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EIZIRIK. Incorporação e Extinção de AA
EIZIRIK. Incorporação e Extinção de AA
TEMAS DE DIREITO
SOCIETÁRIO
RENOVAR
Rio de Janeiro • São Paulo • Recife NAO FAÇA CóPIA
2005 fttffi§
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Capa: Sheila Neves
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Eizirik, Nelson
E426t Temas de direito societário I Nelson Eizirik. - Rio de Janeiro: Re-
novar, 2005.
630p. ; 23cm.
ISBN 85-7147-516-4
I. Direito societário - Brasil. I. Título.
CDD-346.81052
I - DA CONSULTA
311
4. A par disso, consulta-se, também, se, na incorporação de subsidiá-
ria integral, tem aplicação o disposto no art. 264 da Lei das Socieda-
des Anônimas tendo em vista que não há, seja na incorporadora, seja
na incorporada, acionista minoritário a ser protegido contra o s.d[_
dealing, permanecendo idênticas as participações percentuais dos
acionistas na incorporadora.
5. Por fim, e considerando que, no entender da sociedade, mostra-se
visível o interesse social em que se realize a supracitada incorporação,
e que a discussão sobre a sobrevivência do Acordo de Acionistas, ou
não, é res inter alias, pergunta-se se a iniciativa, judicial ou extraju-
dicial (Junta Comercial), de algum acionista visando paralisar a in-
corporação é ato lícito, à vista do disposto no art. 187 do Novo Código
Civil?"
11 -DO PARECER
312
"Art. 118 - Os acordos de acionistas, sobre a compra e venda de
suas ações, preferência para adquiri-las, exercício do direito de voto,
ou do poder de controle deverão ser observados pela companhia quan-
do arquivados na sua sede."
"Un teZ acte générateur d'obligations est étranger au droit des so-
ciétés anonymes, il releve au droit des obligations. (. .. .) Naus
pouvons conclure avec la doctrine unanime que les accords relatifs à
l'exercise du droit de vote de l'actionnaire sont de nature purement
contractuelle et reposent sur les príncipes généraux du droit ci-
vil." (grifamos)
313
tas, estes se destinam a produzir efeitos no âmbito da sociedade, par-
ticularmente quando disciplinam o exercício do direito de voto.
Assim, o acordo de acionistas tem natureza de contrato parasso-
cial, uma vez que, embora suas disposições não integrem o contrato
social, seus contratantes são acionistas e sua execução opera-se na
esfera societária.
Por regularem, extra-socialmente, a composição dos interesses
individuais dos sócios, os acordos de acionistas são classificados como
contratos parassociais. 3
A jurisprudência de nossos tribunais também tem reconhecido a
natureza de contrato parassocial dos acordos de acionistas, a latere do
contrato de sociedade 4 .
O fato de constituir um contrato parassocial permite concluir
que, apesar de celebrado individualmente entre os sócios, a eficácia
do acordo de acionistas está condicionada à existência da pessoa jurí-
dica, em cuja esfera dar-se-á a sua execução.
Com efeito, não faria sentido, até por uma questão lógica, a exis-
tência de um contrato cujo objetivo é regular as relações das partes
enquanto acionistas de uma companhia que não existe. Diante disso,
pode-se afirmar que o contrato social precede, logicamente, o acordo
de acionistas. 5
Dessa forma, a vigência do acordo de acionistas depende da exis-
tência da sociedade na qual seus efeitos deverão ser produzidos, con-
forme ressalta Modesto Carvalhosa: 6
314
No mesmo sentido, vale mencionar a lição de Mario Leite Santos,
nos seguintes termos: 7
315
recíproca entre os dois negócios, pois tem o acordo de acionistas a
função de implementar cláusulas estatutárias. Nessa hipótese, ade-
mais, a eficácia do contrato parassocial depende não apenas da
existência da pessoa jurídica, mas também da existência de deter-
minadas cláusulas do próprio contrato social." (grifamos)
316
Ora, uma das conseqüências da operação de incorporação, confor-
me textualmente mencionam os artigos 219, inciso 11 e 227, § 3°, da
Lei das S .A., é a extinção da sociedade incorporada.
Dessa forma, não há dúvida de, no caso presente, a incorporação
da COMPANHIA ALFA pela COMPANHIA BETA acarretará a ex-
tinção do Acordo de Acionistas, na medida em que não mais existirá a
sociedade em cujo âmbito suas disposições devem ser executadas.
