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Direitos autorais do texto original copyright © 2022, BRENDA

RIPARDO, UM VIRGEM PARA O ASTRO DE HOLLYWOOD

Capa: Magnifique ♛ Design

Diagramação: Brenda Ripardo

Preparação de texto/Editor/Revisão: Graci Rocha

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e

acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer


semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

Todos os direitos reservados. São proibidos o armazenamento e/ou a


reprodução de quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o

consentimento por escrito da autora.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nª

9.160/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

Este livro segue a norma-padrão do novo acordo ortográfico da

língua portuguesa, mas há muitas abreviações como o "tá", "tô", “pra” e


"pro", de forma que o texto fique o mais natural e verossímil possível.
“— Não sabe bater na porta? Eu quase deixei a toalha cair — ela

diz isso como se fosse uma coisa ruim. Tudo que eu mais quero no
momento é que a toalha caia”

Nunca fui o tipo de garota que faz grandes escolhas, mas essa com
certeza tem a capacidade de mudar minha vida. Se tudo der certo, para

melhor. E se não der? Eu estou muito ferrada.

Passar as férias de verão com uma família podre de rica, entrelaçada


da cabeça aos pés com segredos e mentiras é pra lá de difícil. E o pior,

ninguém parece gostar de me ver depois de dezenove anos.

Bom, menos Tony, mas ele é tão irritante. Não parece em nada com o

homem que eu assistia na televisão. “São apenas personagens, Madeline. Eu


odeio comédia romântica”, até consigo ouvi-lo dentro da minha cabeça. E

aqui, ele é igualmente insuportável.

No entanto, às vezes, Tony é um cara legal e passar o tempo ao lado

dele é bom também. O que acaba sendo uma coisa triste, não posso ser

sincera com ele mesmo quando está abrindo o coração comigo. Ou para

mim.

Se ele descobrir a verdade... ainda sentirá o mesmo?

ATENÇÃO! Essa história contém cenas impróprias para menores


de dezoito anos. Contém gatilhos, palavras de baixo calão e conduta

inadequada de personagens.
The Neighbourhood – Dabby lssues

The Neighbourhood – Sweater Weather

HAIM – Falling

HAIM – Forever

HAIM – Don't Save Me

HAIM – Go Slow

Led Zeppelin – Immigrant Song

Jaymes Young – Infinity

The Verve – Bitter Sweet Symphony

Beyoncé – Halo

Ariana Grande – 7 rings


Lewis Capaldi – Someone You Loved

Willow Smith – Wait a Minute!

Sia – Unstoppable

Eagles – Hotel California

Marilyn Manson – Killing Strangers

Juliette Lewis – Hardly Wait

Lionel Richie – Endless Love

John Legend – All of me

Metallica – Nothing Else Matters

Queen – Somebody To Love" do

Nirvana – Come as You Are

Foster The People – Pumped Up Kicks


"Peguei você como uma droga, sinto seu gosto na minha língua.
Você me pergunta o que estou pensando, eu te digo o que estou pensando
(..) E se você fosse minha garota, eu faria tudo o que pudesse, eu fugiria e
me esconderia com você.”

~ The Neighbourhood, Daddy Issues


Antes de abrir a porta da caminhonete, respiro fundo e peço em

silêncio forças para enfrentar a maior loucura da minha vida. Seguro minha
mala com veemência, como se minha vida dependesse disso.

Talvez, dependa mesmo.

Encaro a mansão à minha frente. O lugar tem três andares, as paredes

são de um branco impecável com detalhes pretos, janelas e portas de vidro

fumê, há pés de coqueiros no pátio, gramado com uma refinada fonte de água
com pedras transparentes, que mais parecem cristais.

Casas assim... eu só vi em fotos da internet.

Caminho devagar, minha respiração compassada e meu rosto deve


estar mais vermelho que um tomate. Sinto dificuldade ao subir as escadas da

varanda como se minhas pernas pesassem quase uma tonelada.


Não precisei apertar a campainha, pois antes mesmo de chegar perto

da porta, me recepciona uma loira alta, com pele bronzeada e seios grandes.

Ela usa vestido praiano sexy com estampa de folhas secas e saltos altos.

— Como posso ajudá-la?

A garota tem sotaque carregado e não faz esforço nenhum em


esconder a arrogância. Analisa-me de baixo para cima, acabo ficando

incomodada e finco as unhas na palma da mão livre para controlar as

emoções.

Não estou acostumada a receber esse tipo de atenção.

— Essa é a casa dos Humphrey’s? — pergunto, sentindo meu

coração disparar tão rápido, que chega quase a doer dentro do peito.

— Talvez — responde, presunçosa. — Quem é você? — questiona


de uma maneira que parece estar me xingando

— Sou Madeline Cuthbert.

Seu rosto perde a cor ao ouvir meu nome, e pela primeira vez desde

que peguei o carro à uma da madrugada, me pergunto o que estou fazendo.

Onde eu estava com a cabeça? Dirigi durante quase oito horas até Miramar

Beach para fazer algo que eu jamais imaginei que seria capaz.

— Eu sinto muito.
Estou prestes a dar um passo para trás e desistir de toda essa

loucura, quando ela segura meu braço com mais força do que o necessário.

— Tem uma pessoa que vai gostar de saber que você está aqui —

fala com frieza, fazendo minha espinha arrepiar. Solta-me e se afasta para

adentrar a casa. Não diz se devo ou não a seguir, mas eu resolvo arriscar.

A decoração é de tirar o fôlego. O chão é de granito branco e foi

minuciosamente polido, os sofás são de cor creme com almofadas pretas,

tem uma enorme mesa de centro feita de vidro e colunas de mármores com

detalhes metálicos espalhadas pela casa.

Do meu lado direito, há uma parede de vidro que vai do chão ao teto

com vista para a beira-mar. É magnífico. Quem mora aqui pode sentar no

sofá e observar as ondas do mar quebrando.

Também há um piano de cor preta reluzente perto da parede, quem

quer que seja que toque piano na família, pode ter como inspiração o oceano

límpido. Sinto inveja. Tive que vender meu piano, porque precisava de

dinheiro para...

Balanço a cabeça, espantando os pensamentos. Valeu a pena. Faria

tudo do mesmo jeito. Não mudaria nada. Foi preciso fazer aquilo. Valeu a
pena. Valeu a pena por ela. Tudo vale a pena por ela.
— Só um minuto. Já volto — é o que a loira diz antes de sumir das

minhas vistas.

Sinto-me pequenina em comparação ao tamanho e luxo da mansão.

Não tenho nada a ver com este lugar. A blusa de banda de rock, short surrado

e sapatilhas parecem horrendos. Sempre gostei do meu estilo, mas hoje,

estou odiando.

Pareço quase um ET aqui.

Meio tímida, coloco a mala ao lado dos meus pés e embora tenha
vontade de sentar, não o faço. Cruzo os braços na altura do peito e respiro

fundo, a fim de acalmar meu coração incontrolável.

Minutos depois, uma mulher de mais ou menos uns setenta anos, com

cabelos loiros platinados, olhos castanhos claros e lábios vermelhos entra na

sala. Ela me olha com admiração, como se não acreditasse que estou aqui.

Bem, nem eu acredito que estou aqui.

— Madeline — diz com suavidade ao se aproximar. Toca meu rosto


com delicadeza e faz meu coração sossegar.

— Vovó? — arrisco, mas já tenho certeza de quem ela é.

Os olhos de Elisha se enchem de lágrimas, no entanto, nenhuma ousa

cair.
— Minha querida. — Abraça-me forte e eu choro em silêncio ao me

afundar nos seus braços com cheiro de flores. — Estou tão feliz que esteja

aqui. Pensei que Meera estivesse blefando quando me ligou avisando que

você estava a caminho.

— Sinto muito por ter aparecido assim.

— Desde que seu pai morreu, eu pensei que nunca mais fosse ver

você — sussurra ao meu ouvido, me fazendo sentir como se uma pedra

tivesse caído no estômago.

— Mamãe já me escondeu por tempo demais.

Aperto Elisha contra o corpo e tento não me sentir culpada por


mentir. Ela se afasta de mim, apenas para pousar as mãos nos meus ombros e

comtemplar meu rosto. Sorri de forma serena e acaba me roubando um

sorriso também.

Uma mulher alta e com expressão antipática entra na sala. É loira

também e seus cabelos caem até a altura dos ombros. Está acompanhada da

garota que me recebeu. As duas não parecem muito felizes com a minha

presença, mas tento não me abalar com isso.

— Madeline! — ela diz com falsa alegria. — Que bom revê-la ou

seria prazer em conhecê-la? A última vez que nos vimos, você era uma

garotinha de dois anos. — Abre um sorriso estranho e depois se aproxima


para me abraçar. — Afinal, por que voltou? — indaga, fazendo meu rosto

ruborizar.

— Não seja tão grossa, Naomi — Elisha intervém, e em seguida,

lança um olhar para mim. — Madeline não precisa de motivos para vir até

aqui. — Envolve um braço em mim e ainda sorrindo, pergunta se eu estou

com fome.

— Sim.

— Alice? — ela chama, e a garota de vestido praiano e salto alto

caminha na nossa direção.

— Sim, vovó?

— Peça para Rodolfo pegar a mala de Madeline e levar a um dos


quartos no terceiro andar.

— Tudo bem — responde sem emoção.

Elisha me conduz até a cozinha, a qual eu só vi, assim como todo o

resto, apenas na internet. As paredes são de tijolos brancos, os móveis são

limpos e modernos. Tem uma grande porta de vidro com vista para uma

piscina com borda infinita, algumas espreguiçadeiras e o mar.

Meio acanhada, me sento na banqueta de frente para a ilha da


cozinha. Tenho receio de fazer qualquer movimento brusco e ser considerada

mal-educada. A verdade é que aqui, eu sou um peixe fora d’água. Nunca


estive em um lugar como este e por mais que tudo me deslumbre, não

consigo me sentir à vontade.

A própria Elisha começa a preparar um sanduíche para mim, o que

me surpreende, mas me faz gostar dela. E além de tudo, mostra que por mais

que tenha muito dinheiro, não é o monstro de sete cabeças que Meera havia

me dito.

— Você está se tornando uma mulher muito bonita, Madeline. Tem os

olhos do seu pai. Azuis como o oceano.

Meu coração dói ao ouvir as palavras e a única coisa que consigo

fazer é agradecer.

— Não sei o que sua mãe disse sobre os Humphrey’s durante esses
dezenove anos, mas estou feliz que esteja aqui. Eu senti muita falta de você.

Abro um sorriso fraco para ela.

— Por que nunca foi atrás de nós? — eu quero saber, embora não
seja da minha conta.

— Porque não tinha esse direito. Meera é sua mãe e embora o desejo

dela tenha me magoado, eu respeitei — comenta de forma melancólica,


parecendo arrependida por não ter feito nada durante todos esses anos.

— Obrigada — agradeço ao pegar o sanduíche e a observo colocar


suco em um copo para mim. — Acho que ela só tinha medo que esse luxo
todo me estragasse. Acredito que parte dela tem razão. Pelo que ela me
contou, papai era diferente dos irmãos. — Mordo meu lábio inferior assim

que fecho a boca. Não deveria estar levando a conversa para esse rumo.

— Sim, seu pai era diferente. Mas não acho que ter uma vida boa

estragaria você. Que mal teria em ter tudo?

— E ela? Sei que eu teria tudo, mas ela também teria? — pergunto
antes que meu cérebro processe as palavras.

Ela descansa a mão em cima da minha e me encara com carinho,

provavelmente, na tentativa de suavizar o clima tenso que surgiu entre nós.

— Eu estou muito feliz que esteja aqui. Por favor, não vamos estragar

esse momento.

Sorri para mim, esperando que eu entenda.

— Me desculpe, você tem razão.

Assinto e tomo um gole de suco.

Uma mulher corpulenta, usando uniforme com avental amarrado na

cintura entra na cozinha sem fazer barulho. Antes de se dirigir a Elisha, lança
um sorriso educado para mim.

— Sra. Humphrey, tem uma ligação, é sua secretária — diz de forma

tão sutil, que parece pecado falar um tom mais alto.


— Obrigada, Mary — ela diz à senhora e depois volta a atenção para
mim. — Volto daqui a pouco. Fique à vontade. A casa é sua também.

— Ah, obrigada.

As duas somem das minhas vistas e me deixam sozinha na cozinha

intimidadora.
Acordo com o celular tocando pela milésima vez. Estico a mão sobre

a cama até alcançar o aparelho em cima da cômoda e com o mau humor


renovado, atendo a ligação de olhos fechados.

— Antony Humphrey, você pode me dizer o que se passa na sua


cabeça?

Bocejo.

— Eu não sei, várias coisas. Agora, que estou muito irritado de você

ter interrompido meu sono. Por que está me ligando de madrugada?

Ouço-a suspirar do outro lado da linha, e pelo que a conheço, deve

estar contanto até dez mentalmente.

— São quase nove da manhã. E por que diabos recusou o papel? Eu

passei por idiota por causa de você — resmunga alto e afasto o aparelho
celular do ouvido, já arrependido de ter atendido a ligação de Rosie.

— Eu disse que pensaria e depois daria uma resposta. E a reposta é


não. Não quero participar desse filme. Você leu o roteiro? Eu teria que ficar

pelado em uma meia dúzia de cenas. — Sento na cama e massageio as

têmporas com a mão livre, colocando um pouco de força. — Seria uma

decepção pra minha avó.

— Como se já não tivesse mostrado essa bunda antes.

Respiro fundo e reviro os olhos com a audácia dela.

— Eu estava em uma praia de nudismo. São coisas diferentes. Todo


mundo estava pelado, Rosie. Ninguém dava a mínima pra minha bunda —

digo a meu favor e ela faz um estalo com a boca do outro lado da linha.

— Ah, lógico. Claro que não. Essa bunda é uma das mais cobiçadas
de Hollywood, com certeza, ninguém estava dando a mínima. Tem razão —

ironiza, quase me roubando uma risada. — Quando você volta? — pergunta,

de repente mudando de assunto.

— É a primeira vez que venho passar as férias com a família em três

anos depois da... você sabe quem. Eu volto quando estiver cansado daqui. E

mesmo assim, tem o casamento da minha irmã. Não tem a mínima

possibilidade de eu voltar antes disso.


— Tudo bem, então curte aí as suas férias. Vou esperar por dois

meses, depois conversamos de novo sobre você voltar.

— Eu disse que voltarei quando cansar, não que vou cansar em dois

meses.

— Pra mim é quase a mesma coisa. — Ri de leve. — De qualquer

forma, aproveite bem, mas não exagere. Não esqueça que sempre existe

alguém com uma câmera apontada para você. Ou pra sua bunda que ninguém

dá a mínima.

— Ah, tá bom, tá bom.

Encerro a ligação antes que ela invente de me listar o que eu devo ou

não fazer.

Levanto da cama e me espreguiço devagar. Meus olhos encaram o

oceano azul à minha frente e eu consigo relaxar. A vista nunca fica velha.

Estou prestes a sair do quarto para buscar uma xícara de café, quando vejo o

robe preto dobrado em cima do sofá.

— Ah, Mary! Sempre se preocupando que eu não vá mostrar coisas

demais. Tão fofa. Rosie e você podiam ser melhores amigas.

Rindo, o pego e visto, sem amarrá-lo na cintura.

Rastejo meus pés até a cozinha e me surpreendo ao encontrar uma

garota pequena de cabelos longos e pretos. Ela está comendo e parece meio
sem lugar. Eu diria até inquieta e assustada também.

Pigarreio.

Ela se vira para mim e engasga no mesmo instante em que os olhos

encontram meu abdômen exposto. A coisa é séria, pois as bochechas brancas

começam a ficar muito vermelhas e ela fecha os olhos como se estivesse

sentindo dor. A garota bate no peito com força e continua a agonizar.

Aproximo-me dela e dou algumas batidas nas suas costas.

Ela cospe o pedaço de pão em cima do balcão e volta ao normal.


Olha-me de soslaio e encolhe os ombros envergonhada.

— Obrigada. Achei que fosse morrer.

— Estava quase te agarrando por trás. Seria o último recurso, é

claro. Não gosto de agarrar mulheres sem permissão.

As bochechas dela que antes tinham voltado ao normal, tornam a

ficar vermelhas que nem um tomate. Aos poucos, ela arregala os intensos

olhos azuis para mim e abre a boca para dizer algo, mas desiste no meio do
caminho.

— Quem é você? — eu quero saber.

— Ah, eu? — Respira fundo e morde o lábio inferior. Embora não

tenha planejado ficar encarando a boca da garota, é isso que eu faço. Os

lábios são carnudos e convidativos. Ela é linda e parece tão inocente. Tem
cara de problema. — Ah, eu... humm. Eu sou Madeline Cuthbert. — Estufa o

peito e estende a mão para mim.

— Sério?

Pego a mão e aperto com firmeza.

— Tenho cara de quem está brincando? — responde, surpreendendo-

me. — E você, quem é? — Afasta-se de mim e as vistas caem sobre meu

abdômen, mas ela tenta se recompor.

— O homem mais lindo da família.

Ela exprime um sorrisinho e revira os olhos.

— Estou falando sério — retruca e fica me analisando por alguns

segundos. — Você não me é estranho.

— Essa cantada é velha, ouço quase todos os dias, não vai colar

comigo.

Madeline contrai a mandíbula.

— Não estou cantando você. Pro seu governo, você nem faz o meu

tipo.

Ela sorri de lado.

— Você tem certeza? — pergunto e automaticamente os olhos

oceânicos se direcionam ao meu corpo. — Não fale besteira, Madeline. Eu

sou o tipo de toda mulher.


— Convencido — retruca. — Pois prazer, eu sou a mulher que não se

interessa por homens como você.

Sorrio para ela.

— Interessante, Madeline. Interessante.

Pisco para ela que fica sem jeito e desvia os olhos de mim. Entrelaça

os braços na altura do peito e senta-se à banqueta de novo. Depois, começa a

limpar a bagunça que fez, mas a impeço, a segurando pelo braço. Ela cruza o
olhar comigo e ficamos assim por quase uma eternidade.

— Não precisa fazer isso.

Madeline se solta de mim como se tivesse levado um choque.

— Pensei que não agarrasse mulheres sem permissão.

— Ah, verdade. Erro meu — falo e seguro o riso. Essa garota é

divertida. — Você não faz a mínima ideia de quem eu sou?

— Ao que parece... um riquinho babaca.

— Acertou em cheio — é Jordan quem fala, fazendo-me ter ânsia de

vômito.
Ao ouvir a voz masculina, direciono os olhos para a porta de vidro

que dá em direção a piscina. Engulo em seco. Ele deve ter um pouco mais de
1,80 de altura, pele bronzeada, ombros largos e braços musculosos. E apesar

de estar vestido, noto que o corpo inteiro é definido.

Volto a atenção para o homem à minha frente, que é tão lindo como

um galã de cinema e me dou conta de que os dois são bem parecidos, mas ao

mesmo tempo, completamente diferentes.

— Ah, oi — fala ao me encarar. — Você deve ser algum novo

projeto da minha irmã, não é? — pergunta ao passar as mãos nos cabelos

castanhos revoltos. Como não respondo, me encara com as sobrancelhas


erguidas, parecendo curioso.

O homem ao meu lado ri, e eu ainda não disse nenhuma palavra.


— Não, ela não é — retruca uma garota de cabelos negros, olhos

grandes e aproximados ao entrar na cozinha. — Deve ser a nova namorada

do Tony. — Ri sozinha e caminha majestosa até o homem de olhos verdes,

rebolando os quadris de jeito que pode ser considerado fatal. — É melhor

você ficar longe dessa vez. Não queremos outro drama familiar, Jordan.

— Cala a boca, garota — ele diz de maneira ríspida.

Solto um suspiro entrecortado e digo:

— Eu sou Madeline Cuthbert.

Os dois se entreolham, abismados. E ele é o primeiro a voltar a


atenção para mim, fazendo minhas bochechas queimarem. Mordo meu lábio

inferior com força e lembro de que eu preciso respirar.

Ele é, com certeza, o segundo homem mais lindo que eu vi em toda


minha vida. O primeiro está ao meu lado, me analisando e me deixando

irritada. Lindo e irritante. Ser irritante deve ser uma característica básica de

homens bonitos.

— Eu sou Jordan.

— E eu, Freda. E caso queira saber, nós somos seus primos —

emenda ao gesticular com indicador para os três, e como Alice, não tem

nenhum vestígio de simpatia na voz em relação a mim.

Quantas pessoas me odeiam nesta casa? Todas?


Controlo a vontade de sair correndo até a caminhonete e voltar para

minha casa em Augusta, onde é aconchegante e o lugar mais seguro do mundo

para mim. Forço-me a sorrir para eles.

— Prazer em conhecê-los.

— Onde estava morando? — Freda interpela, observando meus

trajes com certo desdém. — Estou curiosa para saber por onde andou se

escondendo.

— Pare com isso, Freda. Você não tem mais dez anos — diz o

homem ao meu lado, que agora está se inclinando para apoiar um dos

cotovelos no balcão. E claro, mostrando mais ainda o abdômen, que é

perfeito. Quando nota que estou secando o seu corpo, ele pisca para mim e

dá um sorrisinho malicioso, deixando em evidência o furinho sutil e sexy no

meio do queixo.

Engulo em seco.

Caramba, ele é muito gato.

Uma tentação ambulante, musculoso e aparentemente, duro que nem

rocha.

— O que foi? Você agora é advogado dela, Tony? — Freda retruca e

olha para mim. — De onde você veio?


Penso por alguns segundos e falo a primeira coisa que me vem à

cabeça.

— Blue Ridge, Geórgia — minto e torço para que ninguém me faça

mais perguntas sobre onde moro.

— Ah.

Assente e troca um olhar com Jordan, como se agora tudo ao meu

respeito fizesse sentindo. Eles riem, me deixando nervosa. Precisam ser tão

esnobes assim? Estou começando achar que eles têm dinheiro demais e
empatia de menos.

Elisha entra na cozinha, me salvando do constrangimento. Sorrio para

ela, aliviada em vê-la de novo. Meus primos parecem ser bastante intensos,

e com certeza, não estou preparada para isso.

— Tony, pelo amor de Deus, querido. Estou muito feliz de você estar
aqui, mas já conversamos sobre andar pelado pela casa. Tenha modos.

— Vovó, não estou pelado — Tony retruca, um sorriso maroto


esticando os lábios bonitos.

Vovó para na frente de Tony e amarra o robe, escondendo o abdômen

trincado e a samba canção. Respiro fundo e noto que estou decepcionada de

ter tido a minha visão interrompida. Balanço a cabeça e tento me recompor.


— Vejo que já se reconheceram — ela faz piada, e o único a rir com

a vovó é Tony.

— Adoraria ficar, vovó, mas tenho que sair com as minhas amigas

agora. Tenho muitas coisas pra resolver antes do grande dia — Freda fala ao

se aproximar de nós e beija o rosto de Elisha com delicadeza.

— Querida, por que não leva Madeline para conhecer a cidade? —

vovó pergunta sugestiva, fazendo-me sobressaltar.

— Não precisa. Eu dirigi durante oito horas, quero descansar um

pouco. Tô exausta — intervenho a meu favor.

— Tudo bem — Freda responde nem um pouco decepcionada.

Quando ela sai da cozinha, se equilibrando de maneira graciosa no

salto alto, me sinto desajustada. Não tenho roupas sexys, não uso salto, não

uso tanta maquiagem, meus cabelos não são loiros e não tenho a pele

bronzeada. Concluindo: eu sou um ET em Miramar Beach.

— Quer conhecer o seu quarto, querida?

— Claro, vovó — é o que respondo, com uma vontade incontrolável

de me trancar no meu futuro abrigo e só sair de lá quando for hora de ir


embora.

— Quem pode levar Madeline até o quarto?


— Eu! — Tony e Jordan respondem ao mesmo tempo, fazendo meu

rosto formigar.

Vovó ergue as sobrancelhas e olha de um neto para o outro, depois

sorri e assente.

— Obrigada aos dois. Bom saber que estão muito solidários. É no

terceiro andar, o último quarto à esquerda. Comportem-se.

Sorri e beija minha cabeça antes de sair.

Ficar sozinha com Tony e Jordan não é algo ruim, mas também, não é

algo necessariamente bom. Os dois parecem intensos, sexys e autoconfiantes

demais. Sinto minha pele queimar só com o fato de eles estarem me olhando

agora.

Tony se aproxima de mim.

— Está pronta, Madeline?

— Sim, acho que sim.

Tony gesticula com a cabeça para que eu caminhe primeiro, e embora

tenha sido relutante no começo, desço da banqueta e caminho em direção à

sala. Olho para trás e noto que Jordan não moveu nenhum músculo, mas nos

encara com um certo desgosto.

— Não se preocupe com ele.

— Não estou preocupada — retruco e Tony sorri.


Nós subimos a escada lado a lado em silêncio, mas percebo que ele

tem os olhos em mim, estudando minhas expressões.

Há mais quartos do que eu imaginei no segundo andar. São cinco

quartos ao todo, e aparentemente todos são iguais, mas duvido muito que a

decoração seja a mesma por dentro.

Nós subimos mais um lance de escadas, e a única coisa que consigo

fazer é ficar boquiaberta ao chegar no terceiro andar. No fim do corredor, há

uma parede de vidro do chão ao teto com vista para a praia, o piso é de
assoalho, as paredes são em diferentes tons de beges com alguns detalhes de

cor cinza. Há três quartos em cada lado e Tony me guia até o último quarto à
esquerda.

— Bem-vinda — sussurra ao meu ouvido, quando se inclina para


abrir a porta.

O hálito quente dele contra a minha pele, envia ondas eletrizantes

para o meu corpo e se instala na espinha. Engulo em seco e tento me


recompor.

A decoração mistura um estilo que alia toques clássicos com


contemporâneos. Tem uma parede de vidro com vista para o mar, um sofá

que cabe mais ou menos três pessoas, móveis de requinte com detalhes
discretos em dourado, uma mesa pequena com dois lugares e candelabro em
cima.

Caminho devagar para dentro do quarto, a fim de explorar mais o


lugar e me deparo com um enorme espelho ao meu lado direito, que reflete a

vista da janela de vidro.

Meus olhos parecem mais azuis do que o normal, provavelmente por


conta dos raios solares que iluminam o cômodo, e é claro, o oceano que

parece estar ao meu dispor.

— Esse quarto é lindo — murmuro. — E muito grande para apenas


uma pessoa — emendo.

— Caso precise de companhia, meu quarto é ao lado do seu — fala e


quando arregalo os olhos, ele dá de ombros. — Relaxa, tô brincando.

— Você é sempre tão solidário assim?

— Tudo pela família.

Não perde o sorriso e nem a pose de garanhão.

— Obrigada.

Abro um sorriso falso para ele, a fim de fazê-lo me deixar sozinha no


quarto.

Não que eu queira ficar sozinha de verdade, mas ele é muita tentação

para uma garota virgem, que beijou poucas vezes e nunca viu um homem
como Tony em carne e osso.

— Estou feliz que esteja aqui, Madeline. A vovó te ama muito e


sofreu um pouco todos os dias por ter pedido o tio Logan, e depois, você.

Ele abre um sorriso sincero, fazendo meus olhos arderem e a visão

embaçar.

— Eu sinto muito.

— Você não tem culpa.

Se Tony soubesse o quanto sou culpada...

— Obrigada por dizer isso.

Ele assente e sem dizer nenhuma palavra, me deixa sozinha no


quarto. Sento-me na beirada da cama, permito que as lágrimas me invadam e

respiro com dificuldade.

Por que as coisas não poderiam ser mais fáceis? Por que quando
pedi uma luz, um sinal divino, a vida me trouxe Meera? Por que essa pareceu

ser a única solução?


Adrian, o pai de Tony, Jordan e Freda é dono do Resort Club

Humphrey’s, o melhor clube para se passar as férias de verão em Miramar


Beach. Provavelmente, o preço de uma noite no lugar é mais dinheiro do que

um dia cheguei a pegar.

Ontem, consegui passar o dia no quarto com a desculpa que estava

cansada da longa viagem de carro, e não era mentira, mas hoje tenho que

comparecer à festa que vai acontecer no clube, porque Elisha faz questão

que eu me enturme com os meus primos.

Acabei descobrindo que quando se é rico, não precisa ter um motivo

aparente para dar festas. O único motivo pelo qual vai acontecer uma social
na cobertura do clube hoje é o verão. Nada mais e nada menos.
É lógico que eu não tenho roupa adequada para ir, mas fiz o possível

para tentar me encaixar, embora agora que estou me olhando no espelho,

tenho a certeza que não tive grandes resultados.

Freda e Alice não fizeram a mínima questão de me esperar, o que

achei ótimo. Não sou igual a elas e não me sentiria bem se nós três

tivéssemos que ir sozinhas. Mas isso também não quer dizer que eu esteja

gostando da ideia de ir de carona com Jordan.

Desço as escadas devagar, segurando o corrimão, pensando na

possibilidade de inventar algo como uma dor de cabeça e ficar o resto do

dia no quarto, mas antes que eu possa levar isso em consideração, os olhos
verdes de Jordan encontram os meus. Vejo a silhueta de um sorriso nos seus

lábios, o que me deixa nervosa.

— Não sei se é uma boa ideia eu ir — digo ao parar a alguns passos

de distância.

— Já se escondeu por dezenove anos, Madeline, não acha que está na

hora de agir como uma Humphrey?

Ele sorri convencido.

— Depende muito do que isso quer dizer, na verdade — retruco na

defensiva.

— Vai ser divertido. Relaxe.


Pisca para mim e isso faz com que meu coração acelere. Nós

caminhamos rumo ao estacionamento e não trocamos nenhuma palavra.

Embora ele tenha dito para relaxar, acho que é a última coisa que vou

conseguir fazer aqui. De qualquer forma, relaxar perto dessa família não está

em cogitação.

Nunca esteve.

Preciso ficar sempre em alerta... para o meu próprio bem.

— Esse é o seu carro? — pergunto perplexa ao olhar o Audi TT de

cor preta impecável à minha frente.

— Um deles.

Dá de ombros ao abrir a porta do carona para mim.

— Cadê o Tony? — tento não soar curiosa demais. É ridículo eu

querer saber por onde anda aquele homem irritante, sexy e de sorriso fácil.

— O que você quer com o meu irmão? — indaga um pouco ríspido,


fazendo-me franzir o cenho. — Me desculpe, não quis ser grosso.

— Sem problemas.

Entro no carro e decido fazer voto de silêncio. O quanto menos me

envolver com os dois, melhor para mim. Está na cara que os irmãos
Humphrey’s são problema. E um problema dos grandes.

Jordan dá a volta e entra no carro, ocupando o banco do motorista.


— Você está bem? — ele quer saber.

— É melhor irmos logo. Quanto antes chegarmos lá, mais rápido

posso voltar.

— Você quem manda.

Em menos de dez minutos, nós já estamos no Resort Club da família.

O lugar é quase um condomínio fechado, e eu me perderia facilmente em um

lugar como esse. Há dois prédios com quinze andares, mas apenas uma das

coberturas tem piscina. Surpreendo-me ao perceber o quanto preservaram as


árvores e o gramado dentro do clube.

No elevador, demora quase uma eternidade para chegarmos à

cobertura, mas a demora vale a pena. Não é um lugar exagerado, mas

acomodaria cinquenta pessoas numa boa. Há uma piscina no centro, com

várias espreguiçadeiras ao redor. A vista é o que mais me encanta, porque

tenho uma visão elevada e ampla do mar.

— Ei, Jordan — um homem de cabelos e olhos escuros o

cumprimenta ao se aproximar. Depois olha para mim e abre um sorriso de

covinhas.

Será possível que todos os homens daqui sejam tão lindos e sarados?

Isso é muita coisa para assimilar, já que até dois dias atrás os únicos homens

bonitos que eu conhecia eram os que apreciam na tevê.


O pensamento é como um estalo na minha cabeça.

— Ai. Meu. Deus!

— O que foi, gracinha? Sou tão lindo que até espanta você? —

pergunta o homem de sorriso de covinhas.

— Pega leve, Eric — Jordan diz e não parece nenhum pouco feliz

por eu ter chamado atenção do amigo. — Ela é minha prima, a Madeline

— A famosa Madeline? — Continua olhando para mim. — Uau! Ela

vai fazer um estrago entre os homens daqui. — Sorri e pisca para mim antes

de sair.

— A famosa Madeline? — pergunto a Jordan, curiosa.

— Seu pai também era dono do clube e todos na cidade sabem que

ele tinha uma filha, que foi embora dezenove anos atrás.

Dá de ombros.

— Tudo bem, eu acho que posso me acostumar com isso — retruco

de mau humor e o pensamento de minutos atrás invade minha cabeça de

novo. Socorro.

Já sei o motivo pelo qual Tony não me é estranho.

— O que foi? — Jordan quer saber.

— Hãm?

— Parece que algo está incomodando você.


Assinto.

— Tony... ele... ele... ele... é ator, não é? — falo sem jeito. Não

quero assumir que já vi os filmes românticos que Tony foi protagonista e que

até já me imaginei beijando a boca dele.

Várias vezes.

Muitas vezes pra ser sincera.

Nossa... imaginar isso era sempre tão bom. Aconchegante e ao

mesmo tempo, quente pra caramba. Foi meu passatempo em dias tediosos.

Foi um passatempo delicioso.

Jordan faz cara feia.

— Agora que você descobriu isso? — é o que diz e suspira,

parecendo impaciente. — Quer beber alguma coisa?

— Uma cerveja, por favor.

Jordan me deixa sozinha e me sinto mais deslocada do que nunca.

Avisto Alice e Freda, mas não me viram. Ou fingem não me ver.

Sou pega de surpresa ao sentir uma mão ousada no início da minha

bunda, girando o meu corpo em noventa graus. Um homem com o dobro da

minha altura, segurando um copo de cristal com um drink colorido, abre

meio sorriso para mim.


Por instinto de proteção, eu coloco as mãos espalmadas contra o seu

peito e o empurro, fazendo-o ir para trás com um trancão, derrubando o copo

de cristal no chão e o quebrando.

— A gatinha é selvagem? — provoca com a língua meio enrolada e

um sotaque carregado atingindo os meus ouvidos. Ele volta a se aproximar

para agarrar meu pulso. Sem pensar duas vezes, acerto um chute no meio das

suas pernas.

Ele geme de dor.

E de repente, tenho a atenção de todos na cobertura direcionada para

mim.

— Você é louca? — ele resmunga e noto que o homem está bêbado,


mesmo assim, não dá o direito de sair por aí tocando nas mulheres sem

permissão. — Porra.

Respiro fundo e contraio os lábios.

— Você não me conhece e colocou a mão em mim — explico-me,

sentindo o coração na garganta. — Não toque numa mulher sem permissão.

Ele deixa escapar uma espécie de palavrão e as pessoas na cobertura


me olham como se eu fosse louca, mas graças a Deus, não dura muito,

porque uma garota pula na piscina e começa a fazer baderna.


Caminho até uma espreguiçadeira perto da piscina e sento, a fim de
organizar meus pensamentos, o que não dá certo. Rola música agitada, há

pessoas bebendo, dançando, tentando conversar mais alto que a música.


Todos parecem se divertir, menos eu.

Um homem forte, alto e de cabelos loiros ondulados com olhos


caramelos senta na preguiçosa ao meu lado. Sorri para mim antes de tomar

um gole da cerveja, mas eu não sorrio de volta.

Só peço em silêncio que não seja mais um tarado que acha que pode
sair colocando a mão em qualquer mulher.

— Oi, eu sou Wyatt.

— Sou Madeline — o cumprimento para ser educada.

— Eu sei quem você é — retruca, fazendo-me querer revirar os


olhos.

— Legal.

Wyatt passeia com os olhos sobre o meu corpo inteiro, como se


estivesse me analisando, depois bebe mais um gole da bebida e me dá outro

sorriso.

— Você é bonita. Diferente, mas bonita.

— Ah... obrigada, eu acho.


— Gostei do que você fez com o Brian. — Dá de ombros. — Ele é
um otário e se acha o melhor partido da cidade.

— Eu acho que ele é só um otário — retruco, fazendo Wyatt rir.

— Odeio essas festas — comenta e tem minha atenção. — É sempre

a mesma coisa. É entediante. Só que você deu uma animada nas coisas. Um
belo e um certeiro chute no saco.

Viro-me para olhá-lo.

— Sério? É o meu talento — admito, irônica.

A boca de Wyatt se curva de forma presunçosa.

— Um talento e tanto.

— Não tá se divertindo? — quero saber.

— Essas festas não têm graça nenhuma.

— Pare de ficar resmungando na cabeça da garota, Wyatt.

Ao ouvir a voz grossa e profunda, tomo um leve sobressalto. É Tony.


Meu coração dispara e eu prendo a respiração quando ele senta ao meu lado

na espreguiçadeira. Quero dizer para ele ficar longe de mim, mas não
encontro a voz.

— Vejo que conheceu meu melhor amigo — Tony fala sorrindo e o

seu amigo levanta a cerveja em um brinde solitário.

Concordo com um aceno de cabeça.


— Você está bonita, Madeline. Eu gosto do seu estilo.

— Ela se destaca, não é? Como eu disse, diferente, mas bonita —


Wyatt diz a Tony.

— Ah, obrigada.

— Diferente, mas bonita — Tony murmura e a voz soa tão sexy, que

esquenta minha pele ao mesmo tempo em que leva arrepios ao meu corpo.

Olho para ele e minha atenção cai sobre a boca bem desenhada. É

imediato, meus pensamentos me levam até aqueles momentos em que me


imaginei beijando, mordiscando e chupando a boca de Tony. Sinto meu rosto

formigar e desvio os olhos no mesmo instante.

— Como foi o seu dia, Madeline?

— Bem. Nada demais.

Tony aproxima o rosto do meu. Observo o queixo quadrado com


barba de alguns dias e o maxilar marcado. Tão sexy. Noto que os olhos estão
dilatados e mais azuis que o normal.

— Sentiu minha falta?

— Deixa a garota em paz, Tony — Wyatt fala, fazendo Tony se

afastar. — Não jogue charme. Você sabe que não pode.

Tony respira fundo e parece decepcionado, mas sorri mesmo assim.


— Verdade. Acho que já bebi demais hoje. Estou começando a agir

como um idiota.

— Você está bêbado? — pergunto e começo a achar que Tony só


disse que eu sou bonita por estar meio alto. Típico. Que irritante. — É

melhor você se afastar e não tentar fazer nada comigo. Já falei que você não
faz o meu tipo — retruco, fazendo Wyatt rir.

É mentira. Claro que ele faz o meu tipo, mas não vou admitir isso

nem em mil anos.

— E ela sabe chutar sacos como ninguém — Wyatt faz questão de

lembrar, no entanto, Tony o ignora.

O astro de Hollywood olha para mim de um jeito tão intenso, que por
um momento, me sinto pelada.

— Não fale besteira, mulher. Eu sou o tipo de todas.

Ele ri e eu reviro os olhos.

— O que está fazendo aqui? — Jordan pergunta ao se aproximar de


nós. Entrega-me uma Corona e fica encarando o irmão.

— Não é óbvio? O mesmo que você... tentando me divertir.

Jordan decide ignorar o irmão e se acomoda no meu lado vazio.


Pronto! Os irmãos Humphrey’s fazem um sanduiche de mim.

— Você está bem? — Jordan pergunta e Tony solta uma gargalhada.


Irritada, arrasto-me até o fim da espreguiçadeira e saio de perto dos
dois. Sento ao lado de Wyatt e bebo um gole generoso de cerveja.

— Eles são sempre assim?

Wyatt faz que sim com a cabeça.

— Com o tempo você se acostuma.

Nós rimos.

Tony se levanta e vai embora sem olhar para trás.

— Vou atrás dele. Divirta-se, Madeline.

— Ah, obrigada.

Wyatt passa por mim e some das minhas vistas.

— Me desculpe — Jordan fala e parece chateado. — Deu para


perceber que não somos os melhores irmãos do mundo.

— Irmãos devem ser complicados, mas confesso que vocês são os

primeiros que conheço que se odeiam — falo antes que meu cérebro filtre as
palavras. — De qualquer forma, você não me deve desculpas. Está tudo

bem.

Jordan coça a nuca e fica em silêncio por quase uma eternidade antes

de concordar com um aceno de cabeça.


Assim que fecho os olhos, meu celular vibra, fazendo meu coração

saltear. Estico o braço, acendo o abajur e pego o aparelho em cima da


cômoda ao lado da cama.

É Meera.

Demoro mais do que o necessário para atender e cogito a ideia de


deixar cair na caixa postal, mas não faço isso.

— Oi.

— Como estão as coisas? — é a primeira coisa que pergunta.

— Bem, eu acho. — Respiro fundo. — E como ela está?

— Perguntou por você várias vezes, mas está bem. Estou cuidando
dela. Não se preocupe com nada.

— Tentarei ir visitá-la no próximo final de semana.

— Não acho que seja uma boa ideia, mas se preferir assim, tudo bem
— retruca. — Eu prometo que é apenas durante o verão, depois que
conseguirmos a herança de Logan, você estará livre. Fique tranquila, tudo
vai dar certo.

— Tudo bem.

— Se cuide, Skyler. Boa noite — diz e desliga em seguida.

Levanto-me da cama, caminho até a janela de vidro e observo as


ondas do mar sombrio quebrarem. Cruzo os braços na altura do peito, me

sentindo pequenininha e com frio. Embora não queria chorar, não consigo
impedir as lágrimas de caírem.

Eu sou louca por ter aceitado a proposta de Meera. Mas o que eu


faria? Não tinha outro jeito de ajudar a minha avó. E de uma coisa tenho
certeza, não posso perdê-la. Ela é minha única família.

Estou cometendo um crime ao me passar por outra pessoa para


ajudar minha avó com câncer.

Será mesmo que os fins justificam os meios?


— Você pode me fazer um favor? — vovó pergunta ao entrar no

quarto sem bater. Por sorte já estou “meio” vestido. Ou talvez não esteja.
Depende muito do ponto de vista. — Ah, bom dia.

— Deve ser muito importante pra senhora estar entrando sem bater
— digo e ela ri. — Eu estou quase pelado. — Aponto para a toalha

amarrada na minha cintura.

— Não seja bobo, já limpei sua bunda quando era criança.

Balanço a cabeça de um lado para o outro e estou pronto para


argumentar, mas ela não deixa.

— Quero que leve Madeline ao centro da cidade pra fazer compras


— diz enquanto pega a toalha de rosto das minhas mãos e começa a secar
meus cabelos. Tenho que me inclinar um pouco para que ela consiga fazer

isso.

— Por que eu?

— Você é o único disponível.

Sorrio.

— Eu amo a sua sinceridade, vovó.

Ela me entrega a toalha e eu volto a secar os cabelos.

— Faça com que ela compre tudo que precisa. Não poupe esforços.

Aquela garota merece — fala a última frase em um tom triste.

— Aconteceu alguma coisa?

Vovó nega com a cabeça.

— Nada que você precise se preocupar.

Levo uma das mãos até o rosto enrugado da vovó e faço carinho com

o polegar. Ela sorri.

— Você parece triste.

— Está vendo coisas demais, Antony. — Aumenta ainda mais o


sorriso e pega minha mão e dá um beijo. — Cuide bem dela, tudo bem? Pode

fazer isso por mim?

— Claro, não se preocupe.


Vovó assente e sai do quarto.

Troco a toalha por calças de tecido leve e uma blusa de algodão.

Passo uma das mãos entre os cabelos e saio do quarto na mesma hora que

Madeline. Os olhos grandes e azuis me encaram por quase uma eternidade

sem dizer nada.

— Bom dia.

Ela abre um meio sorriso e dá alguns passos na minha direção,

ficando de frente para mim.

— Bom dia, Tony. — Cruza os braços na altura dos seios, o que

acaba fazendo com que eles fiquem empinados e apontem para mim. É

impossível não admirar. São lindos e hipnotizantes. Droga! — Eu não vi

você voltar ontem.

— Ah — é a única coisa que eu consigo falar e ela nota para onde

estou olhando.

— Está olhando meus seios? — pergunta irritada e eu pigarreio. Com

um esforço tremendo consigo desviar a atenção deles. Tchau meninos.

Encaro os olhos de Madeline e finjo um sorriso.

— Não, claro que não. Você ficou doida. — É melhor negar. Não

posso assumir que segundos atrás eu estava fascinado pelos seios redondos e
empinados de Madeline. Droga, eles são incríveis e eu estou a ponto de ter

uma ereção.

Caralho.

Quando voltei a ser um adolescente?

Enfio as mãos no bolso da calça e passo por ela para descer as

escadas. Estou começando a achar que é uma péssima ideia ficar perto de

Madeline. Não quero ser igual a porra do meu irmão que se envolve com as

primas. Sei muito bem o que minha avó acha sobre o assunto e transar com
gente da família nunca fez o meu tipo.

O que? Transar? Com aquela garota? Eu só posso estar doido.

— Eu vi. Não adianta negar — fala ao apressar os passos para me

acompanhar. — Por que está correndo?

Paro de caminhar, e ela vai de encontrão com as minhas costas e

começa a resmungar. Viro meu corpo para Madeline e a vejo com o cenho

franzido.

— Por que está me seguindo?

Madeline faz gesto de quem vai cruzar os braços de novo na altura

dos seios, mas desiste no meio do caminho quando meus olhos se direcionam

a zona proibida outra vez.


— Não estou seguindo você. Só aconteceu de estarmos indo pelo

mesmo caminho.

Sorrio de lado. Essa garota é uma figura.

— Você perguntou se eu estava correndo.

— E por que estava? — retruca, fazendo-me suspirar.

Levo o indicador até a sua testa e a empurro de leve para trás,

fazendo com que Madeline fique furiosa.

— Ei! Ficou doido?

— Você é irritante. Saia de perto de mim.

— Você é mais irritante. Mil vezes mais. Acho que a pessoa que eu

menos gostei da família foi você. Seu grosso.

Rio com sarcasmo e ela revira os olhos.

— Não fale besteira.

— Nos filmes você é perfeito. Por que na vida real é tão diferente?

— Ela mostra os dedos da mão para mim e começa a listar ao dizer: — É

grosso, babaca, irritante, presunçoso e tarado.

Respiro fundo e fecho os olhos por uma fração de segundos.

— Não fale do que você não sabe, Madie. Aquilo lá é tudo

entretenimento.
— Tanto faz. Prefiro você apenas nos filmes.

Bufo, porém, resolvo ficar quieto. Discutir com ela não vai adiantar

nada. E Madie tem razão. Nos filmes, eu sou perfeito. A verdade é que eu

acho uma grande bosta os casais de comédia romântica. Mas gosto de atuar.

Volto a caminhar e começo a descer as escadas. Ela faz o mesmo, só

que dessa vez, fica quieta.


Antes das nove horas da manhã, sou acordada pelo sol que invade o

quarto. Odeio-me por não ter fechado as cortinas noite passada, mas levanto
sem reclamar. Fito o sistema de som embutido na parede e mesmo sem ter

certeza do que estou fazendo, caminho até ele e o ligo. Depois de sintonizar

em uma rádio perdida, que está tocando “Immigrant Song” do Led


Zeppelin, aumento o volume e começo a cantarolar as estrofes.

Entro no banheiro, que é um sonho de consumo. Tenho certeza que

depois de ir embora, nunca entrarei em um banheiro como esse. E é por isso


que decido aproveitar minha estadia na mansão dos Humphrey’s.

Paro em frente ao espelho grande e aos poucos, tiro as roupas,


olhando meu corpo e tentando considerar a possibilidade de antes do fim da

manhã colocar meu biquíni e dar um mergulho.


Depois de um banho relaxante na banheira com hidromassagem, visto

short jeans e o top de crochê, que minha avó fez para mim anos atrás. Parece

pequeno para os meus seios que andaram crescendo nos últimos anos, mas

não me importo.

Limpa e pronta para encarar o mundo que me espera detrás da porta,

eu saio do quarto ao mesmo tempo em que Tony sai do dele.

Ele está tão lindo e quente, que não consigo fazer nada além de

encará-lo. Os cabelos estão bagunçados e alguns cachos sutis caem sobre a

testa, me deixando com vontade de tocá-los.

No entanto, em menos de cinco minutos, o homem lindo dá lugar a um

ogro ignorante. Tinha esquecido como ele é irritante e estou começando a

achar que é insuportável também.

Nós chegamos à sala de jantar juntos.

— Bom dia, querida. Como você dormiu? Se divertiu ontem? —

vovó pergunta ao me ver. Aproxima-se para me abraçar, e depois beija a

bochecha de Tony.

Sento-me à mesa e Tony dá a volta, ficando de frente para mim.

Segundos depois, Alice e Naomi entram também e ocupam seus lugares, não

fazem questão de dar atenção a mim, o que me deixa aliviada. Receber

atenção delas pode ser uma coisa inconveniente e difícil de lidar.


Ainda faltam alguns lugares a serem ocupados, mas antes que possa

perguntar, se é que eu teria coragem de perguntar alguma coisa, um homem

alto, olhos azuis, cabelos grisalhos e de pele bronzeada entra na sala de

jantar.

A primeira pessoa que ele olha é para mim, como se não acreditasse

que eu estou aqui, provavelmente, mais uma pessoa que não é e nunca será

do fã-clube da Madeline.

— Adrian — vovó diz ao vê-lo e sorri com carinho para ele, que é

retribuído com um beijo no rosto de Elisha.

Ele não tira os olhos de mim, e eu acabo sorrindo, na tentativa de

amenizar o clima constrangedor.

— Você cresceu — fala para mim e eu concordo com um aceno de

cabeça, em silêncio. Não faço a mínima ideia do que dizer.

— Então, essa é famosa Madeline?

A dona da voz é uma mulher alta e muito bonita. Caminha rumo a

Adrian, equilibrando-se de maneira majestosa em cima dos saltos. Ao

chegar perto dele, os dois trocam um selinho.

— Apenas, Madeline — retruco.

— Tudo bem, apenas, Madeline — ela tenta fazer piada, mas

ninguém ri. — Você é diferente do que imaginei. — Olha-me com desdém.


— Como posso ser igual? A última vez que eu estive aqui tinha dois

anos.

— Uau. Tem língua fiada igual a sua mãe. — Balança a cabeça de um

lado para o outro. — Não aja assim, querida. Aquele jeito de Meera não a

levou em lugar nenhum, apenas...

— Chega, Abigail! — vovó intervém. — Quero fazer a primeira

refeição do dia em paz e se não está a fim de colaborar, pode se retirar.

— Não está mais aqui quem falou, sogra.

Abre um sorriso falso para mim, mas não retribuo.

Acho que estou começando a entender o motivo de Meera ter ido

embora e nunca ter entrado em contato com a família Humphrey.

Embora tenha insistido que não era preciso, Elisha me obrigou a

fazer compras. Confesso que até poderia ser algo legal, se não fosse pelo

fato de Tony ter que me acompanhar.


— Vovó não aceita um não como resposta, não é? — pergunto ao me

acomodar no banco do carona.

— Você ainda não viu nada.

— Só que eu tenho um fã-clube que me odeia.

Dou de ombros e coloco o cinto de segurança.

— Não é nada com você...

— Apenas com a minha mãe? — interrompo Tony e ele fica quieto.

— Por favor, não vamos falar sobre isso.

— Tudo bem. — Ele sorri ao mesmo tempo em que pisa no

acelerador. — Pode escolher uma música — emenda, mudando de assunto.

Estico o braço para ligar o rádio e “Bitter Sweet Symphony” do The

Verve preenche o carro.

Sorrio.

— Hum... até que pra uma pessoa chata e insuportável, você tem um

gosto musical decente.

— O que você entende de música, garota?

Parte de mim quer contar que minha mãe, minha mãe de verdade que
morreu em um acidente de carro quando eu tinha dez anos... era professora

de música. E por isso, eu gosto de cantar e sei tocar piano muito bem. Mas é

claro que fico quieta e apenas dou de ombros.


— Talvez entenda um pouco.

Ele ri de leve.

Tony me leva nas melhores lojas do centro de Miramar Beach e não

parece se incomodar com o fato de me esperar. Embora eu queria me

enturmar e parecer mais como Alice e Freda, percebo que as roupas que elas

usam, foram feitas para garotas como elas, e não para garotas como eu.

Em meio a minúsculos shortinhos que não cobrem quase nada e


blusas muito decotadas, consigo encontrar roupas que caem bem em mim.

Para minha surpresa, compro mais do que pretendia e menos do que Tony

esperava.

— Não reclame se a vovó fizer você comprar mais coisas depois —

ele diz.

— Mas isso é mais roupa do que eu trouxe. Pra ser sincera, isso é

muito mais do que eu preciso.

Assente.

— Tudo bem, mas vamos escolher um vestido pra você. Final de

semana que vem será casamento da Freda. Você precisa de algo.

— Casamento?

Tony me puxa pelo braço e entramos em mais uma loja. Dessa vez, é

ele quem escolhe algo para mim. Depois de alguns minutos, me entrega um
vestido vermelho vinho e me empurra até o provador vazio.

Demoro mais do que o necessário para sair do provador, mas quando

o faço, vejo os olhos de Tony brilharem. Devagarzinho, os lábios dele se

transformam em um sorriso cativante, evidenciando o furinho delicado no

queixo.

— Você está linda, Madeline.

— Você tem certeza? Estou me sentindo estranha usando isso — falo

e me viro na direção do espelho de corpo inteiro mais próximo. O vestido é


mullet e de alcinha. Embora não vá admitir, amo o fato de ele ter marcado

bem os meus seios. Eles são lindos e dentro desse vestido, parecem
perfeitos. A cintura também está marcada, o que valoriza o meu quadril.

— Está perfeita. — Tony olha para mim através do espelho e

ficamos nos encarando por alguns instantes, depois parece cair em si e


desvia, tentando desconversar ao mexer no smartphone. — Vai querer ou

não? Não tenho o dia todo pra ficar esperando você. Ande, sou uma pessoa
muito ocupada.

Reviro os olhos.

— Grosso.

— Você não imagina o quanto — retruca, fazendo minhas bochechas


ruborizarem. — Por que está ficando vermelha? Não falei nada demais.
Entro rápido no provador e respiro fundo.

Esse idiota me tira do sério.


Depois da manhã de compras com Tony e um almoço com a vovó,

que me faz sentir uma pessoa sortuda por conhecê-la e horrível por enganá-
la, cá estou eu, sentada em uma espreguiçadeira, debaixo de um guarda-sol

gigante, com o livro “No Escuro[1]” da Elizabeth Haynes nas mãos, no


entanto, sem conseguir me concentrar em nenhuma palavra.

Não vi Jordan hoje, mas vovó comentou que ele está no clube com os
amigos jogando golfe, ou será tênis? E Tony está por aí atormentando alguma

pobre alma. Felizmente, não é a minha.

Fecho o livro e o coloco na mesa ao lado do meu suco de laranja,

olho a piscina por alguns segundos, tentando decidir se é uma boa ideia

nadar. Acabo me levantando e tirando a blusa, revelando um biquíni tomara

que caia.
Tony me fez comprar pelo menos uma dúzia de biquinis hoje. O que

não foi uma má ideia, já que no único biquini que eu trouxe, não cabe meus

seios.

— Preto cai muito bem em você — Tony fala, fazendo-me olhar para

trás quase que de imediato.

Ele está com metade do corpo encostado na porta de vidro que dá na

cozinha.

— Obrigada. Em você também. — Aponto com o queixo para a

bermuda dele e tento não corar com a imagem do abdômen trincado. Meu

Deus, que homem. Como ele pode ser tão lindo?

— Obrigado. Às vezes é difícil ser perfeito.

Tento não rir, mas é impossível. Tony é tão idiota. Ele também ri.

Caminha até mim e senta na espreguiçadeira que há pouco tempo eu

estava sentada. Pega o meu suco e levanta em um brinde solitário antes de

chupar o canudo. Reviro os olhos e estou prestes a vestir minha blusa de

novo, quando ele pergunta:

— O que está fazendo? Estava apreciando a vista.

Bufo.

— Vou continuar lendo lá em cima.

Desisto da blusa e me inclino para pegar o livro em cima da mesa.


— Só pra você saber... Lee encontra Cathy depois que sai da prisão,

mas ela fica com Stuart, e Lee é preso de novo.

— Idiota. Eu poderia te matar agora, sabia? Eu ainda não li trinta

páginas.

Tony ri.

— Você pode tentar, mas antes nós podemos ir até a praia? —

pergunta sugestivo, mas não digo nada. — O gato comeu a sua língua?

Dou de ombros e coloco o livro em cima da mesinha de novo. Pego o

copo de suco das mãos do Tony, tiro o canudo e tomo um gole generoso,

depois volto com ele no lugar.

O astro de Hollywood não tira os olhos de mim, e mais uma vez,

consegue deixar minhas bochechas coradas.

— Vamos e não seja tão chato.

Tony levanta da espreguiçadeira, sorrindo.

— Você também é chata, sabia?

Ignoro-o e caminho rumo à escada de madeira que dá acesso à praia.

Ele logo se põe ao meu lado, exibindo um sorriso convencido no rosto. Por

que Tony tem de ser tão lindo? Não podia ser apenas um babaca irritante?

— Tony, você tem quantos anos mesmo? Eu não lembro, mas eu acho

que é dez — brinco.


Ele ri e eu acabo rindo também.

— Não sabe a minha idade? De verdade?

Dou de ombros.

— Claro que não. Eu não lembro nem de ter conhecido você quando

criança, imagina a sua idade?

— Meera nunca falou de nós?

— Por que ela falaria? — retruco.

— Você tem razão. — Anui. — Eu tenho vinte e nove — fala, mas eu

já sabia. Infelizmente, já fui o tipo de garota apaixonada por uma

celebridade para saber coisas demais sobre a vida dela.

Quando meus pés pisam na areia branca e quente, não consigo

impedir os lábios de sorrirem. Nem acredito que demorei três dias para

fazer isso. O mar está calmo e as ondas quebram devagar à minha frente, me

relaxando com o som fascinante.

— A vista é maravilhosa — comento mais para mim do que para ele.

— Sim, muito — ele concorda, mas não é para o mar que ele está

olhando, e sim para mim, o que faz meu coração acelerar. — Você se tornou

uma mulher muito bonita — diz, fazendo minhas bochechas ruborizarem.

Não estou acostumada a ficar recebendo elogios, ainda mais vindo

de um homem tão intenso e bonito como ele.


— Ah, obrigada.

— Quer nadar? — pergunta de repente.

— Não acho que seja uma boa ideia.

— Qual é? Não me diga que não sabe nadar? Você deve ter herdado

algo além dos olhos azuis do tio Logan. Ele era um ótimo nadador.

— Eu sei nadar, mas nunca precisei nadar fora da piscina da escola

— retruco e cravo meus pés na areia.

— Nunca nadou de verdade?

— Depende do que você quer dizer de verdade.

Tony revira os olhos.

— Tá na hora de mudar isso, garota — Tony fala em um tom

ameaçador.

Meu coração vacila algumas batidas quando ele envolve as mãos

grandes e quentes na minha cintura, me joga sobre o ombro, como um homem

das cavernas e caminha mar adentro.

Começo a rir alto, mas ao mesmo tempo, tento me soltar dele. Nadar

em piscina é algo bem diferente do que nadar em um mar sem fim e com

correnteza. É quase intimidador para ser sincera. Eu fui sempre a aluna

medrosa e a última que entrou na piscina sem a boia.

— Me coloque chão — ordeno, e assim, ele faz.


O nível da água está na altura dos meus seios e tenho a sensação que

as ondas me levam mais para o fundo. Eu ainda estou rindo, mas odeio Tony

no momento, porque parece se divertir com a minha situação.

— Viu? Não é tão ruim — ele me provoca.

— Vai se ferrar — tento soar irritada, mas a risada que explode

dentro da minha garganta estraga meu plano.

Com dificuldade, passo por ele e sem me importar de estar


parecendo uma idiota, caminho em direção ao raso. Ao contrário de mim, ele

não tem nenhum problema em me acompanhar, mas fico feliz por não me

fazer voltar para o fundo.

Quando meus pés conseguem se mexer sem pesar uma tonelada, eu

corro para pisar em terra firme, entretanto, antes que eu possa piscar, Tony

segura meu braço e me vira para olhá-lo. Ele sorri como um garotinho,

parecendo alguns anos mais jovem. Também rio, é impossível não me

contagiar com ele.

— Não foi tão ruim assim, foi?

— Só pra você saber, na aula de natação, fui a última a entrar na

piscina sem as boias.

Rimos juntos e ele ainda segura um dos meus braços. Quando nossa

risada cessa, nossos olhos soltam faíscas inexplicáveis. Meu coração bate
mais rápido do que o normal, fazendo eu me sentir um pouco zonza.

Tony não é alguém com quem eu deva me envolver, embora ele seja

um homem atraente e tentador. Quando topei a loucura de Meera, ela deixou

bem claro para eu não me afeiçoar a ninguém dessa família. E não posso

correr o risco de me apaixonar por um cara e estragar os planos de salvar

minha avó.

— Você parece triste.

— Hãm?

— Seu rosto... parece triste. Madeline. Tudo bem com você?

Tento colocar um sorriso no meu rosto e concordo com um aceno de


cabeça.

— Tudo perfeito.

Sem aviso prévio, Tony leva uma das mãos até o meu rosto e limpa
uma lágrima intrometida que resolveu cair dos olhos. O toque é tão bom,

quente e familiar, o que é loucura, eu o conheço há pouco tempo e ele não


sabe nada sobre mim. Mesmo assim, esse homem consegue instigar

sentimentos esquisitos em mim.

— Por que está chorando?

— Por nada — murmuro.

— Está mentindo. Por quê?


— Não quero conversar sobre isso, Tony. Por favor, só podemos...
não falar sobre nada?

— Tudo bem.

Continuamos a nos encarar e ele ainda não tirou a mão do meu rosto.
Talvez, só talvez, eu queria que ele continue com a mão quente e

aconchegante sobre a minha face.

— O que estão fazendo?

Afasto-me rápido de Tony ao escutar a voz de Jordan.


Ele tem a mandíbula contraída e os olhos fixos no irmão. Não parece

nenhum pouco satisfeito com o que vê, mas também não diz nenhuma
palavra.

Os dois se encaram em silêncio e é então, que eu noto, que eles têm


assuntos mal resolvidos ou não resolvidos.

Dou um passo para trás e Tony volta a me olhar.

— Preciso ir — é o que digo antes de abrir um sorriso fraco e

caminhar para longe dos dois.

— Pare de implicar com ela, Tony — Jordan fala antes de começar a

me seguir.

Tony fica quieto e eu sinto meu coração apertar.


Apresso meus passos, a fim de deixar Jordan para trás, só que o

idiota é rápido e logo está caminhando ao meu lado. Sinto seus olhos em

cima de mim, mas não me permito olhá-lo. Talvez, aturar os irmãos

Humphrey’s seja muito mais do que sou capaz de aguentar.

— Ei! — Jordan me chama, porém me mantenho firme, não o olho e

nem respondo.

Continuo caminhando.

— Ei! — dessa vez, ele grita e me puxa pelo braço, virando meu

corpo de maneira brusca e colando ao seu.

Jordan está sem camisa, e a visão do peitoral sexy e nu, embaraça

todos meus pensamentos, me deixando sem palavras.

— Tony não é o tipo de cara com quem você deve se relacionar. Ele
tem namorada.

Aquilo é como um banho de água fria em mim. Posso saber coisas

bobas sobre Tony como a comida e esporte preferido, idade e blábláblá.

Mas a vida amorosa dele sempre foi muito privada. Ele não faz o tipo de

celebridade que anuncia um namoro ou algo do tipo.

— Por que está me dizendo isso? Não estou interessada nele.

— Ótimo, porque ele não é o tipo de homem que você merece —

emenda, olhando dentro dos meus olhos.


— Como sabe disso? — pergunto enfurecida. Que droga. Estou

irritada porque acabei de descobrir que Tony tem namorada.

— Porque você... — Balança a cabeça um pouco confuso, mas

continua. — Porque você merece mais — fala, no entanto, tenho certeza que

não é isso que ele queria dizer.

— Você não me convenceu.

— Não se envolva com ele — é o que diz.

— Não vou transar com Tony, se é isso que está passando pela sua

cabeça — falo mais grossa do que pretendia. Volto a caminhar em direção a

escada de madeira, odiando Tony por ter namorada e odiando Jordan por ter

me contado isso.

