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Diagnóstico Diferencial da

Dor Torácica no adulto

Profa. Júnea Paolucci de Paiva Silvino


juneaendo@ufsj.edu.br
Avaliação da Dor Torácica

Anamnese detalhada é o instrumento básico e o mais relevante na


formulação de uma causa da dor torácica que, adicionada ao
exame físico e aos fatores de risco permitirá a elaboração das
hipóteses diagnósticas, definindo os exames complementares
mais pertinentes, evitando-se alta hospitalar para os casos com
risco iminente de morte (SCA, Dissecção Aguda Aorta, TEP,
pneumotórax hipertensivo, tamponamento cardíaco, ruptura ou
perfuração esofagiana)
Avaliação da Dor Torácica
Início e duração
 Qualidade
 Localização
 Irradiação
 Intensidade
 Fatores desencadeantes
 Fatores de alívio
 Sintomas associados
 Evolução no tempo
Avaliação da Dor Torácica
Avaliação da Dor Torácica
Avaliação da Dor Torácica
Características
Tipos de dor

 Dor cutânea ou superficial

 Dor visceral ou profunda


Tipos de dor

 Dor cutânea ou superficial:


 precisão na identificação
 exatidão na localização

 Dor visceral ou profunda:


 imprecisão
 localização difusa
 pode ser acompanhada de dor referida
Tipos de dor
 Dor torácica:

 várias estruturas intratorácicas

 inervação dolorosa dos órgãos


- presença/ausência de dor

 sem inervação própria para dor:


parênquima pulmonar, pleura visceral,
pericárdio, osso ( exceto perióstio)
Dor torácica

Causas
- Musculoesqueléticas/parede torácica
- Gastroesofágicas/ Gastrointestinais
- Cardíacas ( isquêmicas e não isquêmicas)
- Psiquiátricas
- Pulmonares
Dor Torácica

Musculoesqueléticas
 Condições que afetam estruturas musculoesqueléticas da parede torácica -
36% dos diagnósticos
 Diagnóstico favorecido pela localização da dor que pode ser desencadeada
pela compressão de um ponto
 História de atividade física repetitiva ou não usual
 Surge também com movimentos ventilatórios ( inspiração profunda ,
movimentação dos braços ou pescoço)
 Deve avaliar a presença de lesões na pele
 Excluir causas graves (SCA , TEP)
Dor Torácica
Musculoesqueléticas
Primárias :
- Costocondrite
- Síndrome de Tietze
- Fibromialgia
- Artrite reumatóide
- Espondilite anquilosante
- Infecções por herpes zoster (neurossensorial)
Dor Torácica
Musculoesqueléticas
Secundárias:
- Síndrome da parede torácica superior (desfiladeiro torácico)
- Subluxação esternoclavicular espontânea
- Lúpus eritematoso sistêmico
- Artrite séptica
- Policondrite recidivante
- Neoplasias
- Osteoporose (fraturas patológicas)
- Fraturas por estresse
Dor Torácica
Gastroesofágicas
 Características de dor de origem visceral que resulta pela
transmissão anormal do estímulo no sistema nervoso
 RGE – segunda causa mais prevalente de dor torácica não
cardíaca . Dor retroesternal sem irradiação lateral, relacionada
com as refeições .
 Apresentação clínica não oferece substrato para distinguir da
dor cardíaca (usar triagem apropriada)
 Sintomas que sugerem causa gastroesofágica: pirose,
regurgitação, disfagia.
 Dor tipicamente pós-prandial persistente por mais de uma hora
e aliviada pela ingestão de antiácidos
Dor Torácica
Gastroesofágicas
Causas mais comuns

 Refluxo Gastresofágico (RGE)


 Esofagite
 Desordens de motilidade ( Acalasia ou
Megaesôfago)
 Pancreatite
 Doença vesícula biliar
Dor Torácica
Gastroesofágicas
 Abordagem inicial deve excluir SCA : ECG, dosagens de
marcadores cardíacos

 Tem alívio com uso de antiácidos ou anti-secretores: Prova


empírica com objetivo diagnóstico – uso de Inibidores de
Bomba de Prótons (IBP)

 Proceder PHmetria ou Endoscopia Digestiva Alta (EDA) – sem


resposta ao uso de IBP
Dor Torácica
Cardíacas
Causas
 Isquemia miocárdica - SCA (aulas a parte)
 Dissecção aguda da aorta
 Doenças valvulares
 Pericardite
 Miocardite
Dor Torácica
Cardíacas
 Dissecção Aguda da Aorta

