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O novo capitalismo:

uma sociedade de indivíduos sob pressão


As revoluções tecnológicas poderiam
libertar o homem do trabalho.

Elas parecem, ao contrário, coloca-lo


sob pressão.

Aliviam a fadiga física, mas


aumentam a pressão psíquica.

As técnicas parecem eliminar o


homem e, de fato, limitam sua
utilização.
Com efeito, ao contrário do que pensam os teóricos do
trabalho, as técnicas modernas não substituem o homem.

Elas exigem que ele faça mais coisas.


Daí uma pressão, pelo tempo, pelos
resultados, mas também pelo medo, que
tem consequências terríveis. Ele gera
comportamentos de adição, estresse
cultural, sentimento de invasão contra o
qual é difícil de se defender, e sofrimentos
que o indivíduo esconde; do contrário, se
fossem expressos, ele ficaria visado.
Há a pressão denominada de “sempre mais” e a sua relação
com o “perder o lugar”, ou seja, exige-se do pessoal fazer
melhor em menos tempo, assim, aumenta-se a rentabilidade,
sem aumentar a remuneração. Esses modelos acabam
gerando três fenômenos:
A cultura da urgência pela redução sistemática do tempo e pela
obrigação de reagir de modo imediato, que corresponde a uma
intensificação da mundialização e da concorrência.

A ilusão da motivação pelos resultados, visto que as empresas não


podem (ou não querem) assumir seus próprios compromissos
quando os empregados vão além das expectativas.

O medo de ficar visado, internamente pela técnica do placar e,


externamente, por pressões múltiplas que vão da demissão direta
à demissão forçada. A ameaça se tornou uma política corrente de
gestão do pessoal.
A aceitação do risco é um elemento
nodal na cultura da empresa.

A luta pelos lugares é naturalizada.

Ela é considerada como necessária


e útil: que vença o melhor!
A força desse sistema de poder é evidente.
Ele se apresenta como justo e não
arbitrário, pois não é a organização que,
definitivamente, se torna responsável pelo
lugar atribuído a cada um, mas o mérito de
cada um, que é considerado como
determinante do lugar ocupado.
Nesse contexto, aquele que perde seu lugar, ou que não obtém aquilo que ambiciona, só
pode culpar a si mesmo. Como os outros são “melhores” é normal que sejam escolhidos.
A concorrência entre as pessoas
leva a focalizar a atenção sobre o
desempenho de uns e de outros e a
enfraquecer as críticas sobre o
desempenho do sistema de
organização.
Essa lógica impele cada um a se superar em favor do
sistema, a fim de garantir sua perenidade.

A finalidade se torna a sobrevivência da empresa, para a


qual cada assalariado passa a sacrificar a sua.
A empresa espera
de seus empregados
um “acima das
expectativas”,
suscitando uma
pressão contínua,
um sentimento de
jamais fazer o
suficiente, uma
angustia de não
estar à altura
daquilo que a
empresa exige.
Essas sensações provocadas pelo sistema, vistas até aqui, só podem levar
a um caminho: o surgimento de patologias relacionadas ao trabalho.
Isto porque o modo de funcionamento
das organizações podem suscitar nos
empregados comportamentos neuróticos,
paranoicos ou perversos. Ou seja, facilita
uma certa moral através de relações de
violência, exclusão ou ostracismo.
E a tendência de funcionamento do tratamento dessas patologias é uma externalização. Ou seja,
a responsabilidade pelo tratamento dos indivíduos é fora da empresa, em consultórios
particulares ou até mesmo no SUS, porém, fica claro que a organização se isenta de qualquer
responsabilidade, principalmente ao se tratar de saúde mental.
Quando o assédio, o
estresse, a depressão
ou o sofrimento
psíquico se
desenvolvem, é a
própria gestão da
empresa que deve ser
questionada. Na
maioria dos casos não
é uma pessoa em
particular, mas uma
situação de conjunto.
Os empregados, em sua maioria, sentem-se
individualmente assediados porque são coletivamente
submetidos a uma pressão intensa. Todavia, por não
poder intervir sobre as faltas cometidas pela
organização do trabalho eles se agridem mutuamente.
Porém nas empresas contemporâneas todos encontram-se sob
pressão.

Cada um sofre e exerce pressões em uma corrente sem fim, em que


cada elo pode encontrar-se na posição de assediador ou assediado.
Uma política de prevenção deve
levar em conta o contexto
organizacional que o faz emergir.
Convém, particularmente lutar
contra as políticas de gestão dos
recursos humanos que geram
esse assédio.
Uma violenta busca de
reconhecimento
O sucesso pode ser apenas temporário em um
universo em que a competição obriga a proezas
constantemente renovadas.
A empresa pretende fornecer a seus
empregados um quadro de vida, um
projeto de desenvolvimento pessoal,
como uma onipotente mãe. Aqueles que
creem nesta perspectiva e não a
alcançam, perdem o amor da mãe.
Ainda nessa linha, alguns se tornam agentes dóceis
da organização, deixando-se instrumentalizar
totalmente. O trabalho se torna uma obsessão, eles
se concentram sobre seus objetivos, toda distração
é sentida como perturbação insuportável.
É desta forma que o
sistema gerencialista
continua e continuará
gerando indivíduos
sob pressão e com
risco de danos à sua
saúde mental,
enquanto algo
relacionado a esse
sistema não for feito.

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