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Caros Senhores,

Meu nome é Luciana Aparecida Pinheiro Donatello, sou professora de Ensino


Fundamental II, na EMEF Benedito Adherbal Farbo na cidade de Barueri, no estado de
São Paulo, atuando com a disciplina História, formada pela Universidade Estadual
Paulista (UNESP) e estudante do curss de Pedagogia semi-presencial da
UNESP/UNIVESP. Sou de uma comunidade escolar de famílias humildes que, embora
numa cidade abastada, ainda vivem em situação de pobreza.
Escrevo esta mensagem pois, como docente preocupada com a Educação
Nacional, sinto necessidade moral de oferecer contribuições à discussão educacional
brasileira. Para tal, abaixo, estarei elencando uma série de pensamentos que acredito
contribuir para uma melhoria da educação nacional. Dividirei em capítulos, para que de
maneira didática possam ser melhor entendidos. Tratarei dos seguintes temas:

− Família e sua presença na escola


− Educandos e suas responsabilidades
− Currículo
− Professores e a atratibilidade em seu trabalho

1) Família e sua presença na escola


Educação é assunto sério, que deve ser pensado com responsabilidade por todos.
Infelizmente, é realidade que muitas famílias responsabilizam unicamente a escola pela
educação de seus filhos. Em diversos veículos de comunicação, vem se atribuindo culpa
à eficacia dos professores, como se a educação fosse feita apenas por nós. É evidente
que temos responsabilidades, mas não podemos nos tornar o bode espiatório e não
podemos permitir que sejam procurados culpados e inocentes quando tratamos
educação. O que precisamos é encontrar soluções para a resolução dos problemas que a
esfera educacional nos oferece.
Para isso, além de responsabilizar a escola pela educação de nossas crianças e
jovens, julgo importante que tais responsabilidades sejam atribuidas também à família,
porém em caráter de lei. Penso que, ao invés de figurar na lei que o acompanhamento
escolar dos filhos seja um direito, que isso possa se tornar um dever. Que a família tenha
o dever de acompanhar a realidade escolar dos filhos, de comparecer a escola quando
convocada, de zelar pela presença de seus filhos na unidade escolar. Para tal, é
necessário também que haja suporte para essa participação da família. Sugiro alguns
itens:
− Atestado de comparecimento à unidade escolar, seja para reuniões, convocações,
eventos, que, por lei deve ser aceito nas empresas, com o mesmo valor que se dá
ao atestado médico. Com esse suporte, torna-se obrigatória a presença dos
responsáveis pelo educando na escola e ao mesmo tempo cria-se um mecanismo
do qual não poderão mais existir desculpas do tipo “Não tenho tempo de
comparecer a escola, pois trabalho”. Quanto ao trabalhador docente, caberia às
Secretarias de Educação gerenciar calendários onde as datas e/ou horários de
conselhos participativos da escola onde o docente trabalha e a escola onde seu
filhos estudam não sejam as mesmas. Os docentes preencheriam formulários no
início do ano, descrevendo a escola na qual seus filhos estudam, para a realização
dessas adaptações de calendários. A educação precisa ser tratada com o mesmo
zelo com que tratamos nossa saúde. Aliás, é uma questão de saúde intelectual.
− O aluno não tem mais o direito, e sim, o dever de estudar na escola mais próxima
de sua casa. Essa medida traria retorno em relação a investigação das causas de
possíveis faltas escolares, maior facilidade de se visitar residências e mesmo maior
facilidade do aluno em ter acesso à escola, evitando atrasos com transporte
escolar em grande parte das vezes. Com relação aos filhos de docentes, a
preferência é de que estudem na escola e período de atuação de seus pais, para
facilitar o processo de informação aos pais sobre a vida do educando.
− Nos casos em que o responsável do educando esteja com problemas de saúde
graves que o impossibilitem de comparecer à escola, deve ser escolhido pela
família um representante temporário para acompanhar a vida escolar do aluno.
− Como mecanismo de comunicação entre famílias, deve ser obrigatório o uso de um
“caderno de recados”, no qual os docentes poderão comunicar às famílias sobre os
avanços e os problemas que o aluno vem obtendo. Não será uma obrigação o
preenchimento diário, mas sim, quando o docente observar algo que seja digno de
nota e que seja de grande relevância para a questão de aprendizagem.

