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Lívia Sá – Medicina 2022/1 1

Saúde Mental e Comportamento


Tutoria 4: Transtornos de Ansiedade

ou reduzir suas consequências. Essa preparação é acompanhada


1- CONCEITURAR ANSIEDADE NORMAL E
por aumento da atividade somática e autonômica controlada
PATOLÓGICA. pela interação dos SNAS e SNAP. Exemplos de uma pessoa que
evita as ameaças da vida diária incluem aplicar-se na preparação
ANSIEDADE NORMAL de um exame, agarrar uma bola atirada contra a cabeça, entrar
É caracterizada como uma sensação difusa, no dormitório de forma sorrateira após a hora estabelecida para
desagradável e vaga de apreensão, muitas vezes acompanhada evitar punição, correr para pegar o último trem. Dessa forma, a
por sintomas autonômicos como cefaleia, perspiração, ansiedade previne prejuízo ao alertar o indivíduo a realizar certos
palpitações, aperto no peito, leve desconforto estomacal e atos que evitam o perigo.
inquietação, indicada por uma incapacidade de ficar sentado ou
em pé por muito tempo. A gama de sintomas presentes durante ESTRESSE E ANSIEDADE
a ansiedade tende a variar entre as pessoas. Para um acontecimento ser percebido ou não como
Manifestações periféricas de ansiedade estressante depende da natureza do acontecimento e dos
Diarreia recursos, das defesas psicológicas e dos mecanismos de
Vertigem enfrentamento da pessoa. Todas essas referências envolvem o
Hiperidrose ego, uma abstração coletiva para o processo pelo qual o
Reflexos aumentados indivíduo percebe, pensa e atua sobre os acontecimentos
Palpitações
Dilatação da pupila externos ou os impulsos internos. Uma pessoa cujo ego esteja
Inquietação (p. ex., marchar) funcionando de maneira apropriada está em equilíbrio
Síncope adaptativo tanto com o mundo externo como com o interno; se
Taquicardia o ego não estiver funcionando adequadamente e o desequilíbrio
Formigamento das extremidades
Tremores resultante continuar por tempo suficiente, o indivíduo
Perturbação estomacal (“borboletas”) experimentará ansiedade crônica.
Frequência, hesitação, urgência urinária

MEDO VS ANSIEDADE ANSIEDADE PATOLÓGICA


A ansiedade é um sinal de alerta, é uma resposta a uma A ansiedade patológica ocorre quando esta antecipação
ameaça desconhecida, interna, vaga ou conflituosa, indica um de ameaça futura (desconhecida) passa a ser persistente e
perigo iminente e capacita a pessoa a tomar medidas para lidar disfuncional, ou seja, a trazer prejuízos sociofuncionais e/ou
com a ameaça. É frequentemente associada a tensão muscular sofrimento importante para o indivíduo.
e vigilância em preparação para perigo futuro e 2- CLASSIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS
comportamentos de cautela ou esquiva. Já o medo é uma
resposta a uma ameaça conhecida, externa, definida; sendo com DOS TRANSTORNOS DE ANSIEDADE.
frequência associado a períodos de excitabilidade autonômica Os transtornos de ansiedade estão associados com
aumentada, necessária para luta ou fuga. morbidade significativa e com frequência são crônicos e
Pode ser difícil fazer essa distinção, porque o medo resistentes a tratamento. Eles podem ser vistos como uma
também pode ser devido a um objeto inconsciente. Por família de transtornos mentais relacionados, mas distintos, que
exemplo, um menino pode ter medo de cachorros latindo inclui (1) transtorno de pânico, (2) agorafobia, (3) fobia
porque, na verdade, tem medo de seu pai e, inconscientemente, específica, (4) transtorno de ansiedade social ou fobia social e
associa o pai a cachorros latindo. Apesar disso, a emoção (5) transtorno de ansiedade generalizada.
causada por um carro que se aproxima com rapidez à medida
que o indivíduo atravessa a rua difere do desconforto vago que
TRANSTORNO DE PÂNICO
pode ser experimentado ao conhecer uma pessoa nova em um
ambiente estranho. A diferença psicológica principal entre as Ataque intenso agudo de ansiedade acompanhado por
duas respostas emocionais é a condição súbita do medo e o sentimentos de morte e tragédia iminente. A ansiedade é
caráter insidioso da ansiedade. caracterizada por períodos distintos de medo intenso que
podem variar de vários ataques durante um dia a apenas poucos
A ANSIEDADE É ADAPTATIVA? ataques durante um ano. Os pacientes com o transtorno
Ansiedade e medo são ambos sinais de alerta e atuam apresentam-se com uma série de condições comórbidas,
como uma advertência de uma ameaça externa ou interna. A principalmente agorafobia (medo ou ansiedade em relação a
ansiedade pode ser conceituada como uma resposta normal e lugares dos quais a saída poderia ser difícil).
adaptativa que tem qualidades salva-vidas e adverte sobre
EPIDEMIOLOGIA
ameaças de dano corporal, dor, impotência, possível punição ou
frustração de necessidades sociais ou corporais; separação de ✓ Prevalência ao longo da vida está na variação de 1 a 4%.
entes queridos; ameaça ao sucesso ou à posição individual; e, ✓ As mulheres tem 3x mais probabilidade de serem afetadas
por fim, sobre ameaças à unidade ou integridade. Ela impele o que os homens (mas há subdiagnóstico).
indivíduo a tomar as medidas necessárias para evitar a ameaça
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✓ O transtorno costuma surgir em adultos jovem (idade média sono e de alimentação; e situações ambientais específicas,
de 25 anos), mas pode se desenvolver em qualquer idade. como iluminação desagradável no trabalho.
