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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2022.0000944120

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação / Remessa Necessária


nº 1006259-71.2022.8.26.0309, da Comarca de Jundiaí, em que são apelantes M. DE
J. e J. E. O., é apelada M. L. G. M. (MENOR).

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da Câmara Especial do


Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Não conheceram da
remessa necessária e deram parcial provimento ao apelo voluntário, com
determinação. V.U., de conformidade com o voto do relator, que integra este
acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores GUILHERME


GONÇALVES STRENGER (VICE PRESIDENTE) (Presidente), XAVIER DE
AQUINO (DECANO) E BERETTA DA SILVEIRA (PRES. DA SEÇÃO DE
DIREITO PRIVADO).

São Paulo, 18 de novembro de 2022.

GUILHERME GONÇALVES STRENGER (VICE PRESIDENTE)


Relator(a)
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

VOTO Nº 53.045
REMESSA NECESSÁRIA/APELAÇÃO Nº 1006259-71.2022.8.26.0309
Comarca: Jundiaí
Juízo de Origem: Vara do Júri, das Execuções Criminais e da Infância e
Juventude
Apelantes: MUNICÍPIO DE JUNDIAÍ; JUÍZO EX OFFICIO
Apelado: M. L. G. M. (MENOR)

Remessa necessária e Apelação Infância e


Juventude Ação de obrigação de fazer
Vaga em creche Direito à educação
Descabimento da remessa necessária
Inteligência do artigo 496, §3º, III, do Código
de Processo Civil Não caracterização de
sentença ilíquida Pretensão que se mostra
mensurável - Conteúdo econômico da sentença
condenatória que pode ser obtido através de
simples cálculo aritmético Custo anual
estimado por aluno matriculado nos
Municípios, que compõem o Estado de São
Paulo, inferior ao limite estabelecido no
Código de Processo Civil para a sujeição da
sentença ao duplo grau de jurisdição
Precedentes - Direito público subjetivo de
natureza constitucional Exigibilidade
independente de regulamentação Normas de
eficácia plena Determinação judicial para
cumprimento de direitos públicos subjetivos –
Inexistência de ofensa à autonomia dos
poderes ou determinação de políticas públicas
Súmula 65 do TJSP Concretização do
Apelação / Remessa Necessária nº 1006259-71.2022.8.26.0309 -Voto nº 53045 2
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direito pelo fornecimento de vaga em


condições de ser usufruída Limitação à
ordem cronológica de atendimento
Impossibilidade Planejamento geral do
fornecimento de educação pela administração
pública não impede a efetivação de direito
público subjetivo individual Reserva do
possível afastada Disponibilização de vaga
em creche próxima, assim entendida aquela
que dista até dois quilômetros da residência
das crianças Honorários advocatícios
Redução Observância do art. 85, §§2º e 8º,
do CPC Remessa necessária não conhecida
Apelo voluntário parcialmente provido.

VISTOS.

Trata-se de remessa necessária e


apelação interposta pelo MUNICÍPIO DE JUNDIAÍ
contra a r. sentença de fls. 44/57, que julgou
procedente pedido formulado em ação de
obrigação de fazer ajuizada por M. L. G. M.
(MENOR), para determinar a imediata matrícula,
Apelação / Remessa Necessária nº 1006259-71.2022.8.26.0309 -Voto nº 53045 3
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inserção e frequência da criança em creche da


rede municipal próxima à sua residência, no
período integral, responsabilizando o ente
público pelo transporte, caso necessário. Foram
fixados honorários advocatícios em R$ 2.000,00
(dois mil reais).

O recorrente alega afronta ao


princípio da separação dos poderes, à teoria da
reserva do possível e ao princípio da isonomia.
Sustenta, ainda, que os honorários advocatícios
devem ser reduzidos. Requer o provimento do
recurso, a fim de ser reformada a r. sentença (fls.
52/57).

Houve resposta ao recurso (fls.


61/64).

A d. Procuradoria Geral de Justiça


ofertou parecer, opinando pelo não provimento
dos recursos (fls. 71/75).

É o relatório.

Apelação / Remessa Necessária nº 1006259-71.2022.8.26.0309 -Voto nº 53045 4


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Desde logo, consigna-se que se


entendia de rigor o conhecimento da remessa
necessária, conforme determina o artigo 496, I,
do Código de Processo Civil, bem como as
Súmulas nº 490 do Colendo Superior Tribunal de
Justiça e 108 deste Tribunal de Justiça.