Educandos e suas responsabilidades

O educando é a peça chave do sistema educacional. É para ele que devem


corresponder todas as nossas preocupações. Se ele não existisse, a escola não teria
razão de ser, não existiria. Porém uma situação tem sido notada em nossas escolas: o
descaso de nossos estudantes com o aprendizado. Embora seja dever do professor
encontrar formas de estimular os alunos a estudar, observo que muitas vezes, mesmo
quando trazemos à sala de aula uma programação de estudo com elementos lúdicos,
muitos alunos (que não possuem dificuldades de aprendizagem), sobretudo adolescentes,
deixam de realizar atividades, não se preparam para os processos avaliativos, agem
como se a educação não fosse algo do qual eles mesmo são os beneficiados. E por mais
que os tentemos conscientizar, muito do que tentamos (aqui falo de professores
realmente engajados com a causa, éticos e que procuram realizar verdadeiramente seu
trabalho pedagógico e que são muitos) tem sido em vão. É necessário resgatar a
verdadeira responsabilidade com o estudo. Educação deve funcionar com um tripé:
escola, família e aluno. Para tal, sugiro o uso das seguintes ferramentas:
− Explicitar na legislação, deveres para crianças e adolescentes e o uso de medidas
sócio-educativas para regularizar tais situações. Essas medidas sócio-educativas
poderam ser aplicadas pela própria escola quando a ação for realizada na escola,
através das decisões de um conselho escolar, formado por professores, gestores,
alunos e pais, que deverá se reunir quinzenalmente, em horário acessível para
todos, sem a necessidade de tirar os pais do trabalho (mas caso isso não seja
possível, os pais poderão receber atestado escolar). Poderão ser aplicados os
itens I, II e III do artigo 112 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Porém, as
escolas deverão elaborar documentos especificando em que casos utilizar tais
itens.
− Deverá existir em cada escola a presença de um Grêmio Estudantil, no qual
representantes discentes levarão à gestão sugestões que promovam a melhoria
dos processos educativos.
− Poderão ser implantados nas escolas programas de Justiça Restaurativa, a fim de
reparar alguns danos causados pelos educandos, de natureza leve.
− A criação de um Código Disciplinar, onde será especificado o ato infracional e
medida sócio-educativa atrelada a este ato, assim como o é no Código Penal.
Hoje, infelizmente assistimos nossos menores cometendo crimes e é importante
dar um basta nisso, pois tal situação vem trazendo impossibilidades de ação em
nossas unidades escolares. Muitos docentes vivem à base de medo, pois
convivemos com alunos acometidos pela violência, pelo desrespeito. Julgo que
além de pensarmos em situações de melhorar o ensino-aprendizagem, devemos
pensar também nas condições de trabalho de nossos docentes.
Currículo

O currículo escolar deverá ser flexível e adaptável à realidade escolar dos


educandos, porém deverá trabalhar de forma que se aproxime à realidade do aluno. Um
grande exemplo disso é um erro comum no Ensino de História, que vem sendo práticado
com apoio dos PCNs: ensinar História Antiga e Medieval ao 6º e 7º anos. Algo que está
completamente fora da realidade do educando. Como professora de História, acho
necessário manifestar que isso é um crime contra nossas crianças e ações como essa, de
se pensar na História de forma cronológica são responsáveis por minar com o prazer de
aprender de nossas crianças. Temos que repensar estas práticas, não só em História,
mas em todas as disciplinas.
Outra sugestão é em relação ao número de horas na unidade escolar. Para a
Educação Infantil e o Ensino Fundamental I sugiro no mínimo 5 horas. Já para o Ensino
Fundamental II e Médio, 6 horas-aula como mínimo, visando assim, aumentar a grade
horária de todas as disciplinas, sobretudo as humanidades, as quais o espaço vem sendo
cada vez mais escasso. Quanto ao ensino noturno, repensarmos em horas-aula de 40
minutos, porém atuando nessa modalidade os professores mais dinâmicos, a fim de que
esta modalidade seja menos cansativa. E que a preferência deste horário seja para o EJA
e para pessoas que REALMENTE trabalham e que isso seja verificado através de registro
em carteira. A escola deve se posicionar contra o emprego informal, porém a obrigação
com a educação deve permanecer. Para resolver tais impasses, caso seja necessidade
para o sustento o trabalho deste jovem, que ele possa ser incluído em projetos sociais
atrelados ao desempenho acadêmico (que será avaliado não por nota, mas por seu
envolvimento com a escola, em relatório escrito pelos docentes).
Uma última sugestão é pensar no currículo do ensino médio como uma preparação
para o trabalho. Isto pode ser articulado em duas frentes: expansão dos cursos técnicos e
ensino no qual os alunos escolhem disciplinas de acordo com os cursos que fará na
universidade (por exemplo, por que ter uma grade extensa de História se o educando
pensa em se formar em farmácia?). Deve haver todas as disciplinas na grade do
educando, porém dar mais espaço àquelas que farão parte de seu cotidiano.
Atraindo professores