O ataque com frequência começa com um período de
COMORBIDADE 10 minutos de sintomas rapidamente crescentes. Os principais
Dos pacientes com transtorno de pânico, 91% têm pelo sintomas mentais são medo extremo e uma sensação de morte
menos outro transtorno psiquiátrico. Cerca de 1/3 das pessoas e tragédia iminentes. Os pacientes em geral não podem designar
com transtornos de pânico já tinham transtorno depressivo a fonte de seu medo; podem se sentir confusos e ter problemas
maior antes de seu início; e em torno de 2/3 experimentam para se concentrar. Os sintomas físicos costumam incluir
transtorno de pânico pela 1ª vez durante ou após o início de taquicardia, palpitações, dispneia e sudorese. Os pacientes
depressão maior. tentam sair de qualquer situação em que estejam para procurar
Entre pessoas com transtorno de pânico, 15 a 30% auxílio. O ataque dura, em média, de 20 a 30 minutos e
também têm transtorno de ansiedade social ou fobia social, 2 a raramente mais de uma hora. Os sintomas podem desaparecer
20% têm fobia específica, 15 a 30% têm transtorno de ansiedade de forma rápida ou gradual. Entre os ataques, os pacientes
generalizada, 2 a 10% têm transtorno de estresse pós traumático podem manifestar ansiedade antecipatória de terem um novo
(TEPT), e até 30% têm TOC. Outras condições comórbidas ataque.
comuns são hipocondria ou transtorno de ansiedade Obs.: Preocupações somáticas de morte por problemas cardíacos (IAM) ou
relacionado a doenças, transtornos da personalidade e respiratórios (asma) podem ser o principal foco da atenção do indivíduo durante
os ataques – comum em indivíduos jovens em PS.
transtornos relacionados a substâncias.
CURSO E PROGNÓSTICO
DIAGNÓSTICO
✓ Geralmente tem seu início no fim da adolescência ou no
Critérios diagnósticos DSM-5 para Transtorno do Pânico início da vida adulta, ainda que possa ocorrer em qualquer
A. Ataques de pânico recorrentes e inesperados. Um ataque de pânico é um idade.
surto abrupto de medo ou desconforto intenso que alcança um pico em
✓ É crônico, mas tem curso variável.
minutos e durante o qual ocorrem quatro (ou mais) dos seguintes
sintomas: ✓ Cerca de 30 a 40% dos pacientes parecem ficar livres de
Nota: O surto abrupto pode ocorrer a partir de um estado calmo ou ansioso. sintomas no acompanhamento a longo prazo, em torno de
1. Palpitações, coração acelerado, taquicardia. 50% têm sintomas suficientemente leves para não afetar sua
2. Sudorese.
3. Tremores ou abalos.
vida de modo significativo, e 10 a 20% continuam a ter
4. Sensações de falta de ar ou sufocamento. sintomas relevantes.
5. Sensações de asfixia. ✓ A frequência e a gravidade dos ataques podem oscilar: de
6. Dor ou desconforto torácico. várias vezes por dia ou menos de uma vez por mês.
7. Náusea ou desconforto abdominal.
8. Sensação de tontura, instabilidade, vertigem ou desmaio.
✓ A ingestão excessiva de cafeína ou nicotina pode exacerbar
9. Calafrios ou ondas de calor. os sintomas.
10. Parestesias (anestesia ou sensações de formigamento). ✓ A depressão pode complicar o quadro de sintomas em 40 a
11. Desrealização (sensações de irrealidade) ou despersonalização 80% de todos os pacientes.
(sensação de estar distanciado de si mesmo).
12. Medo de perder o controle ou “enlouquecer”.
✓ Embora não sejam propensos a falar sobre ideação suicida,
13. Medo de morrer. os pacientes apresentam maior risco para cometer suicídio.
Nota: Podem ser vistos sintomas específicos da cultura (p. ex., tinido, dor na nuca, ✓ A dependência de álcool e de outras substâncias ocorre em
cefaleia, gritos ou choro incontrolável). Esses sintomas não devem contar como um dos
quatro sintomas exigidos. cerca de 20 a 40% dos pacientes, e também pode se
B. Pelo menos um dos ataques foi seguido de um mês (ou mais) de uma ou desenvolver TOC.
de ambas as seguintes características: ✓ As interações na família e o desempenho na escola e no
1. Apreensão ou preocupação persistente acerca de ataques de pânico
trabalho costumam ser afetados.
adicionais ou sobre suas consequências (p. ex., perder o controle, ter
um ataque cardíaco, “enlouquecer”). ✓ Aqueles com bom desempenho pré-mórbido e sintomas de
2. Uma mudança desadaptativa significativa no comportamento duração breve tendem a ter bom prognóstico.
relacionada aos ataques (p. ex., comportamentos que têm por
finalidade evitar ter ataques de pânico, como a esquiva de exercícios TRATAMENTO
ou situações desconhecidas).
