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RESUMO – LPI MÓDULO III

CARBOIDRATOS:
Características básicas:
Carboidratos são substâncias de fórmula geral (CH2O)n, sendo conjuntos de poli-
hidroxialdeídos ou poli-hidroxicetonas. Dividem-se em três classes principais:
 Monossacarídeos: são formados por um único conjunto de poli-
hidroxialdeídos/cetonas, sendo a mais comum a glicose, formada por seis
carbonos (hexose, assim como frutose e galactose). Cadeias com mais de 4
carbonos tendem a possui conformação cíclica;
 Dissacarídeos: possuem duas unidades de monossacarídeos unidas por
ligações glicosídicas, como a sacarose. São a classe mais abundante dentre
os oligossacarídeos, sendo que esses últimos podem formar glicoconjugados
com outras substâncias;
 Polissacarídeos: apresentam mais de 20 cadeias de monossacarídeos,
formando compostos lineares (celulose) ou ramificados (glicogênio). São
formados por diversas sequências de D-glicose unidas por ligações
glicosídicas distintas, levando à especificação própria de cada composto.
Mono e dissacarídeos apresentam grande atividade esteroisomérica devido à
presença de carbonos quirais, fator importante pois as enzimas de degradação têm
papel altamente específico para cada conformação.
Polissacarídeos podem desempenhar papel de reservatórios energéticos, como é o
caso da celulose, que apresenta conformação espacial distinta àquela dos amidos
por conter ligações do tipo beta, que conferem maior flexibilidade ao composto, e o
glicogênio, que é armazenado por meio de longas cadeias de resíduos glicosídicos
ligados por relações alfa (lineares) e beta (ramificações).
Testes bioquímicos de caracterização de carboidratos:
 Reação de Benedict: é empregada para analisar a presença de açúcares
redutores (hexoses e pentoses, pois apresentam grupo hidroxila livre no
carbono 1, oriundo de um aldeído ou de um álcool, que pode ser facilmente
empregado em reações de oxirredução) em um determinado composto,
podendo ser utilizado para determinar a presença de glicose na urina de um
paciente (glicosúria), por exemplo, sendo assim útil ao diagnóstico de
diabetes. Esse teste consiste em adicionar um complexo de hidróxido cúprico
e citrato de sódio (estabilidade, evita que a substância se torne preta) a um
tubo de ensaio, no qual também é inserida a amostra de material colhido. Em
seguida, leva-se esse tubo de ensaio para fervura (2min), observando uma
mudança de cor do azul (inicial) ao vermelho-tijolo (final), que indica a
formação de óxido cuproso e a presença resultante de substratos redutores.
o Caso não haja mudança de cor não há hexoses (monossacarídeos) e
riboses, porém outras formas de carboidratos como dissacarídeos e
polissacarídeos não participam das reações por não conterem
hidroxila livre;
o Um precipitado, também vermelho, pode se formar, indicando a
formação de óxido cuproso.
 Reação de Molish-Udransky: é uma reação geral de identificação de
carboidratos baseada na formação de furfural (pentoses) e hidroximetilfurfural
(hexoses), sustâncias incolores oriundas da desidratação desses compostos
em meio ácido. Para que possa ser melhor observada, há a adição do
reagente de Molish, um composto fenólico que forma um anel violeta em
casos de aparecimento das substâncias supracitadas. É aplicável à
polissacarídeos, porem de maneira lenta, uma vez que esses devem ser
degradados a seus substratos antes da geração do anel;
 Reação de Selivanoff: permite a diferenciação entre cetoses e aldoses por
meio da reação com ácido clorídrico e resorcinol, substâncias que permitem a
formação de derivados do furfural, mecanismo mais eficiente nas cetoses
(frutose e compostos derivados), causando uma mudança na coloração,
aproximando-a de um vermelho intenso, ao passo que as aldoses devem
sofrer mudanças conformacionais para sua desidratação a
hidroximetilfurfural, tornando-se rosa claro no experimento. É um
procedimento a quente, pois o calor da chama catalisa a desidratação.
Aspectos bioquímicos atrelados à pratica clínica:
A diabetes mellitus está relacionada a quadros crônicos de hiperglicemia, seja por
destruição autoimune das células de produção hormonal no pâncreas (DM 1) ou
pela resistência periférica à insulina, que se agrava por araque inflamatório
pancreático (DM 2). Para seu diagnóstico, além da tríade poliúria, polidipsia e
polifagia, há a dosagem de hemoglobina glicada, obtida por meio de separação
eletroforética da HbG devido a diferença de cargas elétricas. Esses valorem têm por
limite valores entre 4 a 6%. A HbG sugere o acúmulo de produtos finais de glicação
avançada, que podem resultar em problemas crônicos relacionados à
vascularização ao se combinarem a proteínas críticas. Além da hemoglobina
glicada, outras dosagens séricas podem ser estabelecidas para o diagnóstico da
diabetes, expressas pela tabela:

LIPÍDEOS:
Características básicas:
O grupo dos lipídeos é um conglomerado heterogêneo de compostos cuja
característica comum é a insolubilidade em água. Suas funções também são
variadas, podendo atuar como reservas energéticas, compor a membrana
plasmática celular, formar hormônios, enzimas, carreadores e sinalizadores
diversos, além de agirem macroscopicamente na produção contra choques
mecânicos e no isolamento térmico.
Os lipídeos voltados para o armazenamento de energia são encontrados sob a
forma de ácidos graxos, derivados de hidrocarbonetos altamente reduzidos,
liberando grandes quantidades de energia em seu processo de oxidação. Esses
compostos podem ser saturados ou insaturados, os últimos possuindo menor
temperatura de fusão devido à torção molecular sofrida, o que confere caráter fluido
à membrana plasmática. As insaturações iniciam-se no C9, perpetuando-se a
intervalos regulares de 3 carbonos. A solubilidade em água diminui com o aumento
do número de radicais acil e com a ausência de insaturações (molécula saturada é
menos solúvel), sendo esses carreados pelo sangue por intermédio de outras
substâncias, como a albumina sérica.
Os triacilgliceróis são moléculas formadas por ácidos graxos e que são ainda mais
insolúveis que os AGL, devido a sua conformação estrutural. Esses compostos são
armazenados nos adipócitos, sofrendo a ação de lipases quando é necessária a
obtenção de energia por essa via. Sua estruturação permite maior rendimento
energético em menor peso de matéria, situação causada pela repulsão à água e ao
caráter muito reduzido dos carbonos moleculares.
Ceras biológicas também são reservatórios de lipídeos, pois são constituídas de
ésteres de AG ligados a álcoois longos, formando compostos específicos para
lubrificação e impermeabilização.
Os lipídeos de membrana são anfipáticos, orientados de forma a expor suas
cabeças polares para o meio externo, enquanto a porção polar é protegida
internamente. A cabeça se liga a resíduos de ácido fosfórico, compondo as
fospolipoproteínas.
O colesterol é formado pela união de uma cabeça hidroxila a um corpo formado por
anéis carbônicos fusionados, tendo o papel de compor lipoproteínas carreadoras de
TAG e AG entre sangue e tecidos. As lipoproteínas dividem-se em quilomícron
(muito TGA, faz o transporte do que é absorvido no intestino até o fígado), colesterol
VLDL e LDL (substrato e produto, apresentam baixa densidade, buscando carrear
os AG para os tecidos em depleção energética, seu acúmulo no plasma é maléfico),
IDL (produto secundário da formação do LDL) e HDL (colesterol de alta densidade
que leva AG dos tecidos ao fígado para que haja armazenamento nos adipócitos.
Possui maior razão proteínas/lipídeos).
Análises bioquímicas:
 Solubilidade: por apresentar características majoritariamente apolares há
maior solubilidade em compostos de caráter similar (álcool éter, clorofórmio,
etc.) do que em suspensão aquosa (não é possível romper micelas, gerando
uma solução bifásica). A adição de ácidos e sais promove misturas também