 Incidência 3/100.000 pacientes/ano


 Mais comum a partir da 7ª década
 HAS – principal fator de risco
 Dor de início agudo, intensa de pico máximo no início
 Localização em tórax anterior e posterior
 Irradiação para pescoço, mandíbula e garganta, com caráter
migratório
 Exame físico: assimetria dos pulsos e da PA, sopro de regurgitação
aórtico, sinais de insuficiência cardíaca e de má perfusão tecidual.
 Exames complementares:
Rx tórax - contorno aórtico anormal
- aumento do mediastino
Dor Torácica
Cardíacas
 Dissecção Aguda da Aorta
Cardíacas Dor Torácica
 Doenças Valvares

 Estenose aórtica

 Angina progressiva, acompanhada de dispneia ou


sincope.

 Exame físico: pulsos parvus e tardus


ictus sustentado
sopro sistólico.
 Exame complementar : ECG pode detectar hipertrofia VE
Dor Torácica
Cardíacas

 Doenças Valvares

 Estenose Mitral
 Dor torácica na estenose mitral é rara.
 Presença relaciona-se à hipertensão pulmonar,
hipertrofia do ventrículo direito, ou dilatação atrial
importante.
 Exame físico: sopro diastólico (ruflar diastólico)
 Exame complementar : Ecocardiograma permanece
como método de escolha para seu diagnóstico
Cardíacas Dor Torácica

 Pericardite

 Dor torácica súbita, em fincada ou opressiva, tipo pleurítica


 Localização : tórax anterior, ventilatório-dependente, com
melhora na posição assentada com inclinação para frente
 Irradiação para região do músculo trapézio
 Atrito pericárdico à ausculta
 Supra-desnivelamento de ST difuso ao ECG
Cardíacas Dor Torácica

 Miocardite

 Pode associar-se com sintomatologia cardíaca e sistêmica


( febre e mialgia ).
 Dor torácica decorre de pericardite
 Características clínicas e eletrocardiográficas de evento
coronariano isquêmico
Psicogênicas
Dor Torácica

Associadas :
 Síndrome do pânico
 Depressão
 Hipocondria
 1/3 dos atendimentos de emergência com dor
torácica, identifica-se desordens psiquiátricas.
Psicogênicas
Dor Torácica
 Quadro clínico:

 Taquicardia
 Hiperventilação
 Sudorese
 Palpitações
 Medo e apreensão

 Exame clínico:

 Discordância entre a intensidade da queixa e a observada

 Exames complementares:

 ECG e laboratorial normais.


Dor Torácica
Pulmonares
Causas
 Vasos pulmonares : - TEP
- Hipertensão pulmonar

 Parênquima pulmonar : - Infecções


- Câncer
- Doenças Crônicas
- Sarcoidose
- Pneumotórax espontâneo
 Tecido pleural
Pulmonares
Dor Torácica

 Vasos pulmonares

 TEP: - 66% dor torácica aguda


- 97 % associado com dispnéia/taquipneia

 Hipertensão pulmonar : - dor torácica crônica associada a letargia,


dispneia e síncope aos esforços.
Pulmonares
Dor Torácica
 Parênquima pulmonar
 Infecções : - Pneumonias - 30 %, Traquebronquite
- Sarcoidose
 Câncer

Associação de sintomas– febre, tosse, dispneia, perda de peso

 Pneumotórax : - insuficiência respiratória e/ou colapso cardiovascular


( pneumotórax hipertensivo)
- dispneia/taquipneia
- ausência de ruídos ventilatórios à ausculta
Pulmonares Dor Torácica
 Tecido pleural

- acometimento pleural
- caráter ventilatório-dependente
 Etiologia:
- doenças autoimunes (lúpus eritematoso sistêmico
e artrite Reumatóide)
- síndrome lúpus-símile causada por drogas
- doenças virais
Dor Torácica
Doença Duração Qualidade e Aspectos importantes
Localização

Angina estável 2 a 10 min.; em Queimação ou aperto em região Desencadeada por exercício físico, estresse
“crescendo” retroesternal ou precordial, podendo emocional, exposição ao frio e após grandes
irradiar-se para pescoço, ombros ou refeições; Pode estar acompanhada de náuseas,
braços. vômitos, diaforese e dispneia.