13 CELSO BARBI FILHO. Acordo de Acionistas. Belo Horizonte: Del Rey, 1993. p.
90.
14 FÁBIO KONDERCOMPARATO. O poder de controlenasociedadeanônima. Rio
de Janeiro: Forense, 1983. p. 177/178.
317
Em virtude de tal dispositivo, deve a companhia, por exemplo,
impedir a transferência das ações de propriedade de um dos conve-
nentes em violação às cláusulas do acordo ou, ainda, não computar o
voto proferido em Assembléia Geral em sentido contrário daquele
previamente ajustado.
Em suma, o artigo 118 da lei societária impôs à companhia a fun-
ção de assegurar o cumprimento do disposto nos acordos de acionistas
arquivados em sua sede.
No entanto, o fato de a companhia ter a atribuição legal de garan-
tir a observância do cumprimento dos acordos de acionistas não a
torna parte de tais contratos e tampouco autoriza que, como tal, ela
possa ficar sujeita ao cumprimento de obrigações neles impostas.
A regra do artigo 118 da Lei das S .A. não acarreta propriamente
uma obrigação à companhia, mas somente atribui a ela a função de
implementar a vontade dos convenentes, com poderes para impedir
que produzam efeitos eventuais atos praticados em desconformidade
com as disposições do acordo.
De fato, obrigação, em seu sentido jurídico, constitui o vínculo em
virtude do qual uma pessoa fica adstrita a satisfazer uma prestação em
proveito da outra, tendo como um de seus requisitos essenciais o
caráter patrimonial da prestação. 15
A atribuição conferida pelo artigo 118 da Lei das S .A. à sociedade
não se caracteriza, portanto, como obrigação e, muito menos, possui
natureza patrimonial.
Assim, a função de assegurar a observância das disposições do
acordo firmado entre os acionistas da sociedade incorporada não pode
ser incluída entre as obrigações que, nos termos do artigo 227 da Lei
das S.A., devem ser assumidas pela companhia incorporadora.
Conclui-se, pois, que o acordo de acionistas não acarreta nenhuma
obrigação para a sociedade incorporada que deveria ser assumida pela
companhia incorporadora.
Dessa forma, não há como se pretender que o acordo de acionis-
tas, extinto em decorrência do desaparecimento da companhia incor-
porada, seja, automaticamente, "transferido" para a incorporadora,
passando a disciplinar a relação de seus signatários enquanto acionistas
desta.
318
A.4 - Da inexistência de declaração de vontade dos acionistas da
COMPANHIA ALFA quanto à sobrevivência do Acordo de
Acionistas após a incorporação da Companhia
Vale ainda ressaltar que somente seria possível admitir que o acor-
do de acionistas passasse a ser aplicável em relação à incorporadora,
após a incorporação da sociedade a que ele originalmente se referia,
caso os contratantes tivessem expressamente previsto tal possibilida-
de.
Lembre-se que a celebração de acordo de acionistas impõe, em
regra, uma série de restrições ao exercício de direitos inerentes à
condição de sócio.
Dependendo do teor das cláusulas contratuais, o acionista poderá
ser constrangido a votar, nas deliberações assembleares, em sentido
previamente determinado, assim como terá que observar limites à
livre alienação de suas ações.
Em vista disso, a "transferência" das obrigações decorrentes do
acordo de acionistas para outra sociedade, após a incorporação da
companhia, constituiria medida de caráter excepcional, que, como
tal, somente poderia ser admitida em face de concordância expressa
dos contratantes.
Ou seja, a única forma pela qual o acordo de acionistas da compa-
nhia incorporada poderia sobreviver à extinção desta, passando a vigo-
rar em relação à sociedade incorporadora, seria mediante declaração
inequívoca da vontade das partes neste sentido.
Assim, se esta tivesse sido a sua intenção, deveriam as partes ter
previsto expressamente que, na hipótese de incorporação da socieda-
de, os direitos e obrigações decorrentes do acordo de acionistas passa-
riam a ser exercidos em relação à nova companhia.
No caso presente, as Partes do Acordo· de Acionistas comprome-
teram-se a restringir o exercício de seus direitos enquanto acionistas
da COMPANHIA ALFA, não de qualquer outra sociedade. Não há,
no Acordo de Acionistas, qualquer menção à sobrevivência da avença
em relação à companhia que eventualmente viesse a suceder a COM-
PANHIA ALFA.