C. A perturbação não é consequência dos efeitos psicológicos de uma Com tratamento, a maioria dos pacientes exibe uma
substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou de outra condição melhora importante nos sintomas de transtorno de pânico e
médica (p. ex., hipertireoidismo, doenças cardiopulmonares). agorafobia. Os dois tratamentos mais eficazes são a
D. A perturbação não é mais bem explicada por outro transtorno mental (p. farmacoterapia e a terapia cognitivo-comportamental.
ex., os ataques de pânico não ocorrem apenas em resposta a situações
sociais temidas, como no transtorno de ansiedade social; em resposta a Alprazolam e paroxetina são os dois medicamentos
objetos ou situações fóbicas circunscritas, como na fobia específica; em aprovados pela FDA para o tratamento do transtorno de pânico.
resposta a obsessões, como no transtorno obsessivo-compulsivo; em Em geral, a experiência está mostrando superioridade dos ISRSs
resposta à evocação de eventos traumáticos, como no transtorno de e da clomipramina sobre os benzodiazepínicos, os IMAOs e os
estresse pós-traumático; ou em resposta à separação de figuras de apego,
como no transtorno de ansiedade de separação). medicamentos tricíclicos e tetracíclicos, em termos de eficácia e
tolerância de efeitos adversos. Alguns relatos sugeriram um
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS papel para a venlafaxina, e a buspirona tem sido sugerida como
Com frequência, o 1º ataque de pânico é um medicamento auxiliar em alguns casos. A venlafaxina é
completamente espontâneo, embora muitos possam estar aprovada pela FDA para o tratamento do transtorno de
relacionados com excitação, esforço físico, atividade sexual ou ansiedade generalizada e pode ser útil no transtorno de pânico
trauma emocional moderado. Os médicos devem tentar avaliar combinado com depressão. Não foi verificado que antagonistas
qualquer hábito ou situação que costume preceder os ataques dos receptores β-adrenérgicos sejam particularmente úteis para
de um paciente. Essas atividades podem incluir uso de cafeína, o transtorno de pânico.
álcool, nicotina ou outras substâncias; padrões incomuns do
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Critérios diagnósticos DSM-5 para Agorafobia
A. Medo ou ansiedade marcantes acerca de duas (ou mais) das cinco
situações seguintes:
1. Uso de transporte público (p. ex., automóveis, ônibus, trens, navios,
aviões).
2. Permanecer em espaços abertos (p. ex., áreas de estacionamentos,
mercados, pontes).
3. Permanecer em locais fechados (p. ex., lojas, teatros, cinemas).
4. Permanecer em uma fila ou ficar em meio a uma multidão.
5. Sair de casa sozinho.
B. O indivíduo tem medo ou evita essas situações devido a pensamentos de
que pode ser difícil escapar ou de que o auxílio pode não estar disponível
no caso de desenvolver sintomas do tipo pânico ou outros sintomas
incapacitantes ou constrangedores (p. ex., medo de cair nos idosos; medo
de incontinência).
C. As situações agorafóbicas quase sempre provocam medo ou ansiedade.
D. As situações agorafóbicas são ativamente evitadas, requerem a presença
de uma companhia ou são suportadas com intenso medo ou ansiedade.
E. O medo ou ansiedade é desproporcional ao perigo real apresentado pelas
situações agorafóbicas e ao contexto sociocultural.
F. O medo, ansiedade ou esquiva é persistente, geralmente durando mais de
seis meses.
G. O medo, ansiedade ou esquiva causa sofrimento clinicamente significativo
ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas
importantes da vida do indivíduo.
H. Se outra condição médica (p. ex. doença inflamatória intestinal, doença de
Parkinson) está presente, o medo, ansiedade ou esquiva é claramente
excessivo.
I. O medo, ansiedade ou esquiva não é mais bem explicado pelos sintomas
de outro transtorno mental – por exemplo, os sintomas não estão restritos
a fobia específica, tipo situacional; não envolvem apenas situações sociais
(como no transtorno de ansiedade social); e não estão relacionados
exclusivamente a obsessões (como no transtorno obsessivo-compulsivo),
percepção de defeitos ou falhas na aparência física (como no transtorno
dismórfico corporal) ou medo de separação (como no transtorno de
AGORAFOBIA ansiedade de separação).
Nota: A agorafobia é diagnosticada independentemente da presença de transtorno de
Refere-se a um medo ou uma ansiedade em relação a pânico. Se a apresentação de um indivíduo satisfaz os critérios para transtorno de
lugares dos quais a fuga possa ser difícil. É possível que seja a pânico e agorafobia, ambos os diagnósticos devem ser dados.
mais incapacitante das fobias, porque pode interferir de maneira
significativa na capacidade de uma pessoa funcionar no trabalho CURSO E PROGNÓSTICO
e em situações sociais fora de casa. Pesquisadores do transtorno Acredita-se que a maioria dos casos de agorafobia seja
de pânico acredita que a agorafobia quase sempre se desenvolve causada por transtorno de pânico. Quando esse transtorno é
como uma complicação em pacientes com esse transtorno. Ou tratado, a agorafobia muitas vezes melhora com o tempo. Para
seja, acredita-se que o medo de ter um ataque de pânico em um uma redução rápida e completa dessa condição, a terapia
lugar público do qual a fuga seria angustiante e difícil é que cause comportamental é indicada. Agorafobia sem uma história de
a agorafobia. transtorno de pânico é frequentemente incapacitante e crônica,
e os transtornos depressivos e a dependência de álcool muitas
EPIDEMIOLOGIA vezes complicam seu curso.