Angina instável < 20 min.; em “crescendo Semelhante à angina estável; porém, Pode iniciar-se em repouso ou com pequenos
mais intensa esforços; piora com pequenos esforços;
Geralmente pode estar acompanhada de
náuseas,vômitos,diaforese e dispneia

Infarto agudo do > 30 min.; em Semelhante à angina estável; porém, Frequentemente inicia-se em repouso sem
“crescendo”; início súbito mais intensa. fatores desencadeantes; piora com pequenos
miocárdio esforços; Geralmente pode estar acompanhada
de náuseas, vômitos, diaforese, dispneia e
tontura; Pode haver sinais de insuficiência
cardíaca e arritmias

Estenose aórtica 2 a 10 min.; em Semelhante à angina estável. Desencadeada pelo exercício físico; Ausculta
“crescendo” cardíaca mostra sopro sistólico em foco aórtico
com irradiação para as carótidas

Pericardite Geralmente de horas a Dor aguda e pleurítica em região Piora com inspiração profunda, tosse e decúbito
dias retroesternal ou precordial, podendo dorsal; melhora na posição sentada com
irradiar-se para pescoço, ombro ou inclinação para frente; Atrito pericárdico no
braço esquerdo exame físico.
Dor Torácica
Doença Duração Qualidade e Aspectos
Localização importantes

Miocardite Geralmente de horas a dias Semelhante à pericardite, mas, Atrito pericárdico, insuficiência
também pode lembrar o infarto cardíaca e arritmias ventriculares
agudo do miocárdio. podem estar presentes.

Dissecção aguda da aorta Geralmente horas; início súbito Dor de forte intensidade, A dor pode ser migratória; Pode
dilacerante, geralmente na região estar associada a sopro de
anterior do tórax com irradiação insuficiência aórtica,
para o dorso. tamponamento cardíaco, acidente
vascular encefálico e assimetria
dos pulsos periféricos

Embolia pulmonar Geralmente horas a dias; início Dor pleurítica na região ipsilateral Dispneia com ausculta pulmonar
súbito do tórax, acompanhada de dispneia normal; Pode haver sinais de
hipertensão pulmonar e
insuficiência cardíaca direita.

Hipertensão pulmonar Geralmente de 2 a 10 min Aperto retroesternal desencadeado Pode estar acompanhada de
por esforços dispneia, fadiga e sinais de
hipertensão pulmonar.

Pneumonia Geralmente de horas a dias Dor pleurítica na região ipsilateral Associada a febre e tosse com
do tórax. expectoração; Ausculta pulmonar
com estertores subcreptantes e
sopro brônquico
Dor Torácica
Doença Duração Qualidade e Aspectos importantes
Localização

Pleurite Geralmente de horas a dia Dor pleurítica na região ipsilateral Pode estar associada à febre;
do tórax Ausculta pulmonar com atrito
pleural.

Pneumotórax Geralmente horas; início Dor pleurítica na região ipsilateral Ausculta pulmonar com murmúrio
súbito do tórax, acompanhada de vesicular diminuído no hemitórax
dispneia. acometido, associada à percussão
timpânica.

Doença por refluxo 10 a 60 min. Queimação retroesternal Piora após grandes refeições e com o
ascendente, podendo estar decúbito dorsal; melhora com
gastroesofágico acompanhada de regurgitação. antiácido

Espasmo esofágico 2 a 30 min Aperto ou queimação Frequentemente inicia-se em


retroesternal, podendo irradiar-se repouso; pode ser desencadeado por
para pescoço, costas ou braços; deglutição, exercício físico e estresse
Pode ser semelhante à angina. emocional; melhora com nitratos;
Presença de disfagia deve levantar
suspeita de etiologia esofágica.

Ruptura esofágica e Geralmente horas; início Dor retroesternal intensa. Piora com deglutição e inspiração
súbito profunda; Associada a sintomas e
mediastinite sinais de mediastinite, como
dispneia, febre, taquicardia e
hipotensão
Dor Torácica

CONCLUSÃO

O objetivo principal, ao avaliar o paciente com


DOR TORÁCICA, é excluir as condições
potencialmente ameaçadoras à vida.
Referências
Semiologia Médica – Mário Lopez- Capítulo de Avaliação clínica do sistema
cardiovascular

Artigo de revisão- Diagnóstico diferencial da dor torácica: ênfase em causas não


coronarianas Ana Carolina Barbosa , André Santiago Silva , Andrei Augusto
Cordeiro , Bernardo Nelson Ribeiro , Filipe Reis Pedra , Isabela Nascimento Borges
, Karina Bessa Rievrs , José Carlos Serufo, Rev Med Minas Gerais 2010; 20(2 Supl
1): S24-S29

Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2018;28(4):394-402 Elizabete Silva dos Santos e
Ari Timerman

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