Note-se, ademais, que foi expressamente prevista a possibilidade
de a Companhia vir a ser incorporada no decorrer da vigência do
Acordo, conforme se verifica de sua Cláusula 7.2:
319
compuserem o capital social toda e qualquer deliberação da Assem-
bléia Geral da COMPANHIA ALFA que tenha por objeto as seguin-
tes matérias:
(. ..)
3. incorporação, fusão, clsao, transformação ou dissolução da
COMPANHIAALFA." (grifamos)
320
A lei societária exige que os critérios utilizados para determinar as
relações de substituição das ações sejam divulgados no Protocolo de
Incorporação, conforme o disposto em seu artigo 224, inciso I.
A exigência legal da indicação dos critérios de avaliação implica,
obviamente, a possibilidade da utilização de mais de um, como meio
de se alcançar a justa relação de substituição. 16
De fato, não há qualquer exigência ou determinação especial
quanto aos critérios a serem utilizados para avaliação das ações de cada
sociedade, que serão livremente escolhidos pelos administradores e
acionistas das companhias envolvidas. 17
Prevalece, portanto, em nosso direito, a ampla liberdade na esco-
lha convencional do critério utilizado para determinar as relações de
substituição das ações em operações de incorporação.
321
visto que o mesmo acionista controlador decide pelos dois lados da
operação.
De fato, na incorporação de controlada inexistem duas vontades
na operação, pois o mesmo controlador vota e decide as condições em
que se realizará a incorporação nas assembléias gerais das duas socie-
dades, onde, a princípio, pressupõe-se que os acionistas repre-
sentariam interesses contrários.
Esta foi a razão que motivou o legislador brasileiro a adotar regras
especiais em relação à incorporação de companhia controlada, confor-
me se verifica da Exposição de Motivos da Lei no 6.404/1976:
3ZZ
ao minoritário elementos para que ele possa decidir sobre a conve-
niência de aceitar ou não a relação de troca estabelecida no Protocolo
da operação.
De fato, o cálculo da relação de substituição com base no vàlor do
patrimônio líquido a preços de mercado é exigido para permitir a
comparação com o critério escolhido pela administração das socieda-
des e indicado no Protocolo, a fim de evidenciar a eqüidade da esco-
lha do referido critério, conforme leciona Alfredo Lamy Filho 20 :
zo ALFREDO LAMY FILHO e JOSÉ BULHÕES PEDREIRA. A Lei das S.A. vol. 2.
2 ed. Rio de Janeiro: Renovar, 1996. p. 328.
323
riam da avaliação dos patrimônios a preços de mercado, os acionistas
dissidentes poderão escolher, ao exercer o direito de recesso, entre o
reembolso de suas ações calculado com base no valor do patrimônio
líquido contábil ou com base no valor de patrimônio líquido a preços
de mercado.
Em outras palavras, a possibilidade de o valor de reembolso ser
fixado com base no patrimônio líquido avaliado a preços de mercado
somente existe na hipótese de os acionistas da companhia incorporada
serem prejudicados na relação de substituição de suas ações, em com-
paração com o critério indicado no Protocolo da operação.
Portanto, a regra prevista no artigo 264 da Lei das S.A. possui
dupla finalidade, qual seja:
a) evidenciar a eqüidade dos parâmetros escolhidos para a fixação
da relação de substituição das ações; e
b) servir como critério alternativo para o cálculo do valor de reem-
bolso devido aos acionistas dissidentes, na hipótese de a relação de
substituição estabelecida no Protocolo da Incorporação ser menos
vantajosa do que aquela que decorreria da avaliação dos patrimônios
líquidos a preços de mercado.
324
Assim, a composição do capital social na sociedade resultante da
incorporação será, necessariamente, idêntica àquela anteriormente
existente na companhia incorporada.
Vale dizer, independente do critério utilizado para determinar a
relação de substituição das ações, os acionistas da incorporada deverão
deter, no capital da incorporadora, exatamente o mesmo percentual
de participação que possuíam antes da incorporação.
Em vista disso, pode-se afirmar que a incorporação da companhia
por sua subsidiária integral não acarreta, em nenhuma hipótese, pre-
juízos patrimoniais aos acionistas da incorporada, visto que as suas
respectivas porcentagens de participação, no novo quadro acionário,
permanecerão absolutamente idênticas.