✓ A prevalência ao longo da vida varia entre 2 e 6%
(subestimado devido a discordância de conceituação entre TRATAMENTO
agorafobia e transtorno do pânico). O tratamento é baseado em psicoterapia e
✓ Pessoas com mais de 65 anos tem uma taxa de prevalência farmacoterapia (benzodiazepínicos, ISRSs, antidepressivos
de agorafobia de 0,4%. tricíclicos e tetracíclicos).
✓ Pelo menos ¾ dos pacientes com agorafobia tem transtorno
do pânico.
FOBIA ESPECÍFICA
DIAGNÓSTICO E CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS O termo fobia refere-se a um medo excessivo de objeto,
circunstância ou situação específicos. A fobia específica é um
Indivíduos com agorafobia evitam de forma rígida
medo intenso e persistente de um objeto ou de uma situação. O
situações nas quais seria difícil obter ajuda. Eles preferem estar
diagnóstico de fobia específica requer o desenvolvimento de
acompanhados por um amigo ou familiar em ruas
ansiedade intensa, mesmo a ponto de pânico, quando da
movimentadas, lojas superlotadas, espaços fechados (p. ex.,
exposição ao objeto temido. Pessoas com essa fobia podem
túneis, elevadores) e veículos fechados (p. ex., metrô, ônibus,
aviões). Podem insistir em ser acompanhados toda vez que saem antecipar lesões, tal como serem mordidas por um cão, ou
podem ficar em pânico ante o pensamento de perder o controle;
de casa. O comportamento pode resultar em conflito conjugal,
por exemplo, se têm medo de andar de elevador, também
que pode ser mal diagnosticado como o problema principal.
podem se preocupar com a possibilidade de desmaiar após a
Pessoas gravemente afetadas podem se recusar a sair de casa.
porta se fechar.
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EPIDEMIOLOGIA A fobia específica exibe uma idade de início bimodal,
✓ Estima-se que 5 a 10% da população seja afetada. com um pico na infância para fobia de animais, fobia de
✓ É o transtorno mais comum entre as mulheres e o 2º mais ambiente natural e fobia de sangue-injeção-ferimentos, e um
comum entre os homens (atrás apenas dos transtornos pico no início da idade adulta para outras fobias, como a do tipo
relacionados a substâncias). situacional. A informação limitada disponível sugere que a
✓ A idade de pico para o início das fobias do tipo ambiente maioria das fobias específicas que começam na infância e
natural e do tipo sangue-injeção-ferimentos é dos 5 aos 9 continuam até a vida adulta persiste por muitos anos. Acredita-
anos. Já para fobias do tipo situacional (exceto para medo de se que a gravidade da condição permaneça relativamente
altura) é mais alta, em torno dos 20 anos. constante, sem o curso oscilante observado em outros
✓ Os objetos e as situações temidos nas fobias específicas são transtornos de ansiedade.
animais, tempestades, altura, doença, ferimento e morte.
TRATAMENTO
COMORBIDADE ✓ Terapia comportamental.
Os relatos de comorbidade na fobia específica variam ✓ Psicoterapia orientada ao insight.
de 50 a 80% e incluem ansiedade, transtornos de humor e ✓ Terapia virtual (simulações).
relacionados a substâncias.
TRANSTORNO DE ANSIEDADE SOCIAL (FOBIA SOCIAL)
DIAGNÓSTICO
Envolve o medo de situações sociais, incluindo aquelas
O DSM-5 inclui tipos distintos de fobia específica: tipo
que envolvem o contato com estranhos. As pessoas com
animal, tipo ambiente natural (p. ex., tempestades), tipo sangue-
transtorno de ansiedade social temem se embaraçar em
injeção-ferimentos (p. ex., agulhas), tipo situacional (p. ex.,
situações sociais (reuniões sociais, apresentações orais,
carros, elevadores, aviões) e outro tipo (fobias específicas que
encontro com pessoas novas). Elas podem ter medos específicos
não se enquadram nos quatro tipos anteriores). O aspecto
de realizar determinadas atividades, como comer ou falar na
fundamental de cada tipo de fobia é que os sintomas de medo
frente dos outros, ou podem experimentar um medo vago e
ocorrem apenas na presença de um objeto específico.
inespecífico de “embaraçar-se”. O medo no transtorno de
Critérios diagnósticos DSM-5 para Fobia Específica ansiedade social é do embaraço que pode ocorrer na situação,
A. Medo ou ansiedade acentuados acerca de um objeto ou situação (p. ex., não da situação em si (que seria fobia específica).
voar, alturas, animais, tomar uma injeção, ver sangue).
Nota: Em crianças, o medo ou ansiedade pode ser expresso por choro, ataques de raiva,
imobilidade ou comportamento de agarrar-se.
EPIDEMIOLOGIA
B. O objeto ou situação fóbica quase invariavelmente provoca uma resposta ✓ Prevalência ao longo da vida variando de 3 a 13%.
imediata de medo ou ansiedade. ✓ Mulheres são afetadas com maior frequência que os homens.
