas
de forma tão natural que esquecemos que somos meros espectadores, suspendemos a
descrença e participamos dos banquetes do rei e das bebedeiras dos plebeus1 como se
estivéssemos juntos na cena, sem se dar conta que aqueles momentos de comensalidade
existem no imaginário social e representam a comensalidade do mundo real.

A literatura e o cinema muitas vezes se unem para representar o que há de mais


humano na vida. Retratando nobres e plebeus com suas respectivas cargas de
generosidade e ambição, grandeza e mesquinhez, honestidade e vaidade. Não sabemos
se a vida imita a arte ou se a arte imita a vida, mas sabemos que o cinema imita a vida
cotidiana com tamanha competência que nos faz pensar que aquele mundo é real e
fazemos parte dele, nos identificamos com ele. Participamos dos banquetes dos reis ou
da divisão da pouca comida entre os miseráveis como se estivéssemos sentados ao lado

1
No filme “Falstaff”, de Orson Welles, um roteiro adaptado de “Henrique V”, uma das obras mais
famosas de William Shakespeare (1564-1616), temos a representação daquele que é considerado um dos
mais importantes monarcas ingleses. No início do filme ele ainda é o Príncipe Hal (interpretado por Keith
Baxter), herdeiro do trono da Inglaterra, ao lado do personagem principal, o cavaleiro bêbado e obeso Sir
John Falstaff (interpretado pelo próprio Orson Welles). Juntos os dois se divertem, correm riscos, bebem
ao lado de nobres e plebeus, aprontam e desenvolvem uma intensa relação. Quando Hal assume o trono e
se torna Henrique V, Falstaff pensa que irá obter vantagens junto ao monarca, mas a vida segue o seu
curso “natural” dos códigos sociais e os dois amigos se afastam. Não podem mais sentar na mesma mesa.
deles. Acreditamos que a comensalidade que é representada no cinema não é apenas
ficção, ela é a representação da realidade na tela.

Nos filmes também podemos ver uma cena típica de família contemporânea com
os todos os comensais nos seus celulares, ou uma cena da família tradicional com todos
na mesa, os jantares românticos e amorosos ou os conflitos familiares mais tensos e
dramáticos. Podemos ver também a comensalidade entre crianças, adolescentes, idosos
ou turistas de todas as idades, sempre de forma lúdica e aparentemente simples,
traduzindo a vida cotidiana em imagens que captam a essência dos relacionamentos
humanos, com toda a grandiosidade e fraqueza que estas cenas permitem. Sendo a
comida e os modos do comer à mesa algo que aparentemente passa despercebido na
narrativa, mas que foi construído de maneira meticulosa pelo diretor e o roteirista. A
cena do almoço familiar aparece de forma tão “natural” que esquecemos que tudo foi
feito em um estúdio com dezenas de pessoas em volta.

Um bom exemplo desta comensalidade familiar e cotidiana pode ser visto nos
filmes do cineasta japonês Iasujiro Ozu (1903-1963). Nos seus filmes, por trás da
simplicidade da vida cotidiana, Ozu mostra um conjunto de imagens que ultrapassa a
linguagem cinematográfica, da pura representação, e se confunde com algo
inconsciente, familiar, criando uma atmosfera que lembra o cotidiano de qualquer
família, capturando aquela atmosfera de prazer e tensão de cada encontro familiar. Ozu
trata de temas humanos comuns a todos nós, capturando de uma maneira muito sutil e
delicada a essência das alegrias e frustrações, interesses nobres ou mesquinhos, assuntos
omitidos ou proibidos, sempre revelando o cuidado ou a desatenção familiar em gestos
banais, enfim, ele fala de algo que é atemporal e comum nas relações familiares, os
afetos silenciosos (NOVIELLI, 2007).

