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ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM À

GESTANTE E PUÉRPERA EM ESTADO


CRÍTICO

PROFª DRª SANDRA L. FELIX DE FREITAS


INTRODUÇÃO

enfermagem profissional que intercede pelos pacientes junto


aos demais profissionais de saúde

ao diagnosticar situação de urgência

providencia para que a mulher tenha o aten­


dimento necessário, de acordo com a
estrutura organizacional e burocrática da
unidade de saúde que atua
De acordo com

Lei 7.498/1986 regulamentam o Exercício Profissional de


Enfermagem, são atividades privativas do
Decreto 94.406/1987 enfermeiro, entre outras atividades:

• cuidados diretos de enfermagem a pacientes graves com


risco de vida;
• cuidados de enfermagem de maior complexidade técnica e
que exijam conhecimentos científicos adequados e
capacidade de tomar decisões imediatas

cuidados desenvolvidos às gestantes em estado crítico ou


pelo/a enfermeiro/a potencialmente crítico não são limitados às
condições fisiopatológicas.

Este profissional deve considerar todas as dimensões da natureza


humana.
atuação do enfermeiro Processo de Enfermagem (PE)

5 etapas inter-relacionadas, interdependentes e recorrentes, a saber:

histórico de
enfermagem

avaliação de diagnóstico de
enfermagem enfermagem

planejamento
implementação
de enfermagem
Vivemos um momento em que as PE é um dos instrumentos
ações de enfermagem baseadas na existentes para sustentar a
tradição já não são aceitáveis prática da

ENFERMAGEM BASEADA EM
EVIDÊNCIAS
Para implantação e implementação do PE

linguagem padronizada TAXONOMIAS

classificação dos fenômenos diagnósticos de


foco da atuação da enfermagem enfermagem

método que permite a organizar e a implementar o PE de


SAE forma a garantir ao paciente/cliente assistência pautada nos
princípios éticos e técnico-científicos
implantação seleção de um referencial teórico que
da SAE 1º passo servirá de direção para os demais passos.

Callista Roy, Dorothea Orem,


Imogene King, Margaret Newman, Teoristas em
Martha Rogers, Wanda Aguiar enfermagem
Horta e outras
Desenvolvimento
de instrumentos

No Curso de Graduação em Enfermagem da UFMS optamos por


utilizar a Teoria de Wanda Aguiar Horta, que se baseia nas
necessidades humanas básicas.

“caminhos mais seguros que o enfermeiro dispõe para


SAE e prestar uma assistência de qualidade, com resultados
PE efetivos” (GERK; FREITAS; NUNES, 2009).
Gestante ou puérpera em estado crítico

Diversas são as condições que podem ocasionar complicações à gestante


e à puérpera, aumentando o risco de mortalidade materna.

A morte de uma mulher durante a gravidez ou dentro de 42 dias


após o parto ou a interrupção da gravidez, de qualquer causa
relacionada ou agravada pela gravidez ou sua administração,
mas excluindo mortes por causas acidentais ou incidentais
(WHO,1992).

principais causas diretas de morte materna: hemorragia, distúrbios


hipertensivos e sepse (SAY et al., 2014).
nas últimas décadas a mortalidade materna no
Ministério da Saúde
Brasil caiu 58%, passando de 143 para 60
óbitos maternos por 100 mil nascidos vivos.
Entretanto esse valor continua elevado.

precisa-se de profissionais de
saúde:
• que saibam trabalhar em
Para mudar este cenário equipe
• comprometidos com o
atendimento adequado às
necessidades da mulher no
ciclo gravídico-puerperal

a fim de proporcionar assistência humanizada e baseada em evidências,


com capacidade para a identificação precoce dos problemas e
intervenção adequada e em tempo hábil.
Apesar da gestação ser evoluir sem intercorrências na maioria
uma condição fisiológica das vezes

algumas mulheres por apresentarem


patologias preexistentes, outras por
desenvolverem problemas durante a
gravidez, parto ou puerpério

podem apresentar evolução desfavorável (BRASIL,


2012) e necessitarem de

cuidados críticos/intensivos
pacientes graves com comprometimento de um ou mais
pacientes dos principais sistemas fisiológicos, com perda de sua
críticos auto-regulação, necessitando substituição artificial de
funções e assistência contínua.

Pacientes
potencialmente
críticos

pacientes graves que, embora


apresentem-se clinicamente
estáveis, possuem potencial risco
de agravamento do quadro e
necessitam de cuidados contínuos.
gestantes e puérperas grupo com necessidades específicas
em condição crítica ou
potencialmente crítica que requerem assistência de enfermagem
permanente e especializada

com profissionais dotados de conhecimentos


tecnocientíficos e raciocínio critico-reflexivo

que o capacitem a identificar os sinais e


sintomas

que caracterizam as urgências e emergências


de cada caso.