Contudo, ressalvado o
entendimento esposado em feitos anteriores, e
tendo ficado vencido, curvo-me à orientação
majoritária da Colenda Câmara Especial, em
atenção ao princípio da colegialidade.

Pois bem.
Cuida-se de ação de obrigação de
fazer pela qual se garantiu acesso da criança à
educação infantil, em creche da rede municipal
próxima de sua residência.

Entretanto, não é caso de


conhecimento da remessa necessária.
Como se sabe, o artigo 496, I, do
Código de Processo Civil, determina o envio dos
autos ao Egrégio Tribunal de Justiça para
reexame necessário, na hipótese de sentença
proferida contra o Município, verbis:
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“Art. 496. Está sujeita ao duplo grau de


jurisdição, não produzindo efeito senão depois
de confirmada pelo tribunal, a sentença:

I - proferida contra a União, os Estados, o


Distrito Federal, os Municípios e suas
respectivas autarquias e fundações de direito
público;

(...)

§ 1º Nos casos previstos neste artigo, não


interposta à apelação no prazo legal, o juiz
ordenará a remessa dos autos ao tribunal, e,
se não o fizer, o presidente do respectivo
tribunal avocá-los-á.

§ 2º Em qualquer dos casos referidos no § 1º,


o tribunal julgará a remessa necessária.

(...)

E, no § 3º do mesmo dispositivo
legal há hipótese de dispensa do reexame
necessário nas condenações em que o proveito
econômico obtido na causa tiver valor certo e
líquido inferior aos limites estabelecidos naquela
norma:

§ 3º Não se aplica o disposto neste artigo


quando a condenação ou o proveito econômico
obtido na causa for de valor certo e líquido
inferior a:

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I - 1.000 (mil) salários-mínimos para a União e


as respectivas autarquias e fundações de
direito público;

II - 500 (quinhentos) salários-mínimos para os


Estados, o Distrito Federal, as respectivas
autarquias e fundações de direito público e os
Municípios que constituam capitais dos
Estados;

III - 100 (cem) salários-mínimos para todos os


demais Municípios e respectivas autarquias e
fundações de direito público.

(....)”

Observa-se que, na presente ação, a


parte autora busca do ente público municipal a
obtenção de vaga em creche, cujo proveito
econômico é possível de mensuração através de
simples cálculo aritmético.

Com efeito, nos termos da Portaria


Interministerial do MEC/ME nº 1, de 31 de
março de 2021, do Anexo I, o custo anual
estimado por aluno para o Estado de São Paulo é
de R$ 5.651,13, valor este muito abaixo daquele
previsto no artigo 496, §3º, inciso III, do CPC,
para incidência da remessa necessária.

Considerando, assim, que, na


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espécie, o custo anual estimado por aluno


matriculado nos Municípios, que compõem o
Estado de São Paulo, é inferior ao mínimo
estabelecido na legislação processual para
aplicação do recurso de ofício, conclui-se que, na
hipótese, aludida irresignação legal não há de ser
conhecida.

Nesse sentido, já decidiu o Colendo


Superior Tribunal de Justiça, litteris:

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL.


AGRAVO INTERNO NO RECURSO
ESPECIAL. REMESSA NECESSÁRIA.
SENTENÇA ILÍQUIDA. ART. 496, § 3o., I
DO CÓDIGO FUX. CONDENAÇÃO OU
PROVEITO ECONÔMICO INFERIOR A MIL
SALÁRIOS MÍNIMOS. VALOR AFERÍVEL
POR CÁLCULO ARITMÉTICO.
POSSIBILIDADE DE MENSURAÇÃO.
AGRAVO INTERNO DA UNIVERSIDADE
FEDERAL FLUMINENSE UFF
DESPROVIDO. 1. Esta Corte, no
julgamento do REsp. 1.101.727/PR,
representativo de controvérsia, fixou a
orientação de que, tratando-se de
sentença ilíquida, deverá ser ela
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submetida ao reexame necessário, uma


vez que não possui valor certo,
estabelecendo que a dispensabilidade
da remessa necessária pressupunha a
certeza de que o valor da condenação
não superaria o limite de 60 salários
mínimos. 2. Contudo, a nova legislação
processual excluiu da remessa
necessária a sentença proferida em
desfavor da União e suas respectivas
Autarquias cujo proveito econômico
seja inferior a mil salários-mínimos. 3.
No caso, o que se verifica é que,
inobstante a sentença prolatada em 3
de junho de 2016 não ter condenado a
UFF a valor certo, a depender de
liquidação, à causa foi atribuído o
valor de R$ 44.000, 00 (quarenta e
quatro mil reais) e, em razão da
aplicabilidade imediata das novas
regras por sua natureza processual aos
feitos em curso, forçoso reconhecer que
se trata de verdadeira hipótese de
dispensa de reexame. 4.Agravo Interno
da UNIVERSIDADE FEDERAL
FLUMINENSE UFF desprovido. (AgInt no
REsp 1705814/RJ, Rel. Ministro
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NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO,


PRIMEIRA TURMA, julgado em
31/08/2020, DJe 04/09/2020).

PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO.


AGRAVO INTERNO NO RECURSO
ESPECIAL. REMESSA NECESSÁRIA.
CPC/2015. CONDENAÇÃO OU PROVEITO
ECONÔMICO INFERIOR A MIL SALÁRIOS
MÍNIMOS. DISPENSA DA REMESSA
NECESSÁRIA. ACÓRDÃO EM
CONSONÂNCIA COM A ATUAL
JURISPRUDÊNCIA DO STJ. 1. A Corte de
origem, ao apreciar a controvérsia
assentou que, 'embora no início da lide,
efetivamente, pudesse se considerar
incerto o montante do bem da vida
vindicado, ao tempo da prolação da
sentença o proveito econômico obtido
com a condenação tornou-se certo e
líquido, bastando, apenas, a realização
de meros cálculos aritméticos para a
aferição do montante devido' (fl. 134), o
que tornaria possível afastar o
reexame necessário, porque não
ultrapassado o limite previsto no art.
496, § 3º, I, do CPC/2015. 2. A referida
Apelação / Remessa Necessária nº 1006259-71.2022.8.26.0309 -Voto nº 53045 10
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conclusão encontra sintonia na


jurisprudência firmada pelo STJ,
segundo a qual 'a orientação da
Súmula 490 do STJ não se aplica às
sentenças ilíquidas nos feitos de
natureza previdenciária a partir dos
novos parâmetros definidos no art.
496, § 3º, I, do CPC/2015, que dispensa
o duplo grau obrigatório as sentenças
contra a União e suas autarquias cujo
valor da condenação ou do proveito
econômico seja inferior a mil salários
mínimos.' (REsp 1.735.097/RS, Rel.
Min. Gurgel de Faria, Primeira Turma,
DJe 11/10/2019). Ainda, no mesmo
sentido: REsp 1.844.937/PR, Rel. Min.
Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira
Turma, DJe 22/11/2019 e AgInt no
REsp 1.852.972/RS, Rel. Min. Regina
Helena Costa, Primeira Turma, DJe
1º/7/2020. 3. Agravo interno não
provido.” (AgInt no REsp 1864360/SC,
Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES,
PRIMEIRA TURMA, julgado em
23/11/2020, DJe 27/11/2020).

E, na Colenda Câmara Especial:


Apelação / Remessa Necessária nº 1006259-71.2022.8.26.0309 -Voto nº 53045 11
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REEXAME NECESSÁRIO OBRIGAÇÃO


DE FAZER Pretensão voltada a
compelir o ente público demandado ao
fornecimento de vaga em creche por
período integral - Conteúdo econômico
da obrigação imposta na sentença
absolutamente mensurável por meros
cálculos aritméticos - Não
caracterizada a hipótese de sentença
ilíquida - Incidência do § 3º do artigo
496 do CPC - Condenação que não
alcança o teto máximo para fins de
observância ao duplo grau de
jurisdição obrigatório diante dos
custos daí advenientes extraídos das
informações prestadas pelo MEC-
Necessária otimização da prestação
jurisdicional que conferirá uma melhor
racionalização dos recursos humanos e
financeiros do Poder Judiciário a
permitir significativos avanços
qualitativos e de celeridade às
irresignações recursais
voluntariamente apresentadas pelos
interessados - Precedentes do STJ -
Reexame obrigatório não conhecido.
(TJSP; Remessa Necessária Cível
Apelação / Remessa Necessária nº 1006259-71.2022.8.26.0309 -Voto nº 53045 12
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1008266-37.2021.8.26.0223; Relator
(a): Wanderley José Federighi (Pres. da
Seção de Direito Público); Órgão
Julgador: Câmara Especial; Foro de
Guarujá - 2ª Vara Criminal; Data do
Julgamento: 21/07/2022; Data de
Registro: 22/07/2022)

