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Tematica 3 Direito Civil
Tematica 3 Direito Civil
SUA PETIÇÃO
DIREITO
CIVIL
Seção 3
DIREITO CIVIL
Sua causa!
Seja bem-vindo novamente. Prossigamos, então, com a questão envolvendo Gabriela, vítima
que sofreu danos em virtude de um tratamento estético supostamente realizado de maneira incorreta,
e a empresa Bela Musa, contratada por Gabriela para realização do procedimento para retirada de
uma marca em sua perna. Lembra-se do caso? Se não se lembra com detalhes, sugerimos a leitura
das seções passadas para uma melhor compreensão da situação como um todo.
Ato contínuo, o magistrado responsável pelo processo passou à etapa conhecida por
saneamento e organização do processo – considerando-se que a parte autora já havia,
anteriormente, sido intimada e apresentado sua réplica às arguições de preliminares – e proferiu a
seguinte decisão interlocutória, com fulcro no artigo 357 do Código de Processo Civil: “1) reconheço
a presença das condições da ação e dos pressupostos processuais; de modo que afasto a preliminar
arguida, referente à litispendência, eis que a ação anteriormente ajuizada foi extinta pelo Juízo da 2ª
Vara Cível desta Comarca, cf. certidão deste Cartório nos presentes autos; 2) quanto à gratuidade
da justiça, diante das provas suficientes apresentadas pela parte requerida, revogo o benefício e
determino ao Cartório a realização de cálculos para recolhimento e posterior intimação da parte
autora para pagamento das custas processuais, sob pena de extinção do processo; 3) fixo os
seguintes pontos controvertidos: a) atribuição de responsabilidade à empresa Bela Musa, por falha
na prestação dos serviços; b) atribuição de responsabilidade exclusiva à consumidora Gabriela, por
desrespeito às orientações pré-procedimentais; c) constatação de danos patrimoniais e a respectiva
extensão; d) configuração de danos estéticos e morais e as respectivas extensões; 4) defiro a
produção de prova pericial, assim como a testemunhal, a ser colhida esta última em audiência de
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instrução e julgamento; 5) decido pela inversão do ônus da prova, com base nos artigos 373, § 1º,
do CPC/15 e 6º, inciso VIII, do CDC, impondo-se à empresa Bela Musa demonstrar que prestou os
serviços adequadamente e que a consumidora desrespeitou orientações; além disso, cabe à
requerida demonstrar que a consumidora não sofreu os danos extrapatrimoniais alegados na
exordial; 6) recolhidas as custas processuais, como determinado no item 2 acima, determino a
intimação das partes para apresentação do rol de testemunhas, no prazo comum de 15 (quinze) dias,
contados da intimação da presente decisão; 7) Intimem-se.”
Como advogado da empresa Bela Musa, você foi intimado acerca do conteúdo da decisão
supratranscrita nos autos do processo eletrônico e imediatamente reuniu-se com o representante da
empresa para discutir a questão. Em conversas com Tiago, quando você disse que caberia à Bela
Musa demonstrar que Gabriela não teria sofrido quaisquer danos extrapatrimoniais, ele perguntou
de qual maneira deveria produzir tal tipo de prova. E de fato, ao raciocinar sobre como demonstrar
que alguém não sofreu um dano significaria uma tarefa deveras complexa. Tal imposição pelo
magistrado, portanto, soa controversa e injusta.
Diante disso, enquanto causídico da empresa Bela Musa, interponha a peça processual
cabível, com o objetivo de reverter a decisão saneadora proferida pelo magistrado,
considerando eventual incorreção ou injustiça quanto à inversão do ônus da prova; e se houver
outro detalhe a ser contrabatido, o faça igualmente. Considere que a decisão interlocutória não conta
com omissões quaisquer sobre os pontos levantados pelas partes e que você foi intimado da referida
decisão apenas 4 (quatro) dias atrás (na segunda-feira). Vamos em frente?
Fundamentando!
Quando atuantes em processos judiciais, incumbe aos advogados, munidos dos argumentos
referentes à causa, alinhavar os fundamentos jurídicos pertinentes aos fatos, a fim de demonstrar ao
Juízo competente que seu cliente tem razão sobre suas pretensões, seja parcial ou totalmente. E
para tanto, decerto caberá a produção de provas – mediante as quais se buscará demonstrar a
veracidade dos fatos, em conformidade com as alegações realizadas pela parte.
A título de exemplo, afirme-se que determinada pessoa atesta ser credora de certo valor e
explicita ser a parte requerida inadimplente com relação às cláusulas contratuais firmadas: nessa
hipótese, em regra, caberá à parte requerente demonstrar que suas alegações são verdadeiras,
apresentando o contrato e harmonizando suas afirmações aos termos pactuados contratualmente.
Tal conduta nada mais simboliza o que chamamos de cumprimento do ônus probante, conforme
previsão constante no artigo 373, caput, do Código de Processo Civil. Ao revés, quando não cumprida
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a demonstração que cabia à parte, comumente afirma-se algo como: “a parte não se desincumbiu
de demonstrar o que lhe cabia”, explicitando-se o não cumprimento de referido ônus processual.