Não voltei a ver Tony depois da tarde de ontem, o que acabou me

deixando decepcionada de certa forma. Mas sei que é melhor assim. Ele tem

namorada e eu não posso me envolver com ninguém dessa cidade... dessa

família.
Eles são tão intensos e me deixam doidinha da cabeça. No entanto,

tenho que confessar que até que sinto falta de ter Tony me atormentando.

Além de ser irritante, é divertido e não faz mal ficar admirando o corpo
sarado dele. É uma visão de outro mundo e eu meio que gosto.

Assim que saio do quarto e me junto à família complicada, sou

apresentada a irmã mais velha de Alice, que mora na França e veio para o

casamento de Freda. E a olhando agora, parece ter uma personalidade

completamente diferente da irmã. O que é bom.

O noivo de Freda também chega na casa, não veio antes, pois estava

trabalhando. Ele não combina em nada com ela e fico me perguntando se

esse negócio de que os opostos se atraem é verdade.

Ele parece um homem sério, honesto e até brega, enquanto ela parece

um projeto histérico de Barbie.

Sem saco para socializar com os novos familiares, vou à cozinha

comer alguma coisa.

Ao entrar, me deparo com uma garota baixa, cabelos encaracolados e

loiros com testa maior que o maxilar. Ela sorri sem jeito e volta a limpar a

ilha da cozinha, só que desta vez com pressa, como se quisesse sair rápido

daqui.

— Oi.
— Hum, oi — responde apressada. — Nem precisa se preocupar

com a minha presença, já estou de saída. — Ela arruma algumas coisas no

armário.

Franzo o cenho, tentando entender o que ela quis dizer com isso.

— Qual é o seu nome? — pergunto depois de alguns instantes em


silêncio. Sento-me na banqueta e a observo.

— É sério que você está querendo conversar comigo?

Ergo minhas sobrancelhas.

— Tem algo errado nisso?

Ela balança a cabeça de um lado para o outro, parece meio confusa.

— Não é isso. É estranho, porque as únicas mulheres nessa casa que

me tratam bem é minha mãe... e a Sra. Elisha.

Começo a entender o motivo por ela estar meio incomodada com a

minha presença, e confesso que gosto um pouco dela por não gostar de

pessoas com Alice ou Freda.

— Quem é a sua mãe?

— Mary, a governanta.

— Ela é uma mulher maravilhosa.

A loira encaracolada sorri.


— Um pouco cabeça dura, mas tenho que concordar com você.

Nós duas rimos.

— Como se chama? — eu quero saber.

— Sou Isabel, e você?

O quê? Ela não sabe quem é a Madeline? Isso é sério?

— Não sabe quem eu sou? Acho que me apaixonei por você.

Isabel abre um sorriso tímido e faz uma careta engraçada.

— Me desculpe, mas prefiro garotos.

Rio do comentário.

Acabo de conhecer a primeira pessoa em Miramar Beach que não

sabe quem eu sou. Acho que isso é motivo para comemorar.

— Sou Madeline. — Desço da banqueta e me aproximo dela,

estendendo a mão. — É um prazer conhecer você.

— Ah, a prima distante? — pergunta e eu concordo com um aceno de

cabeça. Prima distante é melhor que “A famosa Madeline”. — O prazer é

meu. Me desculpa por não saber quem você é. — Aperta minha mão de leve.

— Não tem problema. Na verdade, é legal saber que você não me

conhecia. Cansei de todo mundo agir como se eu fosse muito importante.

— Você é uma Humphrey, então é muito importante.


Reviro os olhos ao ouvi-la.

— Tenho uma lista de pessoas que discordariam de você — retruco.

— Não se dá bem com as suas primas?

— Tá brincando? Olhe pra mim. — Aponto para o meu corpo usando

short surrado e blusa com estampa do Metallica. O único estilo de roupa que

faz eu me sentir eu mesma, me destoam muito de todo o resto. — Sou quase


um alienígena pra elas.

Isabel ri, tremendo os ombros de maneira sutil.

— Que legal, às vezes eu acho que sou um ET aqui também. É bom

saber que não estou sozinha.

Abro um sorriso amplo.

— Isabel, acho que seremos grandes amigas — disparo, fazendo-a

enrugar o nariz pequeno de um jeito fofo.


Dias depois...

— Eu já disse que não, Savannah.

Ela começa a choramingar de jeito manhoso do outro lado da linha

como se fosse capaz de me fazer mudar de ideia. Se soubesse que odeio


quando age como uma gata no cio. Levo a mão livre até a testa e massageio

as têmporas.

— Vou desligar, tchau.

— Não, Anthony! Espere!

Respiro fundo.

— O que foi dessa vez?

— Só quero passar um tempo com você. Estou com saudade.


— Para com isso, Savannah. Não existe motivos pra você passar um

tempo comigo ou sentir saudades. Nós não somos nada. Nada.

— Sua mãe me adora. Ela acha que devemos casar — retruca,

fazendo parecer que a minha mãe tem algum poder sobre os meus

relacionamentos. Nunca teve e não é agora que terá. — Rosie não quer me

dizer onde você está.

— Minha mãe está ficando velha, não dê ouvidos a ela. Nós não

vamos casar nem daqui a cem anos. E Rosie é paga pra fazer o que eu peço,

por isso, você não sabe onde estou.

— Você não parece o mesmo homem que me levou pra cama,

Anthony.

— Eu estava bêbado e nem lembro de ter feito nada com você,

Savannah. Por favor, me deixa em paz. Vai procurar outro cara pra atanazar.

O que eu fiz pra merecer você?

Ela ri. A porra dessa mulher ri como se eu tivesse acabado de contar

uma piada muito engraçada.

— Você está de mau humor. Não deve estar transando, o que me faz

concluir que não está em nenhuma praia paradisíaca. Você está passando as

férias na sua avó? Acho que ela é a única pessoa que faz você sossegar o

pau.
— Não estou na minha avó. Não vou dizer onde estou. Droga!

— Anthony, eu... — Com a paciência esgotada, encerro a ligação

com Savannah. Quase que de imediato, digito o número de Rosie.

Ela atende no segundo toque.

— Tem como tirar Savannah do meu pé?

— Pensasse nisso antes de ter levado aquela mulherzinha pra cama


— retruca.

— Não lembro de ter feito nada. Então, até que se prove o contrário,

eu sou inocente. Não é assim que as coisas funcionam? Vai, Rosie, faz
alguma coisa.

Minha agente faz um barulho estranho com a boca.

— O que você quer que eu faça?

— Não sei, que a mantenha bem ocupada e não a deixe chegar perto

de mim. — Rosie suspira e fica quieta do outro lado da linha. — Eu sei que

você está transando com o agente dela. Faça alguma coisa.

— Você acha que eu tenho uma varinha mágica?

— Você não, mas com certeza, ele deve ter. Rosie, você é a mulher

mais exigente que conheço e pra estar saindo com ele, algo de bom deve ter

naquele homem.
— Da próxima vez, Tony... por favor, lembre-se de não beber perto

daquela mulher. Caso contrário, pode acordar casado com ela e não terá

nada que eu possa fazer pra ajudar você.

— Obrigado pelo aviso — digo, irônico.

— É pra isso que eu sirvo — fala e desliga na minha cara. Rosie

desliga na minha cara. Essa mulher perdeu o medo do perigo.

Seguro a vontade de jogar o telefone do outro lado da sala e o guardo

dentro do bolso. Encosto a cabeça no sofá e fecho os olhos com força. Que
merda! Como faço para tirar aquela mulher do meu pé? É pior que chiclete.

— Oi.

Ao ouvir a voz de Madeline, abro os olhos rápido. Ela está em pé

perto do braço do sofá. Usa vestido de alcinha na cor branca com estampa

de pequenas flores. Os cabelos estão presos em um rabo de cavalo alto e tem


um pouco de maquiagem no rosto que ressalta os belos olhos azuis. Respiro

fundo. Madeline tem uma beleza doce e sexy na mesma medida. Essa garota

é capaz de levar qualquer homem à loucura.

Bem que ela poderia me levar à loucura e eu não me importaria

nenhum pouco. Opa. Para de pensar com a cabeça de baixo, Tony. Você é a

porra do primo dela e a sua avó odeia esse tipo de relacionamento.

Que droga, por que Madeline é tão linda?


— Oi.

Ela dá um passo para mais perto e se desequilibra nos saltos altos,


mas consegue se manter firme. Respira fundo e passa as mãos no vestido

antes de sentar ao meu lado no sofá.

— Está usando salto alto? Isso é novidade. — Olho os pés pequenos


de Madeline na sandália de tirinhas. Estão lindos e sexys. — Aonde está

indo arrumada desse jeito?

— Vou jantar no clube com... Jordan.

A resposta faz minha garganta amargar, mas não demonstro.

— Por que se arrumou tanto pra ele?

Ela ergue as sobrancelhas e balança a cabeça de um lado para o

outro.

— Não me arrumei pra ele, só coloquei saltos. Vovó me deu de

presente.

Dou de ombros. Quero desviar os olhos dela, no entanto, não

consigo. O olhar de Madeline é hipnotizante, e eu estou ficando doido, é

isso.

— Tenha cuidado.

— Com ele? — questiona.

— Também.
Madeline pisca para mim.

— Eu sei me cuidar muito bem. Aliás, sou faixa preta em taekwondo.

Derrubaria até você sem problema nenhum. Seu melhor amigo não disse que

eu acabei com um tal de Brian naquela noite no clube? Um belo de um chute

entre as pernas.

Ela ri.

Arregalo os olhos. Por essa, eu não esperava. Madeline, essa garota


pequena, faixa preta em taekwondo. É de longe muito interessante. E

imaginá-la lutando, huumm, na minha cabeça é bem sexy.

— Acho difícil você me derrubar, mas você pode tentar qualquer dia

desses. Eu deixo.

As bochechas brancas de Madeline ficam vermelhas que nem um

tomate e eu acabo sorrindo. Ela resolve fazer voto de silêncio, fazendo com

que o clima entre nós fique estranho.

— Por onde esteve se escondendo? Faz dois dias que não te vejo por

aqui — falo, a fim de fazê-la abrir a boca outra vez.

— Ah. — Ela sorri sem jeito. — Ando passando muito tempo com

Isabel. Ela é legal.

— Ela é uma ótima garota.


— Você parecia bravo antes. Aconteceu alguma coisa? — pergunta

de repente e olha para tudo que é lado, menos para mim.

— Estou bem, não se preocupe.

— Não estou preocupada — retruca, fazendo-me rir. Ela solta uma


risada também. — Hum, a Betsy é legal. Não pensei que ela fosse ser tão

diferente da Alice. É mesmo possível que tenham saído da mesma mãe?

Madeline vira o corpo para mim, me fazendo rir.

— Eu também me faço essa pergunta — caçoo.

— Adivinha o que nós duas fizemos hoje?

— Não fale desse jeito perto das pessoas, elas vão entender errado

— brinco, sem conseguir esconder o tom sexual na minha voz.

Madeline faz cara feia e cruza os braços na altura dos seios. Eles

ficam empinados, quase saindo do vestido. Embora seja tentador ficar


olhando, desvio os olhos do decote e tento me concentrar em outra coisa.

— O que fizeram?

— Wakeboard[2] — fala com animação, mas fica amuada de repente.


— Foi legal — emenda ao prensar os lábios.

— O que foi? O que aconteceu?

Madeline nega com a cabeça.


— Nada.

Estou pronto para abrir a boca e argumentar, quando Jordan surge na

sala, chamando por Madeline.

— Acho que chegou a minha hora — fala ao levantar do sofá. Ajeita


postura e tenta dar um passo para frente, porém, acaba cambaleando e caindo

em cima do meu colo. Os peitos de Madeline roçam no meio da minha calça


e eu sinto que estou prestes a ter uma ereção. Não consigo impedir meus

lábios de sorrirem. — Você quer morrer? Não ria de mim.

— Desculpe em dizer isso, mas não acha melhor tirar os saltos?

Madeline franze o cenho e nega com a cabeça.

— Estou treinando para o casamento.

Ajudo-a a levantar e por um triz não fiquei de pau duro. Jordan fica

nos encarando com cara de bunda.

— Meu bem, o casamento será na praia, não precisa usar saltos. Use
o que você quiser.

Ela abre a boca como se estivesse decepcionada, e eu começo a rir.

— Tanto faz — resmunga ao ajeitar o vestido. — Obrigada. — Volta


a caminhar rumo ao meu irmão. Dessa vez, sem cair.

Ao vê-los sumirem da sala, cogito a ideia de ir até o clube encontrar

Wyatt só para ficar de olho em Madeline e Jordan, mas antes que possa fazer
algo a respeito, Betsy senta no sofá de supetão. Envolve um braço no meu
pescoço, parece meio alta e feliz.

— Primo, eu senti tanta saudade daqui, da nossa família. Me conte

sobre a sua vida. Faz tempo que não nos vemos — fala e o bafo de álcool
sopra sobre o meu rosto.

— Você tá fedendo — resmungo.

— Ui, continua chato — devolve, me arrancando uma risada. —


Vamos beber mais um pouco, o que acha?

— Não quero ter que carregar você até o terceiro andar. É pesada

demais — falo, só para provocar.

Betsy semicerra os olhos e aperta os lábios, em seguida, com o

indicador, cutuca o meu bíceps esquerdo com força e de repente, o agarra


com as duas mãos pequenas, me fazendo rir de novo.

— Tem músculo de sobre aqui, você consegue me carregar se eu

precisar. Vamos, quero continuar enchendo a cara — é o que fala, ficando de


pé e indicando com à cabeça na direção da cozinha.
Isabel e eu saímos da mansão para ir à beira-mar depois das nove

horas. A praia aqui é tranquila, os outros casarões ficam distantes, então


temos bastante privacidade. Estendemos nossas toalhas na areia e sentamos

antes de passar o protetor solar. Prendo meus cabelos em um coque alto e

Isabel faz o mesmo. Ela fica linda, e eu tenho a sensação que um passarinho
fez ninho malfeito em cima da minha cabeça.

— Como foi sair com Jordan ontem? — Isabel quer saber. Já havia

notado um certo interesse da parte dela com ele. — O que fizeram? — ela
tenta soar sem interesse, mas não consegue.

— Nada. Foi normal.

E foi mesmo. Foi um jantar normal, conversamos sobre ele, sobre

mim. Na verdade, falei o que podia sem me comprometer. Descobri que


assim como Tony, Jordan mora em Los Angeles e trabalha com a vovó, e está

muito perto de assumir o lugar dela como presidente nas Indústrias

Humphrey’s. E que Logan e Adrian nunca se interessaram pelos negócios da

família, por isso que os dois abriram um Resort aqui em Miramar Beach.

— Você saiu com um gato daqueles e não rolou nenhum clima?

Faço careta e a encaro por alguns segundos. Ela é linda, a pele até

brilha em contraste com o sol. Acho que nem se eu tomasse banho de sol por

um mês, conseguiria uma pele bronzeada que nem a dela. No máximo, vou

parecer um camarão.

— Não. Acho que você não notou, mas eu não faço o tipo dos

homens daqui. Não sou sexy, gosto de rock e não sou bronzeada.

Isabel revira os olhos.

— Não é sexy? Você precisa se olhar mais no espelho. Você é linda e

qualquer homem ficaria babando por você.

Humm, qualquer homem mesmo? Será que Tony baba por mim?

Mas que porra que estou pensando? Acorda, Skyler. Saia desse sonho

idiota agora. Você e um homem daqueles nunca vai acontecer por “n”

motivos.

— Bom, não ele — digo e deito em cima da minha toalha. Não é

totalmente verdade, mas eu não falarei em voz alta que já notei uma vez ou
outra Jordan me olhando com malícia.

Não podemos ter esse tipo de relacionamento e eu estou bem assim,

virgem e solteira. Quer dizer, não cem por cento bem, mas é o que tem pra

hoje.

— Não posso mentir que fico feliz.

— Eu sabia que você era caidinha por ele. Está escrito na sua testa

com tinta em neon — zombo.

Isabel ri e se deita na toalha também.

— Talvez esteja.

— Me desculpe se estou sendo intrometida, mas se cuide. Você não

merece ter o coração partido por ele. Ou por nenhum outro homem.

— Relaxa, Madeline. Eu sou mais nova que você, mas sei me cuidar.

Sorrio, tentando manter os olhos abertos contra o sol. Missão

impossível.

— Tudo bem. Aliás, conhece a família Humphrey há quanto tempo?

— eu quero saber. Talvez ela me diga coisas relevantes sobre a família, que

às vezes parece uma incógnita para mim.

— Desde oito anos.

Dá de ombros.

— Hum.
— Minha mãe trabalha pra sua família há onze anos. No verão,

Elisha nos leva pra onde quer que ela vá. É divertido e eu amo. Pareço rica

mesmo não sendo. Já viu meu Instagram? Tenho mais de quinhentos mil
seguidores.

Apoio-me nos cotovelos e a observo, pasma. Mais de quinhentos mil

seguidores? Nem Instagram eu tenho. Odeio redes sociais. Não me acho

fotogênica e nem me dou bem com as câmeras. Talvez eu só odeie exposição

sem sentindo.

— Você é louca — retruco.

— Você age como uma velha. Precisa se soltar mais, garota.

— Eu sou uma velha presa no corpo de uma jovem de vinte e um

anos — brinco, e nós rimos. Volto a deitar, tentando olhar o céu ensolarado.

— Vamos fazer um Instagram pra você, o que acha?

Entro em pânico. Deus me livre. Eu cheguei aqui sem ter redes

sociais e vou embora do mesmo jeito. De qualquer forma, que bem isso me
traria? Criar uma conta com o nome de Madeline e fingir ser uma Humphrey

na internet? Parece que estou pedindo para ferrar a minha vida toda.

— Eu passo, obrigada.

— Não seja chata. Você tem um rosto lindo, uma foto sua e com

certeza vai estourar no Instagram.


O quê? Definitivamente, é a última coisa que eu quero.

— Me diz quais lugares você já foi visitar no verão. Eu não sou


muito de viajar, mas gosto de imaginar — mudo de assunto. Ficar falando

sobre como vou estourar na internet não vai me fazer mudar de ideia sobre

ter uma rede social.

— Hum, vejamos... — diz ao apoiar os cotovelos na toalha e inclinar

o corpo para trás. — Havaí, Santorini, Cuba, Bora Bora, Ilhas Maldivas,

mas a Sra. Elisha sempre acaba querendo vir para cá. Acho que aqui traz

muitas lembranças de quando ela era casada, sabe?

— Ah, sei — é o que digo, mas na verdade, eu não sei.

— Os irmãos Humphrey’s são bem intensos, não é? — pergunta de

repente.

— Sim, a família toda é intensa — respondo. Aproveito a

oportunidade para saber mais sobre os dois. — Você sabe o motivo por eles

serem tão assim? Sei lá, parece que não se dão bem. Existe essa rivalidade

esquisita entre os dois.

— Mais ou menos — fala ao sentar novamente.

Ergo uma sobrancelha, ligeiramente curiosa. Mais ou menos é mais

do que eu sei. Então, está de bom tamanho. Espero que ela continue falando,

mas fica quieta, remoendo algo dentro de si.


— E?

— Não sei se posso ficar falando isso, parece que estou fazendo

fofoca.

Claro que é fofoca, mas eu preciso saber. Se Isabel sabe o motivo

por eles serem daquele jeito, eu quero saber.

— Não se preocupe, não vou contar a ninguém.

Isabel assente e suspira antes de começar a falar.

— Como você não cresceu com eles, eu preciso te falar que Tony e

Jordan eram inseparáveis. Melhores amigos. Quando Tony disse que não

queria assumir os negócios da família, Jordan foi o primeiro a ficar do lado

dele.

Anuo. Interessante e estranho saber que os dois eram melhores

amigos. Agora, eles não parecem conseguir ficar no mesmo cômodo sem se

alfinetar.

— Há um pouco mais de três anos, Tony tinha ficado noivo. Eles

eram apaixonadíssimos um pelo outro, era até bonito de se ver — diz ao

estreitar os olhos para o mar. — As coisas desandaram, quando os três

vieram passar as férias de verão aqui. Não sei bem como aconteceu, mas ela

e Jordan se apaixonaram e mantiveram um relacionamento escondido de

Tony. Foi uma loucura quando Tony pegou os dois juntos.


— Ele pegou os dois juntos? — pergunto, boquiaberta.

— Sim, triste, né? É difícil falar, mas quando você via o Tony com

ela, você conseguia enxergar o amor que ele sentia. Acho que ele daria o

mundo pra ela, sabe? E no final, foi feito de idiota.

Perplexa com a história dos dois, sento na toalha e observo o mar.

Que drama familiar é esse? Meu Deus, essa família é cheia de histórias.

Ainda sem conseguir acreditar nas palavras de Isabel, pisco devagar.

— Nossa...

— Pois é. Drama tem de sobra nessa família.

— Não acredito que ele foi capaz de trair o próprio irmão. Tony

deve ter ficado arrasado, ainda mais se ele amava tanto os dois. Como
Jordan foi capaz de fazer isso?

— Foi bem tenso. Tony ficou arrasado. Acho que os dois passaram
quase dois anos sem falar um com o outro. Eles nem ficavam no mesmo

cômodo, mas parece que aos poucos, estão tentando conviver de novo. A
sra. Elisha insistiu muito, queria ver os netos juntos outra vez.

Suspiro. De repente, fiquei triste por causa de Tony.

— Deve ter sido muito difícil pra ele.

— E foi, mas ele superou — Isabel fala ao sorrir para mim.


Mesmo que tenha superado, que triste. Eu não consigo imaginar como
é ser traído por um irmão.

Antes que eu possa me deitar de novo e aproveitar o banho de sol,


vejo Alice correndo. Assim que ela nos vê, desacelera o passo e para bem

próxima de nós. Está exibindo a barriga negativa e as pernas longas e


bronzeadas. É bonita, mas é insuportável. Parabéns ao homem que conseguir

aturar uma mulher como ela. Tem que ser alguém de garra e com paciência
de estoque infinito.

Alice tira o fone de ouvido e nos olha com desdém.

— Já era de se esperar que vocês duas fossem fazer amizade.

Isabel que agora está sentada, olha para as mãos e fica em silêncio.
Parece não querer bater de frente com Alice.

— O que você quer dizer com isso? — pergunto. Ao contrário de

Isabel, não vou deixar essa loira aguada fazer eu me sentir um lixo só por
não ter dinheiro como ela. Dinheiro é importante, paga contas e pode salvar

vidas, mas caráter também é valioso. — É melhor você sumir da minha


frente antes que eu comece a me irritar.

Alice cruza os braços na altura do peito.

— O que vai fazer? Me bater? Parece ser coisa de gente da sua laia.
— Deve ser ruim ser você, Alice — começo a falar e ela franze o
cenho. — Ter que ficar menosprezando os outros para se sentir bem. —

Balanço a cabeça de um lado para o outro. — Com certeza é uma mal-


amada.

Isabel não consegue segurar a risada.

Alice olha para ela com o maxilar contraído.

— Para de rir, vaca. Não esqueça que eu pago o salário da sua mãe
— fala e o sorriso de Isabel se desmancha.

— Quem paga o salário de Mary é a vovó e não você. A única coisa

que você faz é gastar dinheiro igual a uma idiota com titica de galinha na
cabeça — retruco.

Alice decide me ignorar e volta a atacar minha amiga.

— Não preciso lembrar qual é o seu lugar, né, garota? Não é porque
agora começou a andar com Madeline, que você é alguém. Você não é

ninguém, Isabel. Você e sua mãe são duas pobres coitadas que vivem às
custas da minha avó.

— Não vivemos às custas de ninguém, Alice. Minha mãe trabalha há

anos para a Sra. Elisha e faz por merecer toda a ajuda que ela nos dá. Então
cale a boca e não fale do que você não sabe.
Surpreendo-me ao ouvir Isabel, mas fico feliz por ela ter aberto a

boca e ter se defendido.

Alice ri com sarcasmo.

— Vamos ver o que a vovó acharia se soubesse que a queridinha

dela andou fodendo com um dos netos. Minha avó não gosta de pobre, só
finge que gosta. Não comece a se achar importante.

— E o que ela acharia se soubesse que você ainda anda fodendo com

o Jordan também? — Isabel crispa e eu arregalo os olhos. Mais drama


familiar. Meu Deus, eu não sei se aguento.

Jordan e Alice? Uau. Uma combinação estranha e de dar calafrios.

O rosto de Alice perde a cor. Ela abre a boca para falar, mas não
consegue dizer nenhuma palavra.

— É melhor você ir, Alice. Estou cansada de olhar pra você — digo

e faço um gesto com a mão para que ela vá embora. — Anda, suma. —
Meneio a mão de novo e com o maxilar contraído, ela sai de perto de nós.

Isabel respira fundo e relaxa o corpo.

— Achei que ela fosse avançar em mim.

Rio dela.

— Não deixaria que isso acontecesse, Isabel. Sou faixa preto em


taekwondo.
Ela fica boquiaberta.

— Não brinca! Que surpresa, você não tem cara de quem sabe lutar.

Você parece ser muito delicada.

— De delicada, eu não tenho nada. Sou pequena, mas sei me


defender sozinha. — Sorrio. — Falar em surpresa... Jordan e Alice, hein?

Você e... Jordan, não é? Essa família é uma caixinha cheia de dramas.

Ela solta um suspiro cansado.

— Alice e Jordan transam desde sei lá quando — é o que Isabel diz.

— Ela é louca por ele. Apaixonadíssima, cega de amor. Chega até a ser
ridículo.

— E você?

A loira encaracolada dá de ombros.

— Algumas vezes — fala, fazendo-me estreitar os olhos. — Não me


olhe assim, não vou correr atrás dele. Nunca fiz algo do tipo, não será agora

que isso vai acontecer.

— Ficaria com ele de novo? — pergunto mais curiosa do que

gostaria.

— Madeline, aprenda uma coisa. Homens ricos só querem garotas


como eu para se divertirem. Nada mais que isso. E eu sei que mereço mais.
Embora, eu goste dele um pouquinho e Jordan seja uma tentação, não vou
ficar correndo atrás.

Respiro fundo e assinto.

— Nada é como nos livros, né? Um CEO podre de rico não vai se
apaixonar pela pobretona e fazer de tudo pra casarem. Histórias assim são

quase uma realidade alternativa.

Isabel ri, mas não diz nada.


No final da tarde, encontro Tony nadando na piscina. Observo-o por

alguns segundos e sinto compaixão por ele. Odeio um pouco Jordan por ter
traído o irmão.

Caminho até a borda da piscina e com cuidado, me sento. Sorrio para


ele quando nada rápido na minha direção. Arfo no momento em que as suas

mãos fortes tocam os meus pés. De maneira lenta e sensual, ele vai subindo

até a superfície, apoiando as benditas mãos nas minhas coxas. O toque dele é

quente e leva uma onda de arrepio ao meu corpo. Meu Deus, como isso é
bom. Mordo o lábio inferior e respiro fundo, tentando controlar as

sensações.

— Senti falta de você — ele diz, fazendo-me olhá-lo. — Está

bronzeada. — Fica encarando as minhas pernas.


— Mais ou menos bronzeada — corrijo-o. — Fui à praia hoje de

manhã, é bom saber que não fiquei parecendo um camarão. — Dou de

ombros e ele ri. — O que fez hoje? — pergunto.

— Fui ao clube, joguei tênis e passei um tempo com meus amigos. —

Faz pouco caso ao falar. De repente, me puxa para dentro da piscina e eu

engulo mais água que gostaria. Não sou tão boa nadadora.

Começo a tossir, mas rio.

— Por que fez isso?

— Porque eu quis.

Reviro os olhos ao me afastar de Tony e nado. Logo o vejo nadando

ao meu lado. Nós ficamos no fundo da piscina por alguns segundos e depois

voltarmos à superfície.

— Você quer jantar comigo?

Franzo o cenho e tento segurar a risada.

— Está me chamando pra sair? Isso parece perigoso, Antony

Humphrey.

— Mais ou menos, meu pai também vai — fala, e eu me sinto uma

idiota. Até parece que ele me chamaria para jantar de qualquer forma. E

droga, por que estou decepcionada? Se recomponha, Skyler. — Parece


decepcionada. Queria jantar a sós comigo? — pergunta ao se aproximar
mais que o necessário, segurando meu rosto com uma das mãos. — Podemos

jantar sozinhos depois.

— Claro que não. Se fosse apenas com você... eu recusaria no

mesmo segundo — crispo.

— Ah, claro, claro — zomba.

— Só vou jantar com uma condição.

— E qual é? — ele pergunta ao erguer uma sobrancelha grossa.

— Se você sobreviver a isso — falo e tento afogá-lo, mas não tenho

muito sucesso.

Tony parece mais jovem ao tentar revidar aos meus ataques e solta

gargalhadas contagiosas. Agora, ele não é o irmão mais velho de ninguém,


nem o homem que teve o coração partido. No momento, ele é apenas Tony,

meu primo de mentira.

Nossas risadas se misturam junto com os movimentos grotescos de


tentar afogar um ao outro. Ele é mais forte, mas não tenta me afogar de

verdade, caso contrário, mesmo com as minhas habilidades de artes maciais,

ele conseguiria me matar. Por outro lado, eu tento afogá-lo com todas as

minhas forças, mas dentro da água, eu não sou exatamente muito perigosa.

Ele segura meus pulsos, me impedindo de continuar. Aos poucos, a

nossa risada é cessada e Tony me olha com intensidade. A conexão que


surge no momento com o acelerar dos meus batimentos cardíacos é

perturbadora, mas é ele quem fica meio desconcertado e me solta.

— Fique pronta em uma hora.

— Tudo bem.

Tony volta a se aproximar e sem aviso prévio, tasca um beijo

molhado na minha bochecha. Meu coração fica doido e eu sem reação. Ele

nada até a borda e sai da piscina.

Fico ali, admirando aquele homem de quase trinta anos, usando

apenas sunga preta, ressaltando o bumbum redondo perfeito e as costas

largas de atleta cheia de músculo.

Ai. Meu. Deus.

Que homem gostoso. Até consigo imaginá-lo levando uma mulher à

loucura. Estou ferrada. Tomo ar antes de mergulhar novamente. Tento

esquecer a imagem do bumbum de Tony que fica gravada na minha cabeça,

no entanto, é impossível. Ele é delicioso demais para não ficar lembrando.


Adrian parece feliz ao me ver entrar no restaurante do clube com

Tony. Ele me beija o rosto com delicadeza, enquanto uma das mãos pousa de

maneira respeitosa no meu ombro nu. Sorrio para ele, contente por alguém

gostar de Madeline além de Elisha e os meninos.

Tony puxa a cadeira para mim, e eu me pergunto a quem ele está

tentando impressionar com as gentilezas... eu ou o seu pai. Talvez nenhum

dos dois. Olho-o de esguelha, ele é um ogro, mas também parece um

cavalheiro de vez em quando. E é tão quente que me faz sentir coisas

diferentes entre as pernas.

— Está gostando daqui? — Adrian quer saber e parece interessado

de verdade na minha resposta.

Reflito um pouco, procurando as palavras certas.

— Sim. É diferente de tudo que eu já vi ou vivi, mas é deslumbrante.

Ele assente.

— E amigos? Já conheceu muita gente?

O quê? Ele realmente está querendo conservar comigo? Conversar

sobre mim? Lanço uma olhadela para Tony, mas ele apenas sorri, como se
isso não fosse nada demais. Talvez não seja. Não é porque a esposa aparenta

ser um bicho de sete cabeças, que ele também seja.


— Na verdade, não. Mas conheci Isabel, a filha de Mary. Ela é uma

garota incrível. — Respiro fundo e antes que eu possa perder toda a minha

coragem, eu continuo. — Aliás, ela quer muito morar aqui e trabalhar no seu

clube — comento sugestiva e sorrio animada.

Será que ela vai me matar por ter contado isso a Adrian?

— Sério? Achei que ela gostasse de morar em Los Angeles com a

mamãe.

— E gosta — falo e não estou mentindo. Ela gosta mesmo. Porém,

aquela garota tem espírito livre e quer se aventurar por aqui. Se não der

certo, ela parte para outra. — Isabel é jovem e mudar é sempre bom.

Adrian sorri.

— Você também é jovem, Madeline. Gosta de aventuras como ela?

Franzo o cenho.

— Hãm? Eu... Ah... — Dou de ombros e sorrio sem jeito. Se eu gosto

de aventuras? Bem, se me passar por outra pessoa, enganar uma família

inteira pode ser considerado uma aventura? Porque se sim, eu estou vivendo

uma aventura e tanto.

— Pode pedir pra ela ir ao meu escritório amanhã? Adoraria ajudá-


la.
Fico tão animada com a boa vontade dele, que acabo me inclinando

para abraçá-lo, mas logo recuo com o meu ímpeto de intimidade. Ele ri e faz

carinho nas minhas costas.

— Seu pai teria orgulho da mulher que você está se tornando,

Madeline, porque eu tenho.

As palavras fazem os meus olhos arderem e fico feliz por sermos

interrompidos pelo garçom.

Odeio-me por estar engando pessoas como Adrian e Elisha. Uma


parte significativa de mim, gostaria de ser a Madeline que ambos precisam

para superar a saudade que Logan deixou e os dezenove anos longe dela.

Imagino como seria a vida dela se ainda estivesse viva e tivesse tido
a oportunidade de crescer com os Humphrey’s. Acho que não seria como

Freda ou Alice, porque Meera não permitiria, e isso de certa forma me deixa
aliviada. Seria uma garota excelente e teria um bom coração, assim, como o

pai tinha. Provavelmente, se apaixonaria por Jordan ou Tony, mas não ficaria
com nenhum dos dois, pois seria inteligente o suficiente para perceber que

eles acabariam partindo o seu coração.

— Querida? — Adrian chama minha atenção de uma maneira

carinhosa.
O tom dele me faz lembrar do meu pai, que sempre foi muito amável
comigo e me tratou como princesa nas suas condições. Isso me faz pensar

que Adrian deve ser um pai maravilhoso. Sem motivo algum, isso enche o
meu coração de alegria.

— Você me lembra o meu pai — digo antes que meu cérebro


processe as palavras.

Meu rosto ruboriza ao notar que os dois me olham com atenção.

— Você tinha apenas dois anos quando ele morreu — Adrian

comenta baixo, como se estivesse com medo das palavras me machucarem.

Levanto os olhos e o encaro.

— Mas isso não significa que eu não sonhe como ele deve ter sido

— sussurro com um nó na garganta.

Essa resposta, foi o que eu, Skyler, sinto em relação ao meu pai, e
não algo pensado para soar como se eu fosse Madeline. Convivi tempo

suficiente para saber como meu pai foi e ainda sonho quase sempre como ele
seria se ainda estivesse aqui.

E sem dúvidas, ele seria um pai maravilhoso como Adrian.


— Seu pai é incrível.

Depois do jantar, Madeline e eu resolvemos caminhar pela praia. Os


cabelos soltos balançam por causa do vento e ela segura as sapatilhas com

uma das mãos. Está linda, e eu faço um esforço enorme para não ficar
admirando-a o tempo todo.

— Não posso discordar, ele é um ótimo pai.

Ela abre um sorriso melancólico.

— Eu sinto falta... de ter um pai.

Engulo o nó que se forma na garganta.

— Sinto muito, Madie.

— Tudo bem.
Ficamos em silêncio por quase uma eternidade e não é ruim.

Caminhar com Madeline, ouvindo as ondas do mar quebrarem, sentir o

cheiro da maresia é muito bom para ser sincero.

É simples e bom.

Além do mais, ela é linda. É cativante ficar só admirando. Prestando


atenção em cada detalhe do rosto de Madeline. E hum... vê-la morder o lábio

inferior é excitante. E infelizmente, mexe com algo dentro das minhas calças.

Que droga, Tony. Você é a merda de um adolescente que não

consegue controlar os hormônios agora? Para de ficar duro perto da garota.

Não seja um idiota. Mais do que você já é. Pense em outra coisa que não

seja a sua prima gostosa ao lado. Pense em sei lá, peixes, caranguejos,

golfinhos...

Nada funciona. De repente, a imagem de Madeline usando biquini

invade minha cabeça como um tufão e eu sinto o meu pau latejar. Pensa em

outra coisa, cara, rápido antes que ela veja que você está de pau duro.

— Ai, droga. Me ajuda. Pega, Tony. Pega! — Madeline me empurra

na direção da sapatilha solitária que está sendo levada pela correnteza do

mar. De maneira ágil, entrego meu par de tênis a ela e corro em direção a

maldita sapatilha. É difícil pegá-la, molho minhas calças, mas tenho sucesso
na minha missão. E agradeço em silêncio por minha ereção ter ido embora.
Com a água na cintura, levanto a mão com a sapatilha encharcada.

Ela suspira aliviada, e isso me faz rir. Aproximo-me de Madeline e

entrego a sapatilha a ela.

— Obrigada.

— Não por isso.

Ela senta na areia branca e começa a rir. Acomodo-me ao lado dela e


fico a observando. Madeline é diferente das garotas que eu estou

acostumado. É intensa, respondona, às vezes, tímida e me faz entrar no mar

para pegar uma sapatilha. E o mais importante e que não posso esquecer nem

por um segundo, Madeline é família e não posso nunca me envolver com ela.

Nem ficar de pau duro por causa dela.

— Fiquei na dúvida se você buscaria ou não.

Enrugo a testa.

— Como não buscaria? Você me empurrou pra dentro do mar —

retruco.

Madeline aumenta risada e concorda com um aceno de cabeça.

— Dizem que dá má sorte perder um sapato na praia — comenta ao

torcer a sapatilha encharcada. — Minha vida toda é uma maré de má sorte,

não podia arriscar. Sou supersticiosa.

— Quem te disse isso, mulher?


Ela dá de ombros.

— Sonhar com sapatos significa morte, você sabia disso? —

pergunta de forma natural, como se o que acabou de dizer não fosse uma

tremenda idiotice. Fico boquiaberto, porque parece que está falando sério.

Muito sério.

Não é possível que ela acredite nesse tipo de baboseira.

— Você não pode estar falando sério.

— Estou sim. No ensino fundamental, tinha uma garota que sonhou

perdendo o sapato e morreu no dia seguinte. — Madeline me olha com a

expressão fechada e estou prestes a argumentar, quando ela cai na

gargalhada. — Tô brincando, tô brincando. Só não queria perder minha

sapatilha mesmo.

Reviro os olhos, mas acabo rindo com ela também. A sensação é tão
boa que faz meu coração ficar inquieto e confortável ao mesmo tempo. É

estranho como essa garota me faz sentir. Faz tempo que não me sinto tão à

vontade ao lado de uma mulher que não seja a minha avó e a Rosie, minha

agente.

Madeline respira fundo e direciona os olhos ao mar à nossa frente.

Fica em silêncio por alguns minutos, e eu faço o mesmo. O som das ondas
quebrando e vento fresco é tranquilizador. Nossa, eu amo esse lugar. É

perfeito. É romântico, sexy...

Hum, fazer sexo na praia é tão bom. De repente, minha cabeça é

preenchida de novo com a figura de Madeline de biquini. É isso, estou

doido, mas que se dane. A imagem na minha cabeça é impecável. Ela é

perfeita, tem peitos redondos e que apontam para mim, é pequena e tem uma

cintura fina, mas quadris avantajados na medida certa, coisa que eu acho

sexy pra cacete.

Meu pau começa a latejar outra vez.

— Sabe o que eu penso quando fico encarando o mar assim? — ela

pergunta, fazendo-me olhá-la e expulsando a imagem sexy da minha cabeça.

— Não. O quê?

— Tsunami.

Pisco devagar e franzo o cenho. Não consigo tirar os olhos dela, pois

estou absorvendo ainda o que ela acabou de dizer. Essa garota tem cada tipo

de ideia. É uma estraga prazeres.

— Você tem a cabeça muito fértil, garota.

Madeline sorri para mim.

Embora todos os seus assuntos sejam de longe bem esquisitos, é

incrível conversar com Madeline. Ela é uma garota muito interessante. E se


tem uma coisa que você nunca vai passar ao lado dela... é tédio.

É uma caixinha de surpresa.

Uma caixinha de surpresa muito gostosa, aliás.

Muito gostosa, de pele clara e lisinha, lábios carnudos, olhos grandes

e redondos que sempre que me olham parecem estar me julgando. Pernas e

seios perfeitos, bunda deliciosa.

— Por que está me olhando desse jeito? — ela quer saber. Ela aperta

os olhos grandes e fica me encarando.

— Eu? Nada — retruco e volto a atenção ao mar. — Nem estava

olhando você.

— Aham, sei — murmura, parecendo alguém que está tentando

controlar o riso.

Olho-a de soslaio por meio segundo, depois pisco com força e

balanço a cabeça, fazendo-a rir. Ela é uma garota de sorriso fácil e acabei de

perceber, que eu adoro isso nela. Mesmo que eu a irrite, posso fazê-la sorrir

meio segundo depois.

— Eu nunca vi um desses de perto — Madeline diz ao apontar para o

iate de luxo em alto mar. Não dá para ver quase nada daqui, apenas as luzes
acesas. — É incrível e lindo.

— Mas ainda está bem longe de você — zombo.


— Você entendeu o que eu quis dizer — resmunga.

— Já viu o iate da família?

— A família tem um iate? — pergunta surpresa. Suspira e bate as

pestanas rápido. — É claro que a família tem um iate. O que os Humphrey’s


não têm?

Dou de ombros.

— Um navio? — rebato.

Madeline revira os olhos.

— Deve ser incrível ter tudo, não ter preocupação com nada — fala
pensativa, olhando o iate em alto mar. — Não consigo imaginar uma vida

assim.

— Não é diferente — digo e ela me olha com um ponto de

interrogação estampado no rosto. — Ter dinheiro, é claro que facilita a vida,


não vou negar. Mas ainda temos problemas, preocupações, corações

partidos... — murmuro as últimas palavras, pensando na minha ex. — Ainda


é difícil também.

Ela suspira e anui, parecendo com alguém que entende perfeitamente

o que quero dizer.

— A vida é a vida não importa quanto dinheiro você tenha —

comenta e depois me dá um sorriso arrebatador. Porra. Acho que ela é a


mulher mais sexy e cativante que eu conheço, o que é uma droga. Por que ela
é minha prima? Seria tão fácil se ela fosse alguém que conheci por aí.

De repente, ela me olha e fica sustentando meu olhar pelo que parece
uma eternidade. Engole em seco e umedece o lábio inferior, dando-me água

na boca e vontade de beijá-la. Sem pensar direito, levo o indicador até os


lábios de Madeline e toco, roubando um gemido involuntário dela, que aos

meus ouvidos, soa sexy pra caralho.

Respiro fundo e afasto a mão, volto a encarar o oceano. Ela não diz
nada, acho que prefere agir como se eu não fosse um idiota que acabou de

tocá-la sem motivo algum.

— Acho melhor irmos pra casa, Tony. Tá ficando tarde.

— Claro — concordo.

Levanto da areia, pego os tênis e estendo a mão para Madeline, que

segura com força para ficar em pé. Trocamos um olhar profundo e só. Ela me
dá um pequeno sorriso e desvia a atenção de mim.

E vamos para casa sem dizer nenhuma palavra.

Talvez eu tenha acabado de estragar toda a nossa relação.

Sou um idiota mesmo.


O escritório de Adrian fica no primeiro andar do prédio que não

possui piscina na cobertura. A decoração ressalta a contemporaneidade e o


clima clean. É um lugar com visual muito sofisticado, mas que combina com

o clube praiano.

Isabel e eu nos identificamos na recepção e em menos de cinco

minutos, Adrian surge detrás de uma porta de metal com um sorriso

contagiante no rosto.

— Oi, Adrian.

Também sorrio e sem saber muito bem o que fazer, acabo beijando o

seu rosto.

— Oi, Sr. Humphrey — Isabel diz.


— Oi, meninas. — Ele ainda continua a sorrir. — Isabel pode entrar

na minha sala e me esperar? — pergunta e em meio segundo, ela já está

empurrando a porta de metal.

— Muito obrigada por isso, Adrian. Essa oportunidade é importante

pra ela.

Ele me olha com carinho.

— Não por isso, mas quero que aceite meu convite pra almoçar mais
tarde. Tudo bem? — Beija meu rosto. — Agora vá conhecer o clube. Ele é

seu também — fala ao se afastar de mim e entrar no escritório.

Com certeza, não é uma hora muito boa para conhecer o clube. Não

sei o que fazer nem para onde ir e estou sozinha. Não que eu ache que vá me

perder por aí, mas sim, porque não sei como me divertir como essa gente

rica.

— Acho que hoje é meu dia de sorte.

Ao ouvir aquela voz rouca, olho para o lado e me deparo com um

homem alto de cabelos ondulados e loiros, pele bronzeada e claro, sarado.

Ele tem um sorriso cativante e arrebatador nos lábios e não tira os olhos dos

meus.

— Olá, Wyatt.
— Ainda lembra o meu nome? Ou você tem uma memória muito boa

ou eu sou inesquecível — diz ao se aproximar de mim.

Reviro os olhos.

— Eu tenho uma memória muito boa.

Wyatt faz uma careta estranha, mas engraçada.

— Ai! Isso feriu o meu ego. — Ele ri, fazendo-me rir também. —
Quer beber algo comigo?

Dou de ombros e acabo aceitando. Ou eu vou com ele ou eu fico

sozinha nesse lugar imenso. E no momento, ir com ele não parece uma ideia
tão ruim.

— Eu deixo você me pagar um suco de laranja.

Embora Wyatt seja um homem muito bonito e com pose de garanhão,

até sexy, me sinto confortável ao lado dele. Por mais estranho que pareça.

Ele não aparenta fazer o tipo de homem que quer me devorar, e isso é bom.
Muito bom, na verdade.

— Pensei que esse andar fosse apenas para os funcionários — digo


quando caminhamos em direção ao elevador.

— E o que acha que eu sou?

Olha-me sorrindo e dá uma piscadinha.

— Você trabalha aqui? — pergunto ao entrarmos no elevador.


Ele não parece o tipo de homem que trabalha, parece mais aquele

tipo que gasta dinheiro em abundância, principalmente, com os prazeres

carnais.

— Não exatamente. — Balança a cabeça. — Meu pai era o melhor

amigo de Logan, e quando... — Sua frase morre. Quando o encaro, noto que

ele está tentando encontrar as palavras certas. — Enfim, agora meu pai é

sócio de Adrian e dono da metade do clube. — Dá de ombros.

— E no futuro você assumirá o posto do seu pai — concluo em voz

alta.

— Na verdade, meu pai quer que eu faça isso já. Ele cansou da vida

de negócios e já tem dinheiro suficiente para passar o resto da vida viajando

com a minha mãe.

— E o que você quer? — pergunto, o fazendo direcionar os olhos

caramelos para mim.

Ao saímos do prédio, sinto a calor do sol na pele e logo depois, uma

leve brisa refrescante toca meu corpo. Nós caminhamos em direção as várias

espreguiçadeiras ao redor da piscina, e antes de nos acomodarmos, ele

aborda um garçom que usa camisa azul, bermuda caqui, chinelo e boné com

o logotipo do clube para pedir suco de laranja e cerveja.


— Não sei o que quero, na verdade. Eu cresci obedecendo as regras

dos meus pais e os ouvindo ditar o meu futuro. Talvez tenha sido culpa minha

não me impor, mas parecia ser tão mais fácil alguém decidir as coisas por

mim — fala e abre um sorriso triste. Depois arregala os olhos e me encara.

— Garota, que tipo de bruxaria você pratica? Não faz cinco minutos que eu

te vi e já contei metade da minha vida. Isso é loucura — zomba, rindo de

leve.

Surpreendo-me ao ver o garçom servindo nossas bebidas. Foi tão

rápido. Sento em uma espreguiçadeira e para minha surpresa, ele senta bem

perto, mas de nenhuma forma é invasivo.

— Talvez nos demos bem — é o que digo.

— Já estamos — brinca. — Você é diferente das outras garotas.

Suspiro.

— Sou diferente de todo mundo aqui. Olhe pra mim, não tenho nada a

ver com esse lugar. Nem sei o que estou fazendo aqui... — Não sei o que

estou fazendo na minha vida, acrescento mentalmente.

— Eu também não sei o que estou fazendo aqui. Já devia ter ido

embora — ele fala, pensativo.

— Não quer assumir o lugar do seu pai, não é? — arrisco e ele ergue

as duas sobrancelhas. — Me desculpe, estou sendo intrometida.


— Não quero assumir o lugar do meu pai. Além de Tony, você é a

única pessoa que percebeu isso.

Não sei o motivo, mas as suas palavras me fazem sorrir.

— Por que não vai viver a sua vida? Sei lá, se descobrir, talvez?

Procurar um sonho?

— Me descobrir? Ah, Madeline. Eu acho que já fiz isso e minhas

descobertas não vão agradar em nada meus pais.

Fico sem entender o que ele quis dizer com isso, no entanto, resolvo

ficar quieta. Não está com cara de que Wyatt vai me contar algo sobre as

suas descobertas.

— Você é igual ao Tony, não é? — tento mudar de assunto, antes que


eu vire o centro das atenções e tenha que dizer algo mentiroso sobre mim.

Vincos desenham a testa de Wyatt e ele fica me observando sem

entender.

— Hãm?

— Você é o tipo de todas as mulheres — falo. E por sorte, uma

mulher bonita e sexy no bar está cobiçando Wyatt na maior cara de pau,

então meneio com a cabeça no rumo dela.

— Ela não faz o meu tipo.

Nós dois rimos.


— Quer nadar?

Direciono minha atenção à piscina e fito a água transparente por

alguns segundos. Ela é imensa, convidativa e calma. Há algumas pessoas

nadando, mas a maioria prefere tomar banho de sol.

— Por que não?

Entrego meu copo de suco a ele e me levanto para tirar o vestido.

Faz mais de duas semanas que estou em Miramar Beach e aprendi


que tenho que usar biquíni vinte e quatro horas por dia, já que o clima é de

férias e a mansão dos Humphrey’s fica na praia.

Afasto-me de Wyatt, respiro fundo e sorrio para ele antes de pegar


impulso e entrar na piscina com um salto de canhão, fazendo barulho e
mergulhando até o fundo.

— Uau. Gata, você sabe que um salto de canhão é muito sensual, né?
— ele comenta quando volto a superfície.

— Pare de conversar e entre logo — retruco e volto a nadar.

Em segundos, ele já está na borda da piscina, exibindo o corpo


sarado e vestindo apenas sunga. Como um brutamonte, ele pula, ficando ao

meu lado, depois me puxa para nadar junto com ele.

É estranho, mas eu gostei dele.

— Ei, Madeline, experimenta isso.


Wyatt começa a flutuar sobre a água.

Sorrio e tento fazer, o que não dá muto certo. Sempre fui péssima em

flutuar sobre a água. Na verdade, acho que nunca aprendi isso na aula de
natação. Ele vem me ajudar e pede que eu feche os olhos, respire fundo e

relaxe. Aos poucos sinto as suas mãos me soltarem e sozinha, eu flutuo.

— Abra os olhos — sussurra, e assim, eu faço.

Ver o céu azul com poucas nuvens e o pontinho claro insuportável de


encarar é algo hipnotizante. Mesmo que me sinta um ET aqui na maior parte

do tempo, acho que amaria morar por aqui de verdade.

— Você sempre faz isso?

— Sim, a minha vida inteira — responde, e o sinto flutuar sobre a

água ao meu lado.

— Você mora no clube?

— Na maioria dos dias.

— Madeline?! — Isabel me chama alto, surpreendendo-me. Isso faz

com que eu perca a concentração e afunde na piscina. — Ah, meu Deus! —


Eu a escuto exclamar.

Quando volto para a superfície os dois me encaram e logo

começamos a rir.
— Vem Isabel — eu a chamo depois que consegui conter minha
risada.

Ela cruza os braços na altura do peito.

— Não posso, sou quase funcionária do clube agora. Existem regras

pra funcionários e não nadar na piscina é uma delas.

— Quase? — é Wyatt quem pergunta. — Quando começa? — ele

quer saber.

Isabel sorri.

— Amanhã.

— Então, hoje você ainda não é funcionária. Logo, eu também serei


um de seus chefes e com o poder supremo que eu tenho, autorizo você a se

juntar a nós — ele fala com a voz séria, fazendo-nos rir.

— Tudo bem, mas se eu perder meu futuro emprego, você vai me

bancar pelo resto da sua vida — Isabel retruca, fitando Wyatt, depois tira o
vestido e entra como uma verdadeira sereia na piscina.
Analiso Isabel por alguns segundos, a blusa gola polo ressalta os

seios, e a saia curta, as longas pernas. Ela parece uma tenista, só que mil
vezes mais sexy. Essa garota é uma verdadeira obra de arte.

— Rabo de cavalo ou coque alto? — Isabel pergunta. Estou prestes a


responder, quando Tony é mais rápido e fala:

— Rabo de cavalo.

Giro os olhos.

Isabel sorri para ele através do espelho de corpo inteiro e começa a

preparar os cabelos cacheados e longos para o rabo de cavalo. Embora eu

tenha certeza que ela ficará perfeita, não consigo sorrir.

— Não gostou, Madie? — ele pergunta a mim.


Tony está deitado na minha cama e nos observa. Entrou junto com

Isabel às oito horas da manhã, porque é intrometido e irritante. Não deve ter

mais nada de interessante para fazer da vida e fica aqui, nos atazanando. Me

atazanando.

— Ninguém pediu a sua opinião, Tony — crispo.

Ele arregala os olhos e une as sobrancelhas.

— Por que está de mau humor hoje, Madeline? — ele quer saber. —
Vamos lá, não fique assim, emburrada. Huh? Que tal um sorriso? — me

provoca e eu decido ignorá-lo. É melhor assim. — Fale comigo e deixe de

ser chata — ele continua.

Mordo a língua para não falar besteira. A verdade é que o estou

odiando no momento. Talvez, esteja brava comigo também. Ai, Deus! Eu sou

muito idiota. Uma idiota de nível máximo.

Nunca fui do tipo que ouve conversa dos outros, mas ontem foi

inevitável. Nós estávamos na cozinha conversando quando ele recebeu uma

ligação. Chamada de vídeo, para ser específica. Do outro lado da tela surgiu

uma mulher com seios fartos, siliconados, cabelo oxigenado e de boca

grande. E lá vai o detalhe mais importante: ela estava nua. NUA! Falou

algumas coisas indecentes como “Quero chupar seu pau, Tony” e ele
encerrou a ligação rápido, mas a oxigenada insistiu.
Muitas vezes.

Até que Tony saiu de perto de mim para atendê-la e não voltou mais.

Aquilo conseguiu acabar comigo. Tudo bem, eu sei que ele tem namorada e

não tenho o direito de estar assim, mas droga. A namorada não podia ser feia

pelo menos? Eu me sentiria melhor. A mulher é linda e parece uma estrela de

Hollywood.

— Obrigada por deixar me vestir no seu quarto, Madie. Esse espelho

é maravilhoso, deixa todo mundo lindo.

Tento ignorar Tony, que tem os olhos em mim e sorrio para minha

amiga.

— Você está linda.

— Obrigada.

— Você vai fazer os tiozinhos da meia idade enfartarem — Tony

comenta e eu reviro os olhos outra vez.

Isabel olha de mim para ele e dá a desculpa de que precisa retocar a

maquiagem e vai ao banheiro, deixando-me sozinha com o irritante do Tony.

Irritante, gostoso, de abdômen trincado e coxas musculosas. O homem é uma

tentação ambulante.

Ainda o ignorando, resolvo amarrar as madeixas em um coque alto.


— Você tem uma tatuagem? Eu não tinha reparado nisso antes — fala

e vem até mim. Sem pedir permissão, toca a tatuagem na minha nuca,

enviando um arrepio por todo o meu corpo, que resolve se instalar bem entre
as minhas pernas. Dou um passo para longe dele, antes que minha cabeça

comece a viajar demais com pensamentos eróticos. — É parte de um quebra

cabeça. O que significa? — ele pergunta.

Se eu quiser manter a farsa que sou Madeline, não posso cogitar

dizer o significado da minha tattoo. Minha avó e eu fizemos essa tatuagem

ano retrasado. Ela tem a metade que encaixa no meu quebra-cabeça.

— Nada demais — respondo, grossa.

— Ainda está brava comigo?

Dá a volta em mim para encarar meus olhos, mas eu desvio. Não

quero nenhum tipo de conexão com ele.

— Não estou brava com você, Tony. Nem tenho motivo pra isso, na

verdade — falo e tento continuar o processo de amarrar os cabelos. —

Agora pode me dar licença e sair daqui?

— A Savannah... aquela mulher... eu não tenho nada com ela.

— Não perguntei — resmungo.

— Está com ciúmes de mim?

Forço uma risada.


— Por que eu estaria com ciúmes de você? Ficou louco de vez?

Ele anui com a cabeça, sério.

— Acho que sim.

Giro os olhos e bufo. Essa conversa já está me tirando do sério e

pelo visto, indo longe demais.

— Então tá bem, você é doido. Agora, cai fora.

— Vai continuar me tratando desse jeito? — quer saber.

— Não sei, vai continuar me impedindo de amarrar meu cabelo? Não

queira saber como eu fico irritada quando não consigo amarrar os cabelos.

Posso ser uma arma mortal.

Ele ri. Tony ri de mim.

— Você é a única mulher que eu conheço que fica bonita quando tá

irritada. — Respiro fundo, perdendo a paciência. Na verdade, estava sem

ela desde que vi Tony hoje. — Vai me mostrar seus golpes de taekwondo?

Confesso que estou louco pra ver.

Os olhos de Tony varrem meu corpo de baixo para cima e pousam

nos meus seios, que parecem apontar em direção a ele. Sinto o rosto ficar

vermelho com o calor dos olhos famintos dele em cima de mim. E o pior de

tudo, eu estou gostando do jeito que Tony está me observando.

Fiquei louca.
Tento me recompor e faço cara feia. Estou prestes a dizer umas

poucas e boas, quando Isabel sai do banheiro.

— Desculpa atrapalhar, mas eu... — fala sem jeito e sorri para nós

dois. — Preciso ir ou vou chegar atrasada no meu primeiro dia.

Sorrio para ela e volto a ignorar Tony.

— Tudo bem, vamos.

Nós três saímos do quarto juntos.

Wyatt vem nos buscar para o primeiro dia de trabalho de Isabel. E

até na minha cabeça isso soa estranho, mas ele e Isabel são amigos de longa

data. Na verdade, se conhecem desde que são crianças.

— Não sabia que o quarto dos empregados tinha se mudado para o

terceiro andar — Alice fala de maneira áspera quando abre a porta do

quarto.

Ela ainda usa pijama sexy, tem os cabelos revoltos, mas continua

bonita e claro, irritante.

— Vai com calma, Alice — Tony diz, mas a megera não dá bola.

Noto o corpo de Isabel ficar tenso.

— Isabel é minha amiga e eu trago quem eu quiser pra porra do

terceiro andar — resmungo. Estou de saco cheio de todo mundo hoje. Ai que

garota chata. Se ficar falando besteira, vou mostrar o que aprendi nas aulas
de taekwondo. Acho que Alice tem esse efeito sobre mim. Eu perco o

controle perto dela.

Alice revira os olhos.

— Não ache que só porque é amiga dessa aí... — Alice fala com
Isabel e aponta o queixo para mim com repugnância. — Tem o direito de

desfrutar alguma coisa nessa casa. Se coloque no seu lugar, Isabel. Você é

filha da empregada e nós somos os superiores.

— Alice, quantos anos você tem? Pare de agir como uma criança
mimada e irritante — Tony fala, caminhando rumo a prima.

— Você virou advogado delas agora? Não se meta aonde não foi

chamado, primo.

— Cala a boca, Alice. Deixa as garotas em paz — ele retruca. E não

sei o motivo de ele estar comprando briga com ela. O que deu nesse homem?
Pelo amor de Deus.

— Parem de brigar — digo, mas os dois resolvem me ignorar.

— Drama familiar logo de manhã, eu amo — Betsy fala ao sair do

quarto, tem os olhos vidrados na irmã e no primo, parece com alguém que
está achando um máximo a situação. — Ah, bonjour, prima — fala para mim

e eu forço um sorriso sem graça.


— Por que está defendendo as duas? Uau, não acredito. Você tá
interessado em entrar nas calças da Madeline? — Alice pergunta em um tom

zombeteiro e depois olha para mim. — Você tá dando pra ele, não é? Ora,
ora. Essa cara de puta nunca me enganou. Com certeza, ficou deslumbrada

pelo fato de ter uma celebridade te dando mais atenção do que merece. Uma
coisa tão típica de gente da sua laia.

Eu tenho limites e Alice acabou de ultrapassá-los. Vou mostrar a essa


garota que ela não deve ser tão idiota e esnobe assim. Dou um passo para

frente e estou pronta para me defender com unhas e dentes, quando Elisha sai
do próprio quarto e nos encara com o cenho franzido.

— O que está acontecendo aqui? — pergunta.

— O que está acontecendo é que mais uma vez, Isabel não sabe onde

é seu lugar e está ultrapassando os limites — Alice diz antes que eu tenha
chance de responder.

— E que limites são esses, Alice? — pergunto e ela fica calada. Por
sua vez, Elisha olha de Alice para mim e fica esperando que eu explique. —

Isabel é minha amiga, vovó. E se não posso trazê-la até o meu quarto, só
porque ela é filha de Mary... então, eu acho que mamãe sempre teve razão

durante esses dezenove anos.


Vovó balança a cabeça, se aproxima de mim e antes de abrir um
sorriso fraco, segura minhas mãos com delicadeza.

— Não tem problema, querida. Você pode trazer Isabel aqui quando

quiser e ela é da famí...

— Não acredito! Vovó, ela transou com Jordan no dia do meu


aniversário, no meu quarto. Por favor, não diga que vai aceitar isso. Ela é

uma vadia suja — Alice interrompe Elisha.

— Qual é, Alice? Você já não transa com Jordan também? E eu

acredito que vocês fazem coisas bem piores do que transar no seu quarto —
não consigo conter minha língua.

O rosto de Alice perde a cor e ela fica sem jeito.

— Quem te disse isso?

Vovó se vira devagar e encara Alice, como se estivesse tentando


assimilar o que acabou de ouvir. Ai, meu Deus, o que eu fiz? Sinto que

acabei de começar a terceira guerra mundial.

— Eu posso explicar... — Alice diz com a voz embargada.

— Vocês ainda continuam fazendo isso? — Vovó pergunta a ela, mas

não quer respostas. — O que conversamos sobre isso, Alice? Você e Jordan
foram criados juntos. São quase irmãos. Eu já falei que não vou aceitar esse

tipo de indecência na minha família.


— Vovó, eu posso explicar.

— Não quero ouvir nada, Alice. Você mentiu pra mim. De novo. É a
única coisa que você faz.

— Me desculpe, vovó.

Alice abaixa a cabeça e morde o lábio inferior.

— Vamos conversar no escritório. Quero ver Jordan também.

Dito isso, vovó dá as costas e desce as escadas sem olhar para trás.
Alice a segue, mas antes para na minha frente e me dá uma bofetada no rosto.

— Você me paga, vaca — xinga e vai embora.

Aliso minha bochecha e respiro fundo. Que família é essa, meu

Deus? Onde é que eu fui me meter?

Ao entrarmos no clube, Isabel se afasta quase correndo, caso


contrário se atrasará para o primeiro dia de trabalho. Enquanto isso, Wyatt e

eu caminhamos em direção a uma das mesas que fica perto do open bar da
piscina.
— O que aconteceu com vocês?

Dou de ombros.

— Não aconteceu nada.

— Qual é, Madeline? Vocês duas não falaram nenhuma palavra o


caminho inteiro.

Odeio Wyatt por ele sentir intimidade o suficiente para me perguntar

o que aconteceu, e eu o odeio mais ainda, por eu sentir uma necessidade


incontrolável de desabafar com ele. Acho que nessa altura do campeonato,

eu desabafaria com qualquer um.

— É que os Humphrey’s são demais pra minha cabeça. Não consigo

me sentir ou fazer parte deles. É um mundo diferente do meu.

— Família fode com a nossa cabeça mesmo, mas se não fosse assim,
que graça teria? É nas famílias que surgem as melhores histórias — tenta

brincar, e eu acabo sorrindo para ele.

— Talvez. — Suspiro. — Wyatt? Você sabia sobre Jordan e Alice, e


Jordan e Tony? — pergunto meio cética. — É drama demais.

— Todo mundo em Miramar Beach sabe.