FREITAS, IVO, FIGUEIREDO, 2016


Uma pesquisa em 115 países demonstrou que entre as mais de 60 mil
disfunções maternas, as hemorragias graves constituem cerca de 27%
das mortes maternas

optamos por exemplificar a assistência de enfermagem à


gestante/puérpera em estado crítico com parte de um capítulo publicado
em 2009:

Sistematização da assistência de enfermagem à


gestantes com hemorragias da gestação (segunda
metade): guia para a prática assistencial.
qualquer hemorragia que ocorra durante a gravidez é séria e
potencialmente fatal

e são diversos os distúrbios que podem desencadear este


fenômeno

o enfermeiro precisa manter-se atualizado técnica e


cientificamente.

Ao identificar os diagnósticos de enfermagem o/a enfermeiro/a


planeja suas intervenções e em seguida avalia o resultado das
mesmas.

Neste momento nos ateremos a alguns dos diagnósticos de


enfermagem prioritários que podem ser encontrados em mulheres com
DPP.
DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM SEGUNDO A NANDA
e CIPE E PRESCRIÇÕES DE ENFERMAGEM PARA AS
GESTANTES COM DESCOLAMENTO PREMATURO DE
PLACENTA:

DIAGNÓSTICOS DE
ENFERMAGEM PRESCRIÇÃO DE ENFERMAGEM
CIPE NANDA
Hemorragia Sem − Instalar acesso venoso em veia calibrosa;
uterina correspondente − Palpar as contrações uterinas atentando
para as contrações tetânicas (hipertonias)
ou o aumento do tônus uterino: útero de
Couvelaire;
− Monitorar o nível de dor (aumento da
sensibilidade uterina que está associada ao
útero de Couvelaire);
− Evitar toques vaginais até que o risco de
placenta prévia esteja descartado;
DIAGNÓSTICOS DE
ENFERMAGEM PRESCRIÇÃO DE ENFERMAGEM
CIPE NANDA
− Medir a altura uterina. O aumento
progressivo pode indicar hematoma
retroplacentário;
− Examinar o períneo em busca da
quantidade e das características do
sangramento;
− Instruir a gestante ao repouso absoluto no
leito, preferencialmente em DLE
− Monitorar coloração do sangramento
vaginal
− Realizar a troca do absorvente
monitorando a perda do volume
sanguíneo;
− Observar nível de orientação e
consciência constantemente;
DIAGNÓSTICOS DE
ENFERMAGEM PRESCRIÇÃO DE ENFERMAGEM
CIPE NANDA
− Monitorar os SV maternos e BCF,
conforme necessário, com base na
quantidade de sangue perdido;
− Observar sinais de CIVD: gengivas
hemorrágicas, taquicardia e petéquias;
− Comunicar ao médico sinais de CIVD;
− Monitorar os exames laboratoriais;
− Preparar a cliente para a cesariana, quando
necessário.
DIAGNÓSTICOS DE
ENFERMAGEM PRESCRIÇÃO DE ENFERMAGEM
CIPE NANDA
Volume de Volume de
líquido em líquidos − Instalar acesso venoso em veia calibrosa;
nível deficiente, − Elevar as pernas;
diminuído caracterizado por − Monitorar volume sanguíneo perdido, por
freqüência cardíaca meio da contagem de absorventes de modo
aumentada, contínuo, observando volume e frequência
redução do volume da perda sanguínea;
do pulso − Instalar balanço hídrico;
(filiforme), redução − Instalar cateter vesical de demora (sonda
de Foley), se necessário;
do débito urinário,
− Verificar PA, FC e freqüência respiratória
mudança no estado
(FR) maternas a cada 15 ou 60 minutos,
mental, enchimento dependendo da estabilidade materna e do
capilar reduzido volume de perda de sangue;
relacionado ao − Verificar o BCF de 15 em 15 minutos ou
sangramento. de acordo com a gravidade do caso;
DIAGNÓSTICOS DE
ENFERMAGEM PRESCRIÇÃO DE ENFERMAGEM
CIPE NANDA
− Verificar a FC materna;
− Observar alterações na coloração da pele
(palidez, cianose) de h/h ou conforme a
gravidade do caso;
− Verificar o enchimento capilar de h/h ou
conforme a gravidade do caso;
− Manter o material de emergência próximo
do leito;
− Instruir a gestante a permanecer em
repouso absoluto no leito,
preferencialmente em decúbito lateral
esquerdo (DLE);
− Observar e comunicar imediatamente os
sinais de choque hipovolêmico: hipotensão
arterial, pulso taquisfigmo e filiforme,
confusão mental, pele fria e pegajosa,
palidez cutânea, acrocianose.
DIAGNÓSTICOS DE
ENFERMAGEM PRESCRIÇÃO DE ENFERMAGEM
CIPE NANDA
Choque Sem − Iniciar infusão venosa;
hipovolê- correspondente na − Manter acesso endovenoso pérvio;
mico NANDA − Elevar MMII;
− Manter a cliente aquecida;
− Monitorar cor, nível de consciência e dor
da paciente;
− Iniciar terapia com oxigênio de 6 a 8 L por
máscara facial;
− Inserir sonda de Foley (monitorar débito
urinário);
− Monitorar balanço hídrico;
− Monitorar os níveis de HTO/Hb;
− Providenciar a disponibilidade de
derivados do sangue para transfusão;
− Administrar hemoderivados CPM;
− Monitorar BCF;
− Manter o material de emergência próximo
do leito.
DIAGNÓSTICOS DE
ENFERMAGEM PRESCRIÇÃO DE ENFERMAGEM
CIPE NANDA
Débito Débito cardíaco − Instruir ao repouso absoluto em DLE;
cardíaco em diminuído, − Verificar a PA e BCF de h/h ou conforme a
nível caracterizado por gravidade do caso;
diminuído variações nas − Verificar movimentos fetais e instruir a
leituras da PA gestante a realizar o mobilograma: a
(pressão arterial), gestante deve permanecer em DLE,
preferencialmente 30 min após a refeição e
pele fria e
com a mão sobre o abdome;
pegajosa, oligúria,
− Comunicar ao médico se os movimentos
dispnéia, cianose fetais verificados no mobilograma forem
relacionado ao menor que três em 1 hora27;
volume de ejeção − Monitorar os níveis de saturação de O2;
alterado secundário − Observar sinais de CIVD;
ao sangramento. − Comunicar ao médico sinais de CIVD;
− Palpar as contrações uterinas ou o
aumento do tônus uterino (útero de
Couvelaire);
− Monitorar o nível de dor.
REFERÊNCIAS