Ora, conforme referido, a exigência da avaliação prevista no artigo
264 da Lei das S.A. visa, em essência, a conferir informação adicional
aos acionistas da companhia incorporada, de modo que estes possam
aferir o caráter eqüitativo da operação, comparando a relação de subs-
tituição fixada no Protocolo com aquela que resultaria da avaliação
pelo critério do patrimônio líquido a preços de mercado.
Na incorporação por subsidiária integral, a referida informação
adicional não possui nenhuma utilidade para o acionista da incorpora-
da, uma vez que, repita-se, qualquer que seja o critério adotado para
fixar as relações de substituição, a composição acionária da incorpora-
dora será exatamente igual à que existia na incorporada antes da ope-
ração.
Ou seja, não se justifica impor à companhia a realização de uma
formalidade adicional, cujo objetivo é permitir a comparação entre
dois resultados que serão, sempre, absolutamente idênticos.
Da mesma forma, também não faria sentido exigir a avaliação referi-
da no artigo 264 da Lei das S.A. sob o argumento de que os acionistas
dissidentes da operação poderiam requerer que o valor de reembolso de
suas ações fosse apurado com base no critério ali previsto.
De fato, a possibilidade de o valor de reembolso ser calculado com
base no parâmetro mencionado no artigo 264 da lei societária so-
mente existe na hipótese de a relação de substituição estipulada no
Protocolo ser prejudicial para os acionistas da incorporada, em com-
paração com aquela que resultaria da avaliação dos patrimônios a pre-
ços de mercado.
Caso a relação de substituição fixada no Protocolo seja mais van-
tajosa ou igual àquela que decorreria da avaliação adicional determi-
nada pelo artigo 264 da Lei das S.A., o valor de reembolso das ações
será apurado de acordo com a regra geral estabelecida no artigo 45 da
325
Lei no 6.404/1976, qual seja, valor de patrimônio líquido contábil da
companhia, se outro critério não estiver previsto no estatuto social.
Em se tratando de incorporação por subsidiária integral, a relação
de substituição estabelecida no Protocolo será necessariamente igual
a que resultaria da avaliação dos patrimônios a preços de mercado,
visto que, em qualquer caso, os acionistas manterão a mesma partici-
pação que detinham na companhia incorporada.
Vale dizer, o resultado da comparação prevista no artigo 264 da lei
societária nunca será prejudicial aos acionistas da incorporada, inde-
pendentemente do critério adotado para determinar a relação de
substituição.
Constata-se, pois, que nenhuma das duas finalidades que ensejam
a obrigatoriedade da realização da avaliação adicional exigida pelo ar-
tigo 264 da Lei das S.A. justifica a sua aplicação às operações de
incorporação da companhia por sua subsidiária integral.
Ora, o direito comercial, pela própria natureza das atividades que
ele regula, caracteriza-se pela celeridade e informalidade, o que auto-
riza a dispensa do cumprimento de formalidades inúteis, isto é, cujo
atendimento não acarreta nenhum benefício para aqueles que norma
visa a proteger.
O direito societário, sem abrir mão das formalidades necessárias à
segurança das relações jurídicas, tem dispensado rituais despiciendos
e onerosos, reconhecendo o caráter dinâmico e informal dos negócios
mercantis.
Assim, não se justifica, na hipótese da Consulta, a exigência de
apresentação da avaliação prevista no artigo 264 da Lei das S.A., visto
que, conforme referido, o atendimento a tal formalidade não acarreta
nenhuma proteção adicional aos acionistas minoritários da sociedade
incorporada.
Em verdade, a realização da aludida avaliação representaria um
acréscimo nos custos incorridos para a efetivação da incorporação,
sem que, em contrapartida, nenhum benefício fosse auferido pelos
acionistas das sociedades envolvidas.
Nessas condições, pode-se afirmar que dita avaliação, ao invés de
representar uma proteção, seria prejudicial para os próprios acionistas
da incorporada, pois seriam eles que, indiretamente, teriam que arcar
com os custos de sua realização.
Diante do exposto, conclui-se que a regra prevista no artigo 264
da Lei n° 6.404/1976 não se aplica às operações de incorporação de
sociedade anônima por sua subsidiária integral.
326
Logo, não há como se pretender sujeitar a incorporação da COM-
PANHIA ALFA pela COMPANHIA BETA à avaliação dos patrimô-
nios de ambas as companhias a preços de mercado.