— A vovó ficou muito estranha quando eu falei sobre Alice e Jordan.


Achei que ela fosse deserdar a garota, sei lá. Nunca a vi assim.

Ele explode em uma risada.


— Meu Deus! Não acredito. Você disse sobre eles a ela? Garota,
você é a melhor. Com certeza, agitou aquela família. Parabéns, eu amo isso.

— Continua rindo como se eu tivesse contado uma piada muito engraçada.

— Ai, droga. Sinto que fiz algo de muito errado. O que eu fiz? Alice

não vai me deixar entrar naquela casa de novo, não é? Jesus, vou ficar aqui
no clube a partir de hoje. Vai ser melhor pra mim.

— Você não fez nada de errado, mas a sua avó é muito rigorosa em

alguns aspectos, principalmente, quando o assunto é família. Ela trata família


como religião, se é que me entende.

— Não, eu não entendo. O que isso quer dizer?

Wyatt prensa os lábios e assente.

— Ela não aprova que os seus netos se “relacionem”. — Ele faz


aspas com os dedos. — Vocês são do mesmo sangue, alguns foram criados

juntos e para Elisha, é quase como se todos fossem irmãos. Por que acha que
sua mãe não se dava bem com ela? Não me diga que Meera nunca contou. —

Eu balanço a cabeça em reposta. — Gata, Meera é filha da falecida irmã de


Elisha e ela a criou como se fosse a própria filha. Imagina só, foi uma
decepção enorme quando ela descobriu que o amado filho estava fodendo a

sobrinha que era como filha também.

— O quê? — é só o que consigo dizer.


Wyatt olha para mim e parece arrependido das palavras.

— Me desculpe, não queria ofender. São os seus pais. Sinto muito.

Não consigo esconder a minha surpresa. Tenho que me lembrar de


respirar, já que o ar dos meus pulmões me faltou por alguns segundos. Pisco

várias vezes, balanço a cabeça incrédula, a fim de ouvir um “estou


brincando” dele, mas Wyatt apenas me observa.

— Pela sua cara, eu acho que você não sabia.

— Não, eu não sabia. E ninguém me contou.

— Eu contei agora — retruca em um tom divertido.

Olho para ele e embora esteja com vontade de esbofeteá-lo, não

consigo conter a risada que surge dentro da minha garganta.

— É, obrigada — agradeço de modo irônico e ele também ri.

— O que Meera disse a você durante todos esses anos? — pergunta


irrompendo nossa risada.

Franzo o cenho, tentando pensar em uma resposta certeira e que o

satisfaça, porque a última coisa que quero é responder esse tipo de coisa.

— Seu pai era rico e tem uma família complicada.

— Bem, isso é verdade também. Bem resumida, mas ainda verdade.

Sorrio para Wyatt e me pergunto o motivo por nós parecermos velhos

amigos e por eu gostar tanto dessa sensação.


Seguro a raquete sem ter muita certeza do que tenho que fazer. Eu já

havia assistido a alguns jogos de tênis, mas isso não significa que eu saiba
jogar. E acho pouco provável que eu aprenda a praticar o esporte com cinco

minutos de explicação técnica de Wyatt.

— Você ainda está falando na minha língua? Porque não estou

entendendo nada.

Ele bufa e gira os olhos.

— Apenas tente aparar a bola com a raquete, ok? — diz ao se afastar


de mim.

— Falando assim... parece fácil.

— E é. Vamos, quando pegar o jeito vai ser moleza.


Nós estamos em uma das quadras de tênis do clube, não entendo

muito de metros quadrados, mas sei que é grande. Ela fica em um lugar mais

reservado e é ao ar livre. Está ventando bastante, mas mesmo assim, está um

calor de matar.

Wyatt me encara do outro lado da quadra e abre um sorriso

encorajador, no entanto, o gesto não surte nenhum tipo de reação em mim.

— Preparada?

— Não.

Quando menos espero, ele joga a bolinha para o alto e antes que ela
possa cair no chão, Wyatt a acerta com a raquete na minha direção, mas não

me mexo, apenas observo a bolinha cair perto dos meus pés.

— É emocionante jogar tênis com você.

Não consigo impedir o meu instinto e rio.

— Eu sinto muito — digo depois de recuperar o fôlego. — Vou


tentar. — Arrisco um sorriso gentil na sua direção e me abaixo para pegar a

bolinha.

— Amém — Wyatt fala ao se posicionar.

Respiro fundo, fito a bolinha amarela na mão por um longo segundo e

quando me sinto preparada, jogo-a para o alto, mas antes que eu possa fazer
igual ao Wyatt e arremessá-la com a raquete, ela cai no chão.
É a vez de Wyatt rir da minha tentativa fracassada de jogar tênis.

— Eu não sou boa com esportes — concluo. — Na verdade, eu sou

mais das artes maciais.

— Artes maciais? — Wyatt se aproxima de mim, envolvendo um

braço no meu ombro ao mesmo tempo em que me puxa para sairmos da

quadra de tênis.

— Sou faixa preta em taekwondo.

Ele fica boquiaberto.

— Não brinca. Você? Desse tamanho e é faixa preta em taekwondo?

— Tô falando sério. Posso te derrubar agora se eu quiser. Você é

alvo fácil.

Afasto-me dele e me preparo para dar um chute lateral, quando Wyatt

solta uma risada e levanta a mão livre em rendição.

— Não precisa me mostrar, eu acredito. Eu acredito. Só não quero

apanhar de uma garota tão pequena.

Rio também.

De volta à piscina, nós nos acomodamos na mesma espreguiçadeira.

Não precisamos chamar nenhum garçom, porque logo Isabel, a nova

garçonete do clube, vem nos atender.


— Uau. Você vem sempre por aqui, docinho? — eu provoco,

roubando um sorriso contagiante da minha amiga.

— Bels, você sabia que a Madie não sabe nem segurar uma raquete

direito? — Wyatt pergunta.

— Não sabe jogar tênis, amiga?

— Me desculpem se eu não sei jogar tênis.

— Prometo que na minha folga, ensino você. — Sorri, e antes que eu

possa dizer algo, vejo-a indo embora.

— Você torna algo normal em humilhante, Wyatt.

Ele sorri como um garotinho mimado.

— O que eu posso fazer? Essa é uma das minhas qualidades.

Isabel vem em nossa direção segurando uma bandeja, com educação

me entrega um suco de laranja e uma Corona para Wyatt.

— Não me sinto bem sendo servida por você. Isso me faz parecer a

Alice.

— Pare com essa bobagem, Madie. Você nunca será como Alice,

porque você é muito melhor. E mesmo assim, esse é o meu trabalho. — Pisca

para mim e volta para o open bar.

— Você é uma ótima amiga, sabe disso, não é? — ele diz.

— Você também é e não espere que eu diga isso novamente.


Wyatt sorri, fazendo meu coração se encher de uma energia boa e

aconchegante. Não é como se eu estivesse me apaixonando por ele. Bem

longe disso. É estranho e diferente, mas gosto de estar com ele.

Meu celular toca, evacuando meus pensamentos.

— É Mee... minha mãe — digo com um nó na garganta ao pegar o


aparelho dentro do bolso do meu short jeans.

— Eu vou nadar um pouco pra você ficar mais à vontade.

— Obrigada — murmuro, mas ele já está longe de mim e não ouve.

Encaro o nome de Meera saltitando na tela e respiro fundo antes de

atender.

— Oi.

— Skyler? — É minha avó e ouvir a voz dela é como levar uma

flechada certeira no coração. Dói e me faz querer chorar. — Você está bem,

querida?

Fecho os olhos, a fim de impedir as lágrimas que ameaçam cair.

— Sim, vovó. Como a senhora está?

— Com saudades de você, querida. Como está o seu trabalho? —

pergunta e eu sinto minha garganta amargar.

Quando aceitei embarcar na loucura de Meera, tive que mentir para

minha avó. É um trabalho de verão em outra cidade, mas eles pagam muito
bem... foi o que falei para ela antes de sair de casa.

— Bem.

— Conheceu gente nova?

— Uhum — murmuro.

— Conheceu algum rapaz, Sky?

— Eu não vim aqui pra isso, vovó.

Ela ri do outro lado da linha.

— Está na hora de encontrar alguém, querida. Você passou tanto

tempo cuidado de mim. Quero que viva a sua vida também. Você precisa

disso. As garotas na sua idade estão curtindo a vida, estudando, namorando.

Eu quero que você faça isso, que tenha uma vida de verdade.

— Eu sei e eu tenho uma vida de verdade. — Não consigo segurar

minhas lágrimas. — Eu te amo, vovó — sussurro.

— Eu também te amo — fala e depois tosse, deixando meu coração

pequenininho. — Meera é uma pessoa maravilhosa, cuida muito bem de

mim. Não se preocupe comigo, tá certo?

— Eu sinto sua falta. Todos os dias.

— Também sinto sua falta — fala e tosse outra vez. É nítido que ela

está ficando cada vez pior. — Fique bem aí, certo? Se cuide e namore um
pouco também. — Mesmo em meio as minhas lágrimas, eu sorrio ao encerrar

a ligação com ela.

Aos poucos, o choro irrompe de dentro para fora. Enterro o rosto nas

mãos e permito que meus sentimentos transbordem.

— Ai, meu Deus. O que aconteceu? — Wyatt pergunta e o sinto

sentar ao meu lado. Ele envolve os braços em torno de mim, está com o

corpo molhado, mas eu não me importo. — O que a sua mãe disse pra deixar

você desse jeito?

Não consigo formular algo para responder e nem quero falar, na

verdade. Aconchego-me nos seus braços e respiro fundo, a fim de cessar o


choro, mas isso parece quase impossível.

— Você está bem? — Isabel pergunta preocupada e eu a vejo se

ajoelhar à minha frente.

— Eu vou ficar bem — reúno forças e consigo falar.

Sinto vontade de dizer a eles quem eu sou de verdade e o que estou

fazendo, o que seria loucura, já que eu estaria quase assinando minha


sentença de morte. Mas hoje, eu só queria ser eu mesma e que eles fossem

meus amigos de verdade.

— Não sei o que Meera disse, mas eu sei que ela está chateada,
porque durante dezenove anos, foram apenas vocês duas e de repente, você
está aqui, conhecendo a família. Não se preocupe, ela ainda ama você. As
mães sempre amam os filhos — Wyatt tenta me consolar, o que acaba me

roubando meio sorriso.

— Ele tem razão, amiga. E você pode contar com a gente. Sempre.

— Bels sorri e se levanta um pouco para me abraçar.

— Obrigada. Obrigada aos dois.

— Não precisa agradecer — Wyatt fala baixinho, passando uma das


mãos na minha cabeça.

Mesmo me sentindo a pior pessoa do mundo e não tendo direito


nenhum de ser consolada por pessoas tão incríveis, eu aceito o carinho dos

meus amigos.
Eu mal coloco os pés para dentro da mansão quando dou de cara com

Tony na sala. Resolvo ignorá-lo, estou sem vontade de conversar ou discutir,


não sei qual dos dois.

— Você está bem? — Segura meu braço e me impede de ir até as


escadas. — Wyatt disse que você estava chorando hoje no clube.

Viro meu rosto para encarar Tony. Ele está tão lindo com as

sobrancelhas franzidas e expressão cheia de preocupação. Consigo ver o


desenho do abdômen por debaixo da blusa de algodão cor salmão que está

usando, e por um segundo, imagino o corpo dele por cima do meu. Os braços

bem torneados estão bem próximo de mim, implorando para serem tocados.
Por que ele tem de ser tão lindo e sexy?

— Wyatt é um fofoqueiro.
— Também — concorda, sorrindo. — Ele estava preocupado com

você, Madeline. Aconteceu alguma coisa? — Coloca a outra mão no meu

braço e me prende. Sentir as mãos dele em mim, faz o meu coração disparar

e meu corpo inteiro arrepiar.

Sou idiota o suficiente para querer que ele me toque. Imaginar Tony

passeando com as mãos quentes e grandes pelo meu corpo, me faz sentir

tonta e excitada na mesma medida.

— Não aconteceu nada. Estou ótima.

— Você é uma péssima mentirosa.

As palavras de Tony ferem o meu coração. Não é culpa dele, é culpa

minha. Eu sou uma péssima mentirosa? E o que venho fazendo desde que

coloquei os pés nessa cidade? Só mentiras e mais mentiras. Eu não sou uma

péssima mentirosa, na verdade, sou uma ótima mentirosa.

Uma mentirosa de carteirinha.

— Por que está chorando? — pergunta ao levar as mãos até o meu

rosto e limpar as lágrimas intrometidas. Nos encaramos de maneira profunda

e eu sinto que meu coração vai sair pela boca. — Brigou com Meera?

— Não quero falar sobre isso.

Tudo o que eu mais quero na vida é poder falar sobre isso. Poder

contar a alguém que sou uma ferrada, que minha avó está doente e que não
tenho mais dinheiro para bancar as contas médicas. Que vendi meu piano, a

moto do meu pai, as joias da minha falecida mãe para ajudar a minha avó,

arranjei vários empregos de meio período, e que mesmo assim, não foi

suficiente. E por isso, eu estou aqui, fazendo essa loucura, me passando por

uma garota que também já se foi, para conseguir arrancar dinheiro dessa

família podre rica.

— Tudo bem, mas tente não ficar triste.

Concordo com a cabeça mesmo achando que é impossível. Tony me

solta, e eu sinto falta do calor das suas mãos contra a minha pele.

— O que você costuma fazer quando está triste? — ele quer saber.

Sinto minhas bochechas ruborizarem. Depois que minha avó piorou,

eu não tive tempo para ficar triste, pois ou estava cuidando dela ou

trabalhando em alguma loja de conveniência e em bares caindo aos pedaços.

Mas quando minha vida ainda era normal e eu tinha o coração partido por

um garoto idiota, eu gostava de comer pizza e assistir aos filmes

românticos... alguns eram protagonizados por Tony.

— Comer.

Ele prensa os lábios e assente.

— Posso cozinhar alguma coisa pra você. Vovó deu a noite de folga

aos empregados e Mary.


— Você sabe cozinhar? — pergunto com as sobrancelhas erguidas.

— Parece muito surpresa, isso até me ofende.

Tony entrelaça os dedos nos meus e me leva até a cozinha. Acende as

luzes e me faz sentar de frente para ilha. Pega avental de dentro de um dos

armários e depois sorri para mim. Está parecendo um chef de cozinha sexy.

Que pecado.

— O que você gostaria de comer?

— Pizza — falo antes que meu cérebro processe as palavras. Tony

parece decepcionado com a reposta.

— Pode escolher algo que eu saiba fazer, por favor?

— O que você sabe fazer?

— Frutos do mar.

Nego com a cabeça.

— Sou alérgica a frutos do mar.

Tony fica boquiaberto.

— Não acredito. É uma das minhas comidas favoritas.

— Somos incompatíveis — retruco e ele ergue uma das

sobrancelhas, como se tivesse sido provocado. — O que foi?


— Me diga alguma coisa que goste de comer. Tenho certeza que

nossos gostos são compatíveis.

— Hum... comida indiana — arrisco.

Tony faz cara feia e em seguida, balbucia:

— Detesto. Outra.

— Yakisoba.

Ele balança a cabeça de um lado para o outro ao me ouvir.

— Agridoce demais pra mim.

Mordo o lábio inferior e penso por alguns instantes.

— Sorvete...? — falo como se estivesse testando a resposta.

O rosto de Tony se ilumina como fogos de artifício e os lábios

bonitos se repuxam em um sorriso doce e meio convencido, o que faz vibrar

direto no meio entre as minhas pernas.

Esse homem... é um molhador de calcinhas nato.

E com certeza, vai acabar comigo.

— Eu amo sorvete. Viu? Somos compatíveis. — Aumenta ainda mais

o sorriso grande para mim, e eu acabo rindo para ele. — Então, o que você

quer comer hoje?


Tony faz macarrão com queijo. Não é um prato difícil, mas era o

prato que eu e minha mãe cozinhávamos juntas. Jantamos na varanda da sala,

perto do piano. Depois de comer mais do que o normal, já me sinto muito

melhor.

Um prato de massa gorduroso pode salvar vidas.

— Mais vinho?

— Não, obrigada. Uma taça de vinho é suficiente, já estou vendo

estrelas.

Ele ri de mim. E eu não consigo desviar os olhos dele. Tony rindo é


tão lindo e cativante. Preferia quando eu só o achava um riquinho babaca de

corpo definido. Agora, eu até acho esse homem cativante.

A virgindade deve estar afetando a minha cabeça. Talvez esteja na


hora de resolver o meu problema e transar logo de uma vez e parar de achar

Tony atraente.
— Precisamos treinar sua resistência com álcool. Não pode ficar

bêbada com quatro goles de vinho.

Suspiro.

— Ah, tenho que treinar tantas coisas — comento, pensando em sexo.


Estou perdida.

— Como o que por exemplo? — Tony quer saber. Na verdade, ele


parece muito curioso. E eu? Bem, estou meio alta e com os lábios dormentes.

Talvez, a língua esteja solta também.

— Sei lá. — Dou de ombros. — Flerte, ser sexy, beijar na boca,


fazer sexo... — falo e rio.

Tony bebe um gole de vinho sem desviar os olhos de mim.

— Você está bêbada — conclui.

— Talvez um pouco.

— Você nunca namorou?

Nego em reposta. Nunca tive tempo. Perdi meus pais com dez anos

de idade e minha avó adoeceu alguns anos depois. A minha prioridade era a
saúde dela e não morrer de fome. Já gostei de um garoto, mas ele partiu meu

coração. E pronto, minha vida se resume a isso.

— Sou uma aberração, não é? Pode falar. Eu me sinto um ET aqui.


Não tenho o corpo de modelo como as outras meninas, não sou muito
bronzeada e a minha bunda é grande.

Tony ri de leve e nega com a cabeça.

— Sua bunda é perfeita. Deliciosa pra falar a verdade.

Ele pisca para mim, fazendo o meu rosto formigar.

— Obrigada... eu acho — agradeço e ergo a taça de vinho para ele,

que continua com um sorriso sensual estampado no rosto.

— Madie, você se surpreenderia com o número de mulheres virgens

que eu conheço.

Sinto meu rosto ruborizar. Encho a minha taça com mais vinho,
porque sinto que que o álcool começou a perder o efeito. Ou não.

— Quem te disse que eu sou virgem? — Ai meu Deus. Acabei de

iniciar uma conversa sobre virgindade com Tony? O pior... sobre a minha
virgindade? Estou ferrada. E curiosa para saber aonde o assunto vai nos

levar.

— Você disse que nunca namorou.

— Isso não significa que eu não tenha transado — retruco. — Talvez

eu seja uma safada — emendo e me arrependo um segundo depois.

Um brilho devasso dança pelos olhos azuis de Tony.

— Ah, então você já transou? — ele pergunta. No rosto tem a

silhueta de um sorriso maroto. Tony parece estar se divertindo às minhas


custas. — Que safada. Muitas vezes? — quer saber.

— Muitas vezes — falo rápido demais para ser verdade. Solto um


suspiro longo e relaxo os ombros. — Nunca tive sorte com o sexo oposto —

é o que digo.

— Não tem problema nenhum em ser virgem — diz, bebendo o vinho


e me encarando como um leão faminto. — Eu acho interessante.

Bufo.

— O que tem de interessante nisso? Não tem graça, na verdade.

— Você já se tocou, Madie? — pergunta sem vergonha nenhuma. E


eu me engasgo com o gole de vinho. Meu coração acelera e eu sinto o rosto
queimar de vergonha. Deus do céu, por que ele perguntou isso? — Sim ou

não? — insiste e eu fico quieta.

É claro que já me toquei, não sou uma puritana e mesmo virgem,


tenho desejos. Mas eu não vou falar isso para ele nem hoje e nem nunca. É

um tipo de assunto que eu prefiro guardar apenas para mim.

Levanto-me da cadeira.

— Esse papo já está ficando estranho. Muito obrigada pelo jantar e

boa noite.

Dou as costas para Tony e caminho no rumo das escadas.


— Você disse que me ajudaria com a louça — fala, fazendo-me

paralisar. — Mudou de ideia?

— Não pode fazer isso sozinho? — indago ao me virar para encará-

lo.

— Eu até posso, mas prefiro fazer com você.

Reviro os olhos e mudo meu trajeto. Vou em direção à cozinha para


ajudá-lo com a louça, torcendo para ele não falar mais de sexo e torcendo

para ele continuar falando de sexo.

Ah, Jesus Cristo esse homem vai acabar comigo.

Nunca na minha vida inteira, pensei que um dia, eu fosse lavar a


louça do jantar com um astro de Hollywood ao meu lado.

Até parece que estou vivendo num filme de comédia romântica.

Tony está concentrado na louça e eu não consigo parar de olhá-lo. É


tentação demais para uma garota comum. O maxilar marcado, a barba por

fazer, os cachos sutis que caem sobre o rosto másculo.


Como alguém nasce uma vez e tão bonito desse jeito?

É um mundo injusto.

— O que você tá olhando, Madeline safada que transou muitas

vezes? — pergunta, e devagar, gira o rosto para mim. Um sorriso lascivo


atravessando os lábios convidativos.

Apesar de tentar segurar a risada, não consigo.

— Nada.

Dou um cutucão com o cotovelo na sua costela e ele joga sabão em

mim, me arrancando outra risada. Pego a torneira flexível e miro contra o


peito de Tony, molhando o abdômen trincado.

Não devia ter feito isso, porque agora parece que o homem acabou

de sair de um comercial sexy de tevê. A blusa está grudada contra o


abdômen, marcando os gominhos, que dão água na boca.

Tony faz um estalo com a língua e toma a torneira da minha mão,

apontando para mim e molhando o meu vestido.

— Ei! — rosno.

— Você começou — retruca e ri, depois, volta com a atenção na

louça. Com as costas das mãos, limpo o sabão da minha bochecha, mas a
única coisa que faço é espalhar mais espuma pelo meu rosto. — Espere —

Tony pede.
Ele desliga a torneira e depois, pega um pano seco e ergue uma das
mãos até o meu rosto e limpa. Não consigo impedir o coração de martelar

forte dentro do peito e nem de desviar os olhos de Tony.

Nunca estive perto de um homem como estou perto dele agora. Muito

menos, de um homem como o Tony. E tê-lo me tocando, mesmo que seja para
limpar a espuma do meu rosto, faz as borboletas no meu estômago se

agitarem.

— Pronto — ele murmura.

— Obrigada. — Dou meio sorriso. — Obrigada também pelo jantar,


eu me sinto melhor — me ouço falando.

Vejo o peito de Tony subir e descer com a respiração funda.

— Sempre que precisar se sentir melhor, eu cozinho macarrão com


queijo pra você — comenta, apertando o meu coração.

Depois que o verão acabar, nunca mais vou vê-lo. E cozinhar para

mim, é algo que Tony nunca fará de novo. Por que isso me deixa com uma
sensação tão ruim? Não é possível que eu já esteja me apegando a ele.

Não é possível.

— Ah, certo. Você deve dizer isso pra todas as garotas — resmungo,
voltando a ligar a torneira para enxaguar os pratos.

— Não — é a resposta que me dá.


Olho para Tony de soslaio e engulo em seco ao perceber que ele está
me observando com tanta intensidade, que parece ser capaz de ler os meus

pensamentos mais secretos.

— Não me confunda, é demais pra minha cabeça — balbucio. — E


não me olhe assim, por favor — quase imploro. Talvez, eu esteja implorando

de verdade.

— Por que não?

— Não podemos — é só o que eu digo, fazendo-o assentir e entender

no mesmo segundo.

Não podemos, porque Elisha não gosta que os seus netos se


relacionem dessa forma.

Não podemos, porque eu não sou Madeline e mentir para Tony me


faz sentir a pior pessoa do mundo.

Não podemos, porque eu sei que quando abaixar a guarda, vou me


apaixonar e sair com o coração partido.

Não podemos... por tantos motivos.

Terminamos de lavar o resto da louça em silêncio e o astro ao meu


lado parece remoer algo internamente. Apesar de saber que não podemos ter

esse tipo de intimidade por “n” motivos, antes de sair da cozinha, eu seguro
o seu pulso e fico na ponta dos pés para depositar um beijo na bochecha de
Tony.

— Obrigada por hoje — murmuro, deixando o homem sem palavras.


Giro nos calcanhares e saio da cozinha, sentindo o coração tão pequeno, que

me faz sentir falta de ar.

O que eu estou fazendo com a minha vida?


Eu não sou muito fã de casamentos. Sempre acontece algo que faz

todo mundo pirar. Não seria diferente no dia “especial” da minha irmã. A
pianista contratada não virá, pois está com intoxicação alimentar. E a noiva?

Enlouqueceu, é óbvio. Desde a notícia recebida em um telefonema, ela não

para de andar para lá e para cá. Vai fazer um buraco no chão a qualquer
momento.

— Quem vai tocar na minha entrada? Meu casamento está arruinado.

Meu Deus, o que eu fiz pra merecer isso? — pergunta olhando para o teto,
mas ainda não parou de andar pra lá e pra cá, estou ficando tonto.

— Eu falei pra fechar com aquela banda — o futuro marido de Freda


fala, e a julgar pelo olhar que ela lança na direção dele, eu diria que era
melhor ter ficado calado. Ela para de caminhar e fica analisando o noivo. —

Vai dar tudo certo, meu bem — acrescenta com um sorriso.

Meu cunhado é gente boa. Para ser sincero, eu não sei como ele

aguenta a minha irmã. Deve ser amor mesmo, não tem explicação. Freda vive

dando chilique e depois de anos, o sujeito ainda não desistiu dela. Ou ele é o

tipo de homem que gosta de ser dominado, o que seria estranho, o homem

tem quase dois metros, ou ele é louco. Talvez seja apenas apaixonado pela
minha irmã. É difícil de acreditar, mas acho que é isso.

Freda começa a andar de um lado para o outro de novo, me deixando

zonzo e sem paciência. Os cabelos estão presos em uma trança e ela tem uma
tiara de diamantes em cima da cabeça. Está linda, mas não menos irritante.

Minha irmã é irritante pra cacete.

— Vai dar tudo certo? — pergunta. — Já está dando tudo errado

hoje. A pianista, você... meu casamento.

— E-e-eu? — Christian gagueja.

— Não pode ver a noiva antes do casamento e você tá olhando pra

mim. O que mais poderia dar errado hoje?

Eu penso em um milhão de coisas, mas fico quieto. Se eu listar tudo

que pode dar errado hoje, serei decapitado no meio da sala.


— Você não tá vestida de noiva, então não tem problema — fala, e eu

faço careta. Esse homem devia ficar de boca fechada.

Ela pega a almofada que estou segurando no colo e atira na cabeça

dele.

— Suma daqui! — grita.

— Mas você me chamou aqui, querida.

Betsy, que está sentada ao meu lado, oscila os olhos entre os noivos.

Ela sorri. A única que está sorrindo, na verdade. Essa mulher adora os

dramas da nossa família. Quando nota que estou observando, me dá um

empurrãozinho com cotovelo.

— Nossa família é emocionante — sussurra. — Parece uma novela

mexicana, é incrível. Sempre que venho visitar, vou embora cheia de

histórias.

— Você fala isso, porque vem nos visitar uma vez no ano. Às vezes,

passa dois anos sem dar as caras — alfineto, debochado. — Morar em Paris

deve ser ótimo.

Ela ri.

— Morar lá é perfeito, primo. Mas vir aqui é fantástico também —

fala, fazendo-me rir.


Só ela mesmo para gostar de uma confusão em família. Geralmente,

eu corro delas, e minha prima, corre na direção delas. É uma figura. É uma

das melhores pessoas que eu conheço. É inteligente, pintora nas horas vagas
e CEO de uma empresa alimentícia de produtos orgânicos. Não precisa de

um tostão na vovó, sempre se virou muito bem sozinha, gosta de escutar os

problemas dos outros, e claro, gosta das confusões em família.

E é linda também. Corpo de modelo, cabelos loiros naturais que

caem até a altura dos ombros, olhos claros e um sorriso que é capaz de

transformar vidas. Ela é uma das mulheres mais incríveis que eu conheço.

Para ser sincero, ela é minha melhor amiga mesmo morando tão longe.

— Christian Junior... — minha irmã diz, e Betsy e eu olhamos para

os dois. — Por favor, não fale mais nada.

— Prima, você tem que se acalmar — Alice fala ao envolver minha

irmã em um abraço. — Faltam três horas para o casamento. Vamos dar um

jeito. Não se preocupe.

— Impossível — choraminga. — Meu casamento se tornou um

desastre. O pesadelo de toda noiva.

Pelo menos, Freda resolveu fazer um casamento pequeno. Sendo

assim, não há tantas pessoas para decepcionar. Deve ser um alívio.

Ou não.
— O que você tá pensando? — minha irmã pergunta para mim. —

Conheço essa cara, Tony. Desembucha.

Dou de ombros e Betsy ri. Ela me conhece melhor que ninguém, com

certeza minha prima deve saber o que estou pensando.

— Não estou pensando em nada, na verdade — minto, e ela volta a


chorar.

— Não é pra tanto. Vamos ligar o som e deixar uma música calma

rolando de fundo — Jordan sugere. Não é uma má ideia, mas ao mesmo

tempo, é uma péssima sugestão. Por que ele não ficou calado?

— Suma daqui antes que acabe com você — Freda ameaça e Jordan
levanta as mãos em rendição. Minha irmã começa a chorar.

Madeline pigarreia e todos voltam os olhos a ela.

Desde que o drama começou, a garota ficou quieta, apenas

observando. Agora, está com a mão levantada, como quem diz “com licença,

senhores, eu posso falar?”. Sorrio, porque a cena é engraçada. E ela está

linda usando uma blusa preta com estampa do Metallica e short jeans

curtinho. Adoro o estilo dela, me deixa louco.

Não devia desejar Madeline, mas não consigo parar de fazê-lo.

Fiquei maluco.
— O que foi dessa vez? — mamãe pergunta meio grosseira, e eu não

entendo o porquê. Madeline nunca fez mal a ninguém.

— Eu posso ajudar.

— Ah, pare de palhaçada, por favor. Alguém como você pode ajudar

minha filha? Não seja ridícula, garota.

— Tenha modos, Abigail. Madeline não é uma qualquer, ela é parte

da família também — Vovó diz ao entrar na sala, fazendo minha mãe ficar de
expressão emburrada. — Continue a falar, querida. — Ela se aproxima de

Madeline, sorrindo.

— Ah, eu... Bem, eu posso tocar piano se você quiser.

Todos estão boquiabertos. Inclusive, eu. Madeline sabe tocar piano?


Por essa, eu não esperava. Faixa preta em taekwondo, fala sobre desastre

naturais e toca piano... interessante. Perfeita.

— Você está falando sério? — Freda indaga em meio ao véu de


lágrimas. — A pianista cantava também, mas se você souber tocar pelo

menos uma música romântica, ficarei muito grata. — Solta-se dos braços de

Alice e vai em direção à Madeline.

— Ah, tudo bem — Madeline diz meio sem jeito.

— Não é possível que você esteja levando a sério, prima. Vai deixar

essa garota fazer isso? Ela vai estragar o seu casamento.


— Olhe pra mim, Alice. — Minha irmã vira o corpo na direção da

nossa prima. — Pior não fica. E mesmo assim, é o meu casamento. Eu

decido.

— Eu amo reviravoltas — Betsy sussurra para mim e eu rio baixo.

Três horas mais tarde, nos encontramos no jardim da mansão

decorado com todo esse negócio de flores delicadas, luzes e rendas que
noiva gosta. Os convidados estão em seus devidos lugares, o noivo

esperando Freda no altar e minha irmã de braços dados com o nosso pai. Já
Madeline, que usa o vestido que escolhi para ela semanas atrás, está em

frente ao piano aberto, olhando o instrumento como se ele fosse capaz de lhe
dar respostas difíceis.

De repente, ela observa em volta até que os olhos azuis encontram os

meus, e a única coisa que consigo fazer é sorrir. Ficamos assim por quase
uma eternidade, até que, sem saber o motivo, assinto e ela faz o mesmo.

Depois, senta-se no banquinho acolchoado e respira fundo. As mãos


pequenas de Madeline deslizam no teclado do piano com leveza e ao mesmo
tempo, com toques profundos e sólidos. Uma versão acústica de “Endless

Love” do Lionel Richie preenche todo o lugar.

Não demora muito e a voz dela soa com suavidade, surpreendendo-

me. Madeline canta de olhos fechados e com amor, como se fizesse parte da
música. Minha irmã começa a caminhar pelo tapete branco em direção ao

noivo, mas eu não consigo desviar os olhos da garota no piano e admirar a


felicidade de Freda por estar casando com o homem que ama.

Devagarzinho, ela para de tocar e o casamento da minha irmã ganha

vida.

Por mais que eu tente prestar atenção na cerimônia, não consigo.


Meus olhos insistem em ficar observando Madeline.

E para mim, ela é a coisa mais linda da noite.

A dança dos noivos é conduzida por Madie, que canta com


delicadeza “All of me” do John Legend. É lógico que ela não deixou de

surpreender. A voz dela consegue ficar ainda mais cativante.

Ela canta e toca com tanta paixão, que parece ter nascido para fazer
isso. É perfeita. Tocante. Toda vez que Madie fecha os olhos para alcançar a

notas mais altas, meu coração dá um salto duplo dentro do peito.


— Ela é muito talentosa — Betsy fala ao parar ao meu lado. A festa
mal começou e ela já deve estar na terceira ou quarta taça de champanhe. —

Linda — emenda em um sussurro, olhando a nossa prima.

— É a coisa mais linda que eu já vi — assumo, fazendo Betsy erguer


uma sobrancelha. — O que foi?

— Antony Humphrey, não me diga que está se apaixonando por ela

— Betsy fala com os olhos arregalados e as sobrancelhas erguidas. — Você


sabe o que a vovó pensa sobre isso. Não ultrapasse os limites.

— Relaxa, não estou me apaixonando. Só disse que ela é bonita.

— A coisa mais linda que você já viu — me corrige, e eu giro os


olhos.

— Não estou apaixonado, fique tranquila — retruco.

— Tudo bem, vou dar esse voto de confiança — diz ao interceptar


um garçom e pegar outra taça de champanhe.

E eu volto a olhar Madeline, tocando piano e cantando com a alma.

Eu estou me apaixonando por ela?

Não, claro que não.


Além da música de entrada, Freda pede que eu toque algo para que

ela possa dançar com o noivo. Não nego ao seu pedido e tenho a leve
impressão que ela está gostando um pouco mais de mim agora.

Ao contrário de Alice, que me olha como se estivesse rezando para


que eu desafine.

Do piano, soam notas de “All of me” do John Legend. É emocionante

o momento dos noivos. Eles parecem felizes e apaixonados, o que me faz


sorrir. Inspirada pelo casamento, deixo que meus dedos dedilhem “Halo” da

Beyoncé. Aos poucos, minha voz vai ganhando força e eu canto como se

dependesse disso para viver. Freda e eu estamos longe de sermos amigas,


mas se minha voz é capaz de fazer com que o dia mais importante da vida

dela seja perfeito, eu darei o meu melhor.


Tony e Betsy vão para a pista de dança também. Não consigo desviar

os olhos dele, e para minha surpresa, nem ele de mim. Betsy parece meio

alta, então nem nota que o primo não dá a mínima atenção para a tagarelice

dela.

Nossos olhos se cruzam mais uma vez, quando eu canto:

“Para todo lugar que olho, eu sou envolvida pelo seu abraço.

Baby, eu vejo a sua auréola, você é a minha salvação. Você é tudo que eu

preciso e muito mais.”

Meu coração acelera, mas continuo cantando o resto da música.

Desvio a atenção de Tony, porque é difícil demais me concentrar encarando

aqueles olhos intensos de cor azul. E também, porque ele está tão lindo

vestindo blazer azul claro e calças de tecido leve. Parece um dos

personagens românticos que interpreta nos filmes que protagoniza.

No final da música, todos estão sorrindo.

Alguém levou em consideração a ideia de Jordan e algumas caixas

de som foram postas no jardim para rolar música no resto da noite. O que foi

ótimo, não sei tocar muitas músicas românticas no piano. Se ela me pedisse

mais alguma coisa, era capaz de eu tocar “Enter Sandman” do Metallica.

— Você é uma caixinha de surpresas, menina.

— Wyatt — Sorrio e o abraço. — Você gostou?


— Você é um talento. Teve alguém que não tirou os olhos de você —

murmura sugestivo e me dá um empurrãozinho com o ombro.

— Para com isso. Não seja bobo.

— É sério. Onde você aprendeu a cantar e tocar piano? Foi tão lindo.

Você parecia uma obra de arte.

Abro a boca para falar, mas fecho logo em seguida. Como eu diria

que minha falecida mãe quem me ensinou? Ela era professora de piano e

tocar com ela era uma das coisas que eu mais amava fazer na vida.

— Eu tocava em um bar — é o que falo. Não é mentira, antes de vir

para cá, eu larguei meu emprego como pianista em uma espelunca, que eu

amava muito, aliás. — Sou um talento nato — acrescento meio brincalhona,

fazendo meu amigo rir.

Wyatt gesticula com o queixo e eu olho para frente. Tony vem na

nossa direção e eu sinto que posso até ter um ataque cardíaco.

— Então, quer dizer que você entende de música?

— Talvez um pouco — respondo à Tony, que sorri.

— Vou pegar algo pra beber — Wyatt fala, mas o seguro pelo braço,

impedindo que dê um passo para longe. — Tudo bem, eu não queria mesmo.

Tony ri ao levantar a taça para o amigo em um brinde solitário.


Nenhum dos dois saiu de perto de mim. Acho que nem se Wyatt

quisesse sair, conseguiria. Eu me agarrei a ele como se precisasse da ajuda

para caminhar. Teve o jantar, os brindes, a maioria tinha algo para falar
sobre os recém-casados, menos Tony. Não parecia tão feliz como os outros,

quase como se casamentos lhe trouxessem lembranças ruins.

Para meu desgosto, meu amigo conseguiu escapar de mim.

— Quer dar uma volta na praia? — Tony quer saber. Não perdeu a

oportunidade. Homem rápido. Embora esteja receosa, confesso que meu

coração está ansioso para caminhar na praia com ele.

— Podemos? É o casamento da sua irmã...

Ele dá de ombros.

— Ninguém vai sentir a nossa falta.

Dito isso, pega na minha mão e me leva até a praia, em silêncio. Bem

baixinho, dá para escutar “Someone You Loved” do Lewis Capaldi soando

do jardim da mansão e junto das ondas do mar quebrando, não sei o motivo,
mas é a combinação perfeita.

— Eu gosto dessa música — ele comenta.

— Por quê? — eu quero saber.

— Eu não sei, ela é triste, mas é linda — é o que Tony diz, mas

parece ser mais do que isso.


— Linda e triste. Você acabou de definir a vida.

Ele ri. É tão gostoso ouvi-lo rir. Ai, ai, ai. O álcool já deve ter
começado a fazer efeito. Que droga, por que diabos fui beber mais de três

taças de champanhe? É uma festa de casamento e champanhe é gostoso, o

pensamento veio como resposta, quase como se duas personalidades

vivessem dentro da minha cabeça.

Estou ferrada.

Sentamos na areia branca, de frente para o mar. Fecho os olhos por

alguns segundos e escuto as ondas do mar quebrando, a brisa fresca e cheiro

de maresia. Vou sentir falta disso quando for embora.

— É melhor você tirar as sapatilhas antes elas resolvam nadar —

Tony brinca e eu abro os olhos. Enrugo o nariz, fazendo cara feia, mas acabo

rindo.

Tony encara o mar à nossa frente, fica quieto, perdido nos próprios

pensamentos. Parece triste, o que não entendo. Casamentos no geral, deixam

as pessoas felizes. Mas é visível que tem o efeito contrário nele.

— Tudo bem, Tony?

— Sim.

— Mentiroso.
Quando me ouve, direciona as vistas para mim. Encara-me de modo

intenso, que faz minhas bochechas esquentarem. Engulo o nó que se forma na

garganta e desvio. Não posso permitir esse tipo de conexão com ele.

Para o meu bem.

Para o bem dele.

— Não gosto de casamentos.

Franzo o cenho.

— Por quê? — pergunto, e aos poucos, volto a olhá-lo.

Tony dá de ombros e não responde. E não demoro a entender. Com

certeza tem alguma coisa a ver com a ex-noiva e Jordan. É isso, ele ainda

está magoado. Deve ter a amado tanto.

— Eu sinto muito, Tony — sussurro. Ele me olha, nos conectando. —

Ainda dói? — quero saber.

Os olhos azuis ficam triste e marejados. Ele ri, mas a risada é seca,

sem vida.

— Não mais.

— Tem certeza?

Ele respira fundo.

— Sabe, Madie... eu levaria um tiro pelo meu irmão. Eu morreria por

ele — fala com o maxilar contraído. — Família sempre foi muito importante
pra mim. Jordan era meu melhor amigo. E agora, não consigo nem ficar no

mesmo cômodo que ele.

— Sinto muito. Você a amava também — digo, e sem entender o

motivo, meu coração murcha.

— Sim. Eu queria casar com Cassie. Tinha essa ideia idiota de

construir uma família com ela. Mas foi tudo por água abaixo quando ela me

traiu com meu irmão. Meu irmão, Madie. — Balança a cabeça. — Eles me

enganaram por quase um ano. Foi tão difícil. Eu me sinto um idiota. Como
não percebi que estava sendo traído? É ridículo, eu sei.

Sem pensar, levo uma das mãos até o seu ombro e faço carinho. Parte
de mim quer tirar a dor que ainda existe em Tony, mas não sei como fazer

isso.

— Você não é idiota por ter amado de verdade uma mulher.

— Já amou alguém desse jeito?

Respiro fundo e recuo com a mão. Observo o mar, pensando na

pergunta. Se eu já amei alguém assim? Não. Nunca tive tempo de me


relacionar de verdade com o sexo oposto, pois estava ocupada demais

trabalhando e cuidando da minha avó doente. Mas isso não é algo que eu vá
dizer a ele, então minha reposta é um dar de ombros.

— Ah, é mesmo. Você nunca namorou.


— Não, nunca.

— Você é tão linda, não entendo o motivo de nunca ter namorado um

cara. Você é perfeita, Madie.

— Não é verdade. Sou cheia de defeitos. Ninguém é perfeito, Tony


— digo, olhando para ele. — Mas obrigada.

— Você é tão madura pra sua idade. Minha irmã quando tinha vinte e

um anos era completamente louca. Você teve uma vida difícil, não é? Por
isso amadureceu tão rápido. Eu sinto muito por tudo que você passou.

Mordo meu lábio inferior, a fim de segurar as lágrimas. Tony não tem
noção de como essas palavras conseguem tocar minha alma. Eu passei por

tanta coisa, por isso tive que amadurecer cedo. É bom ouvir alguém dizer
que sente muito por mim. É louco, mas é reconfortante.

— Eu sinto muito pelo que aconteceu com você também. Não

imagino a dor que sentiu, mas sei que não deve ter sido fácil.

Tony suspira, leva uma das mãos até os cabelos revoltos e empurra
para trás.

— Não vamos ficar falando dessas coisas. Vou ficar deprimido e


irritado — fala meio carrancudo e eu rio. — Por isso não gosto de

casamentos. Todo mundo fica sentimental. Deve ser alguma coisa que
colocam nas bebidas — resmunga, depois ri.
— Engraçado, nos filmes você é tão romântico. Um príncipe
encantado sem cavalo branco.

Tony faz cara feia.

— São apenas personagens, eu odeio comédia romântica.

— De verdade? Não existe nenhum personagem que tenha um pouco


de você? Não acredita em nada daquilo?

— Está perguntando isso para um homem que foi traído pelo irmão?

Encolho os ombros e enrugo o nariz.

— Sinto muito.

— Qual dos meus filmes é o seu preferido? — ele quer saber.

— Aquele que você é abandonado no altar e... — Minha frase morre


assim que percebo a ironia. — Desculpe, foi uma péssima escolha de

palavras. Ou de filme preferido.

Ele começa a rir.

— Gosto de conversar com você, nunca é entediante.

Olho Tony nos olhos e sorrio. Ele não desvia, fica me encarando de

maneira profunda, fazendo meu coração acelerar. Embora tente, não consigo
impedir das minhas vistas caírem sobre os seus lábios. Engulo em seco ao

pensar que nem lembro da última vez que beijei alguém.

E eu nunca beijei alguém como Tony.


O smartphone dele começa a tocar, quebrando a nossa conexão. Ele

pega o aparelho do bolso e atende sem olhar quem é.

— Oi — fala e quando escuta a voz do outro lado da linha, respira

fundo e bate as pestanas sem paciência. — Savannah...

Ao ouvir o nome da mulher, reviro os olhos e levanto. Passo as mãos


no vestido para tirar a areia e dou alguns passos em direção ao mar. Nem

acredito que por um momento quase me deixei levar por ele.

Que garota idiota eu sou. Estúpida. Estúpida. Por mais que ele diga
que não tem nada com essa mulher, por que ela fica correndo atrás dele que

nem cachorrinho? Ou ele está mentindo para mim ou ela é uma sem noção.
De qualquer forma, é melhor eu me afastar. Não posso me envolver com ele,

isso vai colocar tudo a perder.

— Madie, eu...

— Você não me deve explicações, Tony — interrompo-o ao me virar

para olhá-lo. Já está bem perto de mim, guardando o celular no bolso. — É a


sua namorada — embora tenha tentado guardar apenas para mim, não

consigo ficar calada.

— Ela não é minha namorada — rebate.

— Não importa. Não tenho nada a ver com os seus assuntos.


Giro o corpo e volto a olhar o mar. Odiando-me por ter aceitado

caminhar com ele. Se eu tivesse ficado no casamento, não estaria sentindo


esse incomodo no coração. Mesmo que pareça um ninho de cobras, lá é mais

seguro.

Tony dá a volta e fica na minha frente, bem perto. Como uma idiota,
viro o corpo, mas lá está ele, na minha frente de novo.

— Por que está tão irritada?

— Não estou irritada, estou normal — digo eu, irritada. Seria


engraçado se eu não estivesse tão chateada. E Deus, por que diabos eu estou

tão chateada?

— Esse é o seu normal? Surpreendente — me provoca.

— Sim, é o meu normal. Já devia ter se acostumado com a minha

cara normal.

Não diz nada de início, fica apenas me observando com a expressão


séria. Sinto a minha respiração ficar compassada quando Tony dá um passo à

frente, rompendo a nossa mínima distância.

O corpo dele encosta no meu. Meus seios roçam contra o abdômen


definido e duro de Tony, fazendo meus bicos enrijecerem. O coração bate

rápido e com força. Ondas eletrizantes passam por todo meu corpo e se
acomodam na espinha. E infelizmente, entre as pernas também. Aperto uma
contra a outra e tento controlar o desejo que incendeia dentro do meu corpo.

Isso não pode estar acontecendo comigo.

— Pensei que eu não fizesse o seu tipo — fala, sem desviar os olhos
de mim.

— E não faz — resmungo rápido demais para ser verdade.

Tony leva uma das mãos até o meu rosto, o polegar roçando na minha
bochecha e os outros dedos na minha nuca, me arrepiando mais ainda. Se ele

continuar assim, eu não vou aguentar. Vou derreter aqui mesmo, que nem
manteiga em uma frigideira quente e implorar por um beijo suculento e

arrebatador.

— O que está fazendo?

— Madie... você está com ciúmes de mim?

Abro a boca para responder que não, mas de repente, não encontro a

minha voz. E ele aproveita para aproximar o rosto ainda mais do meu.
Nossos narizes roçam um no outro e isso me faz fechar os olhos.

— Você não pode fazer isso, Tony — sussurro.

— Eu sei, mas quero fazer do mesmo jeito.

Ele encosta os lábios nos meus e aos poucos, me envolve em um


beijo com gosto de champanhe. Por instinto, levo as mãos até o seu pescoço,
o puxando para mais perto. E Tony acaba me agarrando com força pela
cintura.

Nossas línguas se tocam, fazendo com que cada terminação nervosa

do meu corpo queira ele. Na verdade, acho que quero Tony desde a primeira
vez que o vi de samba canção e usando robe preto com o abdômen trincado

de fora.

Ele chupa meu lábio inferior e eu sinto calor entre as pernas. Um tipo
de calor que é capaz de me fazer derreter nos braços desse homem. E lateja

de uma forma quase dolorida, mas é tão bom. Deus, é muito bom.

Surpreendo-me ao sentir a ereção dele contra a minha barriga. Tony

está duro e com o corpo colado ao meu. Isso consegue me deixar ainda mais
louca, excitada. Se continuarmos assim, eu vou me entregar a ele aqui

mesmo.

Coloco minhas mãos em cima do seu peito e o afasto um pouco.

— Tony... — sussurro com a respiração ofegante. — Eu... eu... —


não sei o que falar, então fico em silêncio, encarando-o.

Sem dizer nada, ele me puxa pela cintura e depois segura meu
pescoço, e me traz para mais perto dele. Fica comtemplando meus lábios por
um longo segundo antes de voltar a me beijar.
Um beijo quente, avassalador e que faz algo entre as minhas pernas
contrair, latejar com ainda mais força. É impossível não ficar molhada com

Tony me beijando desse jeito. Para piorar a situação, ou não, depende muito
do ponto de vista, ele passeia com as mãos da cintura até a minha bunda.

Solto um gemido involuntário contra a boca dele quando me aperta.


Cravo minhas unhas nos ombros de Tony, tentando me segurar e me manter
de pé. Estou com as pernas bambas e sem ar.

Ele me dá um selinho, encerrando o beijo, mas segura meu rosto com


as duas mãos. Respiro fundo, levando ar até os pulmões. Isso foi intenso e eu

quero mais. Muito mais.

Abro a boca para falar, quando noto que alguém está nos observando.

Estreito os olhos e vejo um homem franzino segurando uma câmera grande.


Tony olha para mesma direção que eu e o homem continua com a câmera
apontada para nós.

Que merda é essa?

Sem pensar duas vezes, tiro as sapatilhas e começo a correr atrás


dele, que começa a correr de mim também. Não posso deixar que alguém
saia por aí me fotografando, isso vai acabar com meus planos. E se alguém

descobrir que eu não sou a Madeline? Ai, não quero nem pensar.
— Madie, o que está fazendo? — Tony grita e quando olho por cima
do ombro, vejo que ele está quase me alcançando. Não consigo responder,

então a única coisa que faço é correr pela praia atrás do homem.

Tony passa por mim e de maneira surpreendente, consegue puxar o


homem pelo capuz e o derruba na areia. Ele tenta fugir, mas Tony o derruba
de novo. Ao chegar perto dos dois, estou sem ar.

— O-o-o que... que.. que você estava fazendo? — pergunto com


dificuldade. Inclino-me para ver o rosto do homem e arregalo os olhos ao
notar que ele deve ter mais ou menos a minha idade.

Tony o levanta pelo capuz e toma a câmera da mão dele.

— Não destrua, é cara — o garoto de capuz pede e Tony me olha,

como se estivesse pedindo minha opinião. Nego com a cabeça e a única


coisa que ele faz é tirar o cartão de memória da câmera.

— O que está fazendo? — Tony quer saber.

— O meu trabalho — retruca de mau humor, me fazendo erguer uma


sobrancelha. — O de sempre, seguindo celebridades — emenda.

Tony sibila e contrai o maxilar.

— Reviste a mochila dele — eu digo, surpreendendo os dois. —


Quero saber se ele tirou outras fotos nossas — falo, sentindo-me
desesperada.
Não posso arriscar estampar uma capa de revista aos beijos com

Tony. Será uma dor de cabeça e não vai demorar para alguém descobrir que
eu não sou a Madeline. Meu Deus, que merda estou fazendo? Por que aceitei
embarcar nessa loucura toda? E se eu for presa? Quem vai cuidar da minha
avó? Sou uma ferrada mesmo.

Tony franze o cenho para mim antes de revirar a bolsa do paparazzi,


mas não encontra nada. Em seguida, entrega a câmara sem o cartão de

memória e tira a carteira do bolso para dar algumas notas ao garoto.

— Pelo cartão de memória — Tony diz.

— Eu prefiro as fotos — resmunga, mas quando Tony o fuzila com os

olhos, ele bufa. Se abaixa para colocar tudo dentro da bolsa de novo e vai
embora xingando.

Afasto-me de Tony, sentindo o ar escapar dos pulmões. Eu sou louca.


O que eu estou fazendo com a minha vida? Está tudo errado. Quase que
minha farsa toda vai por água abaixo. Escapei por um triz. Vai demorar

quanto tempo para alguém descobrir que sou uma impostora? Pelo visto, não
muito.

— Madeline — Tony fala ao parar na minha frente e me impedir de


continuar caminhando. Pousa os braços nos meus ombros e me encara. —
Respire, respire — pede, e eu fecho os olhos e respiro fundo. — Se sente

melhor?

— Não.

— Eu sinto muito por isso — diz, deixando-me desesperada. Olho


para os lados, procurando outro possível paparazzi. — Não gosta de
exposição?

Eu só não gosto, como também não posso me expor.

— Odeio — é o que digo.

— Tudo bem, me desculpe.

Tony me puxa contra o corpo e eu me permito afundar nos braços


dele, esquecendo toda a loucura que acabou de acontecer e me lembrando do
beijo quente que demos. Droga, eu acho que teria transado com ele na praia
mesmo.

— Eu me sinto melhor — murmuro contra o peito musculoso de Tony

depois de alguns minutos em silêncio. — Você é tão cheiroso — admito,


deixando que o cheiro amadeirado dele me preencha.

Ele ri de leve, em seguida, passa as mãos pelos meus ombros e me


afasta um pouco, apenas para segurar meu rosto. Sem dizer nada, Tony me
beija de novo e mesmo que seja loucura, eu me deixo levar. Ter os lábios
dele contra os meus e a língua explorando minha boca é muito bom para ser

recusado.

Tony me aperta mais contra o corpo e eu sinto a sua ereção de novo


contra minha barriga. As borboletas no meu estômago dão um triplo salto
mortal. A sensação é instigante. Quente. Tentadora.

Começo a imaginá-lo nu e sinto algo entra as minhas pernas latejar


de tesão.

— Vou parar por aqui — sussurra com a boca colada na minha e aos
poucos, encerra o nosso beijo. — Se continuar, eu não vou conseguir parar.

— Ah.

Tony abre um sorriso maroto.

— Você parece decepcionada, Madeline.

Engulo em seco e tento me recompor. Com certeza, estou


decepcionada, mas o que posso fazer? Mesmo que ele seja um tesão, eu não

sei o que pensar. Quero que ele me leve para cama? É lógico que sim. Estou
pronta para isso? Eu não sei.

— Vamos voltar pro casamento.

— Vamos.

Ainda sorrindo, ele pisca para mim e meu coração bate rápido, me
deixando ansiosa.
Acho que vai ser impossível ficar longe de Tony.

Ou da cama dele.

Merda.

Tô ferrada.
Os convidados de Freda e Christian se hospedaram no clube. E os

recém-casados saem em lua de mel logo no final da manhã. Havaí é o


destino escolhido pelo casal. Minha irmã não parece em nada com a noiva

enlouquecida de ontem. Hoje, ela está com um sorriso de orelha a orelha e

até parece gostar de Madeline.

Deve estar agradecida por ter tido o casamento salvo pela prima que

mora longe.

Mesmo que Freda, na maioria das vezes, seja um pé no saco, ela é

minha irmã e eu a amo. Quando ela vem me abraçar para se despedir, a única

coisa que faço é sorrir e beijar o topo da sua cabeça.

Depois de mais beijos e abraços, o carro dos recém-casados sai em

disparada e some rua afora. Vovó entra em casa junto de Alice, tia Naomi e
os meus pais. Madeline e eu ficamos do lado de fora, observando a rua

vazia. E para meu desgosto, Jordan também.

— O que vai fazer agora, Madie? — ele pergunta, fazendo-a virar o

corpo e encará-lo. — Que tal Wakeboard? Betsy disse que você gostou da

última vez.

Madeline me lança uma olhadela por cima do ombro antes de

responder Jordan. É claro que ela aceita. Essa garota não faz o tipo que vai

parar de falar com o meu irmão só porque eu e ele não nos damos bem. E

não há nada errado nisso. Jordan e eu temos um problema, ele e Madeline,

não.

Mesmo que isso me deixe com um gosto amargo na boca, eu fico feliz

de Madeline fazer o que ela quer. Não tenho dúvidas que vou ficar louco

enquanto ela estiver se divertindo com o meu irmão, mas não quero

pressioná-la e parecer um idiota ciumento, mesmo que eu seja um idiota


ciumento.

Ela dá um tchauzinho com a mão antes de seguir meu irmão até o

carro e ir embora. Engulo caroço na garganta e subo os degraus da varanda


para entrar em casa. Encontro a vovó sentada no sofá, assistindo tevê. Ao me

aproximar, me dou conta de que é um dos filmes que protagonizo que está

passando em uma plataforma de streaming online.


Não podia ser diferente. É a comédia romântica em que sou

abandonado no altar e fico com o coração despedaçado. Saio do interior

para ir morar na cidade grande e me apaixono pela vizinha egocêntrica e de

cabelos vermelhos.

— Você fica tão bonito na televisão — ela diz, sorrindo. — Eu amo

esse filme, é um dos meus preferidos — acrescenta.

Sento ao lado dela no sofá, mas antes deposito um beijo na sua

cabeça platinada. O cheiro dela é tão bom e aconchegante, me faz sentir bem

e tranquilo.

— Por que as mulheres dessa família amam me ver de coração

partido? — brinco, mas a vovó leva a sério demais.

— Me desculpe, querido.

Vovó pega o controle em cima da mesinha de centro e pausa o filme.

Encara-me com uma expressão triste e eu já sei onde isso vai nos levar.

Começo a balançar a cabeça de um lado para o outro e estou prestes a me

levantar, quando ela segura meu pulso com carinho.

— Ainda está magoado com o seu irmão?

— Eu amo o meu irmão, mas eu o odeio na mesma medida — sou

sincero.
Ela fica estudando meu rosto por alguns segundos, tentando me

entender ou deduzindo que sou um completo idiota. Os seus olhos buscam os

meus e ela abre um sorriso triste. Leva uma das mãos até a minha cabeça e
faz carinho devagar.

— Me desculpe, eu sei que você veio passar as férias aqui porque eu

insisti que viesse. Aqui é o último lugar que você queria estar, não é?

Nego com a cabeça.

— Eu viria de qualquer jeito, não podia perder o casamento da


minha irmã mais nova.

Vovó assente.

— Não é estranho? Nós moramos na mesma cidade, mas eu mal te

vejo. Você passou quase dois anos fugindo de mim.

Embora não seja o momento certo, solto uma risada. Não é que eu

estivesse fugindo da minha avó, estava evitando me encontrar com Jordan.

Não queria encarar meu irmão estando com tanta raiva dele. Foi melhor
assim, eu tive tempo para pensar e superar.

Não esqueci que ele traiu minha confiança, mas superei o fato de ter

sido traído pela garota que eu amava.

— Nós almoçávamos juntos uma vez por mês. Isso não é fugir — eu

digo.
— Uma vez por mês é quase nada. Sabe quantas coisas acontecem

em um mês? Um mês pode ser suficiente para levar os negócios da família a

falência.

— A senhora continua gostando de fazer drama — zombo, fazendo-a

rir. — Como estão as Indústrias? Quando a senhora vai parar de se estressar

com todo aquele negócio?

Nunca fui o tipo de homem que sonhou em passar o dia todo

enfurnado em um escritório e quando disse a vovó que não queria assumir os

negócios da família, porque queria atuar, eu achei que ela fosse ter um

infarto. Não aceitou bem de início, tentou argumentar e contra-argumentar,

mas acabou entendendo que aquilo lá não era para mim.

— Logo. Jordan é novo, mas é dedicado. Ele vai dar conta de tudo.

Meus lábios repuxam em um meio sorriso. Eu ainda não suporto meu

irmão, mas é bom saber que ele está indo pelo caminho certo. Ainda sou

grato por ele ter me apoiado enquanto a família toda me chamava de doido

por não querer me tornar CEO das Indústrias Humphrey’s.

— Espero que um dia vocês voltem a ser como antes. Eu sinto falta

disso, de vê-los unidos e rindo por aí.

— Eu não sei, vovó. No momento, isso parece impossível pra mim.


Ela segura meu rosto com uma das mãos e sorri, deixando evidente

as rugas.

— Não se preocupe, as coisas acontecem no seu devido tempo —

comenta e volta a atenção para a tevê e torna a assistir ao filme. Observo-a

por alguns segundos e sorrio. Às vezes, a vovó é difícil, mas tem um bom

coração.

Direciono os olhos até a televisão também e faço companhia para

minha avó. Isso me ajudará a manter a cabeça ocupada e não pensar nos

sorrisos que Madeline deve estar dando ao meu irmão no exato momento.

Ou não.

Só de imaginar o quanto Jordan deve estar aproveitando a companhia

dela, me deixa irritado. Voltarmos a ser como éramos antes é com certeza

algo impossível. Pelo menos enquanto ele ficar rodeando Madeline desse

jeito.

Porra. A última coisa que quero é reviver o passado quando meu

irmão e eu gostávamos da mesma mulher.

A história não pode se repetir.


— Tony, pelo amor de Deus!

Mesmo fazendo esforço, é impossível não deixar meus olhos


dançarem sobre o corpo de Madeline. Ela está usando uma toalha branca,

metade das coxas estão amostra, enquanto ela segura o tecido com força
perto dos seios. Os cabelos estão molhados e caindo sobre os ombros nus.

Os olhos só faltam saltar para fora do rosto ao me encararem e as bochechas


estão vermelhas.

— Não sabe bater na porta? Eu quase deixei a toalha cair — ela diz
isso como se fosse uma coisa ruim. Tudo que eu mais quero no momento é

que a toalha caia e me deliciar com a visão do corpo de Madeline nu. — O


que você quer?

Abro um sorriso de lado.

— Vamos sair?

Uma linha aparece entre as sobrancelhas cheias dela.

— Pra onde?
— Um amigo fez reinauguração de um barzinho há pouco tempo.
Quer ir comigo? Prometo que vai ser divertido.

Ela relaxa os ombros, mas mantém firme as mãos na toalha. Suspiro,


decepcionado. Nem para toalha cair por acidente.

— O que devo vestir? — Madeline quer saber.

— O que você quiser.

Ao ouvir minha resposta, ela concorda e morde o lábio inferior,


pensativa. Ela me deixa doido. Acho que Madeline não tem noção de como

ela é sexy e instigante. Porra. É isso mesmo, eu me tornei um idiota como


meu irmão. Estou a fim da minha prima e quero me afundar no corpo dela.

Quero beijar, lamber, morder...

— Você vai ficar aqui e esperar eu me vestir? — pergunta com um


tom irônico.

— Você faz parecer que é uma má ideia — digo ao sentar no sofá do

quarto de Madeline e observá-la. — Pode continuar, eu prometo ficar quieto.

Ela coloca uma mão na cintura e revira os olhos. Sem pensar duas

vezes, pega o travesseiro em cima da cama e acerta na minha cabeça. Rio. É


sempre tão divertido provocá-la.

— Saia, me espere lá fora.


— É injusto comigo, você passou o dia com o meu irmão e só estou
te vendo agora e mesmo assim, você não quer me deixar ficar — dramatizo

um pouco e ela parece estar com pena de mim, mas isso não dura nem dois
segundos. Droga. Foi por um triz.

— Antony Humphrey, saia antes que eu mostre como entendo de artes

marciais — retruca e eu levanto as mãos em rendição.

— Vou sair, mesmo querendo ficar pra ver o que você sabe de artes
maciais — é o que digo ao levantar do sofá. — Te vejo daqui a pouco.

Ela ri de leve enquanto resmunga “estúpido” e eu saio do quarto.


Decido esperá-la no corredor, estou ansioso demais para me concentrar em

outra coisa que não seja esperar Madeline.

Meu celular vibra dentro do bolso da calça jeans e o pego apenas


para recusar a ligação. Hesito quando vejo o nome da Rosie saltitar na tela,

mas como não estou interessado em ouvir os resmungos dela hoje, rejeito a
ligação.

Depois de mais ou menos vinte cinco minutos, Madeline abre a porta


do quarto. Ela colocou um vestido preto que cai até altura das coxas com

estampa do AC/DC, de mangas curtinhas e que é marcado na cintura com um


cinto, e os pés estão calçados com coturnos marrons. O cabelo está
amarrado em um coque alto e vários fiapos caem sobre o rosto pequeno e

delicado.

