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Transtorno de Ansiedade

Generalizada
Psicofarmacologia
Prof.: Guilherme Jorge Stanford
O que é a ANSIEDADE?

 O termo "ansiedade" vem do indo-germânico angh, relativo a constringir,


estrangular, sufocar, oprimir. Dessa expressão também surge angustus (angustia),
de origem latina que exprime desconforto;
 A ansiedade é caracterizada por uma cadeia de sintomas emocionais, fisiológicos,
cognitivos e comportamentais característicos, que surgem pela expectativa ou
apreensão de alguma situação ou estímulo específicos;
 A ansiedade difere do medo pelo seu caráter antecipatório. Denominamos de
medo as respostas aversivas a estímulos específicos que estejam presentes no
ambiente, já na ansiedade esse estimulo não está presente (e em muitos casos
também não estará no futuro).
Sintomas relacionados à ansiedade

 Comumente em momentos de ansiedade as pessoas apresentam:


 Taquicardia;
 Aumento da pressão sanguínea;
 Hiperventilação;
 Aperto no tórax;
 Sudorese/ rubor em áreas específicas do corpo;
 Mal-estar epigástrico;
 Tremores/ palpitações;
 Aumento da tensão muscular;
 Pensamentos de antecipação/ fluxo acelerado de pensamento;
 Evocação de memórias traumáticas;
 Comportamento de esquiva/fuga (evitação);
 Freezing/ mutismo; (LEAHY, 2011)
A ansiedade segundo a perspectiva evolucionista

 Imaginem que pegássemos uma maquina do tempo e voltássemos 100 mil anos
no passado, para entender como viviam os seres humanos dessa época, em uma
rápida entrevista com os habitantes locais poderíamos perceber:
 É necessário ter cuidado à noite, pois algumas feras podem nos atacar;
 Não é bom comer alimentos estranhos, algumas pessoas já morreram por conta disso;
 Deve-se ter cuidado com o fogo, pois já ocorreram incêndios antes;
 Deve-se ter extremo cuidado com os bebês, pois muitos deles morrem anualmente;
 Passe longe de precipícios, altura mata;
 Qualquer ferimento, por menor que seja, pode gerar a morte de alguém;
 Reze para que o clima não mude de forma brusca, resfriados e gripes também podem
matar;
 Não se afaste do grupo e não confie em estranhos, eles podem te roubar e te matar;
 Cuidado com cobras, aranhas, escorpiões, vespas, crocodilos, tigres, lobos, rinocerontes,
mamutes ou qualquer outra coisa grande que você perceber se mexendo.
(LEAHY, 2011)
A ansiedade segundo a perspectiva evolucionista

 A ansiedade é uma característica natural e adaptativa de forma basal, seus


sintomas surgem não apenas em seres humanos, mas em todos os mamíferos e
em grande parte de outros animais;
 A ativação de um estado de ansiedade pode proteger o indivíduo de uma
provável situação de perigo, e ainda alertar o seu grupo de forma rápida sobre a
sua percepção (preparação para luta ou fuga);
 O caráter patológico da ansiedade surge quando esta se apresenta de forma
constante e incontrolável nas pessoas, gerando prejuízos significativos para a sua
vida em diferentes dimensões. Podendo reduzir o contato social, impedindo de
realizar suas atividades ocupacionais e laborais, reduzindo a autoestima e
estando relacionada a questões psicossomáticas. A partir daí caracterizam-se os
transtornos de ansiedade. (LANDEIRA-FERNADEZ, 2011), (LEAHY, 2011)
A ansiedade segundo a perspectiva evolucionista
Neurobiologia da ansiedade

 Os modelos contemporâneos de circuitos neurais do medo e ansiedade entre


outras emoções envolvem regiões pré-frontais, límbicas e paralímbicas;
 A principal estrutura envolvida nesse processo é a amígdala, que está
evolutivamente associada a um "sistema de alarme" responsável pela detecção e
percepção de estímulos relevantes para os objetivos do organismo. A amigdala é
especialmente sensível a informações relacionadas à ameaça, tendo como
função proteger o organismo do perigo;
 Outras estruturas filogeneticamente mais antigas do tronco encefálico também
estão claramente envolvidas às respostas orgânicas de medo e ansiedade, como
o locus cœruleus (envolvido na produção de noradrenalina) e os núcleos
anteriores da rafe (principais produtores de serotonina).
(PHAN, 2015)
Neurobiologia da ansiedade: Sistema Límbico

Cingulate
gyrus
Fornix

Mammillary
body

Amygdala

Hippocampus
Neurobiologia da ansiedade: Noradrenalina e Serotonina
Neurobiologia da ansiedade: SNA Simpático
Transtornos de ansiedade

 Destacam-se enquanto transtornos de ansiedade melhor caracterizados em suas


sintomatologias:
 Transtorno de ansiedade de separação;
 Mutismo seletivo;
 Fobias específicas;
 Transtorno de ansiedade social;
 Transtorno de pânico;
 Agorafobia;
 Transtorno de ansiedade generalizada.
 Outros transtornos já fizeram parte do grupo dos transtornos de ansiedade, sendo
atualmente movidos para outras categorias por apresentarem características
particulares, mesmo estando relacionados a eventos de ansiedade, a exemplo do
transtorno obsessivo-compulsivo e o transtorno de estresse pós-traumático. (DSM V, 2014)
Transtorno de ansiedade generalizada

