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EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: a

importância do direito à educação em


qualquer idade

Natália Osvald Müller


nataliaomuller@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Educação de Jovens e Adultos no Brasil. Direito à Educação.


Escolarização.

Revista Escritos e Escritas na EJA | nº8 | 2017.2 |117


DO DIREITO À EDUCAÇÃO

Com o pressuposto da igualdade e da liberdade, a educação, mediante o artigo


205 da Constituição Federal (CF) é um “direito de todos e dever do Estado e da
família”. Visto que é uma dimensão fundante da cidadania, após 20 anos de ditadura,
foi proclamada como o primeiro direito social pelo artigo 6º da mesma Constituição,
que, por sinal, avançada na garantia dos direitos sociais (DI PIERRO; HADDAD, 2015).

A educação escolar é um bem público de caráter próprio por implicar a


cidadania e seu exercício consciente, por qualificar para o mundo do
trabalho, por ser gratuita e obrigatória no ensino fundamental, por ser
gratuita e progressivamente obrigatória no ensino médio, por ser também
dever do Estado na educação infantil (CURY, 2007).

Todavia, visto a democratização educacional tardia (CURY, 2014) e a forte


tradição elitista que reservava apenas às camadas privilegiadas o acesso à educação
escolar (CURY, 2007), mesmo sendo um direito público subjetivo, ainda não é
realidade para todos. As precárias condições de algumas classes sociais e as sequelas
do passado acarretam o insucesso acadêmico de muitos sujeitos - o que perpetua a
estagnação das classes e torna o acesso a este bem social um meio e instrumento de
poder, visto o papel significativo na estratificação social (BRASIL, 2000).

Educação de Jovens e Adultos (EJA)

Nesta perspectiva, podemos considerar que a Educação de Jovens e Adultos


(EJA) atende esta dívida com quem não teve acesso a este bem social, tendo uma
função reparadora e de reconhecimento da igualdade ontológica (BRASIL, 2000).
Contudo, apenas no segundo mandato do ex-presidente Lula, a EJA foi incorporada
“nas políticas estruturantes do sistema de educação básica, que passaram a ser
organizadas em torno ao Plano de Desenvolvimento da Educação” (DI PIERRO;
HADDAD, 2015) – mesmo assim, sem ser prioridade.

Apenas em 2014, a superação do analfabetismo tornou-se um objetivo. Sendo


assim, a Educação de Jovens e Adultos foi mencionada nas metas 8, 9 e 10 do Plano
Nacional de Educação:

Meta 8: elevar a escolaridade média da população de 18 (dezoito) a 29


(vinte e nove) anos (...);

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Meta 9: elevar a taxa de alfabetização da população com 15 (quinze) anos
ou mais para 93,5% (noventa e três inteiros e cinco décimos por cento) até
2015 e, até o final da vigência deste PNE, erradicar o analfabetismo absoluto
e reduzir em 50% (cinquenta por cento) a taxa de analfabetismo funcional;

Meta 10: oferecer, no mínimo, 25% (vinte e cinco por cento) das matrículas
de educação de jovens e adultos, nos ensinos fundamental e médio, na
forma integrada à educação profissional.

Alfabetização como direito básico


Em uma sociedade onde o código escrito é enaltecido, ocupando uma posição
privilegiada, “o não acesso a graus elevados de letramento é particularmente danoso
para a conquista de uma cidadania plena” (BRASIL, 2000). Como podemos ler na
Declaração de Hamburgo sobre a Educação de Adultos, de 1997:

A alfabetização, concebida como o conhecimento básico, necessário a todos


num mundo em transformação em sentido amplo, é um direito humano
fundamental. Em toda sociedade, a alfabetização é uma habilidade
primordial em si mesma e um dos pilares para o desenvolvimento de outras
habilidades. (...) A alfabetização tem também o papel de promover a
participação em atividades sociais, econômicas, políticas e culturais, além de
ser requisito básico para a educação continuada durante toda a vida.