Salário por si só não é mola propulsora de avanço escolar. Mas é de grande valia
para atrair bons profissionais. Mas junto a ele, é necessário haver uma série de fatores
que sejam facilitadores de nosso trabalho. Listo os fatores que julgo, através de meus
anseios e de longas conversas com outros docentes amigos, importantes para atrair os
melhores profissionais e garantir o avanço da educação no Brasil.

− A responsabilização dos educandos e da família no processo educacional.


Transformar o professor no único responsável pelo sucesso ou fracasso escolar
não é solução. O professor deve ser “um dos” e não “o” responsável pela educação
de nossas crianças e jovens. É certo que ele é um dos maiores atuantes neste
processo, mas ele não deve estar sozinho.
− O professor deve atuar em regime de dedicação a uma única escola e para atuar
em escolas públicas, não poderá acumular cargos nem mesmo em particulares.
Porém, para que isso ocorra, devem ser colocados em prática:

a) Equiparação salarial de docentes com outros profissionais que possuam formação


equivalente.
b) Emenda constitucional que preveja esta alteração em relação à acumulo de cargo.
c) 40 horas semanais de trabalho, sendo 24 horas em sala de aula e as outras para
estudo, preparação de aulas e caso o docente do período contrário falte por algum
motivo, ele o substituiria, eliminando a existência de professores eventuais ou de aulas
sem professor. Além disso, o professor poderia separar 5 horas (sugiro esta quantidade
pensando em um dia nesta atividade) para fazer cursos de capacitação fora da escola,
em universidades por exemplo, bastando levar o comprovante de presença. Porém estes
cursos deveriam também aceitar atestado de permanecimento na escola, caso o
professor tenha que substituir um faltante, oferecerendo trabalhos de recuperação da aula
perdida.
d) Desburocratização do trabalho docente, através da informatização – Diários e tarjetas
feitos em computador; chamadas substituídas por listas de presença assinadas pelos
alunos, na qual o professor apenas registraria os faltantes no computador. Tudo isso
ligado numa rede onde, seria detectado rapidamente alunos com altos indices de faltas e
acionado assim o conselho tutelar.
e) Presença de profissionais auxiliares na escola ou ao menos em escolas-polo. Seriam
esses profissionais psicólogos, psiquiatras, dentistas, fonoaudiólogos, que possuam
competência para encaminhar a médicos com urgência, quando necessário.
f) Direito do professor a 3 (três) faltas anuais para a resolução de problemas pessoais,
devendo elas serem agendadas e avisadas ao gestor e a seu substituto. Somente serão
gozadas estas faltas sem necessidade de aviso em caso de problemas de locomoção que
o impossibilitem de comparecer à unidade escolar, como por exemplo problemas com o
veículo, enchentes, acidentes. Todos os problemas sofridos deveram ser documentados
de formas a serem previstas pela lei. Caso o docente não utilize todas as faltas abonadas,
poderá receber o valor correspondente a até 3 dias de trabalho como bônus no fim do
ano, de acordo com a utilização, premiando assim a assiduidade.
g) Investimento do Governo Federal, para suprir eventuais carências financeiras que
estados e municipios apresentem para a realização dessas propostas.

Acredito que se tais medidas forem empregadas, mudaremos mais rapido do que
se pensa o panorama da educação nacional.
Gostaria apenas de solicitar que se pensasse o seguinte: a maioria dos docentes
quer realizar um bom trabalho, ser ator da melhoria de nosso sistema educacional. Mas
encontramos muitos problemas que nos deixam de mão atadas e que, talvez com minhas
sugestões, seriam amenizados ou mesmo eliminados.
Educação é coisa séria e quem está na escola é porque acredita que ela é quem
vai nos trazer um Brasil melhor.
Deixo os meus desejos mais cordiais de que os senhores possam, independente
de aceitar ou não minhas sugestões, tomar as decisões mais acertadas.

Professora Luciana Aparecida Pinheiro Donatello

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