E a boca está pintada de vermelho sangue. É uma Madeline diferente

de tudo que eu já vi. É sexy, atrevida e que vai me deixar de pau duro e
cabelo em pé sem sombra de dúvidas.

— Você disse que eu podia usar o que eu quisesse — ela fala.

— Eu sei.

— Então, que cara é essa? — Madeline quer saber. — Tá muito


ruim? Eu posso trocar de roupa se for um problema ir assim.

— Não, é que... você é a coisa mais linda que eu já vi — digo e ela

me dá um sorriso tímido. — AC/DC, hein? Você curte rock.

— Um pouquinho.... — começa a falar, mas a frase morre e ela solta


uma risada gostosa. — Na verdade, eu gosto muito.

— Uma garota meiga com um gosto musical agressivo. Eu amo —


murmuro, fazendo-a revirar os olhos.

— Se você acha que AC/DC é rock agressivo, você não sabe de nada

— resmunga, passando por mim e indo no rumo das escadas, o seu cheiro
doce me atingindo em cheio. Será uma noite difícil. Sigo a Madeline que

nem um cachorrinho. Droga, eu farei qualquer coisa por ela hoje.

— Você vai se dar bem com o Larry, ele ama rock.


— Larry? — questiona com o cenho franzido.

— O dono do barzinho.

— Bom saber que alguém nessa cidade gosta de rock, pensei que as

pessoas aqui só escutassem música eletrônica — ela diz com certo desdém,
mas depois, deixa escapar uma risadinha.

— O barzinho dele fica na cidade vizinha — retruco, brincalhão.

— Hãm?

Torcendo para que ninguém, no caso, a minha avó, me veja, eu

entrelaço os dedos com os de Madeline e a arrasto até o carro estacionado


em frente à casa. Ela se acomoda no banco do carona sem protestar e eu dou

a volta para ocupar o lugar do motorista.

Talvez eu não curta rock igual a Madeline, mas tenho algumas


músicas salvas no pendrive do carro. Nivarna, Guns N' Roses e Red Hot

Chili Peppers e sei lá mais o quê. No sistema automático de som, procuro


por elas e dou play antes de pisar no acelerador.

— Você é uma combinação e tanto. Metaleira e pianista, é no mínimo

interessante.

Madeline ri do meu comentário, mas não diz nada.

— Como essa combinação aconteceu? — pergunto, porque estou

curioso. Quando está tocando piano e cantando, ela parece com alguém que
está prestes a flutuar. E agora, eu sinto que a qualquer momento, Madeline
vai surgir com uma guitarra e fazer um solo estilo Slash.

— Bem, eu comecei a ter aulas de piano muito cedo — fala, fixando


os olhos no movimento da rua. — E eu sempre gostei de rock. — Vira o

rosto para mim. — E isso não é rock agressivo — emenda.

— Anotado — rebato e ela ri mais uma vez.

— Pensando bem... não devia ter me vestido assim pra sair com uma
celebridade — balbucia, refletindo sozinha. — Acho que estou chamando

muito atenção.

Olho-a por um segundo.

— Você está linda, Madeline. E chamaria atenção de qualquer jeito.

Ela sorri.

— O astro mais cobiçado de Hollywood tem gostos peculiares —


resmunga, me arrancando uma risada. — Como é?

— Como é o quê?

— Ser você? Famoso? Lindo? Tudo?

— Ah, então você me acha lindo? — devolvo e lanço um olhar

rápido para Madeline, que tem as bochechas coradas. — Eu sou como uma
pessoa qualquer — falo depois que ela decide fazer voto de silêncio.
— Uma pessoa qualquer? Impossível — retruca, balançando a
cabeça. — Nunca pensei que fosse conhecer alguém como você um dia.

Abro um sorriso torto.

— Pode aproveitar, então... o seu astro de Hollywood — digo,

fazendo a garota suspirar e prensar os lábios para esconder uma risada.

Vamos o caminho inteiro até o bar escutando as músicas e ela

cantarola todas, me roubando sorrisos.

Meia hora mais tarde, estou estacionando o carro na avenida de


frente para o bar de Larry. Nem lembro muito bem como a fachada estava

antes, mas agora é chamativa, as cores fortes harmonizando com as paredes


pretas.

Madeline analisa o lugar com o cenho enrugado.

— Que foi, Madie?

— É diferente do que eu imaginei — comenta, ainda com os olhos no


bar e a movimentação que se forma na entrada do local. — Acho que é um
lugar único. Nunca imaginei algo assim por aqui.

— É meio brega, né? — digo e ela direciona os olhos grandes e


azuis para mim, pasma. Acho que acabei de ler os pensamentos de Madeline.

— Eu não disse isso, você quem falou — retruca, e depois ri comigo.

— Não imaginei que uma celebridade como Antony Humphrey frequentasse


lugares como este. É novidade pra mim.

— É um escape, sabia? Os paparazzis sempre vão me procurar em


lugares menos exóticos. Um bar como esse é quase um esconderijo —
zombo, fazendo-a me encarar com os olhos estreitos.

— Você é inteligente.

Dou uma piscada e sem dizer mais nada, tomo a mão de Madeline e

ela não parece se incomodar. De dedos entrelaçados, entramos no bar de


Larry.
As paredes do bar são pretas foscas e o letreiro em vermelho,

chamativo. Na porta de entrada, bem no centro, há um Ganesha estilo rock'n


roll pintado à mão. Ele está sentado, segurando guitarra, baquetas de bateria

e comida. No batente da porta, nas laterais, tem o desenho de duas gênias

sexys.

O mais surpreendente é dentro do estabelecimento. As luzes são

todas vermelhas, as paredes estão lotadas de quadros pequenos e grandes,

todos de bandas de rock. E no teto tem fotos coladas de artistas como Elvis e
Michael Jackson. As mesas são quadradas e em cima de cada uma, há uma

espécie de vela eletrônica.

No lugar mais afastado do bar, há um mini palco, onde um casal canta

uma versão melodramática de “Creep” do Radiohead.


— Gostou? — Tony quer saber.

Antes que eu possa ter a chance de responder, um homem na faixa


dos trinta, careca, alto, cheio de músculos e com os braços tatuados surge na

nossa frente e cumprimenta Tony. Os dois se abraçam e sorriem um para o

outro, falam algo que eu não consigo capitar por causa da música.

— Essa é a Madeline Cuthbert — Tony fala para o amigo, mas

olhando para mim. Fico esperando que diga que sou a sua prima, mas ele

fica quieto. — E esse é o Larry Hart. — Aponta para o amigo de quase dois

metros.

Estendo a mão para cumprimentá-lo e o Larry me surpreende com um

beijo no rosto junto de um meio abraço.

— Oi, Madeline — fala ao sorrir. — Você é linda, talvez eu queira

que você seja a musa do meu bar — comenta, sugestivo.

Tony sorri.

— Vou pegar uma mesa pra vocês — é o que diz ao levantar a mão e

chamar um dos garçons. E logo, Tony e eu estamos sendo conduzidos a uma

mesa que dá uma visão significativa do palco. — Aproveitem — Larry diz

antes de sair e nos deixar a sós com o garçom.

Sentamos um do lado do outro e quando o braço dele roça no meu,

sinto os pelinhos da minha pele se arrepiarem. Engulo em seco e tento


controlar a sensação ardente que assola meu juízo por inteiro e me faz querer

sentar no colo de Tony e devorar a boca dele com um beijo quente e

molhado.

Ai, Deus, fiquei louca.

O beijo de ontem foi um erro. Não devia ter deixado acontecer. No

entanto, não consigo parar de pensar na boca dele em cima da minha, nem na

ereção roçando contra a minha barriga.

Foi um erro, mas eu quero repetir. Nossa, quero muito.

Tony pede uma cerveja e eu também, ciente que apenas uma cerveja é

capaz de me permitir fazer loucuras. Como por exemplo, me entregar a ele

no banheiro do bar, que tem uma placa grande escrito em neon “Por favor,

não use coca no banheiro.”

— O que achou?

— Parece que estou em outra dimensão — respondo a Tony, que

sorri.

— Larry é meio excêntrico — é o que diz.

Um casal passa por nós e meus olhos curiosos os seguem. Os dois

param no centro do bar e começam a dançar de forma provocativa ao som

das batidas sexys de “Killing Strangers” do Marilyn Manson.


Não consigo desviar a atenção deles e por um segundo, imagino Tony

e eu no lugar do casal. O pensamento de tê-lo com as mãos grandes e quentes

no meu corpo, me invade como um vendaval e faz as minhas bochechas


corarem.

— Você quer dançar? — ele pergunta, quando não afasto a atenção

do casal fazendo a dança do acasalamento.

Sinto as bochechas esquentarem e fico feliz pela iluminação

vermelha, assim, ele não vai perceber o quanto estou envergonhada por ele

ter me pegado babando o casal no meio do bar.

Tony não espera por respostas, se põe em pé à minha frente e ergue

uma das mãos. Com a respiração começando a ficar ofegante e o coração

latejando igual louco, entrelaço os nossos dedos e levanto.

É isso, vamos fazer a dança do acasalamento também. Tudo bem, eu

quero isso de qualquer forma.

Ele me arrasta até o centro do bar e o casal nem nota a nossa

chegada. Na verdade, ninguém repara em nós dois. Estão todos ocupados

demais com conversas animadas e cervejas geladas para perceber mais um

casal enlouquecido e excitado no meio do bar.

Sem dizer nada, de mansinho, Tony fica atrás de mim, leva as duas

mãos até a minha cintura e me puxa contra ele, me deixando louca e fazendo
meu corpo inteiro incendiar de desejo.

Tenho que admitir que sou diferente das garotas da minha idade.
Apesar de ter desejos, eu não pensava muito sobre fazer sexo com alguém.

Sobre perder a minha virgindade. Não tinha muito tempo de sobra para isso.

Mas aqui e agora, com Tony passeando sem pressa as mãos da minha cintura

até os limites dos quadris, estou sentindo uma necessidade absurda de ser

tocada por ele em várias partes do meu corpo. Quero que ele me explore,

com as mãos, boca, língua. Eu quero que ele beije cada parte da minha pele

e que me faça ir à loucura.

Não demora muito para eu sentir a ereção dele contra as minhas

costas e apesar de não ser motivo para orgulho, é bom saber que Tony fica

excitado quando está comigo. É bom saber que meu corpo causa algum efeito

nele.

Solto um gemido involuntário e mordo o lábio inferior com força

quando o sinto cheirar meu pescoço exposto e depois beijar. A boca dele é

quente e precisa, Tony sabe exatamente o que está fazendo. E Deus, está

dando muito certo. As mãos grandes abraçam minha cintura e sobem um


pouco, devagarzinho. Meus olhos caem para baixo e com a respiração

ofegante, anseio para que toque meus seios, mas ele não faz isso. As mãos se

separam de novo e ele desce com elas até o limite dos meus quadris, me

guiando para lá e para cá, no ritmo sexy da música que está tocando e eu não
conheço. Ou apenas, estou excitada demais para prestar atenção em alguma

coisa além Tony e as mãos grandes flanando meu corpo.

De repente, ele me vira e cola nossos corpos. Meus seios roçando no

seu abdômen duro e definido. Tony afunda o rosto no meu pescoço e dá uma

lambida na pele, vai subindo até o lóbulo da minha orelha e morde, e eu

gemo baixinho. Algo entre as minhas pernas lateja e eu tenho que me segurar

nos braços dele para conseguir ficar em pé.

Em meio as luzes vermelhas, os olhos de Tony buscam os meus. Uma

das mãos se acomoda na minha nuca e ele vai me puxando para próximo do

seu rosto, nossos narizes se roçam e eu abro a boca para deixá-lo me

devorar com a língua, ansiosa para sentir o gosto dele outra vez.

Infelizmente, somos interrompidos.

Uma voz feminina chama Tony e em modo automático, nós dois

olhamos para mesma direção. Apesar da iluminação do bar ser horrível, eu

consigo enxergá-la. Ela é alta, tem pele negra que brilha contra a luz

vermelha, os cabelos cacheados e volumosos que caem até a altura dos

ombros, possuem algumas sutis mechas loiras. Os lábios são carnudos e

lembram a forma de um coração, e os olhos amendoados finos oscilam de


mim para Tony.
Ela parece não gostar de vê-lo tão próximo de mim e com a mão na

minha nuca. E ele parece surpreso e irritado por vê-la.

— O que está fazendo aqui? — Tony pergunta e a mão na minha nuca

me deixa. É inevitável, minha pele sente falta do calor do toque dele.

— Estou por aqui faz alguns dias — é o que ela responde, sem tirar

os olhos de mim. — Podemos conversar?

Tony solta uma risada debochada.

— O que te faz pensar que eu quero conversar com você, Cassie?

Cassie? Esse nome me soa familiar. Cassie? Quem é Cassie? Ai,

meu Deus. Cassie! É a ex-noiva traíra de Tony. Tento controlar a surpresa


quando me dou conta de quem ela é. Nunca imaginei que fosse conhecer a
ex-noiva de Tony. Jesus, achei que a mulher se encontrasse a várias milhas

de distância e não a meia hora de carro.

— Uma hora você vai ter que me ouvir, Tony. Nós precisamos
conversar.

— Cassie, nós somos passado. Eu não tenho mais nada pra conversar

com você.

Dito isso, Tony segura minha mão com força e me arrasta para fora
do bar. Por pura curiosidade, olho por cima do ombro e vejo Cassie cruzar
os braços ao nos encarar com certo desgosto. Ele só me solta quando
estamos em frente ao seu carro estacionado. Sem dizer nada, ele entra no
veículo e se senta no banco do motorista, enquanto eu me acomodo no lugar

do carona.

— Você está bem? — pergunto e ele parece acordar de um pesadelo.

Seus olhos procuram os meus e ele respira fundo com a nossa conexão. —
Não imaginei que ela morasse tão perto.

Nem que ela fosse tão linda...

Ou que os dois combinassem tanto.

Por que isso me incomoda?

— É a mãe dela quem mora aqui, mas as duas nunca se deram bem de
verdade. Longa história — é o que diz.

Concordo com um aceno leve de cabeça.

— Há quanto tempo ela está querendo reatar com você? — pergunto

de uma vez. Posso não ser experiente em relação a sexo, mas sei quando uma
mulher está atrás de um homem. E Cassie, bem, ela parecia desesperada para
tentar conversar com o Tony.

— Alguns meses — murmura carrancudo e eu fico quieta, esperando.

Sei que tem mais coisas que ele não está falando. E apesar de eu querer
muito saber, não sei se ele está a fim de me contar.
— Você ficou com ela? — falo antes que eu cérebro processe as
palavras. Estou morrendo de curiosidade para saber o que aconteceu entre

eles. — Ai, meu Deus. É isso, não é? Vocês transaram.

Tudo bem, Sky. Você não tem nada a ver com isso. Engula o seu
ciúme e se mantenha firme. Você e Tony não darão certo de qualquer forma.

Qual é o problema se ele ficar com a ex dele? Isso não lhe diz a respeito.

— O quê? Não — retruca e se remexe no banco do carro. — Não sou


tão idiota a ponto de ficar com a ex que me traiu com o meu irmão.

— Ah, sim, me desculpe — murmuro.

— Alguns meses atrás, o pai dela faleceu... e bem, ele era um cara
legal e eu gostava dele. Fui ao enterro e aconteceu o óbvio, acabei dando de

cara com a Cassie. Ela queria conversar, disse que estava arrependida e eu...
e eu não estava nem um pouco a fim de escutar as desculpas. Desde então,

ela parece estar numa missão de tentar conversar comigo.

— Você ainda gosta dela? — quero saber. O coração acelera e eu

tenho que me lembrar de respirar fundo. — Me desculpe, não é da minha


conta. Não precisa responder.

— Não gosto dela — diz e eu o olho. — Mas ver Cassie sempre me

lembra que fui traído pelo meu irmão e eu sempre fico furioso. Furioso com
os dois.
Assinto.

Entendo Tony, embora não tenha passado por nada parecido. Acho
que ele ter sido traído pelo irmão foi o que mais marcou. E eu sinto muito

por isso. Acho que Jordan e ele foram uma dupla e tanto. Os dois parecem
ter sido aquele tipo de irmãos unidos e que faziam tudo um pelo o outro. É

triste que uma amizade tenha sido quebrada de uma maneira tão cruel.

— Vamos esquecer Cassie — sou eu quem fala. — Não adianta ficar


remoendo o passado. Já aconteceu e bola pra frente.

Tony me dá um meio sorriso.

— Me desculpe, eu estraguei a nossa noite.

As palavras dele me fazem lembrar de nós dois dançando de forma


indecente no meio do bar. Sinto as bochechas corarem e eu pigarreio,

sentindo a garganta seca. Não estou arrependida de ter me esfregado em


Tony daquele jeito ou de ter aceitado as mãos bobas dele passeando pelo

meu corpo, mas isso também não significa que eu esteja orgulhosa do meu
comportamento. Mesmo que tenha sido uma delícia, não estou orgulhosa,

mas repetiria sem problema nenhum.

Ai, fiquei doida.

— Por que está corada?


— Hãm? Eu? Não estou — retruco rápido, roubando uma risada de

Tony.

— Tem certeza? Você parece estar com vergonha — murmura e os


olhos predadores dele varrem meu corpo. Minha respiração fica ofegante e

eu sinto a tensão sexual de minutos atrás se manifestar aos poucos entre e


sobre nós. Como em modo automático, aperto uma perna contra outra ao

sentir meu íntimo latejar de maneira dolorosa. — Gostei de dançar com


você.

— Ah — é o único som que sai da minha boca.

Sem aviso prévio, ele desce o banco que estou sentada e me rouba
um gemido baixo. Lentamente, Tony se aproxima de mim e eu sinto a minha

respiração ficar compassada. Os olhos dele me observam e as costas de uma


das mãos caminha sobre o meu pescoço e braço. Meu corpo inteiro parece

incendiar com o toque e eu fecho os olhos, aproveitando cada segundo.

A mão desce mais uma pouco e corre pela lateral da minha cintura,
quadris e coxas. É mais forte que eu, quando sinto a mão na minha coxa,
contraio as pernas, mas isso não parece ser problema para Tony, já que

devagarzinho, ele vai adentrando as minhas coxas e se aloja bem no meio


das minhas pernas.

— Você quer? — pergunta com um tom provocativo, sedutor.


Abro os olhos, ofegante. Ele me encara, o meu desejo refletindo o
seu. Droga, estamos na merda de um carro estacionado em frente a uma

avenida movimentada e um bar lotado, e eu sinto que estou louca, mas quero
que Tony continue.

Assinto, não confiante para dizer as palavras em voz alta.

— Então, me fale o que você quer — ele sussurra contra meu ouvido,
arrepiando ainda mais o meu corpo. — Não tenha vergonha.

Engulo em seco. Estou com vergonha? Mas é claro que eu estou,

quero sentir prazer e continuar caladinha, porém, Tony parece com alguém
que só vai fazer alguma coisa se eu abrir a boca. Tudo bem, isso é pra lá de

excitante. Vergonhoso, mas excitante.

— Me toque, Tony — falo em um sussurro, torcendo para que tenha

sido sexy o suficiente.

No momento em que os olhos dele se prendem aos meus por uma


fração de segundo, eu os vejo brilhando com um desejo carnal e eu sei que

vou conseguir o que tanto quero. Sem dizer nada, a mão de Tony abre as
minhas pernas sem dificuldade e eu sinto que meu coração vai sair do peito.

Quando os dedos dele roçam na minha calcinha, eu gemo. Respiro

fundo e fecho os olhos, apoiando a cabeça no banco do carro. Sem pressa,


Tony afasta um pouco o tecido de renda que cobre minha abertura e desliza
um dedo de leve para dentro de mim, apenas o suficiente para sentir a minha
lubrificação.

— Bem molhadinha... — sussurra. E é estranho, porém, isso

consegue me deixar ainda mais excitada.

De maneira suave e tranquila, ele começa acariciar o meu clitóris


com movimentos circulares. Mordo o lábio inferior com força à medida que

o toque dele vai ficando mais preciso e delicioso. Sem saber muito bem o
que fazer com as mãos, levo uma até o ombro de Tony e me apoio, abro mais

as pernas e deixo que ele faça a mágica gostosa.

Sinto um dedo dele me penetrar com delicadeza, alguns movimentos

de vaivém e depois, volta a fazer carinho na parte mais delicada do meu


corpo. Contorço o corpo no banco ao mesmo tempo em que as pernas

começam a tremer. Sinto o corpo todo em polvorosa junto de ondas de calor


prazerosas.

— Tony... — arfo.

— Isso, meu bem, goze pra mim

Jogo a cabeça para trás e Tony continua com a tortura deliciosa de


carícias no meu clitóris. Sinto uma contração involuntária entre as pernas e
até mesmo, nos braços. Por um momento, parece que estou levando pequenos

choques e é uma sensação maravilhosa. Minha respiração é arfante e sinto


um arrepio que começa da ponta dos pés e vai até o couro cabeludo. Elevo
meu quadril para a mão de Tony, como se quisesse mais dele. Na verdade,

quero mais dele. Muito mais. Os bicos dos meus seios se enrijecem e os
batimentos cardíacos aceleram e a sensação é que ele quer sair pela boca.

Gemo outra vez ao senti-lo acelerar os movimentos circulares no


meu clitóris e morder minha orelha. Acabo fechando as pernas e as
contraindo, mas Tony não tira a mão de dentro do meu sexo nem por um
segundo. Sem conseguir aguentar, me entrego ao prazer e permito que ele me

leve até o clímax.

É tão bom, sinto uma pequena onda de choque percorrer o meu corpo
acompanhado de arrepios deliciosos no couro cabeludo. A sensação
crescente me eleva para um nível de mais puro êxtase.

E eu gozo.

Ainda com a respiração ofegante, abro os olhos e vejo Tony retirar a


mão de entre as minhas pernas e lamber os dedos. O gesto me deixa
acanhada e excitada com a mesma intensidade. Sem dizer nada, ele vem para

cima de mim e me beija a boca com vontade. Beijo com gosto de sexo, é
bom, diferente e me faz querer que ele faça mais coisas comigo.

Deus, se ele pedir, eu o deixo fazer qualquer coisa comigo.


— Você tem um gosto delicioso, Madie — sussurra contra a minha
boca. E ouvir “Madie” consegue me deixar triste. Eu queria tanto que ele

pudesse dizer o meu nome, gemer meu nome enquanto me toca. — O que foi?
— ele pergunta, atento. Tony leva os fiapos de cabelo do meu rosto para trás
da orelha e estuda minhas expressões.

— Não quero perder a minha virgindade dentro de um carro — digo


a primeira coisa que penso.

Não é totalmente mentira, mas também não é cem por cento verdade.
Eu sinto que se ele insistir, sou capaz de fazer sexo com ele aqui mesmo, sem

problema nenhum. Tony parece se convencer da minha meia verdade.

— Me desculpe, Madie. Acho que estou indo rápido demais.

Tony está prestes a se afastar, mas eu agarro seu pescoço e o


aproximo de mim. Nossos olhos se prendem por alguns segundos e eu o
envolvo em um beijo molhado, cheio de necessidade. A língua dele explora
a minha boca como se estivesse querendo descobrir novos territórios e as
mãos passeiam pelo corpo, voltando a me acender por inteira.

— Eu quero você... — reúno forças para dizer quando recuo um

pouco. — Mas não aqui.

Os olhos de Tony piscam devagar e ele assente.


— Eu sei, meu bem — é o que ele diz, admirando os detalhes do meu

rosto e abrindo meio sorriso. — Vamos pra casa.

— Podemos comer algo antes? Estou morrendo de fome.

Ao me ouvir, ele solta uma risada gostosa, aliviando o clima entre

nós.
Tudo que eu mais quero quando chegamos em casa, é mergulhar no

corpo da Madeline. Tirar o vestido sexy que ela está usando, arrancar a
calcinha de renda e me deliciar com o sabor da bocetinha dela. Quero fazê-

la gozar na minha boca e depois sentir o meu pau dentro dela até eu não

aguentar mais. Mas, tudo vai por água abaixo quando passamos pelas portas
de vidro fumê.

Vovó está sentada no sofá, tomando uma xícara de chá enquanto lê um

livro. Ela sorri quando nos vê e nos chama para fazer companhia.

Vovó, eu te amo, mas tudo que eu mais queria no momento é que a

senhora estivesse dormindo.

— Como foi no bar do Larry? — ela pergunta.


— A senhora conhece o Larry? — Madeline responde com outra

pergunta.

Vovó sorri ao fechar o livro e colocá-lo em cima da mesa de centro.

Em seguida, se inclina para pegar a xícara de chá e toma um gole generoso

antes de responder.

— Claro, ele é um amigo da família.

— Ah, sim — Madeline fala e troca um olhar secreto comigo. — O


bar dele é único.

— Não seja tão adorável, aquele homem tem um gosto esquisito —


retruca, roubando um sorriso meigo da garota de olhos azuis. Faço um

esforço muito grande para não ficar comtemplando Madeline. — Quer tocar

algo pra mim? — vovó pergunta ao notar atenção da neta voltada ao piano

em frente a grande janela de vidro.

— Posso?

— Claro.

Ela vai rumo ao piano e eu me sento ao lado da vovó, que engancha

um braço em mim e cruza as pernas. Observamos Madie abrir a tampa do

piano e sentar no banquinho acolchoado. A garota fecha os olhos por breves

segundos e desliza os dedos sobre os teclados, eles dançam de maneira

majestosa, dando vida a uma versão acústica de “Hotel Califórnia”. Fico


esperando a voz dela preencher toda a sala, mas Madie não canta. Apenas

toca, séria, compenetrada, absorta a tudo ao redor.

É incrível admirá-la tocando. Eu faria isso por horas sem problema

nenhum.

O final da música ganha um ritmo mais forte e ela mexe o corpo de

acordo com as notas, como se estivesse entregue a música. Como se ela

fosse parte da música. É tocante, algo lindo de se ver.

No fim da performance, vovó bate palmas animada e eu faço o

mesmo, sorrindo.

— Você é uma ótima pianista, querida — nossa avó fala, fazendo a

neta sorrir. — Deveria fazer disso sua carreira.

— A senhora acha? — ela quer saber.

— Tenho toda certeza.

Madeline sorri, iluminando a sala inteira. As duas começam uma


conversa animada sobre música e piano. Vovó sempre gostou de tocar piano,

mas depois que meu avô faleceu e ela assumiu os negócios, piano virou algo

vivo apenas nas lembranças e ela nunca mais teve coragem de tocar.

Embora meus planos de chegar em casa e fazer Madeline ir à loucura

tenham sido interrompidos, estou feliz de elas estarem juntas, trocando


experiências sobre piano e rindo. Vovó precisa dela também, e talvez, só

talvez, ela consiga se livrar da culpa de nunca ter ido atrás da neta.

— Temos um problema.

Paro no último degrau da escada e massageio minhas têmporas ao

ouvir Rosie do outro lado da linha. Consegui ignorar todas as ligações de

ontem, mas hoje, tive que atender ou minha agente seria capaz de brotar no
chão da sala.

— Qual?

— Savannah.

Respiro fundo e aperto com força o celular contra o ouvido.

— O que ela aprontou dessa vez? — pergunto e meio segundo

depois, a campainha toca.

— Tentei te avisar ontem, mas você não me atendeu. Não leu as

mensagens que eu mandei? Eu pedi pra você me retornar.


— Estava ocupado, não tive tempo de checar as mensagens — é o

que digo.

E é verdade, primeiro estava ocupado esperando Madeline se vestir

para sairmos, depois dirigindo, depois dançando de maneira sensual no meio

do bar, em seguida, no carro enquanto a fazia gozar. Naquele momento,

aquilo tudo era mais importante que retornar as ligações de Rosie ou

verificar as mensagens.

Arrasto meus pés até a porta e abro. Paraliso ao ver Savannah à

minha frente, sorrindo e segurando uma mala grande. Não consigo dizer nada

e nem reagir, e ela aproveita o momento para se jogar nos meus braços.

— Senti tanta saudade de você, Tony. Por favor, me abrace de volta

ou vai ficar estranho.

Encerro a ligação com Rosie e seguro Savannah pelo pulso para

afastá-la de mim.

— O que está fazendo aqui? — questiono quando encontro a minha

voz. — Que porra você está fazendo aqui?

— Sua mãe me ligou assim que Freda saiu em lua de mel. Ela disse

que eu podia passar uns dias aqui... com você.

Contraio a mandíbula e prenso os lábios. Eu vou matar minha mãe.

O que aquela mulher tem na cabeça? Não é possível que acredite mesmo que
um dia, Savannah e eu vamos casar. Merda, isso nunca vai acontecer. Prefiro

morrer sozinho.

— Você não pode ficar, vá embora.

— Tony, que modos são esses? — a culpada por toda essa situação

ridícula fala ao surgir na sala. — Ela é convidada. Minha convidada.

Savannah dá um gritinho estridente e joga as mãos no meu pescoço

de novo, pousando beijos cheio de gloss na minha bochecha. Com a


paciência esgotada, saio de perto dela e contenho a vontade de pegar essa

mulher pelo braço e colocá-la para fora de casa.

Olho para minha mãe e balanço a cabeça de um lado para o outro.

Ela não mudou nada e acho que nunca vai mudar. Mamãe continua não se

importando com a minha opinião ou com que eu quero. Ela só quer fazer as

coisas do jeito dela, como se fosse dona do mundo. Ou pior, dona de mim.

— Qual é o seu problema, mãe? Você quer me afastar de novo? —

pergunto e ela fica sem jeito. — Depois de tudo que passamos?

— Eu achei que fosse uma boa ideia ter a sua namorada por perto.

— Ela não é minha namorada. Ela não é nada — retruco e a vejo

engolir em seco. — Você não mudou nada, mãe.

— Você tem que superar, Tony — ela diz como se fosse a solução de

todos os meus problemas. — Não pode deixar o fantasma de Cassie estragar


toda a sua vida. Tem que seguir em frente e pra isso acontecer, precisa se

permitir e namorar alguém.

Meu Deus, minha mãe não sabe nada sobre mim. É claro que eu

fiquei no lixo quando descobri a traição do meu irmão e Cassie. Eu me

joguei no trabalho e fugi de compromissos sério com o sexo oposto por um

tempo. Não queria me entregar a nenhuma outra mulher. E é claro que ainda

machuca pensar na Cassie e no papel de otário que eu fiz, mas se minha mãe

acha que preciso namorar Savannah para seguir em frente, ela não sabe de

nada. Além do mais, não se trata só disso. O problema não é Cassie, o


problema é todo o resto.

— O fantasma de Cassie? Acha mesmo que só se trata disso? —

retruco em um tom áspero.

— Sim. Jordan traiu você, tudo bem, ele é jovem. Jovens fazem

burrices. Ela não foi nenhuma santa de qualquer forma.

Rio com sarcasmo.

— O problema não é só Jordan ter me traído, mãe. O problema é que

você agiu como se eu fosse o culpado por separar Cassie de Jordan. Ela era
minha noiva, a mulher com quem eu queria casar e você ficou do lado meu

irmão, agindo como se meus sentimentos não importassem. Mas surpresa,


mãe, meus sentimentos importam.
— Não é isso, só que eles eram apaixonados...

— Já chega, mãe! — interrompo-a. — Não quero mais ouvir você. É

sempre a mesma coisa. Isso cansa e eu cansei.

— Tony... — ela começa a falar, mas quando seu olhar cruza com o
meu, fica quieta.

— Mãe, pare de fingir que se importa comigo. Eu não vou casar com

a Savannah e não vai ser você que vai me fazer mudar de ideia.

Saio de perto das duas e vou rumo ao meu quarto. Encontro Madeline

no último degrau, observando em silêncio toda a droga dessa confusão. Ela


abre um sorriso fraco para mim e dá um passo para trás para que eu passe.

— Madie...

— Tudo bem, Tony.

Sem pensar muito, pego Madeline pelo braço e a arrasto até o

terceiro andar. Só paro quando estamos em frente ao meu quarto. Ela tem os
olhos vidrados aos meus e parece tão triste por mim. Com certeza escutou
cada palavra da discussão com a minha mãe.

— Eu sinto muito — fala baixo. — Vai ficar tudo bem, Tony. — Fica

na ponta dos dois pés, envolve os braços no meu pescoço e me abraça forte.
Contorno sua cintura com as minhas mãos e a aperto forte contra o corpo.

Solto um suspiro longo e cansado.


— Eu conheço minha mãe, ela não vai deixar Savannah ir embora e
eu não quero ficar na mesma casa que ela.

— O que você vai fazer? — Madie quer saber.

Abro a porta do quarto e nós dois entramos. Procuro minha mala no

closet e encho de algumas roupas, Madeline observa tudo em silêncio. Ela


tem os braços cruzados e os benditos seios apontados para mim. Quando a

vejo assim, a primeira coisa que me vem à cabeça é de agir como um homem
das cavernas e jogá-la na cama e esquecer de toda porra que aconteceu

minutos atrás.

— Vou ficar no clube.

— Ah — sussurra, decepcionada.

Sorrio.

— Não fique triste, meu bem, ainda vamos nos ver.

— Quem disse que eu estou triste? — retruca.

Madeline, Madeline, nunca dá o braço a torcer. Por que isso me


deixa louco? Às vezes, ela parece uma gata selvagem, implorando para ser
domada por mim. Confesso que vou amar quando puder amansar essa

gatinha.

Ela deixa os braços caírem sobre o corpo e passa as mãos no vestido


praiano com estampa de pequenas flores vermelhas. Não parece em nada
com a garota da noite passada. Eu adoro. Adoro todas as versões de

Madeline. Quero todas elas na minha cama, gemendo meu nome enquanto
chega no orgasmo. Quero pegá-la de quatro, de cabeça para baixo e fazer

todas as posições da kama sutra.

Depois de terminar a mala, dou passos decididos na direção de

Madeline. Ela não recua e os olhos não deixam os meus. Seguro a sua nuca
com as duas mãos, enfiando os dedos entre os cabelos negros e lisos, puxo-a

para mim e a beijo. Nossas línguas se enroscam, enviando ondas eletrizantes


para o meu pau. Mordisco o lábio carnudo dela antes de encarrar o beijo

com um selinho.

Se continuasse, eu não conseguiria resistir ao ímpeto de jogá-la na


minha cama e afundar a minha cara na bocetinha dela e sugá-la até meus

lábios ficarem dormentes.

— Vamos nos ver hoje de noite?

— Sim — ela sussurra com a respiração ofegante. — Onde você

quer ir?

— Hum, quer conhecer o iate da família?

Madeline se afasta um pouco de mim e noto que seus olhos estão


arregalados em espanto e a boca entreaberta.

— Sério?
Confirmo com um aceno de cabeça e os lábios dela esticam em um

sorriso doce. Volto a segurar seu rosto e faço carinho nas bochechas coradas
antes de depositar um beijo na testa pequena de Madeline.

— Nos vemos depois.

Dou alguns passos para trás e pego a mala. A garota

metaleira/pianista parece triste por eu ter que passar uns dias fora. Se ela
soubesse como estou arrasado também. Já estava me acostumando a vê-la

todos os dias de manhã e passear com os meus olhos pelas curvas deliciosas
do seu corpo.

Suspiro.

Tudo bem, será só enquanto a Savannah estiver por aqui. Preciso dar
um jeito de tirar essa mulher de vez do meu pé. Já esgotei todas as maneiras

que sei de dar uma fora em alguém. Savannah parece ser blindada e nada que
eu digo consegue abalar o seu emocional.

Que mulher difícil.

— Se você ficar entediado no clube, pode me ligar — ela sussurra,


afastando meus pensamentos e me trazendo para o agora.

Sorrio de lado.

Se essa garota soubesse o que gosto de fazer quando estou entediado,


não estaria oferecendo companhia de tão bom grado.
— Madeline, Madeline, se oferecendo para me tirar do tédio? Eu
vou cobrar — digo, fazendo com que as maçãs do rosto dela corem mais

ainda. — Não sinta muita falta de mim — digo ao plantar um beijo no canto
da sua boca.

Saio do quarto, arrastando a mala escada abaixo, passo por Savannah


e minha mãe plantadas na sala, mas não digo nenhuma palavra. Falar com

elas de nada adiantará de qualquer forma, e eu quero preservar o que restou


da afeição que ainda sinto pela minha mãe.

Nós dois nunca vamos concordar com nada, mas ela sempre será

minha mãe e precisamos manter um relacionamento saudável. Ou pelo


menos, um pouco saudável.
Savannah é uma mulher insuportável.

Depois de eu falar que não a reconheço, a mulher ficou chocada. Ela


é atriz e pelo que disse, já protagonizou muitos filmes de ação e romance. E

graças a Deus, eu não vi nenhum. Mas Savannah parece não gostar disso.
Como assim, uma garota como eu, não conhece alguém como ela? A mulher

parece horrorizada com o fato.

Nem Alice consegue suportá-la. E se Alice, sendo Alice, não


consegue aturar a loira oxigenada, eu que não sou obrigada a ficar aqui

puxando saco de celebridade que eu nunca vi na vida.

— Ei, espera — Savannah pede e eu me sento no sofá de novo. Alice

já conseguiu fugir e me deixou sozinha com a cobra. — Amor entre feras? É

um filme bem famoso e eu fui protagonista.


Suspiro.

Não acredito que ela fez disso a sua missão de vida. Não seria mais
fácil aceitar que eu não vi nada?

Observo Savannah. Ela é bonita, tem um corpo de modelo de

passarela, se equilibra bem nos absurdos saltos de vinte centímetros. Os


seios dela são bem maiores que os meus e ela parece ser o tipo de mulher

que chama atenção por onde passa.

Mas porra, que mulher carente.

— Desculpa te decepcionar, mas não conheço esse também.

Ela respira fundo e assente, parecendo se conformar.

— Quero perguntar uma coisa.

— Vá em frente — digo.

— Você e o Tony são apenas amigos? — ela quer saber.

Bom, se deixar Tony de pau duro e permitir que ele me toque na parte

mais íntima do meu corpo até eu gozar, for considerado amizade. Nós somos

melhores amigos. É claro que eu não posso responder isso, então apenas

assinto.

— Eu vou me casar com ele — fala, e a única coisa que eu penso é

que ela vai ter que entrar na fila e se entender com Cassie. Não estava
parecendo que a ex-noiva de Tony desistiria dele tão fácil. Boa sorte,

garotas, tenho certeza que vocês não vão chegar em lugar nenhum.

E por que raios eu estou me sentindo tão confiante em relação a

Tony? Ele pode ser idiota o suficiente e cair nas garras de Savannah ou

voltar para Cassie. Será? Não. Ele não parece o tipo de homem que vai fazer

papel de bobo desse jeito.

— Você está me escutando? — Savannah chama minha atenção.

— Huh? Ah... — Finjo um sorriso. — Eu preciso sair, tenho um

compromisso importante — falo de uma vez. Levanto e vou quase correndo

na direção da escada. Não posso dar chances de ela abrir a boca de novo e

alugar meus ouvidos por mais uma hora.

Entro no quarto, pensando em Tony e tentando imaginar o que se

passou na cabeça dele quando ficou com Savannah. A resposta vem no

mesmo segundo: ela é bonita e gostosa. Deve ter isso. Não tem lógica. Ele

não parece o tipo de homem que ficaria com uma mulher tão carente de

atenção.

Assim que deito na cama grande e confortável, alguém dá uma

batidinha na porta. Espero em silêncio, rezando para não ser Savannah. A


última coisa que eu quero é ser melhor amiga dela e ouvir sobre os seus

planos de casar com Tony e construir uma família com três filhos.
— Posso entrar? — é Jordan.

Respiro fundo, aliviada.

— Sim.

Ele abra a porta e entra, sorrindo.

— Se escondendo? — Jordan quer saber.

Enrugo o nariz, fazendo careta.

— Tá tão na cara assim?

Jordan dá de ombros e fica de frente para mim, com as mãos enfiadas


na bermuda de surfista.

— Savannah é difícil.

— Eu sei, coitado do Tony — digo e me arrependo no mesmo

segundo. Fiz uma promessa silenciosa de não falar de Tony com Jordan e

vice e versa. O problema é entre eles e eu quero ficar de fora.

Mesmo que fique triste pelo fato de Jordan ter traído o irmão, não

tenho o direito de julgar. Meu Deus, eu sendo eu, não tenho direito nenhum
de julgar alguém. Estou atolada dos pés à cabeça de mentiras e segredos.

— Se já está defendo Tony, então vocês ficaram bem amigos nas

últimas semanas — resmunga com a cara amarrada. — O que ele disse sobre

Savannah? Que não tem nada com ela? Que foi um erro?
— Ele disse a verdade — digo, fazendo-o erguer as duas

sobrancelhas.

Jordan fica calado, meio carrancudo. E eu tento decidir se me meto

ou não nessa história. Resolvo me meter.

— Eu não tenho nada a ver com o que aconteceu entre vocês, mas eu
não vou conseguir ficar calada, então aí vai. — Fico em pé para ficar da

mesma altura dele, ou quase. — Vocês dois se amam e estão com raiva um

do outro. Parecem um casal que precisa de terapia.

— O quê?

— É isso mesmo que você ouviu.

Pronto, me meti aonde não fui chamada e não tem mais volta, mas que

se dane. Comecei, agora vou até o fim.

— Madeline, eu... — a frase dele morre.

— É claro que eu não consigo entender o motivo de você ter feito

isso com o seu irmão, mas está na cara que vocês dois ainda se amam.

Droga, vocês são família.

Jordan fica petrificado com as minhas palavras. Talvez, nunca

ninguém tenha falado que isso entre ele e o Tony não é apenas ódio puro. Os

dois estão apenas machucados e enviar flechas afiadas um para o outro deve

ser mais fácil que tentar perdoar as traições do passado. Porque se você
perdoa, você está disposto a colocar uma pedra no passado e esquecer de

verdade o que aconteceu. E parece que nenhum dos dois está preparado para

isso no momento.

— Eu me apaixonei por ela — diz com a voz tão baixa, que fico na

dúvida se escutei certo. Fico quieta, esperando que ele continue a falar. —

Foi um erro, eu sei. Eu era jovem e me apaixonei pela noiva do meu irmão.

Sou um fodido mesmo.

Jordan deixa os ombros caírem e senta na beirada da cama. Acabo

me sentando ao dele de pernas cruzadas. Solto um suspiro longo. Por que

homens bonitos são tão complicados? Devia vir um manual para que as

mulheres consigam lidar com todos os dramas sem grandes consequências.

— Se você se arrepende já é meio caminho andando.

Ele ri com desdém.

— Se acha que é meio caminho andando, é porque não conhece Tony

de verdade — retruca meio ranzinza. — Eu fiz de tudo para me aproximar

dele de novo, Madie. Eu pedi desculpas tantas vezes, tantas... mas ele não

queria me ouvir e construiu uma barreira entre nós. E eu cansei, por isso

somos assim, estamos sempre em pé de guerra.

— Eu entendo que esteja cansado de pedir desculpas ao seu irmão,

mas você ficou com Cassie por quanto tempo? — pergunto e ele encaminha
os olhos na minha direção. — Você enganou seu irmão por quanto tempo?

O corpo dele tensiona e contrai o maxilar ao me ouvir.

Entendo que seja difícil responder essa pergunta, mas alguém precisa

fazê-lo entender que não existe prazo de validade para essas coisas. Cada
um supera as mágoas de um jeito diferente. E para Tony pode ter sido mais

difícil, porque ele faria tudo pelo irmão e acabou com o coração partido por

causa dele.

— Um ano — murmura, envergonhado.

— Ele ainda está magoado, Jordan. Você era a pessoa mais


importante pra ele e depois, tudo desmoronou. Tenha paciência, eu acho que

você e o Tony vão ficar bem, um dia.

— Talvez.

Sorrio.

É impossível mensurar com palavras quanto tempo vai demorar para

eles resolverem os problemas e fazer as pazes, mas acredito que uma hora
ou outra isso vai acontecer. Eles vão ficar bem de verdade.

— Você gosta dele? — pergunta de repente, me fazendo sentir o

coração na garganta.

Dou uma risadinha nervosa, mas fico em silêncio.


Eu gosto de Tony? Não. Não tem nem um mês que estou com essa
família, como já posso gostar dele? Tudo bem que o beijo dele me deixa de

pernas bambas e o coração acelerado, e que eu gosto de passar o meu tempo


com ele, seja quando ele está me irritando ou me deixando corada, rindo ou

conversando bobagens, mas isso não significa que eu goste dele.

Ou significa?

Ai meu Deus, eu acho que eu gosto do Tony.

— Não gosto — é o que respondo depois de vários minutos em

silêncio.

— Estava pensando, não é? Se gosta de Tony ou não...

Levanto da cama e me afasto dele, rindo nervosa. Jordan me observa

com a expressão impassível e eu tenho vontade de arrastá-lo para fora do


quarto. Engulo em seco e olho para todos os lados, menos para ele. Tenho

medo de ser pressionada e acabar assumindo que eu gosto de Tony.

Droga, isso não deveria estar acontecendo. Me apaixonar por Tony é


errado. É errado, porque eu não estou sendo sincera sobre quem eu sou de

verdade. Ele não sabe nada de mim. E o pior, quando eu for embora daqui,
não vou poder voltar nunca mais.

Nunca mais.
E quando isso acontecer, um de nós vai ficar com o coração partido.
No fundo, eu sei que serei eu.

— Não queria que você tivesse se apaixonado por ele — Jordan

começa a falar, me tirando do meu devaneio.

— O que disse?

Jordan fica de pé, respira fundo antes de dar alguns passos até mim.

Ele fica tão próximo que consigo sentir seu hálito quente contra meu rosto.

— Quando eu te vi na cozinha, eu gostei. Você é diferente das garotas


com quem estou acostumado a sair. Mas, eu não sei, tem algo em você que

me atrai.

Com o coração batendo rápido, dou um passo para trás.

— A história não vai se repetir. Eu não sou a Cassie — eu digo antes


que meu cérebro filtre as palavras. É visível como Jordan fica triste com o
que escuta, mas assente. — Me desculpe, eu sei que ela é um assunto

delicado.

— Tudo bem, Madie. Não tem problema.

Jordan abre um sorriso melancólico e sai do quarto. Consigo levar ar

aos meus pulmões quando estou sozinha e caminho até a cama para me
sentar.

Meu Deus, que família intensa.


Como faço para sobreviver o próximo mês?
Tony veio me buscar na mansão. Ele nem entrou, esperou com o

carro do lado de fora mesmo. E eu saí do quarto sorrateira, com medo de


esbarrar na Savannah e ela começar todo aquele papo dos filmes de novo Ou

pior, falar sobre Tony.

— Nunca mais vai entrar? — pergunto ao entrar no carro e gesticular

com o queixo no rumo da mansão. — Você está fugindo e não se resolve as

coisas assim.

Tony bate no volante de leve e vira a metade do corpo para mim,

sorrindo com malícia e os olhos brilhando como faíscas.

— Você também parecia estar fugindo quando saiu — retruca, me

fazendo revirar os olhos.


— Situações diferentes. Savannah alugou meu ouvido por mais de

uma hora. Falou dela, dela, dela e que vai casar com você.

Tony finge estar sentindo calafrios e balança a cabeça de um lado

para o outro. Nós dois começamos a rir. Passo o cinto de segurança pelo

corpo e quando a faixa se acomoda entre os meus seios, acaba marcando e

ressaltando a comissão de frente e os bicos enrijecidos.

É claro que os olhos dele dançam pelos meus seios sem vergonha

alguma. Devia me incomodar o fato de Tony ser tão descarado, mas não. Eu

gosto. É bom ser desejada por ele.

Pigarreio e devagarzinho, as vistas dele buscam meus olhos.

— Não está usando sutiã — diz, umedecendo o lábio inferior e

fazendo latejar o meio das minhas pernas.

— É, quase nunca uso — é a minha resposta.

Tony suspira e morde o lábio inferior antes de me dá um sorriso

maroto. Leva uma das mãos até os meus cabelos soltos e coloca uma mecha

atrás da orelha, sem deixar meus olhos por nenhum segundo.

— Você me deixa louco. Não imagina o quanto e nem o que se passa

pela minha cabeça...

As minhas bochechas esquentam ao ouvi-lo. Deus, eu nunca vou me

acostumar com isso?


— Espero que tenha preparado algo inesquecível pra hoje à noite —

mudo de assunto. A última coisa que eu quero é que ele me seduza dentro do

carro estacionado em frente à mansão.

— Você vai gastar, Madie.

Tony pisca para mim e pisa no acelerador, subindo rua afora.

Chegamos à Destin, cidade vizinha em menos de vinte e cinco

minutos. Ele estaciona o carro perto de um Resort e eu me surpreendo ao ver

no nome da família Humphrey estampando a fachada. Abro a boca para

questionar Tony, quando ele é mais rápido ao dizer:

— Vovó é dona desse clube.

— Hãm?

Tony passa as mãos nos cabelos e coça a nuca de leve, rindo sem

jeito.

— Ela não queria que nossos pais tivessem concorrência — fala e eu

arregalo os olhos, espantada. — É, eu sei. Vovó não pega leve — emenda.


Direciono as vistas para o prédio de quinze andares. Meu Deus,

como deve ser bom ser rico.

Surpreendo-me ao sentir Tony entrelaçar os dedos nos meus e me

puxar com carinho para caminhar. Não consigo impedir meus lábios de

sorrirem. Vamos até um píer perto do Resort, onde tem várias barraquinhas

coloridas e pranchas empilhadas para alugar.

Um homem que tem idade para ser meu avô, usando chapéu de

pescador e colete marrom, se aproxima de Tony com alegria. Os dois trocam

um abraço e o homem diz que está tudo pronto. Ele me cumprimenta com um

sorriso e dá alguns passos para o lado, abrindo espaço.

— Esse é o iate da família — Tony sussurra contra meu ouvido,

enviando ondas eletrizantes para minha espinha e meneia com a mão para o

fim da passarela de madeira do píer.

Se meu queixo não fosse uma parte do meu rosto, ele teria caído no

chão. O iate é enorme, de tirar o fôlego. Nem em sonho imaginaria ver um de

perto. O design do iate é moderno, há poderosas linhas externas que se

entendem em direção à popa. A cor predominante é branca, mas os detalhes

em preto realçam e harmonizam tudo.

É incrível, algo sofisticado, mas que ao mesmo tempo dá a sensação

de ser simples e um lugar acolhedor.


Tony volta a entrelaçar nossos dedos e juntos caminhamos pelo píer.

De maneira protetora, ele coloca uma das mãos na minha cintura para

subirmos as escadas até dentro do iate. É impossível não ficar admirando o

interior. É tudo tão moderno e lindo demais para descrever com palavras.

— Bem-vinda a bordo — Tony fala quando entramos no salão

principal do iate. Sem aviso, ele deposita um beijo delicado no meu pescoço

e me arrepia a espinha. — Gostou?

— Eu viveria aqui sem problemas — comento e ele ri. — É incrível.

O cômodo é enorme, cabem umas dez pessoas sem esforço. As

paredes são claras com detalhes em azul marinho, tem um sofá branco e fofo

com grandes almofadas, mesinha de centro com flores frescas, mesa de

jantar em vidro preto com lugar para oito pessoas com lustre de cristais no

teto.

É perfeito.

— Vamos ter uma noite especial hoje — diz, e o pensamento de que

ele deve ter trazido muitas garotas aqui para impressionar me invade à

cabeça. — Que cara é essa?

— Fico pensando em quantas festinhas particular você deu aqui.

Tony, que tinha se afastado de mim, volta a ficar perto. Envolve as

mãos na minha cintura e cola seu corpo trincado ao meu. Não diz nada,
apenas aproxima o rosto e abocanha minha boca, enroscando a língua na

minha e mordiscando meu lábio inferior. Uma de suas mãos vai subindo

pelas minhas costas até chegar na minha nuca, onde ele entrelaça os dedos

nos meus cabelos e puxa de leve.

Apenas um beijo e eu já estou molhada. Doida para que ele me toque

de novo e me faça sentir aquelas sensações maravilhosas da noite passada.

— É o iate da família, nunca usei o lugar para o meu bel-prazer —

sussurra contra meus lábios e eu respiro fundo, tentando me recompor.

— Uhum — é a única coisa que digo.

Tony pega a minha mão e me arrasta até a cabine do iate, que também

é enorme. Tem sofá nas laterais, mesa de jantar e uma jacuzzi redonda na

parte que não é coberta. Não quero nem imaginar quanto custa um iate

desses.

O que mais me surpreende é ver Tony sentando na cadeira

acolchoada da cabine do piloto como se fizesse isso há anos.

— Você sabe pilotar essa coisa?

A única coisa que ele faz é me dar uma piscadela junto de um sorriso

malandro, que eu já tanto adoro.


A ideia de jantar em alto mar foi com a melhor das intenções. Queria

fazer algo especial com Madeline, um momento divertido com um leve toque
de aventura. Talvez, eu não sei, uma noite inesquecível. Mas, confesso que

está sendo difícil não sentir o corpo inteiro entrar em combustão, quando a

vejo dando pulinhos de alegria ao admirar as luzes pequenas da cidade à


nossa frente assim que ancoro o iate em alto mar.

E porra, ela com esse vestidinho curto, com decote tomara que caia,

que a essa altura do campeonato, eu estou rezando para que caia tudo, fode
com a minha cabeça. Só consigo pensar em avançar nela, arrancar o vestido

do copo pequeno, lamber cada centímetro de pele e enterrar meu rosto entre

as pernas de Madeline, enquanto ela geme meu nome.

Droga, estou de pau duro.


— Vou preparar o jantar — é o que digo ao me virar para esconder a

ereção e descer da cabine e ir rumo à cozinha do iate.

Da mini adega de vinhos, eu pego uma garrafa e encho uma taça.

Tomo um gole generoso de vinho tinto, na esperança que meu corpo acalme e

consiga se comportar durante a noite.

Não demora muito para ela vir se juntar a mim e eu só posso

agradecer a ilha da cozinha por nos separar e cobrir minha ereção, que ainda

não me deixou. Madeline senta na banqueta e apoia os cotovelos no balcão,

sorrindo.

— Advinha no que eu estou pensando? — pergunta.

— Em tsunami? — é a primeira coisa que vem à minha cabeça, e a

risada que ela solta ao ouvir minha resposta, faz o meu corpo relaxar e eu já

começo a me sentir confiante de novo em não parecer um tarado na frente

dela.

— Sem tsunamis. — Revira os olhos, depois sorri. — Nunca pensei

que você fizesse o tipo romântico. Um jantar em alto mar? Antony Humphrey,

sua máscara de riquinho babaca está caindo. O astro de Hollywood que

odeia comédia romântica fazendo algo romântico.

Minha vez de girar os olhos.


— Eu não posso apreciar um bom jantar em alto mar com uma garota

bonita? — retruco e ela enruga o nariz para mim. — O que você quer beber?

— Viro o corpo em direção a geladeira e abro. — Temos suco de laranja e

refrigerante.

— Quero vinho.

— Claro.

Pego uma taça de dentro do armário e sirvo Madeline. Ela bate de

leve a taça na minha em um brinde silencioso.

Quando começo os preparos do nosso jantar, Madeline oferece

ajuda, mas eu nego. Mesmo carrancuda, ela volta a sentar na banqueta e me

observa fazer tudo sozinho. Ao notar que a garota vai passar os próximos

quarentas minutos calada, eu pergunto se ela já pensou em seguir carreira

como pianista.

Madeline parece ponderar se deve ou não me contar, mas acaba

falando que nunca passou pela cabeça ser uma grande artista, mas que

gostaria de trabalhar como pianista no futuro, talvez dando aulas.

Começo a bolar planos de como posso ajudá-la com a carreira de

pianista. Ela é muito talentosa, talvez só precise ser lapidada e apresentada

às pessoas certas. Faço uma nota mental de conversar com Rosie depois.
Não faço a mínima ideia de onde isso tudo vai nos levar, não quero

nem imaginar quando minha avó descobrir o que está acontecendo, mas que

se dane, estou louco por ela e vou até o fim. Ou até onde Madeline me
permitir.

— Uau — ela diz quando termino de pôr a mesa no salão principal.

Para o nosso jantar, eu preparei medalhão de filé mignon com redução de

vinho e aligot com brie. — Está com cheiro delicioso.

Sorrio.

Depois de jantarmos, subimos até a proa do iate, um espaço amplo

com sofá confortável e solário.

— Esse iate é maior que a minha casa — comenta ao sentar no sofá.

Olho-a por alguns segundos tentado decifrar se ela está encantada ou

pensando que a nossa família é muito exagerada.

Bem, se for a segunda opção, não posso culpá-la. Nossa família é

mesmo exagerada. Quando vovó quis comprar o iate, insistiu que fosse

enorme, porque queria que coubesse toda a família Humphrey. No fundo, nós

sabíamos que ela só queria uma desculpa para ocupar a cabeça e não pensar

no fato de ter perdido o meu avô e o tio Logan no mesmo dia em um acidente

de carro.
Foi difícil quando ela se deu conta que nunca mais veria o marido e o

filho, eu cheguei a pensar que ela não fosse seguir em frente. Mas a vovó é a

mulher mais forte e determinada que eu conheço. Conseguiu superar o luto,

caiu de cabeça nos negócios da família e ficou bem.

— A lua é tão bonita daqui — ela fala, varrendo meus pensamentos

para longe. Madeline está com a cabeça escorada no encosto do sofá e olha

para o céu azul escuro. — Eu amei tudo aqui, mas é tão frio — resmunga

quando uma brisa passa por nós e bagunça os seus cabelos.

Coloco minha taça de vinho em cima da mesinha de metal fixa em

frente ao sofá e desço até o quarto principal para pegar cobertas. Meio

minuto depois, estou de volta e cubro Madeline com edredom quentinho.

— Obrigada — fala baixo e fica me encarando por uma fração de

segundos até que noto as bochechas corarem. Fico tentado a perguntar o que

se passou pela cabeça dela, mas resolvo ficar quieto. A noite está indo bem

e não quero estragar as coisas entre nós.

— Quer voltar pra casa? — pergunto.

Tudo bem se ela quiser voltar, mesmo que eu esteja com uma vontade

incontável de possuir Madeline e fazê-la gemer meu nome até gozar, vou

levá-la para casa em segurança. Não estou acostumado a esperar tanto para

ter uma mulher, mas confesso que é até gostosa a tensão sexual entre nós.
Ela não diz nada, apenas se inclina sobre a mesa de metal e pega a

taça de vinho, toma um gole generoso e depois a coloca no mesmo lugar.

Tenho uma surpresa boa quando Madeline vem sentar no meu colo,

levantando boa parte do seu vestido branco e deixando as belas coxas

visíveis. Respira ofegante e prende os olhos aos meus, parece decidida e

tímida ao mesmo tempo.

Ela rodeia meu pescoço com os braços e aproxima o rosto para me

beijar. Perco a linha do raciocínio assim que a língua dela invade a minha

boca e me envolve em um beijo quente e molhado com gosto de vinho tinto.

Minhas mãos passeiam pelas coxas e se acomodam na bunda,

roubando um gemido entrecortado de Madeline, que continua a me devorar

com um beijo. Aperto-a com vontade, sentindo minha ereção latejar entre as

pernas dela e o desejo carnal de me afundar dentro dessa garota me

consumir.

Afasto nossas bocas só para beijar seu queixo e morder de leve, e

depois, passar a língua pelo pescoço, enquanto ela joga a cabeça para atrás e

geme de prazer.

É tão bom vê-la assim, tão entregue a mim, sem barreiras. Me


permitindo ser o primeiro homem que vai estar com ela. Eu gosto disso, de

ser o primeiro de Madeline. Ser o primeiro que vai mergulhar nesse corpo e

levá-la à loucura.
As mãos pequenas procuram a barra da minha camisa e quando

encontram, ela levanta o tecido até passar pela cabeça. Seus olhos dançam

pelo meu abdômen e ela se inclina sobre mim, e aos poucos, vai depositando

beijos molhados sobre o meu corpo. Minha ereção contra seu ventre lateja

mais ainda. Acho que nunca quis tanto estar dentro de uma mulher, como eu

quero estar dentro dessa garota pequena.

Ela é diferente de todas as mulheres com quem eu estou acostumado

a ficar. Madeline tem um estilo único, é respondona, meiga, decidida e

sempre fica vermelha quando eu digo alguma coisa com segundas intenções.
E eu adoro todas essas coisas nela. Me fazem querer conhecê-la melhor e
fazer com que fique do meu lado por muito tempo.

Eu estou louco, mas é isso, estou apaixonado por ela. E não quero
nem pensar em todos os problemas que vou enfrentar por isso. Só quero que
Madeline seja minha esta noite.

— Tony — ela arfa, mordendo o meu queixo e se esfregando contra o

meu pau. — Eu quero você — emenda com um sussurro.

Volto a devorá-la com a boca, enrolando as nossas línguas e


chupando seu lábio inferior. Ainda com ela no meu colo, levanto e no mesmo
instante, Madeline entrelaça as pernas na minha cintura, sem afastar a boca

da minha. Aos beijos e lambidas, desço da proa até o quarto principal do


iate. Coloco-a em cima da cama, cobrindo seu corpo com o meu, nossos
olhos se prendem e ela respira ofegante. Sem dizer nada, começo a
desabotoar o seu vestido, feliz de o fecho ser na frente e poder olhá-la

enquanto a dispo. Ela eleva os quadris um pouco para eu puxar o tecido e


jogá-lo longe, e arfa quando encho sua barriga com beijos e vou descendo

até a bocetinha coberta de seda.

Porra, eu quero muito sentir o gosto dela.

Volto a fazer um rastro de beijos pela barriga lisinha e paro entre os

seios, que parecem chamar por mim. São tão lindos, empinados e redondos.
Uma obra de arte. Agarro um com a mão e aperto, e no outro, passo a língua

no mamilo rosinha antes de abocanhá-lo e começar a sugá-lo. Ela envolve as


mãos nos meus cabelos e geme meu nome. Isso me deixa louco, minha ereção

lateja de ansiedade para se enterrar dentro dessa garota. Roço os dentes de


leve no mamilo enrijecido antes de começar a chupar o outro seio. É tão

bom, que eu ficaria horas aqui. Madeline deixa um gritinho de prazer


escapar e se contorce na cama.

— Você tem um gosto doce. Garotas não deviam ter gosto assim —
sussurro e ela prende os olhos aos meus, extasiada.

Afundo meu rosto em seu pescoço e vou subindo com lambidas até o

lóbulo da orelha, mordo de leve e volto a fazer caminho com a boca sobre o
seu corpo quente. Deixo um rasto de beijos e lambidas pela barriga, e à

medida que vou chegando na bocetinha, a respiração dela fica ofegante.


Levo as mãos até as laterais do seu quadril e enfio alguns dedos no cós da
calcinha de seda e desço o tecido até passar pelos pés.

— Você nua é ainda mais linda do que eu imaginei. E meu bem, você

não sabe o quanto pensei nisso.

Começo a dar pequenas lambidas nas pernas de Madeline, subindo


até entre as coxas e quando mordo de leve a sua virilha, ela geme alto.

Com as mãos, afasto mais as pernas dela e os seus olhos focalizam


os meus, parece ávida pelo meu toque. Droga, eu estou ansioso também para

me deleitar com o gosto de Madeline. Primeiro, passo a língua de leve entre


as virilhas, fazendo-a choramingar de mansinho. Sem pressa, começo a

lambê-la e assim que a minha língua desliza bem em cima do seu clitóris, ela
eleva o quadril mais para mim no mesmo segundo em que contrai o corpo de

prazer.

— Tony, isso, assim... — geme.

E eu continuo a sugá-la com delicadeza. É tão bom, essa garota tem

um gosto viciante.

Ela abre mais as pernas e agarra meus cabelos, puxando-os de leve


enquanto choraminga o meu nome. Porra, é incrível ouvi-la chamar por mim

na cama, me deixa louco de tesão.


— Tony, por favor — suplica ao puxar meus cabelos. — Isso é tão

bom.

Madeline olha para mim sobre o véu de luxúria e parece gostar de

me ver aqui, entre as duas pernas. Ela morde o lábio inferior, fazendo meu
pau latejar de tesão. Continuo a chupá-la, é bom e eu vou aproveitar cada

minuto que ela me deixar desfrutar.

As pernas dela começam a tremer e ela joga a cabeça para trás, deixa
escapar um grito entrecortado e eleva um pouco o quadril para mim,

facilitando o meu acesso. Enfio o dedo do meio na abertura quente e úmida


de Madeline e começo a penetrá-la ao mesmo tempo em que coloco o seu

clitóris inchado dentro da boca.