REEXAME NECESSÁRIO OBRIGAÇÃO


DE FAZER Pretensão voltada a
compelir o ente público demandado ao
fornecimento de vaga em creche por
período integral - Conteúdo econômico
da obrigação imposta na sentença
absolutamente mensurável por meros
cálculos aritméticos - Não
caracterizada a hipótese de sentença
ilíquida - Incidência do § 3º do artigo
496 do CPC - Condenação que não
alcança o teto máximo para fins de
observância ao duplo grau de
jurisdição obrigatório diante dos
custos daí advenientes extraídos das
informações prestadas pelo MEC-
Necessária otimização da prestação
jurisdicional que conferirá uma melhor
racionalização dos recursos humanos e
Apelação / Remessa Necessária nº 1006259-71.2022.8.26.0309 -Voto nº 53045 13
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financeiros do Poder Judiciário a


permitir significativos avanços
qualitativos e de celeridade às
irresignações recursais
voluntariamente apresentadas pelos
interessados - Precedentes do STJ -
Reexame obrigatório não conhecido.
(TJSP; Remessa Necessária Cível
1010407-29.2021.8.26.0223; Relator
(a): Wanderley José Federighi(Pres. da
Seção de Direito Público); Órgão
Julgador: Câmara Especial; Foro de
Guarujá - 2ª Vara Criminal; Data do
Julgamento: 21/07/2022; Data de
Registro: 22/07/2022)

REEXAME NECESSÁRIO E APELAÇÃO.


AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER.
INFÂNCIA E JUVENTUDE. Pretensão à
obtenção de vaga em unidade
educacional infantil mantida pela
Municipalidade, que deve ser próxima à
residência da criança.
Inadmissibilidade do recurso oficial.
Pedido revestido de liquidez. Exegese
do C. Superior Tribunal de Justiça.
Conteúdo econômico abaixo do valor
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estipulado no inciso II, do parágrafo


3º, do artigo 496 do CPC. Interesse
processual verificado. Ausência de
decisão de suspensão dos processos que
tratam da questão de repercussão
geral reconhecida no Agravo de
Instrumento nº 761.908/SC (Tema nº
548). Garantia à educação infantil, em
creche e pré-escola, às crianças de até
5 (cinco) anos de idade. Direito
autoaplicável previsto no artigo 208,
IV, da Constituição Federal. Dever da
Municipalidade. Direito a vaga em
período integral. Ausência de
determinação de sequestro de verbas
públicas. Redução do valor dos
honorários advocatícios
sucumbenciais. REEXAME NECESSÁRIO
NÃO CONHECIDO E APELAÇÃO PROVIDA
EM PARTE, NA PARTE CONHECIDA.
(TJSP; Apelação / Remessa Necessária
1018495-89.2021.8.26.0309; Relator
(a): Beretta da Silveira (Pres. da Seção
de Direito Privado); Órgão Julgador:
Câmara Especial; Foro de Jundiaí -
Vara do Júri/Exec./Inf. Juv.; Data do
Julgamento: 25/07/2022; Data de
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Registro: 25/07/2022)

REEXAME NECESSÁRIO. AÇÃO DE


OBRIGAÇÃO DE FAZER. INFÂNCIA E
JUVENTUDE. Pretensão à obtenção de
vaga em unidade educacional infantil
mantida pela Municipalidade, que deve
ser próxima à residência da criança.
Garantia à educação infantil, em
creche e pré-escola, às crianças de até
5 (cinco) anos de idade. Direito
autoaplicável previsto no artigo 208,
IV, da Constituição Federal. Pedido
revestido de liquidez. Exegese do C.
Superior Tribunal de Justiça. Conteúdo
econômico abaixo do valor estipulado
no inciso II, do parágrafo 3º, do artigo
496 do CPC. REEXAME NECESSÁRIO
NÃO CONHECIDO. (TJSP; Remessa
Necessária Cível
1024441-83.2021.8.26.0554; Relator
(a): Beretta da Silveira (Pres. da Seção
de Direito Privado); Órgão Julgador:
Câmara Especial; Foro de Santo André
- Vara da Infância e da Juventude;
Data do Julgamento: 12/07/2022; Data
de Registro: 12/07/2022)
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Apelação cível e remessa necessária