O ritmo lento das cenas lembra o ritmo monótono do cotidiano, onde as coisas
aparentemente não mudam, permanecem do mesmo jeito por anos, com pequenas
mudanças imperceptíveis ao olho nu. Os assuntos cotidianos são naturalizados,
aparecem sob a forma de temas banais e corriqueiros, revelando as relações familiares
com toda a sua trama de afetos, compromissos e mágoas, amor e ódio, trazendo à tona
toda a generosidade e mesquinhez das relações familiares. Mas chama a atenção que
muitas cenas e diálogos marcantes das tramas acontecem em momentos de
comensalidade, em torno de um almoço ou jantar em família, num lanche no parque,
num restaurante que é frequentado cotidianamente ou nos momentos de comemoração,
na casa de um vizinho, amigo ou parente distante, ou seja, nos locais onde a vida real
acontece.

Um dos filmes clássicos de Ozu, intitulado “Era uma vez em Tóquio”, trata da
chegada dos pais que moram no interior e vão visitar os filhos na cidade grande após
muitos anos. Neste filme, Ozu nos mostra o papel central da comida e das relações
humanas em torno da mesa, revelando a generosidade, a avareza ou o descaso ao servir
um prato, do cuidado com o outro ao oferecer o que se tem de melhor ou oferecer
“qualquer coisa”, revelando sentimentos ocultos, às vezes dissimulados e às vezes de
uma sinceridade profunda. Oferecer comida pode ser um gesto de carinho ou apenas um
gesto formal e mecânico, e é isso que nos captura, a semelhança com aquilo que é banal,
que é tão familiar que nem parece cinema, parece a vida acontecendo na tela. Ao ver a
generosidade à mesa, ou o seu oposto, o gesto mecânico do filho que leva os pais para
jantar por pura formalidade, nós percebemos não o cinema, os atores, a trama, o roteiro
ou a locação, nós percebemos a nós mesmos, percebemos algo familiar e nos
reconhecemos naquela maneira banal que pode estar acontecendo neste exato momento
em alguma família. Uma cena tão humana que nem parece cinema.

O conceito e os diferentes usos da comensalidade

A palavra commensalité aparece inicialmente nos dicionários da língua francesa


no Século XVI e se refere principalmente à hierarquia dos diferentes grupos e
estamentos sociais na mesa do Rei. Segundo o Centre National de Ressources
Textuelles et Lexicales (CNRTL, 2016), a origem da palavra se refere também aos
modos de compartilhar a mesa, seja com pessoas da mesma origem social ou com
estranhos. Inicialmente o termo se refere então aos membros da Corte. Os comensais
eram oficiais do Rei que comiam junto com a corte e podiam ser divididos em três
classes, ou estamentos, principais : Grandes oficiais, convidados especiais, visitas
importantes, nobres convidados, etc.; Cavalheiros, homens importantes, comerciantes,
oficiais de segundo escalão, etc.; Baixo oficialato, trabalhadores domésticos,
convidados sem título de nobreza, etc. Isto significa que existia uma hierarquia na
comensalidade e ditava as regras da sociabilidade.
A comensalidade, inicialmente, estaria ligada às formas de compartilhar os
mesmos códigos e convenções de um universo fechado, estando o comensal sujeito às
formas simbólicas, sociais e culturais do seu tempo e do seu meio (FISCHLER,2011).
Aos poucos, o que era de uma ordem aparentemente natural, numa determinada ordem
social, começa a incorporar os novos modos de organização e distribuição de poder
simbólico das sociedades secularizadas modernas. A cultura da mesa incorpora os
mudanças das mentalidades, da infra estrutura econômica e da super estrutura política.
Com a secularização das sociedades, a democratização da vida política e a laicização
dos costumes o que era natural, se uma sociedade tradicional e imutável, começa e ser
visto como social e cultural.

