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Epigenética II

27/10/2022
Objetivos da aula
● Rever os conceitos básicos da epigenética
● Discutir a inativação do cromossomo X
● Discutir o conceito de imprinting
● Explorar a relevância da epigenética para a saúde humana
Inativação do cromossomo X
● Onde isso ocorre?

● Ocorre nas células de mamíferos fêmeos


○ Uma das cópias do cromossomo X está compactada e armazenada na forma de
heterocromatina
● O cromossomo X inativado é conhecido como ‘corpúsculo de Barr’
● Processo também é conhecido como lionização
Inativação do X

Processo randômica:

Ou X paterno ou X materno
pode ser inativado em qualquer
célula

Desta forma, toda


mulher é mosaíco

Todas as células filhas terão o


mesmo X inativado
Inativação do cromossomo X
Por que isso ocorre?

● Conceito de ‘compensação de dosagem’

Células da mulher têm 2 cópias do cromossomo X, células do homem têm 1 só

Por inativar uma cópia, as células somáticas da mulher ficam mais parecidas com as do
homem

● = Compensação de dosagem
Compensação de dosagem

Homem

Mulher
Como isso ocorre?
● No cromossomo X, há um gene chamado XIST
○ Transcrito específico ao cromossomo X inativo
● Localizado no XIC
○ Centro de inativação do X
● A cópia do cromossomo X que expressa XIST vai
virar o corpúsculo de Barr

# corpúsculos de Barr =
# cromossomos X, -1
O que é XIST?
● XIST é um gene que ‘codifica’ um RNA não-codante
● Ao ser expresso, esse RNA reveste o cromossomo X que o expressou
○ Inativação in-cis
● Subsequentemente, aquele cromossomo fica condensado (corpúsculo de Barr)

Corpúsculo de Barr,
identificado pela
primeira vez em 1949
Um dos cromossomos X
expressa XIST

O RNA reveste o
cromossomo

O cromossomo
compacta-se

As histonas ficam hipo-


acetiladas
Expressão de XIST

● Inicialmente expresso em baixo nível a partir de ambos os cromossomos X


● Eventualmente, um dos cromossomos X aumenta a expressão
○ Essa cópia do X vira o corpúsculo de Barr, revestido de grande quantidade
do transcrito XIST
● A outra cópia do X para de expressar o gene
XIST e TSIX

● Uma cópia do cromossomo X expressa o transcrito TSIX


● TSIX é complementar ao XIST e assim bloqueia (degrada) o transcrito XIST
● Desta forma, a cópia do cromossomo X que expressa TSIX se mantenha ativa
● Parece que a célula tem um mecanismo para contar os cromossomos X para que apenas 1 expressa
TSIX
Evidências para contagem dos cromossomos X:
O número de corpúsculos de
Barr sempre é igual o número
de cromossomos X, menos 1

Homem: 0 corpúsculos

Mulher: 1 corpúsculo

Síndrome de Klinefelter: 1
corpúsculo

47XXX: 2 corpúsculos

Etc.
Desordens associadas com inativação do X
Distúrbios de inativação randômica do X
podem resultar em mulheres com doenças
genéticas recessivas ligadas ao X

Se, por algum motivo, houve


uma seleção de células com o X
mutado ativo, a mulher pode
sofrer uma doença recessiva
ligada ao X
Resumo
● Inativação do cromossomo X ocorre principalmente nas células da mulher (mas
não nas células pluripotentes)
● Número de corpúsculos de Barr = #cromossomos X -1
● Processo conhecido como lionização
● Ocorre em cis
● Envolve transcritos XIST e TSIX
● *Há genes que escapam a inativação do cromossomo X
Imprinting
Imprinting - importante!
Imprinting é um fenômeno que difere com transmissão materna / paterna

PORÉM:

Não é associado com os cromossomos sexuais!


Imprinting - O que é?
É a expressão diferencial de genes/regiões genômicas, dependendo da sua origem -
paterna ou materna

Ou seja, alguns genes são expressos só a partir do alelo que vem da mãe, outros só no
alelo que vem do pai

Envolve metilação do gene (promotora):

● Gene com imprint paterno é metilado no alelo que vem do pai


● Gene com imprint materno é metilado no alelo que vem da mãe
Gene sem imprint: Pode ser
expresso de ambos os alelos

Gene com imprint materno:


Metilado e inativo no alelo
materno; ativo no alelo
paterno

Gene com imprint paterno:


Metilado e inativo no alelo
paterno; ativo no alelo
materno
Importante:
Imprinting é um processo normal, e essencial para o desenvolvimento normal do
organismo

No genoma humano, há quase 100 genes conhecidos com imprint

Alguns com imprint materno, alguns com imprint paterno


Imprinting explica (pelo menos em parte) por que é impossível ter um embrião criado
com duas cópias do genoma masculino ou com duas cópias do genoma feminino

Em ambos esses casos, o embrião não sobrevive

Há uma grande desbalança na expressão gênica


Imprinting e doenças genéticas
Há doenças genéticas associadas com regiões genômicas com imprint