Infância e Juventude Ação de
obrigação de fazer Vaga em creche
Sentença que julgou procedente a ação
Não cabimento de remessa
necessária, pois ausente hipótese de
sujeição ao duplo grau de jurisdição
Inteligência do artigo 496, §3º, III, do
Código de Processo Civil Não
caracterizada sentença ilíquida
Conteúdo econômico que pode ser
facilmente aferido por simples cálculo
aritmético Valor anual estimado por
aluno na modalidade creche bem
inferior ao limite legal estabelecido
para a sujeição da sentença ao duplo
grau de jurisdição Precedentes do
STJ Recurso de Apelação Direito à
educação Direito público subjetivo de
natureza constitucional
Exigibilidade independente de
regulamentação Normas de eficácia
plena Determinação judicial para
cumprimento de direitos públicos
subjetivos Inexistência de ofensa à
autonomia dos poderes ou
Apelação / Remessa Necessária nº 1006259-71.2022.8.26.0309 -Voto nº 53045 17
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determinação de políticas públicas


Súmula 65, TJSP Concretização do
direito pelo fornecimento de vaga em
condições de ser usufruída Limitação
à ordem cronológica de atendimento
Impossibilidade Planejamento geral
do fornecimento de educação pela
administração pública não impede a
efetivação de direito público subjetivo
individual Reserva do possível
afastada Convívio familiar e acesso à
educação infantil, direitos que
coexistem harmonicamente Multa
cominatória Possibilidade Fixação
da sucumbência recursal - Remessa
necessária não conhecida e Apelo
voluntário não provido, observada a
sucumbência recursal fixada. (TJSP;
Apelação / Remessa Necessária
1009568-93.2021.8.26.0161; Relator
(a): Francisco Bruno (Pres. Seção de
Direito Criminal); Órgão Julgador:
Câmara Especial; Foro de Diadema -
Vara do Júri/Exec./Inf. Juv/Idoso; Data
do Julgamento: 07/06/2022; Data de
Registro: 08/06/2022)

Apelação / Remessa Necessária nº 1006259-71.2022.8.26.0309 -Voto nº 53045 18


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APELAÇÃO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE


FAZER. Preliminar de incompetência
absoluta do Juízo da Infância e da
Juventude. Inocorrência. Inteligência
dos artigos 148, inciso IV, 208, inciso
III, e 209, do ECA. Direito da Criança e
do Adolescente. Matrícula e
permanência em escola de educação
infantil. Direito fundamental
resguardado pela Constituição Federal
e legislação infraconstitucional. Pleito
de exclusão dos honorários
advocatícios. Não acolhimento.
Princípio da sucumbência. Verba
honorária fixada com base em
parâmetros legais. Recurso de
apelação da Municipalidade não
provido. (TJSP; Apelação Cível
1001353-84.2021.8.26.0596; Relator
(a): Issa Ahmed; Órgão Julgador:
Câmara Especial; Foro de Serrana - 2ª
Vara; Data do Julgamento: 14/06/2022;
Data de Registro: 14/06/2022)

REMESSA NECESSÁRIA. AÇÃO DE


OBRIGAÇÃO DE FAZER. Direito da
Apelação / Remessa Necessária nº 1006259-71.2022.8.26.0309 -Voto nº 53045 19
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Criança e do Adolescente. Pretensão de


fornecimento de vaga em escola de
educação infantil. Sentença
condenatória não sujeita
obrigatoriamente ao duplo grau de
jurisdição, porquanto mensurável o seu
conteúdo econômico e inferior aos
patamares fixados no § 3º do artigo
496 do Código de Processo Civil.
Precedentes desta C. Câmara Especial.
Remessa necessária não conhecida.
(TJSP; Remessa Necessária Cível
1009857-34.2021.8.26.0223; Relator
(a): Issa Ahmed; Órgão Julgador:
Câmara Especial; Foro de Guarujá - 2ª
Vara Criminal; Data do Julgamento:
01/07/2022; Data de Registro:
01/07/2022)

Destarte, não se conhece do


reexame necessário e passa-se à apreciação do
apelo voluntário interposto pelo Município de
Jundiaí.

O direito à educação se caracteriza


como norma constitucional de eficácia plena,

Apelação / Remessa Necessária nº 1006259-71.2022.8.26.0309 -Voto nº 53045 20


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possuindo o indivíduo direito público subjetivo


de exigir do Estado a realização de medidas para
a concretização do direito ao acesso à educação
gratuita e de qualidade.
Com efeito, o artigo 208, IV, da
Constituição Federal determina ao administrador
público o cumprimento de um dever (ordem)
direto para com a população, qual seja, o
fornecimento de meios para a educação infantil:

“Art. 208. O dever do Estado com a educação


será efetivado mediante a garantia de:

(...)

IV educação infantil, em creche e pré-escola,


às crianças até 5 (cinco) anos de idade;

(...)”

Da mesma forma, prevê o artigo 54,


IV, do ECA o seguinte:

“Art. 54. É dever do Estado assegurar à


criança e ao adolescente:

(...)