C. O objeto ou situação fóbica é ativamente evitado ou suportado com
✓ A idade de pico de início é na adolescência, embora seja
intensa ansiedade ou sofrimento.
D. O medo ou ansiedade é desproporcional em relação ao perigo real comum dos 5 aos 35 anos.
imposto pelo objeto ou situação específica e ao contexto sociocultural.
E. O medo, ansiedade ou esquiva é persistente, geralmente com duração COMORBIDADE
mínima de seis meses.
As pessoas com transtorno de ansiedade social podem
F. O medo, ansiedade ou esquiva causa sofrimento clinicamente significativo
ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas ter história de outros transtornos de ansiedade, transtornos do
importantes da vida do indivíduo. humor, transtornos relacionados a substâncias e bulimia
G. A perturbação não é mais bem explicada pelos sintomas de outro nervosa.
transtorno mental, incluindo medo, ansiedade e esquiva de situações
associadas a sintomas do tipo pânico ou outros sintomas incapacitantes
DIAGNÓSTICO E CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS
(como na agorafobia); objetos ou situações relacionados a obsessões
(como no transtorno obsessivo-compulsivo); evocação de eventos O médico deve reconhecer que algum grau de
traumáticos (como no transtorno de estresse pós-traumático); separação ansiedade social ou de constrangimento é comum na população
de casa ou de figuras de apego (como no transtorno de ansiedade de em geral. Essa ansiedade apenas se torna transtorno de
separação); ou situações sociais (como no transtorno de ansiedade social).
ansiedade social quando ela impede um indivíduo de participar
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS de atividades desejadas ou causa sofrimento acentuado.
As fobias são caracterizadas pelo desencadeamento de Critérios diagnósticos DSM-5 para Transtorno de Ansiedade Social
ansiedade grave quando as pessoas são expostas a situações ou A. Medo ou ansiedade acentuados acerca de uma ou mais situações sociais
objetos específicos ou mesmo quando antecipam a exposição às em que o indivíduo é exposto a possível avaliação por outras pessoas.
Exemplos incluem interações sociais (p. ex., manter uma conversa,
situações ou aos objetos. A exposição ao estímulo fóbico ou sua encontrar pessoas que não são familiares), ser observado (p. ex., comendo
antecipação quase invariavelmente resultam em um ataque de ou bebendo) e situações de desempenho diante de outros (p. ex., proferir
pânico em indivíduos suscetíveis. palestras).
Nota: Em crianças, a ansiedade deve ocorrer em contextos que envolvem seus pares, e
Pessoas com fobias, por definição, tentam evitar o não apenas em interações com adultos.
estímulo fóbico. Por exemplo, um paciente fóbico pode B. O indivíduo teme agir de forma a demonstrar sintomas de ansiedade que
atravessar os EUA de ônibus, em vez de voar, a fim de não entrar serão avaliados negativamente (será humilhante ou constrangedor;
em contato com seu objeto da fobia, o avião. Como outra forma provocará a rejeição ou ofenderá a outros).
C. As situações sociais quase sempre provocam medo ou ansiedade.
de evitar o estresse do estímulo fóbico, muitos indivíduos têm Nota: Em crianças, o medo ou ansiedade pode ser expresso chorando, com ataques de
transtornos relacionados a substâncias, particularmente raiva, imobilidade, comportamento de agarrar-se, encolhendo-se ou fracassando em
falar em situações sociais.
transtorno por uso de álcool.
D. As situações sociais são evitadas ou suportadas com intenso medo ou
ansiedade.
CURSO E PROGNÓSTICO E. O medo ou ansiedade é desproporcional à ameaça real apresentada pela
situação social e o contexto sociocultural.
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F. O medo, ansiedade ou esquiva é persistente, geralmente durando mais de transtorno mental. Até 25% dos pacientes experimentam, por
seis meses. fim, transtorno de pânico. O TAG é diferenciado do transtorno
G. O medo, ansiedade ou esquiva causa sofrimento clinicamente significativo
ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas
de pânico pela ausência de ataques espontâneos. Uma
importantes da vida do indivíduo. porcentagem adicional alta de pacientes tende a apresentar
H. O medo, ansiedade ou esquiva não é consequência dos efeitos fisiológicos transtorno depressivo maior. Outros transtornos comuns
de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou de outra associados são o distímico e os relacionados a substâncias.
condição médica.
I. O medo, ansiedade ou esquiva não é mais bem explicado pelos sintomas
de outro transtorno mental, como transtorno de pânico, transtorno
DIAGNÓSTICO
dismórfico corporal ou transtorno do espectro autista. O TAG é caracterizado por um padrão de preocupação
J. Se outra condição médica (p. ex., doença de Parkinson, obesidade, e ansiedade frequentes, persistentes, desproporcional ao
desfiguração por queimaduras ou ferimentos) está presente, o medo,
ansiedade ou esquiva é claramente não relacionado ou é excessivo.
impacto do acontecimento ou da circunstância que é o foco da
Especificar se: preocupação. A distinção entre TAG e ansiedade normal é
Se o medo está restrito à fala ou ao desempenho em público. enfatizada pela utilização da palavra “excessiva” nos critérios e
pela especificação de que os sintomas causam prejuízo ou
CURSO E PROGNÓSTICO sofrimento significativos.