Não demora muito, e ela goza. Mesmo depois de tê-la feito chegar no
clímax, continuo lambendo, me deliciando com o seu gosto doce.

— Você tem um gosto viciante, garota.

Saio de entre as pernas dela e vou subindo na cama como um leão


faminto. Os olhos dela buscam os meus e quando se encontram, noto que

ainda está em êxtase. Tem as maçãs do rosto vermelhas e a respiração


compassada. Sem dizer nada, envolvo-a em um beijo com gosto de sexo. As
mãos pequenas dela passam pelo meu corpo até encontrar o cinto da calça.

Madeline parece ansiosa para me despir. Tudo bem, eu quero isso também.
Afasto-me dela e saio da cama para descer com a calça junto da

cueca, o meu pau aponta para ela, que parece desejá-lo tanto quanto ele
deseja estar dentro dela. Subo na cama de novo e assim que fico em cima

dela, sinto as suas mãos tocarem meu membro duro.

Porra, é tão gostoso. As mãos quentes e pequenas dela passeando,


desejando o meu pau. Vou ficar louco.

— Tony, eu quero você — diz ela com um sussurro.

— Delícia.

Estico o braço sobre a cama e alcanço a primeira gaveta da cômoda


ao lado, e peço em silêncio para que tenha preservativo. Respiro aliviado

quando encontro alguns pacotinhos dourados. Rasgo a embalagem com os


dentes e deslizo a proteção sobre o pau. Madeline observa todos os meus

movimentos com a respiração acelerada e arfante.

Volto para cima dela e com ajuda do joelho, faço com que abra mais

pernas. Cruzo o nosso olhar e quando Madeline leva as mãos até o meu
rosto, sei que tenho permissão para continuar.

Devagar, vou enfiando o meu pau dentro dela, que escorrega com

facilidade. Ela está tão molhada, que tenho que me lembrar de ir como
calma. Aos poucos, me aprofundo mais e a sinto tensionar o corpo.
— Tudo bem, Tony. Está tudo bem, pode continuar — ela sussurra
quando paro de me mexer.

Penetro mais fundo, sentindo o quanto é apertada. Meu pau lateja


dentro dela e eu tenho que me segurar para não ir com tudo. Madeline

estende as mãos para segurar meus braços e abre mais as pernas,


favorecendo a minha passagem. Ela fecha os olhos e morde o lábio inferior,

reprimindo um grito.

Paro de mexer e focalizo os seus olhos azuis.

— Tudo bem? — quero saber.

— Uhum — murmura.

— Fale a verdade — peço.

— Dói mais do que eu imaginava — admite, escondendo o rosto no

meu peito. — É diferente.

— Quer que eu pare?

Madeline ergue o rosto para mim.

— Não, não quero.

— Tem certeza? — insisto.

— Sim.

Recuo um pouco o quadril e em seguida, me lanço para frente com


um movimento firme, preenchendo-a, enquanto ela aperta com força os meus
braços. Fico parado por alguns segundos, esperando permissão para
continuar.

Madeline puxa meu rosto para um beijo, me dando a autorização que

preciso. Volto a recuar o quadril e invisto devagar, tornando a preenchê-la.


Dessa vez, ela relaxa o corpo e suspira ao mesmo tempo em que passeia com

as mãos pelas minhas costas.

— Tony — ela geme meu nome. — Assim é bom...

Volto a arredar o quadril e então, afundo nela, arrancando outros

gemidos de prazer. Fecho os olhos e continuo com as investidas, enquanto


solto um grunhido de excitação. Começo a aumentar o ritmo dos meus

movimentos e ela se agarra em mim, me puxando contra o corpo pequeno e


quente.

— Caralho — rosno.

— Você tá perto de chegar lá?

— Sim — sou sincero. Madeline é tão apertada e eu estava tão louco

para me enterrar dentro dela, que não falta muito para eu gozar. — Tudo
bem?

— Sim, continua.

Ela ergue o quadril no mesmo momento em que leva as pernas até a


minha cintura, entrelaçando-se em mim, e o melhor, encaixando de forma
perfeita com os meus movimentos.

— Nossa... — eu gemo. — Você é tão apertadinha. Porra, isso me


deixa louco, Madie.

Coloco a mão entre nós e esfrego o seu clitóris com o polegar, ela
parece aprovar meu contato, pois eleva mais o quadril para mim, enquanto

estremece.

— Ah, isso, Tony — arfa ao agarrar meus braços com mais força.

Sinto-a tremer debaixo dos meus braços e então, eu perco o controle.

Aumento minhas investidas e continuo a tocá-la. De repente, um ruído


irrompe dentro de mim e meu corpo fica imóvel por alguns segundos antes
de me afundar nela de novo e gozar.

Mesmo que eu queira ficar dentro da garota, eu sei que não deve ser
tão prazeroso para Madeline como é para mim. Por isso, eu saio de dentro

dela com cuidado e desço da cama para dar um jeito na camisinha antes de
voltar a afundar no colchão.

Observo-a por um longo segundo.

— Como está se sentindo?

— Dolorida — responde, me roubando uma risada. — Sinto que


você me partiu ao meio — acrescenta e depois, ri também.

— Me desculpe.
Madeline lambe o lábio inferior e nega com a cabeça.

— Você foi cuidadoso, Tony... romântico. Obrigada — murmura,


levando as mãos pequenas até o meu rosto e me puxando para mais perto

dela até que nossos lábios roçam de leve um no outro.

— Você quer gozar de novo? — pergunto, sugestivo.

As bochechas dela ficam ruborizadas ao ouvir minha pergunta.

— O que você vai fazer?

— Te chupar — murmuro, me arrastando até o fim da cama. Abro


mais as pernas de Madeline para mim e a olho por uma fração de segundo

antes de enterrar o rosto no seu ponto de prazer.


Abro os olhos e sinto raios de sol no rosto. Espreguiço-me e meus

braços vão de encontro com um homem de quase um metro e noventa de


altura ao lado. Sento na cama e admiro Tony dormir. Ele está com o peitoral

trincado exposto e tem as coxas grossas e malhadas de academia para fora

do lençol, que cobre apenas a cueca e a ereção matinal.

As lembranças da noite passada me invadem como um tornado. Sinto

o rosto inteiro formigar, mas sorrio. Passar boa parte da noite sendo levada à

loucura por Tony, vai entrar para lista dos melhores dias da minha vida.

Perder a virgindade foi diferente do que eu imaginava. A primeira

vez não é exatamente muito confortável, só que Tony, além de saber o que
faz, foi cuidadoso e se preocupou comigo.

E claro, tê-lo entre as minhas pernas é incrível também.


Surreal.

Estou cogitando acordá-lo para mais sexo, quando minha barriga


ronca alto. Estou morrendo de fome. Suspiro. O sexo com ele vai ter que

esperar. Levanto da cama de fininho e ao passar pelo espelho de corpo

inteiro da suíte, noto que estou nua. Abro o guarda-roupa e procuro algo para

vestir, fico contente quando encontro um roupão branco. Coloco no corpo,

amarro na cintura e caminho até a cozinha sem fazer barulho.

Já na cozinha, começo a vasculhar os armários e encontro pó de café

e pão, na geladeira, ovos e bacon. Ligo a cafeteira e começo a preparar ovos

com bacon em uma frigideira antiaderente. Enquanto cozinho, cantarolo


baixinho "Come As You Are" do Nivarna.

— Eu poderia me acostumar com isso, acordar com você cantando

— Tony diz, silenciando a minha voz. — Por favor, continue.

Meus olhos vão até ele, que está escorado no batente da porta,

usando apenas cueca boxer, com os braços cruzados, o peitoral sexy e as

coxas de fora. Mordo o meu lábio inferior e me lembro de respirar. Ele

passa as mãos entre os cabelos desgrenhados de um jeito atraente e parece


fazer isso em câmera lenta. Não consigo desviar, então continuo secando

Tony.

— Você está gostando da visão? — pergunta, me provocando.


— Sim, muito — respondo rápido e quando dou conta das palavras

que saíram da minha boca, volto atenção para o bacon na frigideira.

Tony vem até mim e senta na banqueta, me analisando. Sem pedir

permissão, ele estica o braço e desfaz o laço do roupão, fazendo meu

coração acelerar. Sorri quando vê que estou nua.

— Também gosto dessa visão — comenta e procura meus olhos. —

É uma visão tentadora. Me dá vontade de lamber, morder, chupar tudo.

Abro a boca para falar, quando me dou conta de que o bacon

começou a queimar. Solto um palavrão e Tony ri no mesmo instante em que

vem para perto de mim e fica de frente para o fogão.

— Vá sentar — ordena, mas eu só sento depois de fazer um laço no

roupão de novo.

Claro que estou doida para senti-lo dentro de mim outra vez. Só de

pensar nisso, sinto o meio das minhas pernas latejar de desejo. No entanto,

meu estômago está roncando e eu preciso comer.

Tony prepara outro bacon e logo coloca em dois pratos com ovos,

serve café e se acomoda ao meu lado. Ele não para de me olhar e parece tão

feliz, que fico me perguntando no que ele está pensando.

— Eu me meti num problemão — articula de repente, me deixando

de boca escancarada.
— O quê?

— Eu acho que não consigo me manter longe de você, Madie — fala,

partindo meu coração. — É loucura, não é? Mas só consigo pensar que eu

quero você.

Suspiro ao engolir em seco. Faço um esforço absurdo para sorrir.

Não quero que ele note o quanto estou triste com as palavras que disse. Eu

também quero ficar com ele, mas não posso. Quando o verão acabar, eu vou

embora e ele nunca mais vai saber de mim. Vou partir o coração dele e o

meu também.

Mesmo que eu tenha burlado minhas próprias regras ao me envolver

com Tony, vou aproveitar cada segundo ao lado dele.

— Podemos passar o dia aqui? — é o que pergunto.

Tony me dá um sorrisinho safado.

— Você quer ficar?

— Não usamos a jacuzzi ainda — sussurro e bebo um gole generoso

de café quentinho, olhando Tony por cima dos cílios.

— Ai, Madeline, você vai acabar comigo — é o que diz, me

arrebatando um sorriso.

Ah, Tony, acho que você vai acabar comigo primeiro.


Depois do café da manhã, nós vamos para a jacuzzi. Ela é espaçosa,

cabe seis pessoas e tem acabamento de vidro com uma espécie de madeira

escura.

Não trouxe biquíni, então, tiro o roupão e entro pelada mesmo na

banheira de hidromassagem com água borbulhante. Ainda é estranho e novo

ter essa intimidade com alguém, mas gosto da forma como os olhos de Tony

passeiam pelo meu corpo, fazendo a pele queimar inteira.

Ele vem para jacuzzi também, não sem antes, é claro, tirar a boxer e

entrar pelado. Respiro fundo com a visão do astro de Hollywood sexy e

gostoso completamente nu na minha frente.

Quem diria que um dia eu teria uma visão dessas?

Sinto uma comichão dentro de mim, o que me faz morder o lábio

inferior com muita força.

Focalizando os meus olhos, Tony se aproxima de mim e não consigo

reprimir o gemido de escapar entre os meus lábios ao senti-lo agarrar minha


cintura e me colocar sentada no seu colo.

Os lábios dele se curvam em um sorriso lascivo.

Mesmo que na noite passada, nós tenhamos feito muito mais do que

agora, as minhas bochechas queimam de vergonha. Com o polegar e o

indicador, ele segura o meu queixo e conecta os nossos olhos.

— Nervosa?

Engulo em seco.

— Você me deixa nervosa — admito, roubando um sorriso sexy dele.

— Não sou tão experiente como as outras mulheres e sei lá, às vezes, eu

sinto que não sei o que estou fazendo — acrescento, com um sussurro.

— Você é perfeita, Madeline.

E ele beija abaixo da minha orelha, enviando ondas elétricas pelo

meu corpo todo, me fazendo contrair de prazer. Tony trilha a língua pelo meu

pescoço, sobre a veia pulsante e eu solto um suspiro.

O corpo de Tony é quente, duro e mesmo assim, aconchegante.

Apesar de não merecer, eu gosto de estar em seus braços, sentada no colo

dele, enquanto ele prova a minha pele.

Ele se move, apertando a ereção contra o meu ventre à medida que os

lábios buscam os meus. A boca dele contra a minha, enquanto enrosca as

nossas línguas, envia faíscas prazerosas para o meio entre as minhas pernas.
De repente, os dedos na minha cintura se apertam e Tony me coloca

sentada na borda da jacuzzi. Devagar, aproxima o rosto da minha barriga e

trilha beijos quentes pela pele, me fazendo gemer e arquear o quadril.

Tony se inclina sobre o meu colo e abocanha um seio, passando a

língua no mamilo duro. Enterro as mãos entre os cabelos dele e puxo com

vontade, arquejando de tesão.

Depois de brincar com o meu mamilo, ele vai para o outro e fica um

tempo ali, desfrutando com a língua, enquanto eu suspiro.

Ele se curva um pouco, ficando com o rosto de frente para o meu

sexo, e então, com as duas mãos, Tony me faz abrir as pernas para ele.
Devagar, desliza um dedo entre as minhas dobras, me tocando de leve,

esfregando o clitóris com o polegar.

— Gosto de como você fica molhada — grunhe.

— Tony... — gemo, inclinando o quadril para ele.

E então, Tony se posiciona entre as minhas pernas e abaixa a cabeça.

Respiro fundo, ansiosa. Ele mergulha o rosto no meu sexo e eu gemo alto ao
sentir a língua na minha abertura, me percorrendo inteira.

Olho para baixo ao mesmo tempo em que coloco uma perna em seu

ombro, me abrindo ainda mais para ele. Nossos olhos se encontram e eu fico
com vergonha, excitada com a mesma intensidade.
Gemo.

— Você é deliciosa — murmura, o hálito quente contra o meu clitóris

em chamas, me deixa toda estremecida.

A língua precisa e certeira de Tony, encontra o meu ponto sensível e


eu puxo os seus cabelos, gemendo. Ele continua brincando com a parte

delicada do meu corpo, me fazendo jogar a cabeça para trás e fechar os


olhos, aproveitando cada segundo da boca dele em mim.

Tony me suga, me lambe, grunhe entre as minhas pernas, que

começaram a ficar trêmulas.

— Isso, goza pra mim — Tony rosna, a voz vibrando no meu clitóris.

Ele impele a língua para dentro da minha fenda enxarcada e eu não

consigo mais controlar as sensações do meu corpo, que parece querer entrar
em combustão. Arqueio o quadril na direção do seu rosto e aperto os olhos

com força, enquanto eu chego ao clímax e gozo na boca de Tony.

— Eu adoro o seu gosto — o astro de Hollywood murmura e eu


apoio os cotovelos na madeira fria para olhá-lo.

Ele volta a me lamber.

Por mais doido que seja, o gesto consegue me deixar ainda mais
excitada, mesmo estremecida do orgasmo que acabei de ter.
— Tony... — chamo, fazendo-o erguer os olhos para mim. — Quero
sentir você dentro de mim — falo e a voz parece ter saído de outra pessoa.

Sem hesitar, ele sai de dentro da banheira de hidromassagem e me

pega no colo, me levando até o sofá e me deitando no móvel. Como em modo


automático, encaixo de maneira perfeita as pernas no tronco de Tony,

sentindo a ereção me cutucar.

Acabo soltando um gemido entrecortado, que o paralisa.

— Vem — é o que digo, rodeando o pescoço de Tony com os braços

e o puxando para um beijo apaixonado e com o meu gosto impregnado na


língua dele. — Só quero você — assumo contra os seus lábios.

Enterro no fundo da mente todas as mentiras que venho contando

sobre mim e me concentro em Tony.

Em nós.

Por mais que eu saiba que nada entre nós vá a algum lugar e que

estamos fadados a não ficarmos juntos, quero Tony.

E no momento, é a única coisa que importa.


No final da tarde, ao voltarmos para mansão, fico surpresa ao saber

que a vovó e Jordan tiveram que ir à Los Angeles para resolver problemas
de negócios. Infelizmente, Savannah ainda não foi embora.

— Vocês não acham que é suspeito chegarem juntos depois de uma

noite e quase um dia inteiro fora? — Betsy pergunta ao entrar na cozinha e eu


me engasgo com o gole de água que acabei de tomar. Tony e eu estávamos

conversando sobre a vovó, depois que Mary nos informou que ela saiu a
negócios, mas voltaria até o final dessa semana.

— Não acho não — Tony responde junto de um dar de ombros.

Betsy semicerra os olhos, como alguém que quer se adaptar a falta de


luz e vem até mim. Prensa os lábios e fica examinando o meu rosto, depois

se direciona a Tony e faz o mesmo. E por fim, dá um soco no braço dele com
força e em questão de segundos, recua a mão rápido, abanando e

resmungando de dor. Tony não move nem um músculo.


— Vocês transaram — fala enquanto sacoleja a mão e assopra, e eu,

é claro, volto a me engasgar. — Fique calma, garota — ela pede.

Tony coça a nuca e respira fundo, livre de qualquer paciência.

— Betsy, se não for pedir muito, não quero falar sobre a minha vida
sexual com você — ele resmunga e abre a geladeira para pegar uma

longneck.

— E como vai ser isso? Apenas uma noite de sexo? Ou serão como

Jordan e Alice? Ou pior, vocês estão apaixonados? — pergunta, me fazendo


tossir de novo. Eu tenho respostas para todas essas perguntas, mas não posso

dizer em voz alta. Não posso, porque talvez, magoe Tony. Então, a única
forma de escapar de toda essa situação é sendo firme e não dar espaço para

comentários.

— Podemos não falar sobre isso? Não quero que minha vida sexual
seja pauta para a família inteira discutir — digo, surpreendendo Betsy. — É

a minha vida, não um espetáculo de circo.

Após ouvir minhas palavras, Betsy parece acordar de um sonho. É

ruim ser tão seca com ela, mas preciso disso. Não posso deixar todos esses
questionamentos mexerem com a minha cabeça. Ou pior, com a cabeça de

Tony. O que vai acontecer se nos apaixonarmos? Vamos ficar de corações


partidos, porque eu não posso me dar ao luxo de ficar com ele.
Mesmo que eu queira.

E infelizmente, agora, eu quero muito.

— Me desculpe, Madeline.

— Tudo bem — falo e tento sorrir.

O celular de Tony toca e ele tateia o bolso da calça jeans até tirar o
aparelho. Verifica o nome na telinha e atende sem se afastar de nós. Escuta

quem quer que seja do outro lado da linha e concorda com algumas coisas,
resmunga uns palavrões e concorda de novo antes de desligar.

— Preciso falar com Savannah — ele diz, buscando meus olhos,

como quem diz “não se preocupe, não é nada demais”. Abro meio sorriso e
depois disso, ele sai da cozinha, me deixando sozinha com Betsy.

— Me desculpe se fui grossa — eu começo a falar e ela me encara.

— Não estou acostumada a ter tanta atenção sobre mim. Isso me incomoda
um pouco — resolvo ser sincera. — Não é nada com você.

Ela suspira e dá um sorriso triste para mim.

— Tudo bem, Madie. Eu sinto muito se fui invasiva, é que eu me


preocupo com Tony. Ele é um cara incrível e eu tenho medo que tenha o

coração partido de novo. Não por você, mas por toda essa situação. Acho
que você deve saber como é a vovó, ela não deixará que vocês fiquem

juntos.
Se ela soubesse que nem se a Elsiha permitisse nós dois ficaremos
juntos. Tony nunca me perdoará quando souber que eu menti e o enganei. Ele

vai me odiar e me querer a mil metros de distância. E tudo bem, eu vou


merecer. Mas pelo menos, vou conseguir pagar as dívidas hospitalares da

minha avó e ela vai continuar com os tratamentos.

E Tony, bom, com o tempo ele ficará bem e nem lembrará de mim.

— Não se preocupe, Betsy, ninguém sairá de coração partido —


minto. Está na cara que ela não acredita em mim, mas sorri e faz que sim

com a cabeça, em seguida, sai da cozinha e me deixa sozinha.

Respiro fundo e olho a piscina de borda infinita através das portas de

vidros, pensando no quanto estou ferrada. E me perguntando se talvez seja


melhor eu ir embora agora e arrumar outro jeito de ajudar a minha avó e

Meera.
Coloco a mala de Savannah no carro, aliviado por ela estar indo

embora. Tenho que dar a Rosie uma viagem com tudo pago para onde ela
quiser ir. O que me pedir, eu darei de bom grado. Só por ela ter me ajudado

a tirar Savannah do meu pé, merece o prêmio Nobel.

Ah, Rosie, eu te amo tanto.

Savannah conseguiu um papel para o qual já havia sido rejeitada.

Não sei como minha agente conseguiu essa proeza, mas sem dúvida, quando
se tem os contatos certos, é fácil de as coisas acontecerem. Mesmo que

Rosie tenha me prometido para algum filme ridículo que vou ter que passar a

maior parte das cenas com abdômen de fora e agir como um homem bonito e
idiota, minha paz mental agradece.

— Você não pode voltar também? — Savannah quer saber.


Fecho a porta do porta-malas com mais força que o necessário e paro

de frente para ela, estudando seu rosto. Ela não pode estar falando sério.

Meu Deus, ela está. Respiro fundo e pouso de modo respeitoso minhas mãos

sobre os seus ombros nus.

— Savannah Stone, minha querida — começo e vejo os olhos dela

brilharem. — Você é uma mulher bonita, tem uma carreira de dar inveja, é

inteligente o suficiente para saber que eu não sou a fim de você.

— Tony — murmura.

— Eu sei, sou um babaca. Me desculpe, mesmo que eu não lembre,

eu sei que levei você pra cama, caso contrário, não teríamos acordado

pelados no seu apartamento, no entanto, eu preciso que você acorde.

As narinas dela inflam e noto o maxilar contrair. É isso, consegui

deixar a mulher brava. De qualquer forma, é melhor ela brava comigo, me

atacando e querendo destruir minha vida a correndo atrás de mim

apaixonada. E nossa, sei como isso soa idiota até mesmo dentro da minha

cabeça.

— Me bata, me xingue, faça o que quiser comigo, mas não se iluda.

Nós dois não vamos ficar juntos. Você é linda, não precisa rastejar assim por

um homem.

— Cale a boca, Tony.


Assinto, mas abro a boca para falar mais alguma coisa, porém, sou

interrompido com uma bofetada no rosto. Tudo bem, eu mereço. Sou um

cretino, levei Savannah para cama e não lembro de nada.

Ela se vira e abre a porta do carro para entrar, em seguida, sai em

disparada. E eu fico pensando quanto tempo vai demorar para Savannah

começar a me torturar de novo. Não é a primeira vez que temos esse tipo de

conversa, mas a mulher não desiste. Estamos nessa há mais ou menos dez

meses e eu já dei tantos foras nela, que perdi a conta.

Parece que não entra na cabeça dessa mulher que não vamos ficar

juntos. Mas não é culpa dela, de qualquer maneira, tem a minha mãe, que

insiste em manter contato com Savannah e planejar um casamento que nunca


vai acontecer.

— Foi duro — meu pai fala, me assustando. — Pelo que sua mãe

falava, achei que você estivesse apaixonado por essa garota — acrescenta
com o cenho franzido, parece perdido em pensamentos.

— Eu nunca fui apaixonado por ela, mas a mamãe nunca me escutou


de qualquer forma. Não importa o que eu diga, ela vai sempre fazer o que

quiser.

Meu pai suspira, vem até mim e pousa uma das mãos no meu ombro,

apertando com força, como se quisesse me passar algum tipo de consolo por
eu ter uma mãe que não parece se importar com o que eu quero.

— Abigail é uma mulher difícil. Prometo que conversarei com ela.

Balanço a cabeça de um lado para o outro, negando.

— Obrigado, pai, mas não precisa. Quanto mais deixá-la a par das

coisas, mais a mamãe vai querer dar palpite na minha vida e para o desgosto

dela, eu não sou o Jordan — falo, tentando esconder o tom amargo ao tocar

no nome do meu irmão.

— Fico me perguntando se um dia vocês voltarão a ser amigos de

novo — comenta, procurando meus olhos. — É triste vê-los tão separados.

Forço um sorriso, mas fico quieto. Não sei o que dizer. É verdade,

ainda estou magoado por ele ter me traído e parece que sempre estou

batendo na mesma tecla. Eu o amava, daria minha vida por ele e Jordan me

apunhalou pelas costas. É difícil esquecer isso. No fundo, dói mais ter sido
traído por ele do que por Cassie. Mesmo que eu tenha a amado de verdade,

não compartilhávamos uma vida cheia de lembranças, mas Jordan, meu

irmão mais novo, que eu amava mais do que qualquer outra coisa,

infelizmente, não consigo superar.

É uma droga, mas é isso.

— Que tal um jantar? — meu pai pergunta, me puxando para entrar

em casa. — Você, eu e Madeline — continua de jeito sugestivo.


— Uau, tio, nem pensou em me incluir, não é? — Betsy fala da

escada, fingindo mágoa e com os braços cruzados na altura dos seios. —

Mesmo que eu more muito longe, vocês devem me incluir nos planos quando

estou por aqui — acrescenta de uma maneira dramática.

— Eu estava pensando em chamar você também, querida. — Ele vai

de mim para ela, envolvendo-a em um abraço apertado. — Não fique brava

comigo, sabe que é a minha sobrinha preferida.

Betsy faz cara feia, mas acaba sorrindo quando meu pai fica a

enchendo de elogios sobre como ela é a melhor pessoa da nossa família.


— Você tá brincando comigo, não é?

Encaro Isabel, que tem a boca escancarada, parece não acreditar nas
palavras que acabei de soltar sobre ela. Mesmo que eu saiba que o certo

seria manter segredo sobre perder a virgindade com Tony, não aguentei. Eu
preciso de uma amiga e por mais triste que seja, eu só tenho Isabel.

Minha vida em Augusta não era lá essas coisas, eu trabalhava para

conseguir dinheiro para contas hospitalares e despesas de casa e cuidava da


minha avó no tempo livre. Não tinha tempo para sair com a minha melhor

amiga do ensino médio, que com o tempo, acabou encontrando uma substituta

e me esqueceu como num piscar de olhos.

Vovó e eu conversávamos muito e mesmo com o atual estado dela,

não deixamos de fazer planos. Mas eu não podia ligar para minha avó e
contar a grande novidade sobre eu não ser mais virgem. Isso seria estranho

demais.

— Por favor, não me olhe assim — peço ao desviar do olhar

acusador dela. — Aconteceu.

— Aconteceu? — retruca, cética.

— Não é pra tanto, Isabel.

— Não é pra tanto? — devolve. — Você perdeu a virgindade com

um astro de Hollywood e como se isso não bastasse, ele é o seu primo — faz

questão de me lembrar.

— Eu sei — balbucio e decido colocar leveza na voz para aliviar o

clima. — Mas mesmo assim, não é pra tanto. Foi só sexo, não vamos tornar

isso uma novela dramática.

Isabel revira os olhos e bufa.

— Você não aprendeu nada com Jordan e Alice? Com os seus pais?
— ela pergunta.

Suspiro.

— Falando assim, parece que eu cometi um pecado capital —

resmungo.

— Você sendo uma Humphrey, cometeu mesmo — retruca e eu giro

os olhos, já arrependida de ter contado a ela. Talvez, Wyatt teria tido uma
atitude diferente. Ou talvez, ele me chamasse de louca e sem juízo. — O que

vai fazer agora? Vocês vão namorar?

— O quê? Quem falou em namoro?

Levanto da cama e vou até mesinha perto da varanda, pego uma uva

do bowl de vidro e jogo dentro da boca. Não demora para Isabel ocupar meu

lado e comer algumas frutinhas também. Ainda tem as sobrancelhas franzidas

desde que ouviu a novidade e eu não sei como fazê-las voltar ao normal.

— Você gosta dele — diz, me fazendo engasgar com a uva. Ela dá

batidas precisas nas minhas costas e eu recupero o fôlego. — Só pela

reação, eu sei que estou certa. Não precisa dizer nada.

Abro a boca para articular argumentos de como minha amiga está

errada, mas fico quieta. Eu gosto dele e ela já notou isso. Deus, o que eu

faço? Como arrancar os sentimentos de dentro do meu peito? Como tirar

esse homem da minha cabeça?

Sento-me na cadeira de frente à mesa e observo o oceano através das

janelas de vidro. Estou apaixonada por Antony Humphrey e não sei como

sair dessa situação complicada.

— O que vai fazer, Madie?

Respiro fundo.

— Não faço a mínima ideia — digo baixinho.


Isabel senta ao meu lado e estuda meu rosto. Quero dizer para ela

não perder o tempo tentando fazer isso, mas resolvo ficar quieta. Minha

amiga amarra os cabelos em um coque alto e relaxa os ombros, ainda


olhando para mim. Quando for embora, vou sentir falta disso. Vou sentir falta

dela.

— Só foi eu começar a trabalhar que você se entregou ao Tony

Humphrey — comenta, me roubando uma risada. No momento, parece que

Isabel é mais velha e está me dando bronca por eu ter metido os pés pelas

mãos. — Não se preocupe, pra tudo nessa vida tem uma solução.

Se ela soubesse que as únicas soluções da minha vida são: ir embora

e nunca mais voltar ou ser presa e apodrecer na prisão. E nenhuma dessas é

o que eu quero.
Eu deveria estar tentando encontrar maneiras de me manter longe de

Tony, meu primo de mentira, mas em vez disso, estou aqui, deitada junto dele
na cama grande do seu quarto e olhando o teto, enquanto respondo as

perguntas que ele inventou de fazer para me conhecer melhor.

Já falei algumas verdades sobre mim, como o nome do meu primeiro


cachorro de estimação, o nome da minha ex-melhor amiga e de ter

trabalhado em uma espelunca como pianista.

— Quero perguntar algo — digo, fazendo Tony apoiar o cotovelo na

cama e segurar o rosto, virando para mim. Ele assente, em silêncio. — O que

aconteceu com você depois da Cassie? Digo, você virou um desses caras

que tem repulsa a compromissos e por isso, tem uma mulher diferente na
cama a cada dia da semana?

Assim que fecho a boca, eu tenho a leve sensação de que não deveria
estar perguntando esse tipo de coisa. É invasivo, pessoal demais. Talvez, ele

não queira falar sobre o que aconteceu depois de ter o coração partido.
Tony ri. Graças a Deus, pelo menos ele está rindo da situação.

— Bem, vejamos — fala ao estreitar os olhos, parece com alguém


que está buscando algo no fundo da mente — Os primeiros seis meses foram

os piores, eu acho. Me joguei de cabeça no trabalho e não queria pensar em

nada. — Respira fundo e prensa os lábios. — Depois, fui ficando bem. É

claro que eu fiquei com um pé atrás em relação a compromissos, mas não

significa que não tenha namorado. Eu tentei, duas vezes para ser mais
específico, mas não deu certo. Então, decidi me divertir com as mulheres

que quisessem o mesmo que eu. Lógico que algumas colocavam na cabeça

que me mudariam, nunca deu certo.

Assinto.

— É bom saber que você não faz o tipo de homem que saiu por aí

partindo corações, embora esteja escrito na sua testa “fuja, eu sou um

problemão”. — Faço aspas com o dedo indicador e do meio, arrebatando


uma risada contagiosa de Tony. — Por que está rindo?

— Você é engraçada, eu gosto.

Sorrio.

Tony me puxa contra o corpo e eu enrosco um dos braços na sua

cintura, ele deposita um beijo cheio de ternura na minha testa, me fazendo

suspirar e me sentir mais culpada ainda.


Com as pontas dos dedos, ele puxa meu queixo e eu o olho. Sem

dizer nada, aproxima a boca da minha e me envolve com os lábios e língua,

acendendo a chama na parte mais íntima do meu corpo. Tony fica por cima

de mim, abrindo as minhas pernas com o joelho e me fazendo gemer contra a

sua boca.

As mãos salientes passeiam pelas laterais do meu corpo até

encontrar a barra do vestido, que aos poucos, vai sendo levantado até a

cintura e depois, passa a peça pela minha cabeça. Com um movimento hábil,

ele arrasta a calcinha até os pés e depois joga longe. Tony fica me olhando
como se eu fosse a coisa mais fascinante do mundo.

— Você linda desse jeito, nua na minha cama, não sei se mereço —
fala ao trazer o rosto para perto de mim e morder de leve a curva do meu

pescoço. Um gemido escapa da minha boca e Tony enche as mãos com um

dos meus seios, esfregando com o polegar meu mamilo enrijecido. — Você

gosta?

Assinto e engulo em seco. O rosto queimando que nem o resto do

corpo. Queimando de vergonha, tesão.

— Vamos ver se você já está molhada, meu bem — fala baixinho.

Molhada? Eu sinto que estou encharcada. Suspiro quando sinto a mão grande

e quente de Tony deslizar pela minha barriga e se alojar bem no meio das

minhas pernas. Focalizando meus olhos, ele leva um dedo até a minha
abertura úmida e penetra de mansinho, me fazendo morder o lábio inferior

para reprimir um gemido alto. Sinto outro dedo dentro de mim e dessa vez,

arqueio os quadris na direção da mão dele. — Você está bem molhadinha. —


Tony começa a fazer movimentos circulares no meu clitóris, me levando à

loucura.

Choramingo quando sinto ele afastar a mão de mim.

— Tony, por favor — eu imploro. O que exatamente? Não sei bem,

talvez que ele continue me tocando ou que me chupe. Ou tudo junto.

— O que você quer? — pergunta com um sorrisinho sexy nos lábios.

Ai, Deus. É isso, ele vai me fazer falar. Tudo bem, apesar de sentir

vergonha, é excitante falar em voz alta.

— Que você me chupe — digo, mantendo os olhos dele presos aos

meus.

Tony parece satisfeito e já consigo notar a ereção contra a calça

jeans. Ele é grande, mas se encaixa de maneira perfeita em mim. Só de


pensar nele nu, minha boca se enche de água. Esse homem é um deus e é bom

saber que no momento, ele só tem olhos para mim.

— Tira a roupa — peço.

Ele sai de cima de mim e coloca os pés descalços no chão. Com os

olhos presos aos meus, passa a camisa pela cabeça e desafivela o cinto da
calça e desce junto da cueca boxer. Massageia o membro ereto e grosso que

aponta para mim, me fazendo morder o lábio inferior.

Tony vem com tudo para cama, cobrindo o meu corpo com o dele. É

um leão faminto e eu adoro vê-lo assim, quase um homem primitivo, que é

capaz de me devorar. Começa mordendo o meu queixo e eu jogo a cabeça

para trás, gemendo. Devagarzinho, ele faz uma trilha de lambidas até o meu

umbigo e sinto a minha respiração ficar ofegante. A língua dele vai descendo

até o meu sexo e quando o sinto brincar com o meu clitóris, choramingo.

Ele faz um ótimo trabalho com a língua, é macia e ao mesmo tempo,

precisa e me faz virar os olhos e querer mais dele. Mesmo que não tenha

esse direito, eu quero tudo que Tony tem a me oferecer.

Sinto as pernas começarem a tremer e ondas quentes dominarem o

meu corpo junto de um arrepio que começa nos pés e vai até o couro

cabeludo. Meu Jesus, estou prestes a derreter na boca dele. Eu vou gozar.

Tony continua com a brincadeira deliciosa com a língua e eu me entrego,

deixando que o prazer me atinja por inteira.

Respiro fundo, recuperando o fôlego e envolvo as duas mãos no seu

rosto e o puxo para mim. Apesar de eu amar vê-lo entre as minhas pernas,

quero dar prazer a ele também. Enrosco as nossas línguas e é tão bom sentir

o meu gosto na boca dele, como se estivesse marcado por mim.


Viro Tony e o faço deitar de costas para cama, fico em cima dele,

roçando de leve o seu pau contra o meu sexo. Ele abre a boca e deixa

escapar um gemido enquanto dança com as mãos pela minha cintura e

quadril. Inclino-me sobre ele e mordo o lóbulo da sua orelha antes de

começar a depositar beijos molhados sobre o peito trincado e vou descendo

até a barriga. A respiração dele fica mais forte quando passo do umbigo e

vou rumo ao seu pênis ereto, que parece chamar por mim.

Ele não tira os olhos de mim, está atento a cada movimento que dou.

Com uma das mãos, seguro seu pau e escorrego com a mão de cima para

baixo, roubando gemidos entrecortados de Tony. Umedeço os lábios antes de

deslizar a língua sobre a cabeça do pênis e cobri-lo com a boca.

Por alguns segundos, ele joga a cabeça para trás e geme. E nossa, não

imaginava que seria tão bom vê-lo entregue a mim, tão sublime. Continuo

com o movimento de cobri-lo todo com a boca e subir até o topo, passando a
língua, sentindo o gosto dele. É como chupar um picolé, mas com gosto de

sexo. E eu não fazia a mínima ideia de que iria gostar tanto disso.

— Caralho — sussurra, envolvendo as mãos entre os meus cabelos e

ditando o ritmo. — Porra, que delícia. — Ele continua a comandar e por

alguma razão, eu gosto de senti-lo com as mãos no meu cabelo, é bom.

Noto que Tony está a um passo de gozar, então aumento o compasso.

É delicioso, acho que peguei o ritmo.


— Madie, se você não parar, eu vou gozar — geme, olhando para

mim e eu o encaro por cima dos cílios, o fazendo morder o lábio inferior. —

Porra, eu vou... — Continuo firme, sem perder o ritmo e ele solta os meus

cabelos quando o seu corpo inteiro fica tenso por alguns segundos. E então,

ele goza na minha boca. É estranho, tem um gosto característico, levemente

adocicado e metálico. Mas é bom, porque é o gosto de Tony.

Ele toma meu rosto com as duas mãos e me puxa para um beijo,

nossos gostos se misturando e me deixando ainda mais excitada. Tony me

deita na cama de novo, começa mordiscar minha orelha e pescoço, enquanto


arqueio meu corpo contra ele.

— Eu preciso meter em você — grunhe e meu corpo arrepia com as

palavras dele. Tony estica o braço para a cômoda e tira um pacotinho de


camisinha. Sem que tenha pedido, eu pego a embalagem das suas mãos e
abro. Com a ajuda dele, deslizo a proteção sobre o pênis duro. — Você é tão

linda — fala com os olhos presos nos meus.

Um gritinho escapa da minha garganta quando o sinto pousar as mãos


firmes na minha cintura e nos trocar de lugar. Agora, ele está deitado com as

costas para cama e eu em cima.

— Monte em mim, delícia — diz.


E eu faço o que ele pede. Apoio-me em seus ombros e me abaixo
devagar, enquanto sinto as mãos dele no meu quadril. Prenso os lábios na

hora que sinto o seu pau começar a entrar lentamente na minha fenda. Isso é
tão bom, que faz meu corpo inteiro formigar.

Os olhos predadores de Tony me encontram e isso me excita mais.


Então, sento com um golpe só, me sentindo preenchida por ele. Dói um

pouco, mas é uma dor prazerosa. Nós dois gememos alto. Começo a cavalgar
em cima dele, ditando o nosso ritmo. Subo o quadril e volto a afundar com

mais força, sentindo o corpo de Tony contorcer de prazer debaixo do meu.

Cavalgando em cima de Tony, passo as mãos pelos meus seios,


conforme a necessidade vai crescendo, eu os aperto e jogo a cabeça para

trás, gemendo. De repente, sinto as mãos quentes dele na minha cintura e o


homem primitivo começa a ditar o nosso ritmo, que parece sintonizado com

os meus batimentos cardíacos.

Tony me levanta e abaixa repetidas vezes, estocadas rápidas e fortes.

— Caralho, você é muito gostosa — grunhe.

Sinto o orgasmo se aproximando de mim, meu Deus, que sensação

maravilhosa. Rebolo em cima do seu pênis, o deixando louco de tesão. Ele


aumenta o compasso, o que achei ser impossível.
— Tony, eu vou gozar — murmuro, sentindo ondas quentes e
eletrizantes tomarem conta do meu corpo.

— Isso, goza no meu pau, meu bem.

As palavras dele conseguem me acender mais ainda. Mordo o lábio

inferior com força à medida que sinto o clímax chegar. O corpo de Tony
arqueia ao mesmo tempo em que fica rígido, e eu sinto uma explosão de

ondas eletrizantes percorrer a minha pele.

E então, nós dois chegamos juntos ao ápice do prazer.

Depois que ele tira a camisinha e acerta no cesto de lixo próximo,

despenco o corpo sobre Tony, levando ar aos pulmões e esperando os


tremores do meu corpo diminuírem. Ele enlaça as mãos na minha cintura e

me aperta, mordiscando meu ombro de leve.

Afasto-me um pouco, apenas para encarar seus olhos azuis.

— Você vai acabar comigo — sussurra e sinto as mãos salientes

descerem até a minha bunda, apertando e me deixando excitada de novo. —


Tem noção de como você é gostosa?

— Você é mais — falo ao mordiscar de leve o queixo quadrado com

pouca barba. — É uma tentação para garotas como eu.

— Garotas gostosas como você? — retruca, me roubando um risinho.

— Tudo bem, eu não me importo de ser uma tentação pra você. Vou fazer
disso a minha missão de vida. Ser tentação pra minha garota

metaleira/pianista gostosa e de bunda linda.

— Você gosta da minha bunda? — pergunto. Não sei de onde veio a

coragem para falar esse tipo de coisa, mas estou gostando. É instigante. —
Gosta muito?

— É uma bunda deliciosa.

— Deliciosa como? — insisto, vendo o brilho depravado se instalar

nos olhos de Tony. — O que você quer fazer com a minha bunda deliciosa?

— Eu quero te comer de quatro — sussurra contra o meu ouvido e eu

solto um gemido baixo. — Você não tem noção de como eu quero fazer isso.

Mordo o lábio inferior, sentindo a excitação tomar conta de mim de


novo e a ereção dele contra as minhas pernas.

— Eu quero isso também.

Ao escutar minhas palavras, Tony abre um sorriso safado e invade a


minha boca com a língua num beijo ardente.
Madeline me dispensou hoje, porque é folga da Isabel e ela quis ficar

com a amiga. Claro que eu prefiro ficar enfurnado no quarto, sobre cama e
lençóis, enquanto trabalho com a boca em cada pedacinho do corpo da minha

garota metaleira, mas não tive outra escolha a não ser me conformar. Por

isso, estou jogando tênis com Wyatt, meu melhor amigo, depois de ter
desabafado sobre o que estou sentindo.

Após algumas partidas, o calor nos vence e caminhamos até a mesa

de madeira com guarda-sol. A menina que serve bebida no carrinho, se


aproxima. Ela pega duas cervejas do cooler, nossas preferidas, abre e

entrega para nós.

— Eu amo como você sempre lembra a minha cerveja preferida —

Wyatt diz, roubando sorrisos da garota.


Damos gorjetas e a garota vai embora no carrinho.

— Já conversou com o seu pai? — pergunto, tentando mudar o rumo


da nossa conversa. No momento, é mais fácil falar dos problemas dele.

— Não vem, não. Vamos conversar sobre você. — Ele senta na

cadeira de madeira e bebe um gole generoso da cerveja. — Eu fiquei calado


durante duas partidas inteiras — emenda, como se isso fosse muito.

— Não tem o que falar sobre mim, tudo que você tinha que saber, eu
já contei — resmungo.

Ele faz que sim com a cabeça.

— Verdade, mas eu ainda não falei.

— Falou sim, falou que eu sou doido — retruco e meu melhor amigo

ri.

— Doidinho de pedra — diz e a única coisa que faço é revirar os

olhos. — Você gosta dela? — ele quer saber, mas nem me espera responder.
— Você gosta dela — Wyatt tira as próprias conclusões.

Acho que a minha resposta e as conclusões dele não seriam

diferentes de qualquer maneira. Eu gosto da Madeline, não devia, ela é


minha família, mas não consigo mantê-la longe dos meus pensamentos, da

minha vida. Muito menos, da minha cama. Eu a quero e a única solução que

vejo é ir até o final com toda essa história.


— Sabe que a sua avó vai pirar, né? — comenta, depois de alguns

minutos em silêncio. — Nossa, ela vai ficar doida.

— Vou dar um jeito — é o que digo.

— Ah, é? Agora estou curioso. Qual o jeito? Me diz, quero saber.

Giro os olhos, pego a cerveja e tomo alguns goles, me refrescando.

Hoje está um calor dos infernos. Depois daqui, eu preciso cair na piscina e

esfriar meu corpo. Minha cabeça também.

— Quero levá-la comigo pra Los Angeles.

Meu amigo engasga com a minha resposta, em seguida, tem um ataque


de riso como se eu fosse a porra de um palhaço. Ergo uma das sobrancelhas

e o encaro, esperando que ele se acalme ou me diga alguma coisa.

— É, acho que você ficou louco de vez, Tony.

Suspiro, estou a um triz de perder a paciência.

— O que eu devo fazer, então? — Remexo na cadeira e tiro o boné,

colocando-o em cima da mesa. — Deixar Madeline voltar pra Geórgia,

fingir que nada aconteceu e encontrar com ela no verão do ano que vem? —
pergunto, carrancudo.

Wyatt dá de ombros e depois assente.

— É exatamente o que eu pensei — fala e eu fico decepcionado.

Esperava um pouco de apoio do meu melhor amigo. — Tony, meu amigo,


veja bem, sua avó não vai aceitar esse relacionamento.

— Você acha que eu não sei? — digo entre os dentes. — Mas eu não

quero ficar longe dela. Não consigo.

Wyatt respira fundo, endireitando a postura. Se inclina para frente,

apoiando os cotovelos nos joelhos e me fitando.

— Tudo bem, mas e Madeline? Ela quer ir com você? — ele quer

saber.

Abro a boca para responder, mas fecho um segundo depois. Nessa

parte, eu ainda não havia chegado. Ainda preciso conversar com ela sobre o

futuro. Preciso conversar rápido, ela vai embora assim que o verão acabar e

eu com certeza, não quero que ela vá para longe de mim.

— Não pode arrastar Madeline com você — fala, me trazendo para o

presente. — Não são assim que as coisas funcionam. Mesmo que você
queira ficar com ela, precisa pensar. A família Humphrey vai fazer acontecer

a terceira guerra mundial, tem noção disso? Vai ser um alvoroço daqueles.

Suspiro, deixando os ombros caírem. Ele tem razão, mas o que eu

faço? Mesmo ouvindo um trilhão de motivos para desistir dela, não é bem

por esse caminho que quero seguir. Quero tentar, mesmo que dê tudo errado

depois. Eu mereço tentar. Todo mundo merece.

— Mesmo com a guerra mundial, eu quero ficar com ela.


Wyatt sorri.

— Parece brincadeira, mas olha só, um homem desse tamanho, com


esse tanto de músculo, de quatro por uma garota. Faz tempo que não vejo

você assim — diz com um tom zombeteiro. — Meu amigo, sabe de uma

coisa?

Nego com a cabeça, respirando fundo e bebendo outro gole de

cerveja.

— Tony, você tá ferrado.

Estaciono o carro em frente a garagem fechada e antes mesmo de

descer, vejo minha mãe nos degraus da varanda. Levo ar aos pulmões,

implorando em silêncio por paciência. Desde Savannah, nós dois não

conversamos.

Para ser sincero, minha mãe e eu temos uma relação difícil. Quando

decidi que não queria assumir os negócios da família, ela ficou irritada.

Infelizmente, ela só me via como um herdeiro e uma poupança gorda de


dinheiro. Ela nunca achou que Jordan seria capaz de ser o que ele é hoje,

porque meu irmão sempre foi um playboy que gostava de se divertir e

esbanjar o dinheiro da nossa família. Foi uma surpresa e tanto para todos,

quando ele disse que queria trabalhar com a vovó. Minha mãe não colocava

fé no garoto. Agora? Ele é o filho preferido.

— Não pode passar o resto do verão me ignorando — ela fala assim

que coloco os pés na varanda. — Tony, estou falando com você — resmunga

quando fico calado.

Levanto o rosto e olho para ela, concordo com um aceno de cabeça.

— Tudo bem, mãe. Vamos ficar bem e tentar não brigar até o final do

verão. Consegue fazer isso?

Mamãe cruza os braços na altura do peito e assente, meio

contrariada.

Já estou acostumado com a nossa relação, mas no fundo, eu confesso

que gostaria que ela fosse diferente. Que se preocupasse comigo e me

apoiasse, que tivesse me dado apoio quando precisei. Mas agora é tarde

demais. Não podemos voltar no tempo e eu sou homem, não preciso mais

que ela fique do meu lado.

— O que está acontecendo entre você e aquela garota? — pergunta,

me impedindo de entrar em casa. — Eu a vi saindo do seu quarto ontem. De


madrugada — acrescenta as últimas palavras com um sussurro.

Engulo em seco ao contrair o maxilar. A última coisa que eu quero é

minha mãe se metendo na minha relação com Madeline. Está na cara que ela

não gosta da garota e pelo que a conheço, sei que pode interferir. Pode abrir

a boca e contar para vovó antes que eu tenha chance de fazê-lo.

— Mãe, por favor.

— Mesmo que ela não fosse sua prima, Madeline não está no seu

nível. Pelo amor de Deus, Tony, o que você viu nela? Deixou Savannah
escapar das suas mãos e preferiu aquela caipira?

Respiro fundo e sorrio com desdém.

— Mãe, você não sabe nada sobre ela — começo a falar,


controlando a vontade de explodir. — Por favor, não ouse interferir na minha

vida novamente, porque eu posso não ser muito maleável com a situação.

Ela solta uma risada seca.

— E o que você vai fazer? — retruca.

— Eu sei que sou uma decepção pra você, assim, como você é pra
mim. Eu respeito a nossa relação, porque você é a minha mãe. E é isso que

os filhos fazem, mas no momento em que eu achar que não vale mais a pena
continuar com isso... — Faço um movimento no ar com uma das mãos,
gesticulando de mim para ela. — Vou cortar todos os laços que eu tenho com
você. — Sorrio e ela fecha o rosto em uma expressão dura. — Nós dois
sabemos o quanto você, mãe, ama todo o luxo dessa família. No entanto, não

esqueça de como a família é importante pra vovó e por isso, eu nunca contei
a ela como você é de verdade. Não vamos complicar as coisas. Não se meta

na minha vida e eu continuo calado.

Mamãe engole em seco, contraindo o maxilar, está furiosa comigo.

Bem, estou furioso com ela também. Sem dizer nada, dá as costas para mim e
entra em casa, me deixando sozinho.

Passo as mãos entre os cabelos e relaxo os ombros. Claro que nunca

faria mal a minha mãe por mais foda que o nosso relacionamento seja. Eu
sou um idiota e seria capaz de sustentá-la até se meu pai resolvesse acabar

de vez com esse casamento, mas, não posso deixar que ela use Madeline só
por diversão.

Minha mãe gosta de brincar com as pessoas e eu até consigo aceitar

que ela faça o que quiser comigo, mas não com Madeline. É demais e eu não
posso suportar a ideia de vê-la sofrendo por causa dos planos diabólicos da
minha mãe.
Hoje é aniversário da Alice e como não podia ser diferente, ela vai

dar uma festa na mansão. Eu não fui convidada, é lógico. Não que ela tenha
dito isso com todas as letras, mas nós duas estamos longe de sermos

amigáveis uma com a outra, então, com certeza, a última pessoa que ela quer

na festa de aniversário, sou eu. Tudo bem, não estou a fim de ficar no meio
dessa gente rica.

Estou prestes a ligar o sistema de som, quando meu smartphone toca.

Pego o aparelho em cima da cômoda e vejo o nome de Meera saltitar na tela.


Sento na beirada da cama ao atender a ligação. O coração vacilante e

dolorido. Falar com ela se tornou uma das partes mais difíceis de toda essa

farsa.

— Oi.
— Oi, Skyler. Como estão as coisas? Aconteceu algo? — pergunta,

com uma certa preocupação na voz. — Alguém está desconfiando de você?

Franzo o cenho.

— Hãm? Não, por quê?

Ela respira fundo.

— Não é nada, relaxe.

É claro que aconteceu alguma coisa. Meera não me ligaria sem


motivos. Será que o nosso plano está perto de ser descoberto? Ah, Deus!

Espero que não. Embora eu esteja triste por enganar essa família, não posso

ter meu segredo revelado. Minha avó precisa de mim e se algo acontecer

comigo, ela não terá ninguém.

— Como a minha avó está?

— Quer a mentira ou a verdade? — retruca. Meera nunca foi muito

amorosa com as palavras. Acho que depois de apanhar tanto da vida, ela
aprendeu a ser assim.

— A verdade, é claro.

— Ela está piorando, Skyler — fala, partindo o meu coração. —

Precisamos que isso dê certo. — Respira fundo do outro lado da linha. —

Não posso perder meu filho. Eu não vou aguentar perder outro filho, Skyler.
Eu, eu, eu... estou contando com você.
Minha vez de respirar fundo. Não sei quem é mais lamentável de nós

duas. Eu, endividada com as contas hospitalares da minha avó, correndo

atrás de pagar tudo e ter dinheiro para comprar os remédios essenciais, ou

Meera, uma mãe perto de perder o filho para um câncer.

— Não se preocupe, vamos conseguir — é o que digo, sem ter tanta

certeza.

Meera é minha vizinha há quase três anos. Ela chegou em Augusta

com uma criança de nove anos, aparentemente, saudável. Tinha ficado viúva

pela segunda vez e também já tinha perdido uma filha para a meningite,

quando a garotinha tinha quatro anos.

Mesmo vivendo em uma casa simples, estava na cara que Meera veio

de família boa, mas ela nunca tocava no assunto. E eu nunca fiz o tipo

curiosa que gostava de se meter na vida alheia.

Nas noites em que eu precisava trabalhar no bar como pianista, ela

cuidava da minha avó. As duas se davam bem e eu confiava o suficiente para

deixar a minha avó sozinha com a vizinha.

Quando as dívidas apertaram e Meera não sabia mais o que fazer ou

a quem recorrer, procurou a tia rica, Elisha. É claro que ela não revelou o
verdadeiro motivo por ter entrado em contato depois de tantos anos, mas foi

sincera ao dizer que precisava da herança que Logan tinha deixado e ela
rejeitou no passado. Elisha aceitou, mas deu uma condição, que Madeline

passasse as férias de verão com a família Humphrey. Meera topou sem nem

piscar e no mesmo dia, bolou esse plano maluco de eu me passar pela sua
falecida filha e encontrar a família depois de dezenove anos.

Não aceitei embarcar nessa loucura logo de início, ela teve que

argumentar muito para me convencer. Segundo ela, não seria tão difícil, já

que eu me parecia com Madeline. E tinha certeza que no momento que Elisha

colocasse os olhos em mim, sentiria a necessidade de cuidar da neta

distante. E com essa farsa, Meera conseguiria a herança de Logan sem

complicações.

E cá estou eu, enrolada demais com toda essa loucura.

Depois da ligação com minha mãe postiça, tiro a toalha da cabeça e

seco os cabelos. Abro o guarda-roupa e encaro todas as roupas que Elisha

me fez comprar e me sinto uma pessoa horrível. Vasculho as gavetas e visto

o primeiro conjunto íntimo que vejo, sutiã meia taça e calcinha preta.

Tomo um susto quando Tony entra no quarto sem bater. Sinto meu

coração na garganta e me odeio por ter esquecido de trancar a porta. Os

olhos depravados passeiam pelo meu corpo e ele sorri, aprovando a visão.

— Eu adoro a vista daqui — diz ao fazer um “L” em cada mão e

focar em mim, como se estivesse me olhando através de uma câmera. Reviro


os olhos, mas acabo rindo. — É sexy e me deixa louco — emenda.

— O que você quer?

— Você — responde rápido.

Resolvo ignorar os olhares de Tony e procuro algo para vestir entre

as roupas que comprei com o dinheiro dessa família. Fico na ponta dos pés

para pegar uma peça de roupa que foi da minha mãe, quando sinto as mãos

dele na minha cintura e o rosto afundar no meu pescoço.

— Você tem um cheiro tão bom — murmura, enviando ondas

elétricas por todo o meu corpo. — Senti saudade.

Sorrio. Eu também senti falta dele, mais do que gostaria. Por que não

consigo acabar com isso de uma vez por todas? Não consigo ser forte o

bastante para afastá-lo de mim.

— No que você está pensando? — pergunta ao virar meu corpo e me

apertar contra ele. Envolvo meus braços no seu pescoço e falo a primeira

coisa que vem na cabeça.

— Não sei se é uma boa ideia eu ir à festa de Alice.

Vejo uma linha aparecer entre as sobrancelhas de Tony.

— Por que não?

Dou de ombros.

— Eu não fui convidada — retruco.


— Você é da família, não precisa de convite — diz como se isso

fosse o bastante. — Isabel e Wyatt estarão lá embaixo também, não se

preocupe — sussurra, levando uma madeixa atrás da minha orelha.

De mansinho, Tony encosta os lábios aos meus e isso faz com que eu

feche os olhos, à medida que sua língua invade minha boca com um leve

gosto de hortelã, eu sinto meu coração acelerar.

É um beijo tranquilo e doce. E é tão estranho como já me sinto

completa e segura nos braços de Tony.

Não estou com a mínima vontade de fazer parte do circo que está

rolando no andar de baixo da mansão, denominado como “Festa de

Aniversário da Alice”, mas Tony não me deixará ficar trancada no quarto a

noite inteira. Ele me fez prometer que descerei e aproveitarei a noite.

A sala continua impecável e linda, com decoração requintada e nada

de muito extravagante. Os sofás e a mesa de centro foram tirados e nem todas

as luzes foram acesas, o que dar ao lugar um ar de privacidade. Música pop


rola dentro da casa, me dando a sensação de que meu coração palpita no

ritmo das batidas eletrônicas.

Há várias pessoas na sala, dançando e beijando na boca como se a

qualquer momento o mundo fosse acabar. Não conheço ninguém, mas elas

parecem não se importar com a minha presença. Ótimo, odiaria ter holofotes

em mim esta noite.

— Estava me perguntando que horas você desceria — Isabel fala ao

me enlaçar em um abraço apertado. — Vamos beber até cair hoje, ok?

Ela está usando um vestido lindo de seda que marca bem as curvas e

os seios. Os cabelos estão soltos, ressaltando os cachos loiros. Usa um


batom vermelhão e bastante máscara de cílios.

Rio.

— Alice vai ficar doida quando nos encontrar aqui — digo no seu
ouvido. Ela revira os olhos e dá de ombros. — Ela pode pirar de vez, não

está preocupada?

— Na verdade, não. Eu sou acompanhante do Wyatt e mesmo assim,


Alice não ousaria estragar a festa dela.

Assinto.

Isabel tem razão, mas isso não me impede de começar a rezar em


silêncio para ser invisível aos olhos da loira chata. Não quero discutir e
explodir com Alice a ponto de mostrar que meus chutes são muitos certeiros.
Será um caos se a aniversariante levar uma surra na própria festa de

aniversário. Ah, Deus! Não quero nem pensar.

— Vem, vamos beber alguma coisa — ela fala ao me puxar pelo

braço. — Cadê o Tony? — pergunta com um grito ao me olhar por cima do


ombro.

— Não sei, por aí — respondo, mas não tenho certeza se ela escutou.

Encontramos Wyatt na cozinha. Não consigo impedir meus lábios de

repuxarem num sorriso. Aproximo-me para envolvê-lo em um abraço e me


surpreendo ao senti-lo me levantar do chão. A festa mal começou e ele está

meio bêbado.

— Você demorou, pensei que teria que subir e te arrastar —

resmunga ao me colocar no chão de novo.

Quando ouço uma risada masculina, que me dou conta de que Eric
está sentado na banqueta. O homem de cabelos e olhos escuros com sorriso

de covinhas também parece alto.

— Vocês já beberam quantas?

— Quem está contando, Madeline? — é Wyatt que retruca, me

fazendo suspirar.
Isabel vai até a geladeira e pega duas cervejas, abre e me entrega
uma. Os meninos se juntam a nós em um brinde. Bebo metade da cerveja de

uma vez. Bom, se é para ficar bêbada e me divertir, vamos começar.

Depois de algumas cervejas na cozinha, nós quatro nos direcionamos


à sala. Os meninos sentam no sofá e nós duas iniciamos uma dança bem

provocante ao som de uma música sexy que eu não conheço. Isabel segura
minha mão e me gira algumas vezes antes de me puxar contra o corpo e

cairmos na gargalhada.

— Lá vem o homem das cavernas — ela diz e gesticula com o queixo


para algo atrás de mim.

Olho por cima do ombro e vejo Tony se aproximando. Mesmo que eu


já tenha me entregado a ele e tenhamos feito coisas que eu não sei se tenho

coragem de falar em voz alta, sinto meu coração palpitar rápido por causa
dele.

Depois de cumprimentar os meninos, Tony estende a mão na minha

direção. É estranho ver um homem como ele caidinho por mim, mas é muito
bom também. Não pensei que eu fizesse o tipo de alguém, mas fico feliz de
estar enganada.

— Quer dançar comigo?


Sem dizer nada, entrelaço nossos dedos e ele me puxa contra o

corpo, me roubando um gemido baixo. Os garotos e Isabel soltam gritinhos


animados e eu sinto meu rosto formigar.

“Hardly Wait” da Juliette Lewis preenche a sala e sinto as mãos dele


passearem pela minha cintura e descerem até mais embaixo ao compasso das

batidas da música. Os pelinhos do meu corpo se arrepiam com o toque de


Tony e eu tenho que me lembrar de respirar.

— O que você está fazendo? — pergunto ao levar minhas mãos até o

seu pescoço e manter os nossos corpos ainda mais colados. — Não estamos
sozinhos aqui.

Tony transforma os lábios convidativos em um sorriso lascivo e eu

não consigo me impedir de sorrir também.

— Eu sei — sussurra, provocativo.

Ele foca as vistas nos meus lábios e eu abro a boca de leve,

esperando por um beijo quente e que vai me deixar de calcinha molhada,


mas o que acontece em seguida, me faz perder as estribeiras. Tony me vira

em um movimento ágil e me aperta contra o corpo. Começamos a nos


movimentar de um lado para o outro, no ritmo da música, é lento e intenso na
mesma medida.
A voz sensual da Juliette Lewis canta “Diga ‘anjo, venha’. Diga

‘lamba meu rosto’. Deixe seus sonhos caírem. Eu farei esse papel. Eu
abrirei minha boca para comer seu coração. Mal posso esperar.”

As mãos salientes dele continuam a passear pelas laterais do meu

corpo, depois se cruzam na minha cintura e sobem até a altura dos seios.
Suspiro, ansiando pelo toque, mas Tony desce com as mãos mais uma vez.

Ao sentir a ereção dele contra as costas, o meio entre as minhas

pernas lateja de desejo. Fecho os olhos e deixo que ele afunde o rosto no
meu pescoço e morda minha orelha de leve.

Gemo baixinho.

Tony me vira de novo e nossos olhos se prendem em meio a


escuridão. Ele continua a me conduzir, o corpo colado ao meu e me deixando

louca de tesão. Traz o rosto para mais perto e nossos lábios se encostam.
Basta um pequeno movimento com a língua para que eu abra a boca e me

permita envolver com o beijo dele.

Quando as nossas línguas se enroscam, eu não consigo pensar em

mais nada. Os pensamentos evaporam como num passe de mágica. Eu só


sinto o tesão crescer dentro do corpo e a vontade incontrolável de tirar a

roupa.
— Tony? — alguém chama mais alto que a música. Nós dois nos
afastamos ofegantes e ao olhar no rumo da voz, me surpreendo ao ver

Cassie. Parece que toda vez que Tony e eu resolvermos fazer uma dança
sensual, essa mulher vai brotar do chão. — Ela não é a sua prima? —
pergunta e eu odeio o fato de ela saber quem eu sou.

— Eu deveria saber que você apareceria por aqui — ele resmunga e

recua um passo para trás, fazendo meu corpo sentir saudade do calor dele.

— É claro que eu viria... — retruca e resolve fingir que eu não estou


aqui. — Alice é uma das minhas melhores amigas.

O quê? Alice e Cassie melhores amigas? Por essa, eu não esperava.

Olho Tony, no entanto, ele está com a atenção focada em Cassie, que parece
uma deusa de tão linda. Vendo de fora, os dois parecem fazer um casal
perfeito e isso entristece o meu coração.

— Você não é bem-vinda aqui — ele rosna.

— Isso é o que você diz — Cassie rebate e morde o lábio inferior.