Critérios diagnósticos:
A. Ansiedade e preocupação excessivas (expectativa apreensiva), ocorrendo na
maioria dos dias por pelo menos seis meses, com diversos eventos ou atividades
(tais como desempenho escolar ou profissional).
B. O indivíduo considera difícil controlar a preocupação.
C. A ansiedade e a preocupação e a preocupação estão associados com três (ou
mais) dos seguintes sintomas (com pelo menos alguns deles presentes na
maioria dos dias nos últimos seis meses):
1. Inquietação ou sensação de estar com os nervos à flor da pele;
2. Fatigabilidade;
3. Dificuldade em concentrar-se ou sensação de “branco” na mente;
4. Irritabilidade;
5. Tensão muscular;
6. Perturbação no sono. (DSM V, 2014)
Transtorno de ansiedade generalizada

Critérios diagnósticos:
D. A ansiedade, a preocupação ou os sintomas físicos causam sofrimento
clinicamente significativos ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou
em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
E. A preocupação não se deve a efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga
de abuso, medicamento) ou a outra condição médica (p. ex., hipertireoidismo).
F. A perturbação não é melhor explicada por outro transtorno mental (p. ex.,
ansiedade ou preocupação quanto a ter ataques de pânico no transtorno de
pânico, avaliação negativo no transtorno de ansiedade social, contaminação ou
outras obsessões no TOC, separação das figuras de apego no transtorno de
ansiedade de separação, lembranças de eventos traumáticos no transtorno de
estresse pós traumático, ganho de peso na anorexia nervosa, queixas físicas no
transtorno de sintomas somáticos ou conteúdo de crenças delirantes na
esquizofrenia ou transtorno delirante).
(DSM V, 2014)
Comorbidades, desenvolvimento e prevalência

 Fortes correlações com outros transtornos de ansiedade e transtorno depressivo


unipolar. Correlações menos comuns com transtorno por uso de substâncias, de
conduta, psicóticos e neurodesenvolvimento. A média de início do transtorno é
30 anos; entretanto, a idade de início se estende por um período mais amplo. A
idade de início é mais tardia do que para outros transtornos de ansiedade.

(KESSLER ET AL., 2005),


(DSM V, 2014)
Tratamento psicológico em TCC

 O tratamento psicológico que possui maior número de registros de eficácia para


o TAG é a terapia cognitivo-comportamental. O tratamento envolve:
 Psicoeducação sobre o modelo cognitivo e sobre a ansiedade;
 Técnicas de relaxamento muscular/ respiração;
 Monitoramento das preocupações;
 Avaliação das crenças e esquemas que sustentam e mantêm o estado de ansiedade;
 Exposições simuladas e reais a situações que gerem ansiedade, com controle das
respostas*.

(RANGÉ, 2011)
Tratamento farmacológico

 A primeira linha de tratamento farmacológico para o TAG é composta pelos


antidepressivos ISRS’s (Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina), dentre
os quais destaca-se o uso do escitalopram, paroxetina e sertralina. São fármacos
de preferência para pacientes que apresentem comorbidades com depressão,
pânico e fobia.
 A segunda linha é composta por ansiolíticos como os benzodiazepínicos:
alprazolam, lorazepam e diazepam. Tem ação rápida e eficaz, no entanto, possui
potencial para sedação e capacidade para gerar tolerância, dependência e
sintomas colaterais de retirada, sendo recomendado o uso restrito ao início do
tratamento, por curtos períodos de tempo e associados a um antidepressivo.

(CORDIOLI, 2015)
Outros tratamentos

 Redução da ingestão diária de cafeína, álcool, nicotina (e outras drogas,


sobretudo excitatórias);
 Regulação da alimentação;
 Práticas de meditação (Atenção Plena/ Mindfulness);
 Práticas de relaxamento, e respiração (Yoga e Tai-chi);
 Exercícios;
 Estimulação magnética transcraniana repetitiva (EMTr);
 Estimulação do nervo vago (VNS);

(CORDIOLI, 2015)
Referências

 AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-5: manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. 5.


ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
 CORDIOLI, A. V.; GALLOIS, C. B.; ISOLAN, L. (Org.). Psicofármacos: consulta rápida. 5. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2015.
 Kessler RC, Berglund P, Demler O, Jin R, Merikangas KR, Walters EE. Lifetime prevalence and age-of-onset
distributions of DSM-IV disorders in the National ComorbiditySurvey Replication. Archives of general
psychiatry, 2005.
 LANDEIRA-FERNADEZ, J. Neurobiologia dos transtornos de ansiedade. In: RANGÉ, B. et al. Psicoterapias
cognitivo-comportamentais: um diálogo com a psiquiatria. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.
 LEAHY, R. L. Livre de ansiedade. Porto Alegre: Artmed, 2010.
 RANGÉ, B. et al. Psicoterapias cognitivo-comportamentais: um diálogo com a psiquiatria. 2. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2011.
 PHAN, K. L. Neurobiology and neuroimaging of fear and anxiety circuitry. In: RESSLER, K. J.; PINE, D. S.;
ROTHBAUM, B. O. (Ed.). Anxiety Disorders: traslational perspectives on diagnosis and treatment. New
York: Oxford University, 2015.

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