IV atendimento em creche e pré-escola às


crianças de zero a cinco anos de idade;

(...)”

Apelação / Remessa Necessária nº 1006259-71.2022.8.26.0309 -Voto nº 53045 21


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Ademais, a Lei de Diretrizes e


Bases da Educação Nacional fixa a educação
infantil como direito do indivíduo e dever do
Estado, verbis:

“Art. 4º O dever do Estado com educação


escolar pública será efetivado mediante a
garantia de:

(...)

II educação infantil gratuita às crianças de


até 5 (cinco) anos de idade;

(...)”

Destarte, tanto pela ótica


constitucional quanto legal, observa-se a
existência de obrigação direta do Município em
providenciar, às suas expensas, o atendimento
integral e universal das crianças de até 5 (cinco)
anos em suas creches e pré-escolas.

Como é cediço, as creches


constituem garantia dada pelo Estado ao
indivíduo, de maneira que não pode o Município,
por meio de afirmações do caráter programático
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da norma ou de ausência de recursos alocados,


subverter a ordem constitucional, especialmente
porque o próprio texto constitucional fixou o
direito de acesso ao ensino obrigatório como um
direito público subjetivo (artigo 208, § 1º, CF).

Verifica-se, assim, que o


cumprimento da ordem constitucional coube,
por determinação legal, exclusivamente aos
Municípios, que se incumbirão de “oferecer
educação infantil em creches e pré-escolas, e,
com prioridade, o ensino fundamental,
permitida a atuação em outros níveis de ensino
somente quando estiverem atendidas
plenamente as necessidades de sua área de
competência e com recursos acima dos
percentuais mínimos vinculados pela
Constituição Federal à manutenção e
desenvolvimento do ensino.” (artigo 11, V, Lei nº
9.394/1996). E isto por meio da operação de
creches (artigo 30, I, Lei nº 9.394/1996), sejam
elas públicas ou contratadas pelo Município
junto aos particulares.

Portanto, tem-se inaceitável a


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alegação no sentido de que as normas possuem


caráter meramente programático, eis que “a
educação infantil, por qualificar-se como
direito fundamental de toda criança, não se
expõe, em seu processo de concretização, a
avaliações meramente discricionárias da
Administração Pública nem se subordina a
razões de puro pragmatismo governamental”
(STF AgRg no ARE 639.337 SP Rel. MIN.
CELSO DE MELLO j. 23.08.2011 grifei).

Vale dizer, trata-se de normas de


eficácia plena, não só pela previsão
constitucional, mas também pela concretização
das disposições do Estatuto da Criança e do
Adolescente.

Por consequência, “descabida a


tese da discricionariedade, a única dúvida que
se poderia suscitar resvalaria na natureza da
norma ora sob enfoque, se programática ou
definidora de direitos. Muito embora a matéria
seja, somente nesse particular, constitucional,
sem importância se mostra essa categorização.
Tendo em vista a explicitude do ECA, é
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inequívoca a normatividade suficiente à


promessa constitucional, a ensejar a
acionabilidade do direito à educação” (STJ
AgRg no RE 1.545.039/DF 2ª T. Rel. MIN.
HERMAN BENJAMIN j. 05.11.2015).

De outro lado, havendo


impedimento do uso da discricionariedade
administrativa, faz-se necessário fixar o
atendimento na creche em período integral, sob
pena de se esvaziar o fim social da norma, que a
um só tempo, busca permitir o atendimento da
criança em sua educação inicial e o exercício do
direito constitucional dos pais ao trabalho.

Da mesma forma, submeter a


criança à espera em fila, quando já buscado o
atendimento do direito de índole constitucional
na esfera extrajudicial, significa dela retirar o
exercício do direito à educação até que a
administração se adeque para tal atendimento, o
que não se admite.

Isso porque é dever do Estado


prover a todos que necessitem do acesso à

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educação, e não somente àqueles que estejam


em determinada posição em uma lista que só
existe pelo descumprimento reiterado da
Administração Pública do comando
constitucional de acesso pleno a esse direito.

Tratando-se, pois, de direito


subjetivo previsto em norma de eficácia
garantida pela legislação infraconstitucional, não
há que se falar em ilegal intervenção do Poder
Judiciário nas decisões que cabem ao Poder
Executivo. É que ao direito subjetivo lesado
cabe, por normativa constitucional, o direito de
ação a ser exercido perante o Poder Judiciário
(artigo 5º, XXXV, CF).