Na sua obra clássica O processo civilizatório- uma história dos costumes, de


1992, Norbert Elias nos apresenta o modo como as boas maneiras e o decoro corporal
foram introduzidas à mesa nos séculos posteriores à Idade Média. Buscando informaçõs
em livros de etiqueta das cortes européias a partir do Século XIII em diante, Elias
(1992) demonstra que os códigos da comensalidade foram construídos lentamente em
uma evolução secular, traduzindo e reproduzindo os códigos de distinção social das
cortes e inibindo os costumes considerados bábaros ou das classes inferiores. Para ele,
as classes dirigentes foram modeladas pelas exigências da vida social e a comensalidade
virou o lugar da regra e do código de distinção burguês.

A comensalidade hoje pode ser vista no modo como os comensais, independente


da sua filiação cultural, formação social e afinidade simbólica, se alimentam no
ocidente, no oriente ou em outra cultura mais tradicional como a cultura indígena. Deste
modo, ela contempla toda e qualquer ação humana diante da necessidade biológica de
alimento. Seja o comensal um esquimó, um religioso islâmico, um monge zen budista,
um caminhoneiro norte americano, um músico africano, um operário brasileiro, um
pecuarista argentino ou uma escritora francesa, todos estão ligados aos laços de
comensalidade dos seus respectivos grupos e, ao mesmo tempo, reproduzem hábitos de
consumo que se estabelecem no nível global. E uma característica da comensalidade
seria a relação que o comensal estabelece com o outro, com os seus pares, com os
integrantes do seu grupo ou com os que compartilham a mesa ou o mesmo ambiente no
ato de comer. Seja em um ambiente privado ou público, seja em um local fechado ou ao
ar livre, a comensalidade se faz presente sempre que comemos juntos ou separados, pois
mesmo um monge em retiro espiritual ou um prisioneiro privado de liberdade segue
algumas regras básicas da comensalidade.

No estágio atual do capitalismo é possível os sujeitos ou grupos citados acima


venham a consumir produtos semelhantes ou de uma mesma marca. Podemos imaginar
que os produtos da Coca Cola, Pepsico, Nestlé, Mars, Danone ou Unilever podem ser
comercializados e consumidos por pessoas distintas em qualquer local do planeta e em
qualquer grupo social. Os códigos da comensalidade, portanto, não estão sujeitos às
fronteiras culturais, sociais, regionais ou nacionais. Os modos de comer à mesa
dialogam com a cultura local, mas os produtos disponíveis à mesa, cada vez mais,
obedecem à lógica do capitalismo global.

As estratégias de produção, distribuição e comercialização dos produtos também


interferem nos modos como a comensalidade se manifesta, na medida em que
comensais de culturas diferentes, hábitos culinários diversos, ou até opções religiosas
em conflito, compartilhem gostos e produtos de uma mesma marca. Ou então, não
consumam determinados produtos justamente porque eles são consumidos por grupos
historicamente rivais. Mas de todo modo, o consumo de alimentos ignora ou reverbera
os conflitos existentes e a mesa se torna um local revelador. E uma mesma empresa
pode comercializar carne de cavalo, porco, cachorro ou vaca em países onde isto é
“natural” e não comercializar em outros países onde este hábito não é “natural”. O lucro
ignora a natureza e segue a ordem da cultura...

É possível que, no longo prazo, as tradições da cultura local mudem, se


hibridizando com tradições culinárias de outras culturas. Em uma grande cidade como
São Paulo, por exemplo, temos a “tradição da comida italiana” no bairro do Braz e na
Mooca, a “tradição da comida japonesa” no bairro da Liberdade, a “tradição da comida
árabe” nos Jardins e a “tradição da comida judaica” no bairro do Bom Retiro. Sem falar
das tradicionais culinárias espanhola, mexicana, mineira, gaúcha, chinesa ou alemã. São
tradições gastronômicas que implicam em diferentes comensalidades e que se
hibridizam nos grandes centros urbanos e criam novos modos de comer à mesa. Todas
essas tradições formam a também tradicional gastronomia paulistana, que é uma marca
da cidade, com sua diversidade e generosidade de ofertas para todos os gostos e bolsos.
A comensalidade, portanto, se metamorfoseia e se adapta aos diferentes apetites
biológicos, sociais, culturais e simbólicos. A mesma pessoa, ou o mesmo filme, pode
transitar por diferentes comensalidades sem que isto pareça artificial ou improvável.