Tony me olha por uma fração de segundo, planta um beijo na minha

bochecha e se afasta de mim, puxando a ex-noiva pelo braço casa afora.


Respiro fundo e passo as mãos entre os cabelos antes de me acomodar no

sofá.
Não demora um segundo para me dar conta de que Wyatt, Eric e
Isabel sumiram. Varro meus olhos pela sala, mas não encontro nenhum dos

três. Sozinha e chateada, vou até à cozinha pegar uma cerveja.

Ao abrir a geladeira, ouço barulhos estranhos vindo da dispensa.


Decido ignorar e pego a cerveja, abro e tomo um gole generoso. Começo a

me acostumar com os ruídos esquisitos, mas me assusto quando o estrondo


de algo de vidro quebrando preenche a cozinha. Caminho até a dispensa e
noto que a porta está entreaberta. Sem saber se devo ou não, seguro a

maçaneta e abro.

Levo as mãos até a boca quando me deparo com Wyatt e Eric aos
beijos. Aos beijos é apelido. Os dois estão na maior pegação.

— Me desculpe, me desculpe — sussurro. Os olhos do meu amigo

encontram os meus por alguns segundos e ele parece tão assustado quanto eu.
Fecho a porta rápido e meio desnorteada, acabo indo em direção a piscina.

Sento na espreguiçadeira e tento levar ar até os pulmões. Ao ver


Wyatt vindo na minha direção, sinto meu coração acelerar. Engulo em seco e
penso no que falar, mas nada parece certo no momento.

Ai, meu Deus. Ele deve me odiar e com razão. Droga. Por que diabos

eu fui abrir a porta da dispensa? Por que não continuei ignorando? Merda.
Merda.
Cabisbaixo, meu amigo senta na mesma preguiçosa que eu. Mantem
os olhos nas mãos que se entrelaçam por quase uma eternidade antes de abrir

a boca para falar. Me sinto péssima por ter nos colocado nessa situação.

— Madie, eu...

— Não precisa me explicar nada — interrompo e tento amenizar o

clima tenso entre nós. — Você não precisa me explicar nada, eu vou fingir
que não vi. Nada aconteceu.

Ele abre meio sorriso.

— Eu sou gay — fala de uma vez e parece aliviado por dizer as


palavras em voz alta. — Ainda não contei aos meus pais. — Solta uma
risada seca. — Na verdade, eu nem sei como fazer isso.

— Eu sinto muito, Wyatt.

— Tudo bem — murmura.

Sem saber muito bem o que fazer, levo meus braços até o seu
pescoço e enlaço num abraço apertado. Ele respira fundo e me aperta de
volta.

— Não tenha vergonha de quem você é, Wyatt. Não há nada de

errado em ser diferente — digo, fazendo com que meu amigo se afaste para
analisar meu rosto. — O que foi?

— Obrigado por isso.


Pousa uma mão em cima da minha cabeça e faz carinho de leve, me
arrebatando um sorriso.

— Alguém além de mim sabe? — pergunto, sem ter certeza se

deveria ou não. — Me desculpe, não precisa responder.

Ele relaxa os ombros e apoia as costas no encosto da


espreguiçadeira.

— Tony e Isabel sabem.

Suspiro. Mesmo que não seja muito, estou aliviada de saber que ele
não está sozinho. Meu coração ficaria em pedaços se nenhum dos melhores
amigos dele soubessem da verdade.

— Vai ficar tudo bem.

— Eu sei — é o que diz, sorrindo. — Cadê o Tony? — quer saber.

Dou de ombros.

— Cassie apareceu — resmungo contraindo o maxilar. — Você sabia


que Alice e Cassie são tipo, melhores amigas?

— Ah, isso — fala e me dá um sorriso amarelo. — Elas se


conheceram por causa de Tony e nunca se desgrudaram.

Deixo meus ombros caírem, estou me sentindo tão exausta. Não sei
por quanto tempo mais aguento ficar no meio dessa família. É demais para
minha cabeça. Não tenho emocional e nem psicológico para todos os dramas

enterrados com os Humphrey’s.

— Não fique preocupada, eu nunca gostei da Cassie — fala de

repente, me roubando uma gargalhada. — Eu prefiro você.

— Por quê? — retruco.

Ele arqueia as sobrancelhas grossas e finge refletir por alguns


segundos.

— Eu te disse na primeira vez que nos vimos. — Wyatt pisca para


mim. — Você é bonita. Diferente, mas bonita — emenda em um tom
zombeteiro.

— Idiota.

Nós dois rimos.

Vou sentir falta de Wyatt quando for embora e eu espero de coração


que ele não sinta minha falta. Quero também que resolva as coisas com os
seus pais. Quero muito que ele fique bem. Que viva bem e seja quem é de

verdade.

Wyatt merece ser feliz.


Largo o braço de Cassie assim que chegamos na varanda. Desço os

degraus e massageio a nuca. Me encontrando com a ex duas vezes em um


curto espaço de tempo? Eu sou mesmo muito azarado.

Ela para alguns passos de distância e me encara com uma


sobrancelha erguida. Cassie sempre foi muito soberba, não enxergava isso

antes, porque eu a amava. Mas agora é tão evidente, que me sinto um imbecil

por nunca ter notado enquanto estávamos juntos.

— O que você tem na cabeça? Ficou doido? — é ela quem pergunta,

irritada. — Pegando a sua prima? Não conhece a família que tem? — Rompe

a nossa distância e ergue o queixo para mim, como quem exige explicações.
Eu disse... soberba.
Respiro fundo, implorando por paciência. Por que ela tem de

aparecer em horas que estou me divertindo tanto? Essa mulher é uma estraga

prazeres.

— Não aja como se ainda tivesse algum direito sobre a minha vida.

Não ultrapasse os limites, Cassandra.

Gira os olhos e bufa, dando a mínima para as palavras que saíram da

minha boca. Ela nunca me levou a sério. Só fui alguém que ela manipulou e

manteve ao lado por anos.

É estranho como as coisas mudam. Anos atrás, eu daria o mundo

inteiro para ela. Minha missão de vida era fazer Cassie feliz. Mas agora,

nem odiar eu consigo. O que sinto por ela é apenas desprezo. Não a quero

perto de mim e nem do idiota do meu irmão. É tão ridículo, mas até ele teve

o coração despedaçado por essa mulher. Talvez tenha merecido, mas mesmo

assim, quero manter Cassie longe das nossas vidas.

— Vocês dois nunca vão dar certo, Tony. Isso é tão óbvio quanto

ridículo. Acorda, cara e para de fazer papel de palhaço.

Olho para o lado e encaro o amontoado de carros estacionado em

frente à casa da minha avó. Suspiro. Não quero ter que discutir com Cassie,

porque se o fizer, ela vai sentir que tem o direito de opinar na minha vida. E
estou tão cansado disso, da minha mãe, da Savannah, da Cassie. Que droga,

só quero paz.

— Mesmo que você tenha razão, isso não diz respeito a você — falo,

ríspido. — Não posso expulsá-la, porque é convidada da Alice, mas por

favor, fique longe de mim, Cassie. — Passo por ela para entrar em casa de

novo, mas a desgraçada agarra meu braço. — O que você quer dessa vez?

— Eu me arrependo — choraminga, me fazendo olhá-la por cima dos

ombros. — Sinto muito por ter feito você sofrer, Tony. Eu sinto falta da

gente. Não podemos colocar uma pedra no passado e tentar de novo? As

pessoas fazem isso, elas superam o passado e seguem em frente.

Desvencilho-me da mão dela e balanço a cabeça de um lado para o

outro, negando.

— Não tem como a gente fazer isso, porque eu não te amo mais,

Cassandra.

As palavras não a abalam em nada e eu confesso, que não esperava

uma reação diferente. Cassie nunca fez o tipo de mulher que chora ou se

intimida com facilidade. Sempre foi muito destemida e determinada. Na

verdade, foram essas coisas que me fizeram amá-la. Mas passou, acabou. E
eu não tenho a menor pretensão de voltar a sentir algo por ela.
— Não faça isso — fala entre os dentes quando dou um passo para

frente. — Estou avisando, Tony, não faça isso — insiste.

— Me solte, Cassie.

— Você e ela... sua avó nunca vai permitir — diz, irritada.

Olho-a por cima do ombro e rio.

— Tem razão, Cassie. Mas acha mesmo que minha avó aceitaria

numa boa se eu resolvesse voltar com você? — pergunto e os olhos dela

parecem vacilar por um segundo. — Você me traiu e partiu o coração de

Jordan. Não sabe o quanto a família é importante pra ela?

Solto-me dela e caminho rumo à varanda.

Maldita hora que fui um bom samaritano e resolvi ir ao enterro do

pai de Cassie. Podia ter dado minhas condolências do meu apartamento em

Los Angeles, seriam sinceras e de coração da mesma forma.

Cassie só está obcecada para voltar com o nosso relacionamento,

porque me viu depois de tanto tempo e acha que ainda sente algo por mim.

Para ser sincero, eu tenho certeza que ela só está chateada por não ter mais

influência sobre a minha vida e nem conseguir me fazer de capacho.

Ela só não quer ter a sensação que perdeu.

Ao entrar em casa de novo, procuro Madeline, mas não a encontro

em lugar nenhum. Vou até a cozinha, abro a geladeira e pego uma longneck e
bebo o líquido da garrafa todo de uma vez. Preciso refrescar a cabeça.

— Noite difícil? — Betsy pergunta ao se encostar no batente da porta


da cozinha. — Eu acabei de ver Cassie com Alice — diz, me fazendo

suspirar.

— Por que existem tantas mulheres difíceis na minha vida?

— Porque você é bonito e tem cara de problema — retruca e nós

dois rimos. — Você não está mais escondendo que está caidinho pela

Madeline, não é?

Sento na banqueta e ponho a garrafa de cerveja vazia em cima da

ilha, respirando fundo. Vejo Betsy se aproximar e ocupar o banco ao meu


lado. Ela parece preocupada comigo, talvez, um pouco triste também.

Ela tem razão, não estou escondendo meu interesse por Madeline.

Mas alguma vez eu fiz isso? Desde que a vi aqui, nessa cozinha, se

engasgando com um pedaço de pão, eu sabia que ela seria um problema. Só

não tinha noção que seria o meu problema. Ou talvez, eu tivesse noção sim,

já que não conseguia manter meus olhos longe dela.

E agora, estou aqui, apaixonado. É, é isso. Eu estou apaixonado por

ela, pensando em maneiras de resolver toda a possível situação com a nossa

família. Como eu deixei isso acontecer? Como e quando exatamente eu me

apaixonei por ela? Não faço a mínima ideia, mas aconteceu. E eu não quero
ser o tipo de homem que vai desistir só porque vai ser difícil. No meu caso,

muito difícil. Minha avó vai enlouquecer.

— É de verdade? — Betsy quer saber, buscando meus olhos. — Você

e ela? — Sorri e eu fico quieto. — Não quero que você cometa os mesmos

erros da minha irmã e Jordan.

— É diferente — retruco. — Jordan e Alice não sentem nada um

pelo outro além de atração.

— Então, o que sente por Madeline é mais que atração?

Olho-a nos olhos e fico em silêncio por alguns segundos, pensando.

Eu tenho a resposta na ponta da língua, mas não sei se devo dizer as palavras

em voz alta. Quão estranho será eu dizer que me apaixonei por Madeline?

Me apaixonei tão rápido, como se eu tivesse me jogado de um penhasco.

— Sou louco, né?

Minha prima ri.

— Uhum. — Ela suspira e relaxa os ombros. — Mas espero que as

coisas sejam diferentes pra vocês. Tem meu apoio. — Leva uma mão até

meu ombro e dá batidinhas de leve, me roubando sorrisos.

— Obrigado, Betsy.

— Momentos assim me fazem sentir um pouco de arrependimento de

morar tão longe. Por mais doida que nossa família seja, eu sinto falta.
— Já está de malas prontas?

Concorda com um aceno de cabeça.

— Vou embora depois que a vovó voltar — murmura ao pegar a

garrafa de cerveja vazia em cima da ilha e torcer o nariz. — Promete ir me


visitar?

— Eu sempre vou — retruco e ela sorri.

Betsy e eu dividimos algumas cervejas enquanto nos perdemos em


histórias da nossa infância e risos. Sinto falta de tê-la por aqui, morando

perto. As coisas pareciam mais leves quando minha prima morava no mesmo
país que eu.

Os convidados de Alice começam a migrar para a área da piscina e


quando vejo Cassie se aproximar, me levanto e pego outra cerveja na

geladeira antes de ir esperar Madeline no andar de cima.

Estou em frente ao meu quarto, com a mão na maçaneta, quando tenho


a brilhante ideia de esperar Madeline no cômodo ao lado. Abro a porta, mas

não acendo nenhuma das luzes. Caminho até próximo das portas de correr da
varanda, abro um pouco e contemplo as ondas quebrando enquanto desfruto

da cerveja.

Quase quinze minutos mais tarde, Madeline entra no quarto e toma


um susto ao me ver em pé perto da varanda. Ela coloca a mão no coração e
respira fundo, com o cenho franzido.

— Tony, você quase me matou do coração — resmunga. — O que

está fazendo aqui? — pergunta ao se aproximar.

— Esperando você.

Sorrio e coloco a garrafa de cerveja em cima da mesinha perto da


varanda.

— Você é muito corajoso, entrando no quarto de uma garota que é


faixa preta em taekwondo sem permissão.

Os olhos dela cruzam com os meus e noto o relance de um brilho

travesso passar por eles. Aproximo-me dela, devagar, curioso para saber
aonde nossa conversa vai nos levar.

— Você acha que consegue me derrubar? Eu tenho quase um metro e

noventa de puro músculo — me gabo, mostrando os bíceps marcados,


resultado de horas de trabalho na academia.

Madeline revira os olhos ao mesmo tempo em que dá alguns passos


na minha direção.

— Não me provoque, eu consigo derrubar você.

— Será? — provoco, rindo. É mais forte do que eu.

Ela não diz nenhuma palavra, apenas morde o lábio inferior e

assente, parece aceitar o desafio. Ótimo. É tão divertido que não consigo
parar de sorrir. Ainda em silêncio, tira as sapatilhas e levanta o vestido até o
meio das coxas.

— Isso é golpe baixo — retruco, secando as belas pernas de

Madeline.

Em um movimento rápido, ela rompe toda a nossa distância, inclina


metade do corpo para frente e se lança contra mim, abraçando meu tornozelo

e apoiando a cabeça e um dos ombros na minha coxa. O resto acontece num


piscar de olhos. A garota estica meu joelho, empurrando para baixo e meio

segundo depois, me puxa com tudo para frente e eu caio de costas no chão,
fazendo um estrondo.

Rio.

— Derrubei você fácil, eu disse que conseguiria — fala, montando


em mim. Eu não consigo parar de rir. — Qual é a sensação de ter sido

derrubado por uma garota pequena?

Pouso as mãos na cintura fina de Madeline e a puxo contra meu

corpo, fazendo nossos rostos ficarem bem próximos.

— É sexy — admito.

Ela cai na gargalhada.

Com a ponta dos dedos, levo alguns fiapos de cabelos até detrás da

orelha e faço carinho na bochecha com o polegar. Respiro fundo, tentando


reunir coragem para perguntar se ela quer ir para Los Angeles comigo. E

nossa, eu sei como isso soa estranho até mesmo dentro da minha cabeça.
Parece apressado e impulsivo. Espero que ela não me ache doido. Ou me

ache doido o suficiente e venha comigo.

— Eu vi Wyatt com Eric — sussurra, descansando a cabeça contra

meu peito e eu engulo em seco. — Você acha que ele é feliz? — quer saber.

Suspiro e continuo em silêncio. Não tenho o direito de sair por aí


comentando sobre a orientação sexual do meu melhor amigo. Eu sei que é

difícil para ele e que tem medo de tantas coisas, que prefere esconder a
verdade de todo mundo.

— Ele disse que está esperando o momento certo para contar aos

pais — fala, tranquilizando meu coração. Se ele contou a verdade à Madie,


deve gostar muito dela. Ele demorou anos para ser sincero comigo. —
Promete ficar do lado dele quando isso acontecer?

Sorrio, apertando minha garota contra o peito e deposito um beijo no

topo da sua cabeça.

— Uhum, estarei com ele.

Sinto-a relaxar o corpo, em seguida, me olha por cima dos cílios.


Madeline abre a boca para dizer algo, mas eu a silencio com um beijo
tranquilo. Ela se deixa levar por mim e eu acabo sentando no chão, fazendo-

a entrelaçar as pernas na minha cintura.

— Faz amor comigo, Tony — ela sussurra contra a minha boca,


fazendo meu coração acelerar.

Envolvo minhas mãos entre seus cabelos e continuo a beijá-la com

delicadeza. Hoje, eu farei amor com Madeline. Não tinha noção de que
precisava disso até ouvi-la falar as palavras em voz alta.
Vovó e Jordan voltaram de Los Angeles um dia depois do aniversário

de Alice. Com a chegada deles, Betsy foi embora, porque precisava voltar
com a vida em Paris. Ela disse que os funcionários da empresa de alimentos

orgânicos, já estavam ficando loucos sem a presença da CEO. O que é uma

pena, eu gostei muito dela. É tão diferente de Alice, que é até difícil de
acreditar que as duas saíram da mesma mãe.

Daqui a algumas semanas vou precisar viver a minha vida também e

deixar tudo para trás, como o combinado. E infelizmente, apenas pensar


nisso me deixa triste. Não queria ter que deixar Tony, mesmo que o nosso

romance seja impossível de acontecer.

Elisha e eu passamos o dia juntas. Passeamos pelo clube e ela me

leva para praticar alguns esportes aquáticos. Para uma senhorinha, ela tem
bastante saúde e é muito aventureira. É impossível ficar parada com a

companhia dela.

Sinto um pouquinho de inveja, queria que minha avó de verdade

tivesse a energia e saúde da Elisha também. É triste pensar que a vovó e eu

nunca vamos praticar nenhum esporte extraordinário juntas. Tudo bem, a

vida ao lado dela foi e é boa. É a única família que tenho e me aconchegou

nas noites de inverno, me fez sorrir e me criou. Isso é muito importante


também. Vale mais que muita coisa por aí.

— Tem falado com Meera? — vovó pergunta, de repente, remexendo

com o garfo a comida no prato. Nós estamos almoçando no restaurante do


clube. Ela tem os cabelos platinados molhados e usa roupas praianas bem

confortáveis. — Ela está bem? — Levanta o olhar e me encara. Ela parece


triste e eu me pergunto o motivo. Aconteceu algo durante a viagem em Los

Angeles? Ou é doloroso demais olhar para mim e lembrar do filho que

perdeu há dezenove anos?

— Ela está bem — é o que digo e rezo para ser suficiente.

Não tenho muito o que falar da Meera. Ela é minha amiga, nos
conhecemos bem e ela me deu uma aula básica sobre os Humprhey’s antes de

eu vir para cá e pronto. Não faço parte da família e entrar em conversas

sobre ela, me fará sentir pior ainda. Mesmo que eu saiba que é muito errado
o que estou fazendo, não quero ter que ficar mentindo para Elisha. Não quero

mentir ainda mais.

Se isso valer de alguma coisa, eu sinto muito por toda a situação. Se

eu tivesse outra escolha, não teria embarcado nessa farsa. Se existisse outra

maneira de ajudar a minha avó e o filho de Meera, eu não teria colocado os

pés em Miramar Beach. Mas as coisas nunca vieram fáceis para mim, por

isso, estou aqui.

— Eu me arrependo de não ter impedido Meera naquele dia — ela

começa a falar, fazendo os meus batimentos cardíacos acelerarem. — É

verdade, querida. O que ela disse sobre os Humphrey’s pra você, com

certeza é verdade — acrescenta e eu franzo o cenho.

— Como assim?

— Depois que a minha irmã morreu, eu criei Meera como filha.

Acolhi, dei conselhos e fui as reuniões escolares. — Abre um sorriso que

não chega aos olhos. — Foi, digamos, impactante, quando descobri que

Logan e ela decidiram casar. Nunca nem notei que os dois estavam
apaixonados.

— Eu sinto muito — murmuro, sem saber muito bem o que falar. Ou


se devo falar alguma coisa.
— Não foi fácil, eu não queria. Os dois foram criados juntos desde

quatorze anos, como poderiam ter sentimentos diferentes de irmãos? — Ela

cruza o olhar com o meu. — Acredita que eu decidi ir ao casamento um dia


antes? Meu marido me convenceu, falou que eu me arrependeria se não

fosse.

Respiro fundo, sentindo as costas pesarem uma tonelada. Abro a

boca para dizer algo, mas decido ficar quieta.

— Não era segredo pra ninguém, eu nunca aprovei o relacionamento

deles. Logan e eu vivíamos em pé de guerra por causa disso. Mas quando eu

vi aquele bebezinho de olhos grandes e azuis, eu me derreti — fala,

pensativa e eu engulo o caroço na garganta. — Quando Meera resolveu ir

embora, eu estava tão quebrada, sofrendo, que não fiz absolutamente nada.

Parte de mim, sentia que ela era culpada por eu ter passado tantos anos

brigando com meu filho. Então, no fundo, eu queria que ela pagasse também.

Sinto muito, querida — sussurra as últimas palavras.

Pisco rápido, na tentativa inútil de impedir as lágrimas de fazerem

caminho até a boca. Forço um sorriso e ergo a mão para segurar a de Elisha.

Não sou sua neta, mas entendo a dor que ela sentiu. E eu sinto muito também.

Sinto muito por não ser a Madeline de verdade e por estar mentindo.

— Não tem problema, vovó. O passado é passado. Não fique se


martirizando tanto pelos erros. Estamos aqui e bem, vamos viver a vida com
leveza e não deixar que as lembranças ruins corroam o nosso coração.

— Não seja tão compreensiva comigo, Madeline. Você não me


conhece de verdade.

Suspiro.

E nem ela me conhece de verdade.

— Mesmo assim, vovó, vamos ficar bem e esquecer as coisas ruins

do passado.

Elisha aperta minha mão e chora em silêncio, o que faz meu coração

ficar pequenininho e dolorido, mas abro um sorriso. E em meios as lágrimas

de arrependimento e culpa, ela sorri também.

Isabel e eu resolvemos assistir a um filme de terror e depois de nos

empanturrarmos de guloseimas enquanto jogávamos conversa fora, ela

adormeceu na minha cama. Embora tenha tentado dormir, não consegui

pregar os olhos. Depois da conversa com Elisha, passei o resto da tarde com
um frio na barriga e um gosto amargo na boca.
Saio do quarto de fininho, antes passando os olhos no relógio em

cima da cômoda. São quase uma e meia da madrugada. Desço as escadas

sem fazer barulho e fico pensando na minha vida. Na escolha que fiz ao vim

aqui e como sinto que tudo mudou por causa de Tony.

A sala da mansão está com quase todas as luzes apagadas e parece

solitária. Se não fosse pelo vento que entra através das janelas ou o som

tranquilizante das ondas do mar quebrando, tudo estaria em um silêncio

ensurdecedor.

Caminho devagar até o piano aberto e reluzente, e me sento no banco

acolchoado. Passos meus dedos devagar sobre as teclas e sorrio com o som

que elas produzem e com as lembranças que dominam a minha cabeça.

Minha mãe me deu aula de piano desde seis anos e eu amava quando

tocávamos juntas depois dos jantares. Ela foi uma pianista incrível e eu sinto

que esse instrumento é o que nos mantém ligadas mesmo depois da morte

dela. Meu pai nunca levou jeito com música, mas era o maior incentivador

da mamãe. O amor deles era algo lindo e eu espero ter algo parecido um dia.

De supetão, a imagem de Tony preenche a minha cabeça, me

deixando feliz e triste. Queria tanto que a nossa história fosse diferente, que
tivéssemos nos conhecido de outro jeito. Eu poderia ser sincera e dizer o

que sinto por ele e nós, talvez, déssemos certo.


Deixo que os dedos escorreguem pelas teclas no piano e aos poucos,

uma versão acústica de "Somebody To Love" do Queen entoa na sala e

preenche o vazio. E a sala que parecia solitária antes, está com um pouco

mais de vida agora.

Baixinho, cantarolo algumas estrofes de olhos fechados e me deixo

guiar pelas notas que soam do piano. Tão concentrada na música preferida

da minha mãe, que me assusto ao ver Jordan me observando do sofá.

— Por que não falou que estava aí? — pergunto depois de


interromper de forma abrupta a música.

— Não queria atrapalhar — é o que diz com um dar de ombros. —


Queen, hein? Você tem um gosto musical diferente das garotas que eu

conheço.

Solto um suspiro longo. Só falta Jordan começar a me chamar de


garota metaleira também. Mesmo que adore quando Tony me chama assim,

porque é engraçado e faz parecer que somos muito íntimos, não consigo
imaginar Jordan fazendo o mesmo tipo de brincadeira. É estranho.

— O que está fazendo acordado? — é o que pergunto.

— O que está fazendo acordada? — ele rebate.

— Sem sono — respondo ao enrugar o nariz, roubando um sorriso


gentil dele. — E você?
— Sem sono — murmura ao assentir com a cabeça. — Toca uma
música pra mim? Quem sabe depois disso, eu consigo pegar no sono.

Semicerro os olhos em direção a ele e prenso os lábios, fingindo


refletir se ele merece ou não.

— Não vai tocar? — Jordan quer saber.

— Não sei se você merece — retruco e nós dois acabamos rindo. —

O que você quer ouvir?

Jordan levanta do sofá e vem até mim. Só agora noto que ele está

usando apenas calça moletom e tem o abdômen sarado de fora. Inclina-se


sobre o piano e passa as mãos entre os cabelos castanhos, parece buscar na

memória alguma música. Está próximo demais para o meu gosto, mas não
consigo dizer nada.

— O que vocês estão fazendo? — Tony pergunta, nos surpreendendo.

Ele adentra a sala e fica de frente para nós, tem o maxilar cerrado e os olhos
irradiando fogo na direção do irmão.

— Não estamos fazendo nada demais, Madeline só ia tocar uma

música pra mim — é claro que Jordan fala isso de um jeito que parece que é
algo a mais. — Algum problema, Tony?

O brutamonte de quase um metro e noventa se aproxima de Jordan,


que para meu desespero, estufa o peito e ergue o queixo para encarar o
irmão. Meu Deus, é muita testosterona para aguentar.

— Eu não sei, tem algum problema? — Tony pergunta e está a ponto


de explodir com o irmão.

Se eu não intervir, eles vão acabar rolando aos socos e xingos pela

sala. Fico de pé e me meto entre os dois, estico os braços e tento afastá-los.


Estou a um passo de perder a paciência.

— Parem com essa cena ridícula antes que eu perca a paciência —


resmungo, mas nenhum deles me dá ouvido. — É difícil derrubar os dois,

mas eu tenho pernas e sei chutar bolas — falo alto e os dois parecem
acordar do transe.

— Me desculpe, Madie — Tony fala, olhando para mim. Parece

arrependido de estarmos em uma situação tão ridícula. Ele pega a minha mão
que está encostada no seu peito e beija os nós dos dedos.

— Vocês estão juntos? — Jordan quer saber.

Respiro fundo, pedindo em silêncio forças para lidar com os irmãos


Humphrey’s.

— Por que quer saber, Jordan? Quer fazer a história se repetir? —

Tony pergunta, carrancudo.

— Vai se ferrar, idiota — Jordan retruca. — Quer saber de uma

coisa? Tô cansado de ficar te pedindo desculpas, cara. Foda-se, não quer me


perdoar, tudo bem, vou conviver com isso.

— Ei — falo, olhando para Jordan. — Você traiu o seu irmão. —


Quando fecho a boca, noto mesmo no escuro, que o rosto dele perdeu a cor.

— Ele amava a Cassie, mas ele te amava mais ainda e você estragou tudo.
Então, é seu dever tentar reparar as coisas e voltarem a ter uma convivência

decente.

O que aconteceu entre eles não tem nada a ver comigo e são palavras
duras para serem ditas, mas estou cansada dessa rivalidade. De saco cheio,

na verdade.

— E você — digo e agora estou olhando para Tony. — Tente superar


o que aconteceu no passado. Ou vai passar a vida inteira sem falar com o seu

irmão? Coloquem uma pedra no passado e sigam em frente.

Respiro fundo e me afasto deles, caminhando em direção as escadas

sem olhar para trás.

Fui intrometida ao extremo e me meti onde não fui chamada quando


falei todas aquelas coisas, mas se isso for capaz de fazer com que os dois

voltem ser uma família, tudo bem por mim.


No café da manhã, Tony e Jordan parece envergonhados e evitam

contato visual comigo. Ótimo. Espero que estejam pensando e repensando a


relação e encontrando um jeito de colocar uma pedra bem grande no passado

e seguir em frente com a vida.

— O que deu em vocês dois hoje? — vovó pergunta, oscilando as

vistas de Jordan para Tony. — Nunca vi vocês assim... tão quietos.

— Não é nada, vovó — Jordan fala e o irmão, continua mudo.

Depois de um café em família surpreendentemente calmo, eu saio


com Isabel. É folga dela de novo e combinamos de nos encontrar no clube

para ver Wyatt. Chegando lá, nos acomodamos nas espreguiçadeiras perto da

piscina e esperamos o nosso amigo.


— Eu gostei de você ontem... — ela começa a falar. — Eu tenho

pernas e sei chutar bolas — emenda com um sorriso travesso emoldurando o

rosto.

Depois da confusão, quando fui para o quarto, Isabel não estava mais

lá. Fiquei tão exausta por causa dos irmãos Humphrey’s que acabei

adormecendo minutos depois de ter deitado na cama.

— Você viu aquilo? — pergunto o óbvio.

— Tudinho — responde e dá de ombros.

Antes que possa falar alguma coisa, noto Wyatt se aproximando de


nós. Ele parece determinado e pronto para enfrentar o mundo. Senta ao lado

de Isabel e apoia os braços no joelho ao se inclinar um pouco para frente.

— Eu decidi — ele diz, me deixando de cenho franzido. Isabel e eu


trocamos um olhar confuso e esperamos que se explique. — Depois do

verão, vou contar ao meu pai que sou gay.

Nós duas endireitamos o corpo ao ouvir nosso amigo.

Ele não parece que está fazendo algum tipo de brincadeira. Wyatt

fala sério, muito sério. Fico feliz por ele ter tomado essa decisão, porque

todo mundo merece viver a vida sem reprimir quem é de verdade ou seus

sentimentos, mas fico com medo da reação do pai dele.


— Não faça essa cara — fala para mim. — Meu pai é difícil e talvez

ele pire com a notícia, mas vou ficar bem. Eu acho que vou ter uma vida

melhor depois de me assumir. Preciso disso, viver a vida sem esconder o

que sinto.

Anuo de leve com a cabeça e sorrio.

— Você é muito corajoso — Bels diz ao apoiar uma mão no ombro

dele. — Vai ficar tudo bem e você tem a nós.

— Vamos fazer uma viagem depois que eu conversar com meu pai.

Talvez, seja uma viagem para celebrar ou pra esquecer que meu pai me

odeia — brinca, roubando risadas de Bels.

Engulo em seco e tento não demonstrar o quanto fazer planos para o

futuro me deixa triste. Não vou poder viajar com eles e lembrar disso, parte

meu coração. Vou sentir saudades dos dois. Espero que eles fiquem bem e

tenham uma vida feliz.

Passamos a manhã no clube, alternando em nadar e fazer planos para

um futuro próximo. Embora a conversa me deixe amuada, eu faço esforço

para sorrir e dar palpites sobre a viagem.

Meu celular começa a tocar, interrompendo a conversa sobre o

projeto da viagem para a Europa quando o verão acabar. Apalpo o bolso do

short jeans até pegar o aparelho e ver o nome da Meera piscar na tela.
Por alguma razão inexplicável, sinto meu coração apertar.

— O que foi, Madie? — Wyatt pergunta me observando com o cenho

franzido. — O que aconteceu?

Suspiro e finjo um sorriso.

— É minha mãe — digo ao levantar e me afastar dos dois. Mordendo

o lábio inferior com força, atendo a ligação de Meera. — Oi — murmuro.

— Eu sinto muito, criança — choraminga do outro lado da linha e eu

sinto meus olhos arderem. De repente, tenho dificuldade de respirar e não

consigo fazer com que as palavras saiam da minha boca. — Ela... —

começa, mas faz uma pausa longa. — Sua avó, ela se foi, Skyler. Sinto muito,

de verdade.

— Não está falando sério — retruco com a voz embargada.

— Skyler, eu sinto muito.

— Não. É mentira.

— Eu sinto tanto, criança.

Encerro a ligação sem dizer mais nada. Minha avó morreu. Ela se

foi. Ela se foi para sempre e eu não estava ao lado dela. Eu não estava

presente. O real motivo por eu estar aqui morreu.

Meu peito dói tanto, que eu acho que vou sufocar. Pisco rápido,

tentando segurar as lágrimas ácidas. Não quero sentir essa dor aqui, não
posso. Não posso me dar ao luxo de desabar, não agora.

Sem dizer nada aos meus amigos, saio do clube e vou até a mansão.
Vou o caminho inteiro secando as lágrimas intrometidas que decidem cair e

pedindo desculpas a minha avó por não estar com ela num momento tão

crucial.

Ao chegar na mansão, subo as escadas correndo e entro no quarto.

Abro as portas do guarda-roupa e vou catando minhas roupas e colocando na

mala velha. Deixo tudo que Elisha comprou para mim. Sinto nojo de mim

mesma quando noto que estou vestindo trajes que comprei com o dinheiro

dessa família. Arranco as peças do corpo e jogo em cima da cama. Vasculho

a mala e visto a primeira coisa que vejo.

Respiro fundo e lavo o rosto na pia do banheiro antes de pegar a

bolsa, a mala e abrir a porta do quarto para ir embora.

— Aonde você vai? — Tony pergunta encarando a minha mala. É

claro que eu não conseguiria ir embora de fininho. Seria fácil demais.

Nossos olhos se encontram e eu não consigo impedir as lágrimas de

transbordarem. Ele vem até mim e segura meu rosto, limpando meu choro

com os polegares e me abraçando. Mesmo que eu não tenha o direito de ser

consolada por ele, afundo nos seus braços e choro.


— Tony, eu sinto muito, mas preciso ir — sussurro, sentindo um

gosto ruim na garganta.

Ele se afasta de mim rápido e sacode a cabeça de um lado para o

outro.

— O que aconteceu?

— Eu preciso ir — falo entre as lágrimas.

— Não entendo. Por quê? É por causa de ontem? Não vou ter mais

ataques de ciúmes, eu prometo.

Com dificuldade e sentindo o corpo inteiro doer, coloco as mãos em

cima das mãos de Tony, que descansam no meu rosto. Fecho os olhos por um

milésimo de segundo e em seguida, afasto-as para longe.

— O problema não é você. Me desculpe, Tony.

Ele nega com a cabeça, atordoado.

— Converse comigo, Madie. O que aconteceu pra você querer ir

embora assim de repente?

Engulo o choro e limpo meu rosto com as costas da mão.

— Eu preciso ir embora, Tony — digo e tento passar por ele, mas o

filho da mãe me impede de seguir em frente. — Me solte, por favor.

— Me diga o que aconteceu — insiste, desesperado.


— Não posso — falo num tom seco e me desvencilho dele. Dou as

costas e caminho rumo as escadas. Sinto que um pedacinho de mim ficou

para trás, com Tony, mas nossa relação sempre esteve fadada ao fracasso.

Quando chego no último degrau, vejo Jordan me encarando com uma

ruga entre as duas sobrancelhas. Que merda.

— O que está fazendo?

Ele segura minha mala, me impedindo de continuar.

— Vou embora. Preciso ir embora. — Tento puxar a mala, mas ele é

mais forte.

— Não pode ir embora — fala, como se isso fosse me fazer mudar


de ideia. — Não parou pra pensar como a vovó vai se sentir?

As palavras partem meu coração. Não quero magoar Elisha, mas a

minha avó de verdade não está mais aqui e eu preciso me despedir dela. Eu
preciso dizer adeus. Eu preciso dizer que sinto muito por não estar por perto
quando ela mais precisou.

Choro em silêncio.

— Não existe nada que vá me fazer ficar, Jordan. Eu sinto muito, mas

eu vou embora.

Jordan solta a alça da minha mala e eu passo por ele, saindo da

mansão sem olhar para trás. Não posso olhar para trás e correr o risco de
ver Tony. Não vou aguentar vê-lo triste por minha causa.

Que merda. Minha vida aqui, com essa família, nunca devia ter

acontecido. Foi uma loucura, não deveria ter me envolvido com eles. Não
devia ter saído do lado da minha avó.

Agora, ela se foi e não há nada que eu possa fazer para ajudá-la.
Observo-a se afastar de mim e tento entender o que aconteceu, mas

nada parece fazer sentido dentro da minha cabeça. Não posso deixá-la ir
embora desse jeito. Porra. Não quero que ela vá.

Vou atrás de Madeline e a encontro colocando a mala dentro da


caçamba da camionete. Para meu desgosto, Jordan está na cola dela,

tentando entender o que aconteceu para que ela queira ir embora tão de

repente.

— Madeline? — chamo e ela me olha. — Vamos conversar, por

favor — insisto.

Ela hesita por alguns instantes, como se quisesse vir até mim, mas

crava os pés no chão e não dá um passo para frente. Madeline parece tão

triste e eu nem sei o porquê. Quero poder consolá-la, mas como faço isso se
ela não deixa eu me aproximar? Como fazer isso se ela não conversa

comigo?

Engulo o nó na garganta e ele desce amargando.

— Tony, por favor.

Aproximo-me dela e pondero por um segundo quando a vejo estender

as mãos, pedindo para não continuar, mas ignoro e corto a nossa distância

com três passadas largas. Seguro o seu rosto entre as mãos e faço com que
ela olhe dentro dos meus olhos.

— Vamos conversar.

— Não posso — murmura, me deixando chateado, irritado.

— O que você fez com ela, imbecil? — Jordan pergunta e me puxa

pelo braço, me tirando de perto da Madeline. — A culpa disso com certeza


deve ser sua.

— A culpa é minha? — pergunto e a olho com intensidade. — Se a


culpa é minha, me diga.

Madeline chora.

— A culpa não é de ninguém, eu só quero ir embora — resmunga.

— Não posso perder você. Não quero — é o que digo e isso faz

Madeline chorar mais ainda. Volto a me aproximar dela e seguro seu rosto de
novo, fazendo com que nossos olhos se prendam. — Eu te amo, Madie —

admito.

Depois de dizer as palavras sinto meu corpo inteiro mais leve, só

que não menos angustiado. É insano, mas eu já amo Madeline. Infelizmente,

por alguma razão que não sei bem o que é, não parece fazer diferença

nenhuma no momento.

— Vocês transaram, não é? — Jordan questiona e eu reviro os olhos

sem paciência. O que esse cara ainda está fazendo aqui?

— Qual é o problema? Não posso ficar com Madeline? —

esbravejo.

— Você sabe o que a vovó pensa sobre isso — fala e eu fecho as

pestanas com força. — Como pôde transar com a Madeline?

Estou prestes a abrir a boca para articular palavrões contra meu

irmão, quando meu pai pergunta:

— Vocês transaram?

Afasto-me da minha garota metaleira e observo meu pai. Ele tem o

rosto pálido e os olhos não parecem ter vida alguma. A atenção dele vai de

mim para Madeline e ele balança a cabeça, atordoado.

— Isso não pode estar acontecendo — fala, passando as mãos entre

os cabelos grisalhos. — Isso não pode estar acontecendo — repete.


Franzo o cenho e contraio a mandíbula.

— Pai, não fique contra mim também — digo e ele me olha com

tristeza. Parece que algo dentro dele quebrou, mas não sei o que é.

— Vocês não podiam ter feito isso. Não podiam — fala meio

perturbado. E para minha surpresa, ele se aproxima de Madeline e a envolve

em um abraço apertado. — Me desculpe, minha querida.

Não faço a mínima ideia do que está acontecendo. Por que meu pai

está agindo desse jeito? Merda, que família complicada.

— O que deu em você, pai? — é Jordan quem pergunta, confuso.

Madeline tenta se afastar de Adrian e respira fundo, balançando a

cabeça, perdida nos próprios pensamentos.

— Vocês não podem ficar. Não podem... Não podem ficar. Nunca,

nunca — meu pai volta a falar e quando seu olhar cruza com o meu, vejo o

quanto ele está triste e arrependido. — Nunca. — acrescenta com um

sussurro.

— Por que não, Adrian? Por que eles não podem ficar? — é a

mamãe quem pergunta.

Ótimo. Agora a família toda está reunida e minha vida amorosa e de

Madeline está em pauta para discussão. Que beleza, não podia ficar pior. O

circo está montado.


De narinas infladas, mamãe fica de frente para o meu pai e sem aviso

prévio, acerta uma bofetada no rosto dele. Ela tem a respiração ofegante e o

músculo do maxilar cerrado. Fecha as mãos em punho e está pronta para

partir para cima de novo, porém, Jordan impede.

— Eu sabia — mamãe fala e eu enrugo a testa. — Você é um

mentiroso. A porra de um hipócrita mentiroso! — grita com ele.

Penteio os cabelos com as mãos e bufo. Estou cansado de toda essa

cena e não estou entendendo porra nenhuma.

— Vocês podem resolver as coisas entre vocês, não quero fazer parte

dessa confusão. Vou embora. Sinto muito, mas eu vou — Madeline fala e está

prestes a abrir a porta da caminhonete quando minha mãe diz.

— Você já faz parte disso. — Ela olha de Madeline para o meu pai.

— Diga em voz alta, Adrian. Diga, desgraçado. Fale! — berra de novo.

Papai respira fundo e noto seus olhos marejados.

— Você é minha filha, Madeline — ele diz, me deixando sem chão.

Meu pai me olha com a expressão cheia de arrependimento e a

possibilidade de eles estarem fazendo uma brincadeira de mau gosto vai por
água abaixo. É verdade. Madeline é minha irmã. Sinto meu coração acelerar

com a merda que foi jogada ao ventilador.


— Tony — Madeline me chama e toca meu braço, mas me afasto

como se tivesse levado um choque. — Tony, eu... — ela começa a falar, mas

a frase morre.

Isso não pode estar acontecendo comigo. Eu... eu... eu transei com a

porra da minha irmã. Levei para cama a porra da minha irmã. Meu Deus,

como isso foi acontecer comigo? Como eu fui me apaixonar por ela? Droga.

Droga. Eu só consigo ter nojo de mim.

— Isso tudo é culpa sua. Por que voltou? — mamãe fala com

Madeline e eu não tenho forças para rebater.

— Eu sinto muito. Sinto muito por ter mentido — meu pai diz, mas

nada do que ele fale vai conseguir me deixar melhor.

— Somos irmãos? — Jordan pergunta, atordoado. — Pai, me diga

que está fazendo uma brincadeira de muito mau gosto. — Nosso pai fica

calado, então meu irmão vai até ele e o segura pelo colarinho. — Como

pôde fazer isso, pai?

Madeline cruza o olhar com o meu. Nos olhos dela tem tanta dor, que

faz os meus arderem. Eu deveria ter permanecido longe dela. Foi um erro ter

sucumbido aos meus desejos e ficado com Madeline.

— Tony... — ela sussurra.


Balanço a cabeça e sem conseguir dizer nenhuma palavra, dou as

costas e vou embora. Ficar perto dela é pior. Ficar perto de Madeline é

como um aviso que sou a porra de uma aberração que se apaixonou pela

irmã.
— Você ama Tony... — Adrian fala, me fazendo olhá-lo. Sim, eu o

amo, mas nada disso importa mais. — Isso é tão errado. — Ele rompe a
nossa distância e leva uma das mãos até meu rosto e faz carinho de leve. —

Me perdoe, minha filha. Eu te amo tanto, tanto. Me perdoe.

Engulo em seco e fecho os olhos com força.

Meu Deus, o que eu faço agora? Vou embora e deixo Tony achar que

é meu irmão e se culpar pelo resto da vida? Ou conto a verdade e digo que
sou uma impostora? As duas coisas vão trazer consequências que nos

deixarão de coração partido.

E o pior, nenhuma das opções vai fazê-lo ficar comigo. Ele vai me

odiar de qualquer forma.

Bufando, Abigail entra na mansão e Jordan a segue, decepcionado.


Maldita hora que eu aceitei fazer parte desse plano idiota da Meera.

O que de bom isso nos trouxe? Merda.

— Adrian, por que traiu Logan? Por que fez isso? — pergunto.

— Porque eu sempre fui apaixonado pela Meera, mas ela escolheu

ficar com meu irmão. Eu errei, nós éramos jovens e não há nada que eu
possa fazer para mudar as coisas, Madeline. Eu sinto muito por tudo.

Sinto-me enjoada e tonta.

— Só quero ir embora daqui — admito.

— Não vá ainda, vamos conversar com a mamãe.

— Não posso — é o que digo.

Não existem motivos para eu ficar na vida dessas pessoas. Só vou

magoá-las mais ainda e continuar me magoando também. Não existe nada

que vá consertar a minha relação com o Tony. E seu ficar, vou ter que

continuar mentindo e estou tão cansada disso. Tão cansada das mentiras, dos
segredos.

Tony foi um erro. Ter aceitado a proposta de Meera foi o pior erro

de todos. No final, estou metida em um drama familiar dos pés à cabeça e a


única pessoa por quem eu estava lutando e me dando forças para fazer parte

dessa loucura, não está mais aqui.


Não tenho motivos para continuar e não quero mais ficar aqui,

fingindo ser alguém que eu não sou.

— Olá, prima — Alice diz, chamando minha atenção. Noto que

acabou de estacionar o carro perto da minha caminhonete. Ela abre um

sorriso falso, tem um brilho doentio nos olhos e parece ansiosa por alguma

coisa. — Por que estão com essas caras? Parecem tão tristes.

— Hoje não, Alice — falo.

— Hoje sim, Madeline — pronuncia o meu nome de um jeito tão

perverso, que faz os pelinhos do meu braço se arrepiarem. — Vamos todos

entrar — diz para mim e Adrian, que me olha com um misto de tristeza e

arrependimento.

Ele suspira e dá as costas para nós, caminhando para dentro da

mansão.

— Estou indo embora, Alice — falo, mas ela me ignora. Alice

envolve um dos braços no meu pescoço e me conduz até a mansão. Respiro

fundo e me desvencilho dela. — Eu disse que estou indo embora — repito

alto.

Alice abre um sorriso cheio de desprezo.

— Vamos entrar enquanto eu ainda estou sendo legal... Skyler.


Ao ouvir meu nome sair da boca dela, sinto o coração acelerar.

Acabou. Tudo acabou para mim. Ela sabe quem eu sou de verdade e tenho

certeza que não vai deixar isso passar de forma tranquila.

Mesmo que eu consiga derrubá-la apenas com um golpe e possa sair

correndo até a minha picape, acabo acompanhando Alice. Ela já sabe a

verdade e das duas uma, ou ela vai me chantagear ou entregar a minha

cabeça para a família. E eu sinto que os dois caminhos vão me levar a único

lugar.

Prisão.

Minha vida acabou. Vou apodrecer na cadeia por crime de falsidade

ideológica

De forma brusca, Alice me faz sentar no sofá e dá batidinhas nas

minhas costas. Olho ao redor e não vejo ninguém.

— Não fique tão tímida, Skyler. — Ela vem sentar ao meu lado e me

olha nos olhos. — Está com medo? Ah, pobre garota, você se meteu com a

família errada. Vai se arrepender de ter tentado nos passar a perna.

Respiro fundo e fico de pé, ela faz o mesmo. Ficamos de frente uma

para a outra. Alice pode ser mais alta, mas não tenho medo dela. Nunca tive

e não vai ser agora que vou baixar minha cabeça para essa garota mimada.
— Ande logo com isso — retruco e ela contrai a mandíbula. —

Vamos adiar todo esse papo chato. Eu sei que você não vai ter piedade de

mim, então vamos acabar logo de uma vez com toda essa merda.

Ela ri com deboche.

— Você é tão engraçada. — Leva a mão até o meu rosto e tenta


colocar uma mecha de cabelo atrás da minha orelha, mas eu a impeço com

um movimento rápido. — Confesso que eu não tinha intenção de descobrir

que você é uma impostora, Skyler. Só queria encontrar algo que pudesse

abrir os olhos da vovó em relação a você ou Meera. Mas acho que tenho a

porra da minha bela bunda virada para lua. — Abre um sorriso largo e

desdenhoso. — Coloquei um detetive na cola de Meera e sem dificuldades,

ele descobriu que Madeline morreu quando criança.

Respiro fundo, tentando me manter firme, mesmo sabendo que estou

fodida de várias maneiras ruins.

— Esse plano foi tão amador. Mas tenho que parabenizá-la, você nos

enganou muito bem. É uma ótima atriz.

— O que você quer? — pergunto, fazendo Alice hesitar por uma

fração de segundos. — Não parece que contou a alguém sobre mim e pelo

pouco que conheço de você, eu diria que quer tirar vantagem da situação.

Então me diga, de vadia para vadia, o que você quer? Seja direta, sem jogos.
Alice sorri de um jeito doentio.

— Quero que você quebre o coração da vovó — fala como se não

fosse nada. Essa garota é louca.

— Como é que é?

— Vovó sempre preferiu Madeline, a netinha que foi embora. Eu

sempre estive ao lado dela, mas não foi o suficiente. Nunca foi. Minha mãe

sofreu o mesmo. É filha dela, mas sempre foi deixada de lado. — Alice
morde o lábio inferior, tentando reprimir um sorriso. Ela parece estar

adorando toda essa confusão. — Quero que decepcione a vovó, como ela

nunca foi decepcionada. Você quer dinheiro? Tudo bem, vou dar. Mas você

precisa partir o coração da minha avó. Quero que Madeline e Meera sejam a

maior decepção de todas. De toda a família. Eu quero que você foda com

tudo.

Balanço a cabeça de um lado para o outro, negando.

O que Alice tem na cabeça? Essa garota é louca, precisa de

tratamento. Mesmo que eu esteja ferrada, não vou sucumbir às chantagens

dela.

— Eu não vou fazer isso.

— Você não tem escolha. Está nas minhas mãos, Skyler. Se não fizer

o que eu quero, a polícia será envolvida. E eu não preciso dizer qual é o seu
destino, não é?

— Você é doente, garota.

— Você é uma impostora — rebate, me fazendo suspirar.

— Quer saber de uma coisa? Não vou fazer o que você quer, Alice.

Eu vou embora pra bem longe dessa família fodida. Tenho pena da Elisha

por ter uma neta como você, mesquinha, manipuladora e sem caráter.

Ela expande as narinas e acho que minhas palavras despertaram a


verdadeira fúria dela.

— Quem você pensa que é pra falar comigo desse jeito?

— Eu? Ninguém importante. E também não vou te explicar os

motivos que me fizeram topar esse plano sórdido da Meera, mas mesmo
assim, eu ainda acredito que sou melhor do que você, Alice. Mil vezes

melhor.

Ela ainda tem a respiração ofegante e os olhos transbordam um tipo

de ódio que nunca foi direcionado a mim. Eu acho que ela poderia me matar
aqui mesmo, na sala e não sentiria remorso por isso.

Alice levanta a mão e acerta minha bochecha com uma bofetada tão

forte, que eu cambaleio para trás. Quando levanto meu rosto para encará-la,
sinto meu lábio inferior arder e um leve gosto de sangue.
Sorrio para ela. Eu não sei exatamente o motivo, mas estou sorrindo.
E isso faz Alice ficar ainda mais furiosa e me esbofeteia de novo. Solto um

suspiro longo, tentando me controlar. Eu sou capaz de acabar com ela num
piscar de olhos, mas não posso fazer isso. Vai ser pior para mim.

— Eu vou embora — digo, me virando na direção da porta.

Sem dizer nada, Alice me puxa pelos cabelos e me derruba no chão.


Monta em mim e desfreia golpes contra o meu rosto. Por mais que eu não

queira resolver as coisas com violência, eu preciso me defender.

E é isso que eu faço. É fácil contornar a situação, eu sou faixa preta


em taekwondo e a única coisa que Alice sabe fazer é gritar enquanto tenta me

dar tapas e puxar meu cabelo.

Por cima de Alice e tendo o controle sobre a situação, é que eu noto

que está tudo perdido. Minha vida acabou. Estou fodida. Não tenho ninguém.
E fui burra o suficiente para escutar Meera e me meter nessa família cheia de

podres e segredos nojentos.

De repente, sinto mãos firmes sobre mim e sou tirada de cima de


Alice. Ela não está ferida, mas tem os cabelos todos bagunçados e o rosto

mais vermelho que um pimentão.

— Que porra é essa? — Jordan pergunta e vai no rumo de Alice,


ajudá-la a levantar.
Alice me olha por uma fração de segundos e eu sei o que vai
acontecer. Ela vai contar a verdade. Não tem mais nada a perder. Eu não

topei fazer o que ela queria, então, me entregará aos leões.

Alice começa a chorar. Fingida.

— Ela me atacou. — Aponta para mim e esconde o rosto no peito de


Jordan. — Você não sabe o que eu descobri. Uma tragédia — continua a

fingir. — Jordan, ela mentiu pra todos nós. Ela não é Madeline, ela não é
nossa prima.

Ele me olha com a testa cheia de vincos.

— O quê? O que você disse, Alice?

Fecho os olhos com força ao ouvir Tony perguntar. Olho por cima do

ombro e o vejo na entrada da sala, desolado. Sinto meu rosto queimar e o


coração ficar em pedacinhos. A verdade foi revelada e agora, ele vai me

odiar pelo resto da vida e não há nada que eu possa fazer para mudar o rumo
das coisas.

— Ela não é a Madeline... Madeline morreu quando tinha quatro

anos. Essa vadia é Skyler Jones, uma trambiqueira que se uniu com Meera
para dar um golpe na nossa família. Ela só queria o nosso dinheiro.

— O quê? — pergunta e vem até mim em passos decididos. Me pega

pelos braços e prende meus olhos aos dele. — Olhe nos meus olhos e me
diga que Alice está mentindo.

— Eu... — começo a falar, mas a voz me falha.

— Você o quê? Diz que isso é mentira — ele pede, com tanta dor,
que parte meu coração de novo e de novo. É visível que está sofrendo e eu

me sinto horrível por isso. — Me diz que você não fez isso, Madeline.

As lágrimas fazem caminho até a minha boca. Tento desviar dos


olhos tristes de Tony, mas não consigo.

— Fala comigo, Madeline — ele pede de novo, desesperado.

— Meu nome é Skyler Jones. Eu não sou a Madeline — digo com


tanta dificuldade, que sinto que vou sufocar.

Tony me solta, abatido. Ele parece atordoado com a notícia.

— Como pôde fazer isso? Como pôde? — Jordan pergunta, me

fazendo bater os cílios por alguns segundos.

— Eu sinto muito — é a única coisa que digo. Não existe nada que eu

possa falar para amenizar a situação. E tenho certeza que nenhum deles está
com vontade de me ouvir. Não posso culpá-los por isso.

— Nós temos que chamar a polícia — Alice choraminga e isso faz

Tony olhá-la. — Temos que fazer essa garota pagar por ter enganado a nossa
família. É o certo.

— Ninguém vai chamar a polícia.


Surpreendo-me ao ouvir a voz de Elisha. Ela está na porta que dá

para cozinha. O rosto está impassível e eu não sei o que pensar. O que essa
família vai fazer comigo? De qualquer forma, não importa mais. Minha avó

morreu e eu não tenho mais ninguém para decepcionar.

Bem, existe Tony, mas ele já está decepcionado e duvido muito que
eu signifique algo para ele no momento.
Parece brincadeira, mas a vovó reuniu toda a família na sala.

Madeline... Skyler está em pé, perto da vovó e tem a cabeça baixa.


Não sei o que vai acontecer com essa garota, e é uma droga eu estar

preocupado com ela depois de ter mentido tanto para mim. Mas sou idiota e
estou com a cabeça fervilhando em perguntas. O que vai acontecer com a

vida dela? O que será dela? Mesmo que tenha mentido, me enganado e que

eu não consiga olhá-la nos olhos no momento, não quero que ela vá parar

atrás das grades.

— Vovó, eu não entendo. Por que não quer chamar a polícia? Ela está

aqui só pelo dinheiro — Alice retruca, inconformada.

A loira esperneia no sofá, como uma garotinha mimada que não teve

sobremesa antes do jantar. É visível que ela quer o pior destino para toda a
situação. Acho que para ela, não importa se alguém sair ferido, só não quer

que a nossa falsa prima saia ilesa da confusão.

Vovó levanta as sobrancelhas para a neta e respira fundo antes de

começar a falar.

— Não é muito diferente do que você faz, Alice — fala num tom
amigável, mas com os olhos saindo faísca.

Alice está boquiaberta com as palavras da nossa avó. Ela troca um


olhar com a tia Naomi, que se remexe no sofá, mas fica quieta. Acho que

deve estar cogitando se deve ou não comprar briga com a matriarca.

— Vovó... — Alice sussurra.

— Você tem vinte e cinco anos e o que faz da vida? — vovó

pergunta a ela. — Largou várias faculdades, não trabalha e vive às minhas


custas. Troca de carro todo ano, faz viagens estrondosas e vive me pedindo

para aumentar o limite do seu cartão de crédito. Você também não está aqui

só pelo meu dinheiro ou eu estive enganada todos esses anos? — Ela encara

a neta com uma das sobrancelhas arqueadas. Alice engole em seco e prensa

os lábios, fazendo cara de choro. — Foi o que eu pensei — vovó acrescenta

de maneira sutil e ao mesmo tempo, poderosa.

Acho que a vovó nunca foi tão dura assim com Alice, mas confesso,

que é bom saber que ela não é cega e está ciente dos familiares que tem. Isso
me deixa aliviado, tinha medo de que no futuro, a vovó acabasse sendo

manipulada pela loira.

— Mãe, eu não estou entendendo. Se ela é uma impostora, por que

estamos todos reunidos assim? De braços cruzados? — a tia Naomi resolve

falar.

Meu pai e mãe não trocaram nenhuma palavra desde que entraram na

sala, no entanto, ele não para de olhar Madeline. Digo, Skyler. Parece triste

e aliviado por ela não ser a sua filha de verdade.

Filha.

Que porra de família é essa? Nunca imaginei que pudessem ter tantos

segredos e mentiras dentro da família Humphrey.

— Você acha que eu tenho cara de idiota, Naomi? — vovó rebate,

fazendo a garota ao lado olhá-la. — Eu nunca fui enganada — diz e devagar,

gira o rosto para encarar Skyler.

— Como? — Jordan, Alice e tia Naomi perguntam no mesmo

segundo.

Olho as duas e espero por explicações. Não tenho vontade de falar

nada no momento, porque me sinto um idiota. Eu me apaixonei pela minha

prima, que depois virou irmã e agora não é nada. Não sei como me sentir em

relação a tudo que aconteceu nas últimas horas.


— Eu fiquei no encalço de Meera durante todos esses anos. — Vovó

fixa as vistas na tia Naomi. — Você me subestima, filha, mas eu sempre

estou um passo à frente de todos vocês. Não achem que conseguem esconder
as verdadeiras intenções de mim, porque eu sei de tudo. Continuo no

comando da família pela minha sagacidade e não por ser uma velha

inofensiva. — Ela solta uma risada seca.

Engulo o nó na garganta ao pensar que ela deve saber sobre o que

aconteceu entre mim e a garota ao lado.

A tia abaixa a cabeça e fecha as mãos em punho, apertando firme e

deixando os nós dos dedos brancos. Está irada, mas não pode fazer nada

para mudar o rumo das coisas. É a vovó quem manda. Sempre foi assim e

sempre será até o dia que ela partir.

— Eu sinto muito, Elisha — Skyler fala, baixinho e com os olhos

cheios de lágrimas.

Dói dentro de mim vê-la assim e eu não consigo parar de me sentir

idiota. Um idiota apaixonado.

— Quando Meera falou que Madeline estava vindo, eu quis ver até

onde ela iria com essa mentira. — Vovó diz e vira o rosto em direção a

garota. — Manipulei você também, Skyler. Tenho que admitir que gostei de
tê-la aqui, ao meu lado, fingindo ser minha neta. E eu sei de toda a sua

história, das dificuldades que você viveu, criança. Sinto muito pela sua avó.

As palavras da vovó me deixam intrigado. Quais são as dificuldades

que Skyler viveu? O que aconteceu com avó dela? Que droga, por que não

paro de me preocupar com essa mentirosa?

— Mãe, mesmo que soubesse de tudo, não podemos deixar essa

garota sair impune — tia Naomi fala, tentando contornar a situação mais uma

vez. Ela levanta do sofá e caminha até a vovó. — Isso que ela fez é crime,

ela precisa pagar.

Vovó concorda com um aceno de cabeça, fazendo meu coração

apertar.

— Você tem razão, filha. — Sorri para tia Naomi. — No entanto,

vocês vão fazer o que eu quiser — diz com a voz firme. Ergue uma

sobrancelha para a filha e espera, como se quisesse que ela ousasse desafiá-

la. — Eu sou a chefe desta família e se vocês quiserem continuar tendo vida

boa, vão fazer o que mando. Alguém quer me contrariar? — pergunta, mas

ninguém é audacioso suficiente para retrucar.

Minha mãe está quieta, parece que passou cola nos lábios. No fundo,

ela tem medo de perder a vida regada de luxo, então prefere aceitar tudo que
a vovó disser. Meu pai nunca foi de ir contra a mãe, por isso, não disse nada

até agora. Ele vai concordar com qualquer coisa que seja decidido hoje.

— Skyler — vovó fala. — Não vou prejudicar você. Eu sei que

topou o plano de Meera, porque precisava ajudar sua avó. Eu sei tudo sobre

você, garota.

Skyler chora em silêncio.

— Eu sinto muito — ela murmura.

— Pode ir. — Vovó faz um gesto com a mão, mandando a garota ir

embora. — Vá.

— Hãm? Eu posso? — Skyler parece confusa.

Na verdade, todo mundo está confuso. Mas tenho que admitir, estou

aliviado. Se ela for, vai conseguir voltar com a vida normal sem grandes

consequências. E por mais idiota que isso seja, eu prefiro assim.

— Vá embora, ninguém vai denunciá-la. — Vovó respira fundo e

olha para todos na sala. — Meera já está a caminho e nós vamos resolver as

coisas em família.

— Mamãe, não pode estar falando sério — tia Naomi, como sempre,

rebate.

— Se você ousar ir contra mim, querida, está tudo acabado. Você

quer continuar vivendo no luxo? Então, fique calada e continue fazendo o que
sabe fazer de melhor... gastar o meu dinheiro — fala e por fim, a tia parece

entender que ou ela é a favor da vovó ou perde tudo.

E pela expressão da matriarca da família Humphrey, ela não está

brincando.

Skyler pede desculpas a vovó de novo e vai embora. Meu coração

aperta, é uma sensação ruim, como se nunca mais fosse vê-la. Levanto do

sofá ao mesmo tempo que Jordan. Ele olha para garota saindo de casa e

depois direciona a atenção para mim, decide sentar.

E eu vou atrás dela. Mesmo com raiva, eu vou.

— Madeli... Skyler — chamo e ela para com a mão na porta da

picape. Vejo-a respirar fundo antes de virar e me encarar. Estou muito


decepcionado com ela, mas por que mesmo assim, eu quero abraçá-la? Por

que quero sentir o cheiro dela? Por que ainda quero essa garota?

— Tony, eu sinto muito — diz, partindo ainda mais meu coração. —

Se eu pudesse voltar no tempo, não teria vindo aqui e mentido durante todo
esse tempo. Eu sinto tanto por ter mentido pra você.

— Por que mentiu? — quero saber.

— Eu precisava ajudar minha avó — sussurra e chora em silêncio.

— Mas no final não adiantou de nada.


— O que aconteceu com ela? — me vejo perguntando. Ela apenas me
olha, sem dizer nenhuma palavra e eu entendo em meio segundo. — Sinto

muito.

— Não devia estar aqui, falando comigo.

— Eu sei — retruco com um gosto amargo na boca. — Mas por que

não consigo te deixar ir? Mesmo irritado por você ter mentido, estou
preocupado. Me diz o que eu faço pra tirar você da minha cabeça? Me diz

como não me preocupar com você?

Skyler respira fundo e se aproxima de mim, toca meu rosto e eu


deixo, porque quero sentir o calor dela nem que seja pela última vez.

— Nós... foi tudo uma mentira. Não foi real — murmuro.