O transtorno de ansiedade social tende a começar no
Critérios diagnósticos DSM-5 para TAG
fim da infância ou início da adolescência. Achados
A. Ansiedade e preocupação excessivas (expectativa apreensiva), ocorrendo
epidemiológicos indicam que esse transtorno costuma ser na maioria dos dias por pelo menos seis meses, com diversos eventos ou
crônico, embora os pacientes cujos sintomas sofrem remissão atividades (tais como desempenho escolar ou profissional).
tendem a permanecer bem. Estudos sugerem que o transtorno B. O indivíduo considera difícil controlar a preocupação.
C. A ansiedade e a preocupação estão associadas com três (ou mais) dos
pode perturbar profundamente a vida de um indivíduo ao longo
seguintes sintomas (com pelo menos alguns deles presentes na maioria
de muitos anos. Isso pode incluir problemas nas realizações dos dias nos últimos seis meses):
acadêmicas e interferência no desempenho profissional e Nota: Apenas um item é exigido para crianças.
desenvolvimento social. 1. Inquietação ou sensação de estar com os nervos à flor da pele.
2. Fatigabilidade.
3. Dificuldade em concentrar-se ou sensações de “branco” na mente.
TRATAMENTO 4. Irritabilidade.
Tanto a psicoterapia como a farmacoterapia são úteis 5. Tensão muscular.
no tratamento do transtorno de ansiedade social. 6. Perturbação do sono (dificuldade em conciliar ou manter o sono, ou
sono insatisfatório e inquieto).
Os medicamentos eficazes no tratamento do D. A ansiedade, a preocupação ou os sintomas físicos causam sofrimento
transtorno de ansiedade social incluem: 1) ISRSs, 2) clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social,
benzodiazepínicos, 3) venlafaxina e 4) buspirona. A maioria dos profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
médicos considera os ISRSs o tratamento de 1ª linha para E. A perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos de uma substância (p.
ex., droga de abuso, medicamento) ou a outra condição médica (p. ex.,
pacientes com formas de transtorno de ansiedade social mais hipertireoidismo).
generalizada. F. A perturbação não é mais bem explicada por outro transtorno mental (p.
ex., ansiedade ou preocupação quanto a ter ataques de pânico no
transtorno de pânico, avaliação negativa no transtorno de ansiedade
TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA (TAG) social [fobia social], contaminação ou outras obsessões no transtorno
O TAG é definido como ansiedade e preocupação obsessivo-compulsivo, separação das figuras de apego no transtorno de
ansiedade de separação, lembranças de eventos traumáticos no
excessivas com vários eventos ou atividades na maior parte dos transtorno de estresse pós-traumático, ganho de peso na anorexia
dias durante um período de pelo menos seis meses. A nervosa, queixas físicas no transtorno de sintomas somáticos, percepção
preocupação é difícil de controlar e está associada com sintomas de problemas na aparência no transtorno dismórfico corporal, ter uma
somáticos, como tensão muscular, irritabilidade, dificuldade doença séria no transtorno de ansiedade de doença ou o conteúdo de
crenças delirantes na esquizofrenia ou transtorno delirante).
para dormir e inquietação. A ansiedade não está relacionada a
aspectos de outro transtorno, não é causada por uso de
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS
substância ou por uma condição clínica geral e não ocorre
apenas durante um transtorno do humor ou psiquiátrico. Ela é As características essenciais do TAG são ansiedade e
difícil de controlar, é subjetivamente perturbadora e preocupação contínuas e excessivas acompanhadas por tensão
compromete áreas importantes da vida da pessoa. ou inquietação motora. A ansiedade é excessiva e interfere em
outros aspectos da vida da pessoa. A tensão motora manifesta-
EPIDEMIOLOGIA se mais comumente como tremor, inquietação e cefaleias.
✓ A proporção de mulheres para homens com o transtorno é Indivíduos com TAG costumam procurar um clínico geral em
de aproximadamente 2 para 1. busca de ajuda para um sintoma somático. De forma alternativa,
✓ A prevalência ao longo da vida é próxima de 5%. procuram um especialista para um sintoma específico (p. ex.,
✓ Em clínicas de transtorno de ansiedade, cerca de 25% dos diarreia crônica). Um distúrbio médico, não psiquiátrico,
pacientes têm transtorno de ansiedade generalizada. específico raras vezes é encontrado, e os pacientes variam em
✓ O transtorno, em geral, começa no fim da adolescência ou seu comportamento de busca por um médico.
início da vida adulta, embora seja comum ver casos em
CURSO E PROGNÓSTICO
adultos mais velhos.
É difícil de especificar a idade de início; a maioria dos
COMORBIDADE pacientes com o transtorno relata apresentar estados ansiosos
É provável que o TAG seja o que coexiste com mais desde que podem se lembrar. Em geral, eles chegam à atenção
frequência com outro transtorno mental, em geral fobia social, de um médico na faixa dos 20 anos, ainda que esse 1º contato
fobia específica, transtorno de pânico ou transtorno depressivo. possa ocorrer em qualquer idade. Apenas 1/3 dos pacientes com
Talvez 50 a 90% dos pacientes com TAG tenham outro TAG procura tratamento psiquiátrico. Muitos vão a clínicos
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gerais, internistas, cardiologistas, pneumologistas ou (anafilaxia, deficiência de B12, desequilíbrio de eletrólitos,
gastrenterologistas, procurando tratamento para os LES, uremia, etc.).
componentes somáticos do transtorno. Em vista da alta ✓ Transtornos mentais: outros transtornos de ansiedade,
incidência de comorbidade mental, é difícil prever o curso clínico transtornos de personalidade, TOC, TEPT, transtorno
e o prognóstico. Por definição, esse transtorno é uma condição depressivo maior, esquizofrenia.
crônica que pode durar a vida toda.