Nesse particular, “... ressoa


evidente que toda imposição jurisdicional à
Fazenda Pública implica em dispêndio e atuar,
sem que isso infrinja a harmonia dos poderes,
porquanto no regime democrático e no estado
de direito o Estado soberano submete-se à
própria justiça que instituiu. Afastada, assim, a
ingerência entre os poderes, o judiciário,
alegado o malferimento da lei, nada mais fez do
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que cumpri-la ao determinar a realização


prática da promessa constitucional.” (STJ
REsp 575.280-SP 1ª T. Rel. p/ Acórdão MIN.
LUIZ FUX j. 2.9.2004).

Aliás, este E. Tribunal de Justiça


do Estado de São Paulo consolidou entendimento
no sentido da possibilidade da condenação do
poder público à obrigação de fazer necessária à
concretização de direitos fundamentais, como à
saúde e à educação, sem que isto configure
ofensa à autonomia dos Poderes, conforme
Súmula 65, verbis:

“Não violam os princípios


constitucionais da separação dos
poderes, da isonomia, da
discricionariedade administrativa e da
anualidade orçamentária as decisões
judiciais que determinam às pessoas
jurídicas da administração direta a
disponibilização de vagas em unidades
educacionais ou o fornecimento de
medicamentos, insumos, suplementos e
transporte a crianças ou adolescentes.”

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Em outras palavras, embora se


admita que o princípio da competência
orçamentária atribua ao legislador as decisões
finais da destinação dos recursos públicos,
especialmente em políticas de atendimento
universalizado da população no âmbito da
educação, não se pode admitir que esse princípio
ganhe ares absolutos, retirando do administrador
a responsabilidade de atender as necessidades
individuais de crianças e adolescentes. É que “a
força do princípio da competência orçamentária
do legislador não é ilimitada. Ele não é um
princípio absoluto. Direitos individuais podem
ter peso maior que razões político-financeiras”
(ALEXY, Robert. Teoria dos direitos
fundamentais. Trad. Virgílio Afonso da Silva. São
Paulo: Malheiros, 2008, p. 512-513 grifei).

Neste ponto, não há como se


afastar a responsabilidade do administrador
pelas escolhas feitas na formulação e execução
do orçamento público. Se as escolhas tornaram
insuficientes os recursos para o atendimento da
ordem constitucional, há de se adequar a

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destinação de valores para o atendimento


primordial do comando constitucional em favor
de crianças e adolescentes, sendo insuficiente
recorrer-se à teoria da “reserva do possível”
como excludente do descumprimento da
Constituição.

No dizer do MIN. CELSO DE


MELLO, do C. Supremo Tribunal Federal:

“A CONTROVÉRSIA PERTINENTE À
'RESERVA DO POSSÍVEL' E A
INTANGIBILIDADE DO MÍNIMO
EXISTÊNCIAL: A QUESTÃO DAS
“ESCOLHAS TRÁGICAS”

- A destinação de recursos públicos,


sempre tão dramaticamente escassos,
faz instaurar situações de conflito,
quer com a execução de políticas
públicas definidas no texto
constitucional, quer, também, com a
própria implementação de direitos
sociais assegurados pela Constituição
da República, daí resultando contextos
de antagonismo que impõem, ao
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Estado, o encargo de superá-los


mediante opções por determinados
valores, em detrimento de outros
igualmente relevantes, compelindo, o
Poder Público, em face dessa relação
dilemática, causada pela insuficiência
de disponibilidade financeira e
orçamentária, a proceder a
verdadeiras “escolhas trágicas”, em
decisão governamental cujo parâmetro,
fundado na dignidade da pessoa
humana, deverá ter em perspectiva a
intangibilidade do mínimo existencial,
em ordem a conferir real efetividade às
normas programáticas positivadas na
própria Lei Fundamental. Magistério
da doutrina.

- A cláusula da reserva do possível


que não pode ser invocada, pelo Poder
Público, com o propósito de fraudar, de
frustrar e de inviabilizar a
implementação de políticas públicas
definidas na própria Constituição
encontra insuperável limitação na
garantia constitucional do mínimo
existencial, que representa, no contexto

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de nosso ordenamento positivo,


emanação direta do postulado da
essencial dignidade da pessoa
humana. Doutrina. Precedentes” (STF
AgR no ARE 639.337-SP 2ª T. Rel.
MIN. CELSO DE MELLO j. 23.08.2011
- grifei).