Atualmente a comensalidade incorpora também as transformações tecnológicas


das indústrias da informação e comunicação. O comensal pode estar em casa, na rua, em
um parque ou no hospital e comer acompanhado de outras pessoas, não apenas
fisicamente, mas também virtualmente. Basta ele ter um celular conectado à Internet
para fazer o seu lanche ou jantar e, ao mesmo tempo, conversar com uma pessoa de
outra cidade ou país. A mesa, hoje, pode ser compartilhada pelo Skype ou pode ser
transmitida para qualquer um que queira participar daquele momento, seja uma pessoa
conhecida ou não. O compartilhamento de fotos de pratos, de lugares da moda, de dietas
ou recitas coloca a comensalidade no rol dos assuntos mais discutidos na rede.

De outro modo, com o advento dos canais a cabo, é possível que diferentes
pessoas, em diferentes países, gostem dos mesmos programas de receitas e atividades
gastronômicas e compartilhem pratos, receitas, dicas, e, por que não, o “convívio”
virtual à mesa. No Século XXI a comensalidade sai da mesa e vai para a tela da TV, do
computador ou para a palma da mão. Posso comer acompanhado estando só, ou posso
comer em grupo e conversar com uma pessoa do outro lado do planeta sem me
comunicar com o comensal ao lado. Os diferentes modos como a comensalidade se
manifesta cada vez mais incorpora as transformações da sociedade da informação. O
crescimento da indústria cultura em sua vertente gastronômica é visível, são muitos os
programas (em várias línguas) nos canais de TV à cabo para satisfazer todos os gostos.

Por outro lado, o cinema também apresenta cenas de comensalidade tradicionais,


entre famílias religiosas com seus rituais milenares, como no filme “Um violinista no
telhado”, de 1971, dirigido por Norman Jewison e baseado em contos de Sholom
Aleichem, que retrata a trajetória de uma família de judeus na antiga Rússia e seus
rituais á mesa nas cerimônias de casamento, datas religiosas ou nos jantares cotidianos.
Podemos ver também a memória afetiva da comida em filmes como “Morangos
silvestres”, de 1957, realizado pelo diretor sueco Ingmar Bergman, que revela uma vida
inteira de amores, rancores, gestos mudos e sentimentos contidos que se revelam no
encontro com a comida da infância. Um simples morango faz o personagem, um
professor aposentado que vai receber um prêmio pela sua carreira, reviver e rever toda a
sua história de vida, com todos os sucessos e fracassos, altos e baixos, generosidade e
avareza. São dois casos extremos de resgate da memória, uma coletiva e outra
individual, que revelam o lugar centra da comida nas vidas dos personagens.

Em um filme dinamarquês clássico, intitulado “A festa de Babette”, de 1987, o


diretor Gabriel Axel, com roteiro baseado em conto de Karen Blixen, nos apresenta o
cotidiano de uma aldeia perdida na costa da Dinamarca, no século XIX, na qual as filhas
de um rigoroso pastor luterano recebem uma parisiense que, muitos anos depois, ainda
trabalhando na casa, ela recebe a notícia de que ganhou um grande prêmio na loteria e
oferece-se para preparar um jantar francês em comemoração ao centésimo aniversário
do pastor. E o que seria um simples jantar desencadeia uma série de sentimentos e
paixões ocultas pelo tempo. Estes são apenas três exemplos de uma comensalidade que
se perdeu na memória das culturas e das pessoas, mas que o cinema atualiza e coloca na
mesa. Seja na memória da cultura judaica, nas lembranças de um professor aposentado
ou num jantar de homenagem a um pastor falecido, a relação com a comida se revela
com toda a sua força e carga simbólica, nos colocando como comensais na mesma cena.
E a comensalidade se revela também como o fio condutor das narrativas e a partir dela,
utilizando a linguagem do cinema, podemos participar e refletir sobre estas diferentes
relações sociais que fazem parte do ritual do comer à mesa em qualquer época. Ao
representar seres humanos em momentos de comensalidade, os filmes revelam o que os
seres humanos pensam de si mesmos (MORIN, 2014).