7- ENCAMINHAMENTOS E ÉTICA MÉDICA.
TRATAMENTO A ética profissional se refere à maneira apropriada de
O tratamento mais eficaz para TAG provavelmente seja agir quando em um papel profissional. Ela deriva de uma
um que combine psicoterapia, farmacoterapia e abordagens de combinação de moralidade, normas sociais e parâmetros das
apoio. relações que as pessoas concordaram em ter.
A decisão de prescrever um ansiolítico a pacientes com
TAG em raros casos deve ser tomada na primeira visita. Em vista PRINCÍPIOS ÉTICOS ESSENCIAIS
de sua natureza de longo prazo, o plano de tratamento deve ser ✓ Respeito pela autonomia: Os psiquiatras precisam
cogitado com cuidado. As três principais opções de proporcionar aos pacientes uma compreensão racional de
medicamentos a serem consideradas para o tratamento desse seu transtorno e apresentar as opções de tratamento. Os
transtorno são os benzodiazepínicos, os ISRSs, a buspirona e a pacientes também precisam de tempo para pensar e falar
venlafaxina. Outros agentes que podem ser úteis são os com os amigos e a família a respeito de sua decisão. Por fim,
tricíclicos (p. ex., a imipramina), os anti-histamínicos e os se um paciente não se encontra em um estado mental
antagonistas β-adrenérgicos (p. ex., o propranolol). adequado para tomar decisões por conta própria, o
psiquiatra deve considerar mecanismos alternativos para a
tomada de decisão, como tutela, responsabilidade legal e
procuração para decisões quanto à assistência médica.
✓ Beneficência: expressão do princípio é o paternalismo, o uso
do julgamento do psiquiatra sobre o melhor curso de ação
para o paciente ou sujeito de pesquisa. Paternalismo fraco é
agir beneficentemente quando as faculdades prejudicadas
do paciente impedem uma escolha autônoma. Paternalismo
forte é agir beneficentemente apesar da autonomia intacta
do paciente.
✓ Não maleficência: os psiquiatras devem ser cuidadosos em
suas decisões e ações e devem assegurar-se de que tiveram
um treinamento adequado para o que fazem. Também
precisam estar abertos à possibilidade de buscar uma
segunda opinião e consultorias. É preciso que evitem criar
riscos para os pacientes por meio de uma ação ou inação.
✓ Justiça: se refere a questões de recompensa e punição e à
distribuição equitativa de benefícios sociais. As questões
rele vantes incluem se os recursos devem ser distribuídos
Todos, com exceção da fenelzina, são úteis como tratamento primário para
transtorno obsessivo-compulsivo.
igualmente aos que têm maior necessidade, se eles devem ir
a Alguns indivíduos necessitarão de doses mais altas ou mais baixas do que as para onde podem ter o maior impacto no bem-estar de cada
listadas aqui. indivíduo servido ou para onde acabarão tendo o maior
b Útil como tratamento primário para transtorno de pânico (no qual doses iniciais
impacto na sociedade.
mais baixas geralmente são utilizadas) com ou sem agorafobia, transtornos de
ansiedade generalizada, de ansiedade social e de estresse pós-traumático.
c
Útil como tratamento primário para transtorno de pânico com ou sem
CONFIDENCIALIDADE
agorafobia, transtorno de ansiedade generalizada e transtorno de ansiedade Os psiquiatras devem manter a confidencialidade
social generalizada. Pode ser adjuvante útil para os antidepressivos no porque esse é um ingrediente essencial da assistência
tratamento dos transtornos de estresse pós-traumático ou obsessivo-
psiquiátrica; é um pré-requisito para que os pacientes se
compulsivo.
d Útil como tratamento primário para transtorno de ansiedade generalizada. disponham a falar livremente com os terapeutas. A
e A dose diária total é dividida entre 2 a 4 doses por dia. confidencialidade deve, no entanto, ceder lugar à
responsabilidade de proteger terceiros quando um paciente faz
5- DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DOS TRANSTORNOS uma ameaça plausível de causar danos a alguém. A situação se
DE ANSIEDADE E CONDIÇÕES MÉDICAS. complica quando o risco não é a um indivíduo em particular,
como quando um médico está afetado ou o estado mental de
✓ Distúrbios orgânicos: endocrinológicos (estados
uma pessoa altera de forma adversa seu desempenho em um
tireoidianos, diabetes, hipoglicemia, feocromocitoma),
trabalho de risco, como o trabalho policial, o combate ao fogo
cardiovasculares (hipertensão, IAM, angina, ICC),
ou o uso de maquinaria perigosa.
pulmonares (embolia pulmonar, hiperventilação, asma),
neurológicos (epilepsia, enxaqueca, tumor, infecção),
Obs.: Os encaminhamentos devem ser realizados conforme o
intoxicação por drogas (anfetaminas, alucinógenos,
quadro do paciente em relação ao dispositivo de saúde
maconha, nicotina, cocaína), abstinência de drogas (álcool,
disponível (CAPS, hospital psiquiátricos, hospital geral com leito
opiáceos, sedativos-hipnóticos), outras condições
psiquiátrico).