bifásicas, pois não conseguem permear totalmente a membrana lipídica (no
último caso há precipitação de resíduos);
 Saponificação: é um procedimento que visa expor os AGs presentes em
TAG, pois esses substratos apresentam caráter anfipático muito explorado
pela indústria na produção de compostos desengordurantes. O TAG é
suspenso em mistura com hidróxido de potássio (KOH) levada à fervura, e
em seguida há adição de água destilada seguida de novo aquecimento, com
o produto resultante consistindo em sabão (sal de ácido graxo e potássio e
glicerol)
Correlações com a prática clínica:
Os lipídeos relacionam-se ao exercício da clínica médica principalmente em duas
situações, a saber:
 Dislipidemia: refere-se a um aumento na dosagem séria, isolada ou não, de
triglicéride e/ou colesterol, podendo ser classificada em primária (sem
patologias prévias, de caráter gênioco-mutacional ou fenotípico, podendo ser
hipercolesterolemia isolada [aumento de LDL], hipertrigliceridemia isolada
[aumento de TAG], hiperlipidemia [elevação conjunta de TAG e LDL] ou
redução das frações de HDL) ou secundária (associada a um quadro
patológico pregresso, como doenças hepáticas, hipotiroidismo ou em
pacientes transplantados). Causa aumento da propensão a distúrbios
coronarianos como a aterosclerose (formação de trombos [células
esponjosas- macrófagos + AG] em artérias, podendo levar à sua obstrução e
rompimento). Seu diagnóstico é realizado por meio de dosagem sérica das
frações lipídicas supracitadas, com o tratamento envolvendo medidas de
mudança no estilo de vida e intervenção farmacológica;
 Síndrome metabólica: distúrbio oriundo da associação da elevada
circunferência abdominal (mais de 90cm para homens e 80cm para
mulheres), que indica acúmulo de gordura visceral a pelo menos um dos
seguintes fatores: diabetes mellitus, hipertensão arterial sistêmica, aumento
da fração LDL/TAG ou redução do HDL). Seu tratamento pode ser efetuado
tanto pela mudança no estilo de vida quanto pelo controle medicamentoso
dos fatores associados, pois causa elevado risco de doenças coronarianas e
vasculares.
PROTEÍNAS:
Características básicas:
As proteínas são estruturas de funções reguladoras amplas e fundamentais para o
funcionamento do organismo, presentes em todas as células e em seus
constituintes, sendo formadas por estruturas monoméricas simples, os aminoácidos
(20, no total).
Os aminoácidos se unem de forma covalente para compor as estruturas
macromoleculares, mecanismo denominado ligação peptídica, que ocorre entre o
grupo amino (NH2) de um monômero e o grupo carboxila (COOH) de outro,
liberando uma molécula de água (desidratação). Os produtos dessas ligações são
os peptídeos, que perpetuam as ligações entre suas cadeias laterais para a
formação de um polímero específico, cujas funções se estendem desde a regulação
enzimática até a composição estrutural do corpo.
A estrutura de um aminoácido consiste em um carbono tetrâmero ligado a um átomo
de hidrogênio, um grupamento amino, uma carboxila e um radical variável
responsável pela especificidade desse substrato.

