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Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo

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Revista dos Tribunais | vol. 840 | p. 249 | Out / 2005 | JRP\2005\1635

TJSP - Ap 374.941-4/2-00 - 2.ª Câmara - j. 26/7/2005 - rel. Jose Joaquim Dos Santos -
Área do Direito: Civil; Processual
CASAMENTO - Anulação - Admissibilidade - Matrimônio realizado entre tio e
sobrinha - Ato que não pode ser validado com a realização de perícia médica,
pois esta deve ser feita antes da celebração do casamento - Alegação de
desconhecimento da lei que não procede, diante da declaração dos nubentes de
serem primos, quando da habilitação - Inteligência do art. 1.521, IV, do CC (de
2002).
Ementa Oficial: Ementa da Redação: A ação de anulação de casamento realizado entre
tio e sobrinha deve ser julgada procedente, diante do impedimento previsto no art.
1.521, IV, do CC, não podendo tal ato ser validado, neste momento processual, com a
realização de perícia médica, uma vez que esta deve ser realizada antes da celebração
do matrimônio. Ademais, a alegação de desconhecimento da lei pelos nubentes deve ser
afastada, tendo em vista que se declararam primos quando da habilitação.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos de ApCív 374.941-4/2-00, da Comarca de
Angatuba, em que são apelantes AAA e outra, sendo apelado Ministério Público:
Acordam, em 2.ª Câm. de Direito Privado do TJSP, proferir a seguinte decisão: "negaram
provimento ao recurso, v.u.", de conformidade com o voto do relator, que integra este
acórdão.
O julgamento teve a participação dos Desembargadores Boris Kauffmann (pres.) e José
Roberto Bedran.
São Paulo, 26 de julho de 2005 - JOSÉ JOAQUIM DOS SANTOS, relator, com a seguinte
declaração de voto: Trata-se de ação de nulidade de casamento julgada procedente pela
r. sentença de f., cujo relatório é adotado.
Inconformados, recorrem os vencidos, alegando, em suma, que contraíram núpcias,
regularizando, assim. a união estável que já vigorava por cinco anos. Naquela ocasião,
dirigiram-se ao Cartório de Registro Civil competente acompanhados de duas
testemunhas, apresentando os documentos lá exigidos e, quando inquiridos sobre
eventual impedimento legal, simplesmente, por serem pessoas leigas, deixaram de
informar à oficiala a existência de parentesco. O auto de habilitação permaneceu em
Cartório pelo prazo legal, sem sofrer impugnação e, se não foi submetido à análise
ministerial, os apelantes não podem ser apenados pela desídia da oficiala daquele
Cartório. Ademais, como são tio e sobrinha o impedimento somente vigorará se houver
conclusão médica desfavorável ao casamento. A propósito, apesar de terem solicitado na
contestação a realização da prova pericial para tanto, a magistrada da causa sequer
apreciou o pedido, determinando a celebração de novo casamento, após "atendimento
às formalidades legais". Pugnaram, destarte, pelo provimento do presente recurso, com
a nomeação de uma junta médica para elaboração do laudo confirmando a inexistência
do impedimento, convalidando-se o matrimônio já realizado (f.).
Recurso regularmente processado e recebido (f.).
Contra-razões a f.
É o relatório.
O apelo não merece ser provido.
Deveras, os apelantes são tio e sobrinha, cujo impedimento para o casamento está
previsto no art. 1.521, IV, do CC. Aludido impedimento, se transgredido, torna nulo o

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matrimônio em razão do parentesco na linha colateral.


Tendo em vista os motivos eugênicos, éticos e morais, o parentesco é considerado
obstáculo para o casamento. Aliás, aludida restrição é intuitiva, dispensando maiores
digressões. Bem por isso, o argumento de que os apelantes são pessoas "de nenhum
conhecimento jurídico" e desconheciam a existência do impedimento não pode
prosperar, até porque, segundo relato da oficiala do Cartório, que tem fé pública, o
casamento somente foi realizado, porque os apelantes afirmaram que eram primos.
Ademais, tendo em vista o caráter preventivo dos impedimentos previstos no Código
Civil ( LGL 2002\400 ) , o oficial do Registro Civil deve negar-se a celebrar o matrimônio
se tiver conhecimento das restrições de nulidade.
Cumpre frisar que o impedimento para o matrimônio entre colaterais varia segundo a
legislação de cada país, mas sempre está presente, em maior ou menor extensão.
No estágio atual de nossa sociedade, o impedimento entre colaterais de terceiro grau
não é mais insuperável, permitindo-se o matrimônio se apresentado atestado de
sanidade afirmando não existir inconveniente para o enlace matrimonial. Sem esse
documento, porém, o casamento é nulo.
Quanto a estar em vigor ou não o Dec.-lei 3200/41, embora aberta a discussão, in casu,
mesmo que se considere que o atual Código Civil ( LGL 2002\400 ) tenha recepcionado
referido decreto-lei, nem assim seria apta a convalidar o casamento celebrado pelos
apelantes, porquanto a nomeação de dois médicos para análise da compatibilidade de
saúde dos nubentes é procedimento que deve anteceder a celebração do matrimônio, de
sorte que não podem, agora, pretender a realização dessa perícia, por economia
processual, para validar o ato.
Por outro lado, também não convence o argumento de que os apelantes não podem ser
apenados pelo fato de o auto de habilitação não ter sido enviado para análise do
Ministério Público, já que era providência da cartorária, não do casal, porquanto, de
qualquer forma, não serviria para convalidar a causa de nulidade. Existindo o
impedimento, o procedimento administrativo deveria ter sido submetido à análise
ministerial e ao juiz competente, o que não aconteceu.
Destarte, correta a r. sentença, merecendo ser mantida.
Do exposto, nega-se provimento a o recurso.

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