327
Em conseqüência, o exercício do direito de voto do acionista so-
mente será legítimo se tendente à satisfação do interesse social. Ou
seja, o acionista que proferir voto contrário ao interesse social estará
atuando de maneira abusiva.
O acionista que exerce seu direito de voto abusivamente, em
busca unicamente de seus interesses pessoais, deve responder pelos
danos causados à sociedade ou aos demais acionistas, nos termos do§
4° do artigo 115 da Lei das S .A.
A violação ao princípio da prevalência do interesse social configu-
ra, ainda, abuso de poder por parte do acionista controlador.
Com efeito, o abuso de poder de controle deve ser entendido,
justamente, como a conduta do acionista controlador na direção dos
negócios contrária ao interesse social, da qual resulte prejuízo para a
sociedade, para seus acionistas ou para terceiros.
Nos termos da alínea "c" do § 1o do artigo 117 da Lei das S.A.,
considera-se modalidade de abuso de poder de controle "promover
alterações estatutárias, emissão de valores mobiliários ou adoção de
políticas ou decisões que não tenham por fim o interesse da compa-
nhia e visem a causar prejuízo a acionistas minoritários, aos que tra-
balham na empresa ou aos investidores em valores mobiliários emiti-
dos pela companhia" (grifamos).
Da mesma forma, a alínea "e" do referido dispositivo qualifica
como abusiva a conduta do acionista controlador no sentido de "indu-
zir, ou tentar induzir, administrador ou fiscal a praticar ato ilegal, ou,
descumprindo seus deveres definidos nesta Lei e no estatuto, promover,
contra o interesse da companhia, sua ratificação pela assembléia
geral" (grifamos).
Vale também mencionar que um dos limites ao exercício da auto-
nomia privada nos acordos de acionistas é justamente a observância do
princípio da prevalência do interesse social, conforme se depreende
zo
do § do artigo 118 da lei societária.
Ao analisar o dispositivo transcrito, a doutrina sustenta que os
acionistas podem, livremente, firmar acordos e outras convenções
para regular o exercício dos direitos atribuídos pela Lei das S.A., des-
de que tais avenças não contrariem o interesse social 22 •
Neste sentido, Trajano de Miranda Valverde leciona que o inte-
328
resse social constitui a medida para verificar-se a licitude das conven-
ções de voto 23 :
329
Como se verifica, a redação do dispositivo transcrito revelava, a
contrário senso, que os atos praticados no exercício irregular de um
direito seriam considerados ilícitos.
Contudo, o Código Civil de 1916 não estabelecia requisitos claros
e genéricos para identificar quando o exercício de um direito seria
irregular, isto é, quando um ato poderia ser considerado abusivo.
O Código Civil de 2002, inovando em relação ao texto revogado,
acolheu de forma expressa a teoria do abuso do direito, conforme se
verifica do disposto em seu artigo 187, in verbis:
330
"El abuso nos parece- afirma Josserand- como intimamente ligado
a la idea de la finalidad de los derechos, entendida como socialmente
indispensable, es asegurada, no solamente por los límites concretos
trazados dentro de los instrumentos legislativos o regulamentarias,
sino también por las fronteras menos aparentes que derivan de la
función social de las diversas prerrogativas jurídicas y que se
constatan por un processo de investigación constante, uniforme
y segura: la búsqueda deZ motivo legítimo. Y agrega, que esas prer-
rogativas que aparecen como derechos soberanos, no son más que fa-
cultades de intereses limitados, que no pueden ser realizados correcta-
mente sino dentro y conforme al espíritu de la institución." (grifamos)
331
embora aparentemente conforme a lei, for contrário a essa finalidade
é abusivo e, em conseqüência, atentatório ao direitoY
Dessa forma, incide na prática de abuso o indivíduo que desvia o
exercício de um direito de seu fim social ou econômico próprio e
característico.
Portanto, o exercício de determinado direito será abusivo, com
fundamento no artigo 187 do Código Civil de 2002, na hipótese de
não corresponder a uma finalidade legítima, isto é, de contrariar o fim
econômico e social visado pela lei que conferiu ao titular o referido
direito.
Por fim, vale esclarecer, que, apesar de a redação do artigo 187 do
Código Civil de 2002 referir-se ao ato ilícito cometido pelo "titular de
um direito", a possibilidade de caracterização do abuso não se restrin-
ge aos direitos subjetivos propriamente ditos.