Quanto à prova pericial, de comum realização em casos que envolvam aspectos técnicos não
dominados pelo Juízo ou por algumas das partes, basta realizar a leitura do artigo 464, § 1º, do
Código de Processo Civil, para se perceber que essa poderá ser realizada quando presentes três
requisitos: (a) houver necessidade de conhecimento especial técnico; (b) for necessária sua
realização diante das outras provas; e (c) for praticável (ou seja, possível) sua realização, diante das
especificidades concretas (BRASIL, 2015). Entenda-se, ainda, que a realização da prova pericial
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poderá ser imposta a alguma das partes – como no exemplo do parágrafo anterior –, de modo que
esta será responsável por arcar com as despesas referentes aos honorários periciais.
Assim, afinal, como levar a Juízo pessoas que poderão testemunhar sobre fatos, para
demonstrar a veracidade de alegações fáticas das partes? Pois bem. Durante o processo judicial, é
comum que seja proferida a decisão interlocutória muitas vezes chamada informalmente de
despacho saneador, cuja previsão encontra-se no artigo 357, do CPC. Por meio desse ato decisório,
o Juízo pode (a) resolver questões processuais pendentes; (b) delimitar questões de fato a serem
demonstradas, especificando os meios de prova admitidos; (c) realizar a distribuição do ônus da
prova, observando-se o artigo 373, CPC; (d) delimitar questões de direito importantes à resolução
do mérito; (e) designar, se entender necessário, audiência de instrução a julgamento (BRASIL, 2015).
Como se pode notar, trata-se de decisão judicial por meio da qual, efetivamente, realiza-se a
organização do processo, após análise da petição inicial, da contestação e de réplica à contestação.
O Juízo competente fixa pontos controvertidos e organiza a produção da prova, de modo a otimizar
a realização dos atos processuais, excetuando do processo discussões inúteis à efetiva resolução
do mérito da questão. Nessa mesma decisão, aponte-se, lastreado no artigo 357, § 4º do CPC, se o
Juízo houver determinado a produção da prova testemunhal, ele fixará prazo comum não superior a
15 (quinze) dias para que as partes peticionem e apresentem o rol (a lista com os dados pertinentes)
das testemunhas (BRASIL, 2015). E dessa forma, sem maiores complicações, a parte que pretende
a oitiva de testemunhas apontará seu nome e dados disponíveis ao Juízo, para que lhe seja
posteriormente franqueada a produção da prova testemunhal, em audiência de instrução e
julgamento.
Diante de tais considerações acerca das provas, retome-se a noção segundo a qual não se
pode impor à parte ônus probante que lhe seja de impossível cumprimento, tal como a demonstração
sobre contrato inexistente ou em poder de outrem, a prova da prestação de serviço jamais realizado,
ou mesmo o ônus de comprovar fato negativo – ou seja, demonstrar que algo não ocorreu. Quanto
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a esse último ônus, pode-se também conhecê-lo por “prova diabólica”, e cabem comentários a mais
sobre essa hipótese.
Não se está a dizer, por exemplo, que todo e qualquer tipo de prova referente a fato negativo
seja impossível – até mesmo porque, imagine imposição a determinada empresa para que apresente
as imagens de câmeras de segurança, para demonstrar que certo consumidor, em determinado
período, não esteve no local. Nesse caso, demonstrou-se fato negativo (ausência do consumidor ou
inocorrência de discussão alegada entre o consumidor e o segurança da empresa em determinado
horário, por exemplo). Contudo, a questão é controvertida, e o que se chama, efetivamente, de “prova
diabólica”, ou prova de fato negativo de impossível realização, deve ser compreendida pela
imposição de ônus probante de impossível desincumbência pela parte.
Com relação a essa última hipótese, acerca do ônus probante de impossível cumprimento,
rememore-se o conceito do dano extrapatrimonial, ou moral, como aquele resultante da constatação
de dor, sofrimento, angústia ou tristeza profunda, da violação à dignidade humana ou da afronta a
direitos da personalidade 1. Seja qual for a corrente adotada no tocante à configuração do dano
imaterial, é certo que sua demonstração comumente significa tarefa complexa à parte que a alega.
Reflita-se, então, a imposição à parte contrária do dever de demonstrar que a outra não sofreu o
dano extrapatrimonial alegado; ou seja, imagine o caso em que determinada empresa deveria
demonstrar que seu consumidor não sofreu angústia ou tristeza alguma.
Oportuna e adequadamente, ressalte-se, o legislador dispôs no artigo 373, § 2º, do CPC, que
não poderá a inversão do ônus da prova realizada pelo Juízo resultar em imposição que seja de
impossível ou excessivamente difícil cumprimento (BRASIL, 2015). E se houver decisão que distribua
o ônus probante de maneira afrontosa a essa disposição normativa, decerto poderá a parte
prejudicada insurgir-se em face dessa situação.
1
CASTRO, P. R. C. de. Direito Civil – Negócio Jurídico. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A.,
2018. p. 146.