Ela engole em seco e morde o lábio inferior, tentando segurar as


lágrimas.

— Espero que um dia me perdoe por todas as mentiras que eu contei,

Tony. E quero de verdade que você fique bem.

Dito isso, ela recua com a mão e entra na caminhonete, indo embora

de Miramar Beach. Indo embora da minha vida.


Algumas semanas depois...

Encaro a placa de "vende-se" e respiro fundo. Sorrio para a


corretora imobiliária e apertamos as mãos antes dela ir embora. Observo-a

entrar no carro e sumir rua a fora, levando consigo todas as esperanças que
tenho de continuar morando nesta cidade.

Volto a atenção para a fachada da minha casa e me sinto horrível por

estar colocando o lugar à venda, mas preciso de dinheiro para pagar as


contas hospitalares da minha avó. Ou pelo menos, metade delas.

É triste ter que me desfazer do local que guarda tantas lembranças

boas e eu nem sei o que vou fazer da minha vida quando vender a casa, mas

é a única solução.
Meera se mudou faz alguns dias. Não sei o que aconteceu entre ela e

a família Humphrey, mas parece que agora tem condições de bancar o

tratamento e remédios do filho com osteossarcoma[3]. Ela me ofereceu uma

quantia significativa para ajudar com as contas hospitalares da vovó, mas

não consegui aceitar.

Aceitar o dinheiro era como cutucar a ferida no meu coração. E faz

parecer que tudo que vivi com Tony não passou de uma mentira

maquiavélica da minha parte. Mesmo que eu não tenha onde cair morta,
nunca colocarei as mãos nesse dinheiro. Eu não sou uma aproveitadora.

Quando aceitei me passar por Madeline, estava apenas procurando formas

de sobreviver. De fazer minha avó sobreviver.

Entro em casa, observando os móveis velhos, mas bem cuidados. A

casa é pequena e sempre achei tão aconchegante, mas agora, sem a vovó
aqui, ela é vazia e sem vida. Ela faz tanta falta, que sinto meu coração ficar

pequenininho com cada lembrança que preenche minha cabeça. As lágrimas

que se tornaram minhas melhores amigas nas últimas semanas, fazem

caminho até a boca. Limpo-as com as costas das mãos e vou até a cozinha

fazer o jantar. Uma coisa tão corriqueira, se tornou algo tão doloroso de se

fazer. Vovó sempre me observava preparar as refeições, conversávamos e

fazíamos planos, mesmo que impossíveis, de viajar mundo afora.

Choro em silêncio.
Sozinha.

Eu sempre achei que conseguia viver bem sozinha. Eu tinha perdido

meus pais, depois minha avó ficou doente e eu não tinha tempo para amigos.

Eu tinha apenas a vovó e estava bom para mim assim. Não me importava de

não ser uma adolescente normal, com namorados e amigos. No entanto, a

solidão me incomoda tanto agora.

A campainha toca, me tirando do meu devaneio. Deixo os legumes

que comecei a picar em cima da mesa e me arrasto até a porta. A surpresa é

tão grande, que fico em silêncio, paralisada.

— Não vai nos convidar pra entrar? — Isabel pergunta com um

sorriso tímido desenhando todo o rosto.

Quando caio em mim, assinto. Dou um passo para trás e ela entra,

depois Wyatt, que troca um olhar duradouro comigo, mas não consigo

decifrá-lo. Eles estão aqui para me xingar por ter mentido? Ou querem ver o

quão desprezível eu sou por ter aceitado enganar uma família rica?

E Deus, como eles descobriram meu endereço?

— Como me encontraram? — pergunto com um nó na garganta.

— Elisha — Wyatt diz e eu suspiro. É claro que ela sabe onde eu

moro. Aquela mulher sabe tudo sobre mim.


Gesticulo com a mão para que eles sentem no sofá em frente a

mesinha de centro e eu me acomodo na poltrona antiga da vovó.

— Eu tô puto por você ter mentido, Madie... Skyler — Wyatt corrige

meu nome e eu engulo em seco. Ele está no direito de ficar bravo comigo e

não posso culpá-lo por isso. — Mas depois de saber toda a história, eu

entendi. Entendi, porque eu gosto de você e queria arranjar motivos pra ficar

de boa com toda essa droga de situação.

Respiro fundo e concordo com um aceno de cabeça.

— Não espero que me perdoem pelo que fiz, não existe desculpa. Eu

fingi ser outra pessoa, mas sinto muito por tudo. Eu gostei de você de

verdade, Wyatt.

— Eu teria feito o mesmo — Isabel diz, chamando minha atenção. —

Se eu não tivesse ninguém e minha mãe estivesse precisando de dinheiro, eu

teria feito o mesmo que você, sei lá.

As palavras dela me roubam um sorriso triste. Não acho que Isabel

faria o mesmo que eu, ela é inteligente demais para fazer uma idiotice

dessas.

— Eu vi a placa lá fora. O que vai fazer? — Wyatt quer saber.

Deixo os ombros caírem, me sentindo exausta. Estou tão cansada, faz

dias que não tenho boas noites de sono. Não consigo pregar os olhos, porque
toda vez que faço isso, eu lembro de como Tony estava decepcionado

comigo quando fui embora.

— Vou pegar o dinheiro e pagar as contas hospitalares, depois, eu

não sei. Ainda não pensei nessa parte.

— Vamos viajar — Wyatt comenta, de repente. — Vamos fazer


aquela viagem. Essa é a hora certa.

Meus olhos enchem de lágrimas e eu enfio o rosto nas mãos,

deixando que a vergonha e o arrependimento transbordem em forma de

choro.

Sinto alguém dando batidinhas de consolo nas minhas costas e


quando olho para cima, vejo Wyatt.

— Eu não mereço você. Não mereço nenhum dos dois — murmuro,

chorando.

— Estamos aqui, porque gostamos de você — Isabel diz ao se

aproximar e ficar de joelhos na minha frente. — Vamos colocar uma pedra

no passado e começar de novo? O que você acha?

Em meio as lágrimas, eu sorrio. O primeiro sorriso que dou em


semanas. E eu sei, não sou digna deles, mas estou feliz de poder tê-los na

minha vida outra vez.


Isabel e Wyatt foram embora na manhã do dia seguinte. Me fizeram

prometer que faremos aquela viagem assim que possível. Não tenho a

intenção e muito menos condições financeiras ou emocional de sair em uma

viagem dessas, mas eles só sossegaram depois que dei a minha palavra.

Vê-los indo embora fez meu coração doer, mas ainda assim, estava

feliz por eles terem vindo aqui. Não é fácil perdoar o que eu fiz e os dois se

esforçaram para fazê-lo. Escutaram o que eu tinha a dizer, entenderam e

decidiram que começaremos de novo a nossa amizade. Tudo do zero.

Tenho a sensação de que vai demorar para nos encontrarmos outra

vez, já que tem muita coisa acontecendo na minha vida e eu não tenho certeza

sobre o meu futuro, mas é bom saber que eles não me odeiam.

Um pouco depois de eles terem ido embora, vou trabalhar na loja de

conveniência da esquina. Não é um grande emprego, mas com ele, consigo

dinheiro para manter o básico e a cabeça ocupada.


A televisão da loja está ligada e na tela colorida passa uma

entrevista gravada do astro hollywoodiano que fisgou meu coração. Tony

está tão lindo e sorridente, sendo um verdadeiro cavalheiro com a

apresentadora do programa e com as fãs histéricas da plateia.

Um cliente entra na loja, me fazendo desviar a atenção do Tony na

tevê.

Minha rotina nas últimas três semanas têm sido ir à loja de

conveniência pela manhã e trabalhar a noite como pianista numa espelunca,


onde ninguém presta atenção de verdade nas músicas que eu toco. O que não

é de um todo ruim, não chamar atenção é bom também. Ainda mais depois de
tudo que aconteceu entre mim e aquela família podre de rica.

Quando volto para casa já passam das onze da noite. Paro em frente a
placa de “vende-se” e faço uma oração silenciosa para que eu consiga

vender o imóvel o quanto antes. Continuo meu trajeto até a porta, meto a mão
dentro da bolsa e procuro pela chave. No momento em que pego na

maçaneta, ouço um bater de porta de carro. Dou uma espiada por cima do
ombro e sinto o coração falhar as batidas ao ver Tony.

O astro de Hollywood vem até mim e eu engulo em seco, sem saber o


que fazer. Ele está usando blusa preta de botões, calça de alfaiataria e tênis

moderno. Os cabelos com cachos delicados estão levemente penteados para


o lado e a barba bem ralinha.
Lindo. Perfeito.

— Tony...

— Precisamos conversar — é o que diz, fixando os olhos nos meus.

Prenso os lábios e assinto de leve. Com o coração saltitante, abro a

porta e nós entramos. Tony varre as vistas pela sala pequena e depois, enfia
as mãos no bolso da calça, buscando meus olhos.

Respiro fundo, tentando controlar a vontade de me atirar nos braços


dele. Eu senti tanta saudade, que cheguei a achar impossível tirá-lo da

cabeça. Esquecer Tony pareceu e parece uma missão que está fora do meu
alcance.

Eu o amo. Amo tanto, mas nem tive a oportunidade de ser sincera

sobre os meus sentimentos. E agora, acho que a última coisa que Tony deve
querer ouvir é sobre o que sinto por ele.

Coloco a bolsa em cima do sofá e meneio com a mão para que sente.

Ficamos nos encarando pelo que parece uma eternidade até que ele vem para
cima de mim, tomando meu rosto entre as mãos e colando os lábios nos

meus.

O beijo dele tem gosto de pastilha de hortelã e é tão bom. Eu senti

tanta falta de tê-lo assim, bem pertinho de mim. Nossas línguas se enrolam,
levando ondas de arrepios por todo o meu corpo e me deixando acesa, louca
de desejo.

Ele se afasta de repente e eu solto um suspiro longo.

— Sinto muito — fala e fico quieta. Ele deve estar arrependido de

ter me beijado, mas foi uma das melhores coisas que aconteceu comigo nas
últimas semanas. — Eu não vim aqui pra fazer isso.

— Então, por que está aqui? — pergunto, intrigada.

— Tenho uma proposta.


Entro no escritório da vovó e ela levanta as vistas para me encarar.

O cômodo não combina em nada com o restante da casa na praia e faz


parecer que eu estou em outro lugar, menos em Miramar Beach.

Ela pede um minuto e eu me acomodo na cadeira em frente à mesa de


madeira maciça.

Ainda não consigo acreditar em todas as coisas que descobri sobre a

vovó três semanas atrás. Quando Meera voltou, ela não veio de braços
abanando, estava preparada com histórias sobre a matriarca.

Quem diria que uma senhora tão amorosa e de feição gentil, pudesse

arquitetar um plano maquiavélico para sequestrar Madeline com três anos de

idade, porque não queria viver longe da neta. Ou que chegou a oferecer

muito dinheiro para Meera abrir mão da guarda da menina?


Ela fez tantas coisas erradas e tentou resolver os problemas com

dinheiro, como se comprar vidas não fosse algo tão absurdo. No entanto, é a

minha avó, quem lia histórias para mim até eu adormecer, que depois de

aceitar que eu não queria ser o CEO dos negócios da família, me apoiou de

todas as maneiras possíveis. Ela é minha avó e apesar de tudo, eu ainda a


amo.

— Já está voltando pra Los Angeles? — vovó quer saber.

— Ainda não.

É verdade que minhas malas estão prontas para ir embora, mas

preciso fazer algo antes de voltar com a minha vida.

— Vou atrás dela, vovó — digo de uma vez. Ela me olha através dos

óculos de armação moderna, mas não diz nada de início.

Passei as últimas três semanas tentando tirar aquela garota da minha

cabeça, do meu coração. Tentei odiá-la, afinal, ela mentiu para mim e me fez

parecer um idiota. Mas nem com reza forte consigo parar de pensar em

Skyler. Toda vez que fecho os olhos, eu lembro dela, do cheiro dos seus

cabelos e de como fica linda e nua na minha cama. Eu amo aquela garota e

só vou conseguir viver minha vida depois de tentar acertar as coisas entre

nós.

— Skyler? — pergunta depois de um tempo em silêncio.


Assinto.

— Não devia, é cedo, eu sei, mas eu a amo. Tentei, mas não consigo

parar de pensar nela — admito.

Vovó abre meio sorriso.

— E o que você quer de mim?

Solto um suspiro longo e depois, me inclino um pouco para frente.

— Uma garantia.

Vovó ergue uma sobrancelha para mim.

— Uma garantia? — repete.

— Sim. Quando eu trouxer aquela garota pra minha vida de novo,

não quero que ninguém a prejudique. Preciso de uma garantia de que ela vai

estar segura... da minha tia, da Alice. De toda a nossa família e de quem a

conheceu como Madeline. Quero a garantia de poder viver uma vida com ela

sem me preocupar com o que vai acontecer de errado — sussurro as últimas

palavras.

Vovó larga a caneta que está segurando em cima dos papéis, apoia os

cotovelos na mesa e segura o queixo com delicadeza, me olhando.

— Você está confiante. Skyler sente o mesmo por você?

A pergunta me deixa com um gosto amargo na boca. É ridículo, mas

eu não sei. Vou descobrir quando for atrás dela. Talvez seja um tiro no
escuro, mas me conheço bem, não vou sossegar enquanto não resolver toda

essa situação.

— Eu não sei, mas vou descobrir — é o que digo, fazendo vovó

assentir.

— Não sei se vocês dois juntos é uma boa ideia, Tony. O

relacionamento de vocês começou com uma mentira. Amor assim não vai pra

frente, querido. Não é melhor deixar tudo do jeito que está?

Fecho as pálpebras por uma fração de segundo e endireito a postura.

— Vovó, não fique contra mim. Vou fazer tudo que eu quero, mesmo

que a senhora diga o contrário. Eu só vim aqui, porque tenho respeito pela

senhora. E eu sei, que se estiver ao meu lado, será mais fácil, porque a

senhora governa essa família e todos a temem. Mas posso ir pelo caminho

difícil também, não vejo problema nenhum nisso.

Ela engole em seco e retira os óculos do rosto, respira fundo e

prende os olhos aos meus.

— É isso mesmo que você quer? Tem cem por cento de certeza?

— Sim, vovó, eu tenho.

— Então... não se preocupe, ninguém encostará um dedo naquela

garota. Você tem a minha palavra. Vá e faça o que quer fazer.


Estou tão aliviado que jogo a cabeça para trás de olhos fechados e

deixo escapar uma baforada de ar. Parece que tirei um peso das costas. Fico

de pé e me aproximo dela para depositar um beijo na sua testa.

— Obrigado, vovó.

Ela sorri e concorda com um leve aceno de cabeça.

E eu vou atrás de Skyler.

Chego no aeroporto regional de Augusta depois de quase três horas

de voo. Pego a mala e caminho até o primeiro guichê de aluguel de carro que

vejo. Assim que resolvo tudo com a moça simpática atrás da janela de vidro,

vou buscar o veículo na garagem do aeroporto.

Quarenta e cinco minutos mais tarde, já me encontro no quarto de

hotel, de banho tomado e pensando nas exatas palavras que vou dizer a

Skyler quando encontrá-la. Ela não é uma garota fácil e com certeza, vai me

chamar de louco depois de me ouvir.


Olho a hora no relógio de pulso, são quase vinte horas, ela deve estar

em casa. Pego a carteira e chave do carro em cima da cômoda ao lado da

cama e desço de elevador até a garagem do hotel.

São dez minutos até a casa dela. Os dez minutos mais longos da

minha vida. Estaciono o carro em frente a placa de “vende-se” e saio do

veículo. Respiro fundo antes de ir rumo à porta, toco a campainha algumas

vezes e me dou conta que ela não está em casa.

Entro no veículo de novo e decido estacionar o carro do outro lado

da rua e faço a única coisa que está no meu alcance, eu espero. Três

intermináveis horas depois, vejo Skyler na esquina. Sorrio ao notar que ela

está usando uma blusa de banda de rock que eu não conheço, calças jeans e

coturnos surrados. Como senti saudade da minha garota metaleira.

Levo ar até os pulmões e saio do carro, batendo a porta. Skyler olha

para trás e paralisa quando me vê. Não consigo decifrar se está feliz ou não

com a minha chegada. Nós entramos e eu estou pronto para falar o que tenho

em mente, quando o desejo é mais forte que eu. Acabo avançando em cima

dela e a envolvo em um beijo necessitado. Dou um passo para trás quando

sinto a ereção querendo tomar conta de mim.

— Sinto muito. Eu não vim aqui pra fazer isso.

— Então, por que está aqui? — ela quer saber.


— Tenho uma proposta.

Vejo a testa de Skyler enrugar, mas ela assente, visivelmente

desconfiada. Nos acomodamos no sofá e ela espera em silêncio,

entrelaçando as mãos inquietas. Quero me aproximar e acalmá-la, mas

controlo minha vontade. Não posso perder a cabeça com o desejo de me

afundar nesse corpo pequeno e passar a noite inteira com ela.

Preciso focar no que vim fazer.

— Skyler...

— Tony... — ela sussurra, me roubando meio sorriso. — Você está


bem?

— Não — respondo, sincero, mantendo nossos olhos conectados. —


E você?

— Não.

Respiro fundo e concordo com um aceno de cabeça.

— Eu estou aqui, porque já não sei mais o que fazer pra tirar você da

minha cabeça — começo a falar. Skyler parece hipnotizada com as minhas


palavras. — Confesso que pensar no que aconteceu... ainda dói. Você mentiu

pra mim e eu me sinto traído.

— Eu sei, sinto muito. Não queria ter feito nada daquilo, só que eu

estava desesperada e precisava de dinheiro. Precisava tentar ajudar minha


avó, Tony.

Concordo com um aceno de cabeça.

— O que ela tinha? — pergunto. Vovó já tinha me dito muito sobre


Skyler e a avó doente, mas eu quero ouvi-la falar. Quero entender.

Ela mexe os ombros, respirando fundo.

— Câncer de pulmão — sussurra, lambendo os lábios. — Estava


avançado demais. Não sou burra, eu sei que ela não sobreviveria, mas eu
queria dar um final confortável pra ela. Não consegui — admite e desvia os

olhos de mim, deixando as lágrimas molharem as bochechas salientes.

Incomoda pra cacete vê-la assim. Parte de mim quer roubar a dor
dela, e a outra parte, quer fazê-la entender que não é culpada por ter perdido

a avó.

— Sinto muito.

A garota ergue os olhos para mim ao balbuciar:

— Eu também, Tony.

— Você se arrepende de ter me enganado?

Skyler solta um suspiro, parece estar sentindo dor.

— Sim, é claro que sim. Se eu pudesse fazer diferente, nunca teria


mentido pra você, Tony. Você era uma das únicas pessoas que eu não queria

decepcionar. Me desculpe.
Assinto outra vez com o coração acelerado. Me sinto um adolescente
na puberdade perto da garota que gosta.

— A verdade é que sou louco e estou disposto a deixar tudo pra trás,

se você fizer o mesmo.

Ela une as sobrancelhas, confusa.

— Hãm?

— Eu quero você, Skyler — falo de uma vez.

A garota engole em seco, abre a boca para falar, mas desiste. Ainda

mantém os olhos fixos aos meus.

— Eu vou voltar pra Los Angeles, venha comigo.

— O quê? — é o que ela pergunta.

— Venha morar comigo.

Skyler fecha os olhos com força e nega com a cabeça, murchando o


meu coração. Levanta do sofá e passa as mãos entre os cabelos longos, não

parecendo nada feliz com a minha proposta.

— Tony, isso não tem lógica. Morar com você? É de longe um


absurdo. Sua família vai aceitar isso de boa?

— Isso não tem nada a ver com a minha família. E como não tem

lógica? — questiono ao ficar de pé. — Você não gosta de mim? — pergunto,


rompendo a nossa distância.
Noto a respiração dela ficar ofegante com a minha proximidade.

Tenho certeza que se eu me inclinar para um beijo, Skyler é minha.

— Não é isso — murmura.

— Então, o que é?

— Eu amo você, Tony — diz, fazendo meu coração trepidar dentro

do peito. Antes que possa ficar feliz demais, ela começa a falar. — Mas não
posso ir com você.

— Por que não?

— O que vou fazer lá? Não quero ser bancada por você, vai ser
humilhante demais pra mim. Eu sei que a minha situação é difícil, mas a

última coisa que eu quero de você, Tony, é pena ou dinheiro.

Seguro seu rosto entre as duas mãos e faço Skyler me olhar nos
olhos.

— Eu não tenho pena de você, garota. Só quero te ter ao meu lado.


Não podemos fazer isso? O que tenho que fazer pra você mudar de ideia?

— Não me vejo indo morar em Los Angeles com você, não parece

certo.

Afasto-me dela, começando a ficar desesperado. O que vou fazer


para essa garota mudar de ideia? O que fazer para ela ir morar comigo?
Droga, o que eu faço?
— Prefere ficar aqui? Sozinha?

Vejo seus olhos encherem de lágrimas e ela morde o lábio inferior.

— Não, mas como isso vai ser? — retruca, um pouco alterada. —

Vou viver o resto da minha vida sendo sustentada por você? Vai pagar as
dívidas hospitalares da minha avó também?

Não vejo mal em fazer isso tudo por ela, mas está na cara que a
última coisa que Skyler quer que eu faça, é concordar.

— O que você quer, então? — pergunto. — Me diz e nós podemos

encontrar uma forma de resolver as coisas.

— Queria que a gente tivesse se conhecido de uma forma diferente

— murmura, me fazendo suspirar. — Não quero ser alguém com quem você
vai sempre se preocupar, Tony.

— Que mal tem eu me preocupar com você?

— Por que você não pode só me amar? Não quero um cara rico que

pague as minhas dívidas, que me encha de coisa cara e me banque a vida


inteira. Eu quero um cara que me ame. Só isso.

— Eu te amo — digo, tornando a me aproximar dela. Pego as duas


mãos entre as minhas e beijo os nós dos dedos. — Eu te amo tanto.

— Eu também te amo, Tony.


Skyler encosta a testa no meu queixo e eu suspiro, exausto. Pensando
em várias maneiras de como fazê-la mudar de ideia. Não posso voltar a

viver minha vida sem ela. Eu não consigo.

— Mas eu não posso aceitar a sua proposta — diz, baixinho e

fazendo meu coração doer. — Me desculpe.

Ela dá um passo para trás e limpa as lágrimas dos olhos com as


costas das mãos.

— Não faz isso comigo, Skyler.

— É melhor você ir, eu estou cansada.

Contraio a mandíbula e concordo com um aceno de cabeça, tentando


controlar a vontade de pegar Skyler, colocá-la no meu ombro e arrastá-la até

Los Angeles como um homem das cavernas.

Mesmo com raiva, decepcionado, tasco um beijo na bochecha dela e


saio porta afora. Dentro do meu carro, esmurro o volante e penso no que

fazer. Sem saber muito bem se devo ou não, decido ligar para Rosie. Ela é
uma das mulheres mais próximas de mim e me conhece muito bem, e o

melhor, está sempre me ajudando a resolver os problemas.

Preciso que ela me ajude a resolver esse problema.

— Rosie, preciso de ajuda.


— Deve ser urgente mesmo, você não disse nem oi — retruca do
outro lado da linha. — O que aconteceu?

— Estou em Augusta, na Geórgia, preciso que você venha.


Descobri que Tony é muito insistente.

Ele não tirou a ideia de me levar para Los Angeles da cabeça. Veio
durante quatro noites seguidas. Toda noite quando chegava em frente de casa,

o encontrava sentado nas escadas da varanda, me esperando.

Na segunda noite da missão de "me convencer a ir morar com ele",

Tony tomou conta da cozinha e preparou um jantar delicioso para nós, lavou

a louça e ainda fez uma massagem bem provocante nos meus pés. Me deixou
louca e eu já estava pronta para tirar a roupa e ter uma maravilhosa noite de

sexo com o astro de Hollywood, só que para meu desgosto, o homem deu

para trás e foi embora.

Ele estava me fazendo pagar por não aceitar a proposta.


Mas como eu posso aceitar um negócio desses? Não quero viver uma

vida assim com Tony. Eu não preciso do dinheiro dele, só preciso que ele

me ame. Mas no momento, parece impossível conciliar as duas coisas.

Quando chego em frente de casa, me decepciono ao não encontrar

Tony sentado na varanda. Uma hora ele cansaria de tentar me fazer mudar de

ideia. E acho que ele cansou.

Ao ouvir um bater de porta, olho para trás, animada com a

possibilidade de ser ele, mas não é. Vem ao meu encontro uma mulher alta,

magérrima, pele negra brilhante, cabelo Black Power e usando um conjunto

de terninho supermoderno. Ela abre um sorriso grande e gentil quando


nossos olhos se encontram.

— Oi, eu sou Rosie Smith, agente do Tony — diz ao estender a mão

para mim em cumprimento.

— Oi, eu sou Skyler Jones.

Depois dos cumprimentos, convido Rosie para entrar. Ela se

acomoda no sofá e eu faço o mesmo.

— Você já deve imaginar o motivo de eu estar aqui, não é? — vai

direto ao ponto, e mesmo sem ter certeza, assinto. A única coisa que sei, é

que sem sombra de dúvida, a visita dela tem a ver com Tony. — Skyler, eu

acho que você é uma garota parecida comigo.


Arregalo os olhos. Como é que eu vou ser parecida com uma mulher

tão linda e poderosa como ela?

— Eu?

Ela sorri, iluminando a sala inteira.

— Tony me contou tudo.

Encolho os ombros, envergonhada.

— Tudo, tudo? Ou só tudo?

Rosie solta uma risada gostosa.

— Tudo, tudo — fala ao assentir. — Não se preocupe, não estou aqui

pra julgar o que fez, longe de mim isso.

Respiro fundo, aliviada. Última coisa que quero é alguém me

julgando pela doidice que fiz ao ter topado a loucura de Meera.

— Obrigada.

— Eu entendo você, Skyler — diz e eu a olho nos olhos. — Por isso,

eu digo que somos parecidas. Também não ia querer viver uma vida em que

um homem bancasse toda as minhas coisas. Não combina comigo, não faz o

meu estilo. Pelo que Tony me falou, nem o seu.

— Então, você entende o motivo de eu não arrumar minhas malas e

correr pra ir morar com Tony, não é? — questiono e ela concorda com um

leve aceno de cabeça. — Eu amo aquele homem, mas não posso, não quero
ter que viver uma vida onde ele paga todas as minhas contas. Eu não fui

criada assim, eu não nasci pra isso. Não combina comigo — acrescento a

última frase em um sussurro e Rosie ri.

— Eu sei, por isso estou aqui.

— Como?

Na verdade, ainda não tinha entendido o motivo de ela estar aqui. Se

não é para me convencer a viver uma vida de luxo bancada por Tony, qual o

motivo, então?

— Sejamos sinceras, Tony não vai desistir de te levar pra Los

Angeles. Eu nunca o vi de quatro por uma garota como ele está por você.

As palavras de Rosie fazem minhas bochechas formigarem.

— Ah — é o que digo, sem jeito.

— Tá na cara que vocês dois se amam. Um fato é um fato. Concorda

comigo? — pergunta e eu anuo em silêncio. — Eu também vim fazer uma

proposta.

Franzo o cenho, confusa.

— O quê? Proposta?

— Sim. Minha proposta é um emprego.

Encaro Rosie sem entender nada. Como assim ela veio me oferecer

um emprego? Que doideira é essa? Nada parece fazer sentido agora.


— Tony disse que você é uma excelente pianista — diz e eu fico

quieta, esperando que ela continue. — Tenho uma sobrinha de dez anos que

adora pianos e meu irmão está procurando uma professora. Ela tem síndrome

de asperger[4], então precisamos de alguém paciente e gentil. Você acha que

consegue?

Rosie sorri e meus lábios repuxam em um sorriso também. Eu adoro

crianças, não seria nada ruim trabalhar com uma. Mas é esse mesmo o

caminho? É a solução batendo na porta?

— Está falando sério? — pergunto.

— Sim. Tony falou muito bem de você, do seu talento, eu não estaria

aqui se não fosse sério.

Mordo o lábio inferior e fico quieta, pensando. Coração está batendo

rápido e eu não sei muito bem o que fazer. Devo ou não aceitar? Parece tão

fácil e na minha vida, nada vem fácil. E mesmo assim, onde eu vou morar?

Não quero morar na casa do Tony de graça. Não vai dar certo e eu me

sentirei mal por isso.

— Meu irmão vai pagar um salário bacana, deve ser mais do que

você recebe trabalhando na loja de conveniência e naquele bar — fala,

chamando minha atenção. — Meu apartamento não é muito grande, mas tenho

um quarto sobrando. Você pode vir morar comigo e dividir o aluguel. E


talvez, arrumar outro emprego. As aulas com a minha sobrinha não serão

todos os dias, então, você pode procurar outra coisa.

Sorrio de novo.

— É uma oportunidade tentadora...

— Mas? — ela me interrompe. — Diga, sempre tem um porém.

— Vai levar uma estranha pra morar na sua casa, está de boa com

tudo isso?

Rosie respira fundo e devagar, os lábios se repuxam de maneira

meiga.

— Não estava nos meus planos oferecer um quarto. Na verdade,

Tony vai pirar com isso. Mas você me parece ser alguém de índole boa,

Skyler. E eu senti vontade de te ajudar.

— Ah, obrigada.

— Não existe problema nenhum em aceitar ajuda de alguém de vez

em quando. Isso não te faz ser mais fraca ou algo do tipo. Você é humana,

Skyler. Ser ajudada, não tem nada de errado nisso.

— Eu sei — sussurro.

— E mesmo assim, você não vai morar de graça comigo, vamos

dividir o aluguel, as despesas, tudo. Fique tranquila, não será um estorvo na

minha vida.
Inspiro fundo, de certa forma, me sentindo aliviada. Parece uma

solução. Eu não tenho para onde ir depois de vender a casa, não tenho plano

nenhum. E esse, me parece um bom plano. Não vou precisar ser sustentada

por um homem rico e posso conseguir minhas próprias coisas morando em

Los Angeles. Mas mesmo assim, ainda não sei se devo seguir por esse

caminho.

— Tem certeza que Tony não vai interferir? — questiono.

Ela estende a mão para mim ao dizer.

— Tem minha palavra.

Seguro a mão de Rosie e sorrio, mas ainda não digo se aceito ou não.

Ela fica de pé, me surpreendendo. Ajeita o blazer de corte moderno e pega a


bolsa, enfiando a alça no ombro.

— Não precisa me dar uma resposta agora. — Rosie enfia a mão


dentro da bolsa tiracolo e tira um cartão de visitas para me entregar. —

Pense e repense, a oferta estará de pé mesmo que você demore seis meses
para dizer sim.

Anuo, sorrindo.

— Obrigada, Rosie.

— Mas não demore muito, tudo bem? Tony pode pirar de vez — fala,
soltando um risinho contagiante.
Faço que sim com a cabeça outra vez. Rosie apoia as mãos no meu
ombro e me envolve em um abraço apertado. Ela é uma mulher incrível.

Tony não deve viver sem ela e dependendo da minha resposta, nem eu.

— Estou indo, meu voo amanhã é cedo.

— Ah, certo. Boa viagem.

— Obrigada, Skyler — fala ao sorrir. — Aliás, Tony foi embora pra

Los Angeles hoje.

Não consigo esconder a decepção. Estava gostando de vê-lo aqui

quando chegava do trabalho. Era tão acolhedor e até romântico. Não ter
Tony por perto vai me fazer sentir solitária de novo.

— Está decepcionada? — Rosie quer saber.

— Um pouco — admito, roubando uma risada dela.

— Eu disse que ajudaria, se ele aceitasse fazer uma participação

especial em um filme de terror. Ele voltou correndo, acredita? Nunca foi tão
fácil fazê-lo aceitar um papel. Estou começando a achar que vou usar você
mais vezes — brinca e me dá uma piscadela.

Reviro os olhos e acabo rindo também.

Ah, esse Tony. O que eu faço com ele?

— Se cuida, Skyler. Espero te ver em breve.


Rosie me dá outro sorriso e vai embora da minha casa. Deito no sofá
e fico encarando o cartão da agente de Tony entre os dedos.

Sim ou não?

Seguir ou não por esse caminho?

Devo aceitar ou não aceitar?

Ai, Deus, o que eu faço?

Uma semana depois, eu ainda não tinha decidido o que fazer com a

minha vida. Resolvo pedir conselhos aos únicos amigos que tenho. Isabel e
Wyatt. Faço uma chamada de vídeo com os dois e espero que isso clareie
minha cabeça.

Wyatt é o primeiro atender.

— Ei, Sky — fala animado, me fazendo sorrir com o apelido que me

deu. É tão bom ouvi-lo chamar meu nome de verdade. É tão bom ser eu
mesma e ainda continuarmos sendo amigos.

— Ei, Wyatt. Tudo bem por aí?


— Vejamos. — Ele semicerra os olhos e finge refletir. — Estou

ensaiando o meu discurso pra falar com meu pai, e você?

Suspiro.

— Você consegue, não tenha medo.

Ele sorri.

— Obrigado.

Isabel atende a chamada de vídeo. Animada, ela começa a tagarelar


sobre ter conhecido um cara no clube, escuto tudo e comento uma coisa ou

outra. Quando começamos a conversar sobre sexo, e eu não faço a mínima


ideia de como chegamos nesse tópico, eu falo sobre o Tony, Los Angeles e

Rosie. Os dois me encaram atentos e demoram quase uma eternidade para


começarem a opinar.

— Finalmente ele teve coragem de falar. Achei que isso nunca ia

acontecer — Wyatt comenta.

— Você sabia? — quero saber.

— Desde que você ainda era Madeline — brinca e nós acabamos

rindo. Só ele mesmo para fazer piada com isso e ainda me roubar risadas.

— Qual é o problema, amiga? — Isabel pergunta.

— Tenho medo. Parece uma solução fácil, eu não sei.

Isabel e Wyatt assentem, sincronizados.


— Veja bem, Sky — Isabel começa. — Você me ajudou quando eu

precisei. Se não fosse por você, eu não estaria trabalhando no clube e minha
mãe não estaria chateada por eu não querer voltar pra Los Angeles — caçoa,

nos fazendo rir. — Falando sério, ela quer te ajudar e eu não vejo mal algum
em você aceitar. Lá, você vai trabalhar, dividir aluguel e as despesas. Parece

fácil, mas não é. Você vai ter que batalhar pra conseguir as suas coisas.

— E mesmo assim, você não tinha planos pra depois de vender a


casa — Watt lembra, me fazendo morder o lábio inferior. — Você vai ficar
sem casa de qualquer forma, não custa nada tentar — fala e eu acabo rindo

junto de Isabel. — Me desculpe, eu sempre sou indelicado.

— Tudo bem, eu adoro — admito e pisco para meu amigo. Passo as


mãos entre os cabelos e solto um suspiro. — Parece uma loucura. Ir morar

em Los Angeles, nunca imaginei.

— Você vai adorar — Isabel diz.

— Eu acho que você deve tentar, Sky. Não falo isso porque Tony é
meu melhor amigo, mas porque você merece uma vida melhor. Muito melhor.

As palavras de Wyatt me fazem sorrir.

— Vocês prometem ir me visitar? — pergunto, de repente. Quem


diria que eu estaria fazendo esse tipo de pergunta aos dois. Semana
retrasada, eu achei que fosse demorar muito para vê-los de novo e agora,
fico animada com a possibilidade de nos vermos em um futuro próximo.

— Claro — Isabel é a primeira a concordar.

— Já estou vendo que a nossa viagem vai ter que esperar — Wyatt
resmunga, me arrebatando uma risada.

— Quando pretende ir? — minha amiga quer saber.

— Acho que depois que vender a casa. Vou ficar mais tranquila e me
sentir segura pra ir, depois que resolver tudo por aqui.

Os dois sorriem, concordando em sincronia.

É isso, está decidido. Vou morar em Los Angeles.


Dois meses depois...

Ao passar pelo portão de desembarque, sinto o coração acelerar. A


sensação de felicidade e medo por estar indo em direção a uma vida nova

me dominam. É estranho, mas bom.

Quando Rosie me vê, ela acena sorrindo. Parece contente por eu ter

vindo. Acho que nós duas podemos nos tornar grandes amigas.

— Não diga a Tony que eu sabia disso, combinado? — fala depois

de me abraçar. — Foi difícil esconder a notícia que você estava vindo.

Sorrio e assinto.

— Obrigada.

Tony sabe que eu topei morar com Rosie, mas não falei o dia exato

que me mudaria para Los Angeles. Por mais ridículo que isso seja, eu quero
fazer surpresa. Além do mais, fiquei com receio de encontrá-lo no aeroporto.

Com certeza ele me levaria para sua casa e o plano de ir morar com Rosie

desceria pelo ralo.

Ele não ficou tão feliz em saber que eu vou morar com a sua agente.

Na cabeça de Tony, morar com ele é a mesma coisa de dividir apartamento

com a Rosie. E claro, ele é muito persuasivo e eu não posso correr o risco

de ceder. Eu vim aqui para dar um rumo diferente na minha vida e não para
ser bancada pelo astro de Hollywood.

Por mais gostoso e tentador que esse homem seja, eu não posso.

Meia hora depois, chegamos ao apartamento de Rosie no centro de

Los Angeles. O lugar não é tão grande, mas parece muito confortável e

aconchegante. E olhando a decoração, tenho certeza que ela deve pagar uma

fortuna pelo local.

— Esse é o seu quarto — Rosie diz ao abrir a segunda porta do

corredor. — Não é uma suíte, mas tem closet.

— Obrigada.

Antes de começar a desfazer a mala, Rosie me mostra o restante do

apartamento, explicando que posso ficar com o armário do banheiro do

corredor. Sorrindo, ela me deixa sozinha no quarto para organizar minhas

coisas.
Enquanto coloco as roupas no closet, traço planos de como fazer

para juntar dinheiro e ter meu próprio lugar em Los Angeles. Preciso que

isso dê certo, porque por enquanto, não tenho plano B.

Coloco o porta-retratos com foto da vovó e dos meus pais em cima

da cômoda ao lado da cama e peço em silêncio que olhem por mim nessa

nova fase da minha vida. É difícil não ter nenhum parente vivo, mas vou

continuar tendo esperanças.

De banho tomado e coisas organizadas, peço o endereço de Tony à

Rosie. Está na hora de encarar o astro de Hollywood. Só de pensar que

estamos na mesma cidade, meu coração fica ansioso.

Por causa da agenda de trabalho do Tony, eu não o vejo há dois

meses. No entanto, ele se certificou de mandar mensagens todos os dias e

fazer vídeos chamadas aos finais de semana. Quando paro para pensar nisso,

eu sinto que não o mereço. Depois de tudo que eu fiz, aquele homem ainda
me quer por perto. E o mais incrível, ele me esperou.

— Quer que eu te leve lá? — Rosie pergunta sugestiva.

— Não, obrigada. Eu preciso aprender a andar pela cidade sozinha.

Rosie sorri, orgulhosa.

— Tem uma cópia da chave debaixo do tapete — fala e eu enrugo o

nariz, fazendo cara feia. — Eu sei, o Tony é meio brega — emenda, me


roubando uma risada.

Chamo o Uber pelo aplicativo do smartphone e decido esperar do

lado de fora do prédio. Observo o vento ricochetear entre as palmeiras de

quase seis metros e mesmo que estejamos no final de setembro e o sol se

pondo, o clima aqui ainda é de férias.

Acho que a vida na cidade dos anjos pode ser muito boa.

O carro do Uber estaciona em frente à entrada do prédio, depois de

ele confirmar meu nome, eu me acomodo no banco traseiro. O motorista é


bem simpático e conversador. Ele se perde em histórias engraçadas sobre ter

transportado algumas celebridades de Hollywood.

— Você não é daqui — ele fala depois de eu ter feito um comentário

sobre as aventuras hollywoodianas que viveu.

— Como sabe?

— Você não tem sotaque californiano.

— Ah.

— Seja bem-vinda, tenho certeza que vai gostar daqui.

— Obrigada — é o que digo, sorrindo

Quase meia hora depois, ele para em frente à casa de Tony no bairro

Outpost Estates. Quando desço do carro e olho o lugar, recuo um pouco e ele

abaixa o vidro da janela do motorista.


— Tem certeza que esse é o lugar certo?

Ele assente e depois lê o endereço em voz alta, confirmando.


Agradeço e ele da ré, indo embora e me deixando sozinha.

A casa é enorme e tem dois andares. A fachada é tão moderna, que

me deixa deslumbrada. Subo os degraus até a porta principal e olho o tapete


na entrada.

Solto uma risada.

No capacho de material impermeável está escrito "Ah, não. Você de

novo?" Isso é tão a cara dele.

Agacho e o levanto um pouco para pegar a chave da porta. Com o

coração saltitante, abro e entro. O lugar tem conceito aberto e decoração

moderna. As janelas de vidro que vão do chão ao teto dão uma vista

panorâmica do letreiro de Hollywood e o Oceano Pacífico. É lindo. No

corredor para sala de estar, tem uma vitrine enorme com vinhos mais velhos

do que eu.

— Oi, você deve ser a Skyler.

Quando ouço a voz feminina, dou um pulo para atrás e levo a mão até
o coração acelerado. Me viro e dou de cara com uma senhora de meia idade,

usando roupas confortáveis e segurando uma bolsa tiracolo.


— Eu sou Gemma — ela fala ao se aproximar e estende a mão em

cumprimento. — Sou a pessoa que mantém a casa em ordem.

— Ah, oi. — Pego a sua mão e aperto. — Não sabia que teria alguém

aqui — digo, com as bochechas queimando de vergonha e odiando um pouco

Rosie por não ter falado nada.

— Rosie me ligou faz cinco minutos, disse que a namorada de Tony

estava vindo.

As palavras de Gemma conseguem me deixar ainda mais encabulada.

Engulo em seco e sorrio sem jeito. Abro a boca para falar qualquer coisa

que não me faça parecer uma completa idiota, quando vejo quatro gatos

correndo na nossa direção e passando entre as minhas pernas com rapidez.

— Tony adotou os gatos por causa de uma fã. Ela mandou várias

mensagens falando sobre os gatinhos não terem um lar e ele decidiu ficar

com todos — diz com a boca curvada de orelha a orelha.

— Uau.

— O laranjinha é o Rafael, o preto o Donatello, o branco Leonardo e

o escaminha é o Michelangelo.

Não consigo impedir meus lábios de sorrirem. Então quer dizer que

Tony divide a casa com quatro tartarugas ninjas. Interessante.


— Eles ainda estão em adaptação — ela continua. — Mas imagine

só, uma loucura, os gatos não têm dois anos de idade ainda.

— Tony tem um coração enorme — comento, mais para mim do que

para ela.

— Ele é um bom menino.

Gemma sorri, deixando as rugas evidentes. Ela é bem fofa e tem cara
de ser muito amorosa com Tony. Fico feliz de ter alguém cuidando dele aqui.

— Eu estou indo — fala e eu concordo com um aceno de cabeça. —

Não se preocupe, os gatos estão todos alimentados e Tony deve chegar daqui
meia hora.

Meia hora. Meu coração acelera.

— Obrigada, Gemma.

Ela leva uma das mãos até meu braço e aperta com carinho antes de
dar meia volta e ir embora.

Sozinha com os gatos/tartarugas ninjas, eu caminho até perto dos

sofás e antes de sentar, coloco a minha bolsa e a chave em cima da mesinha


de centro. Admiro por alguns instantes a vista da cidade da grande janela de

vidro.

É tudo lindo. Deve ser bom morar e ter uma vista como essa,

contemplar o sol nascendo ou se pondo.


O gato branco pula no sofá e vem até mim, me cheira e eu arrisco
fazer carinho na cabeça felpuda. Aos poucos, ele começa a se esfregar no

meu braço e ronrona.

É o gato mais amigável que eu já vi em toda a minha vida. Amei.

Acabo tirando as sandálias e me aconchegando no sofá. Estou

exausta da viagem e de organizar minhas coisas no apartamento de Rosie. O


Leonardo vem para perto da minha barriga e se deita, me encarando com os

olhos grandes e azuis. Os outros três se acomodam no outro sofá e resolvem


tomar aquele banho de lambida.

Com o barulhinho gostoso de ronronar do gato, eu adormeço.

Quando sinto algo tocando a bochecha, abro os olhos devagar. É

Tony. Ele está sentado na beirada do sofá e faz carinho no meu rosto com um
sorriso bobo desenhado na face.

Sorrio também.
— Você chegou — murmuro enquanto sento e me dou conta de que o
gato não está mais perto de mim. — Cadê o Leonardo?

— Acabou de sair. Já sabe o nome dele? Estão bem íntimos pelo

visto — zomba.

— Gemma me apresentou aos felinos.

— Hum... — ele fala, sem tirar os olhos de mim.

— O que foi?

Tony prende uma mecha de cabelo detrás da minha orelha. Um gesto

tão simples, mas ao mesmo tempo, romântico. Nossos olhos se prendem e eu


sinto o coração bater rápido. Estava com tanta saudade dele, que não
consigo imaginar o que faria se não tivesse vindo para Los Angeles.

— Ainda não acredito que você veio, Skyler — diz, fazendo carinho
na minha bochecha com o polegar.

Eu amo quando Tony parece tão apaixonado. Me faz pensar que nós
dois podemos dar certo mesmo com tantas diferenças.

Estico os braços e envolvo no seu pescoço, puxando-o para um


abraço. As mãos firmes dele agarram minha cintura e me apertam contra o

corpo. É tão bom. Talvez nos braços de Tony seja o meu lugar.

— Queria fazer surpresa. Me desculpe por ter dormido.

— Não tem problema, meu bem — murmura, me fazendo sorrir.


Tony segura meu rosto entre as duas mãos e antes que eu possa falar

algo, ele me arrebata com um beijo suculento e quente. E de imediato, ondas


eletrizantes passam pelo meu corpo e ele se acende por inteiro.

Passo uma perna em volta da cintura dele e sento no seu colo,


sentindo a ereção contra a parte mais sensível do meu corpo. Sem aviso

prévio, meus dedos vão de encontro com a barra da camisa dele e eu subo o
tecido até o pescoço, afastando nossas bocas por um milésimo de segundo e

passando-a pela cabeça.

— Quer conhecer o meu quarto? — pergunta de um jeito sexy e


depois suga meu lábio inferior, fazendo latejar o meio entre as minhas

pernas.

Em vez de responder com palavras, eu o aperto contra o corpo ao


mesmo tempo em que rebolo em cima da sua ereção contra a calça jeans. É
gostoso e eu senti falta de me entregar a Tony.

Ele fica de pé, comigo agarrada a cintura. Em passadas largas, sobe

as escadas, me levando até o andar de cima, enquanto mordisco o lóbulo da


sua orelha e ele solta gemidos entrecortados. Me coloca em cima da cama e

se afasta um pouco, olha dentro dos meus olhos, me hipnotizando. Mordo o


lábio inferior quando noto a fome incendiando nos olhos dele. A vontade de

ter as mãos e boca de Tony em mim, me faz prender a respiração.


— Você não sabe o quanto esperei por esse momento — sussurra

com a voz rouca e vem para cima de mim, na cama, e eu deito. — Em ver
você aqui — fala ao deslizar as mãos pelas laterais da minha coxa, puxando

o vestido até a cintura. — Eu imaginei tantas vezes, você assim... nua e na


minha cama. — Passa o vestido pelos seios e em seguida, braços e cabeça,

depois joga o tecido no chão.

As mãos quentes de Tony continuam a passear pelo meu corpo de


maneira sensual, e também, possessiva. Arfo quando ele me puxa para sentar
na cama e fica de frente para mim, deslizando os dedos pelas minhas costas

até encontrar o fecho do sutiã e tirá-lo do meu corpo.

Ele se inclina um pouco para frente o os seus lábios começam um


rastro delicioso de tortura prazerosa, mordendo, lambendo a pele sensível

da minha orelha até o ombro. Uma das mãos se prende na minha cintura e a
outra segura meu seio. Sinto a pele esquentar com o toque de Tony e meu

mamilo endurece contra a sua mão.

Eu sinto que estamos pegando fogo.

— Tony — gemo ofegante.

— Me diga o que você quer, Skyler — murmura contra a minha

orelha.
É a primeira vez que ele diz “Skyler” em um momento tão íntimo e
que estamos tão entregues um ao outro. E a sensação de ouvi-lo dizer meu

nome é tão boa, que eu me sinto completa.

— Eu quero você, Tony.

Ele fixa o olhar no meu. Seus olhos azuis queimando de desejo, me

derretendo por inteira. Deslizo uma mão sobre o seu peito, reduzindo a
velocidade acima do cinto da calça jeans. Tony parece incrível, quente e

duro.

— Não faz ideia de quanto eu quero você também — sussurra e


rouba a minha respiração com um beijo intenso. Inebriada com os

movimentos aveludados da língua de Tony, desço as mãos até o cinto e


desafivelo.

Ele se afasta um pouco, descendo a calça jeans e ficando de cueca


boxer, vindo para cima de mim logo em seguida. Sua mão traça um caminho

pela minha barriga até o elástico da calcinha. O polegar de Tony contorna a


borda da renda até a lateral, onde ele eleva um pouco o meu quadril com

uma pegada precisa e desliza a calcinha pelas minhas pernas.

Coloca as mãos nos meus joelhos, afastando-os um pouco e desce até

entre o meio das minhas pernas. Choramingo seu nome e engulo uma
profunda respiração, ofegante e com a pele queimando de desejo.
Tony lambe meu sexo molhado, tocando de leve, provocando e
chupando. Nossa, eu senti falta disso. Ele geme, vibrando no meu clitóris

enquanto contraio o corpo de prazer e agarro os lençóis.

— Senti saudade desse gosto — sussurra e logo volta com os


movimentos determinados nas partes sensíveis, me levando à loucura. As

pernas começam a tremer e eu jogo a cabeça para trás de olhos fechados


enquanto arqueio meu quadril.

— Tony...

Gozo, deixando o orgasmo ecoar dentro de mim.

Abro os olhos devagar, tentando recuperar minha lucidez e vejo Tony


se despir, libertando a ereção. O seu pau longo, grosso e duro como pedra,

balança com leveza, me dando água na boca.

Arrasto-me até a beirada da cama e o encaro por cima dos cílios.


Seguro seu pau com as mãos e Tony ofega forte, com a boca entreaberta e os

olhos vidrados em mim. Contorno-o com delicadeza e ele envolve as mãos


entre os meus cabelos, levando ondas eletrizantes e fazendo minha pele
queimar de desejo.

Começo chupando devagar, aproveitando o momento de controle


sobre esse homem que deu sentido a minha vida e bagunçou meu mundo de
cabeça para baixo. Vou mais fundo e com mais pressão, enquanto ele xinga,
puxando meus cabelos de leve.

— Sky, espere, venha aqui... — ele sussurra ofegante, mas eu não


paro. Continuo com chupadas profundas que atingem a minha garganta e o

sinto ficar mais duro enquanto o corpo enrijece.

Antes que eu possa fazê-lo gozar, ele envolve as mãos no meu rosto e
devagar, me puxa para cima até eu ficar de pé. Aproxima o rosto do meu e
me beija, enlaçando a língua com a minha e misturando os nossos gostos.

É tão bom, tão certo.

Tony me deita na cama de novo e cobre o meu corpo com o seu. As


coxas rígidas e musculosas abrem minhas pernas para ele, me fazendo
arquejar de desejo. Ele estica o braço sobre a cômoda ao lado da cama e

abre a primeira gaveta, pegando uma camisinha.

— Sem — falo baixinho, fazendo seus olhos buscarem os meus.


Quero senti-lo sem barreiras hoje. — Estou tomando anticoncepcional —
emendo, mas ele ainda não disse nada, apenas me fita como se quisesse
desvendar um mistério. — Eu confio em você.

Ao ouvir as últimas palavras de voto de confiança, ele beija minha


boca. Passo uma perna em volta do seu quadril e inclino meu corpo para ele,

ansiosa para senti-lo me preencher.


Tony agarra meu quadril de maneira firme e sinto a cabeça do seu
pênis na minha abertura úmida. Arfo em prazer contra a sua boca e ele se

empurra para dentro de mim. Deleito-me com a sensação da penetração lenta


dele no meu corpo.

— Você é tão gostosa — fala com a voz entrecortada.

Aperto-o com força contra mim, permitindo que ele continue com as
investidas deliberadas e precisas, me preenchendo por inteira e me dando
uma satisfação infinita. Cada movimento de Tony, me faz sentir mais perto do
êxtase.

Ele domina minha boca com beijos quentes e molhados, lentos e

intensos. O ritmo começa a me deixar louca com a sensação de orgasmo se


aproximando.

— Tony, eu vou gozar.

— Isso mesmo, meu bem, goze pra mim — ele diz, com a voz rouca e
sexy.

Tony agarra minha bunda e mete com força dentro de mim, me


levando à loucura. Levo as mãos até os seus cabelos e seguro, puxando-o
para mim e colando nossos corpos quentes.

Ele continua com as estocadas fortes enquanto eu chamo seu nome e


imploro por mais. Sinto uma onda de formigamento na pele e aperto minhas
pernas nos seus quadris, o trazendo para mais perto.

— Caralho... Sky.

Meu clímax pulsa e eu me agarro toda a Tony. Meu corpo inteiro


arrepia e treme de prazer, satisfação. Ele geme e fica imóvel dentro de mim

por alguns segundos, sinto o enrijecer ao chegar no ápice do prazer também.

De olhos fechados, aos poucos, Tony desaba ao meu lado na cama,


respirando fundo e com um sorrisinho desenhado nos lábios.

Viro-me para ele e levo o indicador até o seu peito, admirando a pele
esticada sobre os músculos. Tony é tão lindo, que é difícil acreditar que um
homem desses é de verdade. E o mais incrível, é meu.

— Não vou deixar você ir embora da minha casa — ele fala,


procurando meus olhos. — Aceite morar comigo, vai ser melhor pra todos.

Rio.

— Não.

— Skyler, não brinque comigo.

— Pensando bem, eu acho que vou embora — digo, afastando-me


dele e saindo da cama. Só agora noto que o quarto tem janelas que vão do
chão ao teto. Ando até elas e observo o céu escuro e as luzes da cidade. É

engraçado, eu sei que ninguém pode nos ver daqui, mas pensar que alguém
nos observa, me deixa estranhamente excitada.
Sinto o calor do corpo de Tony irradiar para o meu. Deixo minha

cabeça cair para trás e apoio em seu peito, sentindo minha pele arder de
desejo. A língua dele toca de leve o lóbulo da minha orelha e depois morde,
me fazendo gemer baixinho.

— Tem certeza que quer ir embora? — pergunta, mas eu não consigo


encontrar a voz para responder.

Uma das suas mãos passeia pela minha cintura e desce até a parte
mais sensível do meu corpo. Suspiro quando ele começa a me tocar, fazendo

movimentos circulares no meu clitóris e como consequência, o meu corpo


inteiro acende outra vez.

Sinto a ereção quente dele contra as minhas costas e mordo o lábio


inferior com força.

— Tony... — gemo.

— Adoro ouvir meu nome sair da sua boca quando tá excitada. É


sexy e me faz perder a cabeça — fala ao mesmo tempo em que morde meu
ombro de leve. — Sabe o que eu quero fazer com você, Sky?

— Não. O quê? — respondo de olhos fechados e aproveitando as

mãos salientes dele pelo meu corpo.

— Quero te comer em cada canto da minha casa.


Com a respiração ofegante, viro o corpo e encaro esse homem que se

tornou a minha perdição.

— Então... faça isso — é o que digo.

Tony envolve a mão entre os meus cabelos e me prende em um beijo


selvagem e com gosto de sexo.
Admiro Skyler dormindo na minha cama e não consigo impedir os

lábios de sorrirem. É bom vê-la com os cabelos esparramados pelos meus


travesseiros, deixando seu cheiro doce impregnado nos lençóis.

Levanto da cama, me espreguiço e visto uma calça moletom antes de


rumar para a cozinha. Assim que saio do quarto, os gatos surgem, se

esfregando nas minhas canelas e miando por comida.

De dentro dos armários, tiro o pacote de ração úmida e encho os


potinhos de cada um. Eles começam a comer e esquecem de mim. Pequenos

interesseiros.

Ligo a cafeteira para preparar o café, depois pego ingredientes da

geladeira, armário e dispensa para fazer a massa de waflle. Antes de ligar na

tomada a máquina redonda de waffle, preparo suco de laranja.


— Bom dia — Skyler fala ao surgir na cozinha. Ela está usando uma

blusa minha como pijama e eu mordo o lábio inferior com a visão. Suspiro,

sentindo uma ereção matinal a caminho. Essa garota me deixa louco.

— Bom dia, meu bem.

Ela sorri e vem até mim. Sem que eu tenha pedido, Skyler pega os
morangos e começa a cortá-los ao meio em cima da tábua de vidro na ilha.

Fixo meus olhos nela e penso nos argumentos que posso usar para fazê-la

ficar e morar comigo. Eu serei um homem muito mais feliz quando isso

acontecer.

— Não vá embora, fique... — ela não me deixa terminar de falar,

pois me cala com um pedaço de morango e solta uma risada gostosa,

preenchendo todo o lugar.

— Coma e fique quietinho — cantarola e meio contrariado, eu

mastigo.

Preparamos o café da manhã juntos. É divertido tê-la por perto, me

provocando ou me julgando com os olhos redondos e azuis. Agimos de

forma tão natural, como se tivéssemos sido um casal a vida inteira. E eu

gosto disso. Nunca me senti assim antes.

— Quando começa a trabalhar? — pergunto depois de ela ter me

permitido conversar sobre a vida em Los Angeles. Toda vez que tentei falar
sobre isso, ela me calou com frutas, pedaços de waffle ou beijos.

— Segunda, nove da manhã — responde depois de tomar um gole de

suco. — Quero procurar outro emprego também. Preciso me organizar, não

posso morar a vida toda com a Rosie.

Ergo as duas sobrancelhas e abro a boca para questionar, quando ela

faz “shiii” e me cala com o indicador. Skyler ri. Essa garota realmente está

achando divertindo não me deixar falar nada.

— Já sei o que vai dizer e a resposta é não — retruca, me olhando

com afinco. — Se quer ser meu namorado, essas são as condições.

Confesso que me irrita um pouco não poder ajudá-la. Quero fazer

algo por ela, mas a única coisa que Skyler quer de mim é que eu fique quieto.

Tudo bem, depois de ouvir a palavra “namorado” tudo ficou mais

interessante.

Arrasto a banqueta que ela está sentada, para mais perto de mim,

roubando um gemido de surpresa. Seguro seu rosto com uma das mãos e

prendo seus olhos aos meus, e ela me dá um sorriso tímido.

— Que foi?

— Eu sou seu namorado?

Dá de ombros.
— Gemma disse que eu sou sua namorada — retruca, me roubando

uma risada. — Ela mentiu?

— Não. Você é minha.

Aproximo o rosto dela e a envolvo em um beijo com gosto de

morango. Quando me afasto, noto que Skyler parece meio distante, perdida

em pensamentos. Prendo uma mecha de cabelo atrás da sua orelha ao

perguntar:

— No que está pensando?

Ela respira fundo e morde o lábio inferior.

— Vamos dar certo? — pergunta e antes que eu possa falar algo, ela

continua. — Tenho medo. Começamos de um jeito errado e eu menti pra

você, pra sua família, seus amigos. Podemos dar certo mesmo assim?

Minha vez de respirar fundo. Ainda não soltei o rosto de Skyler. Para

ser sincero, acho que sou incapaz de me afastar dela. Essa garota já tomou o

meu coração inteiro e eu não sei se consigo viver sem ela.

É claro que o nosso começo foi todo errado. E isso é uma merda.

Mas mesmo quando estava com raiva, desejando nunca mais vê-la, eu

procurei formas de trazê-la para minha vida novamente.

— Sobre o nosso começo... o que você teria mudado? — pergunto e

vejo as bochechas de Skyler corarem.


— Queria ter te conhecido de um jeito diferente. Queria ter te

conhecido do jeito certo, eu sendo Skyler e não Madeline.

Assinto.

— Vamos superar o passado. Juntos.

De mansinho, os lábios dela se transformam em um sorriso meigo. Eu

cubro sua boca com a minha para um beijo lento e cheio de paixão, desejo. E

acabamos fazendo amor em cima da ilha da cozinha.

Posso me acostumar com esse tipo de café da manhã sem problema

nenhum.

Depois de muitos argumentos, consegui convencer Sky a passar o

final de semana comigo. Não foi nada fácil, ela é cabeça dura e queria ficar

em casa, se organizando para a primeira aula com a sobrinha de Rosie. Bem,

agora ela fará isso da minha residência.

— Eu não preciso disso tudo, Tony — ela reclama, depois que eu


enfio um bocado de roupa dentro da mochila. O quarto de Sky é minúsculo e
me deixa com calor, excitado. Fico pensando em coisas como foder minha

garota em cima da cômoda ao lado da cama. — Vou ficar na sua casa até

amanhã de noite e não passar uma semana — resmunga, fazendo-me revirar

os olhos.

— Não me faça solicitar meus direitos como namorado — retruco.

Skyler ergue as sobrancelhas, para de revirar a mochila em cima da

cama e olha para mim.

— Como é?

— Como você nunca esteve em um relacionamento antes, não deve

saber como as coisas funcionam. Mas a verdade é que eu tenho alguns

direitos — falo, torcendo para ela não cortar o meu barato.

— Continue, estou ouvindo — responde ao cruzar os braços na altura

dos seios e empiná-los ao apontar para mim. E é por um triz que não perco o

fio da meada. — O que você quer? — emenda com um sorrisinho travesso.

— Escova de dente.

— O quê? — rebate, explodindo em uma risada. Eu me sinto um

idiota, mas é tão bom vê-la feliz. — O que você disse?

Enfio as mãos no bolso da calça e solto um suspiro.

— Quero que deixe uma escova de dente na minha casa. Vamos

dividir o armário do banheiro — digo e continuo me sentindo idiota. Um


idiota apaixonado.

Skyler vem até mim, passa as mãos nos meus braços e segura meu

rosto entre as mãos. Sorri, me roubando um sorriso também. Ela fica na

ponta dos pés e encosta os lábios de leve nos meus.

— Isso foi estranhamente romântico — comenta, movendo os dedos

entre os meus cabelos. — Pedido de escova de dente aceito. O que mais?

— Pijamas? — arrisco.

Ela se inclina para frente e morde o lóbulo da minha orelha antes de

sussurrar:

— Mas eu posso dormir nua.

Em um movimento hábil, agarro-a pela cintura e ela dá um pulo,


entrelaçando as pernas na minha cintura. Skyler me devora com um beijo

enquanto a deito na cama, jogando a mochila no chão.

Antes que eu possa tirar toda a roupa e fazê-la girar os olhos de

prazer, Rosie bate na porta.

— Vocês vão ficar para o jantar? — Rosie quer saber.

— Estraga prazeres — resmungo, fazendo Sky rir alto.


Algumas semanas depois...

— Sky. — Grace segura uma das minhas mãos, me impedindo de ir


embora. — Vamos tomar sorvete depois? — pergunta com um sorriso tímido

no rosto.

Ajoelho-me e fico de frente para ela e assinto.

Grace é uma criança incrível. Na primeira semana, ela não quis

socializar comigo e eu tive que conquistar o meu espaço, fazê-la confiar em

mim. Agora, ainda não somos melhores amigas, mas ela já está me chamando
para tomar sorvete. É um grande passo.

— Podemos chamar a tia Rosie? — quer saber.

— Claro, ela vai adorar.


Grace me dá outro sorriso, deixando um quentinho no meu coração.

Passo a mão em cima da sua cabeça e vou embora. Do lado de fora da casa,

chamo um Uber para o meu próximo destino e espero.

Rosie com certeza é minha fada madrinha. Além de ter me

conseguido um trabalho incrível e que paga muito bem, me indicou lugares

que eu poderia procurar pelo meu segundo emprego. Não tive sorte em

nenhum, mas mesmo assim, não desisti de tentar encontrar outro trabalho.

Lendo os endereços na agenda, entro no carro do Uber e concordo

com algo que o motorista diz. Próxima parada é um restaurante precisando

de uma pianista. É muito ambicioso, mas se tiver, eu aceito até uma vaga de
garçonete.

Meu telefone toca, espantando meus pensamentos. Pego o aparelho

dentro da bolsa e vejo o nome de Isabel saltitar na tela.

— Oi, Bels.

— Como vai a minha garota? Aproveitando muito a cidade dos

anjos?