Nesse contexto, afigura-se


inaplicável a teoria da “reserva do possível” no
caso de pedido de disponibilização de vaga em
creche, ante a existência de uma situação social
e econômica diretamente resultante de escolhas
do administrador no direcionamento das verbas
públicas. Conforme já decidido pelo Superior
Tribunal de Justiça, “esse estado de escassez,
muitas vezes, é resultado de um processo de
escolha, de uma decisão. Quando não há
recursos suficientes para prover todas as
necessidades, a decisão do administrador de
investir em determinada área implica escassez
de recursos para outra que não foi
contemplada. A título de exemplo, o gasto com
festividades ou propagandas governamentais
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pode ser traduzido na ausência de dinheiro


para a prestação de uma educação de
qualidade.” (STJ AgRg no AREsp 790.767-MG
2ª T. Rel. MIN. HUMBERTO MARTINS j.
3.12.2015 grifei).

Reconhece-se, assim, a
legitimidade da intervenção judicial para a
concretização do direito individual de
fundamento constitucional, mantendo-se a
determinação de primeiro grau para a concessão
de vagas em estabelecimento de ensino próximo
da residência da criança, devendo ser fornecido
transporte se a unidade for distante (mais de 2
km da residência familiar).

Por fim, quanto a verba honorária,


levando-se em conta os parâmetros estabelecidos
pelo artigo 85, §§ 2º e 8º, do Código de Processo
Civil e, considerando se tratar de causa
notoriamente repetitiva, tem-se que os
honorários advocatícios fixados na r. sentença
(em R$ 2.000,00) devem ser reduzidos para R$
1.200,00 (um mil e duzentos reais). Este valor é
razoável e encontra respaldo na jurisprudência
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desta C. Câmara Especial:


“OBRIGAÇÃO DE FAZER. REMESSA
NECESSÁRIA. CRECHE. MATRÍCULA E
PERMANÊNCIA. Direito fundamental
resguardado na Constituição Federal.
Caráter assistencial. Necessidade.
Desenvolvimento da criança.
Inteligência do art. 29 da Lei nº.
9.394/96. Aplicação das Súmulas nº.
63 e 65 do TJSP. Designação da vaga.
Ato discricionário da Administração.
Inteligência dos arts. 53, V, e 54, IV, do
ECA. Distância superior a dois
quilômetros. Oferecimento do
Transporte. Possibilidade. Medida
garantidora ao direito de acesso aos
serviços educacionais. Honorários
Advocatícios. Adequação do valor para
R$ 1.200,00 (um mil e duzentos reais).
Incidência da Súmula nº. 325 do STJ.
Precedentes. RECURSO OFICIAL
PARCIALMENTE PROVIDO. (TJSP;
Remessa Necessária Cível
1013794-85.2021.8.26.0309; Relator
(a): Sulaiman Miguel; Órgão Julgador:
Câmara Especial; Foro de Jundiaí -
Vara do Júri/Exec./Inf. Juv.; Data do
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Julgamento: 08/03/2022; Data de


Registro: 08/03/2022)

“REMESSA NECESSÁRIA. Ação de


obrigação de fazer. Direito da Criança
e do Adolescente. Vaga em creche.
Reconhecimento do pedido com o
imediato cumprimento da obrigação.
Sentença de procedência, confirmando
a tutela de urgência concedida.
Matrícula da criança-autora em
unidade de ensino da rede pública
municipal próxima de sua residência,
em período integral. Direito
fundamental resguardado pela
Constituição Federal e legislação
infraconstitucional. Inafastabilidade
da obrigação conferida ao Município.
Imposição que não caracteriza
ingerência indevida do Poder
Judiciário na Administração Pública.
Sucumbência do réu. Redução de
honorários advocatícios arbitrados
para R$ 1.200,00. Remessa Necessária
parcialmente provida. TJSP; Remessa
Necessária Cível 1017460-
94.2021.8.26.0309; Relator (a): Silvia
Apelação / Remessa Necessária nº 1006259-71.2022.8.26.0309 -Voto nº 53045 34
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Sterman; Órgão Julgador: Câmara


Especial; Foro de Jundiaí - Vara do
Júri/Exec./Inf. Juv.; Data do
Julgamento: 27/06/2022; Data de
Registro: 27/06/2022)”

Ante exposto, NÃO CONHEÇO da


remessa necessária e, DOU PARCIAL PROVIMENTO
ao apelo voluntário, a fim de reduzir a verba
honorária para R$ 1.200,00 (um mil e duzentos
reais).

GUILHERME G. STRENGER
Vice-Presidente
Relator

Apelação / Remessa Necessária nº 1006259-71.2022.8.26.0309 -Voto nº 53045 35

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