Voltando aos dias atuais, para Ariès (1997), o ritual da mesa coloca em jogo
dois eixos fundamentais (horizontal e vertical) para a compreensão das relações sociais.
O eixo horizontal é aquele no qual a comunidade se encontra, voluntariamente ou não,
compartilha seus códigos, seus vínculos a determinados grupos, revela possibilidades de
interação, agradáveis ou não, come lado a lado e faz parte de um grupo sem muitas
distinções à mesa. Uma praça de alimentação de um shopping, ou uma loja de fast food,
como as lojas das redes MacDonald’s, Burger King, Subway ou Domino’s pizza, por
exemplo, criam certa indistinção entre os participantes e todos ali estão para comer sem
necessariamente querer conversar, se conhecer, ver ou ser visto, sem se preocupar com
as outras mesas do ambiente. Pode-se até compartilhar uma mesma mesa sem conversar
com a pessoa ao lado, pelo contrário, se alguém puxar conversa pode ser mal
interpretado.
O eixo vertical, pelo contrário, reforça as relações sociais ao expor claramente as
hierarquias, os lugares definidos, os papéis sociais, o reconhecimento dos códigos de
conduta, os gostos refinados, valoriza a grandiosidade das festas, dos banquetes
oferecidos aos chefes de estado, dos encontros políticos, artísticos, científicos,
empresariais, etc.. Os lugares no evento são muitas vezes pré determinados, as
conversas, as comidas, os olhares e as trocas que se estabelecem nessas ocasiões e os
contatos e negócios que são feitos, dão outro tom ao jantar. Ao compartilhar a mesa o
sujeito compartilha um lugar no jogo social e convém que ele saiba o seu lugar social e
a dinâmica do jogo, sob pena de ser mal interpretado e sofrer um desgaste caso se
comporte de forma inadequada. Os comensais estão ali para ver e serem vistos, para
ficar em exposição, para participar do jogo social e, preferencialmente, tirar vantagem
dele. Um jantar pode mudar o rumo da vida, da carreira profissional ou política, dos
interesses geo políticos de um grupo ou nação, enfim, o jantar é o lugar para fazer
contatos e fazer negócios, a comida é apenas um detalhe.

Outras dimensões da comensalidade

A tecnologia trouxe um novo ingrediente para a comensalidade e podemos até


pensar em um eixo transversal, que atravessa os diferentes grupos e eixos sociais, ao
incorporar os aparelhos celulares, as redes sociais e toda a parafernália digital à mesa.
Tornou-se habitual, nos diferentes grupos sociais e em diferentes faixas etárias, pessoas
conhecidas, às vezes da mesma família, colegas de trabalho, da escola ou da faculdade,
que ficam sentadas à mesa, lado a lado, mas cada um com seus aparelhos e conectados
às suas redes sociais. O evento social, a comida que é servida no almoço ou jantar, fica
de lado, ela não é o prato principal. Mais importante que a comida é a exposição social
que a foto ou o comentário pode gerar. Ou então, em alguns casos, a própria comida
pode ser o assunto principal e gerar a foto que será compartilhada, mas o mais
importante continua sendo a imagem social que está sendo construída naquele
momento, na mesa.

