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O REEXAME NECESSÁRIO E O RECURSO ESPECIAL

Sabe-se que o reexame necessário tem por escopo tornar a sentença eficaz após a sua
apreciação pelo tribunal ao qual o juiz está vinculado, pendente de trânsito em julgado até a
confirmação.
No dizer de Leonardo José Carneiro da Cunha, em sua obra “A Fazenda Pública em
Juízo”, o reexame necessário reveste-se da natureza de condição de eficácia da sentença, não
obstante o timbre de recurso.
Um dos questionamentos que gravita em torno do tema Fazenda Pública é se caberia
recurso especial de acórdão proferido pelo tribunal em reexame necessário ou haveria
preclusão lógica.
Para o Superior Tribunal de Justiça não caberia recurso especial contra acórdão
proferido em sede de reexame necessário. Pelo menos foi esse o entendimento adotado no
acórdão da segunda turma, publicado em 25/08/20031. O fundamento, segundo o STJ, era que
diante da inexistência de apelação do ente público, mas tendo sido julgado a causa por conta
do reexame necessário, teria havido a preclusão lógica, não cabendo, portanto, recurso
especial.
Esse posicionamento foi seguido pelo Tribunal em julgamentos posteriores, cite-se
como exemplo o Resp. 902.577/CE, da relatoria da Ministra Eliana Calmon, publicado no
DJe de 12/6/2008, julgado em 27/5/2008 (Segunda Turma).
Ressalto que de início, por uma questão de coerência judiciária, pendia a filiar-me à
corrente do STJ, qual seja, da preclusão lógica. Mas após refletir, inclusive tomando como
parâmetros minha atuação como Procurador Municipal, achei mais coerente e razoável a tese
oposta, que é aquela defendida pelo ilustre Leonardo José Carneiro da Silva em sua obra “A
Fazenda Pública em Juízo”.
É sedutora a tese que defende que a inexistência de apelação gera preclusão para a
Fazenda no ajuizamento do Recurso Especial. Ocorre que se esmiuçarmos as implicações
práticas do tema chegaremos, fatalmente, a outra conclusão.
Digo isso porque sabemos que de fato o reexame necessário é um direito/benefício que
possui a Fazenda Pública o qual, independentemente da vontade irá se implementar, ou seja, o
processo será revisto pelo Tribunal.
Imaginemos agora a seguinte situação: a Fazenda Pública, ciente do seu direito de
reexame necessário, achou por bem não recorrer, seja por achou razoável a decisão proferida

1
Acórdão da 5 Turma do STJ. Resp. 478.908/PE. Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca. j. 24/06/2013. Dj de
25/08/2003, p. 360.
monocraticamente, seja porque entendia, que mesmo não acertada a decisão, aguardaria a
correção advinda do Tribunal, na hipótese, por exemplo de o Tribunal ter posicionamento
firmado acerca do tema e, fatalmente, reformaria o decisium primeiro. Nessa situação, indo o
Tribunal encontro a sua jurisprudência, confirmasse a decisão de primeiro grau, seria o caso
de tolher ao ente o público o direito de buscar via recurso especial uma decisão mais acertada
e coerente?
A resposta parece ser negativa, do contrário, estar-se-ia atribuindo à ausência da
vontade de Fazenda Pública uma punição, quando na verdade sabe-se que direto ao recurso
necessário é um direito garantido pela lei de forma expressa no art. 475 do CPC.

Leonardo José Carneiro da Cunha, sobre o tema, assim explicitou:

“A parte pode deixar de recorrer por diversos motivos, não importando qual
foi a sua vontade. Não há nenhum até incompatível com a possibilidade
futura de interpor recurso especial. Nem se pode saber qual foi a vontade da
Fazenda Pública”2

Com fundamento nos argumentos acima esposados é que me filio à corrente que
entende possível o manejo do recurso especial, não obstante a Fazenda Pública tenha apelado,
posto que ao fazer isso, exerceu apenas um direito garantido por lei, não existindo, qualquer
preclusão lógica

2
Cunha, Leonardo José Carneiro da. A Fazenda Pública em Juízo – 7. Ed. rev. Amp. E atual. –São Paulo:
Dialética . 2009, pag. 221.

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