Com efeito, deve-se entender a palavra "direito", constante do
referido dispositivo legal em sentido amplo, de modo a abranger qual-
quer situação jurídica na qual o comportamento do agente apresente
os mesmos requisitos exigidos para a configuração do exercício abusi-
vo de um direito. 28
Assim, mesmo o direito de recorrer ao Poder Judiciário pode ser
utilizado abusivamente, desde que a ação do agente não seja pautada
por uma finalidade legítima, conforme refere a doutrina: 29
332
C.3 -Análise do caso concreto
333
No caso presente, segundo nos foi informado, a incorporação pela
COMPANHIA BETA constitui medida que claramente atende ao in-
teresse da COMPANHIA ALFA, tendo em vista os relevantes benefí-
cios de natureza fiscal que tal operação acarretará para as sociedades
envolvidas, e, indiretamente, para seus próprios acionistas.
Diante disso, o eventual ato de algum signatário do Acordo de
Acionistas da COMPANHIA ALFA que, no âmbito da discussão so-
bre a continuidade da vigência de tal Acordo, pretender inviabilizar a
incorporação da Companhia pela COMPANHIA BETA carecerá de
motivo legítimo, pois não estará observando o interesse social na rea-
lização de tal operação.
Vale dizer, a conduta de tal acionista, ao não atuar em conformi-
dade com o princípio da prevalência do interesse social, configurará
abuso de direito, em função da violação ao fim econômico dos direi-
tos que a qualidade de acionista lhe assegura.
Em princípio, nada impede o acionista eventualmente discordante
de questionar judicial ou extrajudicialmente a extinção do Acordo de
Acionistas. Porém, como se trata de questão particular entre as Partes
de tal Acordo, cujo desfecho não afeta a validade da incorporação da
COMPANHIA ALFA pela COMPANHIA BETA, deve ele restringir
a discussão aos demais signatários do Acordo, sem envolver direta-
mente a Companhia.
Caso contrário, tal acionista estaria atuando com abuso de direito,
na medida em que privilegiaria seu interesse individual, de ver manti-
da a vigência do Acordo de Acionistas, em detrimento do interesse
social, consubstanciado pelos benefícios decorrentes da incorporação.
Portanto, a eventual iniciativa, judicial ou extrajudicial, de algum
acionista da COMPANHIA ALFA no sentido de, por não concordar
com a extinção do Acordo de Acionistas, paralisar a incorporação da
Companhia pela COMPANHIA BETA, caracterizaria ato ilícito, nos
termos do disposto no artigo 187 do Código Civil de 2002.
111- CONCLUSÕES
334
b) por constituir contrato parassocial, a vigência do acordo de
acionistas depende da existência da sociedade, em cuja esfera dar-se-
á sua execução, de modo que, desaparecendo esta, extingue-se o acor-
do de acionistas, tendo em vista a impossibilidade do cumprimento de
suas cláusulas;
c) o acordo de acionistas constitui pacto acessório ao contrato
social, razão pela qual o desaparecimento deste, em virtude da extin-
ção da sociedade, implica, necessariamente, o término da vigência do
acordo de acionistas;
d) não há como se pretender que o acordo de acionistas, extinto
em decorrência do desaparecimento da companhia incorporada passe,
automaticamente, a disciplinar a relação de seus signatários enquanto
acionistas da incorporadora, pois tal acordo não acarreta para a socie-
dade incorporada nenhuma obrigação que, em decorrência da incor-
poração, devesse ser assumida pela companhia incorporadora; e
e) somente seria possível admitir que o acordo de acionistas pas-
sasse a ser aplicável em relação à incorporadora caso os contratantes
tivessem expressamente previsto tal possibilidade, o que não se veri-
fica no Acordo de Acionistas da COMPANHIA ALFA.