O ato de comer deixa de ser algo biologicamente significativo, a não ser que o
que se come possa gerar várias curtidas e comentários no Facebook ou no Instagram. A
noção de individualidade ou de comportamento em grupo também assume novos
contornos, pois as pessoas estão comendo juntas, mas cada uma pode estar conectada a
pessoas em lugares distantes da mesa, ou então, podem trazer pessoas distantes para
compartilhar o que está se passando na mesa. O caráter ritual e social da comida ganha
outro status e se afasta do compartilhamento tradicional e simbólico da comida.
Segundo Cyrulnik,

“mesmo entre os animais, o alimento serve para muitas outras


coisas além de alimentar. Ele é um vínculo biológico entre os insetos
sociais. Também constitui uma ligação da mãe com o filho entre os
pássaros. No caso dos mamíferos, o alimento hierarquiza os adultos e
organiza os grupos em que é utilizado para agir sobre as emoções do
outro e governar seus comportamentos, preparando, dessa forma, os
animais para o símbolo (CYRULNIK apud BOUTAUD, 1997. Pág.
54).

Os códigos e símbolos sociais são também virtuais. Se mesmo para os animais


há um compartilhamento desses códigos relacionais, para os humanos, os códigos,
símbolos e imagens fazem sentido também em suas comunidades virtuais. Não se trata
aqui de exaltar a tecnofobia ou a tecnolatria, mas de perceber que os códigos da
comensalidade hoje são atravessados por valores constituídos nas redes virtuais a partir
das duas últimas décadas. E a comida, como não podia deixar de ser, sofre influências
dessas novas formas de relacionamento social, possibilitando o surgimento de novos
modos de comer à mesa e outras formas de simbolizar a comida. Seja pelo acesso a
produtos importados de diferentes lugares, pela possibilidade de assistir a canais de
televisão de diversos países ou pela maior facilidade de viajar para outros países
atualmente, o contato com outras culturas, “comidas exóticas” ou novas formas de
comensalidade cresceram enormemente.

Agora comemos também com os olhos e as imagens da comida ganham outro


sabor nas redes sociais. Mesmo que o sabor original não seja muito bom, o mais
saboroso é compartilhar a imagem, a identidade, a comida e o Eu. A imagem da comida
e o Eu se confundem, sou o que como, com quem como e o que posto nas redes sociais.
E dependendo do retorno da postagem a comida ganha outro sabor, a necessidade
biológica da comida assume outro lugar, ganhando ou perdendo importância em função
da funcionalidade social e virtual.

Mesmo no mundo virtual, ou principalmente no mundo virtual, as características


da civilidade e os códigos identitários ligados à comida passam pela mesa, os modos de
comer determinam se o sujeito é ou não civilizado, culto ou apto a frequentar e
consumir em determinados lugares ou participar de grupos virtuais. Não estamos
falando das castas indianas, nas quais até hoje as interdições, proibições e restrições do
que comer, com quem comer e de que forma comer ainda estão em uso. Nas sociedades
ocidentais ditas civilizadas as restrições e interdições também acontecem, mas são
mascaradas pelo poder de consumo e pelo habitus de classe. Não é qualquer um que
pode comer, em qualquer lugar ou de qualquer forma. Existem regras, códigos e
convenções que determinam os modos de comer e os locais onde se pode comer. O
preço da comida, os códigos sociais de conduta, o habitus de classe do comensal que
denuncia a sua origem podem servir de barreira, quase como um sistema de castas que
escolhe a clientela de acordo com a classe social. Do mesmo modo, a identidade criada
virtualmente segue as regras do jogo social e valorizam ou desvalorizam os sujeitos de
acordo com seu padrão de consumo, comportamento ou hábitos cotidianos.