Lívia Sá – Medicina 2022/1 7

A P Ê N D I C E
TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO (TOC)
O TOC é representado por um grupo diverso de sintomas que incluem pensamentos intrusivos, rituais, preocupações e compulsões. Essas obsessões ou
compulsões recorrentes causam sofrimento grave à pessoa. Um indivíduo com TOC pode ter uma obsessão, uma compulsão ou ambos. Uma obsessão é um
pensamento, um sentimento, uma ideia ou uma sensação recorrentes ou intrusivos. Diferentemente de uma obsessão, que é um evento mental, uma compulsão
é um comportamento. De forma específica, uma compulsão é um comportamento consciente, padronizado e recorrente, como contar, verificar ou evitar. Um
indivíduo com TOC percebe a irracionalidade da obsessão e sente que tanto ela quanto a compulsão são egodistônicas (comportamentos indesejados). Apesar de
poder ser realizado em uma tentativa de reduzir a ansiedade associada com a obsessão, o ato compulsivo nem sempre tem sucesso nisso. A conclusão do ato
compulsivo pode não afetar a ansiedade e até aumentar sua intensidade. A ansiedade também é aumentada quando uma pessoa resiste em executar uma
compulsão.

PADRÕES DE SINTOMAS
Contaminação. O padrão mais comum é uma obsessão de contaminação, seguida de lavagem ou acompanhada de evitação compulsiva do objeto que se presume
contaminado. O objeto temido costuma ser difícil de evitar (p. ex., fezes, urina, pó ou germes). Os pacientes podem literalmente arrancar a pele das mãos se
lavando demais ou não conseguir sair de casa por medo dos germes.
Dúvida patológica. O segundo padrão mais comum é uma obsessão de dúvida, seguida de uma compulsão por ficar verificando. A obsessão costuma implicar
algum perigo de violência (p. ex., esquecer de desligar o fogão ou de trancar uma porta). Esses indivíduos têm dúvidas obsessivas sobre si mesmos e sempre se
sentem culpados achando que esqueceram ou cometeram algo.
Pensamentos intrusivos. No terceiro padrão mais comum, há pensamentos obsessivos intrusivos sem uma compulsão. Tais obsessões costumam ser pensamentos
repetitivos de um ato agressivo ou sexual repreensível para o paciente.
Simetria. O quarto padrão mais comum é a necessidade de simetria ou precisão, que pode levar a uma compulsão de lentidão. Os pacientes podem literalmente
levar horas para terminar uma refeição ou fazer a barba.
Outros padrões de sintomas. Obsessões religiosas e acúmulo compulsivo são comuns em pacientes com TOC. Puxar o cabelo e roer as unhas de maneira
compulsiva são padrões comportamentais relacionados ao TOC. A masturbação também pode ser compulsiva.

Critérios diagnósticos DSM-5 para TOC


A. Presença de obsessões, compulsões ou ambas:
Obsessões são definidas por (1) e (2):
1. Pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que são vivenciados, em algum momento durante a perturbação, como intrusivos e
indesejados e que na maioria dos indivíduos causam acentuada ansiedade ou sofrimento.
2. O indivíduo tenta ignorar ou suprimir tais pensamentos, impulsos ou imagens ou neutralizá-los com algum outro pensamento ou ação.
Compulsões são definidas por (1) e (2):
1. Comportamentos repetitivos (p. ex., lavar as mãos, organizar, verificar) ou atos mentais (p. ex., orar, contar ou repetir palavras em silêncio) que o indivíduo
se sente compelido a executar em resposta a uma obsessão ou de acordo com regras que devem ser rigidamente aplicadas.
2. Os comportamentos ou os atos mentais visam prevenir ou reduzir a ansiedade ou o sofrimento ou evitar algum evento ou situação temida; entretanto,
esses comportamentos ou atos mentais não têm uma conexão realista com o que visam neutralizar ou evitar ou são claramente excessivos.
Nota: Crianças pequenas podem não ser capazes de enunciar os objetivos desses comportamentos ou atos mentais.
B. As obsessões ou compulsões tomam tempo (p. ex., tomam mais de uma hora por dia) ou causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no
funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
C. Os sintomas obsessivo-compulsivos não se devem aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso) ou a outra condição médica.
D. A perturbação não é mais bem explicada pelos sintomas de outro transtorno mental.
Especificar se:
Com insight bom ou razoável: O indivíduo reconhece que as crenças do transtorno obsessivo-compulsivo são definitivas ou provavelmente não verdadeiras ou
que podem ou não ser verdadeiras.
Com insight pobre: O indivíduo acredita que as crenças do transtorno obsessivo-compulsivo são provavelmente verdadeiras.
Com insight ausente/crenças delirantes: O indivíduo está completamente convencido de que as crenças do transtorno obsessivo-compulsivo são verdadeiras.
Especificar se:
Relacionado a tique: O indivíduo tem história atual ou passada de um transtorno de tique.

Referências
Compêndio de Psiquiatria – Kaplan & Sadock
Associação Brasileira de Psiquiatria
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) – American Psychiatric Association
Tratado de Psiquiatria Clínica – Hales
Compêndio de Clínica Psiquiátrica – USP

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