Todavia, vale salientar que, o sujeito analfabeto/iletrado não deve ser


considerado como inculto, visto que existem outras formas de expressar a cultura, um
exemplo é a baseada na oralidade. Essa é uma das especificidades da EJA.

Século do conhecimento

Mesmo sendo dever do Estado garantir igualdade de condições para o acesso e


permanência na educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17
(dezessete) anos de idade, e assegurar sua oferta gratuita para todos os que a ela não
tiveram acesso na idade própria, o censo escolar de 2016 mostra que ainda há 2,8
milhões de crianças jovens (4 aos 17 anos) que não frequentam a escola.

No século chamado como “século do conhecimento”, segundo dados da


UNESCO, no ano de 2014, havia mais de 13 milhões de brasileiros, com 15 anos de
idade ou mais, analfabetos. Se formos analisar quem constitui essa parcela da

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população, em sua maioria, são pessoas com mais idade, baixa renda, de regiões
pobres e interioranas e provenientes dos grupos afro-brasileiros – sequela do passado.

O acesso à educação para todos, principalmente para Jovens e Adultos, é uma


possibilidade de maior igualdade social, auxiliando na eliminação das discriminações,
possibilitando o exercício do pensamento, a apropriação de conhecimentos mais
avançados, a autovalorização do sujeito e a criação de um espaço democrático
(BRASIL, 2000).

Para isto, não basta que todos tenham acesso à educação, é necessário que
tenhamos educação de qualidade para todos. Pois, se não for de qualidade para todos,
as desigualdades impostas anteriormente pelo impedimento ao acesso à educação,
retoma-se pela diferenciação de experiências e qualidade. (RIBEIRO; CATELLI;
HADDAD, 2015)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Além de ser o pilar da democracia, a educação tem uma importância


imensurável na sociedade, ela é porta para um universo de possibilidades, que torna
possível a mudança tanto da realidade do sujeito, quanto da sociedade como um todo.
Sendo assim, não é justo não ser um bem de acesso a todos, um direito de cidadania.

A Educação de Jovens e Adultos não é apenas um direito para quem não


concluiu o ensino básico, é mais do que alfabetizar, a EJA é dar às pessoas,
independentemente da idade, a oportunidade de desenvolver seu potencial. É tornar
mais próximo da realidade da sociedade os valores igualdade e liberdade.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Parecer 11 do Conselho Nacional de Educação. 2000


CURY, Carlos Roberto Jamil. A gestão democrática na escola e o direito à educação.
In: Revista Brasileira de Política e Administração da Educação. Porto Alegre. v.23, n.3,
p. 483-495, set./dez. 2007. Porto Alegre: ANPAE, 2007.

Revista Escritos e Escritas na EJA | nº8 | 2017.2 |120


CURY, Carlos Roberto Jamil. A qualidade da educação brasileira como direito. In:
Educação e Sociedade, vol. 35 nº.129 Campinas Oct./Dec.2014.
DI PIERRO, M.C; HADDAD, S. Transformações nas políticas de Educação de Jovens e
Adultos no Brasil no Início do Terceiro Milênio. In: Caderno Cedes. Campinas, v. 35, n.
96, p. 197-217, maio/agosto. 2015
DUARTE, Clarice Seixas. A educação como um direito fundamental de natureza social.
Educação e Sociedade. Campinas, vol, 28, nº 100 - Especial p. 691-713, out. 2007.
RIBEIRO, V. M; CATELLI Jr. R.; HADDAD, S. Avaliação da EJA no Brasil: insumos,
processos, resultados. INEP: Brasília, 2015
UNESCO. Población analfabeta por grupo etario entre 2011 y 2016. Disponível em:
<http://uis.unesco.org/indicator/edu-lit-illit_pop-age_group> Acesso em: 10 jan. 2018.

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