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No que diz respeito ao agravo de instrumento, acima mencionado, aponte-se que se trata de
recurso útil para buscar reformar o conteúdo de decisões interlocutórias. O artigo 1.015 do CPC,
inclusive apresenta um rol de questões a serem combatidas mediante esse recurso. Perceba a
estrutura desse dispositivo legal: “Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que
versarem sobre: [...] XI - redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, § 1º”. Sugere-se,
pois oportuna, a leitura dos artigos 1.015 a 1.020 do Código de Processo Civil, eis que denotam
importantes regramentos tocantes ao agravo de instrumento. Quanto ao rol apresentado pelo artigo
1.015, CPC, adota-se a chamada teoria da taxatividade mitigada, conforme entendimento exarado
pelo Superior Tribunal de Justiça.
PONTO DE ATENÇÃO
Ponto deveras relevante sobre o agravo de instrumento encontra previsão no artigo 1.017, §
2º, inc. I, CPC, segundo o qual referido recurso será protocolizado diretamente no tribunal
competente para seu julgamento. Ou seja, não se realiza a juntada – ou interposição – do agravo de
instrumento ao próprio juízo responsável por ter proferido a decisão interlocutória a ser combatida,
nem mesmo para que este realize a remessa (envio), e sim diretamente no tribunal. Alguns
documentos, a propósito, devem ser colocados como anexos ao agravo e estão apontados entre os
incisos I e III, do art. 1.017, CPC. Realize a leitura dos artigos indicados nesse parágrafo e atente-se
à ressalva contida no § 5º, do art. 1.017, segundo a qual se forem eletrônicos os autos, bastará ao
agravante que junte apenas os documentos que entender úteis para a solução da lide (BRASIL,
2015) – até mesmo porque as peças essenciais, em processo digital, são facilmente acessíveis ao
tribunal.
Ainda sobre o recurso de agravo, conheça-se que é possível a atribuição de efeito suspensivo
a ele – ou seja, pode-se pedir que o processo seja suspenso até o julgamento do recurso, com base
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no artigo 1.019, inciso I, CPC (BRASIL, 2015). Afigura-se importante tal previsão, sobretudo pois, no
caso concreto, deve-se verificar se, no caso de o processo não ser suspenso, o próprio objeto do
agravo de instrumento não será perdido – como no caso, por exemplo, de se reclamar a reforma de
algum ponto referente à produção de provas em audiência de instrução e julgamento, sendo que
evidentemente seria melhor à marcha processual que o julgamento do agravo ocorra em momento
anterior à audiência.
Quanto ao prazo recursal para interposição, lembre-se de que o Código de Processo Civil de
2015 unificou inúmeros prazos e atualmente todos os recursos constantes nesse diploma processual
deverão ser interpostos no prazo de 15 (quinze) dias (art. 1.003, § 5º, CPC), com exceção dos
embargos de declaração, a serem apresentados no prazo de 5 (cinco) dias. Para realizar a contagem
dos prazos considere apenas os dias úteis, em harmonia com o artigo 219, CPC (BRASIL, 2015). E
tome nota do disposto no artigo 231, CPC, inciso V, conforme o qual o termo inicial do prazo será
“dia útil seguinte à consulta ao teor da citação ou da intimação ou ao término do prazo para que a
consulta se dê, quando a citação ou a intimação for eletrônica”.
Portanto, o prazo de 15 (quinze) dias terá como termo inicial o dia útil seguinte àquele em que
efetuada a intimação da decisão nos autos de processo eletrônico. Ou seja, se realizada a intimação
numa sexta-feira, por exemplo, o termo inicial para contagem será a segunda-feira imediatamente
seguinte.
Vamos peticionar!
Diante da questão processual envolvendo sua cliente, a empresa Bela Musa, questione-se: o
magistrado proferiu um despacho, uma decisão interlocutória ou uma sentença? Constatado o ato
judicial proferido, verifique qual manifestação processual será cabível – se uma nova ação, uma
simples petição de manifestação ou algum recurso.
Decidida a peça processual a ser redigida, identifique no Código de Processo Civil de 2015
quais são as características e elementos úteis a compor a manifestação processual. Busque: como
interpor e qual o Juízo ou tribunal competente; além disso, observe e demonstre que conhece o prazo
para apresentação da peça processual. Demonstre em seu raciocínio, a ser reduzido a escrito, o
conhecimento acerca da contagem do prazo processual, de maneira harmônica às diretrizes
expostas no Código de Processo Civil atual.
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seu ponto de vista/tese, com o objetivo de convencer o julgador (ou órgão colegiado) a tomar a
atitude que você pretende ou a reformar decisão anterior que tenha tomado (ou que outro Juízo tenha
tomado, no caso de recursos julgados por Tribunais sobre decisões proferidas por Juízo de primeiro
grau). E, se necessário, requeira a suspensão do processo – o que significa pugnar pela atribuição
de efeito suspensivo ao recurso, se for essa a peça processual adequada à solução da controvérsia
apresentada.