Vamos considerar uma região do cromossomo 15: o locus de Angelman/Prader-Willi


Neste locus, há um cluster de genes;
alguns genes com imprint paterno, e
outros com imprint materno

Imprint paterno:
● UBE3A, ATP10C

Imprint materno:
● SNRPN, NDNL1, NDN, ZNF137
No alelo paterno, os genes azuis não
são metilados. Esses genes são
expressos, e simultaneamente, eles
inibem expressão dos genes
vermelhos (imprint paterno)

No alelo materno, os genes azuis são


metilados (imprint materno), e não
são expressos. Desta forma, a
expressão dos genes vermelhos está
liberada

Resumindo: Os genes azuis são


expressos apenas no alelo que vem do
pai; os genes vermelhos são expressos
só no alelo que vem da mãe
Agora, vamos considerar as
consequências de deleção desse locus:

Se a deleção ocorre no alelo que vem


do pai, a criança terá só a cópia
materna deste locus

Desta forma, a criança fica com os


genes vermelhos expressos
normalmente, mas efetivamente com
nenhuma cópia dos genes azuis

Isso causa a síndrome de Prader-Willi,


por ausência dos genes azuis
Agora, vamos considerar as
consequências de deleção desse locus:

Se a deleção ocorre no alelo que vem


da mãe, a criança terá só a cópia
paterna deste locus

Desta forma, a criança fica com os


genes azuis expressos normalmente,
mas efetivamente com nenhuma
cópia dos genes vermelhos

Isso causa a síndrome de Angelman,


por ausência dos genes vermelhos
(especialmente UBE3A)
Situação normal:

Pai passa alguns genes ativos (verde), e


alguns com imprint (vermelho)

Mãe, mesma coisa

Neste locus, são os genes opostos


Síndrome de Prader-Willi:

Deleção no cromossomo paterno faz com que


alguns genes (SNRPN etc) estão presentes
apenas com imprint (alelo materno)
Síndrome de Angelman:

Deleção no cromossomo materno faz com


que alguns genes (UBE3A etc) estão presentes
apenas com imprint (alelo paterno)

Há outros mecanismos que também podem


causar as síndromes de Angelman e Prader-
Willi:
Uma mutação de ponto no gene UBE3A, no alelo materno,
faz com que não há nenhuma cópia funcional desse gene
(apesar da cópia paterna ser normal)

Isso causa a síndrome de Angelman


Dissomia uniparental

Descreve a situação em que ambas as


cópias de algum cromossomo vêm do
mesmo genitor

Se for dissomia uniparental para


cromossomo 15, com origem paterna, o
resultado seria Síndrome de Angelman

Se for dissomia uniparental para


cromossomo 15, com origem materna, o
resultado seria Síndrome de Prader-Willi
Transmissão do imprint
Antes de serem transmitidos, os genes
com imprint têm de ser reprogramados,
do jeito que os mesmos genes sempre tem
imprint paterno/materno

Esse é um processo de reprogramação do


imprinting
Transmissão do imprint
Assim, mesmo que o homem tem uma
cópia ativo do UBE3A (nas células
somáticas), ele sempre transmite UBE3A
inativo (em ambos os alelos que ele pode
transmitir)
E mesmo que ele tem uma cópia inativo
do SNRPN, ele sempre transmite SNRPN
ativo
A reprogramação ocorre durante
gametogênese
Transmissão do imprint
Por exemplo, na produção de
espermatozóides, o gene SNRPN está
desmetilado em ambas as cópias do
cromossomo 15

Na produção de ovócitos, SNRPN está


metilado em ambas as cópias do
cromossomo 15
Outras doenças associadas com epigenética
Síndrome de X frágil
Expansão de uma repetição de CGG no
cromossomo X

Leva a baixa expressão do gene FMR1

Fenótipo inclua deficiência intelectual


Síndrome de Rett
Mutação no gene MECP2

Cromossomo X; manifestada
principalmente em meninas

MECP2 é um mediador de regulação de


genes metilados
Vários cânceres
Existem vários medicamentos com capacidade de modificar o
epigenoma
Nutrientes também
Em doenças crônicas como obesidade e diabetes,
há alterações na metilação de vários genes. Inclua
genes associados com:

● Metabolismo de ácidos graxos e gorduras


● Funcionamento da via de insulina
● Hábitos de alimentação
● Transporte de lipídeos
● Homeostase energética

● Perfis epigenéticos alteram após bypass


gástrico
○ Alguns genes mostram perfis igual em
pessoas nunca obesas
No diabetes (tipo 2), há alterações epigenéticas
em genes associados com produção, secreção e
resposta a insulina

Esses pacientes têm níveis reduzidos de folato


Variação de dieta induz alterações epigenéticas
em tecidos associados com metabolismo

Assim tendo impacto na ocorrência de


obesidade e diabetes

Um estudo mostrou que, em homens


previamente sedentários, 6 meses de atividade
física alterou a metilação em 7.663 genes!

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