Na sociedade ocidental moderna a mesa também é estratificada e o acesso aos


grupos não é totalmente livre, a interdição não obedece a uma regra religiosa ou
aristocrática como no passado, hoje ela se pauta por fatores econômicos e/ou
comportamentais, mesmo que se apresente como algo livre e democrático. Deste modo,
a comida e a comensalidade fazem parte da constituição de toda e qualquer sociedade
ou pequeno grupo social, seja ele real ou virtual. O ato de comer algo coloca o sujeito
em contato uma cadeia produção, distribuição e consumo de alimentos, inter-
relacionando códigos sociais, normas nutricionais, padrões alimentares e interesses do
mercado global. Os gostos também são classificados, estratificados e julgados, porque
na sociedade atual os papéis sociais são híbridos, podem assumir várias configurações,
mas não são totalmente livres de regras, isentos de valores e totalmente descolados do
mundo real. Ao postar uma foto do seu prato no Facebook ou no Instagram seu perfil
será analisado e sua identidade será enquadrada numa determinada categoria ou grupo
social, queira você ou não.

Por outro lado, o ato de comer isoladamente, fora do convívio social, também
sofre restrições e nem sempre é bem visto. Ao comer só o comensal cria para si uma
aura de restrição, de dificuldade de conviver com o outro, de impossibilidade de
convívio social, sendo inclusive chamado de anti-social, passando a ser visto com
preconceito e um certo desprezo. Para o senso comum, uma “pessoa normal” gosta de
comer em companhia de outras pessoas, gosta de compartilhar a mesa, ver e ser visto
socialmente. Compartilhar a mesa é sinônimo de compartilhar a vida, sem reservas, sem
nada a esconder, pelo contrário, comer com os pares é sinônimo de respeito mútuo.

Mesmo que o hábito de compartilhar o que se come seja virtual, a comida


assume um lugar de marcador, de elementao que cria uma identidade e inclui em redes
de consumo de informação. Basta o usuário de internet fazer buscas sobre comida,
alimentação, produtos alimentares ou dietas que seu endereço eletrônico será
identificado e a pessoa receberá informes publicitários, lerá mensagens e verá anúncios
que tratam dos “assuntos do seu interesse”. Mesmo isolado e sem contato físico com o
mercado os seus hábitos de consumo serão identificados e os produtos serão oferecidos,
independente da sua vontade ou possibilidade de compra-los. Experimente fazer uma
busca por produtos orgânicos, alimentos saudáveis ou produtos para emagrecimento,
que, coincidentemente, você receberá várias mensagens e anúncios de produtos
referentes aos assuntos pesquisados. Mesmo que a escolha seja por comer só, o mercado
vai criar um jeito de conversar com você e oferecer os seus produtos, a comensalidade
solitária requer outra estratégia.

Mas o ato de comer isoladamente é diferente do ascetismo das dietas e da


comida trazida de casa em nome da praticidade, da economia ou de alguma restrição
alimentar, auto imposta ou não. Pode-se comer a própria comida, não compartilhar o
prato comum a todos, sem que isto seja visto como falta de civilidade ou respeito, mas
continua sendo uma forma antipática de relacionamento com os outros comensais.
Geralmente esta forma de restrição alimentar ou negação de um hábito alimentar
comum é vista como uma forma de se posicionar socialmente de modo diferente,
gerando algum tipo de juízo de valor, seja dos outros comensais que acham a atitude
estranha e vão julgar de acordo com os seus valores, seja pelo próprio comensal que se
julga moralmente superior aos outros por conseguir controlar o desejo e o apetite.
Comer carne vermelha, por exemplo, pode ser visto como algo a ser valorizado ou como
algo esnobe, e na perspectiva de quem não come, pode ser visto como um limitação
pessoal ou um juízo moral de superioridade. O pêndulo oscila entre a valorização e a
desvalorização, mas nunca a comida é neutra e a comensalidade é indiferente ao outro.
Mesmo entre pessoas que não se conhecem os juízos de valor acontecem e, às vezes,
são revelados. Decididamente a comensalidade não é uma coisa simples.