ALEXANDRE, L.B.S.P. Políticas públicas de saúde da mulher. In: FERNANDES,


R.A.Q.; NARCHI, N.Z. Enfermagem em saúde da mulher. Barueri, SP: Manole. 2 ed.
2016, pp.1-31.

BRASIL. Decreto n. 94.406, de 8 de junho de 1987. Regulamenta a Lei n. 7.498, de 25


de junho de 1986, que dispõe sobre o exercício da enfermagem, e dá outras
providências. Diário Oficial da União, Brasília, 9 jun. 1987. Seção 1, p. 8853-5.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações
Programáticas Estratégicas. Gestação de alto risco: manual técnico. 5. ed. – Brasília :
Editora do Ministério da Saúde, 2012. 302 p. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos)

COFEN. Conselho Federal de Enfermagem. Resolução 358, 15 de outubro de 2009.


Dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem e a implementação do
Processo de Enfermagem em ambientes, públicos ou privados, em que ocorre o
cuidado profissional de Enfermagem, e dá outras providências. Diário Oficial [da]
União da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 23 out. 2009b. Não paginado.
Disponível em: <http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen- 3582009_4384.html>. Acesso
em: 22 abr. 2014.
FREITAS, S.L.F. et al. Diagnósticos de enfermagem à mulher com doença falciforme:
modelo de adaptação de Roy. In: Associação Brasileira de Enfermagem, Associação
Brasileira de Obstetrizes e Enfermeiros Obstetras; Morais SCRV, Souza KV, Duarte ED,
organizadoras. PROENF Programa de Atualização em Enfermagem: Saúde
Materna e Neonatal: Ciclo 8. Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2017. p. 9-42.

GARCIA, T. R. Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem:


(CIPE®): versão 2015. Porto Alegre: Artmed, 2016.

GERK, M.A.S.; FREITAS, S.L.F.; NUNES, C.B. Diagnósticos de Enfermagem e Saúde


da Mulher. In: Teixeira E, coordenação-geral; Bresciani HR, Martini JG, diretoras
acadêmicas. Programa de Atualização em Enfermagem: saúde do adulto (PROENF)
ciclo 6; módulo 1. Porto Alegre: Artmed/Panamericana; 2011, pp.41-76.

GERK, M. A. S.; FREITAS, S. L. F.; NUNES; C. B. Sistematização da Assistência de


Enfermagem a gestantes com hemorragias da gestação (segunda metade): guia para a
prática assistencial. In: PROENF. Programa de Atualização em Enfermagem: Saúde
Materna e Neonatal. Associação brasileira de Enfermagem, Associação Brasileira de
Obstetrizes e Enfermeiros Obstetras. Porto Alegre: Artmed, 2009, p. 119-54.
LINO, Margarete Marques; CALIL, Ana Maria. O ensino de cuidados críticos/intensivos
na formação do enfermeiro: momento para reflexão. Rev. esc. enferm. USP, São
Paulo , v. 42, n. 4, p. 777-783, Dec. 2008 .

NANDA. Diagnósticos de Enfermagem da NANDA: definições e classificação 2015-


2017/ North American Nursing Diagnosis Association. Porto Alegre: Artmed. 2015.
“Cada vez que afirmamos que temos uma dificuldade no fazer,
existe de fato uma dificuldade no querer...”
(Humberto Maturana)

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