2. A regra prevista no artigo 264 da Lei n° 6.404/1976 não se
aplica às operações, como a descrita na Consulta, de incorporação de
sociedade anônima por sua subsidiária integral, uma vez que:
a) o artigo 264 da Lei das S.A. estabelece, como formalidade adi-
cional para as operações de incorporação envolvendo companhia con-
trolada, a necessidade de a incorporadora e a incorporada serem ava-
liadas pelo critério de patrimônio líquido a preços de mercado;
b) a exigência de tal formalidade adicional possui dupla finalidade,
qual seja, evidenciar a eqüidade dos parâmetros escolhidos para a fixa-
ção da relação de substituição das ações e servir como critério alterna-
tivo para o cálculo do valor de reembolso devido aos acionistas dissi-
dentes, na hipótese de a relação de substituição estabelecida no Pro-
tocolo da incorporação ser menos vantajosa do que aquela que decor-
reria da avaliação dos patrimônios líquidos a preços de mercado;
c) em se tratando de incorporação da companhia por sua subsidiá-
ria integral, a composição do capital social na sociedade resultante da
operação será, necessariamente, idêntica àquela anteriormente exis-
tente na companhia incorporada, qualquer que seja o critério adotado
para determinar a relação de substituição das ações;
d) nenhuma das duas finalidades que ensejam a obrigatoriedade
da realização da avaliação adicional exigida pelo artigo 264 da Lei das
S.A. justifica a sua aplicação às operações de incorporação da compa-
335
nhia por sua subsidiária integral, uma vez que, em qualquer hipótese,
os acionistas da incorporada deterão, no capital da incorporadora, exa-
tamente o mesmo percentual de participação que possuíam antes da
incorporação, e
e) o atendimento à formalidade adicional prevista no artigo 264 da
lei societária não representaria nenhuma proteção adicional aos acio-
nistas da sociedade incorporada, mas, ao contrário, implicaria acrésci-
mo nos custos incorridos para a efetivação da incorporação, o qual, em
última análise, seria suportado pelos próprios acionistas.
3. A eventual iniciativa, judicial ou extrajudicial, de algum acionis-
ta da COMPANHIA ALFA no sentido de, por não concordar com a
extinção do Acordo de Acionistas, paralisar a incorporação da Compa-
nhia pela COMPANHIA BETA seria caracterizada como ato ilícito,
nos termos do disposto no artigo 187 do Código Civil de 2002, na
medida em que:
a) a prevalência do interesse social sobre a vontade individual dos
acionistas constitui um dos princípios básicos que informam o funcio-
namento das sociedades anônimas;
b) é ilegítimo o exercício de qualquer direito decorrente da condi-
ção de acionista que não tenha como objetivo a consecução do interes-
se social, mas que vise a beneficiar interesses particulares de determi-
nado acionista;
c) o artigo 187 do Código Civil de 2002 acolheu de forma expres-
sa a teoria do abuso do direito, determinando que o exercício de
qualquer direito deve ser limitado pela sua função social e econômica,
pelos bons costumes e pelo princípio da boa-fé objetiva;
d) o exercício de determinado direito será abusivo, com funda-
mento no artigo 187 do Código Civil de 2002, na hipótese de não
corresponder a uma finalidade legítima, isto é, de contrariar o fim
econômico e social visado pela lei que conferiu ao titular o referido
direito;
e) qualquer direito pode ser objeto de abuso por seu titular, inclu-
sive o direito de recorrer à justiça, desde que a ação do agente não seja
pautada por uma finalidade legítima;
f) a preservação do interesse da companhia constitui a finalidade
econômica e social que deve limitar o exercício dos direitos conferi-
dos aos acionistas pela Lei das S.A., de modo que o acionista que
utiliza os direitos de sócio em prejuízo da sociedade está, inequivoca-
mente, atuando de forma abusiva;
g) como o acordo de acionistas constitui contrato que afeta apenas
as relações entre os acionistas convenentes, a eventual discussão sobre
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a extinção de tal contrato restringe-se à esfera particular de seus sig-
natários, não interferindo no cumprimento de seus deveres como
acionistas;
h) a incorporação pela COMPANHIA BETA constitui medida
que claramente atende ao interesse social da COMPANHIA ALFA,
tendo em vista os relevantes benefícios de natureza fiscal que tal ope-
ração acarretará para as sociedades envolvidas; e
i) eventual a conduta de algum signatário do Acordo de Acionistas
da COMPANHIA ALFA que, no âmbito da discussão sobre a conti-
nuidade da vigência de tal Acordo, pretender inviabilizar a incorpora-
ção da Companhia pela COMPANHIA BETA, configurará abuso de
direito, em virtude da não observância do fim econômico e social dos
direitos decorrentes da qualidade de acionista.
Foi o nosso Parecer, em fevereiro de 2003.
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