A comensalidade no cinema
Todos os exemplos de comensalidade citados acima foram abordados de alguma
forma em filmes recentes. Outros exemplos de modos mais tradicionais de comer
também já foram explorados pela indústria do cinema, desde os modos de comer dos
homens das cavernas (no filme “A guerra do fogo”, de Jean Jacques Annaud), os
banquetes dos reis (no filme Vatel – um banquete para o rei”, de Roland Joffé) , a gula
dos padres medievais (no filme “O nome da Rosa, também de Jean-Jacques Annaud) , a
fome e a peste no mesmo período (no filme “O sétimo selo”, de Ingmar Bergman), os
rituais sociais da corte com suas regras rígidas de etiqueta (no filme “Ligações
perigosas”, de Stephen Frears), as tramas da corte e jogos de poder da corte europeia
(no filme Barry Lyndon, de Stanley Kubrick), os jantares entre amigos (no filme “Jantar
entre amigos”, de Norman Jewison), jantares entre mafiosos (nos filmes de Martin
Scorcese e Francis Ford Copola), prisioneiros (no filme nacional “Estômago”) ou nos
diferentes momentos da vida de uma criança que passa pela adolescência e entra na
universidade (no filme “Boyhood: Da Infância à Juventude, de Richard Linklater).
Todos esses momentos de comensalidade foram retratados nas telas e temos nos filmes
um bom acervo para perceber, identificar e analisar os modos como a comensalidade se
manifesta.

Podemos pensar em diferentes filmes e modos de comer à mesa por grupos


sociais, faixa etária, época, classe social, etnia, filiação religiosa ou gênero, sem precisar
fazer trabalho de campo ou entrevistar pessoas. Os filmes apresentam as relações sociais
com suas convenções, interdições ou sistemas de atribuição de valor. As representações
sociais estão na tela e traduzem de uma forma clara, precisa e coerente todo o jogo
social presente nos diferentes contextos.

Os filmes permitem o acesso a diferentes realidades e nos possibilita retratar os


diversos modos do comer à mesa em diferentes culturas, épocas, países e contextos.
Seja em momentos da comensalidade no passado, ou então, nos novos rumos que a
comensalidade pode assumir no mundo contemporâneo, podemos identificar a riqueza
do conceito, seus diferentes usos e os vários sentidos atribuídos à comida nesses
diferentes contextos. Tudo isso sem delimitar o conceito, pelo contrário, identificando
sua plasticidade e seus diferentes modos de aplicação, não para defini-lo de forma
estrita, mas para ampliar a compreensão e perceber a amplitude e a complexidade da sua
utilização. Acreditamos que o termo comensalidade se aplica a muitas definições e
neste texto pretendemos apenas identificar algumas dessas possibilidades.
A ideia geral não é de restringir o conceito dentro de uma definição única e
precisa, com contornos bem definidos, pelo contrário, nosso interesse é de explorar os
inúmeros modos de aplicação do conceito e ampliar os seus contornos, percebendo e
identificando a riqueza que é apresentada pela polifonia da língua, dos sentidos
presentes na cena social e nos significados atribuídos pelos sujeitos em suas relações
sociais. A comensalidade, portanto, é complexa, plural e permite muitas definições.

Acreditamos que a linguagem do cinema apresenta muitas cenas que retratam a


comensalidade, revelando diversos sentidos acerca da comida e nos permitindo
descrever toda a carga simbólica presente no ritual da mesa. O cinema, na verdade, é um
espelho, ele revela a nossa humanidade, e a comida é aquilo que nos torna humanos ou
desumanos, dependendo das formas de comensalidade que escolhemos, valorizamos ou
desprezamos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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1997.
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acolhida do estrangeiro na história e nas culturas. MONTANDON, Alain. São Paulo:
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BOUTAUD, J.J.. Comensalidade. Compartilhar a mesa. In O livro da hospitalidade:
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SHAKESPEARE, W. Henrique V. Tradução de Beatriz Viégas-Faria. São Paulo:
L&PM, 2007

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