As proteínas podem ser classificadas quanto a sua estrutura espacial, sendo


divididas em:
 Primárias: apresentam cadeia linear, com ligações peptídicas entre os pontos
C-terminal e N-terminal;
 Secundária: há o início de uma espiralização recorrente em α-hélice (curva
em torno de um eixo imaginário), formando uma estrutura análoga a um fio
de telefone. Essas interações ocorrem por meio de ligações de hidrogênio
entre aminoácidos sobrepostos, de modo a começar processos de
condensação proteica;
 Terciária: ocorre a condensação total da unidade peptídica analisada, com a
espiralização total em hélices;
 Quaternária: justaposição de cadeias peptídicas terciárias, formando um
composto altamente espiralizado e condensado.

As proteínas apresentam pH e temperaturas ideias de atuação e, quando expostas


a condições distintas por longos períodos pode ocorrer uma danificação de suas
estruturas terciárias, acarretando a perda de função, processo denominado
desnaturação proteica. As proteínas desnaturadas podem não sofrer completo
desdobramento, mas o rompimento de interações de hidrogênio e/ou ligações
peptídicas desestabiliza a integridade do complexo, que tende a se deteriorar mais.
Isso é frequente em casos de aumento da temperatura, redução no pH ou pela
inserção de solventes orgânicos.
Vale salientar que as proteínas transmembranáceas e enzimas possuem sistemas
de reconhecimento altamente específicos, atuando sobre sistema de chave-
fechadura, que pode sofrer interferências da desnaturação.
Análises bioquímicas:
 Efeito da temperatura: a temperatura elevada causa rompimento das
interações de atração entre os radicais, rompendo as estruturas terciária e
secundárias, deixando apenas o substrato linear. Sua reversibilidade
relaciona-se à quantidade de calor fornecido. Além disso, moléculas de água
se desligam da proteína por ebulição (desidratação);
 Efeito do pH: a redução do pH promove interações entre íons hidrônio
liberados pela dissociação ácida e os grupos amino, rompendo as interações
de atração e reduzindo a molécula a seu estado linear;
 Atuação de solvente orgânico: há a exposição da porção polar proteica,
formando uma solução trifásica, pois o solvente apresentará maior afinidade
pela porção apolar da molécula. A presença de água no composto inserido
pode auxiliar sua permeabilidade pela membrana (álcool 70% mais eficaz);
 Efeito da força iônica: a ionização de um sal promove o aumento de
interações com o hidrogênio proteico e a água da suspensão, expondo a
proteína por reduzir seu meio de dissolução. Não causa desnaturação, sendo
reversível por meio da adição de água.
Correlações com a prática clínica:
Processos de desnutrição ocorrem quando há esgotamento das reservas primarias
de energia (carboidratos e lipídeos), sem reposição destas por meio da alimentação,
cabendo ao corpo empregar suas últimas vias de obtenção de energia (proteínas), o
que resulta em degradação abrupta do funcionamento fisiológico do corpo,
induzindo estado de inanição.
A desnutrição energético-proteica se dá quando há uma depleção nutricional
atribuída à deficiência de ingestão de proteínas ou a redução integral do consumo
calórico, possuindo alta letalidade entre crianças e em países menos desenvolvidos.
Divide-se em dois principais segmentos:
 Síndrome de Kwashiorkor: há ingestão proteica deficitária em dieta com
pouca depleção calórica (come-se “mal”, pois há um elevado consumo de
carboidratos não acompanhado por suplementação proteica). Seus sinais
mais evidentes são o edema nutricional (a diminuição da albumina sérica
promove a desregulação no balanço coloidosmótico, acentuando a presença
de líquido extracelular, o que se faz evidente pela ascite), a despigmentação
de cabelo e pele (sinal da bandeira), hepatomegalia (há pouca síntese das
apolipoproteínas que carregam AG para os tecidos) e retardo no crescimento,
além da apatia preponderante no estado de ânimo;
 Marasmo: os acometidos por essa doença possuem deficiência na ingestão
de calorias superior ao deficit proteico (não come o suficiente), o que leva a
uma acentuada perda muscular (emaciação), surgimento de pregas
cutâneas, face envelhecida ou simiesca, hipotermia e irritabilidade.
Pode haver a combinação de ambas as formas de desnutrição, sendo necessária
uma investigação do cotidiano individual para determinar o quadro.
Todos os acometidos em ambos os casos apresentam deficiências vitamínicas e de
sais minerais.
A ureia também é um marcador bioquímico atrelado às proteínas, uma vez que é o
metabolito nitrogenado resultante da degradação de aminoácidos. Sua dosagem é
realizada junto à creatinina para avaliar a função renal, visto que essas duas
substâncias são eliminadas pelos rins. Em caso de sofrimento desse órgão, a razão
de ureia/creatinina na urina irá diminuir, havendo o aumento simultâneo das
concentrações séricas.
A excreção de albumina pela urina também é um fator de relevância clínica, uma
vez que essa proteína tem como principal função a manutenção dos gradientes
coloidosmóticos, mantendo a concentração de líquidos no plasma constante. Em
quadros como DM, pré-eclâmpsia e HAS a saúde vascular pode ser prejudicada,
causando ineficiência da ação desse composto e desregulando o equilíbrio de
fluidos ente o plasma e o LEC.

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