Rio.

— Procurando o segundo emprego — retruco. — E você? Como está

a viagem com Wyatt?


Nosso amigo finalmente assumiu a sexualidade e fez o que prometeu,

saiu em viagem, mas por conta da minha nova vida e a falta de dinheiro

sobrando, eu não fui com eles. Foi um baque para os pais de Wyatt, mas pelo

que Tony disse, eles parecem tentar entender e aceitar o filho do jeito que

ele é. O que é ótimo. Wyatt merece ser feliz sem precisar se esconder.

— Você está em todas as revistas de fofoca — Wyatt berra do outro

lado da linha, me fazendo franzir o cenho. — Eu sabia que uma hora isso

aconteceria — acrescenta.

— Espera, o quê?

Isabel respira fundo.

— Então você não sabe...

— Eu não sei o quê?

— Não dá pra ver o seu rosto, mas a gente te conhece. E sei lá, não

parece que Tony vai sair com outra garota com um gosto peculiar igual ao

seu. Só você mesmo pra usar blusas de banda de rock ao lado de um astro

hollywoodiano — brinca, tentando amenizar o clima.

— Não acredito.

— Bem-vinda a sua nova vida — Wyatt berra de novo.

— Fique tranquila, com certeza Tony vai dar um jeito — minha

amiga diz e eu concordo, sem ter tanta certeza.


— Preciso desligar — é o que falo e encerro a ligação meio segundo

depois.

Abro a aba de pesquisa e digito o nome de Tony, suspiro antes de

apertar na lupa. Sinto o coração errar uma batida quando sou bombardeada

de fotos e matérias sobre o possível affair de um dos astros mais desejados

de Hollywood.

São fotos minha saindo da casa de Tony e andando pela praia de

Malibu. Meu rosto não está claro em nenhuma das imagens, mas se você me

conhece e sabe que tipo de música eu curto, não é difícil de me reconhecer

ao lado dele.

Merda.

Digito o número de Rosie, ela atende no primeiro toque.

— Não se preocupe, já estou sabendo — é a primeira coisa que fala.


— Isso é normal, não vamos fazer da situação uma novela — tenta me

tranquilizar, mas não consegue.

— Eu não gosto de exposição — murmuro com o coração na

garganta. Quando aceitei vir para cá e namorar Tony, eu sabia dos riscos.

Mas não imaginava que pudéssemos ser capturados por uma câmera tão

cedo. — O que vamos fazer?

— Tony quer assumir o namoro.


— O quê?! — grito, assustando o motorista do Uber. — Eu sinto

muito — digo a ele e tento sorrir. — Rosie, você disse pra não fazermos

disso uma novela e ele vai assumir que está namorando? — disparo e me

dou conta, de que sou eu quem está fazendo uma novela. Que mal teria ele

assumir o nosso namoro? Não é como se as câmeras fossem ficar apontadas

para mim vinte e quatro horas por dia.

Ai, Deus. Ou será que isso é possível?

— Estou tentando conversar com ele, fique tranquila. Vai ficar tudo

bem.

Solto um suspiro longo.

— Não podemos assumir nada agora — digo, por fim. — Olhe a

minha situação. Não acha que vão dizer que estou com ele por interesse?

— Garota, em que século você vive? — resmunga. — Celebridades

namoram pessoas não famosas. Não comece a pirar agora, ok?

— Mas eu...

— Mas nada — interrompe-me. — Preciso ensinar você a ser mais

confiante. Se continuar assim, não tem como ser minha amiga.

Não consigo impedir, então eu rio.

— Obrigada.
— Continue com a sua vida, que do resto, eu cuido — fala e meio

segundo depois, desliga.

Respiro fundo e olho as ruas movimentadas através da janela do

carro. A minha vida não podia ser menos complicada, não é? Eu tive que me

apaixonar por uma celebridade hollywoodiana.

Sem esperanças, entro no quinto bar do dia. É triste, mas ninguém

quer contratar uma pianista desconhecida e sem formação acadêmica ou uma

garçonete sem experiência em andar pra lá e pra cá com bandejas.

O bar fica no West Hollywood, tem sofás confortáveis, mesa de

madeira e quadros de bandas de rock na parede. De longe, é o lugar que eu

mais gostei. Seria legal trabalhar por aqui.

Embobada com os quadros de grandes artistas, esbarro no homem

limpando o chão com esfregão.

— Me desculpe.

— Ah, tudo bem. Precisa de ajuda? — ele quer saber.


O homem deve ter uns trinta anos, é quase da minha altura, usa óculos

com armação grossa e tem o cabelo moicano verde. Tatuagens nos braços e

pescoço, piercing no nariz e alargador nas orelhas.

— Eu vim atrás de emprego...

— O que você sabe fazer? — pergunta.

Franzo o cenho e abro a boca para falar, mas fecho no segundo


seguinte. Que cara estranho. Se isso for uma entrevista de emprego, é a

entrevista mais excêntrica que eu já tive na vida.

— Bem, eu toco piano e sei cantar.

O homem fica me analisando por alguns instantes, tentando decidir se


estou falando sério ou não.

— Você curte rock — o homem fala, apontando com o indicador para

minha blusa com estampa do AC/DC.

— Sim.

— Vamos fazer um test drive — diz e eu arregalo os olhos, confusa.

— O bar abre as vinte horas, venha. Se sobreviver à noite, está contratada.

— O quê? Isso é sério?

— Billy — alguém repreende e o homem à minha frente, deixa os

ombros caírem. — Me desculpe, ele sempre faz isso.


Da porta que deve dar em direção à cozinha do bar, surge um homem
de cabelos grisalhos na faixa dos cinquenta anos. Ele usa roupas

confortáveis e tem um sorriso gentil emoldurado no rosto.

— Ele é o zelador — o homem diz, fazendo minhas bochechas

queimarem. Eu acabei de ser trolada. O pior, estava começando a ficar feliz


com a estranha entrevista. Sou uma idiota mesmo.

— É claro — retruco, encarando Billy que ri sozinho. — Estava

sendo fácil demais pra ser verdade.

— Qual é o seu nome?

— Skyler... Skyler Jones.

Ele assente.

— Eu sou Richard Carter, o dono — fala ao ir para detrás do bar e

servir whisky em um copo. — O que achou da proposta do Billy? — Levanta


o cristal em um brinde solitário. — Não posso pagar bem, porque a verdade

é que meu bar é novo e eu ainda não tenho tantos clientes fiéis, mas o que me
diz de tentarmos?
Rosie me aconselhou a não fazer nenhum posicionamento sobre os

boatos a respeito do meu relacionamento, porque no momento, Skyler não


ficaria bem com os holofotes virados na direção dela. É verdade, mas é

chato não poder dizer ao mundo que aquela garota é minha.

Pela primeira vez na vida, eu quero revelar a todos que estou com

alguém incrível. Sempre mantive minha vida amorosa em sigilo e parece que

vou continuar assim por um tempo. Tudo bem, já aprendi que com Skyler eu

tenho que ter paciência e agir com calma. De qualquer forma, o importante é
estar com ela.

— Eu disse que não precisava vir me buscar — é a primeira coisa


que ela diz ao entrar no meu carro. Parece brincadeira, mas Sky está usando

boné e óculos escuros. E são quase uma da manhã. Depois daquelas fotos,
ela está fazendo um ótimo trabalho em chamar atenção. É quase como se ela

andasse com uma placa “olhe pra mim, eu sou suspeita”.

— Belo disfarce — retruco.

— Ainda está chateado comigo?

Dou de ombros, pisando no acelerador.

— Não — é o que digo.

E não estou chateado, mas ela anda evitando sair comigo. Segundo a
garota metaleira, é melhor esperarmos a poeira baixar. Por causa disso,

recusa todos os meus convites para jantar e faz uma semana que não vai à

minha casa.

Skyler tira os óculos de sol, pousa uma mão na minha perna e aperta

com delicadeza.

— Só preciso me acostumar com a ideia de estar namorando um

astro de cinema — comenta, me fazendo olhá-la. — Podemos dar um passo


de cada vez? — pergunta com um sussurro.

— Tudo bem.

Sorrio.

Levo Skyler até o prédio do apartamento de Rosie. É ruim me

separar dela. Minha vontade é de levá-la para minha casa e resolver o resto
com sexo e beijo na boca. Brigas também, porque ela não aceitaria fácil a

ideia de ir morar comigo.

É quase um caso perdido. Um caso perdido para mim.

— Me deixe fazer algo por você — digo quando ela está com a mão

na maçaneta da porta do carro. Skyler se acomoda no banco do carona de

novo e me encara, sorrindo. Sem dizer nada, estico o braço e pego a pasta

transparente no assento traseiro. Abro e entrego um panfleto, que ela lê em

silêncio.

No folheto, há informações sobre o maior conservatório de música

de Los Angeles. É claro que ela não me deixará bancar os seus estudos, mas

posso ajudar de outra forma. Não custa nada tentar e eu sei ser muito

persistente.

— O que isso significa?

— O que acha de estudar piano? — pergunto com uma sobrancelha

erguida.

— Tony...

— As aulas já começaram, mas você pode fazer audição no ano que

vem e conseguir uma bolsa — interrompo-a.

Ela sacode a cabeça de leve.


— Não sei se estou no nível e mesmo assim, não sou uma pianista

clássica. — Olha para mim e abre meio sorriso. — Eu sou boa com pianos,

mas não como essa gente. Achar que vou conseguir uma bolsa é muita
ambição. O que eu sei sobre pianos foi o que minha mãe me ensinou e o

resto, aprendi sozinha.

— E mesmo assim é muito boa — rebato.

Minha garota descansa a cabeça no banco do carro, bate as pestanas

devagar e respira fundo, relaxando os ombros.

— Eu não sei se consigo — admite. — Pessoas que ganham bolsas

nesse tipo de escola passam a vida toda treinando e minha vida foi dividida

em cuidar da minha avó e trabalhos de meio período. E eu dou aula pra uma

garotinha de dez anos que ama piano, mas não entende nada sobre partituras.

Pego sua mão e entrelaço nossos dedos, apertando com força e

carinho.

— É aí que eu entro.

Ela me encara de olhos arregalados, espantada.

— Vai usar seus contatos e me fazer ganhar uma bolsa? Isso é

possível? Meu Deus, isso é trapaça, Tony. Não posso aceitar — fala,

incrédula e eu solto uma risada.

— Claro que não.


— Então? — quer saber.

— Conheço uma ex-pianista concertista — digo e Skyler fica em


silêncio, esperando que eu continue. — Conversamos sobre você e ela se

ofereceu para te ajudar a conseguir uma bolsa — acrescento e aguardo a

reação dela.

Não é mentira, Clara, a pianista, quer mesmo ajudar minha garota,

mas não foi nada por acaso. Ela é uma amiga de longa data da vovó, então

fui visitá-la e falei de Skyler, sem esconder meus interesses. E depois de

conversarmos, ela fez uma oferta de auxiliá-la, mas em troca, pediu que eu

ajudasse a sua neta, que quer ser atriz, mas não consegue papel nenhum.

Skyler gira o rosto para mim e me encara de olhos arregalados outra

vez. Está surpresa, mas ainda não sei se acertei ou errei ao fazer isso. Com

ela, é sempre um enigma.

— Se eu namorasse uma pessoa comum, seria impossível algo assim

acontecer.

Inclino-me na direção dela.

— Eu sei, mas não pode aproveitar a oportunidade? Não é como se

eu estivesse trapaceando. E mesmo assim, não é nada garantido. Ela vai te

ajudar, mas você precisa fazer uma boa audição pra conseguir uma bolsa.
De repente, Skyler joga os braços no meu pescoço e me abraça com

força.

— Obrigada — sussurra e quando se afasta de mim, noto que tem os

olhos marejados. — Eu não mereço isso, mas obrigada. Vou fazer o meu

melhor.

Suspiro, aliviado. Parece que um peso saiu das minhas costas.

Confesso que não estava confiante se ela aceitaria minha ajuda/intromissão

de bom grado.

— Você merece sim, Sky. Você merece o mundo. E mesmo que não

me deixe te dar o mundo, eu vou tentar fazer isso — falo baixo, roubando

uma risada dela.

— Vou me tornar uma pianista renomada — diz, convicta. — Serei

tão boa quanto a minha mãe.

Sorrio.

— Você não fala muito dela.

Skyler anui.

— Não faço por mal, é que me acostumei a não conversar sobre ela

com ninguém. Às vezes, eu me esqueço que você gosta de ouvir o que tenho
a falar.
Agarro o rosto dela entre as duas mãos e lhe dou um beijo

compassado.

— Você pode falar sempre que quiser, Sky. Eu estou aqui — sussurro

contra os seus lábios.

— Eu amo você, Tony — diz e volta a grudar os lábios aos meus, me

envolvendo em um beijo quente e apaixonado.

— Se você não quiser que eu te sequestre até a minha casa, é melhor

entrar agora. — Afasto-a um pouco, apenas para olhá-la nos olhos. — Pode
dormir comigo hoje?

Ela nega com a cabeça e entrelaça os dedos nos meus cabelos,

arrepiando o meu corpo e acendendo o meu pau.

— Amanhã eu sou todinha da Grace.

— Estou com inveja de uma criança de dez anos. É injusto —


resmungo.

Sky ri.

— Que tal jantarmos no final de semana? — pergunta e eu semicerro


os olhos, fingindo pensar. — Não quer? Ok, retiro o que disse.

— Vamos, eu escolho o lugar.

— Existe algum lugar em Los Angeles que seja discreto e que eu não
precise andar como os homens de preto? — brinca e eu rio.
— Você confia em mim?

Minha garota metaleira assente, sorrindo. Aproxima o rosto de mim e

me dá um selinho antes de descer do carro. Observo-a sumir prédio adentro,


sorrindo como um idiota. Não lembro da última vez que fui tão feliz assim.
— Ainda bem que eu não vim de calça jeans — é a primeira coisa

que Sky diz ao chegarmos no lobby do restaurante para fazermos check-in.


— Aliás, esse lugar não parece discreto, Tony.

Entramos no elevador e ela analisa a imagem através do espelho.


Está usando vestido azul claro que cai até altura das coxas, decote quadrado

e mangas longas e fofas. Ainda não sei como Sky consegue ter aparência

doce e meiga uma hora, sexy e atrevida em outra, mas confesso que amo as

duas versões.

Ao chegarmos no 71º andar, a hostess simpática nos acomoda no bar

até a nossa mesa vagar e oferece bebidas.

— Discreto no meu dicionário significa outra coisa — resmunga e

toma um gole da dose de Whisky que o barman acabou de nos servir, depois
faz cara feia. — Isso é horrível.

Rio.

— Relaxe. Ninguém vai nos incomodar aqui.

Ao ouvir minhas palavras, ela relaxa os ombros e respira fundo,

sorrindo. Levanta o copo de cristal em um brinde e eu saúdo, mas ao

contrário de mim, ela não ousa beber outro gole da bebida.

Depois de uns dez minutos, nós somos guiados até a nossa mesa perto

das grandes janelas de vidro que vão do chão ao teto. Skyler parece

encantada com a vista panorâmica para o centro de Los Angeles. O


sommelier traz a carta de vinhos e em seguida, o garçom vem anotar o nosso

pedido.

— Antony Humphrey... — comenta, focalizando meus olhos. — Você


sabe como impressionar uma mulher.

— É o meu charme — retruco, fazendo-a rir.

O sommelier traz vinho e serve nas taças, Sky ainda não desviou os

olhos de mim. Ela tem um sorriso malicioso emoldurando o rosto delicado.

Surpreendo-me ao sentir a ponta de um dos seus pés roçar minha perna de

maneira sensual, provocativa.

— O que está fazendo? — pergunto e a única resposta que recebo é

um dar de ombros. — Não me provoque.


— Por que não? — rebate e morde o lábio inferior.

Suspiro e rio baixo. É incrível ver como ela mudou. Antes, as

bochechas ficavam coradas com qualquer indecência que saísse da minha

boca. Agora? Ainda ficam coradas, é claro, mas ela gosta de atacar e me

fazer perder o juízo.

— Posso arrastá-la até o banheiro e fazer o que eu quiser.

Ela se inclina para frente, fazendo com que os seios apertem e fiquem

mais evidentes. Estão lindos e eu quero me esbaldar neles.

— Hum... não parece uma ideia ruim — sussurra e pisca, me

deixando de pau duro.

Pronto. Ela conseguiu. Não vejo a hora de o jantar acabar para levá-

la para minha casa e passar a noite aproveitando cada pedacinho desse

corpo pequeno e delicado.

Não vejo a hora de me enterrar nele, enquanto Skyler geme o meu

nome.
Uma hora mais tarde, estamos caminhando em direção ao elevador

de mãos dadas. Ela parece ter esquecido que me deixou duro mais cedo, mas

eu não, então começo a falar sacanagem no seu ouvido enquanto ela fica de
bochechas ruborizadas e com os olhos brilhando.

— Não fique com vergonha agora — sussurro e mordo de leve o

lóbulo da sua orelha, roubando um gemido entrecortado dela.

— Tony... — murmura.

— Eu disse pra não me provocar.

Ela morde o lábio inferior e sorri, sem olhar para mim.

Quando as portas do elevador se abrem, sinto o corpo inteiro de

Skyler tensionar e ela parece incapaz de dar um passo para frente. Levanto

as vistas e engulo em seco ao me deparar com Savannah acompanhada de um

cara.

— Que surpresa — Savannah fala, caminhando na nossa direção. —

Não esperava vê-la por aqui, Madeline.

Sky aperta minha mão e contrai o maxilar, sem conseguir olhar nos

olhos da loira.

— Não fique acanhada, garota — Savannah diz, sorrindo. — Então,

vocês estão juntos de verdade. — Agora, ela tem atenção voltada para mim.
— Uau, como você conseguiu isso? Madeline não era a queridinha da sua

avó?

Respiro fundo antes de começar a falar.

— Não que eu deva alguma explicação a você, Savannah, mas essa é

a Skyler — digo e olho da garota metaleira para a loira, que tem as


sobrancelhas unidas, sem entender nada. — Madeline está morta.

— O quê?

— Sim e não me pergunte o que aconteceu, porque eu não vou dizer

nada. É minha vida e você não tem nada a ver com ela.

Vejo o maxilar de Savannah contrair e as narinas inflarem.

— Como assim ela morreu? — insiste.

— Madeline morreu, assim como este assunto. Tchau.

Puxo Skyler e passo pela loira, chamando o elevador, que havia se

fechado.

— Eu não entendo, Tony.

Solto um suspiro longo e viro, encarando-a. O homem ao seu lado

não parece interessado na nossa conversa, já que troca mensagens com

alguém. Não sei se são um casal, mas se forem, vou me sentir mal por ela,

porque por mais pé no saco que seja, Savannah merece alguém melhor.
— Você não precisa entender nada — falo e ela prensa os lábios. —

Skyler é minha namorada e ponto. Não ouse questionar, porque você não tem

esse direito.

As portas de metal se abrem e entramos. Skyler ainda não disse

nenhuma palavra, parece remoer algo dentro de si, como se estivesse

vivendo uma batalha interna. Seguro seu rosto entre as mãos e faço com que

seus olhos se prendam aos meus.

— Você está bem?

— Eu sabia que isso um dia aconteceria, Tony — murmura com os

olhos marejados e perdidos. — Ela vai descobrir o que eu fiz e minha vida

vai acabar. Tudo bem, eu mereço por ter enganado a sua família.

— Ninguém vai te fazer mal, Sky.

— Como não, Tony? Eu não deveria ter vindo pra cá, foi um erro.

Outro erro.

— Ei, olhe pra mim — peço e ela me encara. — Você confia em

mim? — pergunto e ela assente com os lábios colados. — Então não se

preocupe. Você está segura comigo, eu juro.

— Como tem tanta certeza? — ela quer saber.

Com os polegares, faço carinho nas maçãs do seu rosto e sorrio.


— Eu não ia te trazer pra minha vida de qualquer jeito. Confie em

mim, pensei em tudo antes. Você não corre perigo — é o que digo e a puxo

para um abraço. Ela demora alguns segundos para relaxar, mas acaba

fazendo isso e afundando nos meus braços ao respirar fundo.

Por causa da minha avó, Skyler está segura. Ela deu um ultimato para

a família Humphrey e todos resolveram aceitar. Mesmo não concordando de

início, ninguém quis arriscar perder as regalias e vida boa que a vovó pode

proporcionar.

Para minha surpresa, vovó conseguiu até calar Cassie, que queria

interferir quando descobriu que Madeline não era Madeline, e sim, Skyler.
Mas depois da matriarca ameaçar expor os podres da família dela, a minha

ex-noiva desistiu de tentar fazer algo.

O pai de Cassie era um homem legal e eu me dava bem com ele, mas

era um político corrupto e a esposa não ficava atrás. Vovó tem muitos
aliados, e claro, ele era um deles. E pelo que parece, até os segredos

sórdidos dos aliados, ela tem controle.

Minha avó não brinca em serviço.

E não quero saber das coisas que ela é capaz de fazer ou que já fez

pelos negócios ou bem da família. Nos últimos meses, eu aprendi que vovó
não faz o tipo heroína. E eu confesso, que pensar nisso, ainda me assusta.
— Talvez seja melhor eu pintar o cabelo e usar lente de contato.
Quem sabe juntar dinheiro e fazer uma cirurgia plástica? — Sky fala,

rompendo o silêncio e me fazendo rir. Já estamos entrando no carro e ela


parece mais calma agora. — Você prefere loiro ou ruivo?

— Eu prefiro preto — retruco e ela balança a cabeça de um lado


para o outro, mas acaba rindo. — Você não precisa mudar nada.

— Talvez cortar o cabelo? Bem curtinho? — insiste.

— Não, eu gosto de puxar os seus cabelos na hora do sexo — digo,

deixando as bochechas de Skyler vermelhas. — Como você passa parte da


noite me provocando e quando falo alguma sacanagem, fica com vergonha?

— Se você fosse eu e namorasse um homem como você, me


entenderia — resmunga e eu rio.

— Vamos pra minha casa, tenho muito trabalho a fazer.

Piso no acelerador e saio do estacionamento. Por sua vez, ela me

observa com o cenho franzido, sem entender.

— Que trabalho? — quer saber.

— Meus lábios, meus dedos e meu pau querem trabalhar em você.

Os olhos de Skyler brilham e ela solta um suspiro entrecortado,

depois morde o lábio inferior e baixa a cabeça, tentando esconder um


sorrisinho.
Descartei a possibilidade de mudar radicalmente a aparência.

Rosie, Isabel e Wyatt me convenceram do contrário. É claro que


depois do encontro com Savannah, eu fiquei receosa, mas confio em Tony e

sei que ele não deixará nada de ruim acontecer comigo.

E de qualquer forma, Savannah não parece ser uma megera completa.

O que ela ganharia se cavasse o meu passado para destruir minha vida? O

ódio de Tony. E posso estar enganada, mas não acredito que ela queira
comprar briga com ele.

Ou com a família dele.

Por isso, depois de enfiar os meus medos dentro do bolso e erguer a


cabeça, estou comemorando meu aniversário de vinte e dois anos no bar do

Richard. E o melhor, acompanhada dos meus amigos.


Isabel e Wyatt chegaram em Los Angeles ontem e estão hospedados

na casa de Tony. É bom tê-los aqui, porque os dois se tornaram a minha

família também e saber que tenho amigos com quem posso contar é

maravilhoso.

E observando Wyatt agora, enquanto ri e conta as histórias

constrangedoras da viagem, noto que ele parece mais leve e feliz. Acho que

deve ter tirado um peso das costas ao assumir quem é de verdade para os
pais.

E Isabel está pensando no que fazer da vida. Cansou do clube em

Miramar Beach e está querendo estudar moda. Só queria ter a metade da


coragem dela para tomar decisões importantes e difíceis tão rápido.

Falar em decisão importante. É estranho pensar no último verão. Eu

estava atrás de encontrar uma forma de salvar minha avó e os meus planos

eram sumir da vida dos Humprhey's depois de conseguir dinheiro.

Quem diria que quase quatro meses depois, eu estaria em Los

Angeles, namorando Tony e amiga das primeiras pessoas que me acolheram

em Miramar Beach? E que Rosie, a agente de língua afiada e poderosa de


uma celebridade hollywoodiana me acolheria como uma irmã mais nova na

própria casa?
Se parar para pensar, apesar de tudo que aconteceu, eu tenho muita

sorte. Parece até que nasci com a bunda virada para lua.

E eu estou aqui, vivendo e não sobrevivendo. Tudo que minha avó

quis para mim. Ela sempre desejou que eu tivesse bons amigos, que saísse

para me divertir, arranjasse um namorado e sorrisse mais. Mesmo que ela

não esteja aqui, estou vivendo a vida da forma que ela sempre sonhou.

E o mais incrível de tudo, eu estou feliz. Muito feliz.

— No que você está pensando? — Tony pergunta, esfregando o

polegar na minha testa franzida e varrendo meus pensamentos para longe. —

Ainda está aqui?

Sorrio e concordo com um aceno de cabeça.

— Não é louco? A forma como nos conhecemos e agora, estamos

aqui. Parece que estou sonhando.

Tony enfia as mãos entre meus cabelos e me puxa para mais perto,

beijando minha testa com carinho. Adoro quando ele é romântico e gentil

assim. Isso me faz amá-lo mais e mais.

— Tinha que ser assim, minha garota impostora — fala em um tom

divertido, me arrebatando uma risada.

Estranho, se fosse qualquer outra pessoa me chamando de impostora,

eu ficaria ofendida. Mas ele faz essa palavra parecer engraçada, até mesmo,
doce. Como isso é possível?

Arqueio uma sobrancelha na direção dele.

— Hum, mudou de garota metaleira para impostora?

— Cedo demais? — rebate com os olhos ansiosos, me analisando.

— Não gostou?

Dou de ombros e faço bico, que Tony desfaz com um selinho

roubado.

— Só você pra me xingar e parecer que é uma declaração de amor

— retruco. — Você é atrevido.

Ele ri.

— Mas eu não estava te xingando — diz, aproximando o rosto do

meu e prensando os lábios. — Sky, eu amo você — emenda com um

sussurro. — Viu? Isso é uma declaração de amor.

Abro meio sorriso.

— Mais ou menos — é o que digo, fazendo Tony concordar com um

aceno.

— Sabe de uma coisa? — pergunta, e eu balanço a cabeça, negando.

— Depois da Cassie e alguns relacionamentos fracassados, eu achei que

não fosse mais querer me envolver de verdade com as mulheres. Não como

estou envolvido com você. — Ele prende uma mexa de cabelo atrás da
minha orelha. — Quando te vi pela primeira vez, eu pensei que fosse um

problema.

Rio, mas não digo nada.

— E agora, só consigo pensar que estou feliz de você ter se tornado

o meu problema. — Respira fundo e continua fazendo carinho no meu rosto.


— Você é delicada e tem um estilo único. Às vezes, eu acho que você vai

sacar uma guitarra do nada e fazer um solo que nem o Slash, e outras vezes,

eu quero te proteger com a minha vida. Somos tão diferentes, mas ao mesmo

tempo, temos tantas coisas em comum.

— Tony, eu... — Ele me cala com o dedo indicador e engulo em

seco, sentindo o coração na garganta.

Tony se declarando desse jeito para mim... é o melhor presente de

aniversário de todos.

— Nunca pensei que pudesse amar tanto alguém, como eu amo você.

Me apaixonei tão rápido, que me senti um idiota. Mas, a verdade é que eu

gosto dessa sensação. — Tony deposita beijos nas minhas bochechas, na

testa e por fim, nos lábios. — Eu te amo, Skyler.

— Eu também te amo. Muito — sussurro.

— Sei que se eu te pedir em casamento agora, você não vai aceitar

— fala e eu arregalo os olhos, surpresa. — Mas me promete uma coisa?


— O quê? — é a única coisa que consigo perguntar e soa como um

sussurro.

— Quando você estiver pronta, casa comigo?


Alguns meses depois...

Quando ouço o barulho de carro na garagem, sinto meu coração na


garganta. Aperto as mãos com força e respiro fundo, levando ar até os

pulmões. Levanto do sofá e encaro os felinos que estão à minha frente.

— Me desejem sorte — falo e como se entendessem o que eu quis

dizer, se esfregam nas minhas pernas. Ou estão apenas ansiosos para ganhar

mais petisco, já que eu estava mimando os quatro.

Dois meses depois do meu aniversário, surgiu uma oportunidade de


trabalho para Tony. Papel de protagonista de um filme de drama fantasia que

vai ao ar no começo do ano que vem. Claro que ele não aceitou o papel de

primeira, mas depois de Rosie e eu argumentarmos, o astro de Hollywood

acabou cedendo e viajando para a Europa.


Mesmo que fossem românticos os motivos que o fizeram querer ficar

aqui, em Los Angeles, comigo, eu não podia deixar isso acontecer. Tony é

um excelente ator e merece trabalhar com o que ele gosta.

Mas eu não sabia que seria tão difícil ficar quase quatro meses longe

dele. Achei que fosse enlouquecer de saudade. Quando vou me acostumar

com isso? Não faço a mínima ideia, mas é tão bom saber que ele está de

volta.

Passar esse tempo distante de Tony, me fez pensar e repensar na

conversa que tivemos no dia do meu aniversário. Ele praticamente me pediu

em casamento e eu não tive coragem de tocar no assunto de novo. Na


verdade, fiquei com medo de aceitar e acabar estragando as coisas entre nós.

Parecia tão cedo para um compromisso desses.

Mas depois de receber a carta de aprovação do maior conservatório

de música de Los Angeles, eu só consegui pensar em Tony e como ele ficaria


feliz pela minha conquista. Na verdade, eu queria estar com ele,

comemorando, rindo e fazendo planos para o futuro.

E sem perceber, comecei fazer planos futuros com Tony. E eu entendi


o que ele quis dizer com “Quando você estiver pronta, casa comigo?” Por

isso estou aqui, esperando o amor da minha vida chegar em casa, com o

coração saltitante e as mãos suando frio de nervoso.


Eu preciso abrir o meu coração para ele.

— Crianças, papai está em casa — Tony cantarola ao abrir a porta e

entrar em casa. Mordo meu lábio inferior para segurar a risada. — Espero

que tenham sentido saudade de mim — fala em um tom zombeteiro.

Tony arrasta a mala até a sala e quando os olhos me encontram, ele

fica surpreso por uma fração de segundos, mas logo sorri e vem até mim,

como um leão faminto. Agarra minha cintura, me abraçando e me tirando do

chão ao mesmo tempo em que me beija com paixão.

— Eu senti tanta saudade de você — fala, me dando selinhos e me

colocando no chão de novo. — Você disse que estaria trabalhando quando eu

chegasse.

— Surpresa — digo e ele ri.

Tony segura meu rosto com as duas mãos e me beija de novo, me

jogando no sofá e acendendo meu corpo por inteiro.

— Como foi a viagem? — pergunto, afastando-o um pouco. Ele

parece decepcionado por eu ter interrompido a nossa pegação. Porém, se me

deixar levar pelas mãos bobas e os beijos, não vou conseguir abrir meu

coração. E eu preciso fazer isso agora. — Precisamos conversar.

Ele franze o cenho.

— O que aconteceu? — pergunta, sério.


Tony senta no sofá e eu também. Os gatos aparecem e começam a se

esfregar nele ao mesmo tempo em que ronronam. Os cinco parecem felizes

juntos. Sorrio ao observá-los. Quem diria que um homem de um metro e


oitenta e cinco pudesse ficar tão derretido por bolas fofas de pelo.

Inclino-me para frente e pego minha bolsa em cima da mesinha de

centro, procurando o celular. Quando encontro o aparelho, ligo a telinha e

abro o aplicativo do Instagram. Me rendi as redes sociais e fiz uma conta

para mim.

— Olhe — falo e direciono a telinha para ele, que encara com os

olhos brilhando.

Faz uns vinte minutos ou mais que postei minha primeira foto no

Instagram e o marquei. É uma foto nossa. Foi Isabel quem tirou, nós estamos

sentados no sofá, aqui na casa de Tony. Eu tenho a cabeça escorada no seu

ombro e sorrio, enquanto ele me olha apaixonado. E na legenda está escrito

“A vida é mais feliz com você”.

— Está assumindo que é minha namorada?

— Uhum. Me desculpe por ter demorado tanto.

Ele abre aquele sorriso maroto que me derrete por inteira. Sem dizer

nada, Tony tira o celular do bolso da calça jeans e segundos depois, o meu

smartphone notifica um novo seguidor na rede social.


— Vou assumir pro mundo que você é minha também.

Sinto o coração acelerar e o observo mexer no celular de forma ágil.


Mordo o lábio inferior quando o Instagram notifica de novo. Dessa vez, ele

me marcou em uma foto. Estamos deitados em uma espreguiçadeira e eu

tenho parte dos cabelos esparramados sobre o peito musculoso dele. E Tony

está de óculos escuro, sorrindo. É uma foto bonita e parecemos muito felizes.

A legenda da foto me faz sorrir.

“Minha linda garota. Eu te amo”

— Pronto, amanhã estará em todos as revistas e sites de fofoca que

um dos astros mais cobiçados de Hollywood teve o coração laçado — fala


em um tom brincalhão, me roubando um sorriso.

— Tem mais uma coisa — digo e começo a vasculhar até achar a

caixinha de veludo.

— O quê?

— Você sabe o significado espiritual de tungstênio? — pergunto e ele

franze o cenho, confuso. — Para algumas pessoas, a cor preta remete a

coisas negativas, morte ou completo vazio. — Respiro fundo e o olho com


intensidade. — Mas a verdade é que o preto é uma cor de poder, força e até

mesmo, convicção. Por isso, tungstênio representa força e resistência.


Tiro a caixinha de dentro da bolsa, abro e mostro para ele as alianças

delicadas na cor preta feita de tungstênio e com pequenos detalhes em ouro.

Tony fica paralisado, sem conseguir desviar os olhos dos anéis.

— Você quer casar comigo? — pergunto, sentindo o coração

latejante. — Eu te amo, Tony e quero viver minha vida ao seu lado. Quero

fazer planos para o futuro, construir uma família e adotar mais gatinhos... ou

cachorros.

Ele abre um sorriso meigo e tira a aliança menor de dentro da

caixinha de veludo, coloca no meu dedo e aproxima o rosto para me dar um

selinho demorado.

— Eu quero casar com você, garota.

Pego o outro anel e coloco no dedo de Tony, em seguida, deposito um

beijo nas costas da sua mão e aperto contra a minha.

— Senti tanta saudade de você.

Tony vem para cima de mim de novo, cobrindo meu corpo com o seu

e me deitando no sofá.

— Eu também. Vamos casar amanhã — fala e eu começo a rir. —

Qual é a graça? Você não acabou de me pedir em casamento? Não brinque

comigo, garota — resmunga, aumentando minha risada.

— Sim, mas não podemos casar amanhã.


— Então... quando? — retruca com as sobrancelhas erguidas. —

Quando vamos casar? Me diga agora.

Seguro seu rosto entre as mãos e faço carinho nas bochechas. Roço

os polegares na barba que começou a crescer e depois, nos lábios bem

desenhados. Antes que eu possa falar, Tony devora minha boca com a dele.

E eu me deixo levar pelo beijo apaixonado, entregando todo meu

coração.

— Logo — sussurro contra os seus lábios.


Anos depois...

— Você é convidada, não precisa fazer isso. Não me faça passar


vergonha, por favor — Sky fala ao tentar impedir Mary de continuar lavando

a louça. — Isabel, venha aqui. Eu preciso de ajuda com a sua mãe. Venha
agora — pede, mas a loira encaracolada não aparece na cozinha.

— Fique tranquila, menina. Só estou ajudando. Você parece perdida.

E de qualquer forma, não estou fazendo nada demais — Mary retruca e


minha esposa se apoia na ilha da cozinha e fecha os olhos, respirando fundo.

Ela está uma pilha de nervos, porque é o primeiro jantar de ação de

graças que vai acontecer na nossa casa e já estão quase todos aqui,

esperando, mas o peru ainda não está pronto. Ainda não sei o que aconteceu
com ele, mas resolvo não perguntar. Quando entrei na cozinha, ela ordenou

que eu não dissesse uma única palavra.

— Não dá tempo de cancelar, não é? — Sky pergunta a Mary e eu

rio, fazendo as duas me olharem na soleira da cozinha. — Por que não me

impediu de ceder a nossa casa para o jantar de ação de graças, Antony

Humphrey? Você perdeu o juízo em me deixar fazer isso?

— Eu tentei, mas você não deixou, Skyler Humphrey — retruco.

— A noite vai ser um fiasco. Se esse peru não ficar pronto, vou atirá-

lo pela janela — rosna e lança um olhar fatal para o forno.

— Tenha calma, meu amor — é o que digo, mas pensando que se

esse peru não ficar pronto, eu mesmo vou atirá-lo pela janela.

Ela deixa os ombros caírem e passa as mãos entre os cabelos longos.


Sky não mudou muito, ainda é linda e gosta de rock, mas depois de sete anos,

a beleza amadureceu e as blusas de banda de rock deram lugar a vestidos

sexys e modernos.

Tudo bem, às vezes, em ocasiões especiais e muito íntimas, ela se

veste como uma roqueira sexy e me deixa levá-la à loucura. É tão bom essa

personalidade de Skyler ser exclusiva a mim.

— Mary, o que eu faço?


— Primeiro, tome uma dose de alguma bebida alcoólica. Está

precisando — ela diz, fazendo Skyler soltar uma risada.

— Uma dose? Eu preciso de todo o estoque da adega — retruca.

Saio da cozinha e me dirijo até a adega e escolho um vinho rosé.

Antes que possa voltar à cozinha, Henry me intercepta no corredor.

— Problemas? — ele quer saber.

Inclino-me um pouco e passo a mão no seu emaranhado de cabelos

negros. Ele tem um pouco mais de cinco anos, mas é tão esperto e calmo. Foi

um bebê tão tranquilo, que me faz sentir saudade daquela época em que ele

só queria os meus braços ou os de Sky.

Talvez devêssemos tentar fazer outros bebês.

— Mamãe está nervosa.

— Ah. Diga a ela pra não se preocupar — fala como se entendesse

toda a situação.

Sorrio e concordo com um aceno de cabeça.

Quando entro na cozinha de novo, dou de cara com Betsy, tentando

dar conselhos a Skyler sobre como lidar com a minha mãe, tia Naomi e

Alice.

— ... faça como eu, basta ignorá-las e sua vida será perfeita — Betsy

fala como se fosse a coisa mais fácil do mundo.


Em silêncio, pego uma taça de cristal e sirvo vinho para Sky, que

bebe todo de uma vez e pede por mais, sedenta. Preciso tomar cuidado, se

ela ficar bêbada, tudo pode dar muito certo, mas também pode dar muito
errado.

— É fácil falar, Betsy — Skyler rebate. — Vou ter um ataque

cardíaco antes da noite terminar.

Levo uma das mãos até as madeixas sobre o ombro dela e coloco

para trás, roubando um sorriso meigo de Sky. Ela aproxima o rosto do meu e

me dá um selinho com gosto de gloss.

— A noite será perfeita — digo, prendendo seus olhos aos meus. —

Não se preocupe tanto. Mesmo que o peru esteja com gosto de queimado,

não vou deixar ninguém reclamar.

— Obrigada — sussurra, sorrindo.

— Tony tem razão — Freda fala ao se juntar a nós. Pega uma taça de

dentro do armário e enche de vinho também. — Relaxa. Mamãe parece má,

mas é fácil lidar com ela.

— Você diz isso, porque sua sogra é maravilhosa — Sky retruca.

— Mas em contrapartida, eu tenho cunhadas horríveis — Freda fala

bem na hora que Christian entra na cozinha.

— Querida, você está falando mal das minhas irmãs? De novo?


— Falando mal não, apenas dizendo a verdade. — Freda vai na

direção da sala segurando a taça de vinho com Christian na sua cola.

— Mãe! — Scarlet grita de algum cômodo da casa e ouvimos

barulho de alguém descendo as escadas correndo. Segundos depois, nossa

menina aparece na cozinha. — Eu tomei uma decisão difícil hoje, mas muito

importante.

Scarlet é a gêmea idêntica de Henry. Nasceu primeiro, um minuto de

diferença. Os dois conseguem ser muito parecidos e ao mesmo tempo,

completamente diferentes. Scarlet é um pouco mais impulsiva e já tem

sonhos demais para uma garotinha da idade dela.

— Eu vou ser atriz — fala, olhando de mim para a mãe. — Alguém

pode ligar pra tia Rosie e perguntar se ela quer ser minha agente? —

pergunta.

Meu Deus, ela já parece um projeto de adolescente. É assustador.

— De novo, não — Sky fala ao fechar os olhos por uma fração de

segundo.

— Querida — digo, chamando-a até mim. Ela vem e para na minha

frente, cruzando os braços. Ajoelho-me e sorrio. — A tia Rosie está

viajando e mesmo assim, já conversamos sobre isso.


— Eu sei, mas pai, eu nasci pra fazer isso. Sou sua filha — contesta

e eu assinto.

Olho Skyler de rabo de olho e ela faz um movimento quase

imperceptível com a cabeça. Eu sei o que tenho que fazer, porém, acho que

não consigo. Existem crianças que nascem com talento e atuam desde muito

cedo. Infelizmente, não é o caso da minha filha. Ela é uma péssima atriz,

acha que nasceu com o dom, só porque é minha filha e se recusa a fazer

teatro.

Como vou falar para minha garotinha que ela é péssima em alguma

coisa? Nenhum pai é capaz de algo desse tipo. É impossível.

— Que tal fazermos um filme? Eu e você? — é o que falo, porque sei

que Scarlet não vai tirar da cabeça tão cedo o negócio sobre ser atriz. Ela

vem falando sobre isso já faz quase quatro meses.

Minha garotinha joga os braços no meu pescoço e sorri.

— Sério?

— Com certeza. Podemos ser uma dupla imbatível de detetives. O

que acha?

— Eu amei a ideia, papai — fala ao beijar meu rosto. Em seguida,

sai correndo da cozinha, toda saltitante. — Tio, Wyatt eu vou fazer um filme

com o meu pai! — grita de algum lugar da sala e nós dois rimos.
— Precisamos dar um jeito de levá-la nas aulas de teatro — minha

esposa comenta e eu concordo com um aceno de cabeça. — Talvez se você

acompanhá-la, ela aceite. Que tal?

— Podemos tentar.

A campainha toca e Sky leva a mão até o coração. Das duas uma, ou

são meus pais chegando ou é a vovó.

— Vou atender — Mary que ainda está na cozinha, mexendo panelas

e se certificando de que tudo saia perfeito, diz e caminha em direção à porta.

Seguro Sky pelo pescoço e colo nossos corpos. Ela apoia as mãos no
meu peito e me encara, aflita.

— Sei de algo que vai te acalmar — murmuro ao seu ouvido com


malícia.

— O quê?

Dou uma piscadela.

— Uma rapidinha.

Sky solta uma gargalhada.

— As rapidinhas nunca são rapidinhas com você e eu não posso


deixar o peru queimar.

Suspiro, cabisbaixo. Pelo menos, eu tentei. Entrelaço nossas mãos e

puxo Sky rumo à sala. Ela sorri aliviada ao ver vovó conversando com
Scarlet, que conta a novidade sobre protagonizar um filme comigo como se
fosse a melhor notícia de todos os tempos.

Depois de cumprimentar todo mundo, ela vem até nós. Beija meu
rosto e depois abraça minha esposa com carinho.

— O cheiro está delicioso — vovó comenta, fazendo o rosto de

Skyler se iluminar com outro sorriso. — Tenho certeza que fez um ótimo
trabalho.

— Estou nervosa — ela admite.

Ter a minha família aqui é importante para Sky, mas também a faz se
sentir pressionada. Eu entendo, não é fácil aturar minha mãe, tia Naomi e

Alice que mesmo depois de tantos anos, parecem as mesmas, todas


ranzinzas.

— Não se deixe abalar, querida. Você é uma mulher poderosa agora

— vovó fala e parece que algo estala dentro de Sky, que assente.

É verdade. Ela é uma mulher foda. Estudou piano como bolsista no


melhor conservatório de música de Los Angeles e se formou como a melhor

pianista da classe. Recebeu propostas para trabalhar em concertos, mas


recusou todos. Preferiu dar aulas, como a mãe fazia. E daqui a dois meses,

vai fazer um ano que ela abriu a própria escola de música no centro de Los
Angeles.
Minha esposa é incrível.

Horas mais tardes, estamos todos na sala, conversando e rindo.

Sky parece mais aliviada e por incrível que pareça, minha mãe não
reclamou nenhuma vez. Talvez ela esteja finalmente amadurecendo ou meu

pai a fez mudar de ideia sobre a nora. Não sei como os dois ainda estão
juntos, mas fico feliz de terem um ao outro, mesmo depois de tanta

turbulência no casamento deles.

Alice e tia Naomi continuam as mesmas, mas tudo bem, nós só a

vemos praticamente uma ou duas vezes no ano.

— O que eu compro de presente para os gêmeos? — Jordan pergunta


ao sentar ao meu lado no sofá e passar uma das mãos na cabeça do Rafael, o

gato que está dormindo entre as almofadas. — Eles estão crescendo tão
rápido. Preciso dar algo moderno e de tecnologia avançada, quero continuar

sendo o tio legal.

Rio do comentário e o gato acorda, visivelmente incomodado, ele sai

de perto de nós. Eu amo os nossos felinos, mas estão ficando tão rabugentos.
Às vezes, parece que estou morando com quatro vovozinhos ranzinzas.

— Convença Scarlet a ir às aulas de teatro, vai ser perfeito. Melhor

presente do mundo.
— Mas será presente pra você e não pra eles — meu irmão retruca e

me dá um empurrão na costela com o cotovelo.

Demorou, mas Sky conseguiu fazer com que Jordan e eu nos

acertássemos. Para falar a verdade, ela ameaçou fugir no dia do nosso


casamento, se eu não fizesse as pazes com o meu irmão. E mesmo depois de

todo o drama, é bom tê-lo ao meu lado de novo, sendo meu melhor amigo e
minha família.

— Isabel tá mais bonita ou é impressão minha? — ele pergunta e eu

o olho de rabo de olho. — Será que tenho alguma chance?

— Não mexa com ela, Sky pode cortar suas bolas — retruco e
Jordan enruga o nariz, fazendo careta.

— Vou cortar as bolas de quem? — ela pergunta ao sentar no meu


colo, depois, encosta os lábios nos meus para um beijo. Já bebeu quase duas

garrafas de vinho e está risonha e serelepe demais. Preciso dar um fim na


noite ou será um dia de arrependimentos amanhã. — Vamos mandar todo

mundo ir embora, colocar as crianças na cama e esquentar a nossa noite? —


pergunta no meu ouvido, mas Jordan e Wyatt, que acabou de se aproximar,

escutam.

— Alguém tira o copo dessa mulher, pelo amor de Deus — Wyatt

fala e nós rimos. — Os gêmeos já estão dormindo, Sky — emenda e a minha


esposa pisca devagar, depois acaba rindo.

— Tudo bem, vamos encerrar a noite — sussurro e ela nega com a

cabeça, me roubando um sorriso.

— Mas você acabou de dizer que vai mandar todo mundo embora —
Jordan retruca e Skyler fica boquiaberta. — O que foi?

— Você me escutou? — questiona e nós caímos na risada.

Isabel e Mary se aproximam para se despedirem, fazendo Sky


levantar do meu colo e abraçá-las. É engraçado, ela está com a língua

enrolada e tenta não parecer bêbeda na frente das duas. Mal sabe, que não
está enganando ninguém.

— Não deixe que ela beba mais, a cabeça dela vai estar horrível
amanhã — Bels diz ao beijar meu rosto. — E vai morrer de vergonha.

— A vergonha é sempre a melhor parte — Wyatt retruca.

— Pra quem está de fora — Jordan acrescenta, rindo.

Aos poucos, todos os nossos convidados vão embora e Sky deita no


sofá e coloca os pés em cima de mim, mas antes tirando os sapatos de salto.

Sem que ela tenha pedido, faço massagem e ela solta gemidos entrecortados.

— Vamos fazer sexo? — ela pergunta, me fazendo sorrir.

— Sim, claro — é o que respondo. Mas a verdade é que já me


acostumei com a versão bêbada da minha esposa. Ela fica animadinha,
prometendo o mundo, mas sempre apaga e dorme feito pedra.

— Estou falando sério, quero sexo — insiste. — Sexo selvagem.

Embora tenha tentado não rir, eu não consigo. Eu adoro a versão

bêbada dela. A língua não tem freio.

— Sexo selvagem, anotado.

— Vamos para o quarto. Me leve nos braços, como na nossa noite de

núpcias — murmura de olhos fechados.

Levanto do sofá e pego-a no colo. Ela joga os braços em volta do


meu pescoço e me dá um beijo com gosto de vinho. Respira fundo e encosta

a cabeça no meu ombro enquanto subo as escadas.

Quando entro no quarto e a coloco em cima da cama, noto que Sky já


está dormindo. Tiro o cabelo de cima do seu rosto e planto beijo na sua

testa, antes de ajeitar os travesseiros e cobri-la com edredom.

— Amanhã você não me escapa. Vou querer a versão roqueira sexy

na minha cama — sussurro e ela geme “uhum” como se tivesse entendido o


que falei. — Durma bem, meu amor. — Beijo seu rosto de novo e desço as

escadas, indo em direção à cozinha.

Alguém precisa colocar os pratos na lava-louça e alimentar os gatos.


A seguir reservei um bônus especial para você. É um trecho de um

dos meus últimos lançamentos, um romance super sexy e intenso com


mocinho rendido. Espero que aprecie e se divirta.
Herdeiro, negócios e status...

Não faz cinco dias que enterramos o meu pai e essas são as únicas
palavras que saem da boca da minha mãe. Bem, não são as únicas. Elas vêm

junto em orações, sentenças que conseguem me tirar do sério.

Em cima de um salto fino, ela anda de um lado para o outro na grande

sala da mansão, quicando de forma estridente no chão de granito. As mãos

magras e enrugadas voam no ar de vez em quando e as narinas expandem,


enquanto uma ruga fina aparece entre as sobrancelhas.

A casa está tão vazia sem o meu pai. É como se nada mais na minha

família fizesse sentido. Droga. Por que a vida teve que tirá-lo de mim

também? Não aguento mais perder as pessoas que eu amo.

Mamãe para de repente e gira o corpo para mim, trincando os dentes.


— Jamison Ross Foster, você está me ouvindo?

Respiro fundo e meneio de leve a cabeça.

— Infelizmente, sim.

Ela levanta os braços mais uma vez antes de bater na lateral do corpo

esguio. Girando os olhos, mamãe vem até mim e senta ao meu lado no sofá.

Segura uma das minhas mãos entre as suas e aperta de leve.

— Nós precisamos...

— Não quero falar sobre os negócios, acabamos de enterrar o papai.

Não quero pensar nas minhas responsabilidades e toda essa merda.

— Eu sei, querido, mas precisamos conversar sobre isso mesmo


assim. — Suspira e aperta os lábios em uma linha reta. — Chegou a hora de

parar de brincar e fazer a coisa certa, meu filho. Você foi preparado pra isso.

Rio com sarcasmo, mas não afasto a minha mão da sua.

— Parar de brincar? Você fala como se eu não tivesse feito todas as

suas vontades, mãe. Ditar o meu futuro e fazer tantas escolhas por mim não

foi suficiente?

Ela engole em seco e contrai o músculo do maxilar.

— Fazer minhas vontades não te impediu de brincar de ser artista —

resmunga e me deixa com um gosto amargo na boca. — Não aja como se não

tivesse feito o que quis, porque o seu pai foi bom demais pra você.
Mamãe tem razão. Ele foi incrível. Mesmo depois de terminar minha

faculdade de administração, não me obrigou a trabalhar com ele. Deixou que

continuasse sufocando os meus sentimentos com a música, o que minha mãe

não aprovava.

E por anos, eu fui apenas o herdeiro do magnata da indústria

aeronáutica. Cantando em bares desconhecidos e fingindo que minha conta

bancária não era gorda o suficiente para comprar qualquer coisa que eu

quisesse.

— Eu conversei com o conselho, eles estão todos de acordo...

— Mãe — interrompo. — Não quero me tornar CEO agora. Não me

imagino fazendo isso.

Ela assente e abre um sorriso fraco.

— Mas terá que fazer.

Mamãe é membro do conselho e nossa família detém 60% das ações

das indústrias Foster. Ela é persuasiva e claro que conseguiria convencer a

todos que estou pronto para sentar na cadeira de presidente e assumir os

negócios.

A verdade é que eu sempre soube que esse dia chegaria, mas isso não

significa que eu queira cair de cabeça nesse mundo agora. Ainda não consigo

esquecer o que meu pai disse antes de morrer.


— Esfrie a cabeça. Eu posso aguentar por um tempo, mas não tem

escolha. Jamie, você é um Foster, precisa zelar o seu sobrenome.

— Zelar meu sobrenome... é tudo que importa? — pergunto com

sarcasmo. Hein, mãe?

Ela balança a cabeça de um lado para o outro, suspirando

— Não ouse falar com esse tom de deboche. Posso não ser a melhor

mãe do mundo, mas não sabe das coisas que eu fiz pra manter a nossa família

unida. E eu estive do seu lado mesmo depois da...

— Não fale dela, mãe — digo, a voz soando áspera e fazendo minha

garganta arranhar. — Preciso de tempo pra fazer algumas coisas.

Recolho minha mão, que ainda estava entre as suas e levanto do sofá.

Mamãe faz o mesmo. Antes que possa sair da sala, ela segura meu braço com

força e me impede de caminhar.

— Que coisas?

— Nada importante, mãe.

Seguro seu rosto com uma das mãos e deposito um beijo terno na sua

bochecha, fazendo-a sorrir. Ela é uma mulher difícil e sempre gostou de ditar

o meu futuro, mas apesar disso, é uma boa mãe. Sempre esteve comigo, nos

momentos mais difíceis e nunca deixou de segurar minha mão.


Temos nossas diferenças, e mesmo assim, não posso negar, minha

mãe é uma grande mulher e sempre manteve a família unida.

— Você está bem? — quer saber. — Não falou muito depois do

enterro.

— Estou bem, mãe.

— Não faça isso de novo, Jamie. Não ouse se fechar e sofrer sozinho

mais uma vez.

— Não vou fazer isso — minto.

Para falar a verdade, ainda acho que sou o mesmo de anos atrás.

Aquela ferida ainda não cicatrizou e continua me assombrando todos os dias.

O que mudou é que eu parei de falar sobre isso e aprendi a fingir que estou

bem.

— Todos perdemos o seu pai, devemos passar por isso juntos.

Assinto.

— Não se preocupe e acredite quando digo que estou bem.

Ela não parece acreditar nas minhas palavras, no entanto, concorda

com um aceno de cabeça e fecha os olhos por um longo segundo enquanto

suspira. Sem dizer nada, envolve as mãos em volta do meu pescoço e me

puxa para um abraço apertado.

— Sinto falta dele — murmura.


— Eu sei, também sinto, mãe.

Aperto-a contra mim, sentindo o seu cheiro doce, pensando que parar

atender o último pedido do meu pai, terei que partir o coração da minha mãe.
Depois de acompanhar o casal de clientes até a saída, Amanda volta

para perto de mim. Dá a volta no balcão de madeira e enche um copo de


cerveja para mim, enquanto os olhos grandes e azuis me analisam de forma

minuciosa.

“Cherry Pie” do Warrant preenche o lugar inteiro na voz do Matt, o

cantor do bar. Ele não é exatamente a melhor voz que você vai ouvir aqui, só

que é o melhor que conseguimos pagando pouco.

— Apenas uma palavra pra você, Coelhinha — Amanda fala, levando

o dedo indicador até o meu rosto e fazendo movimentos de ziguezague no ar.

— Sexo.

Bufo e reviro os olhos. Pego o copo de cerveja e bebo todo o líquido

da caneca, refrescando o meu corpo. É verão no Texas, então isso significa


fortes ondas de calor, como se eu estivesse de plantão em frente da porta do

inferno.

— Sexo não resolve tudo.

— Pelo menos vai dar um chega pra lá nesse mau humor — retruca e

mexe de leve os ombros. — Você anda bem estressada, se fosse em outra


época, teria ignorado aquela cliente sem noção.

Estou pronta para abrir a boca e contra-argumentar, quando um cliente


entra no bar e ela se afasta de mim para ir anotar os pedidos. Claro, não sem

antes me presentear com uma piscadinha e falar apenas movimentando os

lábios a palavra “sexo”.

Respiro fundo e controlo a vontade de revirar os olhos mais uma vez.

Eu tinha discutido com uma cliente, porque o marido dela não tirava
os olhos do meu decote. Ela disse que eu deveria me vestir como uma moça

de respeito e não como uma vadia, porque eu estava tentando o seu homem

fiel.

É claro que isso me tirou do sério e eu a mandei à merda. Não tenho

culpa se ela é casada com um traste que não consegue manter os olhos longe

dos decotes das mulheres em volta.

Nós discutimos, ela jogou cerveja na minha blusa e disse que não

pagaria pelas bebidas. Pela primeira vez, senti vontade de acertar uma boa
bofetada no rosto de uma cliente, mas me dei conta de que ela é assim por

estar insegura no seu relacionamento.

Então eu disse a ela:

“Não somos amigas, mas vou te dar um conselho. É melhor trocar de

namorado, porque esse aí vai continuar colocando chifres na sua cabeça.”

E foi assim que ela pulou em cima de mim e tentou puxar o meu

cabelo. Amanda chegou segundos depois e apartou a nossa briga. Foi o

certo, embora tenha me deixado irritada. Fiquei toda descabelada e com a

blusa molhada de cerveja, enquanto a cliente foi embora, de queixo erguido,

como se tivesse ganhado um jogo estupido.

Depois a Amanda começou com o negócio de que eu preciso transar

com alguém, já que ando muito estressada nas últimas semanas. Talvez ela

tenha razão, talvez não.

Sexo não resolve tudo.

Acredite, eu sei disso.

Depois de ter sido trocada, eu tentei. Transei com alguns homens

bonitos, pensando que assim, o meu coração se recuperaria mais rápido e

aquela traição não machucaria tanto.

Não deu certo.


O buraco que o Daniel deixou no meu peito continuou do mesmo

jeito, me machucando e me fazendo sentir idiota por ter amado um cretino,

que não conseguia manter o pau guardado dentro das calças.

Hoje, não dói tanto, mas também não tenho vontade de me relacionar

com outro cara. Ficar quieta na minha zona de conforto é o que me faz

dormir como uma criança de noite. Não tem emoção, borboletas no estômago

e essas coisas, mas não é tão ruim.

— Tem um amigo do Steven que quero te apresentar — Amanda fala

ao voltar para perto do balcão. Sem olhar para mim, pega uma garrafa de

whisky e serve em dois copos de cristal com gelo. — Acabou de chegar na

cidade.

Enrugo o nariz.

— O que ele veio fazer nesse fim de mundo? — rebato com um tom

divertido, fazendo Amanda rir.

Nós moramos em Fredricksburg, uma cidade pequena com um pouco

mais de onze mil habitantes, localizada a oeste de Austin e ao norte de San

Antonio. Apesar da Oktoberfest anual e aqui ser uma ótima porta de entrada

para as vinícolas da região Hill Country, as pessoas por aqui não costumam

vir para ficar.


Quando era adolescente, o meu maior sonho era ir morar em Houston.

Infelizmente, algumas tragédias aconteceram e eu criei raízes aqui e hoje não

sei se consigo ir embora. Não é tão ruim, só não é tão comum novos

moradores pela região. Os meus vizinhos são os mesmos desde que eu

nasci.

— Foi traído e está tentando recomeçar.

Suspiro.

— Ah, ótimo — falo com deboche.

— O que foi?

— Nada, apenas passo.

Abro um sorriso para Amanda e saio de perto dela no momento em

que um cara se apruma no balcão e pede cerveja. Os lábios dele se esticam e

os olhos flanam pelo meu decote e blusa suja de cerveja.

Ele assobia.

— Gosto de mulheres molhadas — diz, a voz soando baixa e rouca.

— Que horas você sai?

Ergo uma sobrancelha e controlo a vontade de ser grossa. Sirvo a

cerveja e inspiro de maneira profunda. Devolvo a sua cantada com um olhar

sério e simplesmente, não respondo e dou as costas para o garanhão.


Se eu recebesse um dólar por cada olhar ou cantada que recebo no

bar, eu não precisaria mais trabalhar como garçonete.

Se eu recebesse um dólar por cada olhar ou cantada que recebo no


bar, eu não precisaria mais trabalhar como garçonete.

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Sinopse:

"Pela Gwen, eu burlei minhas próprias regras. Só que eu não posso. Não

posso ficar com ela e, também, não sou capaz de dizer adeus”

Jamie Foster é um herdeiro bilionário. Lindo, cativante e sedutor, mas teve o

coração partido e feridas que nunca cicatrizaram. Por isso, ele prefere
apenas se divertir com as mulheres e manter bem fechadas as portas do seu

coração.

Amar de novo não é algo que ele queira no momento.

Depois da morte do seu pai, o magnata da indústria aeronáutica, ele se vê


preso entre a decisão de reparar os erros do passado do pai e ferir os

sentimentos da mãe ou deixar as coisas como estão.

Gwen Holt é uma garota gentil e de bom coração, que não está procurando

caras bonitos, sarados e com sorrisos fáceis e atraentes. Na verdade, ela


corre de homens assim como o Diabo foge da cruz, mas o destino é

implacável e faz com que ela e Jamie tenham os caminhos cruzados.

Mesmo contra os seus instintos, que gritam para se manter longe do


bilionário que apareceu no seu bar, Gwen decide ajudá-lo na missão de

encontrar alguém do passado do pai de Jamie.

Ela só não esperava se apaixonar por ele no meio do caminho. Entregar o

coração para um homem quebrado, pode machucar mais do que uma traição
ou um amor não correspondido.

Jamie não sabe, mas Gwen é aquela que vai derrubar as portas trancadas do

seu coração e se tornará a sua redenção.

Um herdeiro bilionário sedutor e com um passado misterioso, uma garota


doce e forte, os dois prometem uma intensa história de amor e de tirar o
fôlego.
Oi!

Obrigada por ter lido até o fim. Espero que você tenha gostado de
Uma Virgem para o Astro de Hollywood, tanto quanto eu gostei de escrevê-

lo. Com certeza, Tony se tornou um dos meus personagens favoritos. É um


homem tão lindo, apaixonado, engraçado, intenso e sexy. É um daqueles bons

rapazes que faz a gente suspirar, não é?

Bem, por hoje é isso, muito obrigada de coração por estar me


acompanhando e se for possível deixe algumas estrelinhas e uma avaliação

lá na Amazon, sua voz é muito importante para mim.

Beijos!

Para acompanhar de perto os lançamentos e tudo que rola nos

bastidores da minha escrita, venha interagir comigo em:


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A RENDIÇÃO DO HERDEIRO BILIONÁRIO: https://amz.run/5Xn3

SOCORRO, O CEO SUMIU: https://amz.run/5Xn5

MAIS DE VOCÊ – ENTREGUE AO CEO: https://amz.run/5Xn4

O HOMEM DA MÁFIA: https://amz.run/5Xn6

NAS GARRAS DA MÁFIA: https://amz.run/5Xn7

O SENHOR DA MÁFIA: https://amz.run/5Xn8

EM NOME DA MÁFIA: https://amz.run/5Xn9


[1]
É um livro do gênero romance psicológico e suspense.
[2]
O wakeboard é um esporte aquático praticado com uma prancha tipo snowboard, puxado por uma
lancha ou sistema de cabos, conhecidos como cable parks e guinchos.
[3]
O osteossarcoma ou sarcoma osteogênico é o câncer ósseo primário mais frequente e se inicia nas
células ósseas. Ele ocorre mais frequentemente em crianças e adultos jovens com idade entre 10 a 30,
mas cerca de 10% dos casos ocorre em pessoas entre 60 a 70 anos, sendo mais comum em homens do
que em mulheres. Estes tumores se desenvolvem com mais frequência nos ossos dos braços, pernas e
pelve.

[4]
Transtorno de desenvolvimento que afeta a capacidade de se socializar e de se comunicar com
eficiência. A síndrome de Asperger é um estado do espectro autista, geralmente com maior adaptação
funcional. Pessoas com essa condição podem ser desajeitadas em interações sociais e ter interesse em
saber tudo sobre tópicos específicos.

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